resumos literatura portuguesa séc. XVIII/XIX

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Teste 1

Cesário Verde
Ficha técnica:
nasceu em 1855 em Lisboa
trabalhou na loja de ferragens do pai (foi correspondente comercial) — pertencia à classe da burguesia; a vida
prática na loja do pai acaba por se espelhar na obra de Cesário e na maneira como este trabalha com exatidão o
verso
em 1873 matriculou-se no curso superior de letras, mas acabou por abandonar o curso
nesse mesmo ano, conhece Silva Pinto, que acaba por se tornar seu amigo próximo, e começa a publicar poemas
em jornais da época de Lisboa; o seu poema é publicado n’O Diário de Notícias, mas é rapidamente ridicularizado
por um jornal monárquico (Cesário é republicano, como a maior parte dos jovens da sua geração)
a dada altura, Ramalho Ortigão — que escreveu um conjunto de crónicas sociais com o seu amigo, Eça de
Queirós, intitulado “Farpas” —, escreve uma peça sobre Cesário Verde, na qual induz que Cesário ainda se
encontra demasiado “verde” enquanto poeta; Cesário levou este ataque a peito, talvez por Ramalho Ortigão ser
também um republicano, o que leva Cesário a deixar de publicar poemas em jornais lisboetas por um tempo e a
passar a publicar em jornais do Porto, por intermédio do seu amigo Silva Pinto

Cesário só torna a publicar em Lisboa no ano de 1878, no ano em que publica “Num Bairro Moderno”
em 1880, dão-se as comemorações do tricentenário da morte de Camões, e é neste propósito que o jornal
portuense “Viagens” publica “Portugal a Camões” — uma publicação extraordinária com contribuições de
inúmeros poetas de renome e menos conhecidos —, na qual Cesário Verde publica “Sentimento de um Ocidental”;
este poema, embora demonstre muito engenho e talento, gera pouco interesse por parte do público (a maior parte
deste bem inserido no mundo literário de Portugal), pelo que Cesário publica muito poucos poemas após 1880
Cesário morre em 1886 vítima de tuberculose, e deixa-nos apenas um livro, O Livro de Cesário Verde (1887), o
qual foi postumamente publicado por Silva Pinto

Elementos importantes:
A Descrição através do movimento
uma das características mais emblemáticas da poesia de Cesário é a descrição do mundo através do
movimento; grande parte dos poemas de Cesário descrevem passeios (pelo campo ou pela cidade), no qual os
espaços que o poeta visita são descritos ao longo que o passeio decorre — o movimento determina a
descrição
deste modo, o sujeito poético acaba por recorrer a recursos expressivos — como a metáfora, a imagem, a
personificação, entre outros — para conseguir descrever aquilo que observa;

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Cesário é conhecido como um poeta do realismo, que descreve exatamente aquilo que vê; porém, não oferece
ao leitor uma realidade tal como esta existe, mas sim uma realidade “processada” por esta — a verdade é que
Cesário não reproduz aquilo que vê, uma vez que recorre à imaginação para fazer as suas descrições; tudo isto
é técnico, processado; pode-se constatar, deste modo, que há sempre um elemento imaginativo que se agrega
ao elemento visual na poesia de Cesário

A Claridade
a claridade é um elemento materialmente importante na poesia de Cesário, o qual é inclusive mencionado
várias vezes e vários dos seus poemas;
a claridade é responsável pelo poeta ser capaz de descrever com clareza aquilo que vê, assim, é óbvio que esta
desempenha um papel importante nos seus poemas

As mulheres de Cesário
Na poesia de Cesário Verde (ex: “Cristalizações”, “De Verão”, “Noitada”), protagonizam, muitas vezes,
figuras femininas que contrastam com a mulher ideal cantada na poesia (ultra)romântica em Portugal. O
sujeito poético descreve mulheres emocionalmente independentes, um tanto insolentes e “aburguesadas”, que
não cedem a caprichos nem insultos de homens (incluindo o sujeito poético). A representação de outros tipos
de mulheres que não se encaixam nos ideias românticos da época é uma forma de romper com esta corrente
literária/tradição.

A realidade na poesia de Cesário


Cesário Verde é maioritariamente conhecido por ser um poeta do real, muito por conta das suas longas e
minuciosas descrições das ruas de Lisboa e de quem as ocupa. No entanto, é necessário salientar que, como o
próprio muitas vezes indica (ex: “O Sentimento de um Ocidental”), a criação da poesia não é feita somente de
meras descrições do mundo exterior — se assim o fosse, seria apenas descrições, quase relatórios, com
poucos ou nenhuns características literárias. De modo a descrever aquilo que o rodeia, o sujeito poético
recorre a figuras de estilo, recursos expressivos — como comparações, metáforas, personificações, entre
outros — e a planos imaginativos, para tornar estas reproduções do real em poesia.
Assim, é correto afirmar que, na poesia de Cesário Verde, o real tem bastante importância, mas é uma
realidade “moldada”/”torcida” pelo poeta através de recursos literários e da sua própria imaginação. O plano
real e o plano imaginário estão sobrepostos na poesia, e é dessa sobreposição que se cria a poesia: o real
inspira, mas é com a imaginação que o poeta faz a sua poesia.

Fialho de Almeida
Ficha Técnica:
Fialho de Almeida é, possivelmente, o primeiro poeta de fim-de-século do séc. XIX. Nasceu em 1857 no Alentejo,
formou-se em Lisboa em Medicina (porém não exerceu a profissão), e após os estudos regressou ao Alentejo.

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As suas obras são bastante inspiradas no Alentejo profundo, porém também escreve sobre as grandes metrópoles
(como Lisboa — a Lisboa que conheceu durante os estudos, na qual Cesário viveu). Fez também uma viagem ao
norte do país que se reflete bastante em alguns elementos da sua obra.
Fialho escreve sobretudo crónicas e é um crítico da vida social e política em Portugal da época; publicou
maioritariamente contos. Foi escritor, jornalista
Segue a tradição dos grandes cronistas portugueses, como Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós. Fialho é tido
muitas vezes como o maior representante do naturalismo em Portugal (que sugere que os males do mundo e da
sociedade são resultado da organização desta mesma sociedade). As histórias que conta servem um propósito
superior de denunciar as falhas da sociedade (no entanto, é importante notar que nenhum autor se pode somente
relacionar com apenas um movimento literário)

Elementos importantes:
O mundo rural e o mundo urbano
Esta colisão de mundos é representada mais no conto “O Filho”, no qual uma mãe espera que o seu filho
regresse do Brasil, onde esteve durante 10 anos, numa estação de comboios na Pampilhosa. Por um lado, a
ingenuidade da mulher e os seus comportamentos insensatos e rurais representa a província; por outro lado, a
estação de comboios, particularmente o comboio — personificado como um monstro mecânico, são a figura
de uma transformação tanto figurativa como literal (com o atropelamento da mulher), ilustrando a mudança
da sociedade como resultado da industrialização da época.
Os elementos exteriores, como os ruídos da natureza e os ruídos urbanos, servem também para evidenciar esta
oposição.

Crítica Social
As diferentes classes sociais são descritas no conto “Ao Sol” e “Três Cadáveres”. Em “O Sol”, a primeira
entrada do “diário” serve para descrever a figura do “propiatairo”, que vive do ódio a partir do momento em
que sobe economicamente na vida, colocando-se entre a classe trabalhadora e a classe alta, dos “ricaços”;
Fialho descreve com agudeza este grupo de indivíduos, que lucra com o trabalho da classe trabalhadora — a
qual julga ser preguiçosa e conspira que tudo e todos, incluindo a própria família, cobiçam as suas posses.
Em “Três Cadáveres”, através de um longo encadeamento de histórias, há uma clara denúncia social relativa à
miséria na qual as classes baixas vivem em Lisboa, sujeitas a epidemias, mas também a miséria “espiritual” e
insensibilidade para a qual a burguesia e os seus benefícios seduzem as pessoas, como João da Graça. Neste
conto, assim, Fialho ilustra dois tipos de miséria: física, com as doenças e a pobreza, e também a moral, com
personagens como o pai de Marta, Izaquiel e João da Graça, emocionalmente transformado após o seu
primeiro contacto com a desgraça de Lisboa. A cidade de Lisboa é, deste modo, descrita em termos
desgraçosos e mórbidos.

O Progresso e o Conservadorismo

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No conto “Ao Sol”, Fialho sugere, com as figuras do capitão e do veterano, que as repercussões das
guerras liberais ainda se sentem, até mesmo no Alentejo profundo décadas depois. Estas duas atitudes, o
conservadorismo (miguelino) e o progresso (liberal) continuam enraizadas na alma do povo português,
como se fizessem parte da sua essência. Esta pulsão entre duas forças está presente em várias obras de
fim-de-século, não só em termos políticos como também em termos literários.

Eugénio de Castro
Ficha técnica:
Eugénio de Castro nasceu em 1869 em Coimbra, lugar onde também morreu, em 1944.
Oaristos (que significa “conversas entre casal” ) foi a sua primeira obra, porém estreou-se como poeta muito
precocemente, aos 15 anos com “Cristalizações da Morte, em 1884).
Fundou a revista “Os Insubmissos” com os colegas João Menezes e Francisco Bastos, como forma de resposta a
um grupo rival, “Boémia Nova”, ao qual António Nobre e Alberto de Oliveira pertenciam. Durante alguns meses,
estas revistas vão lançando edições que são o palco de uma “luta estética”, no qual o foco principal de discussão é
a cesura (no verso alexandrino, a cesura coloca-se, tradicionalmente na sexta sílaba, mas em França começa-se a
colocar após o 4º, o 8º ou ambos , o que causa pequenas oscilações rítmicas). Eugénio de Castro começa a
desbloquear a monotonía rítmica do verso alexandrino, o que é mal recebido pelos seus adversários.
Assim, para Eugénio de Castro, há um conjunto de preceitos técnicos novos criados no estrangeiro que lhe
interessa para introduzir na poesia portuguesa. Tornou-se, assim, numa figura importante pelas suas inovações
técnicas, colocando-o na vanguarda da poesia em Portugal por umas décadas.

Elementos importantes:
Inovações técnicas
Com a publicação de Oaristos, Eugénio de Castro introduz na poesia portuguesa — a qual julga estar
estagnada em “lugares comuns”, com rimas poucas originais, vocabulário pobre e repetitivo — novas
técnicas, que enuncia no prefácio do seu livro. Assim, introduz o rondel em Portugal — uma estrutura pouco
utilizada na época —, a aliteração, rimas e vocabulário originais, cesura deslocada (e em alguns casos, sem
cesura), e poemas com estrutura e rimas irregulares.

A mulher em Oaristos
A figura feminina presente nos vários poemas que compõe o livro assemelha-se àquela que se encontra na
poesia de Cesário Verde (e a qual Baudelaire também apresenta na sua poesia). Esta não é a típica mulher
ideal da poesia romântica, a qual cede aos caprichos do amado, é submissa e frágil; a(s) mulher(es) que
Eugénio de Castro apresenta são irreverentes, emocionalmente independentes, com uma forte personalidade e
hábitos aburguesados o que, mais uma vez, quebra com a tradição romântica portuguesa.

O Simbolismo
Eugénio de castro é um pioneiro do simbolismo em Portugal, embora tenha caído no esquecimento. É o
primeiro poeta a preocupar-se com algumas questões a nível de estética na poesia (o que vai influenciar a obra

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de Camilo Pessanha, expoente máximo do simbolismo em Portugal). Este cuidado pela estética do poema
pode-se encontrar no uso da sinestesia — um dos recursos expressivos mais caros na poesia da época.

António Nobre
Ficha técnica:
António Nobre teve uma vida (e uma obra) bastante curta (1867-1900). Passou a sua infância entre o Porto e Trás-
os-Montes, nomeadamente na região de Leça da Palmeira e Póvoa do Varzim. Matriculou-se no curso de Direito
em Coimbra, porém o ambiente e o curso não eram do seu total agrado e, após reprovar duas vezes, decidiu
abandonar o curso e ingressar em Ciência Política em Paris. É lá que conhece Eça de Queirós e escreve os poemas
que constituem o livro Só (1892). Pouco tempo depois, é diagnosticado com tuberculose e acaba por morrer em
1900.
É possível dizer-se que Só é um livro biográfico. O estilo sentimental e (aparentemente) ultrarromântico do poeta
gera inúmeras críticas, tanto dos seus pares como das gerações seguintes, mas uma leitura atenta mostra que os
seus poemas têm uma ironia muito subtil e autodepreciativa, a qual era rara na época. Assim, estas características
tornam António Nobre num poeta extremamente singular.

Elementos importantes:
o eruditismo e o provincianismo
António Nobre junta, muitas vezes, elementos da cidade moderna e da província profunda. Exemplo disso é o
poema “Lusitânia no Bairro Latino”, no qual o sujeito poético tenta descrever Portugal e as suas províncias
profundas a parisienses, dois completos opostos. Há uma oscilação muito eficaz e constante entre um
vocabulário refinado (e perto dos ideais da literatura de fim-de-século) e um vocabulário mais datado,
obsoleto e provinciano. Esta oscilação é uma maneira de mostrar que é possível inovar a poesia dentro da
tradição portuguesa (contrastando com, por exemplo, a poesia de Eugénio de Castro)

O sentimentalismo de António Nobre


Os poemas de António Nobre têm, numa primeira impressão, uma aparência ultrarromântica e, portanto,
datada. A sua poesia parece não se adequar à época — na qual surgem grandes preocupações formais e
estéticas — o que levou a que António Nobre fosse fortemente criticado, com vários indivíduos a julgarem-no
pouco viril e afeminado.

a verdade é que, na sua poesia, António Nobre apropria-se do ultrarromantismo, herança poética e estilo
contemporâneo de poesia, mas distorce-o de modo a desarmar o leitor e causar humor.

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