Política e rede de saúde mental no Brasil

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Disciplina- Saúde Mental

Política e rede de saúde mental no Brasil


Profa. Dra. Deborah Uhr
Breve Histórico Saúde Mental

1978 Criação do Movimento dos Trabalhadores de Saúde


Mental (MTSM)

1ª Conf. Saúde Mental e II Congresso Nacional de


1987 Trabalhadores em Saúde Mental
Criação do 1o caps no país, Caps Luiz Cerqueira

Intervenção na Casa de Saúde Anchieta em Santos


1989
Projeto de lei de reforma psiquiátrica

1991 Criação dos NAPS em Santos


Breve Histórico Saúde Mental

1990 Declaração de Caracas

1991 Portaria 189: institui o financiamento de serviços tipo CAPS/NAPS


1992 Portaria 224: normatiza o atendimento em SM 2ª CNSM

Portaria 106: institui os Serviços Residenciais


2000
Terapêuticos

Diretrizes OMS para SM; Portaria 336: nova regulamentação


2001
dos CAPS; Aprovação da Lei 10.216/2001; 3ª CNSM
Declaração de Caracas

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Lei 10216

Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de


transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental

Responsabilidade do Estado: desenvolvimento da política de saúde mental, a


assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais

Participação e controle social

Tratamento: em serviços de base comunitária e visando a reinserção social


Lei 10216

Política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial para o paciente há longo


tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência
institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social.

A desinstitucionalização deve garantir a continuidade do tratamento, quando


necessário

Internação só deve ser indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem


insuficientes e deve oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos
mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de
lazer, e outros. Não pode se dar em instituições com características asilares
Lei 10216

Tipos de internação psiquiátrica:

Internaç Internação
ão ão
voluntár involuntária: aquela Inter na ç
ia: aque ó r ia :
que se d la que se dá sem o compul s
á com o er minada
a d et
consenti consentimento do aquel
mento do us t iç a
usuário usuário e a pedido pela J
de terceiro;
Relatório Mundial de Saúde: saúde mental - novo
entendimento, nova esperança

Recomendações da OMS para derrubar barreiras à prestação de cuidados em SM:

tratar saúde mental nos cuidados primários


fornecer medicamentos
prestar o cuidado na comunidade
educar a população
envolver a comunidade e a família
criar políticas, programas e legislações nacionais
dispor de recursos humanos
definir vínculos com outros setores
fiscalizar a saúde mental na comunidade
apoiar pesquisas na área.
Breve Histórico Saúde Mental no Brasil

Política de SM nos anos 2000: construir uma rede


capaz de substituir efetivamente, com vantagens
clínicas, o sistema ambulatório-emergência-internação

Eixos: desinstitucionalização; Caps; SM e AB; álcool e


outras drogas; infância e adolescência; inclusão social
Desafios

Fortalecer políticas de saúde voltadas para grupos de pessoas com


transtornos mentais de alta prevalência e baixa cobertura
assistencial;
Consolidar e ampliar uma rede de atenção de base comunitária e
territorial, promotora da reintegração social e da cidadania;
Produzir acessibilidade e equidade;
Formar recursos humanos;
Avançar na transformação cultural;
Fomentar o debate científico.
A rede de cuidados na comunidade

é maior do que o conjunto de serviços


de saúde mental.

Articula-se a outras instituições,


associações, cooperativas etc. para fazer
face à complexidade das demandas de
inclusão social, de autonomização e de
cidadania.
Breve Histórico Saúde Mental

2009 Marcha pela Reforma Psiquiátrica


2010 4ª CNSM

Decreto 7508/11
2011
Portaria 3088/11 que institui a RAPS
Decreto nº 7.508/11
Região de Saúde - espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de municípios
limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de
redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade
de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde.

Para ser instituída, a Região de Saúde deve conter, no mínimo, ações e serviços de:
Atenção primária;
Urgência e emergência;
Atenção psicossocial;
Atenção ambulatorial especializada e hospitalar;
Vigilância em saúde.

Rede de Atenção à Saúde - conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de


complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde.
Rede de Atenção Psicossocial

Rede de saúde mental integrada, articulada e efetiva nos diferentes pontos


de atenção para atender as pessoas em sofrimento e/ou com demandas
decorrentes dos transtornos mentais e/ou do consumo de álcool, crack e
outras drogas;
Deve-se considerar as especificidades loco-regionais;
Ênfase nos serviços com base comunitária, caracterizados por plasticidade
de se adequar às necessidades dos usuários e familiares e não os mesmos se
adequarem aos serviços;

Atua na perspectiva territorial, conhecendo suas


dimensões, gerando e transformando lugares e relações.
Diretrizes

Respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia, a liberdade e o exercício da


cidadania;
Promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde;
Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e
assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar;
Ênfase em serviços de base territorial e comunitária, diversificando as estratégias
de cuidado com participação e controle social dos usuários e de seus familiares;
Organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com
estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado;
Desenvolvimento da lógica do cuidado centrado nas necessidades das pessoas
com transtornos mentais, incluídos os decorrentes do uso de substâncias psicoativas
Objetivos

Ampliar o acesso à atenção psicossocial da população em geral;

Promover a vinculação das pessoas em sofrimento/transtornos mentais e


com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas e
suas famílias aos pontos de atenção;

Garantir a articulação e integração dos pontos de atenção das redes de


saúde no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do
acompanhamento contínuo e da atenção às urgências.
Componentes da Rede de Atenção Psicossocial
Atenção Básica em Saúde
Unidade Básica de Saúde,
Núcleo de Apoio a Saúde da Família,
Consultório na Rua,
Apoio aos Serviços do componente Atenção Residencial de Caráter Transitório
Centros de Convivência e Cultura

Atenção Psicossocial Estratégica


Centros de Atenção Psicossocial, nas suas diferentes modalidades;

Atenção de Urgência e Emergência


SAMU 192,
Sala de Estabilização,
UPA 24 horas e portas hospitalares de atenção à urgência/pronto socorro, Unidades Básicas de
Saúde
Componentes da Rede de Atenção Psicossocial
Atenção Residencial de Caráter Transitório
Unidade de Acolhimento
Serviço de Atenção em Regime Residencial

Atenção Hospitalar
Enfermaria especializada em Hospital Geral
Serviço Hospitalar de Referência para Atenção às pessoas com sofrimento ou transtorno mental
e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas

Estratégias de Desinstitucionalização
Serviços Residenciais Terapêuticos
Programa de Volta para Casa

Estratégias de Reabilitação Psicossocial


Iniciativas de Geração de Trabalho e Renda,
Empreendimentos Solidários e Cooperativas Sociais
Brasil

59% dos mun. têm pop < 15 mil hab. (10,6% pop. brasileira): devem ser atendidos
pela AB.

41% mun. têm pop > 15 mil hab. (89,4% pop. país): disponibilidades de serviços
de SM depende do porte municipal.

Descentralização / incentivo financeiro, administrativo e normativo do governo


federal favoreceu a aderência dos governos subnacionais à agenda da RP.

Implantação e desenvolvimento da políticas e das ações programáticas ocorre


de modo heterogêneo.
Saúde Mental

Legislação de saúde mental - sim


Política de saúde mental - sim
Programa de saúde mental - sim
Financiamento e alocação de recursos financeiros

Gasto com saúde mental: entre 2001 e 2016 média de 2,3% do


gasto público da saúde foi com saúde mental. OMS sugere 5%.
Redução da entrada de recursos para a SM e redistribuição da
alocação na rede de serviços.
Atenção Básica (2007 a 2020)

Cobertura ESF: de 48% para 63,6%


Cobertura EAB: de 60% para 76%
NASFs: de 464 para 5.886 equipes
Consultório na Rua e CC: números inexpressivos

2019: financiamento deixa de ser federal e passa a ser


municipal. Gestor local passa a definir se haverá NASF, sua
composição e metodologia de trabalho.
Atenção Psicossocial (2020)
CAPS: 2785 (70% da pop. coberta, com diferenças regionais)
Serviços Hospitalares de Referência: 1297 habilitados
Unidades de acolhimento: 46 UAA e 26 UAI. Total 72 unidades

Crescimento atenção estratégica (2002 a 2020), classificado segundo a ordem de crescimento em porcentagem:

Crescimento em Crescimento
2002 2020
n. de serviços em %

Caps I 145 1388 1243 857

Caps Ad 42 369 327 778

Capsi 32 278 246 768

Caps III 19 112 93 489

Caps II 186 532 346 186


Atenção em SM nos CAPS

Interiorizada com grande crescimento de Caps I (mun. pequenos).


2020: 45,4% dos CAPS em cidades com até 50 mil hab. Em 2002 , eram 18%
Em números absolutos, há vazios assistenciais na IA (278) e serviços 24h
(112). Há também na rede AD (369 +106), mas em menor número. Nesta rede
faltam Caps e outros dispositivos de cuidado, como UAA e UAI.
Cobertura iRaps insuficiente e desigual no país.

Retrocessos governos Temer e Bolsonaro, mas desafios


e problemas históricos anteriores a eles.
Avanços

Promulgação da lei de reforma psiquiátrica e estabelecimento de


política e de programa na área da SM
Construção de rede comunitária, redução do parque hospitalar
especializado e do n. de leitos psiquiátricos, articulação com AB e
intersetorialidade, desenvolvimento de ações de reinserção social
(trabalho/renda e lazer) e redução do estigma
Aumento da participação de usuários e familiares
Inversão do gasto em SM, com predomínio dos serviços comunitários
Criação de política de RH
Problemas

Rede comunitária não substituiu totalmente os hospitais psiquiátricos


Predomínio de caps I, com exíguo número de caps III
Vazio assistencial em algumas áreas, especialmente AD e IA
Insuficiência de recursos para desinstitucionalização (SRT e PVC)
Número reduzido de leitos em HG
Prevalência de leitos psiquiátricos privados conveniados ao SUS
Inserção das CT na RAPS (2011)
Parca redução do estigma associado à loucura
Poucas ações de promoção e prevenção
Formação de recursos humanos necessita de aprimoramento
Redução do gasto público na área da SM
Desafios

Melhorar os cuidados na APS e no que diz respeito a C/A, usuários


AD, desinstitucionalização
Expandir o financiamento e seguir com a ênfase na rede
comunitária
Aprimorar o sistema de informações
Incrementar as parcerias intersetoriais e as ações de promoção e
prevenção
Reduzir o estigma e ampliar a participação social
Aprimorar a formação na área
Contrarreforma Psiquiátrica

Governo Temer
Nova Política Nacional de Saúde Mental
aumento do financiamento dos HP (reajuste de 60% nas
diárias) e das CT
redução do cadastramento dos CAPS, restauração da
centralidade dos HP com sua inserção na RAPS
recriação dos HD e dos ambulatórios de especialidade
abandono do termo “substitutivo” para designar
qualquer serviço de SM
Nova Portaria RAPS (n. 3558, de 2017)

Atenção Básica em saúde Atenção Psicossocial Estratégica


UBS CAPS
NASF CAPS Ad IV
Consultório na Rua Equipe Especializada em Saúde Mental -
Centros de Convivência AMENT

Atenção de Urgência e Emergência Estratégias de Reabilitação Psicossocial


SAMU 192 Iniciativas de Geração de Trabalho e Renda,
UPA 24 horas e portas hospitalares de Empreendimentos Solidários e Cooperativas
atenção à urgência/ PS Sociais

Atenção Residencial de Caráter Transitório Estratégias de Desinstitucionalização


Unidade de Acolhimento Serviços Residenciais Terapêuticos
Serviço de Atenção em Regime Residencial Programa de Volta para Casa
Contrarreforma Psiquiátrica
Nota técnica, que não entrou em vigor,
Governo Bolsonaro previa:
(2019): ênfase na internação de crianças e
adolescentes
ênfase nos métodos “biológicos” de tratamento
(ECT)

Foi instituída Nova Política Nacional sobre


Drogas - disjunção entre política de SM e AD
e condenação da Redução de Danos
retirada da sociedade civil das composição do
Conselho Nacional de Drogas
Contrarreforma Psiquiátrica (Gov Temer e
Bolsonaro)
Hospitais Psiquiátricos: revoga mecanismos de fiscalização e estímulo à
redução do seu tamanho; extingue equipes que apoiam a
desinstitucionalização
Caps: propõe que façam apenas reabilitação, deixando o atend. psiq. para
outro serviço; cogita extinção dos CapsAD
Atendimento comunitário: cogita transferência dos SRT e o PVC para
assistência social; extingue serviços para atend. à pop. em situação de rua
Internações involuntárias: afrouxa seu controle, revogando portaria que
determina comunicação ao MP
Gestão e articulação da política SM: dissolve instância que reúne os principais
gestores da política de saúde mental do país; revoga composição do Fórum
Nacional sobre Saúde Mental de Crianças e Adolescentes.
Contrarreforma Psiquiátrica

Política de drogas: transfere responsabilidades para o Ministério da


Cidadania; define abstinência como objetivo principal e RD como
complementar; interrompe distribuição de insumos para evitar transmissão
de doenças durante uso de drogas; redução da possibilidade de
atendimento de pessoas com dependência química em Caps; defende a
criação de serviços específicos para pessoas com diagnóstico de
dependência e outro transtorno psiquiátrico; transfere financiamento e
regulação de UA para o Ministério da Cidadania
Contrarreforma Psiquiátrica

2017: Publicada PT nº 3588: novas diretrizes RAPS

2018: aumento do financiamento de hospitais psiquiátricos, sem reajuste


dos CAPS em um cenário de congelamento por 20 anos

2019: Aumento de 8000 vagas em Comunidades


Terapêuticas

Sancionada lei 13.840 que permite que dependentes químicos sejam


internados contra a própria vontade

2016 a 2019: Média anual de incremento de CAPS caiu de 130 para 30


Desafios do campo da RP no contetxo da
contrarreforma
Construir consenso em relação à política de SM diante do
fortalecimento de grupos de interesse contrários à agenda da RP
(FBH, FEBRATEC, CFM).
Retomar alinhamento da SM brasileira com as orientações
internacionais da OMS e dos direitos humanos
Enfrentar a retomada do modelo asilar que ocorre por meio das
CT e da centralidade dada aos hospitais psiquiátricos
Governo Lula
Coord. de Saúde Mental do MS é alçada à condição de Departamento e
volta a incluir Álcool e Outras Drogas no nome.
Aumentou o financiamento para a SM (reajustou valores pagos aos
municípios para financiar CAPS, SRT e UA; atualizou valor da bolsa do PVC,
agora de R$755,00; criará novos CAPS por meio do PAC).
Criou a Equipe de Avaliação e Acompanhamento de Medidas
Terapêuticas Aplicáveis à Pessoa com Transtorno Mental em Conflito com
a Lei (EAP-Desinst) para apoiar ações e serviços para atenção à pessoa
com transtorno mental em conflito com a lei, no âmbito da RAPS.
Instituiu GT Saúde Mental, Álcool e outras Drogas para atualizar o
Programa de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas no
SUS.
Tem feito avançar o debate sobre DH no campo da SM.
Governo Lula desafios
Todos os desafios que estavam colocados antes do golpe contra a
presidente Dilma, acrescidos dos problemas advindos do retrocesso
na política pública para a área, com destaque para a retomada do
modelo asilar via incremento dos HP e das CTs.

Nota: a questão das CTs é especialmente delicada em razão da


organização dos atores sociais que as sustentam, especialmente os
evangélicos. Sua força pode ser percebida com a criação do Depart. de
Apoio às CT (Min. do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e
Combate à Fome) no início do Gov. Lula. Em função de críticas, ele foi
rebatizado como Depart. de Entidades de Apoio e Acolhimento Atuantes
em Álcool e Drogas.

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