SALVAMENTO PROVIDENCIAL NO MAR

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 3

HISTÓRIAS - FUNDAMENTAL 0001

SALVAMENTO PROVIDENCIAL NO MAR


Pérolas Esparsas

A Sra. Steinhauer, de Battle Creek, Estados Unidos, conta


abaixo o interessante episódio de uma viagem que fez em
navio de vela da Ilha Jamaica a Nova Orleans, em companhia
de seus pais. Eram estes missionários que, havendo
trabalhado a ponto de ficar com a saúde combalida, se viram
obrigados a transferir-se para um clima mais fresco.
Resolveram, pois, dirigir-se ao ponto acima referido. Durante
a viagem um vento forte havia desviado o navio para longe de
sua rota, seguindo-se então uma calmaria completa, que
impossibilitava todo movimento da embarcação. Estando esta
aprovisionada apenas para poucos dias, tornou-se logo
necessário distribuir o alimento em rações, aos passageiros e
à tripulação.
Diz a Sra. Steinhauer: "Quando os dias se prolongaram a
ponto de se converterem em semanas, nossos sofrimentos
tornaram-se em extremo tormentosos. Bem me lembro de
estar a roer uma luva de pelica para obter dela algumas
partículas nutritivas.
Recebíamos meio biscoito e um pequeno copo d'água cada
vinte e quatro horas – quota demasiadamente pequena de
alimento e ainda mais insuficiente de água, debaixo do Sol
abrasador da zona semitropical. ...
"Alguns passageiros tragavam a sua porção de água
imediatamente ao recebe-la; outros acariciavam-na com
veemente avidez, como se receassem que alguém, mais forte
do que eles, lhas arrebatasse. Por fim, devido à sede
prolongada, a língua se nos inchou a ponto de mal podermos
fechar a boca. Minha mãe achava que mergulhar faixas de
pano em água do mar, enrolando-as em seguida, molhadas,
em volta do pescoço, lhe proporcionava algum alívio. Era com
efeito para enlouquecer o ver a água em volta de nos sem
podermos mitigar a sede.
"Ao cabo de quatro longas semanas decidiu-se que, a fim de
fazer a parca porção de víveres durar mais uns dias, um
homem fosse atirado ao mar. A sorte devia ser lançada à
noite, mas a decisão não seria manifesta até pouco antes de
serem distribuídas as rações, no dia seguinte, na esperança
de que viesse algum salvamento antes de se proceder à
execução dessa medida.
"Meu pai e um cavalheiro espanhol dormiram no convés, ao
passo que minha mãe e eu, sendo as únicas pessoas do sexo
feminino, além da esposa do comandante e de mais três
senhoras de terceira classe, nos retiramos para os nossos
beliches.

www.4tons.com 1
Pr. Marcelo Augusto de Carvalho
HISTÓRIAS - FUNDAMENTAL 0001
"Escusado é dizer que já durante todos os dias anteriores
foram muitas as orações feitas, mas minha mãe resolveu
passar toda a noite em súplicas a Deus, o que, com efeito,
fez.
Cedo de manhã, adormeceu exausta, sendo acordada pela voz
de meu pai, que dizia:
"- Minha esposa, parece-nos que avistamos ao longe a vela de
um navio.
"- Oh! exclamou minha mãe em tom abatido, este navio
passará como os demais que avistamos."
"Havíamos sido atormentados pela vista de muitos navios
que, quais pontos negros, apareciam no horizonte ocidental,
mas conservaram-se sempre a tão grande distância que não
nos foi possível chamá-los à fala, nem mesmo que eles vissem
nosso sinal de desespero. Depois, recordando-se de sua
ocupação durante a noite, ela acrescentou, arrependida: 'Não,
Deus me perdoe! é Ele quem ouviu a minha oração; o navio
virá em nosso socorro.
"- Não estejas demasiado certa, minha esposa, disse meu pai,
ternamente; pois, não quero que fiques desapontada.
Naturalmente, se for a vontade de Deus, o navio virá em
nosso socorro.
"É a Sua vontade, replicou confiadamente minha mãe. Estou
certa de que a salvação está próxima.
"Vestimo-nos o mais depressa possível e, em seguida,
subimos as escadas para o convés. Jamais me esquecerei da
cena que se desdobrou ante os meus olhos. Ali, ao lado do
navio de onde se avistava o objeto que esperávamos nos
trouxesse o almejado socorro, estavam reunidas todas as
pessoas de bordo. Não se falava nenhuma palavra, mas a
simples vista não se podia discernir coisa alguma; em silêncio
mortal o óculo de alcance do navio passou de um para outro,
a fim de todos olharem.
"Parece, de fato, um navio. Sim, agora estávamos certos de
que a nossa esperança havia tomado forma sólida. Mas viria o
navio em direção ao sítio onde nos achávamos? ou vêlo-
íamos desaparecer da vista como o navio dum sonho?
"Mas não; mais e mais o navio se aproximava de nós. Em
breve o enxergávamos a olho desarmado. Sinais, não os
podíamos fazer, pois estávamos demasiados fracos e
extenuados. O navio, porém, ia chegando, não obstante, em
linha reta. Finalmente nos deram voz:
"- Navio, olá!
"Mas nenhum dos homens a bordo tinha força suficiente para
responder.
"Apesar de não obter resposta, a embarcação continuava a
aproximar-se até chegar bem perto do nosso infeliz navio,
quando se arreou um bote no qual tomaram lugar quatro
homens, sendo um deles, ao que parecia, o comandante. A
suprema ânsia daquele momento acha-se-me impressa
www.4tons.com 2
Pr. Marcelo Augusto de Carvalho
HISTÓRIAS - FUNDAMENTAL 0001
indelevelmente na memória, embora fosse eu naquele tempo
uma simples criança.
"O comandante foi o primeiro a abordar o nosso navio, e ao
subir ao convés, vendo a nossa miséria, tirou o chapéu e disse
em voz solene:
"- Agora creio que há um Deus no Céu!
"Verificou-se ser o navio um daqueles rebocadores que levam
outros navios para o porto. Por lei esses rebocadores estão
obrigados a não se afastar senão até certa distância do porto.
(Era pelo menos, assim naquele tempo.) Mas a narração que
nos fez o comandante foi assaz singular:
"Tendo ido até onde a lei lhe permitia, sentiu-se impelido, por
força inexplicável, a continuar a marcha, e isto apesar de não
se avistar ao longe nenhum navio. Seu piloto protestou contra
isso, lembrando-lhe a multa em que incorria.
"- Não posso resistir! Sou forçado a prosseguir viagem! foi a
única resposta.
"Pouco depois começou a sofrer um desesperado enjôo, coisa
que não lhe tinha acontecido havia vinte anos, e viu-se
forçado a retirar-se para o camarote; mas mesmo assim
recusou-se a voltar, dando ordens que se fizessem ao mar.
Então a tripulação rebelou-se, pois já começavam a sentir
falta de provisão, e resolveram assumir eles próprios a
direção do navio, julgando que o comandante perdera a
razão.
"Neste ponto a aflição que o atormentava tornou-se
agoniante, e implorou-lhes que continuassem a viagem,
prometendo que, se ao nascer do Sol do dia seguinte não se
lhes deparasse coisa alguma que justificasse a sua ação,
abandonaria o projeto e voltaria ao porto.
"A isto os tripulantes acederam, com relutância; e, ao clarear
o dia, o homem no cesto da gávea avisou que via, ao longe,
um objeto escuro e imóvel.
"- Aproai ao mesmo! exclamou o comandante
peremptoriamente. É isso mesmo o que procuramos.
"Nesse mesmo instante lhe passou o enjôo, e ele reassumiu o
posto de comando, como dantes. Quando, al alcançar-nos,
deu com os olhos sobre os corpos macilentos e nossa
desconsolada miséria, apossou-se dele com força irresistível -
embora tivesse sido ateu havia muitos anos - a convicção de
que um poder sobrenatural o havia guiado, e de que existia
um Deus no Céu. Mais tarde, quando soube como minha
extenuada mãe havia passado a noite em oração, ampliou a
sua fé a ponto de incluir o fato de ser esse Deus um Deus que
ouve as orações de Seus filhos e a elas atende."

www.4tons.com 3
Pr. Marcelo Augusto de Carvalho

Você também pode gostar