VIDA DE PESCADOR (ADPTADO)
VIDA DE PESCADOR (ADPTADO)
VIDA DE PESCADOR (ADPTADO)
DUAS MULHERES DE MAIS IDADE, CHEGANDO DE VIAGEM, CADA UMA COM UMA
MALA, CONVERSAM E RELEMBRAM DE ARRAIAL DO CABO ANTIGO, SE SEMTAM,
E SENTADAS EM UM BANCO, ELAS CONVERSAM.
CACILDA – Há, Arraial do Cabo! terra de nostalgia, onde a infância antiga vive em plena
alegria na minha memória. Lavadeiras e salgadeiras, sob o sol a brilhar, e as
brincadeiras nas ruas a tarde a animar.
ETELVINA - Lembro-me bem das tardes douradas, sem fim, onde as ruas eram palco
para nossa diversão sem fim. Correr descalça na areia, sentir o vento no rosto, e
mergulhar no mar azul sem qualquer desgosto. Quantas lembranças.
CACILDA – Lembra das lavadeiras? Com suas mãos ágeis a trabalhar, enquanto as
salgadeiras preparavam o pescado, a fritar. E nós, crianças, saltitando de rua em rua,
inventando aventuras, sem medo e sem parar.
MANOEL – Não pude deixar de ouvir a conversa de vocês, e isso me trouxe uma grande
nostalgia. Arraial do Cabo guarda minhas memórias mais queridas, das brincadeiras
inocentes, das risadas compartilhadas. És parte de mim, és minha raiz e minha origem
pura.
CACILDA – São memórias salgadas que nos embalam ao entardecer, nos fazem sorrir
e nos conectam ao nosso ser, neste mar de lembranças, onde podemos renascer.
MANOEL – Nas brisas que sopram em Arraial do Cabo, Ecoam vozes do passado, num
sussurro calmo. São murmúrios suaves, como canções do mar, que nos levam a viajar,
a recordar. Cada rua, cada esquina, guardam segredos antigos, vozes que contam
histórias. São os sussurros das lavadeiras ao entardecer, e as risadas das crianças a
correr. Vozes do passado que ecoam na brisa do mar, Como uma melodia suave, a nos
embalar. São elas que nos guiam, nos lembram de quem fomos, e nos conduzem,
suavemente, pelos caminhos que escolhemos. Em Arraial do Cabo, as vozes do
passado são presentes em cada suspiro do vento, em cada instante. São elas que nos
conectam à nossa essência mais pura, e nos fazem sentir, com intensidade, a beleza
que perdura.
CACILDA - O antigo pescador, dono deste solo, era desprovido de outra certificação
profissional a não ser a da pesca, e fora diplomado, simplesmente, por seu próprio
destino ao enfrentar, com humildade e inteligência, o seu pobre viver com os escassos
recursos que a pescaria Ihe adequava. E dessa forma, o mestre mareante seguia o seu
destino contando suas trovas de angústias que seu trabalho Ihe permitia. Daí seu acervo
histórico originário de um mar cheio de mistério.
ETELVINA – Lembro de uma história, que mamãe contava antes da gente dormir, era
uma história de amor de um pescador, que todos tínhamos que ouvir. Começava mais
ou menos assim: Na vida de pescador não existe medo não! O homem se adentra ao
mar, pra ganhar seu próprio pão sem temer por maresia adentra na imensidão enfrenta
sol, ventania, e rajadas de trovão.
MÚSICA -
MULHER
Me diga lá pescador, como é que está esse mar?
PESCADOR
Tá tenebroso, senhora, eu vim corrido de lá!
MULHER
Meu marido foi pro mar e o tempo não está bom, o céu, um preto enlutado, A água
mudou de tom. Vai piorar a procela, pressinto no mar o som. Coitado, em uma gamela,
parece que sofrer é dom.
BARQUEIRO
O mar tá bravo, senhora, o albatroz me trouxe aqui, o que me oferece agora, se ele eu
trouxer pra ti?
MULHER
Eu te darei vários cestos que há tempo eu mesma teci, são todos seus, pescador, pra teu
pescado servir. Vão acomodar os peixinhos que tu hás de oferecer, e tu com muito jeitinho
farás teu dia render.
BARQUEIRO
Não quero teus cestos, senhora, que te custaram a tecer, sou pescador, vou pro mar,
não sei se tornarei te ver.
MULHER
Pois bem, te dou minha casa, em quadra de sesmaria. Lá tu podes descansar ao chegar
da pescaria, mas por favor, canoeiro, pra eu não ficar arredia, me traga meu companheiro,
meu amor de cada dia.
BARQUEIRO
Eu não preciso de casa, já tenho meu próprio lar. Sou do mar e vou embora, não sei
se virei mais cá, o albatroz, minha senhora, o albatroz me trouxe aqui, o que tu me
dás agora se ele eu trouxer pra ti?
MULHER
Eu te dou minha aliança que ganhei junto ao altar, mas, por favor, pescador, traga meu marido
já, quem sabe está adormecido, e ao frio exposto ele está. E no mar tá esquecido, sem poder
voltar pra cá.
BARQUEIRO
Não quero a tua aliança que te faz marido honrar. Vou pro mar se houver bonança, não sei se
virei mais cá.
BARQUEIRO
Senhora tenta ser justa, me conceda a caridade. Não seja comigo injusta, me dê
algo de verdade. O albatroz, linda senhora, o albatroz me trouxe aqui, o que me
ofereces agora se ele eu trouxer pra ti.
MULHER
Eu te dou sete canções que eu compus ao luar, elas falam de paixões que o amor tende
a abrasar. Mas, por favor, pescador, não me tentas enganar. Traga pra mim meu amor,
Alivia o meu penar.
BARQUEIRO
Eu não quero os teus poemas que falam e choram por ti. Sou pescador vou embora, não ficarei
mais aqui.
MULHER
Não tenho mais o que dar. Não possuo mais riqueza, só me resta dar-me a morte,
entregar-me em tristeza, afinal, o que mais queres, digas com muita franqueza, se a
tudo interferes com renúncia e avareza?
BARQUEIRO
Quero o teu corpo, senhora, e a tratarei como enfeite, só trago aqui teu amante em troca
do seu deleite, senão eu volto pro mar antes que tu me rejeites. Lá sim, é o meu lugar,
Dá-me Iogo o teu aceite?
MULHER
Eu jamais me entregarei a outro homem qualquer, eu já tenho o meu marido que a mim
muito me quer, se és pescador vai pro mar, se isto Ihe convier. Não me tentes a te aceitar
Não serei tua mulher.
MULHER
Prefiro a morte a aceitar o teu amor junto ao meu, afasta-se de mim pescador, o meu
corpo já morreu, um ser sem vida me acho, a desgraça me abateu, Me entrego a morte
e relaxo. O meu ser já faleceu.
Não me reconheces ó mulher? Sou seu verdadeiro amor! O mar estava agitado e senti muito
temor, Saí de lá apressado no barco velejador pra sentir teu peito amado e aquecer no teu
calor.
Mulher
Ó meu marido malvado, por que me colocastes à prova? Não vês que a cada momento o
meu amor por ti renova? Vamos para o nosso lar e que seja lá nossa alcova, onde
podemos ficar e começar vida nova.
ETELVINA - Durante penosos dias o mar ficou agitado, foi visto o casal amante dentro
do lar hibernado, nem pra se alimentar saia. Estava um ao outro agarrado. Reza a lenda
nesta freguesia que no amor foi sustentado.
CACILDA – E assim foi a história que mamãe me contava. Uma trama, como tantas
outras em Arraial, histórias de amor, de saudades, com linha tecendo uma renda. E
com esta linha, que renda belas tramas, Arraial foi sendo entrelaçada pelas mãos
da nossa prendada natureza, como se fosse uma velha cabista rendeira.
ETELVINA - as belas rendas foram tomando forma, e com o entrelaçar das vidas
cabistas vários retalhos de saudades foram formados.