Apostila 4 - 9º Ano

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Ensino Fundamental

Manual do Professor
Hist—ria
9 ano
o

4
Ensino Fundamental 2
Manual do Professor
9o ano

4
História
Tania Fontolan
Direção geral
Mário Ghio Júnior
Coordenação pedagógica
Ricardo Silva Leite
Conselho editorial
Helena Serebrinic
Luis Ricardo Arruda de Andrade
Mário Ghio Júnior
Mônica Vendramin Gallo
Tania Fontolan

Gerência editorial
Mônica Vendramin Gallo
Edição
Bárbara M. de Sousa Alves (coordenação)
Lavínia Lobato Valadares
Assistência editorial
Alex Alves de Almeida
Revisão
Adriana Gabriel Cerello (coordenação)
Danielle Modesto
Edilson Moura
Letícia Pieroni
Tayra Alfonso
Thaise Rodrigues
Vanessa Lucena
Iconografia
Fabiana Manna da Silva (coordenação)
Fabio Matsuura
Marcella Doratioto
Ellen Finta
Tamires Castillo
Licenças e autorizações
Luci Yara Celin

Cartografia
Eric Fuzii
Projeto gráfico Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ulhôa Cintra Comunicação Visual (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Edição de arte
Ricardo de Gan Braga (coordenação) Coleção Anglo vestibulares Ensino Fundamental: 9o ano
Daniela Amaral (língua portuguesa, história, geografia, química,
Editoração eletrônica física, matemática). –– São Paulo: Anglo, 2013. —
Casa de Tipos (Coleção Anglo Ensino Fundamental).

Capa Vários autores.


Ulhôa Cintra Comunicação Visual Vários ilustradores.
Impressão e acabamento Suplementado pelo manual do professor.

1. Ensino Fundamental 2. Livros-texto (Ensino Fun-


Sistemas de Ensino Abril Educação S.A. damental) I. Título. II. Série.
MATRIZ
10-12983 CDD-372.19
Rua Gibraltar, 368 - Santo Amaro
CEP 04755-000 - São Paulo - SP
(0XX11) 3273-6000 Índice para catálogo sistemático:
Código: 624956416 1. Ensino integrado: Livros-texto: Ensino Fundamental 372.19
Sumário
Introdução .......................................................................................................................5
Módulo 15 – A redemocratização: esperanças e decepções... .........................................6
Módulo 16 – Duas décadas de mudanças e permanências ............................................ 15
Módulo 17 – Novos participantes e novas questões na cena política ............................23
Módulo 18 – A “Idade Mídia” ........................................................................................26
Respostas – Rumo ao Ensino Médio...............................................................................32
História

Introdução
Este Caderno aborda a história do Brasil desde a redemocratização até o início do segundo governo
Dilma. Ao longo deste período, estudaremos as expectativas, conquistas e decepções vividas pela população
brasileira. A tônica de nossa abordagem é a de enfatizar as vantagens do regime democrático, em que pesem
os problemas ocorridos no país nesse tempo (inflação, corrupção, manutenção da desigualdade social, entre
outros).
A construção cotidiana da cidadania, o protagonismo de grupos sociais – mulheres, negros e indígenas – que
décadas atrás eram formalmente excluídos do espaço público, e que vêm conquistando a ampliação de sua par-
ticipação sociopolítica, também serão abordados, assim como os desafios que se colocam na questão ambiental.
E, finalmente, faremos a discussão do papel das novas tecnologias no mundo atual: o peso da mídia em nossas
vidas, os problemas e as possibilidades de mobilização que daí podem advir.

5 Ensino Fundamental – 9°- ano


AulAs 37 A 39
A REDEMOCRATIZAÇÃO:
História 15 ESPERANÇAS E DECEPÇÕES...

Objetivos
• Reconhecer a importância da Constituinte no processo de redemocratização do Brasil.
• Conhecer as expectativas e frustrações da população em relação ao governo Sarney.
• Refletir sobre o papel dos meios de comunicação na construção da imagem de Fernando Collor.
• Entender o processo de impeachment de Collor.

Roteiro (sugestão)
AULA DESCRIÇÃO ANOTAÇÕES
Motivação
Ativação de conhecimento prévio
Para refletir
A campanha pelas “Diretas já” mobiliza o país
37 Os novos partidos políticos
Eleições indiretas: Tancredo Neves ou Paulo Maluf?
Enquanto isso...
Atividade 1
Orientação para as tarefas 1 e 2 (Em casa)
Correção das tarefas da aula anterior
Um país perplexo: José Sarney é o presidente (1985-1990)
Um novo plano econômico: o Cruzado
A Constituição de 1988
38
Atividade 2
Com a palavra, o historiador
Atividade 3
Orientação para a tarefa 3 (Em casa)
Correção da tarefa da aula anterior
Enfim, eleições diretas
As campanhas eleitorais e os meios de comunicação
O governo Collor (1990-1992): a decepção
O impeachment de um presidente
39
O que é uma CPI?
Atividade 4
Os desafios da cidadania
Orientação para as tarefas 4 e 5 (Em casa)
Orientação para o Desafio (se houver possibilidade)

Estratégias e orientações
Motivação
Estimule os alunos a interpretar a charge de Santiago, apresentada na abertura do Módulo. Ela comenta,
com ironia, o longo período em que os brasileiros não puderam eleger seus presidentes.
Ensino Fundamental – 9°- ano 6
Com base nas informações da imagem, discuta a 2. Aula operatória seguida de
importância do processo eleitoral na construção da atividade oral
democracia. Caso os alunos manifestem descrédito em
Objetivos
relação às eleições, diga-lhes que elas são a forma mais
eficiente de garantir que a vontade da maioria seja res- • Desenvolver as habilidades de leitura, interpre-
peitada e de assegurar que grupos minoritários tenham tação, seleção e organização de texto.
direito de participar das decisões políticas. Se elas pro- • Realizar exposições orais.
vocam decepção, isso se deve também aos eleitores, • Desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo.
que nem sempre votam com a devida seriedade e res-
ponsabilidade. Por outro lado, é importante que os Procedimentos
alunos percebam que a escolha da maioria pode desa- • Divida a turma em três grupos (ou seis, se a
gradar diversos grupos sociais. Tais divergências fazem classe for muito grande) e atribua um tópico da
parte do jogo democrático. aula para cada um (ou para cada dois) deles:
Outro aspecto a ser destacado é a influência do – A campanha pelas eleições diretas e a eleição
chamado “poder econômico”. Candidatos mais iden- de Tancredo Neves
tificados com grandes grupos econômicos tendem a – O governo de José Sarney
receber mais doações e a ter mais recursos para se apre- – O governo Collor e o impeachment
sentar à população durante as campanhas. • Forneça aos grupos a cópia das letras das se-
guintes canções, disponíveis nos Textos adicio-
Ativação de conhecimento prévio nais deste Módulo: “Coração de Estudante”, de
Retome, em linhas gerais, a crise do Regime Milton Nascimento; “Brasil”, de Cazuza; e
Militar: os problemas econômicos e a mobilização da “Metal contra as nuvens”, da banda Legião
sociedade civil em prol da redemocratização. Urbana.
• Depois de ler o texto de aula, cada equipe de-
Desenvolvimento verá preparar uma breve exposição oral sobre o
tema que lhe foi atribuído e formular uma ques-
Apresentamos três sugestões de abordagem deste tão sobre cada um dos demais temas, que cou-
Módulo. beram às outras equipes.
1. Trabalho com história oral • A exposição oral deve conter:
– Recursos de apoio, como quadros sinóticos ou
Peça aos alunos que entrevistem, em grupos ou painéis com imagens (virtuais ou impressas).
individualmente, pessoas mais velhas (pais, tios, avós
e professores) que se lembrem dos seguintes eventos: Atenção: esses recursos não podem
• a campanha das diretas; substituir a apresentação oral expositiva,
• a eleição de sucessão de José Sarney, cujos prin- devendo apenas complementá-la.
cipais candidatos eram Collor e Lula.
Oriente os alunos a gravar e, depois, a transcrever
as entrevistas selecionando os trechos que considerarem – Depoimentos de pessoas que se lembrem
marcantes ou que revelem elementos recorrentes nas do período estudado, caso a sugestão de tra-
falas dos depoentes. Cada aluno (ou grupo) apresentará balho com história oral tenha sido aceita. Os
essa seleção à sala, no momento que o professor julgar depoimentos devem ser utilizados como ele-
mais conveniente. Sugerimos que essa apresentação seja mentos de contextualização do tema
feita no início das aulas expositivas sobre cada um des- tratado.
ses temas ou em meio à aula operatória proposta a se- – Uma breve análise das canções indicadas.
guir. A questão da eleição de Collor, especificamente, Além de apresentar referências sobre essas
pode ser explorada com o Desafio. composições, relacionando-as com o período
Acreditamos que, se os alunos captarem nesses estudado, o grupo deverá levantar hipóteses
depoimentos as paixões que aquelas expectativas des- sobre o que os compositores quiseram dizer
pertavam, ficarão mais interessados nos temas estuda- com elas e indicar qual delas está diretamente
dos e terão a noção de sua importância. relacionada ao seu tema.

7 Ensino Fundamental – 9°- ano


• Ao final da exposição geral de cada grupo, os demais grupos deverão apresentar as questões que formu-
laram. Os grupos expositores terão cinco minutos para preparar sua resposta, que deverá ser apresentada
oralmente para a turma.

Observação: as questões devem ser previamente aprovadas pelo professor, para que não recaiam
sobre detalhes mínimos do tema e se evitem “pegadinhas”.

• Avalie a atuação das equipes levando em conta: 1) a seleção das informações mais importantes do texto;
2) a organização e a clareza da exposição oral e a adequação ao tema das questões propostas aos demais
grupos; 3) a qualidade das respostas às questões; 4) a análise da canção. Seria interessante que, ao início dos
trabalhos, os grupos recebessem um quadro com parâmetros claros do que será avaliado. Por exemplo:

Insuficiente Suficiente Bom


Parâmetro
(de 0 a 0,75 ponto) (de 1 a 1,5 ponto) (de 1,75 a 2 pontos)
Seleção e organização
Informação mal selecio-
Seleção e organização Seleção e organização adequadas: aspectos
nada e desorganizada.
dos aspectos mais medianas. Alguns aspec- mais importantes
Cópia da sequência do
importantes do tema tos negligenciados. contemplados e bem
texto.
organizados.
Postura inadequada. Apresentação irregular: Apresentação adequada.
Desempenho oral Apresentação decorada com bons e maus Facilitação do
do texto. momentos. entendimento da turma.
Pouco domínio do tema: Médio domínio do tema: Bom domínio do tema:
Respostas às questões resposta adequada respostas adequadas a respostas adequadas à
apenas a uma questão. duas questões. maioria das questões.
Desorganização e má
Razoável organização e
distribuição das tarefas Boa dinâmica de grupo.
distribuição das tarefas
entre os componentes Participação ativa dos
Desempenho pelos elementos do
do grupo. componentes do grupo.
do grupo grupo.
Não aceitação de Bom desenvolvimento
Aceitação de sugestões
sugestões dos das tarefas propostas.
dos elementos do grupo.
componentes do grupo.
Análise superficial.
Boa análise da letra da
Atenção apenas aos Análise regular. Relação
canção. Relação
Análise da canção aspectos óbvios da insuficiente entre a
adequada ao seu
letra, com má canção e seu contexto.
contexto de produção.
contextualização.

Ao final das apresentações, faça uma sistematização dos conteúdos por meio das atividades propostas ao
longo do Módulo. Dê ênfase à elaboração da Constituição, discutida na Atividade 2.

3. Aula expositiva
Acreditamos que a sugestão de trabalho com história oral motivará os alunos em relação à temática estudada
nessas aulas.
Apresente a campanha das “Diretas já” como o ápice de uma mobilização que tinha se iniciado à época da
morte de Vladimir Herzog, em 1975. Dimensione o alcance nacional da campanha e seu caráter
suprapartidário.
Ressalte que os militares e seus aliados pretendiam manter o processo de redemocratização sob controle e es-
colher eles mesmos o primeiro presidente civil. Quem os fez perder a maioria no Colégio Eleitoral foi a população
organizada, que apoiou a candidatura de Tancredo Neves contra Paulo Maluf. Mostre que, embora a emenda Dante
de Oliveira tenha sido rejeitada, a campanha pelas eleições diretas deixou como saldo a mobilização da população,
responsável pela vitória no Colégio Eleitoral de um candidato de oposição comprometido com o restabelecimento
Ensino Fundamental – 9°- ano 8
das eleições diretas e da democracia institucional. A in- exaustivos debates com a sociedade, para que não pre-
dicação de Tancredo Neves como candidato das oposi- valeçam interesses de apenas alguns grupos.
ções era uma forma de composição com os militares que Fale sobre as eleições de 1989 e a vitória de
achavam Tancredo moderado. Ulysses Guimarães e Fernando Collor. Essa é uma boa oportunidade para
Mário Covas eram inaceitáveis para eles. Leonel Brizola retomar a discussão sobre a importância das eleições
e Lula, absolutamente inaceitáveis. diretas e comentar que o direito ao voto, por si só, não
Valendo-se do quadro Enquanto isso..., relacione garante o bem-estar da sociedade. Cidadania pressu-
o contexto político brasileiro de 1985 ao quadro inter- põe responsabilidade social: o eleitor deve fazer uma
nacional, comentando brevemente os acontecimentos
avaliação criteriosa dos candidatos que disputam as
que levaram ao fim da Guerra Fria. Os alunos já terão
eleições, para que possa descartar aqueles que têm his-
estudado esse tema mais detalhadamente nas aulas de
Geografia. tórico duvidoso. Reeleger maus políticos é estimular
Explique como José Sarney chegou ao poder. práticas condenáveis, é prejudicar o país.
Reforce os avanços (a transição para a democracia, a Oriente a turma a refletir sobre os riscos de abrir
instauração da Constituinte) e os retrocessos (repressão mão de exigências éticas ao eleger candidatos por ra-
a trabalhadores, corrupção, inflação) de seu governo. zões oportunistas.
Sobre esse período, destaque a promulgação da Discuta o papel da mídia nesse processo, sua im-
Constituição de 1988. Explore a seção Com a palavra, portância ao tornar públicas as ações pregressas e atuais
o historiador e a Atividade 3 para ressaltar a impor- dos candidatos. Ressalve, porém, que os meios de co-
tância da Constituição e da participação dos movimen- municação podem prestar um desserviço ao manipular
tos sociais na Constituinte. Destaque: as informações. A seção Desafio pretende subsidiar
• a importância da organização dos muitos gru- essa discussão.
pos sociais, que fizeram valer suas demandas; A parte final do Módulo pretende reforçar o valor
• os avanços obtidos por grupos historicamente do regime democrático e da atuação política da socie-
marginalizados no país (os direitos trabalhistas, dade civil. Diante do decepcionante governo Sarney,
a criminalização do racismo, os direitos indíge-
do impeachment de Fernando Collor e das denúncias
nas, entre outros);
de corrupção que ainda hoje são muito frequentes, os
• a discrepância entre o texto da Constituição e
as práticas sociais e políticas do Brasil atual. alunos podem ter a falsa ideia de que na época da di-
Ressalte que o grande desafio do país, atualmente, tadura havia menos corrupção e a situação política era
está em fazer valer a Constituição e que o estrito cum- melhor. É muito importante ressaltar que a redemo-
primento das leis constitucionais é o que distingue os cratização não implicou aumento da corrupção, mas
países socialmente desenvolvidos dos demais. Esclareça permitiu que os casos de desvio ou má utilização do
que as transformações sociais demandam modificação dinheiro público fossem denunciados e investigados.
de um ou outro artigo da Constituição, e que essas O fato de escândalos virem à tona é um sinal positivo,
demandas devem ser atendidas somente após resultado do fim da censura.

Respostas e comentários
Para refletir (página 97) • Com relação aos elementos da charge, há várias res-
postas possíveis. O nascer do sol pode simbolizar o
• A charge se refere às primeiras eleições diretas para longo tempo de espera do eleitor, que varou a “longa
presidente ocorridas após o término da ditadura. noite da ditadura” aguardando a alvorada que viria
• A ironia está no grande número de acontecimentos com a redemocratização. Também pode ser interpre-
ocorridos no mundo durante o longo período em que tado como uma expectativa otimista em relação ao
a população brasileira não pôde votar para presidente. futuro do país, o novo dia simbolizando uma nova
Os alunos também podem responder que o eleitor fase (democrática) da história brasileira. O galo can-
(que, durante esse período, se distraiu “ouvindo as no- tando pode ser interpretado como o anúncio de boas-
tícias”) gera o efeito de ironia. -novas (as eleições diretas para presidente).

9 Ensino Fundamental – 9°- ano


Atividade 1 (página 101) de ilegalidades. Desenha pessoas com trajes típi-
cos de seus lugares e Collor vestido como um
A charge expressava a expectativa de que os rumos do
presidiário.
país mudassem com a eleição de novos governantes.
A esperança inicial era de eleições diretas. Depois da
rejeição da emenda Dante de Oliveira, a esperança Em casa (página 111)
passou a ser pela eleição de alguém que rompesse com
as práticas da Ditadura Militar. 1. Essa atividade pretende que os alunos tomem con-
tato com um documento de época – a capa de um
jornal de grande circulação no dia posterior à re-
Atividade 2 (página 102) jeição das diretas – e avaliem qual foi a posição
a) O cartunista representou a Constituinte como desse jornal no episódio (diferente da época do
um trabalho coletivo de reconstrução do país, golpe, em 1964).
que se encontrava arrasado por anos de ditadu-
a) A capa transmite a mensagem de luto pela der-
ra. Pessoas comuns (civis) participam desse tra-
rubada da emenda.
balho, cada qual dando sua contribuição. Não
há líderes nem hierarquia entre os trabalhado- b) Simpatia.
res. O clima é de colaboração e otimismo. c) O jornal O Estado de S. Paulo havia apoiado o
b) Na época em que a charge foi feita, havia gran- golpe de 1964 imaginando que, afastada a
des expectativas em torno da nova Constituição. “ameaça comunista”, o poder seria devolvido
A imagem de várias pessoas trabalhando para aos civis. Com o endurecimento da ditadura,
o bem comum pode ser interpretada como um sobretudo após a decretação do AI-5, esse jor-
apelo à cidadania, à participação, que havia nal assumiu uma postura crítica ao regime,
sido impedida durante a ditadura. Revela que tornando-se alvo de censura e perseguições.
o país precisa de decisões tomadas pelas bases, Daí seu apoio às eleições diretas, que significa-
e não de cima para baixo, como ocorria na épo- riam o fim de vinte anos de Ditadura Militar.
ca da ditadura.
2. a) A capa da revista faz menção à eleição de
Atividade 3 (página 104) Tancredo Neves. Embora tenha sido eleito pelo
voto indireto, ele era o candidato de oposição
a) Foi a Constituição da redemocratização. à Ditadura Militar e sua eleição significava o
Expressou a mobilização dos muitos grupos fim do ciclo militar ditatorial e o início da re-
sociais, econômicos e políticos da sociedade democratização do país.
brasileira. Apesar da pressão de grupos conser-
vadores, incorporou muitas conquistas sociais b) Em parte. De fato, a redemocratização teve
e políticas e assegurou práticas democráticas. seguimento. No entanto, Tancredo não chegou
a assumir a presidência, pois adoeceu e morreu
b) Porque as constituições:
antes de tomar posse. Seu vice, José Sarney, foi
• limitam e regulam o poder dos governantes;
empossado.
• asseguram direitos políticos e sociais à
população.
3. a) À eleição e ao impeachment de Fernando Collor
Essas garantias são incompatíveis com as ditadu-
de Mello.
ras. Nelas, os governantes atuam sem limites e os
indivíduos não têm seus direitos assegurados. b) O título é coerente com os fatos que se sucede-
Dependem da vontade de quem está no poder e ram à renúncia de Collor, a qual não provocou
ficam à mercê da repressão e dos abusos sem ter a nenhuma crise de governabilidade: o vice as-
quem recorrer. sumiu normalmente. Ademais, com esse epi-
sódio, o regime democrático se fortaleceu, pois
Atividade 4 (página 109) a investigação político-criminal do presidente
abriu precedente para que toda ação ilegal com-
Chico Caruso faz uma ironia com a condição do provadamente praticada por governantes fosse
presidente Collor, acusado de cometer uma série punida.
Ensino Fundamental – 9°- ano 10
4. Não. Nos regimes ditatoriais, o controle da sociedade sobre os representantes políticos é muito pequeno.
Não há transparência nas decisões e ações políticas, e a possibilidade de haver denúncias contra os gover-
nantes é remota, pois a imprensa e os movimentos sociais não são livres para noticiar abusos. Já nas demo-
cracias, a liberdade de imprensa e o maior controle da sociedade civil sobre os representantes políticos tornam
públicos atos de corrupção, o que pode causar a falsa impressão de que eles são provocados pelo regime
democrático. Na verdade, a democracia apenas permite que tais atos, existentes também em regimes dita-
toriais, tornem-se conhecidos.

5. O objetivo desta atividade é auxiliar os alunos a se localizar e a classificar os eventos mais importantes do
período estudado, por meio de uma linha do tempo.
A decepção e a esperança são de classificação por parte dos alunos e podem variar: a posse de Sarney pode
ser uma decepção (Tancredo não assumiu) ou esperança (um presidente civil assumia após um longo regime
ditatorial); a deposição de Collor pode ser uma decepção (ele traiu a confiança dos brasileiros) ou esperança
(o país revelava maturidade ao depor um presidente corrupto). Portanto, a resposta abaixo é uma das
possíveis.

1984 1985 1986 1988 1989 1990 1992

Promulgação
Campanha Eleição de Eleição de Denúncias
Plano Cruzado da Plano Collor
das diretas Tancredo Collor contra Collor
Constituição

Rejeição da Doença e
Impeachment
Emenda Dante morte de
de Collor
de Oliveira Tancredo

esperança
Posse de
Sarney decepção

Desafio (página 113) de comunicação, procurando exemplos de co-


bertura equitativa e cobertura parcial.
1. A proposta deste Desafio é propiciar um debate • Conforme sugestão apresentada no item 1 do
entre os alunos sobre o papel da mídia nas elei- Desenvolvimento (trabalho com história
ções. Ao longo deste ano, propusemos outras ati- oral), os alunos podem entrevistar eleitores que
vidades sobre a cobertura da imprensa a diversos acompanharam as eleições de 1989 (a célebre
acontecimentos. Importa-nos que os alunos valo- edição pela Rede Globo do debate entre Lula
rizem a imprensa livre – condição sine qua non
e Collor) e verificar o que eles recordam da-
para a democracia –, mas que também se relacio-
quele episódio e se, ao longo de suas experiên-
nem com ela de forma crítica, sem considerar suas
informações como “verdades absolutas”. cias como eleitores, eles se lembram de outras
Dependendo do tempo de que o professor dispu- coberturas que consideraram parciais. A partir
ser, a atividade pode ser incrementada: dessas informações, os alunos podem investi-
• Em ano de eleições, os alunos podem ser con- gar se os eleitores mantêm ou não uma relação
vidados a analisar a cobertura feita pelos meios crítica com a imprensa.

11 Ensino Fundamental – 9°- ano


Consideramos que o trabalho será mais rico se os sobre o histórico dos candidatos (suas realizações,
alunos puderem realizá-lo em dupla ou em grupos. as relações que mantêm com grupos sociais e eco-
A atividade pode ser ainda o mote para um debate, nômicos e as eventuais ilegalidades que tenham
mediado pelo professor, em que se explorem con- cometido), o que qualificaria sua escolha. Por ou-
cordâncias e discordâncias entre os grupos. Ao tro lado, a cobertura das eleições pela mídia pode
final, um grande painel pode ser montado, com ser parcial, atrelada aos interesses dos grupos que
as várias opiniões apresentadas. a controlam. Mesmo afirmando imparcialidade,
2. Na televisão, a aparência dos candidatos, seus ges- alguns veículos de comunicação podem sistema-
tos e sua desenvoltura diante das câmeras ganham ticamente mostrar notícias favoráveis a uns e des-
uma enorme relevância, algumas vezes sobrepu- favoráveis a outros, o que pode ser apontado como
jando seus projetos políticos. Ao se deixar influen- um aspecto negativo.
ciar pela TV, o eleitor pode escolher um candidato
mais em função de sua imagem do que de suas 4. Resposta pessoal. Acompanhar o noticiário sobre
propostas e de seu histórico. Além disso, os pro- as eleições em veículos diferentes (jornais, TVs,
gramas de televisão podem ser parciais na cober- rádios) e de posicionamentos diversos, bem como
tura das eleições, editando matérias de forma a buscar informações sobre o histórico do candidato
beneficiar determinados candidatos.
e as características gerais de seu partido, são ações
3. Entre os pontos positivos, é possível destacar que, que nos permitem conhecer melhor as ideias e os
por meio da mídia, o eleitor pode se informar projetos políticos dos candidatos.

Sugestões de atividade extra


Questões adicionais que podem ser aproveitadas pelo professor
1. Explique o título “Um país perplexo: José Sarney é o presidente”.
Resposta: O subtítulo refere-se à perplexidade da população brasileira diante da morte de Tancredo e da
posse de seu vice, José Sarney, político identificado com o Regime Militar.

2. Leia o fragmento abaixo e responda às questões a seguir.

Sem dúvida, o caráter enciclopédico da Constituição [de 1988] derivava do medo ao retorno do arbítrio,
ainda muito recente na memória nacional. Colocava-se, assim, ao abrigo da lei maior as conquistas tão al-
mejadas pelo povo. [...] Os direitos sociais, e um certo cunho nacionalista, que foram incorporados a ela,
representavam o ápice das conquistas políticas do movimento popular.
TEIXEIRA, Francisco Carlos. A redemocratização: o Governo Sarney e a Constituição de 1988.
In: LINHARES, Maria Yedda (Org.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2000. p. 392.

a) O que o autor do fragmento quer dizer com “caráter enciclopédico da Constituição”?


Resposta: Assim como uma enciclopédia, que traz verbetes sobre inúmeros assuntos, a Constituição de
1988 abordou vários aspectos da vida social, política e econômica do país, estabelecendo princípios sobre
todos eles.
b) Compare esse fragmento com o apresentado na seção Com a palavra, o historiador (página 103). Que
elementos do texto constitucional de 1988 são ressaltados por ambos os autores?
Resposta: Ambos os autores ressaltam a incorporação, no texto da Constituição, de direitos sociais
obtidos por meio da pressão de grupos e entidades da sociedade civil. Também comentam o fato de a
Constituição de 1988 abordar inúmeros elementos da vida social brasileira, aspecto que, segundo Boris
Fausto, foi alvo de críticas.
Ensino Fundamental – 9°- ano 12
Sugestões de material para consulta
Textos de apoio ao professor Não me elegeram
Chefe de nada
Texto I
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Coração de estudante Mostra tua cara
Milton Nascimento e Wagner Tiso (1982) Quero ver quem paga
Quero falar de uma coisa Pra gente ficar assim
Adivinha onde ela anda? Brasil
Deve estar dentro do peito Qual é o teu negócio?
Ou caminha pelo ar O nome do teu sócio?
Pode estar aqui do lado Confia em mim
Bem mais perto que pensamos Não me convidaram pra essa festa pobre
A folha da juventude Que os homens armaram pra me convencer
É o nome certo desse amor A pagar sem ver
Já podaram seus momentos Toda essa droga
Desviaram seu destino Que já vem malhada antes de eu nascer
Seu sorriso de menino Não me sortearam
Quantas vezes se escondeu A garota do Fantástico
Mas renova-se a esperança Não me subornaram
Nova aurora a cada dia Será que é o meu fim?
E há que se cuidar do broto Ver TV a cores
Pra que a vida nos dê flor e fruto Na taba de um índio
Programada pra só dizer “sim, sim”
Coração de estudante
Brasil
Há que se cuidar da vida Mostra a tua cara
Há que se cuidar do mundo Quero ver quem paga
Tomar conta da amizade Pra gente ficar assim
Alegria e muito sonho Brasil
Espalhados no caminho Qual é o teu negócio?
Verdes: planta e sentimento O nome do teu sócio?
Folhas, coração, juventude e fé Confia em mim
Disponível em: <www.miltonnascimento.com.br>. Grande pátria desimportante
Acesso em: 20 maio 2013. Em nenhum instante
Composta pouco antes da campanha das “Diretas Eu vou te trair
já”, a canção fala da força da juventude. Era a música (Não vou te trair)
preferida de Tancredo Neves e foi muito tocada quan- Disponível em: <www.cazuza.com.br>. Acesso em: 20 maio 2013.
do de sua morte. Composta durante o governo Sarney, a canção faz
referência às negociatas, ao cinismo que imperava num
Texto 2 país em que uns poucos se dão bem e tantos outros são
Brasil excluídos.
Cazuza, George Israel e Nilo Roméro (1988)
Não me convidaram Texto 3
Pra essa festa pobre Metal contra as nuvens
Que os homens armaram pra me convencer Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá (1991)
A pagar sem ver I
Toda essa droga Não sou escravo de ninguém
Que já vem malhada antes de eu nascer Ninguém senhor do meu domínio
Não me ofereceram Sei o que devo defender
Nem um cigarro E por valor eu tenho
Fiquei na porta estacionando os carros E temo o que agora se desfaz

13 Ensino Fundamental – 9°- ano


Viajamos sete léguas Eu vejo tudo que se foi
Por entre abismos e florestas E o que não existe mais
Por Deus nunca me vi tão só Tenho os sentidos já dormentes,
É a própria fé o que destrói O corpo quer, a alma entende
Estes são dias desleais Esta é a terra de ninguém
Eu sou metal – raio, relâmpago e trovão E sei que devo resistir
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão Eu quero a espada em minhas mãos
Eu sou metal: me sabe o sopro do dragão Eu sou metal – raio, relâmpago e trovão
Reconheço meu pesar: Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Quando tudo é traição, Eu sou metal: me sabe o sopro do dragão
O que venho encontrar Não me entrego sem lutar
É a virtude em outras mãos Tenho ainda coração
Minha terra é a terra que é minha
Não aprendi a me render
E sempre será minha terra
Que caia o inimigo então
Tem a lua, tem estrelas e sempre terá
II IV
Quase acreditei na sua promessa Tudo passa, tudo passará...
E o que vejo é fome e destruição E nossa história não estará pelo avesso
Perdi a minha sela e a minha espada Assim, sem final feliz
Perdi o meu castelo e minha princesa Teremos coisas bonitas pra contar
Quase acreditei, quase acreditei E até lá, vamos viver
E, por honra, se existir verdade Temos muito ainda por fazer
Existem os tolos e existe o ladrão Não olhe pra trás
E há quem se alimente do que é roubo Apenas começamos
Mas vou guardar o meu tesouro O mundo começa agora
Caso você esteja mentindo Apenas começamos
Olha o sopro do dragão...
Disponível em: <www.legiaourbana.com.br>. Acesso em: 20 maio 2013.
III
É a verdade o que assombra Gravada em 1991 pela banda Legião Urbana, a
O descaso que condena, canção faz referência à decepção geral com o governo
A estupidez o que destrói Collor.

Ensino Fundamental – 9°- ano 14


AULAS 40 A 43
DUAS DÉCADAS DE MUDANÇAS
História 16 E PERMANÊNCIAS

Objetivos
• Avaliar os avanços ocorridos no Brasil nos últimos vinte anos, bem como os problemas estruturais que ainda
perduram.
• Conhecer as reformas dos anos FHC.
• Conhecer a polêmica das privatizações.
• Refletir sobre o governo Lula: os avanços sociais e seus limites.
• Conhecer as principais características do governo Dilma.

Roteiro (sugestão)
AULA DESCRIÇÃO ANOTAÇÕES
Correção das tarefas da aula anterior
Motivação
Ativação de conhecimento prévio
Para refletir
Itamar Franco sucede Collor e cria o Real (1992-1995)
40
O Brasil controla a inflação
FHC: o desmonte do modelo varguista (1995-2002)
Privatizações: um tema polêmico
Atividade 1
Orientação para a tarefa 1 (Em casa)
Correção da tarefa da aula anterior
Relações com o Poder Legislativo: fisiologismo e medidas
provisórias
A reeleição
A emenda da reeleição: denúncia de compra de votos
41 O segundo mandato: tempos de crise
O Brasil é Bric
Atividade 2
Tecnologia a serviço da morte: os atentados terroristas de
11 de setembro de 2001
Orientação para a tarefa 2 (Em casa)
Correção da tarefa da aula anterior
O governo Lula: a retomada do modelo varguista (2003-2010)
Aumento dos gastos sociais
Incremento do mercado interno e estímulo à produção
Uma nova crise internacional nasce nos EUA
42
Relações com o Poder Legislativo: fisiologismo, medidas
provisórias e “mensalão”
A eleita de Lula
Atividade 3
Orientação para as tarefas 3 e 4 (Em casa)

15 Ensino Fundamental – 9°- ano


Correção das tarefas da aula anterior
Dilma Rousseff: uma mulher chega à presidência do
Brasil em 2011
Problemas no segundo mandato

43 O processo de impeachment

Os primeiros tempos do governo de Michel Temer

Atividade 4

Orientação para as tarefas 5 e 6 (Em casa)

Orientação para o Desafio (se houver possibilidade)

Estratégias e orientações
anterior (“A democracia sobreviveu”). Diga que, nas
democracias, quando o presidente é impedido de exer-
Motivação
cer suas funções, quem assume o poder é o vice.
Sugerimos a exibição de um vídeo muito provoca-
tivo, produzido pela União Europeia (e retirado do ar, Desenvolvimento
acusado de racismo e sexismo). Nele, a União Europeia
(representada por uma mulher branca) aparece ameaça- 1. Aulas expositivas
da por representantes de parte dos Bric (Brasil, China e
Aborde o governo de Itamar Franco destacando o
Índia – o outro Bric, Rússia, não aparece no vídeo). A
ameaça se desfaz quando os países europeus se unem (a lançamento do Plano Real, que conseguiu controlar a
mulher se multiplica, formando o símbolo da UE). inflação e promover a estabilidade monetária no país
Estimule os alunos a interpretar o filme – que mostra – uma realização importantíssima. Ilustre, com exem-
como parte dos europeus nos vê. Mas, ao final, dê ênfase plos práticos, as dificuldades de se viver em um país
ao fato de que estamos ocupando uma posição de desta- com inflação alta: os preços são reajustados diariamen-
que na economia mundial de forma que somos “ameaça” te, e uma nota esquecida no bolso da calça depois de
à poderosa Europa. Historicize essa situação e partilhe um mês perde boa parte de seu poder de compra.
com eles o fato de que há duas décadas isso era impensá- Comente que a inflação penalizava especialmente os
vel. Ou seja, o país melhorou sua posição no cenário in- mais pobres, que não tinham conta em banco e, por-
ternacional e, internamente, obtivemos muitos avanços. tanto, não recebiam correção monetária.
Passe então à charge de abertura do Módulo, de
autoria de Duke, e peça aos alunos para interpretá-la. Aproveite o estudo do período Itamar Franco para dis-
Com o auxílio das questões do Para refletir, estimule- cutir a importância dos vices e suplentes que concorrem
-os a identificar a ironia da mensagem: o país vai bem, aos cargos nos poderes Executivo e Legislativo. Muitas
mas parte dos brasileiros ainda está distante das con- vezes, os eleitores só se preocupam com o candidato
dições adequadas de vida. principal, e sequer sabem quem é seu vice. Contudo,
A motivação sugerida, portanto, vai ao encontro na história recente do Brasil, dois vices assumiram a
do título do Módulo: mudanças e permanências. presidência da República. Cargos de governador, pre-
Melhoramos e avançamos em muitos aspectos. Em feito e senador também foram ocupados por vices e
outros, continuamos com práticas seculares, que tam- suplentes. Por isso, na hora de votar, é necessário ava-
bém precisam ser superadas. liar os vices que concorrem nas chapas, dadas as reais
possibilidades de eles assumirem o poder.
O vídeo pode ser encontrado no endereço:
<www.youtube.com/watch?v=GTOqneH6nDo>.
Fale do impacto positivo do fim da inflação no
Ativação de conhecimento prévio cotidiano das pessoas e de como isso impulsionou a
Retome o impeachment de Fernando Collor, uti- campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso,
lizando, para tanto, o texto da tarefa 3 do Módulo ministro da Fazenda de Itamar Franco, que venceu as
Ensino Fundamental – 9°- ano 16
eleições presidenciais em 1994. Aproveite a charge de viam obrigados a comprar linhas com ágio no
Chico Caruso, que abre o período FHC, para mostrar mercado paralelo. A privatização trouxe agili-
essa relação. dade no atendimento e aumento na oferta de
Analise o novo paradigma da economia brasileira, produtos e serviços desse e de outros setores.
inaugurado por Fernando Collor e aprofundado por • Muitas estatais eram cabides de emprego para
Fernando Henrique – o neoliberalismo – e compare-o indicados dos aliados do governo. Algumas delas
com o varguismo. Utilize o quadro a seguir para apon- eram deficitárias, muitas tinham baixa produti-
tar as principais diferenças entre eles: vidade e todas eram custeadas com dinheiro do
Varguismo Neoliberalismo contribuinte. Ao serem privatizadas, deixaram
Fim da regulação
de consumir dinheiro público.
Regulação da economia
econômica pelo Estado Sugestões de contras:
pelo Estado
(livre-mercado) • Ao longo de sua história, as estatais – especial-
Investimentos estatais em
Privatizações de empresas mente as do setor de infraestrutura (siderurgia,
infraestrutura e indústrias energia, telecomunicações) – exigiram grandes
estatais
de base
investimentos, todos feitos com dinheiro públi-
Livre negociação entre pa-
co. Acredita-se que o preço de venda de algu-
Regulação da questão trões e empregados (essa
trabalhista proposta, contudo, não mas dessas empresas (como a Companhia Vale
prosperou no Brasil) do Rio Doce), muito inferior ao valor de mer-
cado, não cobriu os investimentos feitos pelo
Seria interessante considerar as ponderações de Estado nesses setores.
Francisco Carlos Teixeira acerca do neoliberalismo, • Em alguns setores, a falta de regulação adequada
escritas à época: permitiu que as tarifas subissem muito acima da
inflação (energia, telefonia) ou que as metas de
Ocorre que a receita [neoliberal], de validade produção não fossem cumpridas (energia, trans-
universal, não leva em conta as diferenças nacionais
porte ferroviário). Além disso, o governo perdeu
e, mesmo, inter-regionais. Diminuir o Estado do Bem-
o controle sobre setores estratégicos, como o
-Estar Social na França é bem mais fácil que fazê-lo no
energético, e a população acabou sendo surpreen-
Brasil. Sendo o segundo país do mundo em qualidade
de vida e o quarto em riquezas, uma certa freada cau- dida por crises como a do “apagão” de 2001.
sa protestos, mas não lança as pessoas na miséria Em relação à política, comente a manutenção de
absoluta. Mesmo assim, [...] a tentativa de implantar velhas práticas fisiologistas e o emprego abusivo das
um modelo liberal na França fracassou e nem por isso medidas provisórias (que distorcem a relação entre po-
o país deixou de crescer. No caso do Brasil, por sua deres). Mencione também as disputas travadas em
vez, com condições de pobreza absoluta para quase torno da emenda da reeleição, cuja aprovação exigiu
trinta milhões de pessoas e com as ruas repletas de demoradas manobras por parte do governo e foi mar-
desvalidos da história, a receita liberal pode ser extre- cada por denúncias de compra de votos (nenhuma
mamente dura e de efeitos perversos. prova, entretanto, depôs contra o presidente).
Não se pode desmontar o Estado do Bem-Estar
Social onde ele nunca existiu. Propositadamente, repetimos o mesmo
TEIXEIRA, Francisco Carlos. As reformas liberais no Brasil. In: subtítulo relativo às práticas fisiológicas
LINHARES, Maria Yedda (Org.). História Geral do Brasil. nos três governos trabalhados neste ca-
Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2000. p. 440.
pítulo, para que os alunos percebam
como não fomos capazes de superar esta
Fale sobre as privatizações das estatais brasileiras forma de fazer política (que distorce o
e aponte alguns de seus prós e contras. equilíbrio entre poderes e estimula a
Sugestões de prós: corrupção).
• Algumas estatais, como as do setor de telefo-
nia, não conseguiam atender à demanda da Proponha um balanço dos anos FHC a partir de
população. Antes da privatização, os brasilei- uma frase atribuída ao ex-presidente: “Governar é a arte
ros tinham de ficar anos na fila para obter uma do possível”. Seria interessante problematizar a afirma-
linha telefônica oficial, isso quando não se ção: ela é conformista ou sensata? Um país de problemas
17 Ensino Fundamental – 9°- ano
gigantescos como o Brasil não demandaria um empe- • No plano político, Lula pouco inovou e repetiu
nho maior dos governantes – tornar o impossível exe- práticas históricas de fisiologismo e loteamento do
quível, lutar para ultrapassar as grandes barreiras impos- Estado entre aliados. Uma das consequências des-
tas por séculos de privilégios para alguns e exclusão para sa manutenção foi o escândalo do mensalão.
a maioria, a fim de tornar o país mais justo? Ou a situa- Consideramos importante historicizar:
ção do país é tão complexa que não permitiria ao presi- – a gravidade de um esquema de manutenção de
dente avançar mais, dadas as pressões econômicas e as apoio político que envolvia importantes figuras
características do Congresso Nacional? O presidente do governo Lula e do PT (desapontando quem
teria realmente feito o possível? esperava desse partido e desse governo uma prá-
tica diferente);
Ao final do período FHC, comente os aten- – o não ineditismo de esquemas como esse: em
tados de 11 de setembro de 2001 nos EUA governos anteriores, esquemas ilegais para obten-
e suas repercussões mundiais. Se houver ção de apoio político também ocorreram. A di-
tempo, debata com os alunos as implicações vulgação do mensalão foi feita como se a corrup-
de ações terroristas como aquelas: é legíti- ção fosse característica “deste” governo.
mo combater injustiças com violência indis- Ainda que tenha frustrado quem esperava mais ino-
criminada? A ação melhorou a vida dos vações e rupturas, Lula terminou o governo com grandes
povos árabes? As reações dos EUA e seus índices de popularidade e apoiou para sua sucessão uma
aliados foram justas ou poderiam ser classi- ministra pouco conhecida do grande público e que aca-
ficadas como terrorismo de Estado? bou eleita (em grande parte, graças ao seu apoio).
Ao apresentar os governos de Dilma Rousseff, ini-
Passe então ao governo Lula. Aproveite a charge cie enfatizando o significado de uma mulher ter sido
para apresentar a grande expectativa de mudanças que eleita presidente. Comente os “dois lados” da moeda
sua eleição trazia. vividos por ela: um início com grandes níveis de po-
Apresente as diferenças que marcaram mais for- pularidade (superiores ao de seus antecessores) e um
temente seu governo em relação à Era FHC: final de primeiro mandato e começo do segundo for-
• Na economia, houve a volta do Estado como temente contestado por setores da população e da mí-
coordenador da ação econômica e indutor do dia, culminando com seu afastamento da presidência,
desenvolvimento de determinadas áreas consi- em maio de 2016. Apresente também os fatos mais
deradas estratégicas para o crescimento do país marcantes do governo Michel Temer. Como estamos
(mais próximo do paradigma varguista). O cres- tratando de fatos muito recentes, dos quais não temos
cimento do mercado interno, articulado ao fato distanciamento histórico, sugerimos que o tema seja
de que o governo injetou muito dinheiro na trabalhado por meio de uma estratégia de comparação
economia através dos programas sociais e da va- de noticiários, para que o aluno tome contato com
lorização do salário-mínimo, também deve ser vários pontos de vista e chegue às suas conclusões.
destacado. Em meio a crises internacionais, essa
opção deixou o país menos vulnerável à retração 2. Aula operatória seguida de
econômica dos Estados Unidos e da Europa. atividade oral
• No plano social, o aumento dos investimentos Objetivos
em programas sociais tirou um contingente im- • Acompanhar a cobertura da imprensa escrita
portante da população da miséria, aumentou o sobre o governo Dilma, o impeachment e seus
consumo interno e movimentou a economia. desdobramentos.
Junto com o aumento do crédito, esses investi- • Desenvolver as habilidades de leitura, interpre-
mentos sociais foram um grande gatilho para a tação, seleção e organização de texto.
chamada “ascensão da classe D”. O desemprego • Realizar exposições orais.
diminuiu significativamente, aumentando o • Desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo.
número de assalariados e criando um “círculo
Procedimentos
virtuoso” – melhora da renda, das condições de
vida e das oportunidades para grande parte da • Divida a turma em três grupos (ou seis, se a
população brasileira. classe for muito grande).
Ensino Fundamental – 9°- ano 18
• Sugerimos três temas (que podem ser substituídos por outros que estejam em pauta no momento do trabalho):
‒ A operação "Lava Jato";
‒ O impeachment;
‒ O governo Temer.
• Distribua esses temas entre as equipes.
• Oriente os grupos a pesquisar sobre eles em pelo menos três edições de duas revistas semanais diferentes,
das quais uma deve ser crítica e outra simpática ao governo (as revistas Veja e Carta Capital, por exemplo,
apresentam posicionamentos políticos antagônicos). As publicações podem ser adquiridas pela escola, ou
os alunos podem consultá-las em bibliotecas públicas ou anda trazê-las de casa. Outra possibilidade é
consultar blogs pró e contra o governo Dilma.
• Oriente os grupos a comparar a cobertura do tema em cada uma das revistas completando a seguinte
tabela:
Revista ou blog 1 Revista ou blog 2
Título das matérias
encontradas (é neutro ou
revela algum
posicionamento?)
Tom das matérias encontradas
(é informativo ou tendencioso?)

• Peça aos grupos que apresentem os dados da tabela comparativa para a sala. Os alunos devem, preferen-
cialmente, utilizar PowerPoint como apoio à sua apresentação. Caso não seja possível, podem utilizar
cartazes. Nos dois casos, eles devem exemplificar cada um dos itens da tabela, utilizando cópias das
matérias e das fotos selecionadas.
• Além da apresentação oral, solicite a entrega de um relatório escrito.
• Para avaliá-los, utilize a seguinte grade:

Parâmetro Insuficiente Suficiente Bom


Razoável. Justificação
Superficial. Avaliação mal Boa. Justificação bem
Comparação medianamente
justificada. fundamentada.
dos títulos fundamentada.
(0 a 0,5 ponto) (1,25 a 1,5 ponto)
(0,75 a 1 ponto)
Reprodução de trechos Comparação razoavel- Comparação bem
Comparação do
das matérias sem avaliá-las. mente fundamentada. fundamentada.
tom das matérias
(0 a 0,5 ponto) (0,75 a 1 ponto) (1,25 a 1,5 ponto)
Avaliação superficial, sem Avaliação com boa Avaliação bem
fundamentação e sem fundamentação, mas fundamentada com
Avaliação das fotos
comparação. sem comparação. comparação bem realizada.
(0 a 0,5 ponto) (0,75 a 1 ponto) (1,25 a 1,5 ponto)
Postura inadequada ou Apresentação irregular: Apresentação adequada:
apresentação decorada com bons e maus facilitação do
Desempenho oral
do relatório. momentos. entendimento da turma.
(0 a 0,5 ponto) (0,75 a 1,25 ponto) (1,5 a 2 pontos)
Bem preparados.
Mal organizados. Não Auxiliaram a apresentação
Auxiliaram a apresentação
Recursos de apoio auxiliaram a apresentação. de parte dos itens.
como um todo.
(0 a 0,5 ponto) (0,75 a 1 ponto)
(1,25 a 1,5 ponto)
• Os pontos obtidos pelo grupo em cada um dos itens devem ser somados, de forma a resultar numa nota
de zero a dez.
Após a realização da atividade, recomende a leitura do texto de aula e utilize as atividades para sistematização
do tema.

19 Ensino Fundamental – 9°- ano


Respostas e comentários
Para refletir (página 114) A segunda charge é favorável à Dilma na medida
• A boa notícia é que o Brasil vem melhorando no
em que a apresenta em situação de “execução” feita pela
ranking econômico internacional. É uma boa notícia imprensa. O título “Sumário” faz referência a julgamen-
porque significa que o país vem crescendo mais que tos apressados, que não dão direito de defesa. Ou seja,
outros, ficando proporcionalmente mais forte. passa a mensagem de que a grande mídia “condenou”
• Não. A charge mostra uma família que vive nas ruas,
Dilma ao apresentar noticiários sempre críticos à presi-
em condições precárias. Ou seja, o avanço econô- dente, sem dar a ela chance real de se defender.
mico ainda não se traduziu em eliminação da misé- Em casa (página 129)
ria. Muitos problemas sociais persistem.
1. Com base nos dados do quadro, os alunos poderão
Atividade 1 (página 117) apontar como aspectos positivos o controle da in-
Vargas criou um modelo econômico de intensa flação, o aumento do número de beneficiados pelos
participação do Estado na economia, por meio de em- programas sociais, a queda no índice de analfabe-
presas estatais e forte regulamentação econômica. tismo. Como aspectos negativos, houve o aumento
Fernando Henrique passou a desmontar esse modelo, da dívida pública, o crescimento do desemprego, a
diminuindo a ação do Estado na economia com a pri- manutenção da concentração de renda.
vatização de estatais e com o fim do controle de preços 2. O desemprego. Este é um problema que tem forte
e da regulamentação econômica. Exemplos: o setor de impacto na vida da população, afetando as famí-
energia elétrica e o de telefonia foram privatizados. lias de quem não tem emprego e deixando inse-
guro quem está empregado.
Atividade 2 (página 119) 3. Segundo o quadro, percentualmente o governo
A charge é crítica. Angeli cria um suposto diálogo FHC fez mais pela redução do analfabetismo, que
no qual o presidente considera sua missão cumprida. diminuiu mais em seu governo. Em relação às
Ao fundo, vê-se um cenário de miséria. Ou seja, a áreas em que Lula foi melhor, os alunos podem
“dívida social” não foi saldada. Angeli deve ter se ba- apontar: a diminuição do desemprego, da concen-
seado no fato de vários indicadores sociais continuarem tração de renda, da dívida pública. Ou, ainda, o
ruins no final do governo FHC, entre eles o desem- aumento nos gastos sociais.
prego, que tem forte impacto na vida das pessoas. 4. Porque, no governo Lula, o Estado voltou a funcionar
como um indutor do desenvolvimento econômico.
Atividade 3 (página 125) O governo atuou para fazer a economia crescer e
ampliou sua atuação na área de infraestrutura.
A parte final do texto sobre a Era Lula traz subsí-
dios para os alunos interpretarem a charge. Os altos 5. Resposta pessoal. Os alunos podem apontar a vio-
índices de popularidade do presidente e seu estilo per- lência urbana, os baixos resultados na área de edu-
sonalista fizeram que Lula se apresentasse como um cação, os problemas na área de saúde, entre outros
líder especial, imprescindível para o país. A charge faz que podem avaliar como problemáticos.
referência a isso ao mencionar o “ego” do presidente. 6. Esta questão pretende sistematizar, em linhas gerais,
o que os alunos estudaram ao longo destas aulas.
Atividade 4 (página 128) Espera-se que eles consigam identificar os grandes
As respostas dos alunos devem ser consideradas, avanços do país, assim como a permanência de velhas
desde que bem fundamentadas. práticas e velhos problemas que precisam ser supera-
Espera-se que o aluno perceba que a primeira dos. Pretendemos também que, olhando em perspec-
charge é crítica à Dilma. Seu perfil está desenhado tiva, os alunos sejam capazes de avaliar que o país
no chão (como um cadáver – o que pode ser relacio- melhorou, superando uma perspectiva fatalista de que
nado ao fim das condições de governar) e, em volta “não tem jeito” e se comprometendo mais com as
dele, o que seriam as provas encontradas na cena do melhorias que ainda se fazem necessárias. Pedimos
crime: volta da inflação, apurações da “Lava Jato”, quatro elementos de cada um dos itens. As respostas
relações com Lula (também alvo da “Lava Jato”), as não precisam ser as que estão a seguir, desde que se-
pedaladas fiscais, o PMDB e Eduardo Cunha, que jam coerentes com o que foi estudado e com o que
cada vez mais se colocavam contra o governo. os alunos observam em seu dia a dia.
Ensino Fundamental – 9°- ano 20
Mudanças Permanências a) Possivelmente, os alunos responderão que a
Fim da inflação Corrupção charge, infelizmente, continua atual. Muitas
Práticas fisiológicas na das distorções e más práticas descritas na char-
Crescimento econômico relação entre Executivo ge continuam a ocorrer no Brasil.
e Legislativo
b) A charge chama a atenção para a responsabili-
Diminuição das Problemas na segurança
desigualdades sociais pública
dade dos cidadãos de duas formas: quem elege
Diminuição do Má qualidade da educação
os políticos são os cidadãos, e algumas das prá-
analfabetismo e baixa produtividade ticas mencionadas (“jeitinho”, “fraudulência”,
“sonegação”, “má-fé”, “cervejinha do guarda”)
são relativamente comuns na vida social, inclu-
Desafio (página 130) sive por parte de quem critica os políticos.
Esta atividade é fortemente ligada aos conteúdos Exemplos: carteirinhas de estudante utilizadas
atitudinais. Propõe uma reflexão sobre as atitudes dos por quem não é estudante; vagas de idoso ocu-
cidadãos em relação aos valores praticados na vida pú- padas por quem não é idoso; inscrições no
blica. Ou seja, muitas práticas criticadas nos políticos, Facebook que falseiam idade; gorjetas ofereci-
em menor escala, são feitas pelos cidadãos comuns em das para burlar regras; notas fiscais com valores
suas relações cotidianas. maiores do que foram gastos, etc.

Sugestões de material para consulta


Texto de apoio ao professor as crises catastróficas como aquela de 1929, baseou-se em
um amplo tripé: o grande capital, o grande Estado e o gran-
de trabalho. O grande capital foi representado pelos trustes
O fim da Era Vargas e cartéis que organizaram a produção, diminuíram a con-
O programa básico da atual aliança de centro-direita corrência suicida e investiram enormemente em tecnolo-
é a chamada revisão da Era Vargas. Trata-se, em verdade, gias novas; o grande trabalho foi representado pela abertura
da plena tomada de consciência pelas elites cultas do país para as centrais sindicais, que passaram então a negociar
do esgotamento, no plano interno, do modelo de substi- diretamente com empresários, normalmente sob o olhar
tuição de importações e, no plano internacional, da regu- atento do Estado, garantindo um melhor nível de vida aos
lação fordista-keynesiana. trabalhadores. Estes, agora, eram atraídos para o próprio
O modelo de substituição de importações, com sua ên- coração do capitalismo, sob a forma de consumidores. A
fase na defesa tarifária da indústria nacional, na intervenção produção em massa supunha o consumo em massa, ou
estatal e no endividamento externo, sempre pretendeu criar então a crise. Por fim, o grande Estado surgia na esteira do
um mercado nacional para a indústria que se implantava. abandono do velho liberalismo e na crença de que o capi-
Assim, os mecanismos trabalhistas, previdenciários, as for- talismo deixado a si mesmo geraria infinitas crises; era ne-
mas de remuneração indireta – férias remuneradas, abonos, cessário, portanto, administrá-lo. Foi isto, por exemplo, que
assistência, etc. – tendiam a possibilitar a segmentos cres- fez Franklin Roosevelt, a partir de 1932, com o New Deal;
centes da população urbana o acesso ao mercado, criando foi, também, o que fizeram os reformadores ingleses, fran-
uma forma periférica, ou atrasada, de sociedade de consu- ceses e alemães no pós-guerra, cuidando do cidadão do
mo. A incorporação das grandes massas ao consumo era a berço ao túmulo. Eram os tempos do Estado do Bem-Estar
alma, nos países mais avançados do capitalismo, do modelo Social, the welfare-state, os anos dourados ou, como prefe-
fordista-keynesiano. rem os franceses, os “trinta anos gloriosos”.
Após a violenta mutação da indústria, iniciada nos A doutrina que formava o tripé fordista-keynesiano
anos 1920 e consolidada após a Segunda Guerra Mundial, havia sido proposta, nos anos 1930, por John Keynes.
em direção à produção em massa garantida em ganhos O modelo de gestão do capitalismo, unindo a produção
de produtividade, constituíram-se as grandes sociedades em massa fordizada com a intervenção estatal keynesiana,
de consumo. Não foi um processo pacífico e linear. esgotava-se, entretanto, na passagem dos anos 1970 para
Mesmo nos Estados Unidos e na Europa deram-se reações os anos 1980, após décadas de sucesso, evitando a repe-
e retrocessos. O modelo implantado, e que deveria evitar tição de crises como a de 1929.

21 Ensino Fundamental – 9°- ano


O neoliberalismo é, de certa forma, o aspecto mais O modelo implantado por Vargas e perseguido até o go-
visível da crise. O processo real de mudança, entretanto, verno do general Geisel, embora com fases e característi-
se dá no interior das fábricas, das empresas, dos bancos e cas distintas, nunca conseguiu envolver o conjunto da
das firmas. Cada vez mais, abandona-se a produção em população em uma sociedade de consumo. Ilhas de efi-
série massificada, com um produto médio (apenas médio) ciência, de bem-estar, quase sempre urbanas, pontilhavam
gerando grandes sobras, largo consumo de matérias-pri- um oceano de pobreza.
mas e uso abundante de trabalho, tanto na linha de mon- Este modelo, mesmo imperfeito, denominado de Era
tagem quanto nos escritórios das fábricas. Cada vez mais Vargas, é colocado em questão. A alternativa proposta
aposta-se no aumento da produtividade, com investimen- volta ao passado. Embora seus arautos se digam moder-
tos maciços em tecnologias alternativas, como a informá- nos, a proposta do Estado Mínimo remonta ao início dos
tica e a robótica. anos 1920, quando a intervenção do Estado nas questões
A introdução dessas novas tecnologias não gera ape- sociais era, quase sempre, armar a polícia contra as greves.
nas desemprego (como nas crises anteriores), mas suprime Ao mesmo tempo, afastando o Estado como elemento
postos de trabalho, eliminando a necessidade do traba- regulador, volta-se para o mercado, visto de forma quase
lhador, e, surpreendentemente, aumenta a produção. religiosa como único mecanismo e critério de regulação
econômica. Face ao caráter exíguo do mercado interno,
A linha de série, com a produção fordizada, como vemos
ainda mais quando desprotegido, oferecem-se os merca-
em Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1936), ou em
dos mundiais através da incorporação à globalização, ao
Metrópolis, de Fritz Lang (1927), já faz parte da história do
livre fluxo de capitais, serviços e mercadorias.
capitalismo. A sua nova fase caracteriza-se por uma regu-
Essas são transformações em curso, de vulto planetário,
lação flexível dos recursos, a chamada toyotização, com
apontando para uma nova forma de organização social e
a possibilidade de multiplicidade de produtos e, portanto, econômica do capitalismo. Será no bojo de tais transfor-
de um trabalhador polivalente. mações, sem ainda resolver aquelas herdadas de um tempo
O Brasil, como outros países de industrialização tardia, anterior, que o Brasil fará sua entrada no século XXI.
jamais universalizou, como os Estados Unidos ou a
TEIXEIRA, Francisco Carlos. O fim da Era Vargas. In: LINHARES, Maria
Alemanha, o modelo fordista-keynesiano. Conseguimos, Yedda (Org.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier,
no máximo, um fordismo periférico, excludente e seletivo. 2000. p. 418-420.

Ensino Fundamental – 9°- ano 22


AulAs 44 e 45
NOVOS PARTICIPANTES E NOVAS
História 17 QUESTÕES NA CENA POLÍTICA

Objetivos
• Conhecer a atuação de novos segmentos sociais na cena política brasileira, sobretudo os indígenas, os negros
e as mulheres.
• Refletir sobre questões ambientais que afligem o mundo contemporâneo.

Roteiro (sugestão)
AULA DESCRIÇÃO ANOTAÇÕES
Correção das tarefas da aula anterior
Motivação
Ativação de conhecimento prévio
Para refletir 1
A luta pela ampliação de direitos
44
Mulheres no espaço público
Para refletir 2
Os negros e a luta pela igualdade
Atividade 1
Orientação para as tarefas 1 e 2 (Em casa)
Correção das tarefas da aula anterior
Os indígenas e o direito à diversidade
Meio ambiente e sobrevivência
45 O que é aquecimento global?
A questão ambiental no Brasil
Atividade 2
Orientação para as tarefas 3 e 4 (Em casa)

Estratégias e orientações
Motivação na luta pela redemocratização e o clamor popular pelo
impeachment de Collor. Ressalte que o processo de cons-
Utilize a imagem que abre o Módulo. Pergunte aos trução da democracia é bastante trabalhoso e precisa ser
alunos o que ela revela sobre a questão de gênero no constantemente aprimorado, especialmente em um país
mundo. Uma organização internacional precisaria lan- onde há injustiça e desigualdade como no Brasil.
çar uma campanha como esta, propondo ações para o
alcance da igualdade entre homens e mulheres para Desenvolvimento
2013, se a desigualdade fosse localizada? E sobre a par- Apresentamos duas sugestões de abordagem deste
ticipação feminina nos espaços públicos? Pergunte aos Módulo.
alunos que outros grupos, no entendimento deles, vêm
conquistando mais direitos e espaço político. 1. Aulas expositivas
Ativação de conhecimento prévio Inicie as aulas comentando que, apesar de serem con-
siderados todos iguais, os cidadãos de uma sociedade
Retome, em linhas gerais, as lutas pela ampliação da
democrática têm demandas específicas, que não são com-
cidadania no Brasil que foram estudadas ao longo do
partilhadas com todos os outros cidadãos, mas, sim, ape-
9 o ano: as revoltas da Primeira República, a luta sindical,
nas com aqueles que apresentam as mesmas característi-
o movimento estudantil, a organização da sociedade civil
cas, condições ou circunstâncias de vida. As mulheres,

23 Ensino Fundamental – 9°- ano


por exemplo, possuem exigências próprias – como a de se reconhecerem como indígenas de determinada etnia os
afastar do trabalho após terem seus filhos, sem que isso mantém indígenas: com direitos e deveres que consideram
comprometa seus rendimentos ou sua vaga de trabalho. esta condição.
O mesmo se pode dizer a respeito dos portadores de ne- Sugerimos que a abordagem da questão ambiental
cessidades especiais, negros, indígenas, etc. Oriente os seja feita em duas etapas: na primeira, deve-se historicizar
alunos a perceber que a exclusão se torna ainda maior na o próprio conceito “meio ambiente”, que não existia dé-
interseção desses segmentos sociais. Por exemplo: o grupo cadas atrás. A Floresta Amazônica, por exemplo, hoje
formado por mulheres negras tem uma participação po- considerada um patrimônio ambiental que deve ser pre-
lítica ainda menor do que o grupo dos homens negros ou servado, era vista pelos governantes do Regime Militar
o das mulheres brancas. Fazem parte do processo de cons- como um “entrave ao desenvolvimento”. Em seguida,
trução da democracia o reconhecimento dessas diferenças deve-se enfatizar a participação de cada um na preserva-
e a garantia de atendimento às demandas específicas de ção do meio ambiente. Além de cobrar dos agentes pú-
cada segmento social. blicos e das empresas maior responsabilidade ambiental,
Apresente aos alunos um painel das lutas das mu- os cidadãos devem praticá-la como consumidores (de
lheres, dos negros e dos indígenas pelo reconhecimento água, de energia elétrica, de combustíveis, de produtos
de suas demandas específicas. Comente as reivindica- que utilizam recursos naturais) e produtores de lixo. Se
ções sociais, econômicas, políticas e legais que esses possível, faça menção ao Desafio do Caderno 2 do
segmentos viram ser atendidas na Constituição de 9 o ano (páginas 115 e 116), que vincula o consumo de-
1988 e o muito que ainda têm a reivindicar. senfreado à destruição do planeta.
Ainda que o Supremo Tribunal Federal tenha O fato de o Brasil ter sediado a Rio+20 em 2012
aprovado a existência das cotas raciais para ingresso deve ser destacado de duas formas: a falta de compro-
nas universidades, sabemos que o tema continua polê- missos mais ousados por parte dos líderes mundiais e
as próprias limitações do Brasil neste processo. Neste
mico. Se houver tempo e você julgar conveniente, apre-
ponto, aborde a discussão do novo Código Florestal e
sentamos dois links pelos quais podem ser acessados
o fato positivo de ele ter desencadeado um amplo de-
manifestos com argumentos contra as cotas (<www1.
bate interno sobre o equilíbrio entre desenvolvimento
folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u401519.
econômico e preservação ambiental.
shtml>) e a favor das cotas (<http://media.folha.uol.
com.br/cotidiano/2008/05/13/stf_manifesto_13_ 2. Pesquisa e montagem de mural
maio_2008.pdf>). Eles podem ser usados para subsi- Após assistir às aulas expositivas e realizar as
diar um debate na classe. discussões e os debates propostos pelo professor, os
Em relação aos indígenas, é importante retomar sua alunos deverão pesquisar individualmente, em casa,
história desde a chegada dos brancos ao território brasi- notícias relacionadas:
leiro (perda de terras, genocídio de vários grupos, discri- • à participação política das mulheres, dos negros
minação) e mostrar que, apesar de todas as violências, ou dos indígenas na sociedade atual;
muitos grupos continuam a existir e é um grande avanço • à questão ambiental no Brasil atual.
democrático seus interesses serem reconhecidos e consi- Em sala, após se organizar em grupos, os alunos
derados. Também destaque o fato de que as etnias indí- deverão selecionar duas notícias sobre cada um desses
genas são reconhecidas pela preservação de suas tradições dois temas e afixá-las em um mural. Para cada notícia,
culturais. Portanto, ainda que convivam com comunida- o grupo deverá compor uma legenda. As notícias tam-
des não indígenas (às vezes, dentro de grandes cidades), bém podem ser escaneadas para compor um mural
o fato de manterem suas práticas culturais próprias e se virtual (utilizando-se PowerPoint, por exemplo).
Respostas e comentários
Para refletir 1 (página 131) elegendo governadoras e uma mulher se tornan-
do presidente do Brasil. Além disso, as mulheres
• A campanha propõe que, em 2030, exista igual- possuem cada vez mais escolaridade, o que tam-
dade de gêneros. Ela revela que a desigualdade bém pode ser considerado um ponto positivo.
entre gêneros ocorre em muitos países e, por isso, • A má notícia é que a participação feminina na
há necessidade de uma campanha internacional. vida pública ainda está aquém das expectativas.
• Espera-se que o aluno identifique como boa no- Uma minoria de mulheres ocupa cargos públi-
tícia o fato de a participação das mulheres na cos. No mercado de trabalho, elas ainda ganham
vida pública do país vir se ampliando. Dois mar- menos que os homens.
cos deste processo são apresentados: mulheres se • As mulheres negras.

Ensino Fundamental – 9°- ano 24


Para refletir 2 (página 133) b) Que as mulheres dedicam mais que o dobro
que os homens das horas da semana ao traba-
Esta atividade foi proposta para que os alunos re- lho doméstico.
conheçam os indícios de que as mulheres não contam
com equidade no espaço público. Um deles é a neces- 2. a) Resposta pessoal. Deve ser observada a coerência
sidade de haver documentos especiais (e datas) voltados da resposta. Os alunos podem indicar que atrás
para elas. E que tanto os documentos como as datas de uma meia bandeira brasileira, que evoca o
são formas de fazer avançar o compromisso político e país, há uma série de indivíduos de diversas co-
a mobilização em direção à igualdade de direitos. res. O Brasil é composto por pessoas de diversas
Na prática, não existe igualdade de direitos e opor- etnias. O logotipo evoca esta diversidade e afir-
tunidades para homens e mulheres. Elas sofrem discri- ma a necessidade da igualdade racial.
minação no mercado de trabalho, em muitos países b) Porque as estatísticas comprovam que não exis-
vivem sob tutela masculina, não ocupam cargos públi- te igualdade de condições entre brancos e ne-
cos na mesma proporção dos homens, entre outros gros. A população afrodescendente é mais po-
problemas. Por essa razão, entidades como a ONU bre (74,2% dos pobres do país) que a branca
elaboram documentos especiais voltados a grupos em (25,4% dos pobres), é minoria entre os mais
situação de risco ou discriminação pela sua condição. ricos (16%), recebe salários 40% menores e tem
menos acesso ao Ensino Superior.
Diante desta situação, um órgão público que
Atividade 1 (página 135) tratasse especificamente desta questão foi consi-
Novamente, nos valemos da questão da data es- derado importante para promover políticas que
pecífica para chamar a atenção para a luta pela igual- acelerem o fim dessas desigualdades relacionadas
dade racial. Neste caso, destaca-se também a luta pela à questão racial.
memória e o significado dos marcos que são oficial- 3. a) Desde a redemocratização do país, são maiores a
mente instituídos. organização e a mobilização de grupos sociais por
O dia 13 de maio, data da assinatura da Lei Áurea, seus direitos – incluindo os grupos indígenas.
relaciona-se à abolição formal da escravidão no Brasil, A promulgação da Constituição de 1988 assegu-
fato que não veio acompanhado por medidas de inte- rou legalmente direitos aos indígenas: à sua diver-
gração dos negros à sociedade brasileira em condições sidade cultural, às terras que ocupavam. Dessa
de igualdade. Além disso, ao longo da história oficial forma, suas condições de existência passaram a ser
do Brasil, esse evento sempre foi vinculado à “bondade” mais bem garantidas e sua mobilização faz que
da Princesa Isabel e não à luta pela liberdade feita pelos continuem conquistando direitos e melhores con-
ex-escravos. Já o dia 20 de novembro é ligado à figura dições para a sobrevivência física e cultural.
de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da b) Ainda que um grupo não viva em local especi-
história do Brasil, no qual os negros construíram uma ficamente ligado às suas origens, se mantém e
sociedade em que viviam em liberdade. pratica suas tradições culturais, continua a per-
tencer àquele grupo. Se se sentem e se enten-
Atividade 2 (página 140) dem como indígenas, são indígenas. O texto
faz referência a essas tradições culturais.
A charge apresenta o contorno do mapa do Brasil
feito apenas com tocos de árvores. Ela faz referência ao 4. A charge ironiza a timidez dos compromissos que
fato de o novo Código Florestal diminuir a área de pro- os líderes mundiais assumiram na Rio+20. Essa
teção de florestas. É uma crítica aos retrocessos da lei. timidez frustrou as pessoas preocupadas com o
meio ambiente, pois pode comprometer o futuro
sustentável do planeta. O chargista capta isso ao
Em casa (página 141) colocar os líderes mundiais (é possível reconhecer
1. a) A ocupação com o trabalho doméstico concorre a presidente Dilma entre eles) em um galho prestes
ou ocorre simultaneamente com o trabalho no a quebrar. Ou seja, o chargista alerta que, se certos
mercado formal. Portanto, quem dedica mais tem- compromissos não forem assumidos, tal fato pode
po a ele tem menos oportunidades no mercado colocar todos sob ameaça no futuro (incluindo os
formal ou se sobrecarrega com dupla jornada. líderes e seus países).

25 Ensino Fundamental – 9°- ano


AulAs 46 A 48
História 18 A “IDADE MÍDIA”

Objetivos
• Refletir sobre o impacto da tecnologia e dos meios de comunicação na vida atual.
• Refletir sobre as potencialidades das redes sociais e as atuais formas de luta por mudanças no planeta.

Roteiro (sugestão)
AULA DESCRIÇÃO ANOTAÇÕES
Correção das tarefas da aula anterior
Motivação
Ativação de conhecimento prévio
46 Para refletir
O peso dos meios de comunicação
Atividade 1
Orientação para a tarefa 1 (Em casa)
Correção da tarefa da aula anterior
Imagem e realidade
47 Com a palavra, o historiador
Atividade 2
Orientação para a tarefa 2 (Em casa)
Correção da tarefa da aula anterior
As novas tecnologias de comunicação
Vantagens e riscos da internet
48 As redes sociais
Atividade 3
Orientação para a tarefa 3 (Em casa)
Orientação para o Desafio (se houver possibilidade)

Estratégias e orientações
Motivação texto relatando um fato ocorrido ou uma foto (ou ví-
deo) do mesmo evento? Um relato ouvido de uma pes-
Explore as charges apresentadas na abertura do soa ou imagens do episódio relatado?
Módulo. Estimule os alunos a perceber a mensagem
da charge 1: a televisão “hipnotiza” a família, os ani-
mais de estimação e até mesmo o ladrão, que sequer Desenvolvimento
foi percebido pelos que assistem à TV. Pergunte-lhes Apresentamos duas sugestões de abordagem deste
até que ponto isso acontece de fato: quantas vezes dei- Módulo.
xaram de falar com pessoas de sua família ou amigos
para não perder um programa na TV? Com que fre-
1. Continuação da aula operatória do
quência veem isso acontecer? Passe então à charge 2,
indagando: será que todas as transmissões de imagem
Módulo 16
em tempo real são um “retrato fiel” da realidade? • Peça às equipes formadas nas aulas anteriores
Pergunte-lhes o que lhes parece mais “verdadeiro”: um que se reúnam novamente.
Ensino Fundamental – 9°- ano 26
Selecione alguns temas jornalísticos e distribua-os lado, é necessário considerar as possibilidades de ma-
entre as equipes. Esses temas podem ser genéricos nipulação e sonegação de informações (deliberadas ou
(política nacional, noticiário internacional, econo- não) por parte desses veículos, em função dos interesses
mia, cultura, etc.) ou específicos (assuntos que dos agentes envolvidos na produção (informativa ou de
estejam em evidência à época do trabalho). entretenimento) e das corporações que controlam esses
• Proponha às equipes que, durante uma semana, veículos. O texto de José Arbex (página 145) pode sub-
acompanhem a cobertura dada pela mídia ao sidiar essa abordagem. Evidentemente, é preciso ade-
tema que lhes foi atribuído. Para tanto, os alu- quar a discussão à faixa etária dos alunos, restringindo
nos deverão buscar ter acesso, diariamente, às a profundidade e a extensão das questões a seu universo
edições de quatro jornais diferentes: dois im- de conhecimentos e experiências.
pressos, um telejornal e um site de notícias. Nas problematizações propostas no Caderno, de-
• Peça às equipes que elaborem preparativos que mos destaque à questão da produção/recepção das ima-
contenham os seguintes tópicos: gens jornalísticas. Chame a atenção dos alunos para o
– Semelhanças na cobertura. fato de que elas são uma representação, e não a “captação
– Diferenças na cobertura. fiel” da realidade. Vivemos em um mundo em que as
– Foi possível perceber o posicionamento dos imagens estão presentes na vida das pessoas como nunca
veículos a respeito do tema? antes estiveram. Contudo, raramente prestamos a devi-
– As imagens revelam algo do posicionamento
da atenção ao caráter subjetivo de sua produção.
dos fotógrafos ou cinegrafistas?
Na seção Com a palavra, o historiador, destaca-
– Há semelhanças nas imagens divulgadas pelos
mos um pequeno fragmento da obra de Maria Luíza
diferentes veículos?
Tucci Carneiro e Boris Kossoy (um dos maiores estu-
• Solicite aos alunos que organizem uma apresen-
diosos brasileiros da questão da imagem) para subsidiar
tação oral dos relatórios à sala, utilizando pre-
a discussão sobre o fato de que quem está por trás das
ferencialmente, como recurso de apoio, o
PowerPoint. Caso a escola não disponha de câmeras expressa um tanto do que pensa ao escolher
projetores ou os alunos não tenham acesso ao como se posicionar e o que fotografar/filmar.
programa, as equipes podem apresentar para a Quanto à internet, chame a atenção dos alunos
sala cartazes com cópias das matérias que con- para seus aspectos positivos e negativos, bem como
siderarem relevantes. para a questão da exclusão digital e a nova forma de
• Seja qual for o meio de apresentação utilizado, os desigualdade social a ela associada.
alunos devem justificar, ao longo da apresentação, Finalizamos estas aulas destacando a nova rede
a avaliação que fizeram dos itens propostos. global de mobilização sociopolítica, que só é viável
• Além da apresentação oral, solicite a entrega de porque pode contar com as novas tecnologias.
relatório escrito. Consideramos importante que os alunos saibam que
• A avaliação pode ser realizada de forma seme- milhões de pessoas ao redor do mundo buscam novas
lhante à sugerida no Módulo 16. formas de relacionamento (para se aproximar e superar
as barreiras geográficas, as restrições políticas) e novas
2. Aula expositiva possibilidades de atuação política, abraçando causas,
O objetivo destas aulas é problematizar as relações mobilizando pessoas em torno de um objetivo comum,
que costumamos manter com a mídia e com as novas estabelecendo ações de solidariedade coletiva. Em con-
tecnologias de comunicação que nos permitem ter no- traposição, a exemplo do que foi afirmado no pará-
tícias acerca do que ocorre em todo o mundo e tam- grafo anterior, também há riscos e problemas: o
bém próximo de nós. cyberbullying, os distúrbios de relacionamento social
É preciso reconhecer a importância dos modernos alimentados pelo vício dos relacionamentos apenas
meios de comunicação para o exercício da democracia. virtuais, a falta de trocas de experiências “reais” e a
Quando trabalham com isenção e responsabilidade, frequência a comunidades que apenas reforçam deter-
esses meios nos abrem a possibilidade de fiscalizar os minados pontos de vista, entre outros.
agentes públicos e privados, de exigir deles transparên- As atividades propostas ao longo do Módulo pre-
cia e cobrar-lhes os resultados prometidos. Por outro tendem subsidiar essas discussões.

27 Ensino Fundamental – 9°- ano


Fechamos o Caderno (e o curso) com um texto recursos (cada vez mais presentes em nosso cotidiano)
de Ruy Castro que, de alguma forma, nos leva a pen- não se “naturalizem”, a tal ponto que deixemos de nos
sar sobre os avanços tecnológicos como um todo, sobre interrogar sobre o que é de produção direta e genui-
as facilitações que eles carregam e os riscos de torna- namente humana e o que emprestamos das máquinas
rem toda a realidade mais “maquiada”. Consideramos sem refletir sobre sua “história” e as implicações de
reflexões como estas importantes para que estes sua utilização.

Respostas e comentários
Para refletir (página 143) nicação mostram ao leitor/espectador a realidade exa-
tamente como ela é. A ideia subjacente ao slogan da
• A charge 1 mostra os membros de uma família “hip- CNN é a de que o telespectador não faz parte da his-
notizados” por um televisor. A ironia está no fato de tória, apenas a assiste, e de que a TV não interpreta os
eles não perceberem a presença de um ladrão, que fatos, apenas os mostra. Essa noção pressupõe que as
também parece seduzido pelo aparelho. Até os ani- notícias transmitidas pela TV são objetivas, imparciais
mais domésticos se tornam presas da TV. A charge e, por conseguinte, confiáveis.
2 retrata a transmissão, em tempo real, de uma cor- Quando consideramos que a objetividade e a neu-
rida num telão. A ironia está na distorção dos fatos tralidade são inalcançáveis, passamos a enxergar as
promovida pelo telão: a real colocação dos três com- imagens e as informações transmitidas pelos meios de
petidores é modificada, de modo que o corredor comunicação com outros olhos, procurando compreen-
negro (que está em primeiro lugar) é prejudicado, der quais são seus pressupostos e suas posições, para
aparecendo em último. então concluir se concordamos ou não com elas.
• As charges tratam da forte presença dos meios de
a) Segundo o slogan da CNN, o público de TV
comunicação de massa (ou mídia) na vida das pes-
desempenha o papel de mero espectador (aquele
soas. A realidade virtual criada pelas novas tecnolo- que assiste ao que acontece, sem participar).
gias (que não incluem apenas televisores e telões, mas
também o computador, o celular, etc.) é tão sedutora b) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos co-
que as pessoas parecem se preocupar mais com ela mentem que o slogan reforça a passividade das
do que com o mundo real que as cerca. Essa é uma pessoas, que não participam da história, mas
característica marcante da época atual, que pode, por assistem a ela assim como se assiste à TV.
isso, ser chamada de “Idade Mídia”. É possível que
os alunos percebam o trocadilho feito com a expres- Atividade 2 (página 147)
são “Idade Média”. Explore com eles essa relação: há A questão discute a necessidade de interpretarmos
um ponto de contato entre o nosso tempo e o perío- as imagens com os mesmos cuidados que empenhamos
do medieval? Pode-se destacar, por exemplo, o obs- ao ler um texto escrito.
curantismo normalmente associado àquela época, o Lemos as “entrelinhas” das imagens quando as
qual impedia os homens de perceber o mundo real interpretamos à luz do contexto em que foram produ-
que os cercava. Na Idade Média, a realidade estaria zidas, considerando as características do veículo que
encoberta pelos dogmas da Igreja, e, na Idade Mídia, transmite/publica e tentando desvendar a ideia que
estaria distorcida (ou substituída) pela realidade pa- quem as produziu quis expressar.
ralela criada pelos meios de comunicação.
Atividade 3 (página 149)
Atividade 1 (página 145)
Resposta pessoal. Espera-se que os alunos apon-
Esta atividade (assim como a tarefa 1) pretende tem que a internet supera as barreiras geográficas e
estimular a reflexão sobre o discurso apresentado pelos possibilita que se entre em contato com pessoas que
meios de comunicação para legitimar sua atuação. Tal estejam em qualquer lugar (com acesso à rede), de
discurso sustenta a ideia de que os meios de comu- todas as culturas e idiomas (há recursos de tradução
Ensino Fundamental – 9°- ano 28
na rede). A letra também faz menção ao fato de que 3. a) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos re-
a rede, ao aproximar pessoas virtualmente, diminui conheçam que é uma boa representação dos
a solidão. dias atuais: seja porque as redes sociais estão
“na ordem do dia”, seja porque há inúmeras
Em casa (página 150) situações em que jovens usuários da rede de-
senvolvem novos aplicativos e programas que
1. a) Que o jornal, como um espelho, reflete a rea- acabam interessando às grandes corporações.
lidade tal como ela é. b) Resposta pessoal. Pensamos que as respostas
b) Não. É impossível retratar/noticiar a realidade dadas oferecerão um bom painel sobre os inte-
tal como ela é; sempre há filtros subjetivos, que resses e o grau de sensibilização dos alunos para
são determinados pelos interesses e pontos de as questões coletivas. Aqui não há respostas
vista dos profissionais que trabalham a notícia certas ou erradas (certamente pode haver res-
e de seus patrões. postas preocupantes. Neste caso, do ponto de
vista da atuação com conteúdos atitudinais,
2. a) A presidente está curvada e parece transpassada isso pode referenciar um trabalho final com
por uma espada. alunos ou o próprio replanejamento dos pro-
fessores que trabalharão com essas turmas no
b) Não. Ao retratar a presidente de forma que pa-
Ensino Médio).
recia que a espada a atravessava, o fotógrafo (e o
jornal que publicou a foto) parece querer man-
dar a mensagem de uma presidente “atacada”. Desafio (página 151)
c) Confirma. Há um trecho do fragmento que Para encerrar o curso, selecionamos um trecho de
menciona que “as imagens da câmera [...] re- um conto do renomado escritor argentino Jorge Luis
sultam, na verdade, de um complexo processo Borges. A atividade propõe uma pesquisa sobre este
de criação, elaborado por seu autor – o fotó- conto e a comparação do “livro de areia”, descrito no
grafo”. Na produção desta foto, fica claro que conto homônimo, à internet. O acervo da internet tem
a escolha do ângulo e do enquadramento in- as mesmas características do “livro de areia”: a cada vez
terferiu decisivamente no resultado final do que entramos na rede, encontramos páginas diferentes,
trabalho de Wilton Junior. Esses parâmetros porque o tempo todo há novas informações sendo in-
subjetivos da produção de imagens nos impe- corporadas. Ainda que seus assuntos possam ser inde-
dem de perceber as fotografias como “retratos xados, é impossível ter contato com todo o conteúdo
fiéis” da realidade. A foto se tornou meio para que está na rede ou determinar uma classificação per-
divulgação de outra mensagem. manente para ele, identificando seu início e seu fim.

Sugestão de atividade extra


Questão adicional que pode ser Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
aproveitada pelo professor [...]
Unplugged (CD). WEA, 1994.
Leia um trecho da canção “Parabolicamará”, de
Gilberto Gil: Faça uma interpretação da letra da canção, com
base nas informações deste Módulo e em seus conhe-
Antes mundo era pequeno
cimentos sobre o mundo atual.
Porque Terra era grande Resposta: O compositor compara dois momentos
Hoje mundo é muito grande distintos da história da circulação de pessoas e de
Porque Terra é pequena informações.
Do tamanho da antena parabolicamará Quando os meios de transporte e comunicação
[...] eram mais rudimentares, “a Terra era grande”, difícil
De jangada leva uma eternidade de ser percorrida. Nessa época, o mundo das pessoas
De saveiro leva uma encarnação “era pequeno”, mais restrito à sua localidade.

29 Ensino Fundamental – 9°- ano


Hoje, ao contrário, “a Terra é pequena”, porque intermédio das antenas ou das fibras ópticas.
o planeta está interligado por meios ágeis de Assim, o autor conclui que de jangada e saveiro
transporte e comunicação. Graças a isso, o mun- se leva “muito tempo” para percorrer distâncias,
do das pessoas ampliou-se: além dos aconteci- enquanto é mínimo o tempo para percorrê-las
mentos da localidade, sabe-se muito rapidamente pelas ondas luminosas dos novos meios de
o que ocorre em qualquer lugar do globo, por comunicação.

Sugestões de material para consulta


Textos de apoio ao professor Uma abordagem crítica da TV que não problematize
o paradigma da televisão como um simples “meio”, ou
Texto I que aceite a televisão como veículo transportador de
mensagens entre emissor e receptor, acaba caindo na ar-
Sobre a televisão madilha desse mesmo ocultamento. [...]
Ainda hoje a televisão é debatida segundo uma con- Ponto de fuga para todos os olhos, aura luminescente
cepção que a reduz a uma transportadora de conteúdos, que nos olha sem cessar, o lugar da TV é ubíquo. Mais: é
uma passagem entre um emissor e um receptor. Mais ou totalizante, ainda que se apresente multifacetado, frag-
menos como um envelope, um carteiro ou um fio de te- mentário e até variado. Não admite nada que fora dele se
lefone. O maior problema dessa concepção é que ela ajuda manifeste. O que não é difícil de explicar. Ao brocardo
a esconder ou a camuflar a função fundante dos chamados jurídico dos antigos romanos, quod non estin acti non est
meios de comunicação, sobretudo dos meios eletrônicos: in mundo (“o que não está nos autos não está no mun-
a de constituir e conformar o espaço público. Esse efeito do”), que obriga o juiz a ater-se aos fatos descritos no
de camuflagem já é bastante reforçado pelo próprio dis- processo para fundamentar sua sentença – e que, tam-
curso jornalístico – aquele mesmo que [Olavo Bilac] enal- bém, assegura o registro no simbólico como pré-requisito
tece para vislumbrar o que seria o “jornal do futuro”. Como para que se dê por existente um dado qualquer do real,
nos tempos de Bilac, o jornalismo ainda se apresenta, pre- ou seja, o real só é admitido enquanto argumento a partir
dominantemente, como um discurso positivista. Para mim, de sua absorção pelo simbólico –, segue-se uma outra lei,
que sou um jornalista profissional, a constatação não deixa a lei da nossa era, a era do audiovisual: o que não aparece
de ser embaraçosa. Mas é inevitável notar que, talvez, o na TV não acontece de fato.
discurso jornalístico seja hoje um dos poucos redutos do Esse lugar que a TV fabrica na atualidade alimenta-se de
positivismo, num tempo em que até mesmo o discurso uma convergência de outros meios e junto com eles com-
das ciências exatas já aceita mergulhar na inexatidão do põe um gigantesco novelo em torno do planeta.
caos ou na incerteza das probabilidades quânticas. O jor- O que conduz as linguagens desse novelo é o olhar, o que
nalismo resiste como um campo discursivo que ainda car- me permite propor a tela de TV como forma hegemônica
rega a pretensão de, no interior do relato que propõe con- desse novelo, hoje constituído por um sistema complexo
ter, sistematizar e representar de modo inteiramente que envolve teias eletrônicas feitas de satélites, ondas ele-
neutro a objetividade dos fatos. Como se essa objetividade tromagnéticas, feixes de laser e redes de computadores.
neutra fosse possível. O discurso jornalístico, agora como Fora disso não há vida. O que não é visível não existe.
antes, muitas vezes se vê erguido sobre uma ilusão: descre- O que não tem visibilidade não adquire cidadania. Esse
ver a realidade sem nela interferir. Foi assim que encontrou complexo vem compor o que Regis Debray recentemente
na tela da TV o novo palco para fincar sua autoridade. chamou de “videosfera”. Agora, o critério da verdade é a
Isso se dá, ou melhor, isso só pode se dar pelo ocultamen- imagem que se apossa da nova “videosfera”: “Uma foto será
to. Diante da tela, o que o telespectador enxerga não é a mais ‘crível’ do que uma figura, e uma fita de vídeo do que
própria tela, nem o discurso que encadeia as imagens e pala- um bom discurso”. A síntese de Debray é categórica: “A
vras numa narrativa ininterrupta, mas a paisagem que se lhe equação da era visual: Visível = Real = Verdadeiro. Ontologia
apresenta do outro lado da janela eletrônica. O “meio”, a fantasmática da ordem do desejo inconsciente”.
“ferramenta de comunicar”, simula sua própria transparência Nesse novo lugar, tudo é pastoso, as fronteiras se li-
simulando sua desintegração no espaço. Como o próprio quefazem. A própria noção de lugar carece de novas re-
discurso que se pretende neutro, isento e distanciado, a tela lativizações. É como se o mundo todo se convertesse no
aparentemente não tem parte com a realidade que retrata que Marc Augé já definiu como um “não lugar”, pois nesse
nem com aquele que para ela volta os olhos. A tela, como o “videolugar” a noção de história se perde, ou se oculta.
discurso jornalístico, retira dessa isenção a sua legitimidade e Vejamos o que diz Marc Augé: “Se um lugar pode se de-
a sua força. Por isso, ambos ocultam sua própria condição. finir como identitário, relacional e histórico, um espaço
Ensino Fundamental – 9°- ano 30
que não pode se definir nem como identitário, nem como Uma interessante metáfora, apresentada por Pierre
relacional, nem como histórico definirá um não lugar”. Lévy (1999), poderá nos auxiliar na tarefa de conceituar
O não lugar de Augé, como os aeroportos internacionais, a cibercultura. Essa metáfora é construída a partir de ou-
espaços impessoais em que os sujeitos trafegam sem raízes tra imagem, a do “segundo dilúvio” (pre)visto por Roy
nem chance de fixação, é hoje um conceito interessante Ascott, que seria resultante do transbordamento caótico
para pensarmos o lugar em si que a TV proporciona à plateia de informações nos hipertextos, do contato anárquico
planetária. Esse não lugar nada tem a ver com a ideia de entre indivíduos e bancos de dados. Segundo ele, em
utopia, o “lugar que não há”, mas ao qual se quer chegar; densos turbilhões, as informações inundariam as redes,
trata-se de um “espaço” que, ao contrário, exala sua própria cujo crescimento exponencial provocaria o “dilúvio” das
existência, mas que recusa o enraizamento do sujeito. telecomunicações.
Assim é o lugar da TV: um lugar ubíquo, que a tudo No dilúvio bíblico, Noé construiu um pequeno mundo
abrange. Ao mesmo tempo, é um lugar que não está em bem organizado, que conseguiu sobreviver, mas o mesmo
lugar algum. No lugar em si da TV, um filme de publici- não ocorrerá, segundo Lévy, com o dilúvio informacional
dade se iguala como verdade a uma cena de guerra: o (pre)visto por Ascott. Este jamais cessará, pois não há fun-
que permite à propaganda política interferir na guerra e do sólido sob o oceano de informações. Como pequenas
o que reduz a guerra a um instrumento visual a serviço arcas, flutuamos nesse oceano de informações, e cada
do proselitismo político. uma delas contém uma seleção diferente de informações
BUCCI, Eugênio. A crítica de televisão. In: BUCCI, Eugênio; KEHL, Maria e quer preservar sua diversidade.
Rita. Videologias. São Paulo: Boitempo, 2004. p. 30-5. “A arca do primeiro dilúvio era única, estanque, fechada,
totalizante. As arcas do segundo dilúvio dançam entre si.
Texto 2
Trocam sinais. Fecundam-se mutuamente. Abrigam peque-
Espaço, tempo e linguagem na cibercultura nas totalidades, mas sem nenhuma pretensão ao universal.
Apenas o dilúvio é universal. Mas ele é intotalizável. É pre-
Tudo evolui; não há realidades eternas: ciso imaginar um Noé modesto” (LÉVY, 1999, p. 15).
tal como não há verdades absolutas. Como o personagem bíblico, flutuamos no mar infor-
(Nietzsche) macional do “segundo dilúvio”. Transformados em anda-
Para compreender o funcionamento dessas redes so- rilhos da internet, ou melhor, em argonautas do ciberes-
ciais é necessário refletir a respeito da ampliação do con- paço, procuramos nos comunicar, nos agrupar com
ceito de espaços arquitetônicos, incorporando os ambien- nossos “iguais” em meio a esse oceano de informações.
tes virtuais criados na web. Formamos comunidades, numa procura de sucessivos
Segundo Manuel Castels (1999, p. 21), as mudanças “velocinos de ouro” que se alteram a cada instante. Há
ocorridas com o advento da internet estão remodelando sempre um novo “velocino” a se buscar. Nessa eterna pro-
a base material da sociedade em ritmo acelerado, promo- cura, armazenamos ideias, dados, informações. Muitas
vendo uma interdependência global no que se refere à vezes, sem o devido cuidado, nos perdermos no universo
economia, ao Estado e à sociedade. Todo um novo sistema caótico do ciberespaço (CAMPELLO, 2001).
de comunicação e de transações econômicas é inaugurado Nessas andanças criamos novas formas de comuni-
e nele se fala uma nova língua digital, que resulta da produ- cação, viabilizada por meio de uma linguagem própria,
ção e distribuição de palavras, sons e imagens personaliza- multimídia. Tornamo-nos coautores de um discurso ela-
das “ao gosto das identidades e humores dos indivíduos”. borado por meio dessa nova linguagem. Como resultado
Sherry Turkle (2003), por sua vez, afirma que, nos mundos desses intercâmbios, e para viabilizá-los, surge uma nova
mediados pelo computador, o eu é múltiplo, fluido e cons- escrita do mundo comparável, segundo Philippe Quéu
tituído em interações com uma rede de máquinas. Ele é (apud SCHEPS, 1996), a uma revolução como a ocorrida
formado e transformado pela linguagem. Nele, as relações com a invenção da imprensa ou o surgimento do alfabe-
são trocas de significantes e a compreensão resulta da na- to. Essa nova estrutura tecno-social possibilita o surgi-
vegação sem rumo aparente, mais do que da análise. mento de novos espaços, novas representações, novas
Castels faz uma análise das relações resultantes desses imagens virtuais que possibilitam, por sua vez, uma imer-
novos intercâmbios sociais destacando a busca pela iden- são e geram um paradoxo que subverte o espaço clássico
tidade, coletiva ou individual, atribuída ou construída, que kantiano, considerado condição sine qua non da
se torna fonte básica de significado social. Nessa busca, experiência. Se em Kant não há experiência sem espaço,
redes globais conectam e desconectam indivíduos, gru- os espaços virtuais surgem como a experiência em si, pois
pos, regiões e até países. Essas relações vêm no bojo dessa eles são gerados à medida que são manipulados,
nova cibercultura. experimentados.

31 Ensino Fundamental – 9°- ano


Um supertexto e uma metalinguagem são criados, representação, espaço e tempo são agora comprimidos e
como resultado dessas interações. No dizer de Castels presencia-se uma diluição de fronteiras, os sistemas visuais
(1999, p. 354), esse sistema formado, pela primeira vez na veem as representações serem transmutadas, objetos tridi-
história, “integra modalidades escrita, oral e audiovisual mensionais surgem em duas dimensões, emergem “geogra-
da comunicação humana. O espírito humano reúne suas fias imaginárias”, paisagens, objetos e figuras geradas por
dimensões em uma nova interação entre dois lados do algoritmos, narrativas que conectam o indivíduo a eventos
cérebro, máquinas e contextos sociais”. históricos importantes (HALL, 2006, p. 72).
Postman, por sua vez, afirma que “nós não vemos [...] Citando Giddens, Hall utiliza os termos espaço e lugar,
a realidade [...] como ‘ela’ é, mas como são nossas lingua- diferenciando-os na pós-modernidade ao afirmar que,
gens. E nossas linguagens são nossas mídias. Nossas mídias “nas sociedades pré-modernas, o espaço e o lugar eram
são nossas metáforas. Nossas metáforas criam o conteúdo amplamente coincidentes, uma vez que as dimensões
da nossa cultura” (POSTMAN, 1994). espaciais da vida social eram, para a maioria da popula-
De fato, nas redes interconectadas vivemos imersos ção, dominadas pela ‘presença’ [...]. A pós-modernidade
em metáforas. É esse ciberespaço que subverte toda a separa, cada vez mais, o espaço do lugar, ao reforçar re-
noção de espaço e de tempo e se viabiliza por meio de lações entre outros que estão ‘ausentes’, distantes (em
linguagem própria – uma nova linguagem multimídia. termos de local), de qualquer interação face a face”
Na obra “Tecnologias da Inteligência”, Lévy (1993) trata
(GIDDENS, 1990, p. 18 apud HALL, 2006, p. 72).
do assunto ao refletir a respeito do papel da tecnologia da
E o próprio Hall complementa: “[...] Os lugares perma-
informação na constituição das culturas e inteligência dos
necem fixos; é neles que temos ‘raízes’. Entretanto, o es-
grupos. Apresentando algumas implicações do uso das
tecnologias em nosso cotidiano na maneira de conhecer o paço pode ser ‘cruzado’ num piscar de olhos – por avião
mundo, na forma de representar o conhecimento e na trans- a jato, por fax ou por satélite” (HALL, 2006, p. 72-3).
missão dessas representações por meio da linguagem, o A visão modernista da realidade, segundo Sherry Turkle
autor discorre a respeito da evolução da linguagem desta- (2003), é caracterizada como “linear”, “lógica”, “hierárquica” e
cando três tempos do “Espírito”: o da oralidade primária, o por possuir “profundezas” que podem ser sondadas e com-
da escrita e o da informática. Nesta última etapa emerge a preendidas. Os mundos virtuais, por sua vez, proporcionam
metáfora do hipertexto, definido como um conjunto de nós experiências das ideias abstratas pós-modernas, que, se utili-
ligados por conexões. Esses nós podem ser palavras, páginas, zando de aparelhagens mecânicas dos computadores, servi-
imagens, gráficos ou parte de gráficos, sequências sonoras, ram de base para uma filosofia “radicalmente não mecânica
documentos complexos, os quais podem, eles mesmos, ser do pós-modernismo”. O conjunto de ideias relacionadas ao
hipertextos. Esses hipertextos apresentam, segundo Lévy pós-modernismo revela instabilidade de significados e ausên-
(1993), algumas características, baseadas em princípios que cia de verdades universais e conhecíveis na nossa vida coti-
nos auxiliam a compreender seu funcionamento. diana. Entramos na era das certezas provisórias.
Além das especificidades referentes à nova linguagem Shirley Campello.
multimídia, é preciso analisar os conceitos de espaço e tem- Disponível em: <www.arteduca.unb.br/biblioteca/redes_sociais.pdf>.
po na cibercultura. Coordenadas básicas dos sistemas de Acesso em: 21 maio 2013.

RESPOSTAS –
História RUMO AO ENSINO MÉDIO

1. d 7. c 13. d

2. d 8. a 14. a

3. b 9. b 15. a

4. b 10. b 16. b

5. b 11. b 17. c

6. d 12. c

Ensino Fundamental – 9°- ano 32


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