EDUCAÇÃO E GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA EM CONDOMINIOS

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

FERNANDO ANTÔNIO BAPTISTA

Educação e Gestão Ambiental


Integrada em Condomínios

Brasília
2008
FERNANDO ANTÔNIO BAPTISTA

EDUCAÇÃO E GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA EM


CONDOMÍNIOS

Monografia apresentada à
Universidade Cândido Mendes
como requisito parcial à obtenção
do título de pós-graduado em
Educação Ambiental.

Orientador: Celso Sanches

Brasília
2008
À minha filha Carolina Brêttas
Baptista, bióloga, como eu, e sem a
qual não teria sido possível este
trabalho.
AGRADECIMENTOS

À minha inestimável família pelo apoio recebido nos momentos mais


difíceis pelos quais passei durante minha jornada.
Ao professor Celso Sanches e ao serviço de Tutoria da Pós-Graduação
da Universidade Cândido Mendes nas pessoas de Kelly Cristine e Karina
Bazílio e Fernanda Ramos.
RESUMO

Devido à eminente gravidade dos problemas ambientais, em que talvez


o pior deles seja a questão do lixo, a discussão sobre suas soluções vem
ganhando destaque na sociedade atual. De modo a minimizar esses impactos
negativos há a importância de informar e educar a população de forma a evitar
desperdícios e incentivar o aproveitamento. Nesse contexto, esta monografia é
voltada para a descrição das etapas necessárias para a implantação da coleta
seletiva no condomínio da SQS 404 – bloco ‘L’, situado em Brasília/DF, abrindo
discussões sobre padrões de consumo e gestão participativa. O objetivo final
do projeto é utilizar instrumentos da Educação Ambiental para a consecução de
um condomínio modelo diminuindo ao máximo possível o desperdício com a
conscientização e envolvimento dos moradores nas questões ambientais.
METODOLOGIA

Neste trabalho foi desenvolvida pesquisa bibliográfica, em que serão


tratadas as etapas para a implantação de um programa de coleta seletiva em
um determinado condomínio, tendo como base outras experiências já descritas
na literatura em um estudo de casos.
O procedimento metodológico escolhido foi a descrição do que será
necessário à implantação desse programa no condomínio do bloco “L” da SQS
404, Brasília/DF. Este foi o objeto escolhido para estudo devido à necessidade
de propor mecanismos básicos para conscientização ambiental da população,
iniciando com atitudes simples e tendo como base a realidade local, e ainda
pela proximidade da comunidade em questão ao autor desta monografia.
O condomínio conta com vinte e quatro (24) apartamentos e deverão ser
desenvolvidas pesquisas por meio de questionários (em anexo) com os
moradores para delinear o perfil do lixo criado por eles e quais seriam as
melhores alternativas para seu tratamento e futura utilização.
SUMÁRIO

Introdução .......................................................................................................... 1

Capítulo 1 – Educação Ambiental ...................................................................... 6

Capítulo 2 – Como implantar um sistema de coleta seletiva? .......................... 14


2.1. Planejamento ......................................................................................... 15
2.2. Implantação ........................................................................................... 20
2.3. Manutenção ........................................................................................... 22

Capítulo 3 – Breve estudo de casos................................................................. 24


3.1. Condomínio Residencial Santa Catarina – São Paulo ........................... 25
3.2. Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos (FAESO) – São Paulo............... 25
3.3. Angra dos Reis – Rio de Janeiro ........................................................... 26
3.4. Município de Mesquita, Baixada Fluminense – Rio de Janeiro.............. 26
3.5. Plano Piloto – Distrito Federal ............................................................... 27
3.6. Brazlândia – Distrito Federal.................................................................. 27
3.8. Condomínio Atlântico Sul – Rio de Janeiro............................................ 28

Conclusão ........................................................................................................ 30

Referências Bibliográficas ................................................................................ 31


1

Introdução

“No dia 27 de abril foi sancionado a Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de


1999, criando a Política Nacional de Educação Ambiental, dispondo sobre o
inciso VI do artigo 225 da Constituição Federal, onde incumbe ao Poder
Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
Este projeto passou por grandes discussões, e levou seis anos para ser
votado.”
Franklin Mattos - GRUDE

A questão ambiental vem ganhando destaque nas discussões mundiais


desde o final do século passado, tendo em vista a explosão industrial ocorrida
neste século que resultou na exploração desenfreada dos recursos naturais.
No Brasil essas discussões resultaram na criação da Lei Federal nº 9.795 de
Política Nacional de Educação Ambiental, em que define Educação Ambiental
como “[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”
(Secretaria Municipal do Meio Ambiente, 2008).
Assim sendo, a prática ambientalista se universaliza no seio da
sociedade, ganhando espaço em todos os ambientes, quer seja na residência,
no trabalho ou nos locais em que procuramos o lazer.
É, pois uma visão contemporânea que nos abarca, fazendo parte de
nosso presente e principalmente futuro, sem deixar de nos ligar ao passado,
fazendo-nos rever nossas posturas e conceitos (Sanches, 2003).
O aumento da população mundial, o consumo excessivo, a extração de
recursos naturais, o desperdício e a produção desenfreada sem a preocupação
ambiental vêm gerando o esgotamento dos recursos naturais, a poluição do ar,
da terra e da água, a perda da biodiversidade e a produção exacerbada de lixo.
Para se entender a educação ambiental temos que dar ênfase a alguns
temas, suas idéias e seus desdobramentos e para tal podemos seccioná-la em
quatro fatores: o processo, a crítica, a transformação e a integração (Carvalho,
2002).
2

O processo é o plantio das idéias, ou seja, de como realizar o trabalho


contando com inúmeras variáveis que podem destruir o projeto ou outras que
podem alavancá-lo tornando-o exeqüível a curto e médio prazo.
A consciência crítica do que se está realizando é de fundamental
importância para a implantação do processo. A análise estruturada e
conhecedora sobre o meio ambiente e suas características, tais como o
microcosmo, a flora, a fauna os ciclos que os interagem viabilizam uma postura
consciente frente a um determinado problema.
O terceiro é estar aberto às transformações, ter responsabilidade sobre
o tema e o que deve ser feito, ter conhecimento sobre nossas próprias
atuações e os impactos dela advindos. Muitas vezes não temos a devida
consciência de nosso papel no processo de degradação ambiental e por este
motivo devemos antes ter noção de nossa responsabilidade sócio-ambiental e
estar prontos para alterá-la.
Por fim, a integração com o meio ambiente, isto é, compreender que
todos nós, independente de raça, sexo, camada social ou religião, compomos a
comunidade e que somos e estamos expostos aos erros e acertos causados
por nossas atitudes nos processos ambientais.
“Não existe um ser vivo, animal ou vegetal, que não esteja de algum
modo interligado a outros de uma forma equilibrada” (Carvalho, 2002).
Dentre todos os problemas ambientais, talvez o pior deles seja a
questão do lixo, bastante agravado pelo acentuado crescimento demográfico
especialmente nos centros urbanos.
O êxodo rural ocasionado pela abertura de uma economia cada vez
mais cosmopolita, que ocorreu no Brasil principalmente a partir da década de
1950, intensificou o processo de urbanização. Atrelada a esse, a diversidade
dos aspectos sócio-culturais, políticos, econômicos e éticos, produziu nesse
contexto um aumento substancial na quantidade de resíduos sólidos advindos
do consumismo ilimitado dessa nova paisagem social (Wellausen et al., 2000).
Além do grande volume de restos domésticos produzidos nesse novo
contexto, contribuem ainda para a problematização sua constituição e
destinação inadequada. De um modo geral, esta última é estabelecida por
aspectos financeiros, ligados principalmente ao recolhimento e transporte, o
3

que pode resultar em conseqüências ambientais graves, pois as formas de


destinação mais utilizadas são poluentes (Dubois, 1999).
De modo a minimizar esses impactos negativos há a importância de se
resgatar tais resíduos na sua origem, eliminando as embalagens que não
sejam recicláveis ou biodegradáveis dos resíduos orgânicos que de alguma
forma poderão ser reaproveitados em outros setores, como por exemplo, na
agricultura, e a reutilização máxima do que é produzido, diminuindo assim sua
ação poluente.
A própria forma de acomodar os resíduos domésticos em saquinhos
plásticos que recebemos no comércio varejista como supermercados e
farmácias é inadequada. Temos tanta dependência destes saquinhos que
quando não os recebemos reclamamos indignados.
Quando o inglês Alexander Parker produziu o primeiro plástico em 1862
deu início a uma conturbada corrida consumista para o novo material sintético.
Desde então, nos tornamos colaboradores de desastres ambientais de grandes
proporções, uma vez que, tais embalagens plásticas não se degradam
naturalmente, levando às vezes centenas de anos até a sua completa
decomposição.
Descartados pelas cidades nos mais diversos lugares, os sacos
plásticos, cuja produção já atingiu mais de 200 mil toneladas anuais, também
impedem a passagem de águas pluviais.
Mudanças importantes na legislação, bem como alterações culturais, em
vários países europeus, levaram à substituição do saquinho plástico pelo
emprego de sacolas de pano ou palha e mochilas e mesmo quem insiste no
uso dos plásticos é obrigado a pagar taxa extra por sua utilização.
Tem-se concentrado esforços nos resíduos sólidos domésticos,
constituído no geral por sobras alimentares, invólucros, papéis, papelão,
plásticos, vidros e trapos, tal preocupação deve-se basicamente por ser um tipo
de resíduo com destinos alternativos além do aterramento e estoque em lixões
(Lima, 1991).
Pensando-se em aumentar a eficiência no reaproveitamento desses
restos, surge a coleta seletiva de lixo. Esta técnica se baseia na separação de
materiais reaproveitáveis no lixo ainda na fonte geradora, é importante para a
objetivação da reciclagem evitando a contaminação com materiais orgânicos e
4

minimização de deposição de lixo nos aterros, aumentando sua vida útil, além
de ser simples podendo contar com a participação da população para
conscientização sobre problemas de desperdício e valorização de recicláveis
presentes no lixo (Dubois, 1999; Secretaria do Meio Ambiente, 2008).
Em localidades onde a coleta seletiva e a reciclagem são atuantes, pode
tornar-se uma fonte de renda e emprego. Estima-se que o Brasil movimenta R$
8 bilhões anuais com o setor, gerando renda a 800 mil catadores e
empregando formalmente 50 mil pessoas apenas em indústrias relacionadas
com o reaproveitamento de lixo seco. O Brasil é o país com maior índice de
coleta e reutilização de latinhas de alumínio do mundo, 96,5% de
aproveitamento (Jornal do Senado, 2008).
Nesse contexto, o objetivo central é a implantação da coleta seletiva no
condomínio da SQS 404 – bloco ‘L’, situado em Brasília/DF, abrindo
discussões sobre padrões de consumo e gestão participativa. Para tal, o
presente trabalho irá descrever as etapas necessárias para a implantação da
coleta seletiva na comunidade em questão, porém a efetiva realização do
projeto não será concluída. Para que o objetivo seja alcançado, será
necessária a identificação do perfil da comunidade alvo à qual será proposta a
idéia e como analisar os tipos de resíduos produzidos pela comunidade em
questão.
A implantação se fundamenta na separação pelos moradores, dos
materiais recicláveis (papéis, vidros, plásticos e metais) do restante do lixo. Ela
pode começar como uma experiência-piloto, e ampliada aos poucos. O
primeiro passo é a realização de uma campanha informativa junto à
comunidade alvo, convencendo-a da importância da reciclagem e orientando-a
para que separe o lixo em recipientes para cada tipo de material.
Para tanto, o Governo do Distrito Federal distribuiu a princípio, panfletos
instruindo toda a população sobre como separar o lixo seco do lixo orgânico.
Uma questão secundária na qual o estudo se baseia é a de definir que
este trabalho tenha como pressuposto a educação partindo de modo íntimo
pela comunidade, respeitando-se as diferenças de cada personagem que a
compõe.
5

E como hipótese do trabalho considerou-se que o projeto de implantação


da coleta seletiva do lixo deverá calcar-se em ações realizáveis que não gerem
desgaste e nem tão pouco impossibilidade de conclusão.
6

Capítulo 1
Educação Ambiental

A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a tratar do meio ambiente,


que juntamente com a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, marcam o
início da valorização ambiental no Brasil. A Política Nacional de Educação
Ambiental – PNEA – veio em 1999, em uma tentativa de popularizar essa
temática e envolver as pessoas em sua resolução. A PNEA não pode ser vista
como a única solução para tais desafios, porém marca o reconhecimento
político da necessidade de estimulo do governo a uma ação conjunta da
população.
A PNEA baseia-se em princípios democráticos e holísticos, em uma
perspectiva ampla que integra o enfoque ambiental, sócio-econômico e cultural.
Destaca a utilização sustentável dos recursos naturais que será alcançada com
a informação e educação continuada da população. É por meio dessa lei que
se procura vincular ética, educação, trabalho e práticas sociais.
A questão da educação ambiental toma forma devido a um conjunto de
problemas de degradação do meio ambiente, em que o ambiente social não
pode ser desvinculado. Segundo Oliveira (2000), levando em consideração
essa relação entre ambiente e social, a educação – ato comprometido com um
processo de transformação – orienta-se por outros princípios além dos
explícitos na PNEA, como desenvolvimento e bem-estar social, cidadania e
qualidade de vida, distribuição de riqueza e devolução.
Partindo desses princípios, a educação ambiental tem como objetivo
promover a sensibilização da população em relação aos problemas ambientais.
Com isso estimula a participação individual e coletiva para o desenvolvimento
de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social, alcançando
a cooperação entre as diversas regiões para a construção de uma sociedade
ambientalmente equilibrada e sustentável.
A educação ambiental ainda se depara com vários desafios e
discussões. Saito (2002) destaca quatro grandes desafios para a educação
ambiental no Brasil: a busca de uma sociedade democrática e socialmente
justa, o desvelamento das condições de opressão social, a prática de uma
7

ação transformadora intencional e a necessidade de contínua busca do


conhecimento.
O primeiro desses desafios é alterar o foco da visão naturalista de
admiração da paisagem natural e preservacionista da educação ambiental,
defendendo a forte ligação que existe entre meio-ambiente e sociedade. Dessa
forma, se busca uma sociedade ambientalmente equilibrada e igualitária. A
predação do meio ambiente não pode ser alterada pela imposição da condição
de um ambiente imaculado, e sim pela inclusão social e econômica,
estabelecendo o bem-estar social de todos os segmentos, ou seja, a
sustentabilidade.
Para o segundo desafio Saito (2002) destaca que a compreensão da
interdependência entre ambiente e sociedade, indicado como primeiro desafio,
é fator preponderante para o alcance do desvelamento das relações de
dominação em nosso seio social. Esse ponto é bem marcante na PNEA onde
se encontra explicitamente uma preocupação com a vinculação entre ética,
educação, trabalho e práticas sociais. Deve-se lembrar que esse desafio
mostra-se bem presente em questões comuns do dia-a-dia, como, por
exemplo, a do lixo urbano. Essa não é uma questão simples como a afirmação
de que é necessário serviço de limpeza urbana e coleta seletiva de lixo em
cada domicílio, o fato é que o serviço de coleta seletiva é desigual dentro do
espaço urbano e que sua desigualdade social leva à criação do segmento de
catadores de lixo.
O outro problema mencionado foi a prática de uma ação transformadora
intencional que está intimamente relacionada com os dois primeiros desafios.
Como destacado na própria Lei 1.795/99 essa ação tem que ter caráter coletivo
e na condição de intencionalidade, somente se articulada com a busca de uma
sociedade democrática e socialmente justa e com desvelamento das relações
de dominação da sociedade, é que a prática alcança sua real ação
transformadora (Freidman apud Saito, 2002).
O quarto e último desafio mencionado por Saito (2002) refere-se à
constante transformação no campo da ciência e da tecnologia. Essa
dinamicidade exige incessante adequação às mudanças principalmente no que
diz respeito aos impactos sociais e ambientais. O artigo 4º, incisos V e VI da
Lei 1.795/99 explicita em seus princípios básicos tal necessidade quando
8

menciona a continuidade e permanência do processo educativo e sua


permanente avaliação crítica.
Além desses, Saito (2002) também relata que é preciso desvincular os
laços de dependência de pessoas “comuns” a educadores, para incentivar a
busca por uma crescente autonomia e desenvolvimento. É importante não
tornar a educação ambiental um simples assunto de escola em que apenas os
profissionais estão preparados para tratar desses problemas, mas sim tratá-la
como tema presente no dia-a-dia e interesse de todos.
Já Oliveira (2000) identifica como um dos maiores desafios a
multiplicidade de interesses e diversidade de interlocutores – caracterizada
pela pluralidade de interesses entre indivíduos, grupos e segmentos sociais –
que evidenciam conflitos que exigem mediação para viabilizar o diálogo para
ações educativas.
Nenhum desses desafios destacados pelos diferentes autores deve ser
buscado de forma isolada, a interdisciplinaridade é fundamental à educação
ambiental, no que diz respeito à interdependência entre ambiente e sociedade,
não apenas na educação formal, mas também na vida cotidiana.
É então nesse contexto de superação de obstáculos e ação conjunta
que a questão do lixo torna-se de extrema importância para a sociedade.
Quando tutelado por projetos racionais ele pode gerar renda para milhões de
pessoas e economia para as empresas. Significa também uma grande
vantagem para o meio ambiente uma vez que diminui a poluição dos solos e
rios.
Segundo a Escola de Cidadania e Integração da Universidade
Corporativa da Caixa Econômica Federal são gerados diariamente dois milhões
de toneladas de lixo no mundo, o que significa dizer que em um planeta que
abriga mais de seis bilhões de pessoas, cada habitante produz em média
trezentos gramas de lixo por dia.
É surpreendente se avaliarmos a quantidade de materiais recicláveis
que jogamos fora diariamente. Quando reciclamos ou reutilizamos esses
materiais, poupamos recursos naturais.
As figuras 1.1 e 1.2 mostram o quanto se pode economizar de matéria
prima se for reutilizado determinada quantidade de um produto.
9

Figura 1.1. Reciclagem e economia. Quadro demonstrativo da quantidade de recurso


natural que se pode economizar reciclando uma certa quantidade de seu produto e o
que é reciclável e o que não é reciclável. (Fonte: Secretaria do meio ambiente)
10

A B

C D

Figura 1.2. Reciclagem e economia. Quadros de A a D: separados de acordo com os


diferentes tipos de material. (Fonte: CEMPRE, 2009)

A sujeira despejada no meio ambiente aumentou os índices de poluição


e piorou as condições de saúde da população do mundo todo. Muitos pensam
que tratar o lixo é despejá-lo em locais distantes, longe de nossas casas. Os
chamados lixões, utilizados em muitas cidades brasileiras, são uma solução
temporária para colocar o lixo, pois não possuem nenhuma medida de proteção
do solo.
A decomposição do lixo libera gases tóxicos para a atmosfera, liberando
também no solo o chorume, que é um líquido escuro, viscoso e mal-cheiroso,
originado de processos biológicos, químicos e físicos pelo apodrecimento da
matéria orgânica contida no lixo. Neste processo o chorume, devido à grande
quantidade de matéria orgânica que contem, atrai diversos tipos de insetos
nocivos, como moscas e baratas.
A Resolução 275, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA
(MMA(c), 2009) definiu como separar os resíduos, de acordo com cores
padronizadas mundialmente, conforme a figura 1.3 a seguir:
11

Figura 1.3. Padrão de cores de coleta de lixo. (Fonte: CEMPRE, 2009)

È surpreendente dizer que, além dos materiais nocivos à saúde, são


colocados no lixo materiais que podem ser reutilizados ou reciclados. Torna-se
importante mencionar aqui a relação de tipos de lixos que podem ser ou não
reciclados:
• Papéis recicláveis (caixas em geral, cartazes velhos, cartões,
cartolinas, embalagens de ovo, envelopes, folhas de caderno,
formulários de computador, fotocópias, jornais, revistas e
papelão);
• Papéis não recicláveis (etiqueta adesiva, fita crepe, papéis
metalizados, parafinados ou plastificados e papel carbono, papéis
sanitários ou sujos);
• Plásticos recicláveis (copos plásticos, embalagens de alimentos,
de materiais de limpeza ou de produtos de beleza – shampoo,
cremes, iogurte, caixas de leite ou suco, etc.) e vasilhames em
geral.
• Plásticos não recicláveis (cabos de panelas, embalagens de
biscoitos e tomadas).
• Metais recicláveis (chapas metálicas, latas de alumínio, panelas
sem cabo, recipientes de folhas de flandres como latas de óleo e
de leite em pó e sucatas de reformas tais como arames, pregos,
fios de cobre, etc.)
• Metais não recicláveis (canos, embalagens aluminadas de
salgadinhos, esponjas de aço e grampos).
• Vidros recicláveis (cacos, copos, garrafas de vários formatos e
recipientes em geral).
12

• Vidros não recicláveis (cerâmica, espelhos, lâmpadas, porcelanas


e tubos de televisão).
Campanhas educativas têm sido feitas pelos diversos tipos de mídia e
isso tem se traduzido em uma maior atenção para o problema do lixo nas
grandes cidades. Estas, devido ao descontrolado crescimento populacional,
tem
Além dos coletores para papel, plástico, metal e vidro, existem coletores
para resíduos orgânicos (compreendem restos de alimentos, podas de árvores
e cascas de ovos). Este tipo de resíduo precisa ser tratado com cuidado, haja
vista as conseqüências indesejáveis que podem ocorrer de sua putrefação, tais
como, mau cheiro, desenvolvimento de bactérias, aparecimento de ratos e
insetos, acarretando doenças e gerando o chorume cujo processo de formação
já fora descrito anteriormente. E por fim os rejeitos (que são aqueles resíduos
não recicláveis, misturados ou contaminados, não passíveis de separação, os
quais são identificados pelas cores mostradas na figura 1.4):

Figura 1.4. Padrão de cores de coleta de lixo. (Fonte: CEMPRE, 2009)

É por meio de projetos que se tem a maior participação da população


nessa causa. É preciso conhecer o problema, para isso, é fundamental uma
análise crítica da realidade para poder identificar situações-problemas
relacionadas com o meio ambiente. Essas situações-problemas devem
priorizar temas ambientais da vivência e convivência da comunidade em que se
pretende realizar o projeto, para que haja real envolvimento da população local.
As soluções devem ser discutidas pelo grupo, levando em consideração todas
as suas alternativas, de forma a evidenciar a participação de todos na
preparação e efetivação do projeto (Oliveira, 2000). Nesse sentido, a estratégia
de ação, divisão de tarefas e responsabilidades deve ser coletiva, assim como
13

a ação do processo e as decisões a serem tomadas, permitindo que cada


comunidade adote medidas educacionais que lhes sejam adequadas. Assim
tudo se resume à famosa frase: “Pensar globalmente, agir localmente”.
14

Capítulo 2
Como implantar um sistema de coleta seletiva?

Esta seção destina-se à descrição de como programar um sistema de


coleta seletiva no condomínio residencial do bloco “L” da quadra 404, Asa Sul,
Brasília/DF. Antes de qualquer processo, é de extrema importância um
momento de conscientização, a implantação de um sistema de coleta seletiva
sempre começa com a sensibilização da comunidade em questão.
A atual situação do lixo no condomínio vem se agravando
paulatinamente. O fato de não ocorrer nem mesmo a separação do lixo em
orgânico e seco, com o seu acondicionamento adequado, tem causado uma
aumento no número de insetos e roedores que passaram a freqüentar as
dependências do prédio. Como consequência os animais começaram a invadir
os apartamentos, levando consigo doenças, e outros animais que os predam
tal como escorpiões e ratazanas.
Outra consequência do tratamento inadequado do lixo produzido no
condomínio, e essa é mais imediata, é que o Serviço de Limpeza Urbana da
cidade vem distribuindo folhetos elucidativos quanto à separação, alertando
também os moradores para o fato de que se o lixo não for devidamente
separado não mais será recolhido.
No contexto desse trabalho, a conscientização pode ser feita por meio
de reuniões com pessoas que atuem ou trabalhem com educação ambiental,
com palestras informativas e debates a respeito da problematização ambiental
e soluções. Pode ser feita uma breve pesquisa para avaliar a opinião dos
moradores quanto ao assunto antes da sensibilização ser iniciada. É
importante também destacar as implicações do lixo na saúde pública, no meio
ambiente e na responsabilidade da população como produtora do lixo
(Pequeno, 2002).
É interessante fazer reuniões com pessoas de associações ou
cooperativas que utilizam material recicláveis como sua fonte de renda. O
importante é que os moradores entendam o caminho do lixo até seu destino
final e como os diferentes direcionamentos podem mudar a vida de pessoas ou
acabar com a vida do meio ambiente dependendo de como é tratado após ser
15

gerado. As reuniões têm que ser destinadas a todas as faixas etárias, desde
criança até idosos, para que se crie uma noção de educação ambiental.
A coleta seletiva tem grande valor social e otimiza a reciclagem, porém é
considerada antieconômica, pois pode gerar grandes custos relacionados com
a estocagem e transporte ao seu destino. Entretanto, deve-se considerar a
coleta convencional como também geradora de custos, entre eles destacam-se
o transporte para o aterramento do lixo, despesas com a descontaminação do
solo e da recuperação vegetal de áreas degradadas (Grimberg apud Dubois,
1999). Dessa forma, percebe-se que o maior problema é a falta de incentivo e
apoio governamental.
Deve-se convencer todos os condôminos, ou pelo menos a maior parte
deles, a participar do sistema, destacando seus reais benefícios para a
comunidade, a coleta só é efetiva se contar com a participação da maioria. O
sistema é dividido em três etapas principais: planejamento, implantação e
manutenção.

2.1. Planejamento

Para fazer o planejamento de um programa de coleta seletiva, após o


devido conhecimento de todos os condôminos, devem-se definir os seguintes
objetivos (Secretaria do Maio Ambiente, 2008; Gonçalves & Pinheiro, 2008):
• se a coleta será de todos os materiais ou só dos mais fáceis de
serem comercializados;
• se a armazenagem dos recicláveis será em um lugar só ou com
pontos intermediários;
• quem fará a coleta;
• onde será estocado o material;
• para quem será doado e/ou vendido o material;
• como será o caminho dos recicláveis, desde o local onde é gerado
até o local da estocagem;
• como será o recolhimento dos materiais, inclusive freqüência.
Primeiramente, será necessário traçar o perfil da comunidade. Para
definir o padrão do lixo produzido, todos os condôminos (total de vinte e quatro
16

apartamentos e a casa do porteiro) deverão responder a um questionário para


avaliar a quantidade e composição do lixo gerado por cada apartamento.
Segue abaixo, na Figura 2.1, o modelo do questionário proposto para essa
parte da pesquisa.

Questionário

1) Qual a quantidade aproximada de lixo produzido por dia no seu


apartamento (número de sacos): __________________________________
Capacidade do saco de lixo é de: _________________________________

2) Quais são os materiais sólidos presentes no lixo (apenas lixo seco):


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

3) Liste os quatro materiais mais presentes no seu lixo diário na ordem em que
são encontrados (apenas lixo seco):
1º ______________________
2º______________________
3º ______________________
4º ______________________

4) Em seu apartamento já é feito algum tipo de separação do lixo?


Sim Não
Se sim, que tipo de separação? ___________________________________
_____________________________________________________________

5) Quais dos materiais presentes no seu lixo você acha que podem ser
reciclados ou reaproveitados?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

Figura 2.1. Questionário para definição do perfil do lixo produzido na comunidade.


17

Definidos os padrões do lixo produzido no prédio, serão estabelecidos


quais materiais serão recolhidos separadamente, e assim quantos locais de
armazenagem serão necessários e os fins que terão cada grupo de resíduo,
baseado no que será mais efetivo e com menor dificuldade no contexto.
O prédio conta com oito lixeiras grandes destinadas à estocagem de lixo
para posterior recolhimento – duas por entrada –, de forma que serão divididas
da seguinte maneira: três atenderão à metade dos apartamentos em uma
extremidade e três atenderão à metade dos apartamentos da outra
extremidade, duas lixeiras serão utilizadas mais tarde. Das três lixeiras de cada
extremidade, o lixo deverá ser separado da seguinte forma: duas lixeiras serão
destinadas ao material separado para reciclagem, se necessário poderão ser
separadas por uma divisória para o armazenamento de diferentes materiais (a
quantidade de grupos para separação do lixo será definida após a análise do
questionário); e a outra será destinada ao lixo orgânico (em sacos de cor clara)
e o resto do lixo seco que não será reciclado (em sacos de cor escura). Esta
última lixeira será recolhida pelos caminhões de lixo conforme coleta efetuada
normalmente na quadra. Cada condômino separará seu lixo em sua residência
e colocará na lixeira correspondente.
Levando-se em consideração o alto grau de periculosidade à saúde e ao
meio ambiente de certos tipos de pilhas e baterias, será feita uma coleta
separada para esse material.
A legislação brasileira proíbe o lançamento de pilhas e baterias, in
natura, no meio ambiente, tanto em áreas urbanas, como no campo; proíbe sua
queima a céu aberto ou em recipientes ou sua deposição em cursos d’água,
praias, manguezais, terrenos baldios, poços, cacimbas, cavidades
subterrâneas, em redes de esgoto, águas pluviais, telefone ou eletricidade e
em áreas sujeitas à inundações.
Uma das lixeiras grandes não utilizadas anteriormente contará com um
coletor apropriado para deposição de pilhas e baterias após seu esgotamento
energético, como mostrado na figura 2.2, deverão ser recolhidas apenas as de
níquel-cádmio – utilizadas por alguns celulares, telefones sem fio e alguns
aparelhos que usam sistemas recarregáveis –, de chumbo-ácido – utilizadas
em veículos (baterias de carro, por exemplo) e pelas indústrias, além de
18

algumas filmadoras de modelo antigo – e de óxido de mercúrio – utilizadas em


instrumentos de navegação e
aparelhos de instrumentação e
controle (são pilhas especiais que
não são encontradas no comércio).
Após o recolhimento esse material
deve ser encaminhado aos
estabelecimentos que as
comercializam ou à rede de
assistência técnica autorizada pelas
respectivas indústrias para que
possa ser adotados os
Figura 2.2. Coletor especial para
procedimentos de reutilização,
pilhas e baterias.
reciclagem, tratamento ou
disposição final ambientalmente adequada. Pilhas e baterias de outros
materiais, como zinco, lítio, níquel, podem ser descartadas junto lixo doméstico
(MMA (a), 2009; MMA (b), 2009).
Uma última lixeira grande será destinada ao descarte de materiais
tóxicos que segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) cerca de 1%
do lixo urbano é constituído por resíduos sólidos urbanos contendo esses
elementos. São eles provenientes de lâmpadas fluorescentes, termômetros,
latas de inseticidas, latas de tinta, entre outros produtos, que deverão ser
eliminados nesta última lixeira e encaminhados aos locais específicos de
tratamento (Portal do Brasil, 2009). A figura 2.3, na página seguinte, é um
esboço da disposição e utilização das lixeiras grandes do edifício e mostra
algumas fotos do local de interesse para implantação do programa.
19

Figura 2.3. Esquema da disposição e utilização das lixeiras grandes no edifício e fotos atuais do local.
20

Dessa forma são estabelecidos alguns dos objetivos traçados no início,


como local de armazenagem dos recicláveis, onde o material é estocado até
seu destino final e quem fará a coleta.
Para os últimos objetivos que faltam, deve-se definir o destino dos
recicláveis coletados. Os materiais de alumínio e papel serão vendidos e o
dinheiro convertido para o próprio condomínio. Já o material plástico será
doado para cooperativas ou associações que utilizem esse material para
reaproveitamento. Será feito um rodízio em que um condômino será
responsável pela entrega dos materiais ao seu destino por semana, aqueles
com dificuldades em realizar tal tarefa podem ser excluídos do rodízio com
conhecimento de todos os outros.

2.2. Implantação

A etapa de implantação é composta de dois eventos: a preparação e a


inauguração. A preparação deverá contar com a ajuda de voluntários para
preparar cartazes ou algum tipo de sinalização para as lixeiras onde será
armazenado o lixo no prédio (Secretaria do Maio Ambiente, 2008; Gonçalves &
Pinheiro, 2008). Deverá ser combinado com os lixeiros qual o local que será
colocado o lixo que será coletado por eles. É também nesse momento que as
lixeiras serão preparadas para armazenar os restos, de acordo com o que foi
estabelecido previamente (caso seja necessário, as lixeiras serão divididas
para estocar diferentes tipos de recicláveis). Essa fase poderá ainda contar
com a distribuição de cartazes informativos da campanha em todas as portarias
para que os condôminos possam tirar algumas dúvidas mais simples e
relembrar o estabelecido. Segue na página seguinte a Figura 2.4 que mostra
um exemplo de um cartaz que poderá ser fixado.
21

Figura 2.4. Exemplo de panfleto informativo que deverá ser fixado nas portarias. (Fonte: CEMPRE 2009).
22

A inauguração é quando tudo está preparado e bem divulgado para que


o sistema funcione perfeitamente (Secretaria do Maio Ambiente, 2008).
Os principais problemas que podem aparecer até o momento estão
relacionados à atribuição de responsabilidades. É aconselhável que um
condômino seja responsável por semana para o transporte do material ao seu
destino para não sobrecarregar apenas uma pessoa, mas pode criar conflitos.
É interessante verificar se a cooperativa ou associação busca o material onde
ele foi produzido, dessa forma diminuiria gostos com o transporte.

2.3. Manutenção

A manutenção é a etapa mais difícil do sistema de coleta seletiva. Para


que o programa continue a funcionar como no início é necessário haver o
acompanhamento e gerenciamento de todas as etapas, desde a separação até
a coleta ou entrega ao destino de cada grupo específico. A partir desse
acompanhamento é importante que toda a comunidade saiba o que está
acontecendo, como estão os resultados e os benefícios que estão sendo
gerados para o condomínio (Secretaria do Meio Ambiente, 2008). Manter os
condôminos sempre informados é importante como incentivo para que
continuem a participar, para deixar claro que todo o trabalho está dando
resultados.
Os valores das vendas e quantidades de material coletado serão
anexados nos balancetes entregue a cada apartamento mensalmente.
Pode ainda tomar medidas que incentivem ainda mais a participação
contínua, como, por exemplo, os condôminos que mantiverem a coleta
recebem algum desconto no pagamento da taxa de condomínio.
O trabalho de sensibilização para efetiva participação dos condôminos
deve continuar, assim como avaliação constante do processo como medida de
correção de possíveis erros que podem aparecer e se tornar obstáculos
(Dubois, 1999). Deve-se evitar a desmotivação, o desconhecimento e o
descomprometi mento.
Medidas como promover constantemente a sensibilização relacionada
aos cuidados com o meio ambiente, zelando pelos princípios éticos e morais
23

em nossas atividades cotidianas, são fundamentais para a continuidade do


processo.
É interessante divulgar na quadra caso o sistema de coleta seletiva seja
eficientemente implantado e mantido. Os resultados positivos podem ser um
exemplo e motivação para que outros condomínios adotem o programa.
A implantação da coleta seletiva no condomínio se converte em um
pequeno, mas agregador passo para economizar recursos naturais, tratar e
destinar, adequadamente, os resíduos gerados, podendo ainda gerar renda
pelo tratamento dos resíduos recicláveis.
Temos que trocar a velha orientação que estamos tendo há tempos por
outra que traga bons resultados para todos.
24

Capítulo 3
Breve estudo de casos

Essa seção destina-se a um breve levantamento bibliográfico de dados


e casos relacionados à coleta seletiva.
O setor brasileiro que gera a maior quantidade de lixo é o domiciliar,
calcula-se que 240.000 toneladas são produzidas por dia (Compam, 2008).
Desse total, aproximadamente 75% estão dispostos inadequadamente, sem
qualquer tratamento. Entre os 25% restantes, que recebe apenas algum tipo de
controle, e que são coletados, desconsiderando o lixo de vias urbanas,
córregos, rios, taludes e encostas, a maior parte é destinada a céu aberto
(Pequeno, 2002), como mostra a Tabela 3.1.

Tabela 3.1. Destinação final do lixo no Brasil.


DESTINO DO LIXO (GERAL) %

CÉU ABERTO 76
ATERRO CONTROLADO 13
ATERRO SANITÁRIO 10
USINA DE COMPOSTAGEM 0,9
USINA DE INCINERAÇÃO 0,1
(Fonte: IBGE, 1991)

Mas esse quadro vem causando preocupação crescente e atualmente,


no Brasil, estima-se que oito bilhões de reais são movimentados da economia
anualmente graças à política de reciclagem para o reaproveitamento de
matéria prima, gerando empregos no setor (Jornal do Senado, 2008).
Destaca-se também atitudes simples da população como reflexo do
quadro criado. Segundo Fátima Có, diretora do SLU do Distrito Federal, em um
mutirão de coleta feito no mês de junho de 2008, foi possível diminuir 110 mil
toneladas de lixo nas ruas em uma ação preventiva de evitar doenças, como,
por exemplo, a dengue (Jornal do Síndico, 2008).
Segue-se o relato de casos de implantação de sistema de coleta seletiva
em localidades diversas e em diferentes níveis, destacando os problemas
constatados e os pontos positivos que podem ser aproveitados por novos
programas.
25

3.1. Condomínio Residencial Santa Catarina – São Paulo

Todo o processo de implantação da coleta seletiva no Condomínio


residencial Santa Catarina, situado no município de São Bernardo do Campo,
em São Paulo, no ano de 1998, foi descrito por Wellausen et al. (2000), desde
as pesquisas e conscientização dos condôminos até manutenção do sistema.
Primeiro foi feito um levantamento do conhecimento da população local a
respeito do tema e a conscientização pôde ser mais direcionada aos assuntos
mais pendentes. A fim de se alcançar o objetivo inicial, foram realizadas
oficinas educativas do meio ambiente e palestras, com discussão de temas
relacionados à coleta seletiva, à problemática do lixo e à cidadania. Os próprios
moradores reivindicaram para ampliar o conhecimento sobre materiais
recicláveis durante a execução do programa, o que favoreceu a motivação à
continuidade. Houve redução de aproximadamente 1 metro nas pilhas de 3
metros de lixo depositado em lixeiras e pôde-se perceber também o
amadurecimento do grupo com relação às responsabilidades com o meio
ambiente.

3.2. Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos (FAESO) – São


Paulo

Vidal & Maia (2005) relataram a situação do programa de coleta seletiva


na Faculdade Estácio de Sá de Ourinho (FAESO), posteriormente à sua
implantação, através de entrevistas com alunos, professores e funcionários.
Constatou-se que o processo de implantação foi um sucesso, um trabalho
eficaz de conscientização das pessoas, porém o programa foi muito falho na
manutenção. Pôde-se observar uma grande falta de informação por parte dos
freqüentadores da FAESO, alguns desconheciam o motivo da utilização das
lixeiras de cores diferentes. A grande parte entre os alunos, funcionários e
professores conheciam o programa de coleta seletiva e participavam, mas não
tinham conhecimento de que não estava funcionando corretamente. Os mais
desinformados quanto ao sistema eram os alunos, pois a falta de continuidade
na conscientização abstém os novos alunos do processo.
26

3.3. Angra dos Reis – Rio de Janeiro

O sistema de coleta seletiva de lixo em Angra dos Reis foi descrito por
Pequeno (2002) durante o período de 1997 a 2000. No decorrer do período
relatado o programa foi muito bem sucedido. Nota-se um apoio da Prefeitura
Municipal essencial à manutenção do programa. O sistema adotou a
concepção de remuneração do lixo reciclável fornecido pela população na
forma de troca por alimento, cimento e material escolar. Estabeleceu-se uma
tabela de troca de acordo com o valor de marcado dos componentes do lixo,
baseada na quantidade e constituição do material. A Prefeitura Municipal ainda
montou uma estrutura para recolhimento, recebimento, beneficiamento e
comercialização do material coletado, que contava com galpões, veículos,
embarcações, usinas de beneficiamento, funcionários operacionais e estrutura
administrativa. Apesar de o sistema ser de alto custo financeiro para
implantação e manutenção, pôde-se verificar a diminuição dos impactos
ambientais e melhoria na geração de renda da população participante.

3.4. Município de Mesquita, Baixada Fluminense – Rio de


Janeiro

O município de Mesquita participa do Programa de Coleta Seletiva


Solidária, iniciado em 2005, e organizado pelo então candidato a prefeito Artur
Messias da Silveira que em sua campanha realizou reuniões nos bairros para
conhecer as demandas da população e, entre elas, estava a coleta seletiva do
lixo (CEMPRE, 2009). Esse programa tem por objetivo a geração de trabalho e
renda e à inclusão social dos catadores de materiais recicláveis, além de
preservar o meio ambiente e reduzir a quantidade de materiais encaminhados
ao aterro controlado de Gramacho e conta com o cadastramento dos catadores
individuais e seu treinamento para familiarização com o programa, em um
procedimento de educação ambiental. Cada catador passa a ter uma rota onde
vai coletar o lixo em determinados dias e, semanalmente, participam de
reuniões de planejamento que visam à autogestão. A coleta é feita em todos os
12 bairros do município. Os materiais recolhidos são plásticos, papel, papelão,
27

embalagens longa vida, latas de alumínio e aço, óleo de cozinha, pilhas e


baterias usadas. Após a triagem e a prensagem, é feita a comercialização junto
a empresas do ramo.

3.5. Plano Piloto – Distrito Federal

A Região Administrativa (RA) Plano Piloto em Brasília foi escolhido para


ser local de lançamento do programa de coleta de lixo domiciliar, caso relatado
por Dubois (1999) em seu trabalho. Essa RA foi escolhida para ser piloto no
projeto pelo alto nível de consumo da população da área totalmente urbana, o
que gera um lixo de alto potencial de reciclagem e ainda porque a população
local é mais engajada e, provavelmente, seria mais fácil implementar a
campanha. Primeiramente o programa envolveu apenas algumas quadras do
bairro Asa Sul e teve início em maio de 1996, e depois se expandiu para as
outras quadras da Asa Sul e toda a Asa Norte. O lago Sul e Norte inicialmente
estavam no programa, mas foram retirados devido ao aumento do consumo e
com isso a baixa capacidade de processar o volume produzido. O interessante
desse projeto foi a etapa de sensibilização e orientação dos moradores,
síndicos e zeladores, que foi feita por estagiários universitários treinados para
os devidos procedimentos que distribuíram fôlders, adesivos e cartazes
contendo informações importantes nas residências. Foi definido que o lixo
doméstico deveria ser separada em sacos de cores diferentes e armazenadas
em recipientes diversificados e ainda foi estipulado os dias de coleta de cada
tipo de material.

3.6. Brazlândia – Distrito Federal

Dubois (1999) também descreve o caso de implantação de um programa


de coleta seletiva na Região Administrativa (RA) de Brazlândia, localizada no
Distrito Federal (DF). O perfil da comunidade é bem diferente da descrita
anteriormente, Plano Piloto, por estar posicionada no DF como periferia e alojar
a população de mais baixa renda. Esse RA teve um programa de coleta
seletiva implantado em outubro de 1992 que durou apenas até 1993, retomado
28

com insucesso em 1995. No primeiro período o projeto foi limitado à áreas de


maior produção de lixo e coincidentemente maior renda, o Setor Tradicional e
as Quadras 2 e 4 Sul, o que englobou aproximadamente 6300 pessoas. Nessa
fase ocorreu uma etapa de sensibilização comunitária com o objetivo principal
de manter um fluxo constante entre escola e comunidade, que contou com
utilização da mídia tradicional e alternativa (teatro, palestras e vídeos) e da
visitação a residências. Houve alto grau de assimilação por parte da população
e se obteve sucesso. Por motivos políticos a coleta seletiva foi interrompida e
tentou-se retomar o projeto alguns anos depois com o envolvimento de toda a
população de Brazlândia. Por meio de pesquisas realizadas verificou-se que os
motivos para o insucesso foram campanha de expansão mal feita, falta de
acompanhamento direto da educação ambiental, sensibilização precária e falta
de divulgação dos resultados, o que resultou na desmotivação coletiva. Muitos
membros da comunidade destacaram a falta da divulgação e orientação sobre
o programa para os coletores de lixo como outro problema.

3.8. Condomínio Atlântico Sul – Rio de Janeiro

Más condições do tratamento do lixo que levavam ao mau cheiro,


aparecimento de baratas e sujeira pelos prédios foram as causas para que os
moradores do Condomínio Atlântico Sul, Prudente de Morais no Rio de Janeiro,
adotassem a coleta seletiva de lixo. Esse caso foi relatado pela jornalista Maíra
Amorim pelo Jornal O Globo no ano de 2006 (Reviverde, 2009), parte da
reportagem é mostrada na figura 3.1. O programa envolveu todos os viventes
do condomínio, moradores, funcionários dos edifícios e empregados dos
moradores, e destacaram como objetivo e maior desafio a mudança do
conceito de lixo das pessoas presentes. Para isso contaram o a ajuda de uma
organização não-governamental (ONG) especializada em reciclagem de lixo,
Reviverde, na etapa de conscientização do projeto. A implementação contou
com algumas mudanças funcionais e estruturais, tais como extinção do tubo
coletor de lixo, separação de recicláveis em cada apartamento e lixeiras para
lixo orgânico em cada andar. Mas o grande destaque desse projeto foi a etapa
de motivação. O mais difícil não é implementar um sistema de coleta seletiva, e
29

sim, mantê-lo funcionando. Os condôminos receberam vários benefícios pela


participação no programa, houve sorteio de prêmios, distribuição de cestas
básicas para os funcionários e oficinas para mostrar a utilidade da reutilização
dos materiais recicláveis, a figura 3.2 ilustra uma oficina de reciclagem com
jornal. Como os produtos recicláveis eram vendidos, o dinheiro adquirido no
processo complementava o orçamento dos condomínios.

Figura 3.2. Reportagem no jornal O Globo sobre o programa de coleta seletiva no


condomínio Atlântico Sul. (Fonte: Reviverde, 2009)

Figura 3.2. Oficina de reciclagem com jornal. (Fonte: Reviverde, 2009)


30

Conclusão

A questão da coleta seletiva de lixo no Brasil ainda é bastante polêmica,


mesmo se considerarmos todos os benefícios provenientes dessa prática, pois
acarreta aumento de custos para os municípios.
No atual cenário de carências sociais as questões ambientais concorrem
ainda mais para onerar o poder público e em que pese a incorporação da
coleta seletiva de lixo no dia-a-dia de uma comunidade ser um processo viável,
ainda necessita de uma base de informação e interação. A importância da
execução do processo de coleta, separação e reciclagem, bem como da
absorção pelo mercado do material recuperado e o seu custo/benefício são os
fatores elencados no sucesso da gestão do lixo.
A predação sobre o meio ambiente que a espécie humana vem
promovendo ao longo de sua História e em especial no último século do milênio
se caracterizou pelo quase total esgotamento dos recursos naturais, gerando
um grande degrau de pobreza e desigualdade e um descompromissado
respeito aos direitos humanos e aos de outras espécies animais e vegetais do
planeta.
Esta proposta de coleta seletiva em pequena escala se converteria em
uma pequena contribuição e não pode ser vista como única solução para os
problemas de aumento de resíduos sólidos domésticos. As grandes empresas
e bancos brasileiros também já estão engajados no processo de reciclagem,
visando reduzir a quantidade de lixo reciclável e reutilizável nos aterros.
31

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