Em trânsito pelas fronteiras do Jornalismo
Em trânsito pelas fronteiras do Jornalismo
Em trânsito pelas fronteiras do Jornalismo
Vol.14 nº 27 | 2019
Número com dossiê temático
Joaquim Fidalgo
Edição electrónica
URL: http://journals.openedition.org/cp/5522
DOI: 10.4000/cp.5522
ISSN: 2183-2269
Editora
Escola Superior de Comunicação Social
Edição impressa
ISBN: 2183-2269
ISSN: 16461479
Refêrencia eletrónica
Joaquim Fidalgo, « Em trânsito pelas fronteiras do Jornalismo », Comunicação Pública [Online], Vol.14
nº 27 | 2019, posto online no dia 13 dezembro 2019, consultado o 14 novembro 2020. URL : http://
journals.openedition.org/cp/5522 ; DOI : https://doi.org/10.4000/cp.5522
Comunicação Pública Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons -
Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
Em trânsito pelas fronteiras do Jornalismo 1
Joaquim Fidalgo
NOTA DO EDITOR
Recebido: 27 de setembro de 2019
Aceite para publicação: 28 de outubro de 2019
1. Apresentação
1 A história da constituição do jornalismo enquanto profissão é, em boa parte, a história
do desenho e da afirmação das fronteiras que delimitam um território específico sobre
o qual os ‘legítimos’ representantes reclamam uma determinada jurisdição (Abbott,
1988; Fidalgo, 2008). Esta marcação de terreno, como acontece com qualquer uma das
chamadas ‘profissões estabelecidas’, faz-se a par com a definição das condições – nos
planos cognitivo, associativo e normativo (Larson, 1977) – que devem ser preenchidas
por todos os que queiram ser ‘incluídos’ na profissão e que servem também para
‘excluir’ quantos, trabalhando em atividades mais ou menos semelhantes, não as
preencham. Este é, no entanto, um processo difícil e controverso, pois tais fronteiras
são frequentemente porosas e evoluem ao longo do tempo, em função dos contextos
históricos, sociais e culturais. Isso sucede quer porque a profissão, em certo momento,
pretende alargar a sua jurisdição a áreas situadas nas margens do seu território
(Ruellan, 1997), quer porque atividades concorrentes situadas na linha de fronteira
tentam ser admitidas também naquele espaço. Em tempos de transição, não é difícil
encontrar exemplos do chamado ‘boundary work’ (Gieryin, 1983; Lewis, 2013) – ou seja,
um trabalho que se desenvolve nas zonas algo ambíguas de fronteira e que, por isso,
disputa o direito a ser considerado profissional no mesmo plano, embora não seja aceite
como tal pelo grupo que institucionalmente domina o território. Afinal, como recorda
Stuart Hall (apud Tenenboim-Weinblatt, 2009, p. 420), “os jornalistas, tal como outros
grupos sociais e comunidades, definem a sua identidade em relação com, e por exclusão
de, alguns outros”.
2 Tendo este cenário como pano de fundo, é nosso propósito refletir aqui sobre o trânsito
entre o território do jornalismo e o de outros ofícios da área da Comunicação,
designadamente recolhendo (através de um inquérito online) os testemunhos e
avaliações de um conjunto de profissionais que em determinada altura transpuseram
essa fronteira.
(Benton, 2014; Meyer, 2014). De modos mais ou menos disfarçados, e com uma
identificação nem sempre visível, surge uma diversidade de “conteúdos patrocinados”
que, no fundo, procuram mimetizar os formatos jornalísticos e, assim, transmitir uma
mensagem de facto publicitária, mas disfarçada com as marcas da independência e do
rigor tradicionalmente associadas ao jornalismo3.
10 Problemas de tipo semelhante podem ocorrer quando jornalistas são chamados a
trabalhar em áreas de publicidade, de informação comercial ou de comunicação
estratégica, com isso afetando também a imagem de isenção, independência e serviço
público que são apanágio (e precioso património) da profissão. O facto de estarem
definidas legalmente – além de ética e deontologicamente – certas incompatibilidades
entre o trabalho como jornalista e funções nas áreas de publicidade, marketing,
assessoria de imprensa ou relações públicas4 procura, precisamente, proteger uma
relação de confiança com os públicos que só pode estar assente em pressupostos de
clareza e de transparência. Mais uma vez, o que se questiona não é o facto de haver
quem trabalhe numas ou noutras áreas de comunicação no espaço público, mas o facto
de isso não dever fazer-se em simultâneo5. Aliás, está legalmente previsto que um
jornalista que passe a trabalhar nessas outras áreas o faça sem problemas, desde que
deposite o título que o habilita profissionalmente junto da Comissão da Carteira
Profissional de Jornalista (CCPJ), recuperando-o quando cessa as funções abrangidas
pela incompatibilidade.
11 O quadro aqui sumariamente descrito não é, no que toca aos jornalistas e às fronteiras
da profissão, isento de controvérsia. Há, desde logo, a pressão sobre o mercado de
trabalho, que advém da difícil situação económico-financeira de boa parte dos meios de
comunicação e que tem tornado cada vez mais frequente o trânsito de jornalistas para
outras atividades que lhes são, por assim dizer, próximas. Encontrar ocupação
permanente, estável e razoavelmente remunerada no jornalismo, nos tempos que
correm, não se revela tarefa fácil. Em contrapartida, as oportunidades de trabalho
noutros domínios da comunicação continuam a aumentar, e em boa parte dos casos
oferecendo condições mais aliciantes do ponto de vista material.
12 Mas a própria coexistência destes dois mundos em separado – e com fronteiras bem
desenhadas – vem sendo questionada, ora porque a revolução digital alterou
substancialmente a paisagem mediática, ora porque o contexto sociocultural permite
olhares diferentes sobre estas realidades. É o que sublinha Sparrow (2014, s/p):
In the early years of the transition from mass media to digital media, traditional
news organizations held tightly to their model of a firewall between content and
advertising. But technology companies such as Google and Facebook built new
business models that specifically tied content to advertising.
13 O certo é que proliferam os exemplos de ‘boundary work’ neste domínio: atividades que,
banidas pelos jornalistas no passado, desejam agora ser, de algum modo, aceites (e
legitimadas) na esfera socialmente mais valorizada do jornalismo. Paralelamente, isso
implicaria uma maior flexibilidade também no trânsito entre ofícios da comunicação,
ou até a sua acumulação, no caso dos profissionais. E isto sucede em diferentes sentidos:
podem ser jornalistas que passam a trabalhar em assessoria ou publicidade ao mesmo
tempo que fazem trabalho jornalístico (muitas vezes em regime ‘freelance’), podem ser
jornalistas que deixam o domínio dos media e passam a desenvolver o seu ofício numa
empresa industrial ou comercial, procurando ajudar a vender os seus produtos.
14 O assunto não é fácil. Veja-se, a propósito, o que diz um profissional que deixou o
jornalismo num jornal tradicional e passou a trabalhar em ‘produção de conteúdos’
numa empresa industrial chamada HubSpot (um exemplo daquilo a que hoje se chama “
brand journalism” ou “corporate journalism”):
I still think of myself as a journalist, but I don’t know if I would call myself that
officially. I think being a journalist — a real journalist — is a special thing, and
requires real independence, which I don’t have. My job is to get people to be aware
of HubSpot in hopes that some small percentage of them will actually buy HubSpot
software. That’s not journalism. Yes, it involves storytelling, content creation, skills
that you develop as a journalist. (…) Some of the stuff I write I think I could be
publishing in Newsweek or any other mainstream media outlet. But no, my job
really is not journalism (apud Lasica, 2013).
15 Entre o que ‘é’ jornalismo e aquilo que ‘parece’ jornalismo, há uma diversidade
crescente de interpretações. No sentido de contribuir para aprofundar a reflexão e
acrescentar-lhe alguns dados de pesquisa empírica, dirigimos um inquérito a um
conjunto de profissionais portugueses que decidiram trocar o jornalismo por outro
ofício da área da comunicação. O objetivo essencial é conhecer mais em profundidade
as suas experiências concretas, bem como os modos de olhar estas questões, quer no
plano pessoal, quer num plano mais geral. Disso daremos conta na segunda parte deste
artigo.
4. O olhar de ex-jornalistas
16 A nossa reflexão teórica sobre o tema das fronteiras mais ou menos porosas em redor
do jornalismo, com as implicações que isso tem no plano do trânsito de profissionais
deste ofício para outros da área da comunicação estratégica ou persuasiva, foi
complementada com uma investigação empírica, de que agora se apresentam
elementos informativos e resultados.
20 A amostra foi constituída pelo método de “bola de neve” (Coutinho, 2018, p. 97) – as
primeiras abordagens foram feitas a partir dos nossos conhecimentos diretos, nuns
casos por e-mail e noutros por telefone, tendo-se pedido aos contactados que
fornecessem dados de contacto de outros/outras profissionais em situação semelhante.
A distribuição do inquérito e a recolha das respostas ocorreram entre março e setembro
de 2017.
24 Das 65 pessoas que responderam ao inquérito, quase metade (30) trabalha hoje em
Assessoria de Imprensa/Assessoria de Comunicação, seja em instituições públicas, seja
em empresas privadas. Das restantes, 17 são Consultores/as de Comunicação e seis são
Diretores/as de Comunicação. Quanto às restantes 12, há designações profissionais
diversas – Direção de Marketing Corporativo, Relações Públicas, Gestão de
Comunicação, Comunicação de Ciência, Consultoria em Comunicação Estratégica,
Comunicação Interna –, mas o âmbito é semelhante.
25 Dado pretendermos fazer, a partir dos resultados deste inquérito, uma reflexão
essencialmente qualitativa, baseada nas perceções individuais de um conjunto de
profissionais, não tivemos a preocupação de que a amostra correspondesse, em termos
estatísticos, ao universo a estudar. O número de respostas obtido (65) pareceu-nos
interessante para não nos ficarmos apenas por situações casuísticas, mas não há
qualquer pretensão de considerar a amostra representativa, nem em termos globais,
nem em termos de distribuição geográfica ou de escalões etários. De resto, não há
sequer, no país, dados rigorosos que nos permitam arriscar números sobre a
quantidade de ex-jornalistas hoje a trabalhar nos novos domínios da comunicação.
26 Isto significa que não se fará qualquer extrapolação dos dados recolhidos para o
universo em análise, mas apenas se avançará com algumas reflexões e hipóteses de
explicação.
27 Os objetivos essenciais do inquérito tinham que ver com uma melhor compreensão dos
motivos por que estes profissionais tinham trocado o jornalismo por outra profissão na
área da comunicação estratégica e/ou organizacional, bem como de qual o balanço que
faziam da nova experiência, por relação com a anterior, e até que ponto a sua decisão se
tinha tornado definitiva ou, pelo contrário, poderia vir a ser revertida.
Simultaneamente, procurou-se recolher as opiniões dos inquiridos sobre estes dois
domínios profissionais da área da comunicação e o seu relacionamento mútuo.
36 (Q1) Em resposta à primeira questão – formulada nos seguintes termos: “Porque deixou
o jornalismo e passou a dedicar-se à nova profissão/atividade?” –, emergiram três
grandes explicações: razões materiais (mudar de ofício significou ir ganhar mais
dinheiro), razões emocionais (cansaço e/ou desilusão com o jornalismo e desejo de
mudança) e razões externas (mudança forçada, por despedimento ou extinção do posto
de trabalho, ou surgimento de uma oportunidade aliciante).
37 Dos 65 inquiridos, quase um terço (20) apontou o dinheiro como motivo para a
mudança, embora quase sempre associado a uma outra razão: dinheiro + desilusão com
o jornalismo (9), dinheiro + desejo de mudança (5), dinheiro + razões familiares (3),
dinheiro + aproveitamento de uma oportunidade (3).
38 Eis alguns exemplos de respostas, no que toca ao primeiro tipo de explicações (razões
materiais):
- [Deixei o jornalismo] porque o jornalismo deixou de conseguir pagar-me as contas
ao final do mês.
- Melhor equilíbrio trabalho/vida pessoal. Novos desafios. Salário mais
recompensador. Desencanto com a crescente falta de condições para fazer um
trabalho jornalístico relevante.
- Pela degradação das condições de trabalho (principalmente pela baixa
remuneração e perda de regalias); pela falta de possibilidade de realizar
reportagens e trabalhos mais aprofundados.
- Aconteceu naturalmente, embora tenha havido três razões que, somadas, foram
decisivas para deixar o jornalismo: a) A possibilidade de maior retorno financeiro,
b) A menor pressão do trabalho diário na assessoria e c) Um certo desejo de
mudança para fazer algo de novo e diferente.
39 O segundo grupo de explicações (apontado por 14 inquiridos) tinha que ver com
cansaço e desilusão relativamente ao trabalho em jornalismo, com o complementar
desejo de mudar, de experimentar outra coisa. Exemplos:
- [Mudei] porque me deparei com dificuldades crescentes para cumprir a missão de
jornalista como a entendia e deixei de sentir a recompensa devida em relação aos
sacrifícios impostos à família.
- Porque o trabalho que estava a fazer no jornalismo deixou de ser apelativo e as
condições, tanto éticas como profissionais e financeiras, degradaram-se.
54 No essencial, os motivos aduzidos para a reprovação desta situação têm que ver com
potenciais conflitos de interesses, com exigências éticas de independência e
transparência e com receios de que os papéis dos profissionais sejam de algum modo
confundidos aos olhos do público – o que redundaria em prejuízo para o jornalismo. E
só razões económicas (muitas vezes uma questão de ‘pura sobrevivência’) podem ser
apontadas nestes casos para justificar a acumulação de ofícios tendencialmente
incompatíveis.
55 De um modo mais temperado, algumas das opiniões sugerem que uma eventual
acumulação pode ser admitida se os domínios em que se trabalha como jornalista forem
radicalmente diferentes das áreas em que se exercem funções de assessoria ou
consultoria. Aí, haveria que avaliar as situações caso a caso e contar igualmente com o
escrúpulo ético e profissional dos implicados para manter as águas bem separadas.
56 No lado oposto, há algumas opiniões, mais raras, que manifestam abertura a esta
acumulação de funções e que sugerem mesmo que é matéria a merecer revisão. Um dos
respondentes invoca o regime vigente noutros países – como o Brasil –, onde a questão
das incompatibilidades não se coloca e um jornalista pode trabalhar simultaneamente
como assessor ou publicitário, mantendo ativo o seu título profissional. De acordo com
estas vozes, para além da questão da sobrevivência económica dos jornalistas, há hoje
novas sensibilidades relativamente ao modo de lidar com as questões da comunicação
no espaço público, sendo certo que a maioria dos cursos que preparam jornalistas são
cursos em que simultaneamente se preparam percursos profissionais para assessoria,
relações públicas, gestão de comunicação e afins. Sendo áreas próximas em termos de
saberes e competências, há muito quem lhes aponte um potencial de intermutabilidade
que pode, desde logo, alargar o mercado de trabalho na área.
57 Eis alguns exemplos das respostas recolhidas:
(Conhece casos de acumulação? E o que acha disso?)
- Sim, embora poucos. É uma situação eticamente condenável, que por vezes se deve
à necessidade de uma remuneração extra. É muito difícil cumprir este duplo papel,
ou estar de ambos os lados da barricada.
- O conflito de interesses existe e por mais que o profissional em causa queira
separar águas elas acabam sempre por se poder misturar. Vi pessoas defenderem
que um jornalista que trabalhe na política, por exemplo, podia assessorar uma
entidade cultural. Não é verdade. Desde logo pela influência que pode exercer na
redação onde trabalha, mas também porque tudo é política, tudo se toca.
- Sim, conheço. Creio que, infelizmente, é um comportamento cada vez mais
frequente. Há jornalistas com "avenças" e com part-times em agências de
5. Notas conclusivas
66 Há, decididamente, alguma agitação nas fronteiras que delimitam o território
tradicional do jornalismo. Este vem sendo desafiado por novos conceitos, novos atores e
novas práticas, muito em função (e em consequência) das profundas alterações
tecnológicas da era digital, mas também muito em função de contextos socioculturais
que já não se reveem nos modelos recentes em que os media se foram construindo e
afirmando. É por isso, e igualmente por uma crise económica severa (de que o mais
claro expoente é a dramática diminuição de receitas das empresas jornalísticas, quer
por baixa da publicidade, quer por disseminação da ideia de que se pode/deve ter
acesso gratuito aos meios de comunicação, disponíveis via internet), que aquelas
fronteiras se tornam mais porosas e mais difusas, facilitando o surgimento de exemplos
variados daquilo a que se chama “boundary work”. Surgem produtos híbridos, que
parecem jornalismo, mas de facto são publicidade ou marketing; surgem atores
híbridos, que trabalham simultaneamente em conteúdos editoriais e em conteúdos
comerciais; surgem exemplos múltiplos de trânsito “para dentro” e “para fora” das
fronteiras profissionais.
67 Os resultados da nossa investigação permitem compreender melhor os percursos
profissionais de quem conhece os dois lados deste território: o lado da informação
jornalística e o lado da comunicação estratégica ou persuasiva. Permitem compreender
melhor as motivações de quem altera o seu percurso, as perceções relativas a um e
outro lado, o juízo sobre complementaridades ou incompatibilidades, as perspetivas
quanto ao futuro.
68 Três notas podem destacar-se, em jeito de conclusão:
69 1. As dúvidas a propósito do que é o jornalismo hoje e de quem o faz podem ser olhadas
como uma ameaça a padrões estabelecidos, mas também como uma oportunidade para
recentrar as atenções no que verdadeiramente importa e para reinventar o seu lugar e
modo de estar nas sociedades complexas em que vivemos;
70 2. A clareza e a transparência são elementos essenciais de todos os processos
comunicativos no espaço público, sejam os que se dedicam à informação jornalística,
sejam os que tratam da comunicação persuasiva, e as zonas de ambiguidade ou de
confusão deliberada acabam por prestar um mau serviço aos destinatários últimos
destes processos;
71 3. Só com um esforço continuado de clareza – que é tributário de uma incontornável
exigência ética – pode o jornalismo recuperar a credibilidade que aqui e ali lhe vem
faltando, mas que é essencial para estabelecer com os cidadãos uma relação de
confiança, mesmo (ou sobretudo) num contexto em que se torna cada vez mais difícil
distinguir o trigo do joio, o verdadeiro do ‘fake’, o livre do condicionado, o
independente do vendido e comprado.
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NOTAS
1. As principais publicações portuguesas desenvolveram gabinetes próprios que oferecem aos
clientes este tipo de serviços, chamados ‘branded content’. Ver por exemplo os casos do Público
(https://comunique.publico.pt/publicidade/estudio-p.html), do Jornal de Notícias (https://
www.jn.pt/brandstory.html), do Correio da Manhã (https://www.cmjornal.pt/mais-cm/marcas) ou
do Observador (https://observador.pt/perfil/obslab/).
2. Cf. Kylie Ora Lobell (S/D), https://www.contentharmony.com/blog/journalists-make-great-
content-marketing-writers/ , consultado em 18/9/2019.
3. Mesmo com identificação apropriada, as exigências de clareza não são adequadamente
preenchidas, pois, como têm evidenciado diversos estudos, até pessoas muito familiarizadas com
o universo online e as redes sociais não conseguem distinguir um conteúdo patrocinado de um
texto noticioso (cf. Jarvis, 2016).
4. Ver Estatuto do Jornalista, artigo 3.º - Incompatibilidades
(disponível em https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/34438975/view?
consolidacaoTag=Comunica%C3%A7%C3%A3o+Social).
5. Recorde-se, a propósito, que o enquadramento legal destas matérias, nomeadamente a questão
das incompatibilidades para os jornalistas, existe em Portugal mas não noutros países (como é o
caso frequentemente referido do Brasil).
RESUMOS
A constituição do jornalismo enquanto profissão passou pela definição de um território próprio e
pela correspondente demarcação de fronteiras, de modo a incluir os legítimos trabalhadores do
ofício e a excluir os outros. Mas estas fronteiras têm-se tornado porosas, ameaçadas que estão por
atividades próximas que reclamam ser consideradas em plano de igualdade com os profissionais
encartados. Em complemento, tem-se assistido à proliferação, nos media, de produtos que
parecem jornalísticos mas são de facto publicitários, bem como ao trânsito de profissionais do
jornalismo para domínios da comunicação estratégica, o que lança alguma confusão junto do
público sobre “quem é quem”. Neste artigo procuramos fazer uma reflexão sobre estas
tendências, complementando-a com um inquérito junto de profissionais que trocaram o
jornalismo por outras atividades da comunicação, no sentido de perceber as suas motivações e
expectativas.
The construction of journalism as a profession implied the definition of a specific territory and
the demarcation of its boundaries, in order to include the legitimate workers of the job and to
exclude all the others. But these boundaries are becoming porous and threatened by
neighbouring activities that demand to be treated like the journalists that own a professional
license. Besides that, different media have been developing a variety of ‘products’ that somehow
look like journalism, but in fact are pieces of advertisement (content marketing). Together with
this trend, a number of professional journalists are moving to jobs belonging to the domain of
the so-called “strategic communication” or “persuasive communication”, which causes some
confusion in the public about “who is who”. In this article, we reflect about these new trends and
present the results of a survey among professionals that left journalism for other communication
jobs, trying to understand their motivations and expectations.
ÍNDICE
Keywords: journalism, professionalization, boundary, ethics, transparency
Palavras-chave: jornalismo, profissionalização, fronteira, ética, transparência
AUTOR
JOAQUIM FIDALGO
Departamento de Ciências da Comunicação, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho
[email protected]