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FUNDAMENTOS

FILOSÓFICOS DA TCC
ANNA POLAK
Fundamentos Filosóficos da TCC
“As origens filosóficas da terapia cognitiva podem ser buscadas nos filósofos estoicistas,
especialmente em Zenão de Cítio (século IV a.C.), Crísipo, Cícero, Sêneca, Epicteto e Marco
Aurélio.

Epicteto escreveu: “Os homens não são perturbados pelas coisas, mas pelas visões que têm
delas”.

Assim como o estoicismo, filosofias orientais como o taoísmo e o budismo enfatizaram que
as emoções humanas se baseiam em ideias. O controle dos sentimentos mais intensos
pode ser alcançado pela modificação das ideias de uma pessoa”. (Beck, 1997, p.22).

Houve, também, a influência de outros pensadores como Sócrates e Platão.


Filosofias Orientais
Filosofias Orientais - Taoísmo
Segundo a tradição, devemos cultivar um impulso de anticategorização (não
rotulação), deste modo, rejeitando as categorizações que nos vem precocemente
em mente e, expandindo a nossa compreensão de que as pessoas, o ambiente e
tudo o mais, estão em constante processo de transformação e, por isso, não é
verdadeiramente possível termos conclusões sobre a natureza das coisas.

Em outras palavras, para os taoístas, a capacidade humana de categorização


implica no perigo de que tais categorizações subjuguem as experiências, e, assim,
tentaríamos erroneamente encaixar nossas experiências em noções preconcebidas
de como as coisas “deveriam” ser.
Filosofias Orientais - Taoísmo
“Toma consciência dos teus pensamentos; pois resultam em palavras. Toma
consciência das tuas palavras; pois resultam em ações. Toma consciência das tuas
ações; pois resultam em hábitos. Toma consciência dos teus hábitos; pois resultam
em caráter. Toma consciência do teu caráter; pois resultará no teu destino.”
(Lao-Tsé)

“A alma não tem segredo que o comportamento não revele.”


(Lao-Tsé)

“Não sucumbe à ilusão, quem conhece a ilusão como ilusão.”


(Lao-Tsé)
Filosofias Orientais - Budismo
“Se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e reorganizar nosso
comportamento, aprenderemos a lidar mais facilmente com o sofrimento, e
também seremos capazes, acima de tudo, de impedir o aparecimento de uma
porção significativa desse sofrimento.”
(Dalai-Lama, 2000)

“Nós somos aquilo que nós pensamos. Tudo aquilo


que nós fazemos surgir com os nossos pensamentos.
Com os nossos pensamentos criamos o mundo.”
(Buda - O Dhammapada)
Sócrates e Platão
Sócrates
• Antes de Sócrates, os sábios pensavam sobre o logos, sobre o conhecimento
mais relacionado ao mundo material, a composição do universo e da matéria.
• Participava das Ágoras, transmitindo conhecimento, nas ruas, com pessoas
comuns.
• Sócrates passou a questionar “quem é o ser humano?”
• “Só sei que nada sei”
• Espírito investigativo: chegar ao conhecimento por meio da razão.
Sócrates
• Sócrates desponta a questão da Maiêutica – a arte de trazer à luz - e do
questionamento socrático – cujo propósito é levar o indivíduo a sua verdade e,
assim, acessar o conhecimento que está dentro dele.

• TCC utiliza o questionamento socrático com o intuito de promover a


discriminação do sujeito entre suas cognições e a realidade factual;

• E para esclarecer sobre a inter-relação entre seus pensamentos, sentimentos e


comportamentos, o que, por sua vez, estimula o indivíduo a refletir sobre suas
cognições e possíveis distorções.
Sócrates
• Sócrates usou o questionamento e o confronto para ajudar as pessoas a
chegarem ao que ele considerava verdades universais.
• No entanto, filosofia e terapia têm objetivos diferentes.
• O objetivo da terapia é ajudar o paciente a encontrar as suas respostas e
alternativas, considerando suas próprias evidências, experiências e contextos
pessoais e culturais.
Sócrates

• O objetivo do questionamento socrático é ajudar as pessoas a aprenderem a


ver as situações de uma perspectiva mais realista e funcional, por conta
própria.

• Tão importante quanto ter respostas é aprender o processo de buscá-las.


Platão
Eudaimonia: estado de realização, de superação de grandes dores e sofrimento.

Três reflexões de Platão:

Pensar mais: sobre a importância da ordem e clareza dos pensamentos (caráter


racional). Pessoas são guiadas pelo Doxa (senso comum), pelas paixões
concupiscível) e pela ira/força (caráter irascível).

Amar com mais sabedoria: O amor é, em essência, um tipo de educação, com a


disposição ao aprendizado. Não amaremos a pessoa exatamente como ela é, mas,
sim, com o compromisso de ajudar o outro a se aprimorar.

Importância da beleza: a percepção e execução do belo e da ordem na vida


ordinária, que nos expõe ao desafio de sermos melhores e nos conecta com as
virtudes.
Estoicismo
Estoicismo
O estoicismo não compreende a felicidade como um lugar a ser alcançado, mas como
um estado a ser vivido: a arte do bem viver (Eudaimonia). Uma vida digna de ser vivida,
um estado de plenitude do ser.

“O filósofo é aquele que detém o conhecimento do fator fundamental: como se viver.”


(Sêneca)

Filosofia não apenas para os pensadores, mas para todos os que querem aprender a
viver (e morrer) bem.

Estoicismo propõe dois objetivos a serem vividos nesta caminhada da vida: Eudaimonia
e a Resiliência Emocional.
Eudaimonia
• “Bem-viver”

• Como? Por meio de processos internos – usando o que está ao meu controle.

• A solução é ter como objetivo a virtude. A felicidade será consequência.

Areté:
Quem somos agora. Cultivar Virtudes, Quem somos capazes de ser
Buscar a Excelência
Eudaimonia e Prática das Virtudes
Virtude é a arte de viver em harmonia com o mundo.

Como? Por meio da escolha e da prática das virtudes.

“Você pergunta o que eu busco da virtude? Eu respondo: Ela mesma não tem nada
melhor; ela é sua própria recompensa.” (Sêneca)

“o prazer não é a recompensa ou a causa da virtude, mas vem em adição a ela; nem
escolhemos a virtude porque ela nos dá prazer, mas também nos dá prazer se a
escolhermos” (Sêneca)
As Quatro Virtudes Primárias
Sabedoria é virtude aplicada ao processo de pensamento.

Coragem é virtude aplicada à vida emocional.

Justiça é virtude em relação as outras pessoas.

Autodisciplina é virtude quando aplicada às nossas opções.

Todas as situações apresentam oportunidades de praticar a virtude = escolhas e


autorresponsabilidade.
Resiliência Emocional
“Tolerar as provações com a mente tranquila rouba a força e o fardo do infortúnio.”
(Sêneca)

Como ser resiliente?

“Se você está sofrendo por coisas externas, não são elas que estão te perturbando,
mas o seu próprio julgamento sobre elas. E está em seu poder anular este
julgamento agora.” (Marco Aurélio)

“A alma é tingida com a cor dos seus pensamentos.” (Marco Aurélio)


Como Ser Resiliente?
Disciplina do Desejo: querendo o que você tem.

Para desenvolver uma felicidade consistente, você deve treinar a si mesmo para
desejar apenas o que sempre pode ter e temer apenas o que sempre pode evitar.

Disciplinar o desejo também significa aprender a aceitar o momento presente. Se


queremos agir de forma decidida em um determinado momento, temos de reagir
ao que se encontra diante de nós.

Desejar que as coisas fossem diferentes do que são é um desperdício de energia.


Como Ser Resiliente?
Disciplina da Ação: está concentrada na virtude da Justiça.

Aprenda a agir com uma “cláusula de reserva” – (se não acontecer algo diferente do
que planejei)

Aprenda a optar por ações que beneficiem tanto você quanto os outros (virtude de
servir, ser útil).

Desenvolva um sistema de valores mais saudável que possa liberá-lo para a prática
de ações mais justas.
.
Como Ser Resiliente?
Disciplina do Consentimento: dizer sim às informações que recebemos

Estar atento ao seu processo de pensamento: inundado pelas “paixões insalubres”


(Pathê) ou o pensamento realista e saudável (Eupatheiai).

Colocar as primeiras impressões “entre parênteses”, suspender o julgamento inicial


também adia reações desajustadas e abre espaço para olhar com clareza o evento.
Triângulo da Felicidade
Estoica
Assuma a responsabilidade

Cultive virtudes
4 virtudes cardeais:
Sabedoria
Justiça
Coragem Concentre-se no que
Autodisciplina você pode controlar
Exercícios Estoicos
Dicotomia do Controle
Lembre-se da dicotomia do controle. Algumas coisas dependem de nós,
outras não. Dedique sua atenção ao que você pode controlar, como o
desenvolvimento de um caráter bom, e não em elementos que escapam ao
seu controle.
Visualização Negativa
Imagine diferentes “catástrofes” que poderiam acontecer com você, como se
estivessem acontecendo agora, nesse exato momento, enquanto isso você
deve procurar manter a objetividade estoica e a indiferença em relação a
esses eventos, concentre-se na distinção entre o que depende de você e o
que não depende, permita-se fazer essa mentalização tempo suficiente para
que seus sentimentos iniciais diminuam naturalmente.
Desconforto Voluntário
Esses exercícios têm como meta fazer você se acostumar com a restrição de
algumas coisas que consideramos essenciais ao seu conforto, seja um
conforto físico ou social.

Ao fazê-lo, se torna menos reativo à dor, e consequentemente a própria alma


é fortificada e se torna corajosa, disciplinada e pronta para a ação.
A Arte da Atenção
É o exercício de consciência. É uma forma de desenvolvimento pelo qual
progressivamente aprendemos a permanecermos atentos a cada ação
singular, pensamento ou sensação que nós podemos ter ou sentir no exato
momento em que aparecem.

Viva no momento presente. Não permita que sua mente se antecipe ou se


preocupe com o futuro, pois isso é fonte de ansiedade. Em vez disso, planeje
o futuro de forma racional e lembre-se de que o momento presente é tudo
que temos. Caso comece a sentir ansiedade, tenha consciência disso e volte
sua atenção para o presente. Lembre-se de que, quando o futuro chegar,
você enfrentará os acontecimentos com a mesma racionalidade que
enfrenta hoje.
Lembre-se do Papel do Juízo
As coisas em si não nos irritam. São os juízos ou opiniões sobre elas que
causam sofrimento.

Contemplação do sábio. Imagine que uma pessoa sábia como Sócrates está
observando suas ações. Ao enfrentar uma situação difícil, pergunte-se como
essa pessoa sábia reagiria.

Diário filosófico. Crie seu próprio caderno de meditações e ensinamentos


estoicos, como Marco Aurélio fez, com lembretes para si mesmo. Pegue as
ideias filosóficas centrais e as reformule com suas próprias palavras, ou
detalhe em seu diário como você pode fazer uso delas.

Reavaliação diária. Ao fim de cada dia, reflita sobre suas ações. Faça a si
mesmo as seguintes perguntas: O que eu fiz bem? O que fiz mal? Como
posso melhorar? O que deixei de fazer?
Lidando com as Adversidades
Transforme a adversidade em algo melhor. Quando você encontrar a
adversidade, transforme-a em algo melhor. É possível criar o bem em
qualquer situação, se reagirmos com virtude.

Premeditação da adversidade. Imagine brevemente quaisquer


adversidades que você poderá enfrentar no futuro. Depois, deixe os
pensamentos se dispersarem. Ao contemplar as adversidades
antecipadamente, você tira o poder delas, caso venham mesmo a acontecer.
Memento Mori –
Meditar sobre a Finitude
Reflita sobre sua própria condição mortal, a condição das pessoas que você
ama como seres mortais, e sobre a morte como sendo apenas o estágio final
e natural de estar vivo. Agradeça pelo tempo que você tem pela frente e se
esforce para usá-lo com sabedoria.
Amor Fati
O termo Amor fati ficou conhecido depois que o filósofo alemão Friedrich
Nietzsche descreveu como a fórmula para a grandeza humana como sendo
Amor fati – um amor ao destino.

“Minha fórmula para a grandeza em um ser humano é Amor fati: aquele não
quer que nada seja diferente, nem para frente, nem para trás, nem em toda a
eternidade. Não apenas suportar o que é necessário, menos ainda esconder,
mas amar o acontecido” – Nietzsche

“Não procure que as coisas aconteçam do jeito que você quer; antes, deseje
que o que acontece aconteça do jeito que acontece: então você será feliz ”. –
Epiteto
Indicações de Leitura
• Aurélio, M. (2019). Meditações. São Paulo: Edipro.
• Beck, A.T. et al. (1997). Terapia cognitiva da depressão. Porto Alegre: Artes Médicas.
• Beck, A.T. & Alford, B.A. (2000). O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegre: Artmed.
• Beck, A.T. (2015). From our Archives: Reflections on My Public Dialog with the Dalai Lama. Beck
Institute
• CordiolI, A.V. (Org.). (2008). Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: ArtMed
• Dobson, K. S. & Block, L. (1988). Historical and philosophical bases of cognitive therapies. In: Dobson,
K.S. (Org.), Handbook of cognitive-behavioral therapies. New York: Guilford.
• Ekman, P. (2008). Consciência emocional: uma conversa entre Dalai Lama e Paul Ekman. São Paulo,
Prumo.
• Falcone, E. (2013). As bases teóricas e filosóficas das abordagens cognitivo-comportamentais. In:
Jacó-Vilela,A. M.; Ferreira, A. A. L.; Portugal, F. T. (Orgs.). (2013). História da Psicologia: Rumos e
Percursos. 3. ed.Rio de Janeiro: Nau Editora.
• Freeman, A. & Dattilio, F. M. (1998). Introdução à terapia cognitiva. In: Dattilio. F. M. & Freeman, A.
(Org.). Compreendendo a terapia cognitiva. Campinas, SP: Psy
• Neufeld, C.B.; Brust, P.G. & Stein, L.M. (2011). Bases Epistemológicas da Psicologia Cognitiva
• Experimental. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 27 n. 1, p. 103-112.
• Pereira, M. & Rangé, B. (2011). Terapia Cognitiva. In: B. Rangé (Org.), Psicoterapias
cognitivocomportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre, Artmed.
• Robertson, D. & Codd, T. (2019). Stoic Philosophy as a Cognitive-Behavioral Therapy.
• The Behavior Therapist, vol. 42, no. 2, Feb.

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