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Resumo
Este trabalho tem por objetivo discutir a relação teoria e prática no campo da Psicologia da Educação e suas implicações para a formação do
educador, a partir da análise dos trabalhos apresentados nas reuniões anuais da ANPEd (especialmente no Grupo de Trabalho Psicologia da
Educação (GT20). O estudo envolveu a leitura de trabalhos encomendados, comunicações e pôsteres, apresentados nas reuniões anuais da
ANPEd, no período compreendido entre os anos de 1998 e 2009. Os estudos apresentados nesta última década são indicativos de que temos
uma aplicação da psicologia na escola, que basicamente é alimentada pela Psicologia da Aprendizagem. Os estudos sobre subjetividade,
identidade e constituição do sujeito indicam uma preocupação com o ser humano (constituição da subjetividade), mas ainda com o enfoque
muito psicológico. Ao que parece, ainda não superamos a dificuldade de se pensar esta subjetividade em termos de contextos mais amplos. E,
o que prevalece, nestes estudos, são abordagens teóricas da psicologia do desenvolvimento. Outro bloco de estudos, apoiados principalmente
na incorporação de contribuições da psicologia social são indicadores de uma possibilidade de olhar/se pensar a escola. Entretanto, aqui, a
limitação ainda é de ordem mais conceitual. Ou seja, a dicotomia permanece. Finalmente, identificamos uma linha que deveria ou poderia se
constituir na crítica epistemológica de toda esta construção; mas que ainda está muito presa a abordagens; poder-se-ia partir de uma visão
mais contextualizada, superando o debate focado em abordagens. Consideramos que é preciso pensar a psicologia para além do território de
autores ou de áreas (como a psicologia da aprendizagem, do desenvolvimento). Talvez nosso movimento precise ser redirecionado, trazendo as
contribuições da psicologia para uma visão mais ampla, inclusive de escola (que permita compreender a escola e seus atores em todas as suas
complexas dimensões). Escola não é só espaço de aprendizagem, ou de desenvolvimento, ou de formação de professores.
Palavras-chave: Psicologia educacional, aprendizagem, formação de professores.
This work aims to discuss the relation between theory and practice in the field of Educational Psychology and its implications for the teacher’s
formation, by the analysis of the papers presented in the ANPEd annual meetings (especially in the working group Educational Psychology
- GT20). The study involved the reading of ‘ordered works’, communications and posters presented at the annual meetings of ANPEd, in the
period between 1998 and 2010. The studies presented in this last decade are indicative of that we have an application of psychology in school
that basically is fed by the Learning Psychology. Studies on subjectivity, identity and subject constitution indicate a concern with the human being
(Constitution of subjectivity), but still with a too much psychological approach. It seems that we have not yet overcome the difficulty of thinking
this subjectivity in terms of wider contexts. And, what prevail in these studies are theoretical approaches of developmental psychology. Another
block of studies supported mainly in incorporating contributions from social psychology are indicators of a possibility to look/think about school.
However, the limitation here is still of more conceptual order. I.e. the dichotomy remains. Finally, we identified a line that should or could be an
epistemological critique of all these constructions; but that is still very much stuck to approaches; it could have started from a more contextualized
vision, surpassing the debate that is focused on approaches. We believe that we have to think about the psychology beyond the territory of authors
or areas (like the psychology of learning, of development). Maybe our movement would need to be redirected, bringing Psychology’s contributions
to a broader view, inclusive about school (able to comprehend the school and his actors in all its complex dimensions). School is not only a space
of learning, or of development, or of teacher training.
Keywords: Educational psychology, learning, teacher training.
Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 14, Número 2, Julho/Dezembro de 2010: 341-347. 341
La relación Teoría y Práctica en la Psicología de la Educación:
consecuencias en la formación del educador
Resumen
Este trabajo tiene el objetivo de discutir la relación teoría y práctica en el campo de la Psicología de la Educación y sus consecuencias para la
formación del educador a partir del análisis de los trabajos presentados en las reuniones anuales de la ANPEd (especialmente en el Grupo de
Trabajo Psicología de la Educación (GT20). El estudio contempló la lectura de trabajos encargados, comunicaciones y posters, presentados
en las reuniones anuales de la ANPEd, en el período de 1998 a 2009. Los estudios presentados en la última década señalan que existe una
aplicación de la psicología en la escuela, que básicamente es alimentada por la Psicología del Aprendizaje. Los estudios sobre subjetividad,
identidad y constitución del sujeto indican una preocupación con el ser humano (constitución de la subjetividad), sin embargo aún con el enfoque
muy psicológico. Al parecer todavía no superamos la dificultad de pensar la subjetividad en términos de contextos más amplios. Y lo que prevalece
en estos estudios, son abordajes teóricos de la psicología del desarrollo. Otro bloque de estudios, apoyados principalmente en la incorporación
de contribuciones de la psicología social indican la posibilidad de ver/pensarse la escuela. Sin embargo, aquí la restricción aún es de orden más
conceptual. O sea la dicotomía permanece. Finalmente, identificamos una línea que debería o podría constituirse en la crítica epistemológica
de toda esta construcción, pero todavía se encuentra muy presa a abordajes; se podría partir de una visión más contextualizada, superando
el debate enfocado en abordajes. Consideramos que es necesario pensar la psicología más allá del territorio de autores o de áreas (como la
psicología del aprendizaje, del desarrollo). Tal vez nuestro movimiento necesite redirigirse, trayendo las contribuciones de la psicología para una
visión más amplia, inclusive de escuela (que permita comprender la escuela y sus actores en todas sus complejas dimensiones). Escuela no es
sólo espacio de aprendizaje o de desarrollo, o de formación de profesores.
Palabras-clave: Psicología educacional, aprendizaje, formación de profesores.
O objetivo deste trabalho é problematizar a relação Na primeira tendência foram incluídos trabalhos nos quais
entre teoria e prática no campo da Psicologia da Educação e a psicologia vai à educação para analisar aspectos do
suas implicações para a formação do educador. Para tanto, fenômeno educacional e volta às teorias psicológicas para
há que se pensar em algumas questões/teses: a Psicologia compreendê-lo, fornecendo contribuições tanto à psicologia
da Educação constitui-se em campo de conhecimento? Há como à educação, ou, como afirma Gatti, enfoca os “...
uma teoria da Psicologia da Educação? E, ainda, se e como fenômenos educacionais vistos em sua base psicológica”
a Psicologia da Educação, enquanto um campo de conhe- (GATTI, 1997, p.81).
cimento, com suas especificidades, princípios e objeto pode
contribuir na formação de professores para a educação bá- De acordo com nossa análise, na época, os trabalhos
sica no Brasil? encomendados (que se pautavam na discussão das diferen-
Venho acompanhando a consolidação do Grupo Psi- tes abordagens psicológicas) reiteravam esta tendência.
cologia da Educação desde sua criação. Em 2005, realizamos
um trabalho, no qual, Souza e eu analisamos a produção do “Se por um lado, tais abordagens ainda refletem fortemente
GT 20 até aquele momento, com o intuito de mapear a produ- o lugar da Psicologia no campo educacional, por outro lado,
ção científica apresentada no GT. O estudo envolveu a leitura é fundamental a demarcação de tais espaços e concepções
de 16 trabalhos encomendados, 83 comunicações e 30 pôs- para avançarmos na direção da construção do campo
teres, apresentados no período de constituição do Grupo de de conhecimento denominado ‘Psicologia da Educação’”
Estudo e de Trabalho Psicologia da Educação (1998-2004). (SCHLINDWEIN, SOUZA et alii).
Para as análises foram utilizadas fichas analíticas elabora-
das nos moldes metodológicos de OZELLA (1998), com o Na segunda tendência, foram incluídos trabalhos
intuito de mapear os trabalhos sob diferentes perspectivas que realizavam uma “... análise crítica das apropriações de
(modalidade de trabalho, ano de apresentação, autor, institui- algumas teorias psicológicas pela Educação e que produ-
ção, programa de pós-graduação, titulação, temática, filiação ziram um movimento de psicologização da educação, e a
teórica, objetivos, procedimentos metodológicos, resultados necessidade da constituição de abordagens críticas no cam-
e observações). Foram utilizados, também, quadros-síntese po da Psicologia da Educação, que superassem a primazia
com o objetivo de identificar a temática, filiação teórica, pro- do conhecimento psicológico sobre outras modalidades de
blema/problemática, resultados, metodologia, objetivo, inter- conhecimento” (SCHLINDWEIN, SOUZA et alii). Nestes tra-
face com a educação e interface com a psicologia. balhos, o que prevalecia era uma espécie de movimento no
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qual a psicologia da educação critica o uso da psicologia na estudo anterior. Procuramos, entretanto, detalhar melhor
educação. quais os problemas abordados nesta temática. Constatamos
Neste grupo, inserem-se os trabalhos de Leandro que a grande parte de trabalhos desta temática (n=15/58 –
Lajonquiére intitulado “As apropriações das teorias psicoló- 25%) discutem a cognição e/ou afetividade nos processos
gicas pela prática educativa contemporânea: a Psicanálise de aprendizagem. Encontramos, também, quatro trabalhos
frente à psicologização do cotidiano escolar”; Newton Duarte que se referem à aprendizagem do professor e apenas 2
com a apresentação “As apropriações das teorias psicológi- trabalhos que discutem esta temática com referência a con-
cas pela prática educativa contemporânea: a incorporação teúdos específicos.
de Piaget e de Vigotski ao ideário pedagógico”; Odair Sass Consideramos que este resultado pode ser analisado
com o artigo “Interrogações da Educação sobre a Psicologia sob diferentes perspectivas. Uma delas diz respeito à exis-
da Educação”; Marília Gouveia de Miranda com o trabalho tência, na reunião da ANPED, de grupos de trabalho, cujo
“Psicologia da Educação e Política Educacional” e Antônio foco são conteúdos específicos, como, por exemplo, os GT’s
Flávio Barbosa Moreira, com “Por entre ficções e descen- Educação Matemática, Alfabetização, Leitura e Escrita, Edu-
tramentos: discussões atuais de currículo e a Psicologia da cação e Arte, ou ainda, o de Formação de Professores.
Educação”. Foi possível perceber que os focos apresentados
Uma terceira tendência compreendia estudos sobre nas comunicações, dentro desta temática, são predomi-
a subjetividade (especialmente do professor) que, na época nantemente situados no contexto escolar. Este fato reitera
foram considerados indicativos de uma confirmação do cam- a preocupação em utilizar os conhecimentos da psicologia
po da psicologia da educação. para compreender fenômenos educacionais, mais especifi-
Por exemplo, Rey (2001) concebe a educação en- camente aqueles relacionados com a aprendizagem.
quanto um dos espaços privilegiados de constituição da sub- Em nossas análises, outra categoria que também
jetividade e do desenvolvimento humano. Aponta a questão prevalece no estudo realizado em 2005 é ‘Desenvolvimento,
da subjetividade como um fenômeno individual e social que, subjetividade e identidade’. Esta categoria foi constituída por
portanto, exige uma abordagem metodológica que dê conta 16 trabalhos, dos quais 7 são reflexões teóricas; 8 são comu-
da complexidade dos processos de sua constituição. Nessa nicações que enfocam o contexto escolar, e 1 trabalho trata
perspectiva, a constituição da subjetividade no processo da inclusão. Estes trabalhos buscam subsídios, sobretudo,
educativo deve ser analisada por meio da compreensão dos na psicologia do desenvolvimento, em diferentes aborda-
processos de atribuição de significado e de sentido constitu- gens (predominantemente histórico-cultural e psicanalítica).
ídos nos espaço social mais amplo. São trabalhos que olham para a escola enquanto um contex-
Em 2009, foi realizado um novo trabalho, com o in- to de desenvolvimento dos sujeitos (crianças, adolescentes
tuito de mapear outros cinco anos de produção do GT. Fo- e adultos professores).
ram analisadas 58 comunicações apresentadas no grupo, Ainda neste estudo apresentado em 2009, incluímos
no período compreendido entre os anos de 2005 e 2009. uma categoria que não tinha sido evidenciada no estudo
Reiteramos a idéia apresentada em 2005, de que as co- anterior: “Processos psicossociais’. Engloba comunicações
municações “... expressam a produção recente acadêmico- que discutem os contextos educacionais com uma predo-
científica na interface Psicologia e Educação dos programas minância das contribuições da psicologia social. Estas con-
de Educação e Psicologia Escolar/Educacional no Brasil. As tribuições trazem uma nova possibilidade de interface entre
comunicações são indicativas do estado do conhecimento a psicologia e a educação, e permitem ver a escola dentro
no campo da Psicologia da Educação” (SOUZA et alii, 2005). de uma realidade social mais ampla, sem perder de foco
Entretanto, diferentemente do trabalho apresentado em os sujeitos (atores nestes contextos). Os fenômenos educa-
2005, debruçamo-nos sobre as temáticas, resumos e refe- cionais são descritos considerando os sujeitos investigados
renciais teóricos utilizados nas comunicações. nas intrincadas relações que se estabelecem nos contextos,
Em nossas análises, Cordeiro e eu consideramos sejam eles relacionais, escolares ou familiares (e as respec-
que não houve grandes alterações, em termos de temáticas tivas representações).
apresentadas, em relação ao primeiro estudo. Entretanto, Na categoria ‘Fundamentos teóricos e epistemológi-
como utilizamos uma metodologia diversa daquela do pri- cos da Psicologia da Educação’ – interface entre Psicologia
meiro trabalho, nossas análises permitiram a construção e Educação – percebemos que as comunicações são consti-
de 4 categorias: Cognição e Afetividade nos Processos de tuídas por estudos fundamentalmente teóricos, no sentido de
Aprendizagem (abordada de maneira geral, conteúdos es- que não se tratam de pesquisas empíricas. Nove dentre estes
pecíficos e aprendizagem do professor); Desenvolvimento, estudos discutem a interface da psicologia com a educação,
subjetividade e identidade; Processos psicossociais e, sobretudo nas perspectivas histórico-cultural e psicanalítica.
Fundamentos teóricos e epistemológicos da Psicologia da Os outros quatro estudos desta categoria constituem-se em
Educação – interface da Psicologia e Educação. exercícios de contextualização das teorias psicológicas em
A categoria ‘Cognição e afetividade nos processos de problemáticas escolares (tecnologias, políticas, autoridade
aprendizagem’ reuniu os trabalhos que utilizaram a psicolo- e concepção de criança escolarizada), com o intuito não
gia como ferramenta para a compreensão dos fenômenos apenas de confirmar a teoria, mas também de apresentar
educacionais, mantendo uma das tendências observada no elementos para ampliar o campo da psicologia da educação.
A Relação Teoria e Prática na Psicologia da Educação: implicações na formação do educador * Luciane Maria Schlindwein 343
Portanto, são estudos que contribuem para a afirmação do ELEMENTOS PARA UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO
campo da psicologia da educação, fazendo uma análise cri- DE PROFESSORES A PARTIR DA ANÁLISE
tica da aplicação das teorias (ou dos discursos) psicológicas COMPORTAMENTAL DE B.F.SKINNER; NÍVEIS DE
ao campo da educação (13/58). AQUISIÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE:
Faço esta rápida contextualização para destacar que, CONTRIBUIÇÕES DE UMA LEITURA PIAGETIANA
para o presente trabalho, eu retornei à leitura das 144 comu- (CHAKUR, 2004); AVALIAÇÃO DINÂMICA: UMA
nicações apresentadas no GT Psicologia de Educação, des- PROPOSTA ALTERNATIVA E COMPLEMENTAR DE
de sua criação, no ano de 1998, com o objetivo de analisar AVALIAÇÃO COGNITIVA EM CRIANÇAS COM INDICAÇÃO
as problemáticas investigadas (os objetos de investigação). DE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM (DIAS & ENUMO,
Então, minha discussão aqui tem como ponto de partida e 2007).
referência, a produção qualificada discutida no GT Psicologia
da Educação nestes últimos doze anos. E é desde este lugar Em um segundo bloco, incluí os trabalhos que partem
que proponho uma problematização a respeito da Psicologia de uma problemática educacional, apóiam-se em referen-
da Educação cias da psicologia para as discussões e análises e tentam,
Em primeiro lugar, cabe questionar: a Psicologia da de alguma forma, apresentar indicadores ou propostas para
Educação constitui-se em um campo de conhecimento? a educação. Ou seja, são trabalhos que partem da educa-
Muitos estudos têm sido apresentados, especialmente nas ção, bebem da psicologia (especialmente da psicologia do
últimas décadas, no Brasil, discutindo a relação que se es- desenvolvimento e da aprendizagem) e retornam para a
tabelece entre Psicologia e Educação e como a interrelação educação. Foram apresentados 18/144, ou seja, 12,5% dos
destas duas áreas de conhecimento pode se constituir em trabalhos nesta modalidade.
um campo híbrido com objeto próprio (ainda que apoiado, Exemplos:
muitas vezes tendenciosamente, em uma ou outra área).
Por um lado, trabalhos de autores como Maria Re- CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE
gina Maluf (1996, 2004), Miriam Warde (1996), Bernardete QUESTÕES RELACIONADAS À VIOLÊNCIA NA
Gatti (1997), Marília Gouveia de Miranda (2006, 2008) têm ESCOLA(LOBATO,2006); POSSIBILIDADES DE VIVER
problematizado esta discussão, evidenciando que não se A INFÂNCIA: UM ESTUDO A PARTIR DA ÓTICA DE
trata de uma questão resolvida. CRIANÇAS ENTRE 5 E 12 ANOS(FRANCO, 2009); UMA
Ao mesmo tempo, a área convive com manuais que QUESTÃO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: “EXPOR-SE
divulgam o que seria uma proposta de abordagem deste OU RESGUARDAR-SE?”( SEKKEL, 2009).
campo. Por exemplo, os trabalhos publicados por Davis &
Oliveira e os de César Coll (apenas para citar alguns). 26/144 trabalhos (18%) foram problematizados a
Miranda afirma que “... a psicologia vem reiterada- partir de uma relação intrincada entre a psicologia e a edu-
mente se firmando como fundamento do aparato teórico- cação, constituindo suas problemáticas de investigação em
metodológico que constitui a prática educativa formal e in- um campo híbrido que articula psicologia e educação: ou
formal” (MIRANDA, 2006). Concordamos com a autora que seja, um campo de conhecimento que pode ser denominado
a relação que se estabelece entre psicologia e educação, Psicologia da Educação. Consideramos que, neste campo,
no tratamento das mais diferentes questões educacionais a problemática de estudo somente poderia se constituir no
está muito mais articulada do que se pode pensar em um espaço educacional ou escolar e em uma abordagem psico-
primeiro momento. Diríamos que é uma relação quase vis- lógica que considere os aspectos sociais, culturais, afetivos,
ceral. É impossível pensar em alfabetização, infância, ensi- na constituição da pessoa ou dos grupos.
no, aprendizagem, por exemplo, sem ter alguma relação ou Consideramos que estes estudos são indicativos de
apoio em algum aporte da psicologia, ainda que este não uma Psicologia da Educação. A problemática e o método se
seja explicitado. articulam de forma que aportes teóricos e metodológicos da
Ao retomar a análise dos focos de investigação dos educação e da psicologia se constituam de forma indisso-
144 trabalhos apresentados no GT 20, acabei constituindo 4 ciável.
blocos categoriais para a presente apresentação, ou seja, a Exemplos:
relação teoria-prática na psicologia da educação.
O primeiro bloco está constituído por trabalhos que RACISMO, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
partem de algum referencial da psicologia e têm na educa- ÉTNICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL; CONSTITUIÇÃO DA
ção a possibilidade de discussão empírica deste referencial SUBJETIVIDADE NA INFÂNCIA; A INTERAÇÃO NA ESCOLA
de base (teórico-metodológico). Foram discutidos 95/144 E SEUS SIGNIFICADOS E SENTIDOS NA FORMAÇÃO DE
(66%) trabalhos com este formato metodológico, em dife- VALORES: UM ESTUDO SOBRE O COTIDIANO ESCOLAR
rentes abordagens psicológicas, com predominância da (SOUZA, 2004); A PSICOLOGIA E A FORMAÇÃO DE
psicologia histórico-cultural, da psicanálise e da abordagem PROFESSORES: AÇÃO E REFLEXÃO A PARTIR DA
comportamental. PERCEPÇÃO DE PROFESSORES EM FORMAÇÃO.
Exemplos:
344 Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 14, Número 2, Julho/Dezembro de 2010: 341-347.
Entretanto não é fácil definir ou determinar uma teoria Consideramos que a disciplina psicologia, como ele-
da psicologia da educação. O que definiria e delimitaria uma mento fundante nos cursos de pedagogia e de formação de
teoria da Psicologia da Educação? professores, possa constituir-se em uma ferramenta efetiva
Esta é uma pergunta que não se pode responder de aliada a prática pedagógica. Concordamos com Pereira,
forma direta. Almeida e Azzi (2002) quando afirmam que a teoria toma
Mas, podemos afirmar que a Psicologia sempre se outra forma na medida em que favorece a leitura da expe-
constituiu em fundamento para o campo da Educação. E riência vivida, possibilitando o esclarecimento da situação
que, como área reconhecida de conhecimento, tem, na Edu- vivenciada.
cação um campo fértil para o desenvolvimento de estudos. Em pesquisa recente, Gatti e Barreto (2009) apresen-
Entretanto, o que pretendo problematizar é a lacuna tam uma experiência interessante, na UFF em parceria com
que se estabelece na produção de um conhecimento que a Prefeitura de Angra dos Reis, cujo diferencial, em termos
declaradamente suporte estudos do campo da Psicologia da de constituição do curso, é desenvolver uma postura quanto
Educação, como área do conhecimento. à aquisição de conhecimento dos futuros professores, con-
Poderíamos pensar que Piaget, por exemplo, pro- cebida como uma busca permanente, admitindo-o como algo
piciou grande contribuição para os estudos da Psicologia prático, que se constrói pela atividade dos sujeitos, os quais,
de Desenvolvimento Humano; bem como Vigotski e seus pela sua experiência, se relacionam com os objetos (GATTI
colaboradores, propondo uma psicologia histórico-cultural, & BARRETO, 2009, p. 120). Nesta experiência, pretende-se
que permite compreender a constituição do homem. Ambos, que a prática social direcione a prática pedagógica, em um
Piaget e Vigotski possuem trabalhos acerca da relação pro- movimento que pretende superar a fragmentação que as
fícua que se estabelece entre a pedagogia e a psicologia. disciplinas de filosofia, psicologia e sociologia, de maneira
E muitos outros poderiam ser citados. Mas, ainda assim, geral, cumprem nos cursos de formação de professores.
não chegamos a uma teoria que aborde de forma mais to- Ou seja, podemos citar algumas saídas ou experiên-
talizante a questão da psicologia da educação em toda a cias interessantes e inovadoras, que promovem ou tentam
sua complexidade. E, menos ainda, em uma superação da promover certa superação da fragmentação teoria e prática.
relação teoria e prática para a problemática educacional e a Entretanto, de modo geral, o que temos acompanhado é
formação de professores... uma espécie de encolhimento das disciplinas de psicolo-
Então, chegamos a nossa última questão: como a gia nos cursos de formação de professores e, ainda, uma
Psicologia da Educação, enquanto campo de conhecimento, abordagem desta disciplina, no contexto dos cursos, muito
com suas especificidades, princípios e objeto pode contribuir teórica e desvencilhada da prática.
na formação de professores para a educação no Brasil? O GT 20, apesar de sua produção qualificada, ain-
Consideramos que a psicologia constitui-se em uma da apresenta uma contribuição tímida para a formação de
das disciplinas que deveria fundamentar a formação dos professores na perspectiva de uma superação da dicotomia
professores, especialmente no que se refere aos processos teoria e prática.
de constituição do ser humano. Concordamos com Raposo Em síntese, poderíamos pensar em algumas pers-
(em trabalho apresentado em 2006, no GT), quando afirma pectivas ou saídas para o campo de estudos da Psicologia
que as disciplinas de psicologia “... representam um eixo e da Educação:
importante na formação do professor e, como tal, devem Os estudos apresentados nesta última década são
partir das questões educacionais, tornando-as objeto de indicativos de que temos uma aplicação da psicologia na
investigação, e analisá-los (estes objetos) nas perspectivas escola que basicamente é alimentada pela psicologia da
dos conteúdos e métodos psicológicos, com foco no retorno aprendizagem.
ao ponto de partida que é, afinal, a prática educativa.” Para a Os estudos sobre subjetividade, identidade e consti-
autora, os campos da psicologia e da educação constituem- tuição do sujeito indicam uma preocupação com o ser huma-
se em unidades dialéticas de ação e reflexão, favorecendo no (constituição da subjetividade), mas ainda com o enfoque
as tomadas de decisões dos professores, na perspectiva do muito psicológico. Ao que parece, ainda não superamos a
bom desempenho de seus alunos. dificuldade de se pensar esta subjetividade em termos de
A idéia é que não só os conceitos sejam ensinados contextos mais amplos. E, o que prevalece, nestes estudos,
nos cursos de formação de professores, mas que estes con- são abordagens teóricas da psicologia do desenvolvimento.
ceitos sejam dinamizados em uma perspectiva metodológi- Outro bloco de estudos, apoiados principalmente na
ca que favoreça a compreensão e análise dos fenômenos incorporação de contribuições da psicologia social são indi-
educacionais. cadores de uma possibilidade de olhar/se pensar a escola.
Em outras palavras, uma formação consistente no Entretanto, aqui, a limitação ainda é de ordem mais concei-
campo da psicologia da educação poderia instrumentalizar tual. Ou seja, a dicotomia permanece.
os professores para uma postura profissional mais crítica e Finalmente, identificamos uma linha que deveria ou
engajada. Não se trata de aprender, no campo da psicologia, poderia se constituir na crítica epistemológica de toda esta
alguns conceitos, mas de valer-se dos referenciais metodo- construção; mas que ainda está muito presa a abordagens;
lógicos que propiciem a compreensão do fenômeno educa- poder-se-ia partir de uma visão mais contextualizada, supe-
cional, de forma articulada. rando o debate focado em abordagens. Consideramos que
A Relação Teoria e Prática na Psicologia da Educação: implicações na formação do educador * Luciane Maria Schlindwein 345
é preciso pensar a psicologia para além do território de au- MALUF, M. R. A Formação Profissional do Psicólogo Brasileiro.
tores ou de áreas (como a psicologia da aprendizagem, do Psicologia. Teoria e Pesquisa, São Paulo, v. 01, n. 01, p. 31-45,
desenvolvimento). Talvez nosso movimento precise ser redi- 1996.
recionado, trazendo as contribuições da psicologia para uma
visão mais ampla, inclusive de escola (que permita compre- MIRANDA, M. G. & RESENDE, A. C. A. (orgs.). Escritos de Psicologia,
ender a escola e seus atores em todas as suas complexas Educação e Cultura. Goiânia: Ed. Da UCG, 2008.
dimensões). Escola não é só espaço de aprendizagem, ou
de desenvolvimento, ou de formação de professores... É MIRANDA, Marília G. de. O Professor Pesquisador e Sua Pretensão
algo mais complexo, que precisa ser tomado como tal. de Resolver a Relação Entre a Teoria e a Prática na Formação de
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346 Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 14, Número 2, Julho/Dezembro de 2010: 341-347.
Recebido em: 18/10/2010
Aprovado em: 08/12/2010
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