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Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Escola de Engenharia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

FACEAMENTO DE SOLO GRAMPEADO COM MALHAS DE AÇO-


ESTUDO DOS CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

Bruno Denardin da Rosa

Porto Alegre
2015

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


1

BRUNO DENARDIN DA ROSA

FACEAMENTO DE SOLO GRAMPEADO COM MALHAS DE


AÇO- ESTUDO DOS CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em


Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em
Engenharia

Porto Alegre
2015

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
2

BRUNO DENARDIN DA ROSA

FACEAMENTO DE SOLO GRAMPEADO COM MALHAS DE


AÇO – ESTUDO DOS CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

Esta dissertação de Mestrado foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM
ENGENHARIA, Geotecnia, e aprovada em sua forma final pelos professores orientadores e
pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.

Porto Alegre, 3 de Julho de 2015

Prof. Luiz Antônio Bressani


Dr. pelo Imperial College of Science and
Technology, Reino Unido
orientador

Prof. Carlos Torres Formoso


Coordenador do PPGEC/UFRGS

BANCA EXAMINADORA

Prof. Washington Peres Núñez


Dr. Pela UFRGS

Profa. Maria Esther Soares Marques (IME)


Drª. pela COPPE/UFRJ

Eng. Felipe Gobbi Silveira


Dr. pela UFRGS

Eng. Álvaro Pereira


Dr. pela UFRGS

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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Dedico este trabalho à meus pais, Edison e Núbia, e a


minhas irmãs, Ana Lúcia e Verônica, por todo amor
carinho e compreensão.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
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AGRADECIMENTOS

O primeiro agradecimento que gostaria de fazer é para minha toda a minha família, em
especial, para meus pais, Edison e Núbia da Rosa, que durante toda a vida tiveram como
principal preocupação e objetivo prover a mim e a minhas queridas irmãs uma educação de
qualidade, abrindo mão de alguns de seus sonhos para que nós pudéssemos ter a chance
alcançar os nossos. Impossível deixar de falar que a educação também se constrói com base
em exemplos, que para mim foi um caráter exemplar de um pai e uma mãe que sempre nos
incentivaram e nos mostraram a diferença entre o certo e o errado, que tiveram um papel
fundamental para que eu chegasse até aqui.

As minhas irmãs, Verônica e Ana Lúcia, agradeço pelo exemplo que me deram, me ensinando
e protegendo, principalmente na hora das brigas com a turma da rua. Também agradeço por
sempre terem sido fonte de incentivo, pois sempre vi as suas brilhantes conquistas admirado,
e sempre pensei que um dia elas pudessem ver as minhas e sentir-se da mesma maneira. Por
isso e muito mais, eu deixo aqui meu muito obrigado a vocês, que sempre foram e sempre
serão meus maiores ídolos.

Para minhas tias e tios, em especial a tia Nara, Naia, Anita, Rosane, Sérgio, Clóvis, e
Rubinho, não posso deixar de agradecer imensamente por todos contribuíram de uma maneira
ou de outra para a minha formação. Aos meus queridos primos, que sempre foram parceiros
para todas as situações deixo a minha lembrança.

Também agradeço a todos os meus amigos, e casualmente, colegas e ex-colegas de trabalho,


Felipe, Anderson, Marcelo, Álvaro, Vitor, Patrícia, Astrid, Álisson e Adriano por todo o
apoio, incentivo e compreensão que foram gentilmente ofertados por eles durante a execução
do trabalho. Somado a tudo isso, quero agradecer imensamente pelo apoio técnico que estes
colegas de profissão me deram, auxiliando no desenvolvimento do trabalho, com suas
sugestões e ideias, que tenho certeza enriqueceram o trabalho.

Gostaria de fazer um agradecimento especial ao Felipe e Maria Teresa, que juntos acreditam
em mim, e investiram tempo e recursos para a realização do trabalho, viabilizando o
desenvolvimento e construção de todos os equipamentos utilizados para a obtenção dos
dados. necessários para a elaboração da minha dissertação.

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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Ao meu orientador, e mestre, o Prof. Bressani deixo a minha enorme gratidão, pois durante
este período da minha vida ele sempre me apoiou e foi solicito para as minhas dúvidas e
questionamentos, sendo muito gentil e atencioso em todas as situações. Agradeço
imensamente por todo o conhecimento que foi transmitido por este professor, que me fez
enxergar a vastidão da engenharia geotécnica, na qual estou dando os primeiros passos.

Também agradeço a professora Esther, professora do IME, que cordialmente cedeu o espaço
para a realização de parte dos ensaios apresentados na dissertação. A esta professora deixo o
muito obrigado, e lembro que ela contribuiu para a realização dos ensaios, acompanhando o a
execução dos mesmos, compartilhando as suas ideias.

À equipe da Martins Campelo tem minha gratidão pelo exímio trabalho realizado no
desenvolvimento e construção das prensas e pórticos utilizados neste trabalho, além de todo o
apoio técnico de sua equipe, que foi cordialmente cedida para apoiar a realização dos ensaios
em sua fábrica.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
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“Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os


ombros de gigantes”
Isaac Newton

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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RESUMO

Da Rosa, B. D. Faceamento de solo grampeado com malhas de aço – Estudo dos critérios de
dimensionamento. 2015. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre.

O uso de sistemas de faceamento flexíveis com malhas metálicas é uma alternativa viável
ao uso do concreto projetado como faceamento em sistemas de solo grampeado. Vários
modelos de malhas são empregados hoje para este uso, sendo classificados pela resistência
à tração no sentido longitudinal. Mesmo que relevante, segundo Cala et al., (2012),
somente este dado é insuficiente para o correto dimensionamento destas soluções. A
presente pesquisa busca identificar quais os parâmetros de resistência são necessários para
o dimensionamento de um faceamento em malha metálica. Para tanto foram avaliadas duas
metodologias desenvolvidas especificamente para as malhas aplicadas junto com a solução
de solo grampeado, os métodos Ruvolum e Macro1. Foram então desenvolvidos
equipamentos, similares aos utilizados por Roduner (2011) e Cala et al. (2012), para
caracterizar 4 diferentes modelos de malhas, avaliando a resistência das mesmas frente aos
esforços considerados nos modelos de cálculo investigados, tração e o cisalhamento no
contato malha/grampo. Deste modo, foram utilizados resultados de ensaios em escala real
com a simulação de um talude em solo tratado com as 4 malhas, para a validação dos
métodos de dimensionamento, e para investigar quais os parâmetros de resistência da
malha são mais importantes. Como resultado foram determinadas as resistências das
malhas avaliadas, sendo a de tração no sentido longitudinal entre 50 e 140 kN, e a
resistência no contato malha/grampo, que variou entre 10 e 30 kN. Por fim foi realizada
uma análise paramétrica com o método Ruvolum a fim de verificar a influência na variação
da coesão, espessura instável e ângulo de atrito, dados nem sempre bem definidos em
projeto. Os resultados mostram, como era esperado, a grande sensibilidade da variação nos
resultados frente aos efeitos da coesão, sendo então recomendado, como em qualquer
análise de estabilidade cautela no uso deste parâmetro. A análise destes resultados permite
concluir que o método mais adequado para modelar um talude em solo grampeado com
face em tela foi o Ruvolum, com previsões que se aproximaram das medições reais dos
ensaios de campo.

Palavras-chave: solo grampeado; faceamento; telas de metálicas; ensaios de campo e


laboratório.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
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ABSTRACT

Da Rosa, B. D. Soil nail facing with steel meshes – Design parameters study. 2015. Master
thesis ( Engineering Master). Graduate program of Civil Engineering of UFRGS, Porto
Alegre.

The use of flexible facing systems with steel meshes is a viable alternative to the use of
shotcrete as facing in soil nailing systems. Currently several different models meshes are
being used today for this purpose, being classified only by the tensile strength in the
longitudinal direction of the mesh. Even though this parameter is quite relevant, alone it
cannot be used to design the flexible facing systems. So this research aims to identify
which steel mesh strength parameters are really needed for the correct dimensioning of
such solutions. In order to do so two calculation methodologies, specially developed for
steel meshes design, were investigated. The design models are called Ruvolum and Macro1
Equipments were developed, similar to those presented in Cala et al. (2012), to investigate
four different models of mesh, in order to find the strength parameters presented on the
studied calculation models, being than tensile and shear. Thus, to validate the investigated
design methodologies, field tests results were compared to the models predictions. As
product of the research it was possible to determine the tensile strength of the 4 meshes
models, being then ranging from 50 and 140 kN. Also it was possible to define the shear
resistance in the nail head/mesh contact, which ranges from 10 to 30 kN. The last step of
the research was a parametric analysis, performed with the Ruvolum method to evaluate
the influence on the variation of cohesion, unstable thickness and friction angle in the
predictions, since this data aren’t always available in ordinary projects. These analysis
have showed that the most influent parameter is cohesion, one that is very hard to
determine. Also it was found by the results analysis that the appropriate calculation model
to simulate a slope stabilized with soil nail and steel meshes facing is the Ruvolum, due the
closeness of the predictions to the real field data.

Keywords: soil nailing; facing; metal screens; Field and laboratory tests.

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17

1.1 Problemática da pesquisa ......................................................................................... 17


1.2 Objetivos................................................................................................................... 18
1.3 Organização da Dissertação...................................................................................... 19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 20

2.1 Solo grampeado ........................................................................................................ 20


2.1.1 Histórico de desenvolvimento .......................................................................... 20
2.1.2 Definições ......................................................................................................... 22
2.1.3 Aplicações ........................................................................................................ 23
2.1.4 Metodologias executivas .................................................................................. 26
2.1.5 Interação Solo/Grampo ..................................................................................... 27
2.1.6 Modelos de Ruptura ......................................................................................... 32
2.1.7 Dimensionamento ............................................................................................. 36
2.2 Sistemas de faceamento ............................................................................................ 41
2.2.1 Concreto Projetado ........................................................................................... 41
2.2.2 Sistemas de Faceamento em Telas Metálicas ................................................... 48

3 DESCRIÇÃO DE ENSAIOS E EQUIPAMENTOS ............................................... 70

3.1 Ensaios realizados em escala real ............................................................................. 70


3.1.1 Equipamentos e montagem ............................................................................... 70
3.1.2 Instrumentação utilizada no ensaio................................................................... 73
3.2 Ensaios de laboratório .............................................................................................. 76
3.2.1 Prensa para ensaio de tração ............................................................................. 76
3.2.2 Pórtico utilizado para o ensaio de tração .......................................................... 78
3.2.3 Pórtico do ensaio de resistência ao cisalhamento placa/malha......................... 80
3.2.4 Ensaio de puncionamento ................................................................................. 83

4 MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 84

4.1 Materiais utilizados na pesquisa ............................................................................... 84


4.1.1 Telas metálicas utilizadas ................................................................................. 84
4.1.2 Placas de fixação .............................................................................................. 85
4.1.3 Material utilizado como solo nos ensaios em escala real ................................. 86

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
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4.2 Procedimentos dos ensaios ....................................................................................... 87


4.2.1 Metodologia dos ensaios de tração ................................................................... 88
4.2.2 Ensaios de Resistência Malha/Placa ................................................................. 90
4.2.3 Ensaio de Puncionamento ................................................................................. 92

5 APRESENTAÇÃO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................... 95

5.1 Ensaios de tração ...................................................................................................... 95


5.1.1 Malha metálica modelo TECCO G65/2 mm .................................................... 95
5.1.2 Malha metálica modelo DELTAX G80/2 mm ................................................. 97
5.1.3 Malha metálica modelo TECCO G65/3 mm .................................................... 98
5.1.4 Comentários gerais sobre os resultados .......................................................... 100
5.2 Ensaios de resistência ao cisalhamento malha/placa .............................................. 102
5.2.1 Malha TECCO G65/2mm............................................................................... 102
5.2.2 Malha DELTAX G80/2mm ............................................................................ 103
5.2.3 Malha TECCO 65/3mm ................................................................................. 104
5.2.4 Malha TECCO 65/4mm ................................................................................. 105
5.2.5 Comentários sobre os resultados .................................................................... 106
5.3 Ensaios de resistência ao puncionamento............................................................... 107
5.3.1 Resultados do ensaio de puncionamento sem a tela metálica ........................ 108
5.3.2 Resultados dos ensaios de puncionamento com a tela metálica ..................... 109
5.4 Ensaios em escala real ............................................................................................ 112
5.4.1 Deformação do sistema – escaneamento a laser............................................. 112
5.4.2 Cargas atuantes ............................................................................................... 115

6 AVALIAÇÃO DAS METODOLOGIAS DE DIMENSIONAMENTO............... 122

6.1 Modelo de cálculo ruvolum .................................................................................... 122


6.1.1 Verificação das instabilidades paralelas à superfície ..................................... 122
6.1.2 Verificação das instabilidades entre dois grampos ......................................... 125
6.2 Método de cálculo MACRO 01 .............................................................................. 128
6.2.1 Determinação dos esforços ............................................................................. 128
6.2.2 Verificação do sistema de faceamento ........................................................... 129
6.2.3 Análise paramétrica ........................................................................................ 131

7 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................. 135

7.1 Conclusões .............................................................................................................. 135


7.1.1 Conclusões em relação aos ensaios de tração nas malhas de aço ................... 135

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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7.1.2 Conclusões em relação ao ensaio de resistência no contato malha/placa....... 135


7.1.3 Conclusões em relação ao ensaio em escala real ............................................ 136
7.1.4 Conclusões em relação aos métodos de dimensionamento ............................ 137
7.1.5 Sugestões para trabalhos futuros .................................................................... 138

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 140

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Técnicas para a execução de túneis com revestimento rígido (a) e flexível (b).
Adaptado de Ortigão et al. (1993). ........................................................................................... 21
Figura 2: Exemplos de elementos de reforço. Adaptado Byrne et al. (1998) .......................... 22
Figura 3: Principais aplicações de solo grampeado (a) escavação, (b) estabilização de talude e
(c) recomposição de talude. Solotrat (2012) ............................................................................. 24
Figura 4: Seção tipo de um grampo. Adaptado de Geoguide 7 (2008) .................................... 27
Figura 5: Montagem de um ensaio de arrancamento. Adaptado de Ortigão e Sayão (2000). .. 29
Figura 6: Zonas dentro do talude estabilizado com grampo. Adaptado de Conceição (2011) . 30
Figura 7: Transferência de esforços ao longo do grampo. Adaptado de Lazarte et al. (2003) 31
Figura 8: Esforços atuantes nos grampos (a) distribuição dos esforços no grampo dentro do
talude Geoguide 7 (2008), (b) configuração dos esforços, diagramas dos esforços atuantes na
interface solo/grampo e forças de tração no grampo. Adaptado Lazarte et al. (2003)............. 32
Figura 9: Tipos de rupturas externas. Adaptado de Geoguide 7 (2008) ................................... 34
Figura 10: Rupturas internas adaptado de Geoguide 7 (2008) e Lazarte et al. (2003) ............. 35
Figura 11: Modelo geomecânico para o cálculo do fator de segurança, utilizando uma
superfície planar de ruptura. (adaptado de Byrne et al. (1998)). .............................................. 38
Figura 12: Exemplos de aplicação de concreto projetado. (a) talude rodoviário RTA (2005)
(b) talude urbano (solotrat.com.br acessado em 08/06/2014) .................................................. 43
Figura 13: Bombeamento Via Seca. Adaptado de Oraee-Mirzamani et al. (2011).................. 46
Figura 14: Bombeamento Via úmida. Adaptado de Oraee-Mirzamani et al. (2011). .............. 47
Figura 15: Solução típica de faceamento utilizando malhas de aço e solo grampeado.
Adaptado de (a) Roduner e Balg (2010) e (b) Cardoso et al. (2006). ...................................... 48
Figura 16: Retenção dos blocos de rocha no pé do talude. Adaptado de Oliveira (2010) ....... 49
Figura 17: Exemplos de aplicação de telas de aço como revestimento. Fonte: Roduner (2013)
.................................................................................................................................................. 50
Figura 18: Tela metálica associada a sistema de controle de erosão com vegetação densa.
Fonte: Yoko (2006). ................................................................................................................. 50
Figura 19: Representação instabilidade paralela à superfície. Adaptado de Cala et al. (2012)
.................................................................................................................................................. 53
Figura 20: Representação das forças atuantes no sistema. Roduner (2013) ............................. 53
Figura 21: Hipótese de corpo instável isolado Cala et al. (2012)............................................. 56
Figura 22: Cone de pressão formado abaixo da placa de fixação Roduner (2013) .................. 56
Figura 23: Mecanismos de ruptura (a) um só corpo e (b) dois corpos. Cala et al. (2012) ....... 58
Figura 24: Esforços atuantes na tela. Cala et al. (2012) ........................................................... 59
Figura 25: Modelos de ruptura considerados pelo MACRO1. Adaptado Macaferri (2014). ... 61
Figura 26: Representação do talude. Adaptado de Maccaferri (2014). .................................... 62
Figura 27: Geometria avaliada para o cálculo da massa instável. Adaptado de Maccaferri,
(2014). ...................................................................................................................................... 62
Figura 28: Exemplo de gráfico de deformação ........................................................................ 66
Figura 29: Deslocamento calculado. ........................................................................................ 66
Figura 30: Vista geral do ensaio em escala real de campo realizado em Winterthur Geobrugg
(2012) ....................................................................................................................................... 71
Figura 31: Vista interna da estrutura de madeira, Geobrugg (2012) ........................................ 72
Figura 32: Pontos de fixação da malha junto a estrutura .......................................................... 73
Figura 33: Superfície obtida durante um ensaio utilizando o sistema de escaneamento Laser
Baraniak e Schawarz (2014) ..................................................................................................... 74

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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Figura 34: Formato típico do strain gauge (adaptado de www.sensorland.com acessado em


25/06/2014)............................................................................................................................... 75
Figura 35: Aplicação dos strains gauges. Adaptado de Baraniak e Schawarz (2014). ............ 76
Figura 36: Prensa que foi utilizada na pesquisa em sua configuração original. ....................... 77
Figura 37: (a) Viga base (b) configuração final com o pórtico dos ensaios de tração. ........... 78
Figura 38: Pórtico do ensaio de tração com uma...................................................................... 79
Figura 39: Detalhes das fixações laterais do pórtico. (fonte autor) .......................................... 79
Figura 40: Visão geral do pórtico desenvolvido....................................................................... 81
Figura 41: Detalhe do funcionamento do equipamento (fonte autor) ...................................... 82
Figura 42: Detalhe do sistema de aplicação de carga (fonte autor) .......................................... 82
Figura 43: Arranjo das malhas Tecco LGA (2014). ................................................................. 85
Figura 44: Formato da placa de fixação utilizada. Adaptado de Cala et al. (2012) ................. 86
Figura 45: Materiais utilizados nos ensaios em escala real (a) Seixo Flum et al (2014) e (b)
material britado Geobrugg (2012). ........................................................................................... 87
Figura 46: Esquema de fixação da tela junto ao pórtico de tração. (fonte autor) ..................... 88
Figura 47: verificação do nível da viga de aplicação de carga. (fonte autor) ........................... 89
Figura 48: Principais pontos da montagem do ensaio (fonte: autor) ........................................ 91
Figura 49: Diferenças entre os ensaios com e sem a tela Cala et al. (2012). ........................... 93
Figura 50: Resultados dos ensaios de tração G65/2 mm .......................................................... 96
Figura 51: Resultados dos ensaios de tração G80/2 mm .......................................................... 97
Figura 52: Conjunto de amostras malha G65/3mm .................................................................. 99
Figura 53: Parafuso que sofreu escoamento durante o ensaio 15. ............................................ 99
Figura 54: Rupturas observadas nas amostras. (a) ensaio 12 (centro) - (b) ensaio 07 (bordo
inferior) - (c) ensaio 17 (bordo superior) (fonte autor) ........................................................... 100
Figura 55: Detalhe da fixação................................................................................................. 102
Figura 56: Resistência ao cisalhamento da malha no contato malha/placa. ........................... 103
Figura 57: Resultados obtidos para modelo G80/2mm .......................................................... 104
Figura 58: Resultados para o conjunto de amostras da malha G65/3mm .............................. 105
Figura 59: Gráfico carga x deslocamento malha G65/4 mm .................................................. 106
Figura 60: Detalhe do deslizamento dos arames nos pontos de contato. ............................... 107
Figura 61: Arranjo da execução dos ensaios de puncionamento no solo fonte LGA (2014) . 108
Figura 62: Curva carga x deslocamento ensaio de puncionamento em solo LGA (2014) ..... 109
Figura 63: Montagem do ensaio de puncionamento solo + tela LGA (2014). ....................... 109
Figura 64: Conjunto de resultados dos ensaios de puncionamento malha+solo LGA (2014) 110
Figura 65: Leituras com o escâner laser do ensaio de em escala real para os modelos de
malhas (a) G65/2 e (b) G65/3 mm Baraniak e Schawarz (2014). .......................................... 113
Figura 66: Detalhe da porção de solo estabilizada ................................................................. 113
Figura 67: Distribuição das cargas ......................................................................................... 114
Figura 68: Deformações para uma tela de malha quadrada, Geobrugg (2014) ...................... 115
Figura 69: Grampos instrumentados Baraniak e Schawarz (2014). ....................................... 116
Figura 70: Esforço de puncionamento. Adaptado de Baraniak e Schawarz (2014). .............. 118
Figura 71: Carga atuante no grampo que causa a flexão, Adaptado Baraniak e Schawarz
(2014). .................................................................................................................................... 119
Figura 72: Flexão do grampo na região de ruptura do ensaio 01. Baraniak et al. (2014) ...... 124
Figura 73: Resultados da análise paramétrica ........................................................................ 134

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Tipos e características dos grampos mais utilizados no Brasil. Adaptado de Ortigão
e Sayão (2000). (*Tensão de ensaio ** Tensão de trabalho) .................................................. 23
Tabela 2: Valores típicos de Qs utilizados. Adaptado de Elias e Juran (1990) ........................ 28
Tabela 3: Dimensões das amostras utilizadas: ......................................................................... 85
Tabela 4: Parâmetros característicos dos materiais .................................................................. 87
Tabela 5: Número de amostras por ensaio realizado ................................................................ 95
Tabela 6: Resumo dos resultados de puncionamento do conjunto solo + malha ................... 111
Tabela 7: Resistência ao puncionamento das malhas ............................................................. 111
Tabela 8: Resumo dos resultados. Adaptado de Baraniak et al. (2014) ................................. 121
Tabela 9: Cálculo do esforço de cisalhamento. ...................................................................... 123
Tabela 10: Cálculo do esforço de puncionamento ................................................................. 126
Tabela 11: Verificação do volume atuante ............................................................................. 129
Tabela 12: Cargas atuantes nos ensaios.................................................................................. 129

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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LISTA DE SÍMBOLOS

𝐴: Área
𝑎 espaçamento horizontal entre os grampos
𝑎𝑟𝑒𝑑 : espaçamento horizontal equivalente
𝑏: espaçamento vertical entre os grampos
α: inclinação do talude
β: inclinação crítica do plano de falha
𝑐: coesão do solo
𝛿: inclinação do cone de estabilização
𝐷𝑝𝑙𝑎𝑡𝑒 :diâmetro da placa
𝑑𝑡 : incremento na tração
𝑑𝑥 : incremento no comprimento
ξ: raio da base do tronco do cone
ζ: raio do topo do tronco de cone
𝐹𝑠 : Fator de segurança
𝑓𝑦 : tensão de escoamento do aço
φ: ângulo de atrito do material
φf : diâmetro da perfuração
𝜑𝑗 : ângulo de atrito da junta
𝐺 : força peso
𝐻: altura
kN: kilonewton
𝐿 : medida de comprimento
𝐿 : comprimento injetado
𝑁: força normal
η: espaçamento horizontal corrigido
𝜓: ângulo entre a força de pré tensionamento e a horizontal
𝑃: esforço de puncionamento
𝑃𝑟 : resistência ao puncionamento
𝑃𝑑 : esforço ao puncionamento de projeto (majorado)
𝑄𝑠 : aderência solo/grampo
q: aderência solo/grampo unitária
R: reação do solo
Rg: reação do grampo
S: esforço de cisalhamento
𝑆𝑟 : resistência ao cisalhamento
Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
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𝑆𝑑 : esforço de cisalhamento de projeto ( majorado)


𝑡: espessura da camada instável
𝑇 : carga de tração
𝑇𝑒𝑛𝑠 : carga de tração de ensaio
𝑇𝑚á𝑥 : carga de tração máxima
𝑇𝑟 : Resistência a tração da barra
𝑇𝑡𝑟𝑎𝑏 : carga de tração de trabalho
V: tensão de pré tensionamento
𝑉𝑑 : tensão de pré tensionamento de projeto ( majorado)
𝑍:esforço absorvido pela malha no contato com a placa de fixação
𝑍𝑟 : resistência da malha no contato com a placa de fixação
𝑍𝑑 : absorvido pela malha no contato com a placa de fixação de projeto

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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1 INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMÁTICA DA PESQUISA

A técnica de solo grampeado é originária da engenharia de túneis, mais especificamente da


técnica NATM (New Austrian Tunneling Method), desenvolvida nos anos 50 pelo professor
Landislau Von Rabcewicz, Lima (2007), que utiliza o reforço das rochas com o uso integrado
de chumbadores e concreto projetado. O princípio por trás desta metodologia reside no fato de
que os grampos inseridos no maciço promovem um reforço e permitem pequenas
deformações do maciço estabilizado, reduzindo os esforços atuantes no revestimento e por
consequência os reforços necessários. Devido à grande aplicabilidade e bons resultados desta
técnica em rochas de competências variáveis, o seu uso foi expandido para materiais cada vez
menos resistentes, até o ponto no qual foi aplicada a taludes de solo, apresentando resultados
igualmente satisfatórios.

O uso de grampos como elemento de reforço é uma técnica bastante eficaz, tanto para taludes
de corte quanto para taludes naturais, tendo sido aplicada pela primeira vez nos anos 70 na
França, Lima (2007). Desde então a aplicação desta alternativa vem ganhando cada vez mais
espaço no nosso país.

De acordo com Silva (2010), os grampos introduzidos no maciço atuam no sentido de


estabilização de cunhas de rupturas profundas, sendo classificado como sistema de proteção
passivo, entrando em carga quando a massa de solo/rocha que envolve o elemento sofre
pequenas deformações. Devido a este fato, rupturas superficiais estão livres para se
manifestarem, por isso geralmente a técnica de solo grampeado está associada a um sistema
de faceamento, que tem por função estabilizar as possíveis rupturas superficiais que possam
vir a ocorrer na face do talude. A solução clássica para o faceamento é o concreto projetado,
que já está bem consolidada como faceamento no cenário mundial.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
18

Nas últimas duas décadas, um sistema de faceamento composto por telas de aço e placas de
fixação tem sido desenvolvido e ganhado espaço como alternativa ao concreto projetado. No
Brasil, inúmeros modelos de telas, que apresentam diferentes arranjos de fios e resistências
associadas são empregados como faceamento de taludes. Estas diferentes concepções são
classificadas somente pelos critérios de resistência à tração longitudinal, geralmente em
ensaios de carga em amostras com um metro de largura. Embora este parâmetro seja
importante, por si só não é capaz de caracterizar por completo um sistema deste tipo, pois não
é o único parâmetro de dimensionamento. Somado a esta problemática, o dimensionamento
destes sistemas nem sempre é realizado corretamente, devido à falta da padronização e
normas que guiem os engenheiros responsáveis para um projeto adequado.

Extensas pesquisas sobre o assunto já foram realizadas por Cala et al. (2012), Roduner (2011)
entre outros pesquisadores no cenário internacional, sendo este assunto ainda incipiente no
nosso país. Portanto, a presente pesquisa irá deter-se ao estudo destes materiais como sistema
de faceamento, avaliando quais os parâmetros relevantes que devem ser conhecidos, bem
como a verificação dos métodos utilizados para o dimensionamento destas soluções.

1.2 OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é verificar quais os parâmetros são relevantes para o


dimensionamento de sistemas de faceamento flexíveis, aqui representados pelas telas
metálicas, avaliando os parâmetros de resistência das malhas em conjunto com o material que
compõe o talude. O objetivo é verificar se os métodos utilizados no dimensionamento
correspondem ao comportamento real obtido através de ensaios de campo.

Para atingir o objetivo geral da pesquisa foram estabelecidos os seguintes objetivos


específicos:

a) Buscar e definir métodos de dimensionamento que são utilizados atualmente


para o projeto de telas metálicas. Definir claramente quais as considerações e
hipóteses utilizadas para o projeto das telas metálicas, buscando a
compreensão destas e apontando quais os parâmetros de resistência são
necessários para o seu correto dimensionamento;

b) Adaptar os ensaios de laboratório utilizados internacionalmente para


obtenção dos parâmetros de resistência das telas, e ensaiar amostras de

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


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malhas metálicas para obter os parâmetros que são utilizados nos métodos de
dimensionamento pesquisados;

c) Comparar as previsões com os dados de ensaios em escala real, verificando


se as estimativas são próximas da realidade;

d) Realizar uma análise paramétrica do modelo, verificando qual das


considerações de cálculo é a mais próxima das dos dados reais.

1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

A presente dissertação é composta por sete capítulos que estão divididos da seguinte maneira:

a) Capítulo 1: Introdução – capítulo introdutório, onde são apresentados o


problema e relevância da pesquisa e são definidos os objetivos gerais e o
objetivo específico do trabalho.

b) Capítulo 2: Revisão bibliográfica – contém uma revisão com os tópicos de


interesse para o desenvolvimento da pesquisa;

c) Capítulo 3: Descrição de Ensaios e equipamentos – apresenta os equipamentos


utilizados no desenvolvimento da pesquisa. Neste capítulo todo o maquinário
utilizado tanto para os ensaios de campo quanto para os ensaios de laboratório.

d) Capítulo 4: Materiais e métodos  apresentam os materiais utilizados no


desenvolvimento da pesquisa bem como os principais procedimentos seguidos
na realização dos ensaios. Todos os detalhes e normas que guiam os ensaios
realizados estão apresentados neste capítulo.

e) Capítulo 5: Apresentação da análise dos resultados – detalhadamente todos os


dados coletados no desenvolvimento da pesquisa e alguns comentários sobre os
mesmos.

f) Capítulo 6: Avaliação das metodologias de dimensionamento – neste capítulo


serão apresentadas as previsões de cálculo e comparações com ensaios em
escala real

g) Capítulo 7: Conclusões e considerações finais – neste capítulo estão contidas as


conclusões gerais e sugestões para trabalhos futuros.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
20

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 SOLO GRAMPEADO

2.1.1 Histórico de desenvolvimento


O uso da técnica de solo grampeado como sistema de estabilização é originário do
procedimento de estabilização de túneis NATM (New Austrian Tunneling Method),
desenvolvida pelo professor Landislau Von Rabcewicz nos anos 50, e aplicada pela primeira
vez na década de 60. A técnica NATM foi desenvolvida para suprir a necessidade de
estabilização nas paredes laterais que surgiam gradativamente com o avanço da frente de
escavação dos túneis, consistindo em instalar grampos dentro do maciço rochoso e revestir a
face das paredes laterais utilizando uma delgada camada de concreto projetado, com espessura
variando entre 10 e 30 cm, e malhas metálicas desempenhando o papel de armaduras, sistema
ilustrado na Figura 1 (b).

Lima (2007) aponta que o fino revestimento de concreto armado tem um comportamento
flexível, permitindo que o maciço rochoso sofra pequenas deformações, aliviando parte das
tensões geradas e ao mesmo tempo mobilizando uma parte da resistência interna da rocha,
condição que possibilita a redução na espessura do revestimento e por consequência reduz os
custos para estabilizar as paredes do túnel. Em contra partida, Ortigão et al. (1993) afirmam
que estas pequenas deformações que ocorrem no maciço rochoso geram zonas de
plastificação nas rochas, sendo necessários reforçá-las pela inserção dos grampos. A Figura 1
(a) representa a solução tradicional utilizada antes do desenvolvimento do NATM, que utiliza
revestimentos considerados rígidos, revestimentos em concreto bastante espesso e de elevada
resistência, já que nesta configuração a resistência interna do maciço não é mobilizada.

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Figura 1: Técnicas para a execução de túneis com revestimento rígido (a) e flexível (b).
Adaptado de Ortigão et al. (1993).
Originalmente o NATM foi desenvolvido e utilizado em rochas de boa qualidade, ou seja,
rochas que apresentavam elevados parâmetros de resistência, tendo para este tipo de material
um excelente resultado, mostrando-se uma solução, tanto técnica quanto economicamente,
viável. Gradativamente o campo de aplicação deste novo método foi expandido, sendo testado
em rochas mais brandas, até o ponto em que foram realizadas experiências em taludes
compostos basicamente por solos. Teixeira (2011) mostra que os primeiros relatos de
aplicação da técnica de solo grampeado em taludes datam dos anos 70, na região de Versalhes
na França e na cidade de Portland nos Estados Unidos, em taludes ferroviários e de
escavações urbanas, respectivamente.

Devido ao grande sucesso destes projetos, diversas pesquisas foram iniciadas, objetivando
compreender melhor os princípios envolvidos nesta solução, e desenvolver os fundamentos e
especificações básicas para a padronização da utilização desta técnica, ou seja, o
desenvolvimento de uma metodologia de projeto. Dentre as pesquisas ganha destaque especial
o Projeto Clouterre, financiado pelo Ministério do Transporte Francês, entre 1986 e 1990, que
tem como produto a elaboração de grande parte das metodologias utilizadas até hoje em
projetos desta natureza.

No Brasil, a técnica de solo grampeado foi utilizada pela primeira vez em meados dos anos
70, no estado de São Paulo em duas importantes obras: Taludes na barragem de Xavantes e
em emboques de túnel na movimentada rodovia dos Imigrantes, sem que o sucesso das obras
fosse devidamente divulgado, Ortigão et al. (1993). Já na década de 80 esta técnica ganhou
força no cenário de engenharia brasileiro e passou a ser utilizada mais corriqueiramente em
inúmeras construções. As primeiras pesquisas que foram desenvolvidas para avaliar o
comportamento do solo grampeado utilizado em solos tropicais, materiais tipicamente
encontrados no Brasil, ocorreram somente nos anos 90, principalmente pela ação da fundação
Geo-Rio, Pierk e Azevedo (2009).

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
22

Atualmente a técnica de solo grampeado é amplamente difundida e dominada em todo


mundo, sendo que nos últimos anos grandes saltos tecnológicos foram dados, tanto na direção
do desenvolvimento de novos equipamentos e materiais para a execução da solução como na
compreensão e métodos de análise e dimensionamento.

2.1.2 Definições

O grampeamento do solo é uma técnica utilizada para estabilizar tanto os taludes naturais
quanto os artificiais, que atende critérios técnicos e econômicos. A técnica consiste em
introduzir elementos de reforço dentro do maciço de solo/rocha, distribuídos com um
espaçamento uniforme sobre a face do talude, sendo os reforços denominados grampos ou
chumbadores. A função destes elementos é conter cunhas de ruptura profundas que possam
vir se originar dentro do maciço de solo/rocha devido à soma de inúmeras condições
desfavoráveis (carregamentos, geometria, poro-pressões, resistência dos materiais,
descontinuidades, fluxo de água, dentre outras). Neste tipo de solução é comum associar a
estes grampos um revestimento para a face do talude, um sistema de faceamento, que tem por
objetivo estabilizar e proteger contra processos erosivos a camada superficial do talude.

O elemento de reforço inserido dentro de taludes tem função de absorver os esforços gerados
pela movimentação de uma massa de solo instável dentro do talude e redistribuí-los para a
porção estável, solidarizando as duas porções de material. Segundo Byrne et al. (1998) os
grampos podem ser constituídos por barras de aço, microestacas, estacas e até mesmo
materiais sintéticos, ilustrados na Figura 2. É de extrema importância garantir que o tipo e
material que compõem o elemento escolhido como reforço apresente parâmetros de
resistência à flexão composta e cisalhamento compatíveis com os esforços atuantes previstos.

Figura 2: Exemplos de elementos de reforço. Adaptado Byrne et al. (1998)

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O reforço composto pela combinação de barras circulares de aço e injeção de calda de


cimento é o tipo o mais comum de grampo Ortigão e Sayão (2000). O sucesso deste conjunto
de elementos é devido à elevada resistência dos materiais utilizados, associada a grande
versatilidade e a disponibilidade no mercado no nacional. Em seu trabalho, Ortigão e Sayão
(2000) também destacam a necessidade de adoção de medidas de proteção das barras de aço
contra processos corrosivos, indicando a utilização de pinturas eletrolíticas e resinas epóxi,
visto que o processo corrosivo compromete parte da seção transversal das barras de aço, ou
seja, a resistência dos elementos de reforço é reduzida, diminuindo a segurança da solução
adotada. Alguns dos modelos de barras estão apresentados na Tabela 1

Tabela 1: Tipos e características dos grampos mais utilizados no Brasil. Adaptado de Ortigão
e Sayão (2000). (*Tensão de ensaio ** Tensão de trabalho)
Cargas máximas
(kN)
Diâmetro
Tipo de Aço de barra Ensaio Ensaio
(mm) (Tens*) (Ttrab**)
(kN) (kN)
Dywidag Gewi ST50/55 32 350 200
Dywidag Gewi ST85/105 32 600 350
12,5 55 30
20 140 80
CA-50
25 230 130
32 360 200
Incotep - 13 - D 22 220 125
Incotep - 22 - D 30 380 125
22 210 125
25 280 165
Rocsolo ST 75/85 28 360 200
38 660 375
41 890 510
2.1.3 Aplicações

Lima (2007), Proto da Silva (2005), Geoguide 7 (2008), Solotrat (2012) apresentam diversos
usos para o solo grampeado, sendo utilizado basicamente em três situações distintas: (a)
escavação, (b) estabilização e (c) recomposição. As situações de escavação compreendem a
execução de subsolos e novos taludes em função de ajustes da morfologia do terreno ao
projeto. Já a estabilização está ligada a taludes antigos e naturais, que devido a alterações em
alguma das condições originais (sobrecargas, alterações geométricas, fluxo de águas,
intempéries) passam a apresentar sinais de instabilidades. Por fim, a recomposição se aplica a

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
24

taludes, naturais ou artificiais que experimentaram processos de ruptura, sendo retaludados e


estabilizados com este sistema. A Figura 3: ilustra os principais tipos de aplicação de solo
grampeado.

(a) (b)

(c)

Figura 3: Principais aplicações de solo grampeado (a) escavação, (b) estabilização de talude e
(c) recomposição de talude. Solotrat (2012)

Algumas das principais razões que levam os projetistas a utilizarem o solo grampeado como
solução em seus projetos de estabilização são apontadas por Ortigão et al. (1993) , Geoguide
7 (2008), Bruce et al. (1986) e Alonso (2010), sumarizadas da seguinte forma:

 Flexibilidade: A execução desta solução não exige a utilização de grandes


equipamentos, sendo adaptável para ser aplicada em locais de difícil acesso, como por
exemplo, trechos ferroviários;
 Adaptabilidade: Esta solução é menos sensível a imprevistos geológicos e
geotécnicos, sendo que o projeto pode ser facilmente ajustado às condições
encontradas no local;
 Velocidade: A execução da perfuração, instalação e injeção dos grampos é realizada
em um curto espaço de tempo, exigindo o trabalho de pequenas equipes;

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 Impacto Ambiental: Reduz a necessidade de conformação geométrica do talude,


podendo ser utilizada em diferentes geometrias, reduzindo os volumes de corte, e por
consequência a quantidade de material de bota-fora;
 Economia: Todos os fatores acima contribuem para a redução dos custos. Ortigão et
al. (1993) cita que soluções deste tipo podem reduzir o custo global da obra em até
30%, frente a uma solução de cortina atirantada.

Os mesmos autores, Ortigão et al. (1993) , Geoguide 7 (2008), Bruce et al. (1986), também
apresentam em seus trabalhos os principais problemas e limitações oferecidos pela técnica:

 Compatibilização de projetos: Em zonas urbanas é comum que o subsolo já esteja


densamente ocupado por tubulações e fundações, elementos que podem restringir o
comprimento dos grampos, e por consequência a utilização da solução. Deste modo é
necessário adaptar o projeto para contemplar estes elementos;
 Questões Legais: Como os grampos ultrapassam os limites do terreno onde será
executada a obra, invadindo a área da propriedade vizinha é necessário obter a
permissão do proprietário para que os grampos sejam executados dentro de sua
propriedade;
 Lençol freático: Um nível de água muito elevado pode causar problemas durante a
perfuração e injeção dos grampos, além de ser um problema para a estabilidade do
talude.
 Superfícies de rupturas muito profundas: Exige grampos com comprimentos elevados
(12-15 metros), tendo como consequência uma dificuldade na execução da perfuração,
elevando o custo da execução do material;
 Permeabilidade/Fraturas: Uma alta permeabilidade do solo e um elevado grau de
faturamento das rochas favorecem a ocorrência de pontos de fuga do material de
injeção, exigindo assim um volume maior de calda de cimento, elevando a quantidade
de tempo e recursos para a execução da obra;
 Deformações: A resistência oferecida pelos grampos é mobilizada frente a pequenas
deformações do maciço de solo/rocha, condição que pode comprometer a estabilidade
estrutural de construções vizinhas ao talude estabilizado;
 Instabilidades superficiais: Somente a utilização dos grampos é insuficiente para a
estabilização do material de superfície do talude, sendo necessário utilizar um sistema
secundário para tanto.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
26

2.1.4 Metodologias executivas

Ortigão et al. (1993) e Solotrat (2012) citam que existem duas principais metodologias de
execução dos grampos, sendo a primeira por meio de cravação e a segunda por meio de
perfuração acompanhada de injeção. Adicionalmente é possível encontrar mais especificações
e recomendações executivas junto a normas brasileiras de tirantes a NBR 5629 de 2006.

A metodologia que prevê a cravação dos grampos é executada utilizando equipamentos


percussivos, por exemplo, um martelete hidráulico. Por este método as barras de aço são
posicionadas no local de instalação desejado, instalando o martelete, ou equipamento similar,
na cabeça do grampo, que é acionado cravando a barra através de sucessivos golpes. Também
é comum utilizar equipamentos pesados, como escavadeiras para introduzir as barras
metálicas dentro do maciço de solo.

A aplicação desta técnica fica restrita a taludes compostos por solo, e preferencialmente livres
de pedregulhos e matacões, que podem interferir no processo de cravação. Nestes casos, a
aderência no contato solo/grampo, atrito unitário lateral, é muito baixa geralmente da ordem
de 30 a 40 kPa, para solos arenosos. Em solos argilosos estes valores podem alcançar
patamares ainda menores, tornando a técnica desvantajosa frente às necessidades de projeto.

A execução dos grampos pelo método da perfuração, com pré-furo, com exemplo de grampo
dado na Figura 4, é a técnica mais utilizada, e consiste em perfurar o terreno, com o auxilio de
perfuratrizes hidráulicas ou pneumáticas, com diâmetros superiores ao do grampo,
comumente 53, 63, 75 e 100 mm. O grampo é então introduzido no pré-furo na posição
desejada, com o auxílio de dispositivos centralizadores, comumente espaçados em 2,0 m, cujo
objetivo é garantir o correto posicionamento do grampo dentro do furo. Junto às barras de aço
são instalados tubos de injeção perdidos, tubos de PVC, com diâmetros entre 5 e 18 mm, cuja
função é conduzir a nata de cimento para dentro da área do furo, distribuindo uniformemente
a calda no entorno da barra. Nestes tubos são previstas válvulas de injeção, pequenas
perfurações no tubo que se expandem com a pressão de injeção, permitindo o livre fluxo da
calda de cimento. Estas válvulas são espaçadas uniformemente entre 0,5 e 1,50 m,
dependendo da pressão de injeção, e características da nata de cimento. O número de tubos é
função do número de injeções que serão realizadas, sendo recomendado um tubo por injeção.

A injeção do pré-furo preenchido é realizada utilizando calda de cimento ou resinas epóxi. O


material utilizado na injeção exerce grande influência na resistência ao arrancamento,

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devendo este ser escolhido de acordo com as necessidades do projeto. Geralmente estes
materiais são injetados, sobre pressão, para garantir que o material preencha de fato o furo e
solidarize o grampo com a estrutura do solo/rocha que envolve o furo.

É recomendado um intervalo de pelo menos 12 horas entre cada processo de injeção, para
permitir o ganho de resistência do material já injetado, sem o risco de danificá-lo com a nova
injeção Esta metodologia executiva permite que a aderência na interface, solo/grampo, seja
superior, podendo atingir valores da ordem de 100 kPa para solos e 800 kPa para rochas.

Figura 4: Seção tipo de um grampo. Adaptado de Geoguide 7 (2008)

2.1.5 Interação Solo/Grampo

2.1.5.1 Aderência na interface solo/grampo

A aderência no contato solo/grampo, conhecida com Qs, é um dos parâmetros mais


importantes em projetos de solo grampeado. Este parâmetro representa a resistência máxima
ao arrancamento dos grampos quando estes são submetidos a esforços de tração. O valor de
Qs é influenciado pelas propriedades de comportamento do solo no qual o grampo foi
executado, pelas características da superfície dos grampos, pelo método construtivo, bem
como pelas propriedades de resistência da nata de cimento ou resina utilizada.

Bustamante e Doix (1985) apresentam um modelo relativamente simples para determinar a


aderência na interface solo/grampo, Equação 1. A proposta destes autores engloba todos os
fatores que influenciam neste parâmetro, podendo ser expressa da seguinte maneira:

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
28

𝐓
𝐐𝐬 = Equação 1
𝛑𝛗𝐟 𝐋𝐢
Onde Qs é a aderência no contato solo/grampo (kN/m²), T representa a carga aplicada a
grampo no momento da ruptura (kN), φf o diâmetro da perfuração (m) e Li (m) o
comprimento injetado do grampo.

Alonso (2010) cita em seu trabalho que uma estimativa inicial do valor da resistência de
aderência pode ser obtida utilizando correlações empíricas e teóricas, fornecendo ao projetista
uma ideia preliminar da magnitude do valor de Qs. Estas correlações geralmente estão
fundamentadas em resultados de Nspt, características táteis e visuais do material encontrado
no talude, bem como a experiência do projetista. Fica claro que a utilização deste método para
a determinação do Qs é limitado a uma fase preliminar do desenvolvimento de um projeto de
estabilização, sendo necessária a confirmação da hipótese de cálculo através de ensaios

A Tabela 2, apresenta alguns valores típicos de Qs para diferentes tipos de materiais.

Tabela 2: Valores típicos de Qs utilizados. Adaptado de Elias e Juran (1990)


Material Tipo de Rocha/Solo Aderência Qs (kN/m²)
Calcários 300-400
Filito 100-300
Dolomita mole 400-600
Rocha
Dolomita Fissurada 600-1000
Arenito Intemperizado 200-300
Basalto 500-600
Areia Siltosa 100-150
Silte 60-75
Solos Não coesivos
Colúvio 75-150
Areia 380
Argila Siltosa 35-50
Silte Argiloso 90-140
Solos Finos
Argila Mole 20-30
Argila Rija 40-60

Com o avanço do projeto básico para a fase executiva, é fundamental que as estimativas
realizadas para a resistência a aderência sejam refinadas, utilizando para tanto ensaios de
arrancamento, determinando o valor real de Qs para o material de interesse. A seguir, uma
breve apresentação sobre este tipo de ensaio será realizada.

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Os ensaios de arrancamento são realizados in situ, instalando na cabeça do grampo um


macaco hidráulico, responsável pela aplicação de cargas, tracionando o conjunto.
Concomitantemente ao carregamento são realizadas as medições de deformações e das cargas
aplicadas, até que a carga limite de ensaio seja alcançada ou se observe o arrancamento do
grampo. A carga limite do ensaio é referente à resistência da barra de aço, de modo que o
valor máximo de carregamento deve ser inferior à resistência da barra, evitando que a barra
sofra rupturas bruscas, condição que pode projetar a barra em alta velocidade para fora do
furo, colocando em riscos a vida de pessoas próximas, NBR 5629.

A norma brasileira de execução de tirantes NBR 5629 define quais os principais


procedimentos a serem seguidos para a execução de ensaios de arrancamento. Também é
possível encontrar mais informações sobre este ensaio em trabalhos de Ortigão e Sayão
(2000), Byrne et al. (1998), Proto (2005) entre outros autores.

O valor máximo do carregamento atingido durante o ensaio, carga de ruptura ou limite, é


utilizada juntamente com a Equação 1 para determinar o valor da aderência na interface. A
Figura 5 apresenta um croqui geral da configuração de montagem de um ensaio de
arrancamento típico.

Figura 5: Montagem de um ensaio de arrancamento. Adaptado de Ortigão e Sayão (2000).

Mesmo que não seja observado visualmente o arrancamento do bulbo injetado, é possível
estimar o momento da ruptura por meio da análise das deformações registradas (NBR 5629).
Com base nos registros, é possível determinar as deformações plásticas e elásticas que
ocorrem ao longo do ensaio, de modo que grandes deformações plásticas indicam a
movimentação relativa do bulbo em relação ao solo, o que indica que a ruptura no contato
solo grampo se manifesta.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
30

Cabe lembrar que a calda de cimento também deve atender a requisitos de projeto mínimos,
sendo que este material é normatizado, norma brasileira NBR 7681. A norma indica a
utilização de calda de cimento com fck>25Mpa.

2.1.5.2 Distribuição de esforços

Um modelo idealizado de talude, relativamente simples, pode auxiliar no entendimento dos


mecanismos do solo grampeado, Geoguide 7 (2008) e Silva (2009). Considerando um talude
comum, constituído por um material homogêneo e isotrópico, no qual existem tensões de
cisalhamento atuando, é plausível imaginar que dentro deste talude exista um plano onde as
tensões atuantes podem superar a resistência do solo/rocha que compõem o maciço. O
referido plano é conhecido como superfície de ruptura, podendo assumir diferentes formatos
(circulares, cunhas, planos e formas irregulares). A superfície de ruptura também divide o
talude em duas regiões, a Zona Ativa e a Zona Passiva, Figura 6.

Figura 6: Zonas dentro do talude estabilizado com grampo. Adaptado de Conceição (2011)

A Zona Ativa do talude corresponde à massa de solo instável, limitada pela face do talude e a
superfície de ruptura. O restante do talude, compreendido abaixo da superfície de ruptura é
chamada de Zona Passiva, massa de material estável. Sendo assim, os grampos têm por
principal função absorver os esforços gerados pela movimentação da zona ativa, que tende a
se deslocar para fora do maciço, e distribuí-los ao longo do comprimento ancorado dentro da
zona passiva, solidarizando as regiões do talude, Geoguide 7 (2008).

Estes esforços são transmitidos à massa de solo estável por meio da aderência na interface
solo/grampo, mobilizada frente aos pequenos deslocamentos dos grampos em relação ao solo
(alguns milímetros). A mobilização da resistência ao longo dos grampos não ocorre de
maneira uniforme, devido às características construtivas dos grampos, da magnitude dos
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esforços atuantes e das características heterogêneas do subsolo, Lima (2007). Todavia, para
fins de simplificação e de cálculo, a distribuição da resistência mobilizada é considerada
uniforme ao longo do comprimento das barras, sendo representada pela Figura 7.

constante

Figura 7: Transferência de esforços ao longo do grampo. Adaptado de Lazarte et al. (2003)

Segundo Proto da Silva (2005) os esforços atuantes nos grampos ocorrem em direções
opostas dentro das zonas Ativa e Passiva, conforme ilustrado na Figura 8 (b). Esta condição
solicita axialmente o grampo, surgindo assim os esforços de tração dentro da barra de aço,
atingindo valores nulos no ponto onde o grampo intercepta a superfície de ruptura, Ehrlich
(2003). Neste mesmo ponto de interseção, o esforço de tração sofre uma inversão de sentido e
atuam esforços cisalhantes e fletores, Figura 8 (a), que surgem quando a massa ativa tende a
se deslocar para baixo, Geoguide 7 (2008).

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
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(b)
(a)

Figura 8: Esforços atuantes nos grampos (a) distribuição dos esforços no grampo dentro do
talude Geoguide 7 (2008), (b) configuração dos esforços, diagramas dos esforços atuantes na
interface solo/grampo e forças de tração no grampo. Adaptado Lazarte et al. (2003).

Ainda analisando a Figura 8 (b) é possível verificar que na extremidade externa dos grampos,
porção voltada para a face do talude, existe um esforço atuante, esforço de tração da barra,
representado nas figuras por T0. Este esforço será transmitido pontualmente ao sistema de
faceamento utilizado, que deve apresentar uma resistência compatível.

2.1.6 Modelos de Ruptura

No início do desenvolvimento da técnica de solo grampeado, os métodos de dimensionamento


utilizados não possuíam um consenso comum entre projetistas devido ao incipiente
desenvolvimento teórico da técnica Finney et al. (1998), sendo as principais premissas de
projeto baseadas nas experiências anteriores onde estas soluções foram empregadas. Visando
compartilhar os conhecimentos adquiridos, uma conferência sobre solo grampeado foi
realizada em Paris, no ano de 1979, onde diversos profissionais atuantes da área discutiram o
comportamento destas soluções, com destaque aos engenheiros Franceses e Alemães.

Byrne et al. (1998) e Geoguide 7 (2008) apontam as principais análises que devem ser levadas
em conta para o correto dimensionamento de um sistema de estabilização composto pela
técnica de solo grampeado como sendo:

1) Análises de estabilidade: Estes critérios se relacionam com o estado último de serviço


do sistema, no qual diferentes mecanismos de ruptura poderão se manifestar levando a
uma falha estrutural tanto do talude tratado como das estruturas adjacentes a ele.
2) Análises de Servicibilidade: Esta análise diz respeito ao estado limite de utilização do
sistema, ou seja, corresponde ao estado no qual a funcionalidade do talude ou

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


33

estruturas adjacentes fica comprometida, devido a deformações excessivas que se


manifestaram no talude.
3) Análises de Durabilidade: É imprescindível avaliar as condições de agressividade do
meio em que os grampos serão inseridos, verificando se a resistência química e física
oferecida pelos elementos é compatível com o meio no qual estão inseridos.

Os critérios acima apresentados são os principais em um dimensionamento deste tipo de


solução, entretanto é necessário elucidar o fato de que além dos critérios técnicos de
resistência é necessário realizar uma avaliação dos aspectos socioeconômicos e ambientais
envolvidos no projeto em questão.

2.1.6.1 Mecanismos de ruptura

Geoguide 7 (2008), Lazarte et al. (2003), Clouterre (1991) Finney et al. (1998), Byrne et al.
(1998), Cheng e Lau (2008) citam que é fundamental para o engenheiro projetista conhecer os
mecanismos de ruptura passíveis de se manifestarem em taludes onde a solução de solo
grampeado será adotada para dimensionar corretamente o sistema frente os critérios
supracitados. Taludes instáveis, tanto os naturais quando os escavados, tratados com solo
grampeado estão sujeitos a basicamente dois modos de ruptura, as rupturas internas, que se
manifestam na massa de solo dentro da área tratada bem como nos elementos que compõem a
solução de solo grampeado, e as rupturas externas, geralmente observadas fora da porção
tratada do maciço de solo.

2.1.6.2 Rupturas Externas

As rupturas externas, como o próprio nome já diz, envolvem processos que se manifestam
externamente à massa de solo tratada com grampos, sendo típica a movimentação do talude
como um todo. Este condição pode ser observada quando a maior parte da superfície de
ruptura se manifesta fora da área grampeada, condição que faz com que a maior parte, e até
mesmo a totalidade, do comprimento dos grampos esteja inserido na zona ativa do talude,
tornando a solução ineficaz contra movimentação. A Figura 9 mostra os modelos conceituais
utilizados para descrever como as rupturas externas se manifestam em taludes tratados com
solo grampeado

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
34

(a) (b) (c)

Figura 9: Tipos de rupturas externas. Adaptado de Geoguide 7 (2008)

a) Estabilidade Global: Este modelo refere-se à estabilidade global da massa de solo


grampeado. A superfície de ruptura, neste modelo, tende passar atrás e por baixo dos
grampos, a superfície é muito profunda. Sendo os grampos ficam totalmente na zona
ativa, não oferecendo proteção alguma ao talude, pois não são capazes de ancorar a
massa instável.
b) Deslizamento: Compreende o tipo de falha que pode ocorrer devido à movimentação
da massa de solo como um todo em relação à base do talude. Este mecanismo se
manifesta quando as os empuxos ativos, atuantes atrás da solução de solo grampeado,
superam a aderência disponível na base do talude.
c) Ruptura nas Fundações: É o mais incomum dos mecanismos de falha de se manifestar
e está geralmente associado a taludes escavados em áreas de solos moles. Ocorre pelo
fato de que a escavação gera um desequilíbrio de tensões, que não é absorvido pelo
material do subsolo, levando a rupturas no nível do terreno próximo ao pé do talude.

2.1.6.3 Rupturas Internas

Já as rupturas internas envolvem falhas que ocorrem dentro da massa de solo tratada com os
grampos, podendo ocorrer tanto nos elementos de estabilização como no próprio solo. A
Figura 10 mostra alguns modelos rupturas internas em um sistema de solo grampeado.

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35

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 10: Rupturas internas adaptado de Geoguide 7 (2008) e Lazarte et al. (2003)
a) Arrancamento dos grampos: Este tipo de falha é o modelo interno de ruptura mais
comum observado em taludes estabilizados com grampo. A ocorrência desta falha
pode se dar tanto na interface da barra de aço com a nata de cimento bem como na
interface solo/grampo, e ocorre quando as tensões atuantes superam a capacidade de
aderência entre os materiais de uma das interfaces;
b) Falha nos Grampos: O elemento de reforço está sujeito a esforços de tração e flexão,
devido à tendência de arrancamento e movimentação do maciço de solo. Deste modo
estes esforços, em um dado momento para uma dada condição de carregamento,

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
36

podem superar a resistência dos elementos introduzidos como grampos, levando a


falha estrutural dos reforços do sistema.
c) Falhas no Faceamento: A movimentação da massa de solo contida atrás do faceamento
pode gerar esforços de puncionamento, tração e cisalhamento no sistema de
estabilização.
d) Falhas no solo entre os grampos: este tipo de ruptura ocorre quando a massa de solo
entre os grampos sofre instabilidades. Esta ruptura se dá de duas maneiras, sendo a
primeira na forma de blocos individuais de solo que podem surgir entre os grampos, e
a segunda na forma de uma camada superficial uniforme que tende a deslizar como
um todo.

2.1.7 Dimensionamento

O dimensionamento de um talude em solo grampeado exige que o projetista avalie todos os


critérios de estabilidade referentes ao talude em questão, como por exemplo, as condições de
carregamento, a geometria do talude, a drenagem da área e as características do material que
compõem o talude. Entretanto, na presente dissertação serão abordados e descritos somente os
critérios e metodologias de dimensionamento que estão diretamente relacionados ou sofrem
influência do sistema de grampeamento. É possível encontrar mais detalhes sobre o
dimensionamento deste tipo solução nos trabalhos apresentados em Clouterre (1991)
Geoguide 7 (2008), Lazarte et al. (2003), Finney et al. (1998), Byrne et al. (1998), Cheng e
Lau (2008), Jiménez (2008) entre outros autores.

2.1.7.1 Estabilidade Global:

Uma abordagem simplificada para compreender o modelo de um talude consiste em imaginar


que sobre a superfície de ruptura considerada existe uma massa de solo instável, cujo
comportamento pode ser comparado a um bloco rígido único com tendência ao deslizamento.
A estabilidade deste bloco é função da relação existente entre os efeitos estabilizantes e
instabilizantes que sobre ele atuam. Mesmo que esta hipótese não seja totalmente verdadeira,
pelo fato de que ao longo do talude a massa de solo tem comportamento variável, a
estabilidade de um talude é expressa através de um único fator de segurança, que quando
próximo da unidade (FS=1) representa a iminência de instabilidades.

∑ 𝒇𝒐𝒓ç𝒂𝒔 𝒓𝒆𝒔𝒊𝒔𝒕𝒆𝒏𝒕𝒆𝒔
𝑭𝒔 = Equação 2
∑ 𝒆𝒔𝒇𝒐𝒓ç𝒐𝒔 𝒂𝒕𝒖𝒂𝒏𝒕𝒆𝒔

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37

Os esforços responsáveis por instabilizar um talude são oriundos do peso próprio da massa de
solo somada a sobrecargas, de qualquer natureza, aplicadas sobre o talude bem como os
efeitos do fluxo de água. Já as forças estabilizadoras dizem respeito à resistência ao
cisalhamento disponível no plano da superfície de ruptura somada a estruturas de
estabilização (solo grampeado, bermas de equilíbrio, muros de gravidade, etc.).

A determinação matemática destes esforços pode ser realizada através dos métodos de análise
bidimensionais de equilíbrio limite. Da Silva (2011) aponta que os métodos de equilíbrio
limite foram introduzidos por Fellenius na década de 30, e aprimorados por Janbu (1954),
Bishop (1955), Morgenstern e Price (1965), Spencer (1967) e Correia (1988). As principais
diferenças entre estes métodos de cálculo estão nas considerações realizadas acerca do
sistema de forças que atuam, nas equações de estática a serem satisfeitas bem como a
distribuição das forças.

No caso dos taludes tratados com solo grampeado, a diferença existente da análise
convencional de equilíbrio limite reside no fato de que os grampos introduzem uma parcela
extra nas forças estabilizante, parcela necessária para que a estabilidade seja atingida. O valor
da força estabilizante introduzida pelos grampos pode ser estimada por meio das equações da
estática propostas nos métodos de Stocker (1979), Clouterre (1991), Juran et al. (1990),
Jewell et al. (1984), Schlosser (1992), e Jiménez (2008). Todos estes métodos tem origem no
equilíbrio limite, tendo como principal diferença entre si o formato da superfície de ruptura
considerada no momento da ruptura.

A seguir, a Figura 11, apresenta um modelo simplificado para cálculo da estabilidade global
de um talude tratado com solo grampeado, apresentando todas as forças envolvidas, levando
em conta no cálculo à ocorrência de uma superfície de ruptura planar.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
38

Figura 11: Modelo geomecânico para o cálculo do fator de segurança, utilizando uma
superfície planar de ruptura. (adaptado de Byrne et al. (1998)).

Na figura estão apresentados todos os esforços atuantes no modelo, a força peso massa
instável (G), a parcela estabilizadora do grampo (T), a resistência ao cisalhamento no plano de
ruptura (Sr) e a força normal (N), juntamente com os ângulos α e β. Com estas informações é
possível estabelecer a relação para o fator de segurança, descrita pela Equação 3, relação entre
as forças estabilizantes e as instabilizantes. Estas forças podem ser relacionadas e agrupadas
da seguinte maneira:

𝐒𝐫 𝐜𝐋 + 𝐍𝐭𝐚𝐧(𝛗) 𝐜𝐋 + (𝐆𝐜𝐨𝐬 𝛂 + 𝐓𝐬𝐞𝐧𝛃)𝐭𝐚𝐧(𝛗)


𝑭𝒔 = = = Equação 3
(𝐆𝐬𝐞𝐧 𝛂 − 𝐓𝐜𝐨𝐬 𝛃) (𝐆𝐬𝐞𝐧 𝛂 − 𝐓𝐜𝐨𝐬 𝛃) (𝐆𝐬𝐞𝐧 𝛂 − 𝐓𝐜𝐨𝐬 𝛃)

Onde c representa a força de coesão, L o comprimento do plano de ruptura e φ o ângulo de


atrito do material.

Ainda nestas análises, deve ser considerado o efeito da água que tende a instabilizar o talude.
Devem ser verificados os efeitos da poropressão bem como os efeitos das forças de
percolação dentro do talude. Tais aspectos podem ser encontrados de maneira detalha
Aguilera (2009).

Alguns projetistas utilizam coeficientes de segurança parciais, ou seja, fatores que majoram os
esforços e minoram os parâmetros de resistência do material, de acordo com a complexidade e
risco envolvido no projeto, este procedimento segue as normas europeias de
dimensionamento. No Brasil a determinação do FS segue a norma brasileira de estabilidade

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de taludes NBR 11682, que faz uso de coeficiente de segurança global, variando entre 1,2 e
1,5, em função do risco e importância da obra.

Jimenéz (2008) ressalta que os métodos de equilíbrio limite adaptados para taludes tratados
com solo grampeado analisam a condição de pré-ruptura do talude, que apresenta um
comportamento de um único corpo rígido, não sendo capazes de prever ou fornecer qualquer
tipo de estimativas referentes aos deslocamentos que irão ocorrer no talude.

2.1.7.2 Arrancamento dos grampos

Este é o mecanismo de ruptura mais comum observado em taludes estabilizados com este tipo
de solução. O arrancamento compreende o tipo de falha que se manifesta na ligação entre a
interface do solo com a nata de cimento (grampo) ou ainda na interface nata de cimento com a
barra de aço. Quando ocorre o arrancamento a ligação entre os elementos é desfeita,
eliminando a capacidade de transferência de carga do grampo para a zona passiva do talude.

A ocorrência desta falha pode estar associada a superestimativas no valor da aderência e/ou
subestimativas nas cargas de projeto. Isto ocorre pela falta de informações geotécnicas dos
parâmetros subsolo pelo fato de ensaios de arrancamento não serem realizados.

O cálculo do comprimento dos grampos pode ser obtido reescrevendo a Equação 1


apresentada por Bustamante e Doix (1985), isolando o comprimento do grampo. Um fator de
segurança é introduzido, em função das incertezas envolvidas na determinação de Qs e dos
parâmetros da análise de equilíbrio limite. O coeficiente tende a majorar o carregamento
considerado, consequentemente aumentando o comprimento necessário. A Equação 4
apresenta a determinação do comprimento dos grampos.

𝐓 . 𝐅𝐬
𝐋= Equação 4
𝛑𝛗𝐟 𝐐𝐬

Onde Fs é o fator de segurança considerado, Qs é a aderência (kN/m²), T representa a carga


necessária para ser absorvida pelo grampo (kN), φf o diâmetro do furo (m) e L (m) o
comprimento do grampo injetado do grampo. Geoguide 7 (2008) e Lazarte et al. (2003)
recomendam o coeficiente de segurança assuma valores entre 1,5 e 2,0, em função da
metodologia utilizada para determinar o valor de Qs adotado no projeto dos grampos.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
40

A verificação acima deve ser realizada considerando a aderência no contato da nata de


cimento com o solo e com a barra de aço, sendo que o dimensionamento será comandado pelo
maior comprimento obtido, que se relaciona com o menor valor de Qs.

O valor da carga T, esforço que se manifesta no grampo é definido em função do valor


calculado através dos métodos de análise, carga necessária para estabilizar o talude, bem
como necessidades de pré-tensionamento de sistemas de faceamento.

2.1.7.3 Resistência do elemento de reforço

O item 2.1.5.2. Distribuição de esforços apresenta os esforços que atuam nos grampos, sendo
o principal a força de tração. Então, o dimensionamento parte da determinação da magnitude
do esforço de tração de projeto a ser resistido pelo elemento de reforço. É necessário avaliar a
condição de maior criticidade, ou seja, a maior solicitação entre uma eventual carga de pré-
tensão ou o valor calculado da parcela necessária para estabilizar o talude (transferência de
carga da zona ativa para a passiva).

Sendo assim, antes de definir qual o tipo de reforço, é necessário quantificar o esforço a ser
resistido pelo elemento, facilmente calculados utilizando softwares computacionais
fundamentados nas análises de equilíbrio limite. Um exemplo de programa de cálculo é o
SLOPE 2000, Cheng e Lau (2008).

Considerando uma barra de aço como elemento de reforço, utiliza-se da Equação 5 para
verificar se o elemento resiste ou não ao esforço, definindo qual o diâmetro mínimo e o tipo
da barra de aço a ser utilizada.

Afy
Tmáx = Equação 5
Fs

Onde Tmáx (kN) representa o máximo esforço de tração suportado pela barra de aço, A (m²) a
área da seção transversal, fy a tensão de escoamento do aço (kN/m²) e Fs um fator de
segurança, que assume um valor da ordem de 1,75.

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2.2 SISTEMAS DE FACEAMENTO

As soluções de faceamento servem principalmente como uma proteção do material localizado


na superfície do talude, controlando processos erosivos e evitando o surgimento de qualquer
tipo de ruptura superficial, Geoguide 7 (2008).

Os principais sistemas de faceamento associados às soluções de solo grampeado são


classificados como sistemas rígidos ou flexíveis. Ambos os tipos são considerados sistemas
estruturais, pois são capazes de promover uma conexão entre os grampos, de modo que os
esforços são absorvidos e redistribuídos entre os elementos que compõem a solução,
Geoguide 7 (2008). Ainda existe uma terceira opção de tratamento, os revestimentos frágeis,
mantas geossintéticas, que são medidas não estruturais cuja principal função é fornecer uma
proteção temporária e limitada para a face do talude.

Os sistemas flexíveis permitem pequenas deformações para a massa instável sem que a
estrutura sofra danos, já os sistemas de faceamento rígidos não suportam praticamente
nenhuma deformação, apresentando falhas estruturais com deformações. Os representantes
destas soluções são as telas de aço e o concreto projetado, respectivamente.

2.2.1 Concreto Projetado

2.2.1.1 Histórico de desenvolvimento

A utilização do concreto projetado como uma solução de estabilização teve origem no início
do século XX, na região da Pensilvânia, Estados Unidos da América, Yoggy (2005). Nas
primeiras décadas de desenvolvimento desta tecnologia o concreto projetado era chamado de
“Gunite”. A partir dos anos 20 a técnica passou por um grande processo de expansão,
atingindo uma escala global de utilização, tendo os como principais mercados a Europa e os
EUA. Entretanto foi somente após a Segunda Guerra Mundial que o grande salto nesta
tecnologia foi observado, impulsionado pelo grande crescimento das cidades, grande demanda
por rodovias, energia e toda a infraestrutura necessária para o crescimento. Yoggy (2005)
ainda cita que em meados dos anos 50 a tecnologia já estava disponível em mais de 120 países
em todos os continentes.

Palermo (1997) aponta que no ramo geotécnico o concreto projetado foi utilizado inicialmente
na construção de túneis, como um revestimento primário para evitar que os blocos rochosos
atingissem os trabalhadores nas fases iniciais do trabalho, sendo necessário um revestimento
Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
42

definitivo, em concreto moldado em loco, para resistir de fato às tensões nos túneis. Sendo
assim, o concreto projetado era considerado como um material secundário, dando enfoque
principal ao concreto moldado in loco. Tudo mudou com o surgimento da NATM (New
Austrian Tunneling Method), que foi desenvolvida por Rabcewicz entre os anos 50 e 60.

Juntamente com a rápida expansão da técnica da NATM para os taludes no inicio dos anos 70,
o concreto projetado foi gradualmente conquistando seu espaço como sistema de faceamento,
sendo atualmente a técnica mais conhecida e dominada no mercado nacional.

2.2.1.2 Definições

Este tipo de solução consiste em um revestimento do tipo rígida, ou seja, deformações mesmo
que muito pequenas, dependendo das condições da solução, podem de causar trincas e
rachaduras na face tratada do concreto projetado. A solução atua formando uma parede,
impedindo a manifestação de processos erosivos, além de conter quaisquer movimentações do
material da face do talude, de solo ou rocha.

A técnica de concreto projetado consiste em projetar uma mistura de concreto sobre uma
superfície qualquer, formando uma camada de concreto com uma dada espessura, que
funciona como um elemento de revestimento (faceamento de taludes e túneis), concreto
estrutural (estruturas de formas complexas) ou ainda uma camada de reforço (reparos de
pontes).

Quando utilizado como um sistema de revestimento de taludes em um sistema de solo


grampeado, o concreto projetado atua como um sistema de proteção contra rupturas
superficiais e processos erosivos, além de interconectar os grampos, de modo que o
revestimento é capaz de absorver parte das cargas que atuam em certos grampos e, redistribuí-
las igualmente entre todo o sistema de grampos, uniformizando as forças atuantes. O concreto
projetado ainda é hoje, em nosso país, a solução de faceamento mais comum aplicada a
taludes, impulsionado pelo domínio da técnica por parte dos projetistas e construtores.

A mistura de concreto a ser projetado deve apresentar uma consistência pastosa compatível
com o sistema de bombeamento utilizado. Como no concreto convencional, a mistura é
constituída por um determinado tipo de cimento, agregados (graúdos e miúdos) e água, e em
alguns casos é possível adicionar aditivos, visando um controle maior sobre certas
propriedades da mistura (plasticidade, resistência, tempo de cura, etc.), e fibras de aço, que

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43

melhoram a resistência à tração do material, substituindo a armadura convencional. A mistura


de concreto deve apresentar características satisfatórias de viscosidade, para facilitar o
processo de bombeamento, e de aderência, para garantir que a mistura se fixe adequadamente
na superfície, neste caso a face do talude.

2.2.1.3 Aplicações

A gama de possibilidades de utilização de concreto projetado é bastante ampla, indo desde


simples reparos e reforços estruturais à construção estruturas de formas bastante complexas,
visto que o material dispensa o uso de formas. A presente dissertação irá focar no uso de
concreto projetado como um sistema de revestimento em faces de taludes, sendo possível
encontrar mais detalhes sobre as aplicações deste material no manual do Corpo de
Engenheiros dos Estados Unidos da América, U.S. Army (1993).

Esta técnica pode ser utilizada como um revestimento temporário, sendo necessária para
garantir a segurança para a execução de uma etapa da obra, tendo critérios de
dimensionamento menos rigorosos. Também é possível aplicá-lo como uma solução
definitiva, exigindo um controle, projeto e especificações mais rigorosos, U.S. Army (1993)

Lazarte et al. (2003), Geoguide 7 (2008), Solotrat (2012), RTA (2005) apresentam diversos
usos do concerto projetado como sistema de faceamento, estando algumas delas ilustradas na
Figura 12.

Figura 12: Exemplos de aplicação de concreto projetado. (a) talude rodoviário RTA (2005)
(b) talude urbano (solotrat.com.br acessado em 08/06/2014)

Quando aplicado como solução de revestimento em taludes tratados com solo grampeado, o
concreto projetado está associado a grampos inseridos no solo, que são conectados por meio

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
44

de placa de aço e sistema de porcas, e armaduras, transferindo adequadamente os esforços


oriundos dos grampos para o sistema de faceamento.

2.2.1.4 Méritos e limitações

O manual de engenharia do corpo de engenheiros de U.S. Army (1993) cita as principais


vantagens do concreto projetado como sendo:

 Durabilidade: Quando bem executado e associado a um bom sistema de drenagem, um


faceamento em concreto apresenta uma grande vida útil. Adicionalmente este material
é bastante resistente contra a ação das intempéries e uma grande gama de agentes
químicos;
 Processo Executivo: Revestir um talude utilizando concreto projetado exige
equipamentos relativamente pequenos, possibilitando que a solução seja aplicada a
lugares de acesso restrito, além de conferir uma grande produtividade com menos
trabalhadores, reduzindo o custo de produção;
 Resistência: Devido as grandes velocidades de projeção, o concreto ao atingir a face a
ser estabilizada sofre um forte processo de compactação resultando em uma adesão
com o substrato, formando uma única camada;
 Aplicabilidade: Esta solução é adaptável a qualquer formato de superfície,
dispensando o uso de qualquer tipo de forma ou qualquer tipo de elemento de suporte
para a execução.

Mesmo que seja a solução mais utilizada e apresente excelentes características estruturais o
concreto projetado ainda apresenta desvantagens

 Elevada Rigidez (comparada ao sistema flexível): Pequenas deformações na face de


concreto, causadas por deformações no solo e efeitos térmicos, são passíveis de gerar
grandes esforços internos na estrutura, levando a rachaduras no revestimento, criando
áreas para a infiltração de água no talude;
 Fluxo de água: A percolação de água sob o revestimento, pela falha nos sistemas de
drenagem ou rachaduras no faceamento, gera acréscimo de subpressões, acelerando o
processo de deterioração do sistema de faceamento. Deste modo exige a execução de
barbacãs;

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45

 Reflexão: A alta velocidade de projeção faz com que parte do material seja rebatido ao
se chocar contra a face, material que não pode ser reutilizado, elevando o consumo de
concreto e o custo de material. Adicionalmente este processo provoca uma segregação
no concreto fazendo com que o material aderido seja diferente do dosado, provocando
diferentes resistências ao longo da face projetada.
 Custo: Para contornar problemas de percolação de água, e eventuais rupturas é
necessário que as espessuras dos revestimentos sejam maiores e associar sistemas de
drenagem robustos. Somada a estes, o espaçamento máximo entre os grampos é
pequeno, exigindo mais grampos.

2.2.1.5 Metodologia Executiva

Quando utilizado como sistema de revestimento em uma solução de solo grampeado, o


concreto projetado é executado somente após a finalização da execução da perfuração
necessária para a instalação dos grampos, de modo a evitar o processo de perfuração no
concreto projetado, promovendo uma economia nesta fase da obra.

A utilização desta solução fica condicionada a um sistema de drenagem, muito bem projetado
e executado, que evite que as águas pluviais circulem livremente pelo talude. Deste modo é
necessário executar um sistema de drenagem na crista, pé do talude e ainda interno, por meio
de barbacãs, reduzindo o máximo possível a poro pressão que atua dentro do talude.

O concreto projetado é executado utilizando um sistema de misturadores, bombas e


mangueiras. Os materiais são previamente misturados, de acordo com a dosagem adequada e
direcionados para o sistema de bombeamento, que por ar comprimido projeta o concreto em
alta velocidade contra a face do talude, que automaticamente é compactado. Estes sistemas
podem ser classificados o como projeção por via úmida ou a projeção por via seca, ambas
descritas em inúmeros trabalhos, dentre eles destaque para Oraee-Mirzamani et al. (2011)
Bastos (2012).

Antes de iniciar o processo de bombeamento do concreto em geral é necessário que a


armadura esteja instalada sobre a face do talude, que geralmente é composta por uma malha
de barras de aço soldadas, (malha eletrossoldada). A função da armadura é conferir ao
concreto a resistência à tração, auxiliando na absorção dos esforços oriundos dos grampos e
de processos dilatação e retração térmica, contribuindo para o controle de fissuração no
concreto.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
46

Uma alternativa ao uso desta armadura é a utilização de fibras de aço ou sintéticas na mistura
do concreto, que conferem à mistura uma grande melhora nos parâmetros de resistência a
tração e ductilidade entre outros. Com esta técnica é possível lançar o concreto sobre a face
imediatamente após finalizar os grampos, expondo a face o mínimo de tempo possível às
intempéries. Uma apresentação detalhada sobre todos os aspectos das fibras de aço
adicionadas ao concreto, tanto o projetado quanto o convencional, pode ser encontrada em
ACI (2002), Franzén (1992), Miguel (2001), Figueiredo (2000) dentre outros.

No processo executivo utilizando a via seca, os materiais são misturados sem que água seja
adicionada a mistura, sendo estes conduzidos ao sistema de bombeamento, onde é adicionada
a água na saída da mangueira, no bico de projeção como mostrado na Figura 13. Deste modo
é possível utilizar magotes mais longos, além de obter um concreto mais compacto e
resistente. Entretanto o nível de reflexão de material é alto, formando uma camada de
concreto mais heterogêneo, sobre a face. Outro ponto negativo deste método é que o controle
tecnológico da mistura é menor, visto que falhas e erros podem acontecer na injeção de água,
tendo também uma elevada dependência do operador na qualidade do material.

Figura 13: Bombeamento Via Seca. Adaptado de Oraee-Mirzamani et al. (2011).

Já no processo por via úmida, a mistura de concreto finalizada é lançada no sistema de


bombeamento, Figura 14, tendo assim um controle tecnológico maior do material,
controlando todos os parâmetros de acordo com as especificações de projeto, reduzindo assim
a dependência do produto final da experiência do operador. Deste modo o concreto projetado
tem uma homogeneidade maior, além de sofrer menos com o processo de reflexão.

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Figura 14: Bombeamento Via úmida. Adaptado de Oraee-Mirzamani et al. (2011).

Ainda cabe lembrar que em ambos os métodos é possível utilizar aditivos de melhoramento
para o concreto, sendo adicionados diretamente na mistura, no caso da via úmida, ou
misturados à água no caso da via seca.

Em ambas as metodologias, o material, ao atingir a face do talude, é automaticamente


compactado, sendo então necessário garantir que a maior pressão possível no sistema de ar
comprimido para promover a máxima compactação do concreto projetado. Cabe lembrar que
a pressão máxima de projeção deve ser compatível com a resistência do material que
compõem a face do talude, para evitar que o processo de execução não provoque rupturas na
face do talude.

Quando finalizado o trabalho de lançamento de concreto, chapas de aço são introduzidas na


cabeça expostas dos grampos, já finalizados, e aparafusadas e solidarizadas ao sistema de
faceamento, promovendo a conexão grampo/face. Ou ainda a placa pode ser instalada no meio
da camada de concreto, sendo executada após a primeira fase.

No Brasil a produção e execução do concreto projetado devem atender às normas vigentes


apresentadas pela ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. As principais normas a
serem destacadas são a NBR 13597 (2012), que apresenta as qualificações necessárias para o
mangoteiro, e NBR 14026 (2012) que apresenta as principais especificações para o concreto
projetado.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
48

2.2.2 Sistemas de Faceamento em Telas Metálicas

2.2.2.1 Definições

Os sistemas de faceamento compostos por telas metálicas são fixados no talude por meio de
placas de fixação instaladas na cabeça dos grampos. Deste modo, a tela transmite a carga
neste ponto de contato, sendo capaz de absorver esforços oriundos da massa instável,
controlando a movimentação do material instável localizado na superfície do talude, Pokharel
et al. (2011).

As placas de fixação citadas podem ter tamanhos e formatos diferentes, definidos em função
do fabricante do material. Cabe apontar que a forma e tamanho da placa exercem um papel
fundamental na estabilidade, pois afetam diretamente na transmissão de carga entre os
elementos.

O acabamento deste tipo de solução é executado utilizando cabos de aço, que são instalados
no perímetro externo da malha, chamados de cabos de contorno. As duas extremidades destes
cabos são fixadas em ancoragens independentes do faceamento, que absorvem as cargas que
se manifestam nestes cabos. O panorama geral desta solução está apresentado na Figura 15.

(b)
(a)

Figura 15: Solução típica de faceamento utilizando malhas de aço e solo grampeado.
Adaptado de (a) Roduner e Balg (2010) e (b) Cardoso et al. (2006).

2.2.2.2 Aplicações

A solução de revestimento por malha de aço pode ser aplicada tanto a revestimento de taludes
quanto a revestimento das paredes de túneis, impedindo que a massa de solo/rocha se

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49

desloque, sendo caracterizado como um sistema de estabilização. E possível também, aplicar


telas metálicas para conduzir corretamente as massas instabilizadas para uma região que não
ofereça risco a infraestrutura e vidas humanas.

A aplicação desta solução se estende às mais diversas condições nas quais os taludes podem
ser observados em campo. Atualmente as telas são utilizadas de duas maneiras distintas:
associada a um sistema de solo grampeado ou apenas como uma proteção Cala et al. (2012) e
Muhunthan et al. (2005).

Quando utilizada como uma solução de proteção, taludes onde há movimento blocos de
rochas, a tela de aço tem a função restringir a amplitude do deslocamento, conduzindo os
blocos até o pé da encosta de maneira segura. Nesta configuração, solução chamada de
cortina, o revestimento não impede a movimentação da massa, apenas mitiga os efeitos de
queda de blocos, impedindo a massa se desloque livremente. Normalmente é necessário
executar um sistema de leiras e valas no pé do talude, cuja função é acumular a massa
instável, conforme ilustração na Figura 16, utilizando valas ou leiras de retenção.

Figura 16: Retenção dos blocos de rocha no pé do talude. Adaptado de Oliveira (2010)

Já o sistema de estabilização é utilizado em conjunto com solo grampeado, utilizando placas


de fixação nas cabeças dos grampos, mantendo a tela junto à face do talude. É possível
considerar a aplicação de um pré-tensão da malha, esforço transferido para a tela por meio das
placas utilizadas.

A Figura 17, mostra exemplos da aplicação do sistema de malhas metálicas em taludes,


atuando como uma solução ativa, onde é possível observar que foi aplicada uma pré-tensão na
tela, pressionando a solução contra a face do talude oferecendo uma estabilização mais eficaz.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
50

Figura 17: Exemplos de aplicação de telas de aço como revestimento. Fonte: Roduner (2013)

No caso de taludes onde a face é predominantemente revestida por um material suscetível a


processos erosivos é necessário associar elementos para controle de erosão, tais como mantas
geossintéticas e biossintéticas. Estes materiais também servem como um substrato favorável
para o crescimento de vegetação sobre a face do talude, que gradualmente cobre a solução de
faceamento, dando um aspecto natural ao projeto de estabilização, Figura 18.

Figura 18: Tela metálica associada a sistema de controle de erosão com vegetação densa.
Fonte: Yoko (2006).

2.2.2.3 Méritos e limitações

A utilização de telas metálicas como revestimento de taludes, em soluções de solo grampeado


apresenta significativas vantagens sobre o uso de concreto projetado, Cala et al. (2012):

 Velocidade e segurança na execução: A tela pode ser lançada sobre o talude antes
mesmo de execução dos grampos, fornecendo uma proteção prévia aos
trabalhadores da obra, além do processo de instalação ser extremamente rápido,
reduzindo de 30% a 40% o tempo de execução do faceamento;
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51

 Drenagem: Permite o fluxo de água através do revestimento, evitando o


surgimento de excesso de poro pressão atuante na estrutura;
 Durabilidade: As malhas de aço, quando devidamente projetadas para a situação
encontrada, e que apresentam um sistema adequado de proteção contra corrosão
apresentam uma grande vida útil;
 Flexibilidade: Estes sistemas são compatíveis com deformações na massa
estabilizada, além de suportarem adequadamente deformações causadas por
variações térmicas;

Em contra partida, é possível destacar como principais desvantagens do sistema os seguintes


pontos:

 Domínio da técnica: No cenário nacional ainda são poucos os projetistas e executores


especializados nestes sistemas, o que pode muitas vezes inviabilizar e/ou levar a erros,
comprometendo a segurança da obra;
 Falta de normatização: Ainda no Brasil não existe uma norma específica que
classifique as malhas existentes, dificultando a especificação em projetos.

2.2.2.4 Metodologia Executiva

Uma completa descrição sobre os processos executivos de malhas de aço como faceamento
em taludes pode ser obtida em Cala et al. (2012), bem como nos manuais de instalação
fornecidos pelos principais fabricantes destes sistemas, sendo aqui apresentados os aspectos
básicos para a instalação destes elementos.

O primeiro método executivo prevê a instalação do faceamento após a execução dos grampos,
lançando a tela sobre a face do talude e instalando as placas de fixação, metodologia utilizada
em situações onde não há risco aos operários. Quando existe o risco aos trabalhadores a tela
de aço é lançada sobre a face antes da execução dos grampos, sendo fixada na crista do talude,
de modo que as equipes trabalham sobre a tela, tendo grau de segurança mais elevado.

A maneira mais adequada para lançar as malhas sobre a face do talude é posicionar os rolos
de tela na crista do talude e gradualmente desenrolá-los, utilizando a gravidade como força
motriz, reduzindo a necessidade de equipamentos pesados. À medida que a tela é lançada é
recomendado instalar as placas de fixação, executando os grampos, pois assim o sistema já
será ativado minimizando o tempo de exposição dos operários a eventos de instabilidades.
Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
52

Nos limites da área é necessária à instalação de cabos de aço, uma espécie de costura da
malha, que são ancorados em ancoragens extras para promover o fechamento da solução.

Esta solução exige o trabalho de equipes especializadas, pois muitas vezes estes trabalhos são
executados utilizando sistemas de escalada, pois a posição dos taludes instáveis não favorece
a utilização de equipamentos ou sistemas de andaimes.

2.2.2.5 Dimensionamento

Os mecanismos de ruptura atuantes na camada de solo instável em ambos os sistemas, telas


metálicas e concreto projetado, são semelhantes, entretanto, devido a grande diferença
constitutiva entre os sistemas, os esforços que surgem nos sistemas são diferentes, condição
que exige uma metodologia de dimensionamento que contemple as particularidades de cada
um dos sistemas.

A seguir serão apresentados dois métodos de dimensionamento para os sistemas de telas


metálicas que são utilizados atualmente, descrevendo as principais considerações, hipóteses e
modelos de ruptura considerados em cada uma das metodologias analisadas.

1) Método Ruvolum

O método Ruvolum foi desenvolvido para ser compatível com qualquer tipo de tela metálica,
aplicada sobre taludes rochosos ou de solo, sendo necessário levar em consideração os
parâmetros referentes ao modelo de tela e tipo de material do talude. Esta metodologia esta
detalhadamente apresentada no trabalho de Wartmann (2011) e no livro texto Cala et al.,
(2012). Abordagens simplificadas podem ser encontradas nos trabalhos de Flum et al. (2010),
Roduner e Balg (2010) Mumma (2002) entre outros autores.

O conceito Ruvolum de dimensionamento abrange dois modelos de investigação de


estabilidade, avaliando critérios referentes às telas metálicas e os grampos do sistema. Os
modelos de investigação verificam instabilidades localizadas (que se manifestam entre dois
grampos) e instabilidades de uma massa de solo paralela à superfície do talude. O modelo
ainda permite incluir os efeitos de carregamentos dinâmicos e fluxo de água no talude.

a) Instabilidades paralelas à superfície


Neste modelo de ruptura a tela e os grampos devem resistir aos esforços que são provocados
pela camada instável, que tende a se deslocar paralelamente a superfície do talude. O

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deslocamento se manifesta quando a força peso atuante no material superficial supera a


resistência existente na interface desta camada com o subtrato mais resistente. Esta situação
está ilustrada na Figura 19.

Figura 19: Representação instabilidade paralela à superfície. Adaptado de Cala et al. (2012)

O talude e o material de superficial são considerados homogêneos ao longo da seção de


escorregamento. Surge então um corpo prismático, cujas dimensões são dadas por a x b x t,
que pode ser isolado para a análise, representando a totalidade do talude. As dimensões são
relacionadas ao espaçamento horizontal, a, o espaçamento vertical, b, e a espessura da camada
instável, t.

O bloco prismático isolado para a análise é apresentado esquematicamente na Figura 20, onde
estão indicadas todas as forças consideradas na análise.

Figura 20: Representação das forças atuantes no sistema. Roduner (2013)

Onde G (kN) é a força peso da massa de solo, que atua no sentido de instabilizar o corpo, o
produto c (kN/m²) x A (m²) representa a resistência ao movimento oferecida pela coesão entre

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
54

as partículas na base na interface de contato entre os materiais. V (kN) é força de pré


tensionamento aplicada na fase de instalação da tela, transmitida ao sistema por meio das
placas de fixação. A incógnita do sistema é o esforço de cisalhamento, S (kN), que deve ser
absorvido pelo grampo e transmitido ao subsolo estável, zona passiva, para garantir a
estabilidade ao sistema. Apenas indicadas para complementar o sistema de forças estão
representadas as forças de reação do subsolo N e R (kN). Por fim α e ψ representam as
inclinações do talude e da força V atuante, respectivamente.

A consideração da aplicação da força de pré-tensão, V, no sistema considera uma ativação da


tela, visto que esta força aplicada nos grampos atua no sentido de impedir a movimentação da
massa de solo ou rocha instável. Porém, o conjunto da solução (faceamento e grampo) é uma
medida passiva de proteção, que só entra em carga quando a massa de solo/rocha se desloca.

O esforço de cisalhamento S pode ser obtido utilizando relações trigonométricas e a condições


de ruptura de Mohr-Coulomb através da Equação 6, que também leva em conta os parâmetros
geotécnicos do material que constitui o talude.

c. A + (G. cos (α) + Vsen(α + ψ)). tgφ


S = G. sen (α) − Vcos(α + ψ) − [ ] Equação 6
FSmod

Onde S, G e V são dados em (kN), α e ψ e φ (ângulo de atrito do material) em graus e Fs é


adimensional, representa o coeficiente de segurança das incertezas do modelo.

Após a determinação da incógnita S, todos os esforços que atuam neste modelo de ruptura são
conhecidos, sendo possível então verificar se os elementos do sistema são capazes de resistir
às solicitações a eles impostas. Segue as análises sugeridas pelo modelo Ruvolum

 Análise da resistência do grampo


Para garantir a estabilidade do sistema é necessário verificar se os elementos utilizados como
reforço apresentam uma resistência compatível com os esforços de cisalhamento, S, e de
tração, V, que se manifestam nestes elementos.

A Equação 7, apresenta a verificação da barra de aço frente ao esforço de cisalhamento


calculado pela Equação 6. Aqui cabe lembrar que o valor de S é corrigido para Sd , esforço de
cisalhamento de projeto, por meio de fatores de segurança parciais (que majoram o valor da
ação atuante). Sr representa resistência ao cisalhamento da barra de aço utilizada como
reforço, sendo esta função da resistência ao escoamento do aço fy e da área da seção

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transversal da barra. Por fim, a resistência Sr é minorada pelo fator de segurança γFS cujo
valor é de 1,50. A expressão apresentada abaixo é uma simplificação comumente utilizada.

Sr fy
Sd ≤ onde Sr = .A Equação 7
Fs √3

O esforço de tração V atuante é conhecido, e é a força de pré-tensão aplicada aos grampos,


parâmetro definido pelo projetista na fase de projeto. Utilizando a Equação 8 é possível
verificar se a resistência à tração do grampo, Tr, é suficiente para resistir ao esforço de tração,
majorado, aplicado no sistema, Vd.

Tr
Vd ≤ onde Tr = fy A Equação 8
Fs

Por fim é realizada a verificação dos esforços que atuando em conjunto no sistema, relação
expressa pela Equação 9, que agrupa os esforços de tração e de cisalhamento nos grampos.

2 0,5
Tr 2 Sr
[(Vd/ ) + (Sd/ ) ] ≤ 1,0 Equação 9
Fs Fs

 Análise da resistência da tela


Também é necessário avaliar se o modelo de tela utilizado no faceamento tem a capacidade de
resistir à carga de pré-tensão de projeto, Vd, transmitido para a tela por meio da placa de
fixação na cabeça do grampo. A transferência de carga para a tela gera um esforço de
puncionamento que atua na direção do grampo, sendo fundamental a tela resistir a esta
solicitação. A Equação 10 traduz matematicamente a verificação necessária.

Pr Equação 10
Vd ≤
Fs
A obtenção da resistência ao puncionamento da tela, Pr (kN), será apresentada na sequência
da presente dissertação, sendo um dos parâmetros a ser obtido nos ensaios a serem realizados.

b) Investigação de instabilidades entre dois grampos

Neste modelo de ruptura são estudados os efeitos de massas de solo instáveis isoladas entre
dois grampos do sistema, tendo o prisma instável as dimensões de a x 2b x t, conforme a
representação da Figura 21.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
56

Figura 21: Hipótese de corpo instável isolado Cala et al. (2012)

De maneira análoga a condição anterior, um conjunto de grampos é escolhido para representar


a totalidade da face do talude. O modelo estabelecido para o cálculo assume que a massa de
solo entre os grampos tem uma porção totalmente estabilizada, em função da formação de um
cone de pressão, oriundo do processo de pré-tensionamento da malha contra o talude por meio
da placa de fixação. O cone se forma diretamente abaixo da placa de fixação e se expande por
toda a camada instável. A Figura 22 apresenta, de maneira gráfica, a hipótese de cálculo do
cone.

Tela

Figura 22: Cone de pressão formado abaixo da placa de fixação Roduner (2013)

A porção de solo completamente estável, compreendida dentro do cone de pressão, deve ser
desconsiderada no cálculo de estabilidade, ou seja, é necessário corrigir as dimensões do
prisma de solo instável. Para tanto é necessário que algumas hipóteses sejam levantadas,
sendo elas:

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Em termos práticos, a dimensão da base superior do cone de pressão, face externa do talude,
é considerada igual à metade da largura da placa de fixação, sendo expressa por ζ. A partir do
topo o cone de pressão se estende ao longo da espessura de solo instável, t, sob uma
inclinação δ, assumida como sendo 45º. Consequentemente, a base inferior deste cone
apresenta uma dimensão maior, aqui definida como ξ, que pode ser facilmente determinada
por relações trigonométricas.

O volume de material contido dentro da área delimitada pelo cone não está sujeito a
instabilidades, sendo necessário desconsiderá-lo no cálculo, conferindo ao corpo instável uma
forma trapezoidal, com base superior igual a - 2ζ e base inferior a - 2ξ, ver Figura 22. A fim
de simplificar os cálculos, o trapézio pode ser transformado em um corpo prismático, de
dimensões ared x 2b x t, onde ared é dado pela Equação 11, que reduz o espaçamento horizontal
real em função das dimensões do cone de pressão.

a red = a − (t/tg δ) − 2 ζ Equação 11

As verificações a serem realizadas, apresentadas na sequência deste item, deverão levar em


conta inúmeros corpos prismáticos, cujas dimensões serão obtidas realizando o processo
acima descrito variando a espessura da camada instável entre 0 e t. Este procedimento irá
determi-nar qual dos mecanismos de falha que serão apresentados comanda o
dimensionamento.

Definido o tamanho do prisma de solo instável partimos para a determinação das forças que
atuam neste modelo de ruptura, sendo possível considerar duas configurações distintas: um
mecanismo no qual ocorre a formação de somente um corpo instável e um mecanismo no qual
dois corpos são observados, conforme a Figura 23, que ilustra os corpos considerados bem
como o sistema de forças atuantes em cada um.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
58

b
a

Figura 23: Mecanismos de ruptura (a) um só corpo e (b) dois corpos. Cala et al. (2012)

Analisando a figura é possível notar que em ambos os casos ainda estão atuando as forças
peso (G) e força de contado c x A nos corpos, sendo agora introduzidas as forças P, Z, e no
modelo de dois corpos instáveis a força X, todas estas dadas em (kN). X é a componente do
peso do corpo de formato trapezoidal (I) que atua no corpo em formato de cunha(II), e atua no
sentido de instabilizar a massa de solo.

A variável Z representa a força de atrito existente entre o solo e a tela, que é transmitida para
o grampo superior do sistema, contribuindo para a estabilidade do corpo instável. Este valor é
uma hipótese de cálculo, assumindo valores da ordem de 15 kN. Já a força P, é a incógnita do
problema, sendo esta a força necessária para estabilizar por completo o talude.

Deste modo, a força P pode ser calculada utilizando a Equação12 para o modelo de um corpo
de solo e por meio das Equação13 e Equação 14 para a condição de dois corpos instáveis.

G[Fs. senβ − cosβ. tgφ] − Z[Fs. cos(α − β) − sen(α − β). tgφ − c. A Equação12
P=
Fs. cos(β + ψ) + sen(β + ψ). tgφ

GII [Fs. senβ − cosβtgφ] + (X − Z)[Fscos(α − β) − sen(α − β)tgφ − cA Equação13


P=
Fs. cos(β + ψ) + sen(β + ψ). tgφ

Onde

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GI (Fs sen(α) − cos(α) . tanφ) − c. A


X= Equação 14
Fs
Onde β é o ângulo com que a cunha do corpo de solo/rocha forma com a horizontal. Os
demais parâmetros são os mesmos apresentados anteriormente. A verificação da espessura
crítica entre 0 e t é função do deste ângulo β, sendo um procedimento obrigatório a ser
executado.

 Análise da resistência da tela

O modelo de ruptura exige somente a resistência da tela metálica utilizada como faceamento,
não tendo efeito direto sobre os grampos do sistema. A Figura 24 mostra esquematicamente
os esforços a serem resistidos pela tela.

Figura 24: Esforços atuantes na tela. Cala et al. (2012)

Conforme citado anteriormente, atua no sistema a força Z, que representa o atrito existente
entre o solo e a tela, que é transmitido para o grampo superior do sistema. Deste modo, no
contato da tela com a placa de fixação, surge um esforço de cisalhamento da tela, que deve ser
inferior a resistência do material para garantir a estabilidade do sistema. A Equação 15 traduz
na forma matemática a verificação, onde Zd é a força de atrito adotada em projeto majorada, e
Zr a resistência da tela a este tipo de esforço.

Zr
Zd ≤ Equação 15
Fs

Analisando a Figura 24 também é possível verificar que a tela metálica fica sujeita a um
esforço de puncionamento, conforme pode ser observado na Figura 17, que irá se manifestar
na tela junto no grampo inferior do sistema. A magnitude a ser verificada para este esforço

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
60

corresponde ao valor previamente calculado, levando em conta fator de majoração, para o


projeto, Pd. A Equação 16 expressa a relação a ser atendida para que a tela não sofra rupturas
por puncionamento.

Pr
Pd ≤ 2 Equação 16
Fs

Onde Pd e o valor de corrigido de P em função de um coeficiente de segurança definido no


Eurocode 7, e Pr a resistência ao puncionamento da malha no contato malha grampo. Nesta
situação o valor é reduzido pela metade pelo fato de que a carga se concentra somente em
metade da área disponível da placa.

De acordo com a metodologia apresentada no método de dimensionamento Ruvolum, é


necessário que todas as condições acima apresentadas sejam atendidas para que a solução de
faceamento não sofra rupturas, ou seja, o método só analisa o estado limite último da
estrutura.

Este método ainda permite que sejam verificados os efeitos do fluxo de água e efeitos
dinâmicos (sismos), atuando em conjunto ou de maneira individual, a depender da situação
avaliada.

A consideração sobre os efeitos da água no talude é limitada a condição saturação ou não,


onde é considerado um incremento na carga atuante, força peso do talude. O efeito do sismo é
computado considerando um coeficiente de aceleração, tanto na horizontal quanto na vertical,
que também geram um incremento na força peso do talude.

2) Método MACRO1

Este método de dimensionamento foi desenvolvido pela equipe técnica da fabricante de telas
de aço Macaferri, estando apresentado nos trabalhos de Macaferri (2014) e Brunet &
Giaccheti (2012). Esta metodologia de cálculo foi desenvolvida para ser utilizada em taludes
rochosos, sendo os principais dados de entrada parâmetros relacionados a este tipo de
material.

O método MACRO1 também admite que sobre a face do talude sejam possíveis dois modelos
de ruptura na camada superficial de rocha do talude, uma ruptura do material entre grampos

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do sistema e uma ruptura planar e paralela à superfície do talude. A principal diferença é que
a ruptura observada entre os grampos se manifesta de acordo com as descontinuidades
existentes na face da rocha entre os grampos, conforme pode ser observado na Figura 25.

t- espessura da camada instável


α- inclinação do talude
β- inclinação crítica das falhas

Figura 25: Modelos de ruptura considerados pelo MACRO1. Adaptado Macaferri (2014).

Nesta metodologia, também é necessário realizar uma série de investigações para garantir que
os esforços previstos não superem a resistência dos elementos do sistema de estabilização.A
seguir serão apresentadas as verificações consideradas no MACRO 1.

a) Dimensionamento da tela

O MACRO1 permite realizar dois tipos de análise do sistema, verificando qual o estado limite
último, momento no qual se dá a ruptura da tela, e uma investigação sobre estado limite de
serviço, determinando as deformações esperadas do sistema.

a. Definição dos esforços

O modelo geomecânico do talude que é utilizado nesta verificação é semelhante ao do método


Ruvolum, considerando que uma camada de espessura t, contida entre dois grampos do
sistema irá se instabilizar e solicitar o sistema. Neste caso, a massa de rocha se desloca sobre
o plano inclinado das fraturas, representado pelo ângulo β citado acima na Figura 25. A
consideração sobre a solicitação imposta à tela por este método é diferente do anterior, e pode
ser representado pela Figura 26.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
62

Figura 26: Representação do talude. Adaptado de Maccaferri (2014).

Na Figura, G (kN) é a força instabilizante, função do peso do bloco que se desloca sobre o
plano β; T (kN) o esforço de tração que solicita a malha paralelamente à superfície do talude,
que surge quando os blocos de deslocam, empurrando a tela; P (kN) o esforço de
puncionamento que atua perpendicularmente a tela, que surge devido as condição de fixação
considerada para as condições de contorno.

No cálculo dos esforços, parte da determinação da massa de rocha que pode sofrer
instabilidades é função do volume e densidade do material. O MACRO1 determina o volume
de material que pode vir a se instabilizar utilizando a geometria apresentada na Figura 27. O
método avalia a hipótese de corpos com diferentes formatos, um triangular e um trapezoidal,
semelhantemente ao Ruvolum, entretanto verifica somente um dos corpos, em função do
algoritmo de cálculo, apresentado a seguir

arctg(b/t)

Figura 27: Geometria avaliada para o cálculo da massa instável. Adaptado de Maccaferri,
(2014).

t 1 Equação 17
se β ≥ α − arctg ( ) e β < α → Volume A = b² tg(α − β)
b 2

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t Volume B = b. t − t²/tg(α − β) Equação 18


e se β < α − arctg ( )
b Volume C = 0,5t²/tg(α − β) Equação 19

Este sistema de equações tem por objetivo definir, geometricamente, qual o modelo do corpo
prismático que irá se manifestar em uma provável ruptura, sendo o volume a soma das três
parcelas, volume A, B e C.

Sendo assim, a força de puncionamento que atua sobre a tela pode ser determinada por meio
da Equação 20, função de G que é o peso do bloco de rocha ( Volume x γ) calculado com
base no volume calculado acima e na densidade do material.

P = (Gdr − Gst )sen(α − β). b Equação 20

Gdr = G sen β + Δ. cos β ∗ Fsdr Equação 21

Gst = G sen β (1 − Δ) ∗ Fsst Equação 22

Onde, Gst é a parcela da força peso que estabiliza o sistema, Gdr a parcela da força peso que
atua no sentido de instabilizar o sistema e Δ representa o coeficiente de aceleração da sísmico,
que atua da mesma maneira que o método anterior, aumentando a carga peso. Fsdr e Fsst são os
fatores de segurança, que dependem das condições do talude (incertezas na inclinação,
espessura, condição de sanidade, homogeneidade e formato). Mais informações sobre estes
fatores, podem ser encontradas em Maccaferri, (2014), que apresenta detalhadamente como
são obtidos.

E através das relações trigonométricas é possível determinar o valor de T, tração que atua no
sistema, sendo este expresso por:

P
T= b
sen (α − β − ρ) Equação 23

Onde ρ é ângulo formado entre a tela deformada e a face do talude rochoso. Este ângulo pode
ser determinado através da seguinte relação:

2dl
ρ = atg ( ) onde i = (a ∗ b)0,5
i Equação 24

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
64

O parâmetro dl corresponde ao deslocamento da malha de aço em função da carga de


puncionamento e é definido no item a seguir.

b. Verificações da Tela

Primeiramente é necessário verificar se a tela tem capacidade de resistir aos esforços aos
quais está submetida, a tração, verificação do estado limite último. Cabe lembrar que as
resistências são minoradas em função de um fator de segurança, que para o caso do ensaio de
tração, não deve ser menor do que 2,5, valor determinado com base em uma série de ensaios e
pesquisas realizadas pelos autores do método, Macaferri (2014).

Tr
T≤ Equação 25
Fs
Tal equação representa a verificação da malha frente ao esforço que nela atua, sendo então Tr
a resistência a tração da malha de aço.

Neste ponto cabe apontar que o puncionamento considerado neste modelo se manifesta
diretamente na malha de aço, sendo originado em função do peso próprio do material que é
retido pela malha, solicitando a mesma na região intermediária ente os grampos, como pode
ser observado na Figura 26.

A resistência ao puncionamento idealizada neste modelo de cálculo é definida com base em


um ensaio normatizado pela UNI 11437:2012, que consiste em aplicar um esforço de
puncionamento em uma amostra de malha quadrada de 3,0x3,0 m, de modo que o aplicador
de tensão consiste em uma estrutura ovalada. A tela de aço é de aço é fixada ao longo de toda
a suas extremidades, nos quatro cantos, e a carga de puncionamento é aplicada por meio de
cabos de aço que tracionam o aplicador ovalado contra a malha, gerando o esforço de
puncionamento idealizado pela metodologia de cálculo no sistema. A Figura 28 ilustra o
esquema de fixação e apresenta uma fotografia real do ensaio.

O ensaio busca reproduzir os efeitos de uma massa rochosa mobilizada e retida pela malha,
conforme a idealização de carregamento indicada na Figura 26. Este ensaio não foi realizado
na presente pesquisa sendo possível encontrar mais detalhes em Macaferri (2014) e Bertolo et
al (2009).

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


65

Figura 28: Configuração do ensaio de puncionamento considerado no método MACRO. Fonte


Macaferri (2014) e Bertolo et al (2009).

O estado limite de serviço é avaliado por meio do deslocamento esperado para a tela de aço,
que é função da carga de puncionamento P calculada anteriormente. Este valor é confrontado
com um gráfico, que é gerado a partir de ensaios de dados coletados por meio de ensaios
laboratório normatizados. Tais ensaios consistem em solicitar a tela verificando o
deslocamento em função da carga aplicada, considerando uma dada configuração de
ancoragem, onde pode ser simulado um conjunto de quatro grampos distribuídos em uma
malha quadrada de 3x3 m. Os resultados do ensaio são apresentados na forma de um gráfico
que correlaciona a carga aplicada com o deslocamento medido no sistema. Um croqui do
ensaio e os resultados do ensaio estão apresentados na Figura 29.

O ensaio também segue a normativa UNI 11437:2012, que especifica o deslocamento


máximo, as cargas, a configuração da montagem do ensaio e todos os demais aspectos
envolvidos. Aqui cabe lembrar que existe um conjunto de dados carga x deslocamento
específico para cada modelo de tela metálica, visto que a resistência, rigidez e construção de
cada tipo de tela são fundamentais para a definição do comportamento do material frente às
cargas aplicadas.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
66

Figura 29: Exemplo de gráfico de deformação

O valor de deformação obtido por meio destes resultados é então comparado com o valor
definido como deslocamento máximo permitido, definido pelo projetista, que geralmente é
adotado de acordo com as características locais. Neste processo também é possível incluir um
fator de segurança, que varia entre 1,5 a 3,0, devido às condições da instalação da tela e à
morfologia do talude Macaferri (2014). A Equação 26 apresenta a verificação, e a Figura 30 o
deslocamento esperado para a tela.

dl
D− ≥0 Equação 26
Fs
Onde D é o deslocamento máximo de projeto, definido pelo projetista, dl é o deslocamento
observado quando a carga de puncionamento P, estimada anteriormente, é aplicada ao sistema
e Fs o fator de segurança desejado.

Figura 30: Deslocamento calculado.

Como o ensaio é realizado utilizando as dimensões padrão da norma referida, os autores


indicam que para a carga de puncionamento calculada, o deslocamento obtido no gráfico
específico para a malha investigada seja corrigida em função do espaçamento entre os
grampos, levando em conta a relação geométrica entre a solução e o ensaio.

b) Verificação dos grampos

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67

A hipótese de cálculo assumida é de que os grampos trabalham de maneira passiva, ou seja,


entram em carga somente quando o bloco rochoso entre os grampos sofre deslocamentos.
Deste modo, o dimensionamento dos grampos exige que seja verificada a condição limite do
equilíbrio das forças, onde o fator de segurança é igual a 1,0, condição na qual existe a
iminência da instabilidade de um bloco rochoso cujas dimensões são equivalentes ao
espaçamento, a e b, considerado para os grampos.

A Equação 27 é a expressão matemática que descreve o sistema de forças que atuam em um


bloco prismático localizado entre os grampos do sistema, onde atuam forças instabilizadoras,
força peso (G) e forças estabilizantes, reação do grampo (Rg) e a força de atrito existente no
contato do bloco com o subtrato. A referida equação ainda pode levar em conta os efeitos de
sismos sobre o talude, na forma de um coeficiente de aceleração aqui representado por Δ.

G (sen(α) − ∆. sen(α). tg(φj )) + Rg ≥ G (sen(α) + ∆. cos(α)) Equação 27

Onde G é a força peso do bloco de rocha, Δ o coeficiente de aceleração de sísmica, Rg a


reação necessária dos grampos para manter a estabilidade. Sobre φj, o ângulo de atrito da
junta da falha rochosa, os autores destacam os critérios de Barton-Bandis, que apresenta a
faixa de variação deste ângulo, entre 28º e 70º, sendo uma hipótese conservadora, adotar um
valor de 45º, embora isto tenha que ser verificado para os casos de juntas com preenchimento
ou rochas de granulometria muito fina.

Os autores indicam a utilização de fatores de segurança para minorar as forças estabilizadoras


e majorar a força peso do bloco, utilizando a combinação de diferentes fatores de segurança
em função das incertezas das variáveis de entrada e morfologia do talude. Seguindo os
padrões europeus, os coeficientes variam entre 1 e 1,50, Macaferri (2014).

A força de estabilização introduzida no sistema pela presença do reforço, Rg pode ser


calculada utilizando Equação 28, que é baseada no princípio do trabalho máximo, apresentado
por Pallet e Egger(1995) e Giani (1992)

0,5
m2
(1 + 16 )
Rg = [ ] . Tmáx Equação 28
m2
(1 + 4 )

Sendo

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
68

m = cotg (ϕ + ω) Equação 29

(ϕ = 90 − α − ϴ) Equação 30

JCS
JRC. log (
σplan ) Equação 31
ω=
3
Afy
Tmáx = Equação 32
Fs
a. b. t. γ. cos(β)
σplan = Equação 33
a. b
Onde α e ϴ são o ângulo do talude e o ângulo do eixo da barra com a normal do plano de
deslizamento (determinado pelo projetista), ambos em graus; ω é a dilatância da superfície de
deslizamento; Tmáx é a resistência da barra (kN) e σplan a tensão normal do plano deslizante
(kN). JRC e JCS são parâmetros das juntas, o coeficiente de rugosidade (adimensional) e
resistência à compressão da junta (MPa) respectivamente.

O sistema de equações acima já considera no cálculo a resistência da barra de aço a ser


utilizada prevendo a ação de processos corrosivos, reduzindo a área total da seção transversal
da barra, sendo esta uma decisão do projetista.

A metodologia ainda inclui o cálculo do comprimento mínimo de ancoragem necessário para


que o grampo seja capaz de transferir as cargas satisfatoriamente para a porção estável do
talude sem que o arrancamento ocorra. Este cálculo está baseado nos mesmos princípios que
estão apresentados no capítulo 2.1, ou seja, a resistência de aderência dos grampos.

Por fim, o último ponto a ser abordado nesta metodologia consiste na verificação da
estabilidade global do talude, que pode ser realizada utilizando os mesmos procedimentos
indicados anteriormente, métodos de equilíbrio limite caso seja possível, ou ainda métodos de
análise de cunhas de ruptura em taludes rochosos.

Caso alguma das verificações propostas por cada um dos métodos de cálculo não seja
satisfeita, a configuração do sistema da solução não está corretamente elaborada, sendo
necessário realizar alterações no espaçamento e/ou tipo dos grampos bem como no modelo de
tela utilizada, avaliando os efeitos das alterações nas verificações necessárias. Com a solução
para o sistema de faceamento definida é imprescindível uma análise utilizando os métodos de

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equilíbrio limite, citados no capítulo 2.1.7, para verificar a condição de estabilidade global do
talude tratado, garantindo a total segurança no projeto.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
70

3 DESCRIÇÃO DE ENSAIOS E EQUIPAMENTOS

3.1 ENSAIOS REALIZADOS EM ESCALA REAL

Os ensaios em escala real consistem em simular um talude tratado com um sistema de


faceamento (tela e grampos) posicionado em diferentes condições de inclinação. O talude foi
simulado em uma grande estrutura metálica preenchida com solo, onde grampos e uma tela
metálica foram instalados. A inclinação progressiva do conjunto foi realizada por um
guindaste de grande porte, responsável por variar o ângulo do conjunto com a horizontal,
alterando progressivamente as condições de equilíbrio (e as cargas). Concomitantemente
foram realizadas uma série de medições, até o momento da ruptura do sistema de faceamento
utilizado.

3.1.1 Equipamentos e montagem

O ensaio de campo em escala real é realizado utilizando uma grande estrutura aço, de formato
retangular com dimensões de 13 x 15 m. A estrutura de aço serve como uma base para a
montagem de uma estrutura secundária de madeira, que forma uma grande caixa onde o
material que irá simular o solo de um talude é inserido. Neste conjunto também são instalados
os grampos e a tela metálica a ser investigada, simulando a condição real de tratamento de um
talude. Também fazem parte do conjunto do ensaio inúmeros instrumentos, cuja função é
registrar as forças e deformações que se manifestam ao longo do ensaio.

Um guindaste, de 500 toneladas é responsável por elevar uma das extremidades do conjunto,
alterando gradativamente a inclinação na qual o solo está depositado, condição que altera os
carregamentos aplicados. A Figura 31 apresenta uma fotografia do ensaio na posição inicial,
mostrando uma visão geral da montagem do ensaio.

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Figura 31: Vista geral do ensaio em escala real de campo realizado em Winterthur Geobrugg
(2012)

A estrutura secundária retangular de madeira, uma grande caixa, tem dimensões iguais a 10 x
12 m, com uma profundidade de 1,20 metros. A madeira utilizada na face interna apresenta
uma superfície bastante rugosa, conferida por um revestimento de chapisco, e conta com
pequenas vigas de madeira, de seção transversal 60 x 30 mm, que são igualmente espaçadas
no sentido transversal da caixa, Figura 32. O revestimento interno da caixa de madeira tem
por objetivo aumentar a resistência no contato entre a interface dos materiais, garantindo que
as superfícies de rupturas se manifestem dentro da superfície do solo, e não no contato entre o
solo com a estrutura de madeira.

Os grampos, cujo espaçamento e diâmetro são definidos em função da necessidade do ensaio,


também são fixados junto à estrutura metálica descrita. Cada grampo é constituído pelo
conjunto de uma barra de aço, geralmente do tipo GEWI, e a injeção de nata de cimento, cuja
aplicação se dá utilizando um tubo de revestimento de PVC, com 100 mm de diâmetro,
conforme apresentado na Figura 32.

A barra de aço utilizada possui um comprimento livre de 24 cm na extremidade superior, que


é utilizado para a correta instalação da tela de aço sobre o material de preenchimento,
utilizando as placas do sistema. A fixação do conjunto que compõem o grampo se dá por meio
de uma placa de fundação, soldada à barra de aço. Por sua vez, a placa é aparafusada junto da
estrutura de aço principal. Este modelo de fixação do grampo à estrutura principal objetiva
aumentar a resistência da base do grampo, buscando reduzir ao máximo as deformações no
ponto de fixação.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
72

Grampo ( barra+revestimento)

Placa de fundação

Vigas

Figura 32: Vista interna da estrutura de madeira, Geobrugg (2012)

Quando finalizada a montagem dos grampos, o material de preenchimento é lançado dentro


da caixa, sem que nenhuma medida especial de compactação seja adotada. Antes da instalação
da tela metálica é necessário lançar diretamente sobre o material que simula o solo uma tela
secundária, cuja resistência não afeta os resultados do ensaio, com o objetivo de conter o
material, evitando que este atravesse o faceamento pelas aberturas da malha de aço principal.

A fixação da tela metálica principal junto à estrutura do ensaio é projetada para simular uma
condição de talude infinito, eliminando eventuais problemas com as condições de contorno.
Para tanto a tela metálica é presa a cabos de aço na porção inferior e superior, que por sua vez
é conectado à estrutura de aço por meio de manilhas. Nas laterais, a fixação da tela se dá por
meio de parafusos, que são instalados diretamente em perfis metálicos da estrutura principal,
garantindo que não ocorram deformações laterais na tela metálica.

Por fim são instaladas as placas de fixação do sistema, cujo formato varia de acordo com o
sistema de faceamento investigado durante o ensaio, aplicando quando necessário o pré-
tensionamento do sistema por meio das placas. A Figura 33 mostra os pontos de fixação da
tela metálica.

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73

Conexão por cabos de aço

Placas de fixação

Conexão lateral
perfis metálicos

Figura 33: Pontos de fixação da malha junto a estrutura

3.1.2 Instrumentação utilizada no ensaio

Para garantir a acurácia e precisão das medidas foram utilizados diferentes equipamentos para
medição de um mesmo parâmetro. A seguir serão descritos os equipamentos utilizados de
maneira bastante sucinta, com objetivo de apresentar e elucidar as grandezas obtidas com a
realização deste ensaio. Os equipamentos e procedimentos de ensaios estão descritos em
Baraniak e Schawarz (2014).

a) Escâner Laser Laser – Deformações Superficiais


Este tipo de equipamento é capaz de modelar uma superfície qualquer tridimensionalmente, a
partir de coordenadas X, Y e Z coletadas a partir das leituras realizadas. O princípio de
funcionamento destes scanners, segundo Barchick et al. (2007), está em um sistema de
emissão e recepção de feixes de laser.

O equipamento emite milhares de feixes de laser sobre toda a face da superfície, que ao ser
atingido reflete parte dos sinais, redirecionando os feixes de volta para uma central receptora
do equipamento. Especificamente, nos ensaios disponibilizados para a presente dissertação, o
equipamento emissor utilizado foi um escâner laser de pulso, do tipo Riegl VZ-400. A
configuração do equipamento foi elaborada de modo que feixes fossem emitidos em
intervalos regulares de 0,02 graus, tanto na direção horizontal quanto na vertical. Deste modo
uma densidade de 104 pontos de leitura por m² de face foi obtida.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
74

O tempo transcorrido entre o envio e recepção do sinal, juntamente com a variação na energia
do feixe são as informações utilizadas para criar um conjunto de coordenadas X, Y e Z, que a
modelam a superfície escaneada. A Figura 34 apresenta um exemplo das medições realizadas
utilizando o escâner laser.

Figura 34: Superfície obtida durante um ensaio utilizando o sistema de escaneamento Laser
Baraniak e Schawarz (2014)

b) Potenciômetro de Fio
O modelo de potenciômetro utilizado nos ensaios é capaz de registrar deslocamentos dentro
da faixa de 0-3000 mm. Este equipamento foi instalado na cabeça de um dos grampos da
caixa, em um ponto no qual as convexidades geradas pela pré-tensão aplicada na malha não
interferissem nos resultados das medições.

Este equipamento é composto por um elemento resistivo e um conjunto de dois contatos, um


móvel e um fixo, que estão submetidos a uma tensão elétrica. O deslocamento do contato
móvel do potenciômetro, que acompanha o deslocamento de um elemento de interesse do
ensaio no qual ele é fixado, promove uma alteração na resistividade elétrica dos condutores,
causando uma variação na tensão elétrica que está aplicada ao sistema.

A oscilação nas medições da tensão elétrica pode facilmente, em laboratório, ser


correlacionada com um deslocamento específico, ou seja, o equipamento é calibrado para
transformar as variações nas leituras de voltagem (V) em deslocamentos (mm) medidos.

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c) Células de Cargas
As células de carga foram instaladas nos cabos de suporte inferior e superior do ensaio, que
são instalados para simular as condições de contorno de campo durante a realização do ensaio.
Neste caso as células de carga utilizadas eram compostas por strain gauges (descritos abaixo),
fixados a placas de alumínio, que por sua vez estavam em contato direto com os cabos de aço.
Deste modo, as células de carga utilizadas era capazes de medir cargas de até 200 kN.

d) Strain gauges
Estes dispositivos estão baseados no mesmo princípio de que a variação na tensão elétrica é
proporcional às deformações da resistência elétrica e pode ser facilmente correlacionada com
as deformações do elemento ao qual o dispositivo está fixado, sendo correlacionáveis com as
cargas. O formato típico de um dispositivo deste tipo é similar ao apresentado na Figura 35.

Figura 35: Formato típico do strain gauge (adaptado de www.sensorland.com acessado em


25/06/2014)

Cabe lembrar que para completar o circuito e ser possível realizar as leituras, é necessário que
este sensor esteja ligado em arranjo tipo ponte de Wheatstone e conectado a um conjunto de
dispositivos eletrônicos (baterias, amplificadores de sinal, etc.) para o correto funcionamento.

Além de estes dispositivos terem sido aplicados nas células de cargas, eles também foram
utilizados em grampos do sistema, realizando medições das cargas de tração e de deformação,
tanto as horizontais quanto as verticais, observadas tanto na base quanto na cabeça do grampo
de interesse. Ao todo foram instalados 12 conjuntos de strain gauges, 6 em cada extremidade,
sendo necessário um par de instrumentos para cada uma das medidas a serem realizadas. A
Figura 36, apresenta a configuração da instalação destes equipamentos nos grampos.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
76

Figura 36: Aplicação dos strains gauges. Adaptado de Baraniak e Schawarz (2014).

3.2 ENSAIOS DE LABORATÓRIO

Atualmente no nosso país ainda não foram desenvolvidos critérios claros para a classificação
das telas metálicas que são comumente utilizados em sistemas de faceamento de taludes.
Dentro desta problemática são propostos ensaios de laboratório que buscam avaliar as
características destes materiais, definindo claramente quais são as resistências nominais das
diferentes telas frente aos esforços apresentados pelos métodos de dimensionamento.

Estes ensaios foram realizados no laboratório de Materiais de Construção e Concreto do


Instituto Militar de Engenharia, o IME, e nas dependências da empresa que fabricou os
equipamentos, em Belo Horizonte.

3.2.1 Prensa para ensaio de tração

Os equipamentos e as metodologias seguidas durante a execução dos ensaios das malhas


metálicas utilizadas na presente dissertação estão baseados nos projetos e procedimentos
utilizados em pesquisas semelhantes da Universidade de Cantabria, na Espanha, Universidade
do Estado de Washington, EUA e na sede da empresa parceira na Suíça (Geobrugg).

Devido à diferença conceitual entre o equipamento disponibilizado pelo laboratório do IME e


o equipamentos utilizados nos ensaios realizados nas pesquisas citadas acima, foram
necessárias adaptações dos dispositivos utilizados na presente pesquisa, tomando como base
os projetos e informações disponibilizadas. Deste modo, o maquinário foi adaptado para
atender as necessidades encontradas pelas pesquisas em desenvolvimento no local.

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O Instituto Militar de Engenharia disponibilizou uma prensa INSTRON, capaz de aplicar


cargas de compressão e de tração nos elementos a serem ensaiados, sendo necessário apenas
inverter o sentido do curso da viga central. Esta característica de tração é fundamental para o
desenvolvimento da presente pesquisa. A Figura 37 apresenta uma fotografia da prensa em
sua configuração original.

Figura 37: Prensa que foi utilizada na pesquisa em sua configuração original.

Este equipamento passou por um processo de reforma, recebendo um novo conjunto de


motores e sistema de controle, juntamente com um novo software. Adicionalmente foram
instaladas novas células de carga e novos sistemas de aquisição de dados de deformação, ou
seja, a prensa foi inteiramente remodelada.

Estruturalmente também foram necessários alguns ajustes, a instalação de uma nova viga de
suporte, fixada na estrutura original da base da prensa, tendo por função fornecer a base para a
instalação dos pórticos e aplicação de carga nas telas a serem ensaiadas (elemento de cor azul
na fotografia) Figura 38 (a). A estrutura rígida do pórtico de ensaio é conectada na viga azul,
formando a base fixa do pórtico. A porção superior da estrutura do pórtico é móvel, viga de
cor amarela, e é fixada diretamente na viga móvel da prensa, viga de cor escura, por meio de
cabos de aço,. Esta configuração permite que as cargas sejam transmitidas uniformemente da
presa para a tela a ser ensaiada. A Figura 38 (b) apresenta o arranjo geral da prensa.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
78

Figura 38: (a) Viga base (b) configuração final com o pórtico dos ensaios de tração.

3.2.2 Pórtico utilizado para o ensaio de tração

Parte da pesquisa compreendeu o desenvolvimento do pórtico para a instalação da tela, que


foi inteiramente construído, tendo como base os projetos e considerações indicadas por Cala
et al.(2012) e Roduner (2011). A estrutura do pórtico elaborado sofreu ajustes em relação ao
projeto original, com o intuito de adaptar seu formato às condições e limitações oferecidas
pela prensa disponibilizada pelo IME. A Figura 39 apresenta uma fotografia do pórtico
montado, com um corpo de prova de tela, dando uma ideia geral da montagem do
equipamento.

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Figura 39: Pórtico do ensaio de tração com uma.

O conjunto para o ensaio é montado fixando a tela metálica junto das presilhas laterais e
superiores, Figura 40 (b) na viga, elementos de cor amarela. Estes elementos podem se
deslocar lateralmente de forma livre ao longo do eixo das vigas, que são construídas
utilizando duas chapas metálicas, Figura 40 (a), formando uma espécie de trilho por onde se
deslocam as fixações.

Trilhos

Figura 40: Detalhes das fixações laterais do pórtico. (fonte autor)

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
80

A livre movimentação das presilhas laterais tem por objetivo manter as deformações laterais
da tela praticamente nulas, ou seja, reduzir ao máximo processos de contração lateral,
mantendo a largura da amostra uniforme ao longo do processo de carregamento da tela. Deste
modo é possível manter um carregamento uniforme, evitando concentração de tensões em
pontos de maiores deformações ao longo do desenvolvimento do ensaio.

Esta configuração padroniza o ensaio, conferindo um alto grau de repetibilidade nos


resultados, reduzindo ao máximo as variáveis geométricas da tela que possam se manifestar
por variações nas cargas aplicadas. Deste modo é possível utilizar o mesmo pórtico para
diferentes tipos de telas metálicas.

O pórtico desenvolvido para adequar as condições da prensa permite que sejam utilizadas
mostras de tela com dimensões (h) 670 mm e (l) 570 mm, considerando que os diferentes
tipos de tela possuem diferentes tamanhos característicos para os elementos da malha de aço.

3.2.3 Pórtico do ensaio de resistência ao cisalhamento placa/malha

O equipamento foi desenvolvido com base no trabalho apresentado por Cala et al. (2012) e
nas pesquisas das universidades acima citadas. O papel desempenhado durante o
desenvolvimento do pórtico ficou limitado ao projeto conceitual do funcionamento do
equipamento, informando as necessidades e um modelo básico de como a solução poderia ser
encontrada. O processo de fabricação e dimensionamento do equipamento ficou a cargo da
empresa que o fabricou, sendo que durante o processo a comunicação era constante, a fim de
refinar o projeto final.

O equipamento utilizado na pesquisa aplica as cargas de forma vertical, diferentemente do


equipamento original, que é montado horizontalmente, entretanto o efeito reproduzido é o
mesmo, o cisalhamento da malha de aço metálica no contato com a placa de fixação do
sistema. A aplicação da carga se dá por meios de cabos de aço que tracionam a placa do
sistema no sentido ascensional. Deste modo é necessária que a fixação da tela seja realizada
na base do pórtico, fornecendo à reação a carga, utilizando presilhas semelhantes às
apresentadas no pórtico da prensa de tração. A extremidade de topo não precisa ser fixada do
mesmo modo, pois nesta extremidade não são aplicadas cargas, sendo sua fixação realizada
por meio de um cabo elástico, cuja função é apenas manter a amostra na posição correta para
a instalação da placa do sistema. Uma visão geral do equipamento está apresentada na Figura
41, onde uma amostra está instalada no pórtico, e o detalhe das presilhas.

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Figura 41: Visão geral do pórtico desenvolvido

A carga é aplicada ao sistema por meio de dois cabos de aço que estão fixados a viga superior
do equipamento, sendo que estes são tracionados concomitantemente, tracionando de maneira
uniforme a placa do sistema. Junto à viga superior também está localizada a célula de carga,
ponto onde entram em contato com os cabos, registrando o carregamento ao longo do ensaio.
Estes cabos partem do motor do equipamento, localizado na região inferior da máquina. A
Figura 42, apresenta um esquema da montagem do equipamento.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
82

Célula de carga
Cabos de aço

Motor de acionamento

Figura 42: Detalhe do funcionamento do equipamento (fonte autor)

O carregamento é aplicado à amostra instalando a placa de fixação do sistema e um conjunto


auxiliar de chapas metálicas, roldanas e parafusos. Este conjunto tem por função simular o
grampo da solução de solo grampeado e garantir que a malha metálica tenha contato com a
placa do sistema, a fim de avaliar a resistência da amostra nesta região. A fixação do conjunto
se dá por meio de duas porcas, nas quais é aplicado o torque suficiente para garantir que a
malha metálica não se desloque para fora do contato da placa de fixação sistema. A Figura 43
traz imagens, em detalhe deste dispositivo.

Figura 43: Detalhe do sistema de aplicação de carga (fonte autor)

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83

Deste modo, os cabos são tracionados para cima, fazendo com que o conjunto apresentado se
desloque, aplicando uma carga nos pontos de contato da tela com a placa e com o parafuso
que simula o grampo. Foi garantido que os cabos tivessem o mesmo comprimento para que a
carga fosse aplicada mais uniformemente possível, evitando a concentração de tensão em uma
das extremidades da placa de fixação.

O equipamento dispõem de uma célula de carga, para os dois cabos um sistema que mede o
deslocamento dos cabos, em função do deslocamento das engrenagens do motor do sistema,
ou seja é uma medida de deformação externa. Não foi utilizado um sistema para medir a
deformação diretamente na malha pelo fato de que o parâmetro investigado é a resistência do
sistema e não o comportamento de deformação da malha ao longo do ensaio.

Em ambos os equipamentos os dados eram coletados durante a realização do ensaio por meio
do software desenvolvido para o controle de ensaio. Os dados foram coletados apresentando o
horário do ensaios, a carga em quilogramas e o deslocamento do curso do motor em
milímetros.

3.2.4 Ensaio de puncionamento

Devido às necessidades especiais e adaptações necessárias para a realização deste ensaio, não
houve tempo hábil para o desenvolvimento e construção de um equipamento que fosse capaz
de determinar o esforço de puncionamento da tela. Todavia, no desenvolvimento do trabalho
foram utilizados resultados de ensaios de puncionamento realizados por um laboratório
alemão, que foram disponibilizados, cordialmente, pela equipe da Geobrugg. Deste modo, não
serão apresentados os equipamentos utilizados para a realização do ensaio, sendo apenas
indicado, no capítulo seguinte, o procedimento executivo do mesmo.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
84

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 MATERIAIS UTILIZADOS NA PESQUISA

No desenvolvimento deste trabalho foram utilizadas 4 tipos diferentes de malhas metálicas,


sendo que a principal diferença entre os modelos consiste na espessura dos fios e na geometria
da malha. As amostras utilizadas foram especialmente fabricadas sob medida para esta
pesquisa, para adequar as dimensões aos pórticos fabricados para a realização dos ensaios. A
placa de fixação utilizada corresponde ao modelo padrão fornecido junto com a tela metálica
pela fabricante, reproduzindo fielmente as condições de campo. Este item também contempla
a apresentação dos materiais utilizados para simular as condições de um talude no ensaio de
escala real.

A seguir serão apresentados todos os elementos utilizados para o desenvolvimento da


pesquisa, descrevendo as amostras e materiais.

4.1.1 Telas metálicas utilizadas

Os quarto modelos de malhas utilizados na pesquisa tem todas as especificações, medidas,


geometria apresentadas nos manuais e dados fornecidos pelo fabricante, sendo possível
encontrá-los em GEOBRUGG (2009). Aqui apenas serão indicadas as informações relevantes
a pesquisa.

Os modelos avaliados foram DELTAX G80/2 mm TECCO G65/.2 mm, TECCO G65/3mm,
TECCO G65/4mm. Estas malhas são constituídas pelo entrelace de arames de aço de
diâmetro variando entre 2 e 4 mm, sendo que o aço apresenta uma resistência nominal de
1770 N/mm².

Estas malhas são trançadas sob um formato romboidal, uma malha na forma de losangos, com
dimensões x e y, indicadas na Figura 44 de 83/143mm para a malha G65 e 101/175mm para o
modelo G80. Nesta configuração, é possível que um círculo seja circunscrito no losango, com
65 mm de diâmetro no modelo G65 e com 80 mm no modelo G80, dimensão que
correspondente à nomenclatura dos modelos de tela utilizados.

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Figura 44: Arranjo das malhas Tecco LGA (2014).

Conforme supracitado as amostras foram especialmente fabricadas para a pesquisa,


adequando as dimensões para a correta fixação junto aos pórticos de ensaio, estando as
dimensões de cada tipo de amostra apresentadas junto a Tabela 3.

Tabela 3: Dimensões das amostras utilizadas:

Tipo de amostras Abertura (x, y) Largura Altura

DELTAX G80/2mm 101/175 mm 530 mm 600 mm

TECCO G65/2mm 83/143 mm 570 mm 660 mm

TECCO G65/3mm 83/143 mm 570 mm 660 mm

TECCO G65/4mm 83/143 mm 570 mm 660 mm

4.1.2 Placas de fixação

As placas de fixação tem a função de promover a correta aplicação da carga de pré-tensão no


sistema de faceamento proposto bem como a correta transmissão dos esforços gerados na
malha para o grampo. Este processo se dá através dos pontos de contato existentes entre a
placa e a malha metálica utilizada, um contato direto entre os elementos.

Foi utilizada uma placa de fixação padrão, a placa P33, alusão aos seus 33 cm de
comprimento, que é instalada transversalmente ao sentido da malha, ou seja, as placas ficam
perpendiculares aos losangos que compõem a tela. Nesta posição é possível garantir que a
placa possua o maior número de pontos de contato com a tela metálica, 16 pontos ao todo
(Figura 45.), configuração que permite uma melhor transferência de carga, Cala et al. (2012).

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
86

Figura 45: Formato da placa de fixação utilizada. Adaptado de Cala et al. (2012)

É de extrema importância elucidar o fato de que o formato da placa bem como suas
dimensões exerce um papel fundamental nos ensaios realizados, visto que placa afeta
diretamente a maneira com que os elementos interagem, principalmente na transferência de
carga da cabeça do grampo para a tela. Devido a esta razão, para fins comparativos, foi
utilizado somente um modelo de placa, para garantir que as mesmas condições na análise dos
resultados.

4.1.3 Material utilizado como solo nos ensaios em escala real

O material utilizado como solo de preenchimento nos ensaios em escala real varia de acordo
com a necessidade do ensaio. Entretanto é comum que nestes ensaios sejam utilizados dois
tipos de solos granulares, uma espécie de seixo e um material britado Flum et al. (2014).

O seixo, Figura 46 (a), é caracterizado por apresentar partículas com formato


predominantemente arredondado, com tamanho variando entre 16-32 mm, que quando
lançado na caixa atinge a condição de densidade máxima. Já o material britado, Figura 46 (b),
que tem características similares a uma mistura composta por brita e areia, é um material de
origem artificial, proveniente do processo de britagem de materiais de reciclagem, com grão
variando entre 0-63 mm de diâmetro e forma variada. Este material apresenta um alto
intertravamento.

Devido à sua natureza granular os materiais utilizados nestes ensaios não apresentam coesão e
efeitos de sucção, de modo que a resistência ao cisalhamento oferecida por estes materiais é
inteiramente friccional. Mesmo que em condições reais campo, um talude constituído por
seixo rolado ou por materiais britados não sejam encontrados, Flum et al. (2014) apontam em
seu trabalho que a utilização destes materiais para a execução dos ensaios é válida pelo fato
de que a força atuante no sistema e que por eles são simuladas são as mesmas, sendo ela a

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força peso do material. A segunda justificativa recai sobre as forças estabilizantes serem
reduzidas somente a forças de atrito, simplificando a análise do conjunto de resultados.

(a) (b)

Figura 46: Materiais utilizados nos ensaios em escala real (a) Seixo Flum et al (2014) e (b)
material britado Geobrugg (2012).

Os parâmetros de resistência destes materiais estão apresentados junto ao trabalho de


Baraniak e Schawarz (2014), e foram estimados com base na medição das inclinações das
pilhas, o ângulo de repouso das mesmas. Estes podem ser visualizados junto Tabela 4.

Tabela 4: Parâmetros característicos dos materiais

φ c γ
Material
(graus) (kN/m)² (kN/m³)
Seixo arredondado
33 0 20
16 – 32 mm
Areia Britada
38 0 21
0 – 63 mm

4.2 PROCEDIMENTOS DOS ENSAIOS

Para a realização dos ensaios foram utilizados as diretrizes apresentadas nas pesquisas
utilizadas como base no desenvolvimento do trabalho, a fim de reproduzir as condições de
campo e garantir a repetibilidade dos resultados obtidos nos ensaios. Além das diretrizes
apresentadas, foram realizados pré-testes, a fim de avaliar as condições dos ensaios com os
equipamentos desenvolvidos, buscando evidenciar a particularidade de cada um, e promover e
mínimos ajustes nas metodologias para garantir os melhores resultados.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
88

4.2.1 Metodologia dos ensaios de tração

Devido à relativa facilidade na montagem do equipamento, clara definição das condições de


contorno do ensaio e execução simplificada, julga-se necessário que este ensaio seja realizado
com o intuito de classificar as malhas metálicas. Este ensaio também fornece um parâmetro
que é utilizado para o dimensionamento das soluções de faceamento em telas de acordo com
uma das metodologias apresentadas anteriormente.

A grande repetibilidade de ensaio proporciona uma padronização da classificação das malhas,


sendo assim possível avaliar diferentes modelos telas que possuam diferentes arranjos de fios
e diferentes materiais constituintes Roduner (2011).

O ensaio se inicia com a instalação da tela a ser ensaiada no pórtico, fixando a tela junto às
presilhas laterais, que podem ser ajustadas em função das dimensões internas da malha que
compõem a tela, dentro dos limites apresentados acima para estrutura do pórtico. Uma chapa
de madeira foi posicionada junto ao pórtico na direção de um corredor existente no
laboratório com a intenção de evitar que no momento da ruptura da tela fragmentos fossem
lançados naquela direção, evitando ferimentos as pessoas que por ali circulavam. A
configuração ao final da instalação se assemelha a Figura 47.

Figura 47: Esquema de fixação da tela junto ao pórtico de tração. (fonte autor)

A fixação da malha junto ao pórtico é realizada em todas as extremidades da amostra,


fixando-a em todos os gomos que compõem a malha. Este procedimento é necessário para
garantir que a tela mantenha as suas dimensões durante o ensaio, evitando contrações laterais,
e deste modo garantindo que concentrações de carga sejam evitadas devido a deformações no
sistema.

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89

Após finalizar a montagem do conjunto é necessário aplicar uma pequena carga, próxima de 4
kN para promover o ajuste do corpo de prova junto ao equipamento. Deste modo é possível
realizar pequenos ajustes para garantir as condições necessárias para o ensaio, uniformidade
das dimensões da tela e na aplicação de cargas. Nesta fase, a viga superior, fonte de aplicação
da carga de tração, era verificada, a fim de garantir a sua horizontalidade, ou seja, a
uniformidade da distribuição de carga. Para tanto foi utilizado um nível de bolha, que era
posicionado sobre a viga antes de iniciar a aplicação da carga de ensaio, conforme
apresentado na Figura 48.

Figura 48: verificação do nível da viga de aplicação de carga. (fonte autor)

Após a finalização da correta montagem, aplicação da carga inicial e verificação da


horizontalidade da viga o ensaio pode ser iniciado. Neste caso em particular, o equipamento
foi montado de modo que a carga poderia ser aplicada sob uma taxa constante de
carregamento (kgf/min) ou velocidade definida (mm/s), sendo esta de escolha do usuário.
Entretanto, foi seguido o procedimento apresentado por Roduner (2011), que indica que o
ensaio deve ser realizado respeitando uma taxa de deslocamento que varia entre 80 e 90
mm/min. Porém, devido à limitação do equipamento disponível, a taxa de deslocamento
utilizada foi de 15 mm/mim.

Juntamente com a prensa, foi fornecido pelo fabricante um programa para operar a prensa,
que pode ser instalado em qualquer computador com placa wi-fi, para possibilitar a conexão
com o sistema de controle da prensa. Com a prensa conectada, bastou programar o sistema de
funcionamento com a taxa de deslocamento desejado. O programa desenvolvido pelo
fabricante da prensa também possibilitou acompanhar em tempo real o desenvolvimento do
ensaio, além de salvar os resultados, em formato de planilha eletrônica, registrando o tempo,
deslocamento e carga durante o ensaio.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
90

Além das cargas aplicadas, foram registrados os deslocamentos ao longo do ensaio, sendo que
estes eram medidos internamente, ou seja, através do deslocamento interno do curso da
prensa. Deste modo não foram registradas as deformações em pontos específicos da tela,
apenas o deslocamento total do sistema ao longo da aplicação da carga.

O equipamento foi previamente calibrado e testado pela equipe que o desenvolveu, sendo
garantido por eles a precisão e acurácia nos resultados. As unidades padrão definidas por eles
para os resultados foram quilograma-força (kgf) para as cargas e milímetros (mm) para o
deslocamento.

4.2.2 Ensaios de Resistência Malha/Placa

Este ensaio tem por objetivo medir a resistência ao cisalhamento da tela metálica no contato
com a placa de fixação, frente aos esforços tangenciais que surgem nos grampos superiores
quando um corpo de solo instável tende a se movimentar entre dois grampos consecutivos,
conforme a indicação da Figura 24, força indicada como Z.

O ensaio é iniciado com a instalação da amostra junto ao pórtico de ensaio, fixando


inicialmente a extremidade superior com um elástico, posicionando a amostra de maneira
horizontal. A extremidade superior pôde ser fixada somente com um elástico pelo fato de que
a reação ao carregamento aplicado se deu na base da amostra, sendo a fixação superior
necessária para garantir apenas a posição. Na base, a amostra era fixada por meio de presilhas,
mantendo a amostra no local.

Neste ensaio, as laterais não foram fixadas pelo fato de que as deformações laterais da tela
não iriam gerar pontos de concentração de tensão durante o ensaio, pois as cargas estavam
sendo aplicadas de maneira concentrada no ponto de instalação da placa. Esta configuração é
diferente do ensaio de tração, que aplica carga ao longo de todo o comprimento da tela.

Na sequência da preparação do ensaio se dá a montagem do sistema de aplicação de carga e o


posicionamento da placa do sistema, sistema apresentado no item que descreve o
equipamento. Durante a montagem deste conjunto alguns cuidados foram tomados para
garantir que todos os ensaios fossem realizados da maneira mais homogênea possível, sendo
possível destacar os seguintes procedimentos:

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91

 A placa foi instalada horizontalmente, de modo que os pontos de contato com a malha
metálica correspondessem a losangos no mesmo nível, tendo os mesmos pontos em
ambas as extremidades da placa;

 Os cabos de aço foram conectados do sistema de modo a manter a posição mais


vertical possível, evitando concentração de tensão em uma das extremidades do
sistema;

 O torque aplicado ao sistema (placa/chapa) foi o máximo permitido pelo sistema de


aplicação manual, evitando que no contato entre os arames com as placas os arames
escapassem durante a aplicação da carga.

Após a finalização da montagem do ensaio, o sistema era ativado, aplicando uma pequena
carga, não superior aos 4 kN, apenas para tracionar o sistema a ponto de garantir o correto
posicionamento de todos os elementos e a verticalidade nos cabos de aço. Deste modo foi
possível realizar os ensaios de maneira uniforme. A Figura 49 apresenta algumas imagens da
montagem do ensaio, dando enfoque aos principais pontos acima apresentados.

Figura 49: Principais pontos da montagem do ensaio (fonte: autor)

Após verificar as condições de montagem de ensaio, era dado início ao processo de


carregamento do ensaio, sendo que este equipamento também permite o controle por taxa de
carregamento e taxa de deslocamento. Entretanto, neste caso foi adotada uma taxa de
carregamento constante, visto que neste ensaio esperavam-se deformações maiores e não
lineares, devido à construção do equipamento. Por estas razões o controle de carga foi julgado
como mais adequado para gerar resultados mais precisos.

Sendo assim, foi definido um carregamento padrão para todas as amostras, sendo a taxa
aplicada de 10%/min da carga máxima esperada para cada tipo de amostra. Esta decisão foi
tomada para evitar que um carregamento rápido gerasse erros na interpretação dos resultados,

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
92

e possibilitar o tempo necessário para a deformação da amostra para se adequar a carga


aplicada, buscando evitar pontos de concentração de tensão.

O mesmo sistema de controle e aquisição de dados da prensa de tração foi instalado neste
equipamento, sendo conectado ao computador via wi-fi. O carregamento era registrado por
meio de células de carga ligadas aos cabos de aço e as deformações medidas junto ao
deslocamento interno do motor do equipamento, medindo apenas o deslocamento total. Os
resultados eram expressos em quilograma força (kgf) e milímetros (mm).

4.2.3 Ensaio de Puncionamento

A realização deste ensaio não foi possível, em virtude do tempo disponível para o
desenvolvimento do trabalho e em complicações na adequação do equipamento disponível
para o ensaio. Deste modo, serão apresentados os resultados e procedimentos de ensaio que
foram fornecidos pelos laboratórios Alemães LGA, e apresentados nas pesquisas de Roduner
(2013) e Cala et al. (2012).

Este ensaio tem por objetivo determinar a resistência da tela de aço frente aos esforços de
puncionamento que surgem no sistema de faceamento quando uma camada de solo instável
tende a se desprender do talude, criando um esforço que tende a empurrar a tela de aço contra
a placa de fixação. Cabe lembrar que o valor da resistência ao puncionamento é extremamente
dependente do modelo de placa que é utilizado, pois o formato e tamanho afetam diretamente
as forças de contato e comportamento do sistema.

A resistência ao puncionamento de uma dada tela metálica no contato com o grampo pode ser
determinada com base na diferença observada entre a resistência ao puncionamento do solo
sem o revestimento metálico com a resistência ao puncionamento do conjunto solo + tela
metálica. Sendo assim é necessário realizar dois ensaios para determinar o parâmetro.

O conjunto de ensaio é constituído por uma caixa metálica que é preenchida com solo, um
grampo, uma barra metálica que dá reação ao sistema, e um macaco hidráulico que aplica as
cargas no sistema, sendo a sua constante de calibração 1,66 kN/bar de pressão aplicada. Sobre
o solo, e instalada o no eixo do grampo, existe a placa de fixação do sistema, cujo modelo é
definido em função do ensaio desejado.

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93

O ensaio tem início com a investigação do puncionamento do solo, sem o revestimento


metálico desejado. Deste modo instala-se a placa de fixação junto grampo, e a carga é
aplicada ao conjunto até o ponto onde é observada a ruptura por cisalhamento do material
utilizado como solo no ensaio. Ao mesmo tempo em que é medida a carga são registradas os
deslocamentos observadas.

A camada de solo do ensaio é recomposta, com o mesmo grau de compactação, e


procedimento é repetido, de maneira idêntica, só que utilizando agora o faceamento da tela
metálica investigado, que é simplesmente lançado sobre a superfície do material. A malha
introduz resistências laterais, que surgem por atrito, condição que permite que cargas maiores
sejam atingidas para as mesmas deformações. A Figura 50 apresenta a configuração do ensaio
com e sem tela sobre o material a ser ensaiado.

Figura 50: Diferenças entre os ensaios com e sem a tela Cala et al. (2012).

O valor da resistência ao puncionamento das telas é expresso pela diferença algébrica entre as
cargas registradas no ensaio no momento da ruptura por cisalhamento do solo nas duas
condições, com o revestimento metálico e sem o mesmo.

O material utilizado como solo de enchimento corresponde a uma agregado grosseiro, um


material granular, com partículas de dimensões variando entre 0-32 mm. A caixa metálica foi
preenchida lançando o material em três camadas, sendo que cada uma destas camadas foi
compactada utilizando um compactador vibratório. Este procedimento foi repetido em todas
as situações, considerando a caixa preenchida somente com solo e utilizando a tela metálica,
para os diferentes modelos.

Um ponto que deve ser elucidado diz respeito ao grau de compactação do material, que exerce
um papel importantíssimo na realização do ensaio, de modo que os valores máximos das
cargas obtidas nos ensaios são diretamente proporcionais ao grau de compactação do solo,
sendo recomendado que em ambas as situações o material seja compactado de maneira

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
94

similar, atingindo o mesmo grau de compactação, minimizando o efeito desta variável nos
resultados. Os autores recomendam que o material apresente uma densidade de
aproximadamente 22 kN/m³, densidade padrão dos ensaios realizados nos estudos anteriores
apresentados nos relatórios fornecidos pelo LGA.

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95

5 APRESENTAÇÃO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 ENSAIOS DE TRAÇÃO

Os resultados apresentados para os ensaios de tração foram obtidos por meio da realização de
ensaios utilizando a prensa de tração adaptada para esta pesquisa. A prensa fica localizada nas
instalações do IME, Instituto Militar de Engenharia. Foram realizados ensaios utilizando
apenas três modelos de telas, sendo eles: G80/2 mm, G65/2 mm e G65/3 mm. O modelo mais
robusto de tela, o modelo com arame de aço de 4 mm não foi ensaiado devido a capacidade
estrutural do pórtico, que não apresentava resistência suficiente para romper a amostra..

Logo, para os modelos ensaiados, foi realizada uma bateria de ensaios, verificando a
resistência a tração de um conjunto de amostras para cada um dos modelos de tela
investigados. Ressalta-se que foram realizados alguns ensaios de caráter preliminar, cujo
objetivo era verificar as principais condicionantes de ensaio, estas referentes à montagem e a
programação da prensa. Os resultados destes ensaios foram excluídos da dissertação, pelo fato
de que o procedimento executivo não seguiu o padrão correto pré-estabelecido.

A tabela Tabela 5 sumariza a distribuição das amostras nos ensaios realizados, sendo que os
resultados dos mesmos estão apresentados a seguir, juntamente com comentários sobre os
mesmo.

Tabela 5: Número de amostras por ensaio realizado


Ensaio de resistência no contato
Amostra Ensaio de tração
malha/palca
Tecco G80/2mm 7 5
Tecco G65/2mm 7 4
Tecco G65/3mm 5 5
Tecco G65/4mm -- 2

5.1.1 Malha metálica modelo TECCO G65/2 mm

Para este modelo de malha metálica foram ensaiadas sete amostras diferentes, com o objetivo
de verificar a repetibilidade dos resultados obtidos, tendo as amostras uma dimensão de 0,66
m de largura e 0,57 m de altura.

A resistência características destas malhas é expressa internacionalmente apresentando o valor


da resistência a tração por metro linear, porém as amostras ensaiadas apresentam uma

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
96

dimensão de 0,66 m, em função das limitações nas dimensões existentes no pórtico de ensaio
desenvolvido para a pesquisa. Logo, para padronizar os resultados, os valores encontrados
durante o ensaio foram corrigidos pela relação existente entre a dimensão da amostra e a
unidade métrica, estando os resultados apresentados na Figura 51, que traz o gráfico de carga
x deslocamento.

70,00 G65/2 mm
60,00

50,00 Ensaio 02
Carga (kN/m)

Ensiao 03
40,00
Ensaio 10
30,00 Ensaio 11
20,00 Ensaio 12
Ensaio 13
10,00
Ensaio 14
0,00
0 10 20 30 40
Deslocamento (mm)

Figura 51: Resultados dos ensaios de tração G65/2 mm

Durante a realização do ensaio número 3, propositalmente, a amostra foi fixada sem que o
procedimento de ensaio pré-estabelecido fosse seguido corretamente, a fim de avaliar o
impacto nos resultados do ensaio. Neste ensaio, não foi verificada a horizontalidade da viga e
não foi aplicada a carga de pré-tensão, deixando que o sistema se ajustasse livremente, tendo
como consequência uma rotação na viga superior e concentração de carga em uma das
extremidades da amostra, rompendo a malha com uma carga total aplicada menor.

Desconsiderando então os resultados do ensaio número 3, observamos que os resultados


obtidos apresentam um comportamento consistente frente ao esforço de tração, tendo todas as
curvas um formato e valor máximo similares. Para este modelo de malha metálica as curvas
obtidas obedecem a um regime elástico de deformação, tendo um comportamento linearizado
ao longo do ensaio, indicando que a tensão atuante nos arames de aço não chega ao limite de
escoamento do material até o momento em que se dá a ruptura.

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97

As amostras válidas neste conjunto de ensaio atingiram cargas de ruptura, corrigidas em


função da dimensão da amostra, muito próximas às 55 kN por metro, com deslocamentos
entre 25 e 30 mm, o que representa uma deformação de aproximadamente 5% no momento da
ruptura, em relação altura total da amostra.

5.1.2 Malha metálica modelo DELTAX G80/2 mm

Foram realizados 7 ensaios utilizando este modelo de tela, sendo que a amostra apresentava
0,60 m de largura e 0,53 m de altura. Os resultados obtidos foram multiplicados pela relação
existente entre as medidas da amostra e a unidade métrica, garantindo que a resistência seja
apresentada por metro linear de amostra. Deste modo, os resultados podem ser expressos
através do gráfico apresentado na Figura 52.

50,00
G80/2 mm
45,00
40,00
35,00 Ensaio 01
Ensiao 04
Carga (kN)

30,00
25,00 Ensaio 05
20,00 Ensaio 06
15,00 Ensaio 07
10,00
Ensaio 08
5,00
Ensaio 09
0,00
0 5 10 15 20 25 30 35
Deslocamento mm

Figura 52: Resultados dos ensaios de tração G80/2 mm

Neste conjunto de amostras o ensaio número 8 não foi realizado até a ruptura pelo fato de que
durante a execução do ensaio ocorreu uma queda de energia, paralisando o ensaio. Para evitar
possíveis variações nos resultados a amostra foi excluída.

Analisando os resultados é possível verificar dois grupos de curvas, um composto pelos


ensaios 04, 05 e 07 e o segundo composto pelos demais ensaios, onde pode ser observado
comportamentos levemente diferentes.

No primeiro conjunto, as amostras apresentam um módulo de rigidez um pouco maior do que


as demais, representando deslocamentos menores para as mesmas cargas. Também é possível

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
98

notar que próximo da ruptura as amostras sofrem deslocamentos sem aumento de carga,
formando um pequeno patamar horizontal. Esta condição ocorre pelo fato de que neste ponto
os nós dos losangos que compõem esta malha se deslocaram um pouco, rearranjando a
estrutura da amostra para a condição de carregamento, região dentro do círculo indicado no
gráfico.

Já o segundo conjunto de ensaios (01, 06, 08 e 09) tem um comportamento linearizado, sem
pontos de escoamento, semelhante à situação observada para a malha G65/2mm, sem que o
patamar seja observado.

Como o comportamento observado se deu de maneira aleatória entre as amostras, e de


maneira dividida, infere-se que ele seja devido ao rearranjo das amostras devido ao
carregamento, e que este patamar não afeta resistência final das amostras como pode ser
verificado no gráfico, onde todas as amostras apresentaram a ruptura com praticamente a
mesma carga de tração.

Mesmo com estas diferenças, a carga máxima de ruptura obtida no ensaio foi a mesma para as
duas situações, ficando próxima de 45 kN/m, com deslocamentos máximos contidos na faixa
de 25 a 30 mm, aproximadamente 5,2% de deformação da amostra.

5.1.3 Malha metálica modelo TECCO G65/3 mm

Para este modelo de malha metálica foram realizados apenas cinco ensaios, com amostras de
dimensões 0,66 m de largura por 0,57 de altura. Das sete amostras disponíveis uma foi
utilizada como amostra teste, ou seja, utilizada para ajustar o procedimento de ensaio a ser
utilizado nas demais situações. A segunda amostra foi excluída das análises porque o
carregamento ocorreu de maneira muito rápida, gerando resultados imprecisos.

Para os resultados considerados válidos, foi adotado o mesmo procedimento de correção das
cargas para atingir a carga de resistência das amostras por metro, sendo possível verificar os
resultados obtidos na Figura 53.

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160,00
140,00 G65/3 mm
120,00
Ensaio 15
Carga (kN)

100,00
80,00 Ensaio 16
60,00 Ensaio 17
40,00 Ensaio 18
20,00
Ensaio 19
0,00
0 10 20 30 40 50 60
Deslocamento (mm)

Figura 53: Conjunto de amostras malha G65/3mm

Para este conjunto de amostras os resultados mantiveram o padrão de comportamento das


demais, apresentando um comportamento linear e deformação na fase elástica do aço até o
momento da ruptura, que foi observada por volta das 140 kN, com um deslocamento máximo
de 35mm, representando cerca de 6% de deformação da amostra.

O ensaio de número 15 merece um destaque especial, pois a curva mostra claramente um


escoamento no ensaio, representado por dois patamares. Entretanto, o que aconteceu foi o
escoamento de um parafuso nas presilhas de fixação, que sofreu uma grande deformação no
desenvolvimento deste ensaio (ver foto na Figura 54).

Figura 54: Parafuso que sofreu escoamento durante o ensaio 15.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
100

5.1.4 Comentários gerais sobre os resultados

Durante a realização dos ensaios foi observado uma situação comum a todos os conjuntos de
amostra, a ruptura da malha de aço se deu em pontos totalmente aleatórios, tendo sido
observadas rupturas no centro da amostra bem como nas quatro extremidades (cantos
superiores e inferiores). Esta situação indica que durante os testes não foram gerados pontos
preferenciais de falha, o que indicaria a interferência do sistema de montagem do ensaio. A
Figura 55 apresenta algumas fotografias das rupturas em diferentes amostras.

(b)

(a)

(c)

Figura 55: Rupturas observadas nas amostras. (a) ensaio 12 (centro) - (b) ensaio 07 (bordo
inferior) - (c) ensaio 17 (bordo superior) (fonte autor)

Os deslocamentos medidos ao longo do desenvolvimento do ensaio foram realizados com


base no deslocamento do curso da prensa, ou seja, foram os deslocamentos totais sofridos
pelo conjunto pórtico-amostra. Deste modo não é possível separar claramente o deslocamento
sofrido pela amostra individualmente, com exceção do caso onde o parafuso sofre uma grande
deformação.

A resistência por metro obtida por meio dos ensaios realizados nesta pesquisa é levemente
inferior à resistência nominal da malha indicada pela fabricante, que tem como base os

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101

ensaios realizados nos laboratórios alemães da LGA. Os resultados aqui encontrados são em
média 10% menores do que os apresentados nos relatórios fornecidos pelo referido
laboratório.

Uma das possíveis explicações para esta pequena diferença pode estar associada aos efeitos de
escala do experimento, que foi realizado utilizando uma amostra de dimensões menores, o que
pode levar a um comportamento de distribuição de carga levemente diferente. Nas amostras
utilizadas neste trabalho existe um número menor de pontos de contato entre os arames que
constituem a malha, podendo gerar uma concentração de tensão um pouco maior nos nós.

No ensaio original a amostra com um metro de largura tem 14 pontos de contato em uma
linha da malha, enquanto que na amostra aqui utilizada existem apenas 9 pontos de contato na
mesma linha, no sentido longitudinal. Sendo assim, no ensaio apresentado em LGA (2014)
para a amostra G65/3 mm, foi registrada uma carga de 11 kN por nó, enquanto que para o
ensaio 15, por exemplo, foi registrada uma carga de 15 kN, diferença que pode justificar a
diferença na carga de pico registrada.

A segunda possível explicação reside na própria construção do equipamento, que neste caso
utiliza um cabo individual de aço que traciona a tela através da viga superior. Mesmo que
perfeitamente nivelado no início do ensaio, foi verificado que a viga superior sofria leves
rotações durante a execução do ensaio, situação que pode gerar uma pequena diferença nas
cargas aplicadas levando a um acúmulo de tensão em uma das extremidades da amostra.

A terceira e última hipótese que pode explicar esta pequena diferença pode estar associada ao
sistema de fixação da amostra junto ao pórtico. O pórtico utilizado na pesquisa fixa a amostra
por meio de presilhas, que utilizam parafusos, borboletas e arruelas para garantir a posição da
malha, enquanto que os ensaios europeus a malha é fixada por meio de uma espécie de pino.
Deste modo os pontos de fixação da malha permitem uma liberdade maior de movimentação,
enquanto que no pórtico desenvolvido para a pesquisa a borboleta e a arruela aplicam um
torque na malha, situação que pode dificultar a livre movimentação nesta região, levando a
esta pequena diferença. A fotografia apresentada na Figura 56 apresenta o detalhe da fixação
do pórtico utilizado.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
102

Figura 56: Detalhe da fixação

5.2 ENSAIOS DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO MALHA/PLACA

Este ensaio foi realizado utilizando todos os modelos de tela investigados na pesquisa. A
carga máxima aplicada ao sistema foi de 3 toneladas, em função da resistência estrutural do
equipamento fabricado, que foi projetado para atender uma série de exigências quanto ao peso
da estrutura, visto que foi desenvolvido um equipamento portátil.

É necessário fazer um comentário pertinente a todos os modelos de malha de aço


investigados, sendo este referente à dimensão das amostras, que foram fabricadas com as
especificações do pórtico da prensa de tração, apresentando as mesmas dimensões das
amostras indicadas nos ensaios de tração.

5.2.1 Malha TECCO G65/2mm

Este tipo de malha foi a primeira a ser ensaiada, por esta razão das cinco amostras disponíveis
para avaliação a primeira foi descartada em função de ter sido o ensaio teste, onde foram
verificadas as principais questões de montagem e ajuste do procedimento de ensaio. Logo,
serão apresentados apenas 4 resultados, que foram considerados válidos.

Os dados coletados correspondem ao carregamento da malha em função do deslocamento


observado, que corresponde ao deslocamento do curso do motor, uma medida externa à

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


103

malha. Os resultados destes ensaios podem ser visualizados no gráfico apresentado junto à
Figura 57.

16
14
12
10
Carga (kN)

Ensaio 01
8
Ensaio 02
6
Ensaio 03
4
Ensaio 04
2
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Deslocamento (mm)

Figura 57: Resistência ao cisalhamento da malha no contato malha/placa.

Observando o gráfico é possível observar uma consistência entre os resultados, tendo todas as
curvas obtidas um formato bastante similar. Todos os resultados mostraram 3 fases bem
marcadas: a) um comportamento inicial de carregamento até cerca de 20mm de deslocamento;
b) um patamar semelhante a um escoamento, com cargas mais ou menos constantes, até a um
deslocamento de 60mm e c) um novo carregamento mais ou menos linear até a ruptura. Esta
malha apresentou uma carga de ruptura média de 14 kN, com um deslocamento total médio
de 110 mm.

5.2.2 Malha DELTAX G80/2mm

Este conjunto de ensaios foi realizado utilizando 5 amostras do modelo malha de aço de alta
resistência. Estas amostras seguiram o mesmo procedimento de ensaio descrito anteriormente,
estando os resultados representados graficamente na Figura 58.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
104

14

12

10
Ensaio 01
Carga (kN)

8 Ensaio 02
6 Ensaio 03

4 Ensiao 04
Ensaio 05
2

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Deslocamento (mm)

Figura 58: Resultados obtidos para modelo G80/2mm

Este conjunto de amostras apresenta uma resistência ao cisalhamento do contato malha/placa


de aproximadamente 12 kN, com um deslocamento médio de 120 mm, sendo que todas as
amostras verificadas apresentaram cargas similares mas com uma considerável dispersão nos
valores de deslocamento.

Também é possível verificar o mesmo padrão de comportamento, um pequeno trecho “linear”


no início do ensaio seguido por um patamar de escoamento, onde os fios deslizam nos pontos
de contato com a malha. Ao cessar o processo de movimentação relativa dos fios da malha a
carga o deslocamento volta a ter um comportamento “linearizado”.

5.2.3 Malha TECCO 65/3mm

Para as 5 amostras ensaiadas neste conjunto, foi necessário realizar um pequeno ajuste na
programação do equipamento. O ensaio número 1, foi realizado até a carga máxima de 2,50
toneladas, valor correspondente a um máximo estabelecido pela programação do
equipamento. Ao verificar esta situação, a configuração do equipamento foi ajustada, e a
carga máxima redefinida foi de aproximadamente 30 kN correspondente ao valor máximo
resistido pelo pórtico dimensionado. Os resultados deste conjunto de amostras podem ser
verificados no gráfico apresentado na Figura 59.

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


105

3,5

2,5
Ensaio 01
Carga (kN)

2
Ensaio 02
1,5
Ensaio 03
1
Ensaio 04
0,5 Ensaio 05
0
0 50 100 150 200
Deslocamento (mm)

Figura 59: Resultados para o conjunto de amostras da malha G65/3mm

Todas as amostras atingiram a carga máxima definida (3,0 ton ~ 30 kN) sem ruptura, apenas
sofreram um rearranjo em sua estrutura para compensar a carga aplicada, mantendo a
integridade estrutural ao longo do ensaio.

A curva do ensaio 01 apresenta uma queda acentuada na carga aplicada devido à programação
inicial do ensaio que previa um máximo de 25 kN. Portanto, a amostra não foi rompida e sim
o ensaio interrompido.

Não foi possível determinar qual a real carga de ruptura deste conjunto de amostras, apenas é
possível afirmar com certeza que a resistência da malha supera os 30 kN no contato com a
placa de fixação.

Neste caso, as amostras quando atingiram cerca de 10 kN sofreram um rearranjo das


amostras, ponto no qual os fios se deslocam nos nós, até o ponto em que atingem uma nova
estabilidade e o sistema volta a ser carregado, comportamento similar as demais malhas.

5.2.4 Malha TECCO 65/4mm

De todas as amostras ensaiadas esta é a mais resistente de todas, pois é constituída de um


arame de aço de 4 mm de espessura, ou seja, é esperado que este conjunto de amostras
apresente uma rigidez e resistência bastante elevadas. Sendo assim a carga de ruptura
esperada para este modelo supera os 30 kN, valor limite do equipamento, razão que justificou
que apenas duas amostras fossem ensaiadas, com o objetivo de verificar o comportamento das
amostras no intervalo de carga disponível. Os resultados obtidos para este conjunto de

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
106

amostras foram plotados na Figura 60, de maneira similar aos anteriores, lembrando que o
deslocamento apresentado consiste no deslocamento total do conjunto (malha de aço e os
elementos do equipamento).

35

30

25
Carga (kN)

20

15 Ensaio 01

10 Ensaio 02

0
0 20 40 60 80 100 120 140
Deslocamento (mm)

Figura 60: Gráfico carga x deslocamento malha G65/4 mm

Novamente neste conjunto de ensaios foi observado o crescimento de carga com o


deslocamento de forma “linear” até a carga de 20-25 kN, a partir da qual houve um
escoamento até que o deslocamento chegasse a 80mm. A partir daí iniciou um novo
crescimento da carga até que o limite do equipamento fosse atingido. Como era esperado, os
ensaios apresentaram uma rigidez inicial mais elevada.

5.2.5 Comentários sobre os resultados

Os resultados obtidos com estes ensaios vão de encontro à especificação do produto


apresentada pelo fabricante para as malhas G65/2 mm e G80/2 mm. Para a amostra de 3 mm,
as 30 kN atingidas como carga máxima do ensaio, corresponde ao valor de resistência
especificado. Quanto à malha com 4 mm de espessura não é possível afirmar qual o valor de
resistência do ensaio, pois a resistência especificada é de 5 tf, valor bastante superior à carga
aplicada.

As curvas dos ensaios tem um formato semelhante, apresentando comportamentos carga x


deslocamentos mais ou menos lineares (um comportamento elástico) e comportamentos de
escoamento (plástico). O comportamento referido como sendo elástico foi observado ao longo
do ensaio no momento em que a malha não sofreu rearranjo estrutural, enquanto que todos os

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


107

trechos onde existem deformações, aqui referidas como plásticas ocorre um rearranjo
estrutural da malha.

O rearranjo estrutural da malha pode ser explicado pelo fato de que os principais pontos de
contato entre a malha e a placa se dão nas arestas da placa de fixação, como pode ser
observado na Figura 49, onde ocorre uma concentração das tensões, provocando um
deslizamento relativo dos arames, observado nos pontos de contato entre si, sem que um
acréscimo de carga seja aplicado. Este comportamento foi observado em todos os ensaios
realizados, tendo ocorrido em diferentes níveis de carregamento para cada amostra. A Figura
61 apresenta o detalhe do deslocamento entre os arames no ponto referido.

Figura 61: Detalhe do deslizamento dos arames nos pontos de contato.

As irregularidades e patamares observados nas curvas de carga x deslocamentos apresentadas


acima são justificadas por esta deformação da tela, sendo que quando um novo arranjo ficava
estabilizado, a malha assumia o comportamento “linear” novamente.

5.3 ENSAIOS DE RESISTÊNCIA AO PUNCIONAMENTO

Os resultados aqui apresentados para estes ensaios foram cedidos pela Geobrugg, tendo em
vista a falta de tempo hábil para a montagem do equipamento necessário para a realização dos
mesmos. Estes ensaios foram realizados por um laboratório independente sediado na
Alemanha, o laboratório de ensaio de materiais LGA Bautechnik GmbH.

Os ensaios de puncionamento que foram considerados nesta dissertação de mestrado


correspondem aos ensaios realizados utilizando a placa de fixação modelo P33, pois este
modelo foi o mesmo utilizado nos ensaios anteriores, excluindo esta variável das análises
subsequentes.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
108

5.3.1 Resultados do ensaio de puncionamento sem a tela metálica

Este ensaio foi realizado uma única vez, visto que seus resultados podem ser aplicados a todas
aos modelos de tela investigado, considerando que no ensaio onde a tela metálica é inserida
no arranjo é utilizado o mesmo material de enchimento da caixa, lançado sob as mesmas
condições de compactação. Sendo assim a Figura 62 apresenta uma fotografia da
configuração do equipamento utilizado para a realização do ensaio de puncionamento do solo
utilizado na análise dos diferentes modelos de tela considerados na pesquisa.

Placa P33

Figura 62: Arranjo da execução dos ensaios de puncionamento no solo fonte LGA (2014)

Após finalizar a montagem do esquema foi possível realizar o carregamento do solo, sendo
que a carga foi aplicada até o momento em que foi observada a ruptura do substrato, o
material de enchimento. Neste ensaio o momento da ruptura se deu quando a carga aplicada
pelo macaco hidráulico foi de aproximadamente 190 kN, tendo sido registrado um
deslocamento máximo de 290 mm. Com os dados coletados durante a execução do ensaio foi
possível traçar uma curva carga x deslocamento, considerando a utilização da placa P33. Esta
curva está apresentada abaixo, na forma de gráfico (Figura 63) sendo que esta foi construída
com base nos resultados apresentados nos relatórios de ensaios fornecidos pela LGA.

As curvas apresentadas não apresentam o momento claro da ruptura, e pelo fato de que estas
não foram geradas na presente pesquisa é assumido que a ruptura foi definida com base na
observação do ensaio e que os dados após a ruptura foram excluídos das curvas.

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


109

250

Carga de Puncionamento (kN) 200

150

100

50
Puncionamento do solo
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Deslocamento (mm)

Figura 63: Curva carga x deslocamento ensaio de puncionamento em solo LGA (2014)

5.3.2 Resultados dos ensaios de puncionamento com a tela metálica

Para os modelos de amostras G65/2mm, G65/3mm e G65/4mm este ensaio foi realizdo,
seguindo o mesmo procedimento de montagem e instalação do conjunto de ensaio. Cada um
dos modelos investigados foi instalado sobre a caixa metálica preenchida com solo, sendo
fixado nas extremidades apenas com o intuito de evitar o deslocamento da tela, ou seja, a
fixação teve por função apenas manter a amostras no local correto de ensaio. O conjunto final
pronto para o ensaio pode ser visualizado junto da Figura 64, que apresenta a tela G65/3 mm
pronta para ser ensaiada.

Não foram disponibilizados os resultados dos ensaios de puncionamento do modelo de malha


de aço DELTAX G80/2 mm, por esta razão estes não foram apresentados juntamente com os
demais.

Figura 64: Montagem do ensaio de puncionamento solo + tela LGA (2014).

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
110

O mesmo procedimento de coleta de dados foi seguido, sendo que foram realizados dois
ensaios para cada modelo de tela. As curvas geradas a partir destes ensaios estão compiladas
juntas na Figura 65(a, b e c) que também apresenta a curva do puncionamento do solo (fins
comparativos).

400
Solo
Carga de Puncionamento (kN)

Solo+Tela 01
300
Solo+Tela 02

200

100

Puncionamento do solo+G65/2mm
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Deslocamento (mm)

500
Solo
Carga de Puncionamento (kN)

400 Solo+Tela 01
Solo+Tela 02
300

200

100
Puncionamento do solo+G65/3mm
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Deslocamento (mm)
600
Solo
Carga de Puncionamento (kN)

500
Solo+Tela 01
400 Solo+Tela 02

300

200

100
Puncionamento do solo+G65/4mm
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Deslocamento (mm)

Figura 65: Conjunto de resultados dos ensaios de puncionamento malha+solo LGA (2014)

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111

Com a introdução da tela no sistema de ensaio, fica claro o ganho de resistência ao


puncionamento do conjunto, sendo possível verificar que quanto mais espesso é o arame
utilizado na tela metálica maior é o ganho, indicando que as malhas com arame mais espesso
apresentam uma rigidez maior. As cargas e os deslocamentos registrados no momento da
ruptura dos ensaios realizados estão sumarizados na Tabela 6.

Tabela 6: Resumo dos resultados de puncionamento do conjunto solo + malha


Amostra Ensaio 01 Ensaio 02 Média
(mm x kN) (mm x kN) (mm x kN)
G65/2mm 135 x 290 140 x 284 137,5 x 287
G65/3mm 220 x 375 180 x 438 200 x 406,5
G65/4mm 170 x 539 195 x 498 182,5 x 518,5
(a tabela apresenta os valores do deslocamento x carga no momento da ruptura, sendo o
deslocamento em mm e a carga em kN) LGA (2014)

A resistência ao puncionamento de cada uma das telas pode ser determinada com a simples
diferença algébrica entre os resultados dos ensaios que foram realizados com a tela+solo e os
ensaios realizados somente com o solo. Seguindo este procedimento, a resistência ao
puncionamento das malhas, Pr, está apresentada junto a Tabela 7, sendo que estas cargas
correspondem à resistência considerando a área total da placa, sendo necessário reduzir pela
metade este valor para verificar o dimensionamento frente ao esforço de puncionamento que
surge quando o corpo de solo tende a se deslocar, solicitando o grampo inferior (ver o item
2.2.2.5).

Tabela 7: Resistência ao puncionamento das malhas


Amostra Pr Ensaio 01 Pr Ensaio 02 Pr Médio Pr de cálculo
(kN) (kN) (kN) (kN)
G65/2mm 99 93 96 80
G65/3mm 184 247 215 180
G65/4mm 348 307 327,5 280

A resistência ao puncionamento considerada no cálculo é inferior à resistência obtida no


ensaio, introduzido um fator de segurança de 1,2 no elemento. Este procedimento é indicado
por Cala et al. (2012), que também indica que a resistência ao puncionamento deve ser
reduzida pela metade quando o esforço atua somente em uma das metades da placa de
fixação.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
112

5.4 ENSAIOS EM ESCALA REAL

Os ensaios em escala real disponibilizados foram realizados em um campo de testes


localizado na cidade de Winterthur, um município da Suíça, pela equipe da Universidade de
Ciências Aplicadas de Berna e a equipe da Geobrugg. Estes foram responsáveis pelo
planejamento e execução dos mesmos, que cordialmente forneceram os resultados para serem
analisados na presente pesquisa. Foi possível acompanhar a realização de dois destes ensaios
in loco, onde foi realizada uma verificação de todos os principais elementos, auxiliando na
compreensão do ensaio.

Foram disponibilizados os resultados de um conjunto de ensaios que contemplou o uso dos


dois tipos de materiais de enchimento acima especificados, os diferentes modelos de malha de
aço investigados na pesquisa e diferentes modelos de placa de fixação. Todavia, dos
resultados cedidos foram considerados apenas aqueles pertinentes à pesquisa, que envolvem
os modelos de malha e placa de fixação aqui investigados, malhas G80/ 2 mm, G65/2 mm,
G65 3/mm, G65/4 mm e a placa de fixação modelo P33.

5.4.1 Deformação do sistema – escaneamento a laser

Com o escaneamento a laser foi possível verificar a deformação do sistema de faceamento ao


longo do desenvolvimento do ensaio, ou seja, para cada um dos intervalos de inclinação onde
foram realizadas as leituras com este equipamento.

O objetivo destas leituras era definir o formato do sistema para as condições de carregamento
aplicadas ao faceamento, verificando como a movimentação do material de enchimento
ocorreria em relação à condição idealizada. A Figura 66 apresenta algumas das leituras
realizadas, indicando a deformada para (a) tela G65/2 mm com 55o e (b) tela G65/3 mm com
60o de inclinação, com grampos espaçados em a=b=3,00 m, placa P33 e o material
classificado como seixo.

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


113

(a) - i=55o (b) – i=60o

Figura 66: Leituras com o escâner laser do ensaio de em escala real para os modelos de
malhas (a) G65/2 e (b) G65/3 mm Baraniak e Schawarz (2014).

Observando a figura é possível verificar que o formato da deformada de ambas as malhas são
semelhantes, mostrando claramente que o material de enchimento sofre um deslocamento
quando a caixa é inclinada, deslizando na região superior, região de cor azul, e se acumulando
entre os grampos, região de cor vermelha. Também é possível verificar que mesmo com uma
diferença de 5 graus de inclinação, a magnitude dos deslocamentos é similar, indicando que a
espessura do arame, nestes modelos de malha metálica, exerce um papel importante na rigidez
do sistema.

Adicionalmente é possível verificar que a hipótese admitida no método de dimensionamento


Ruvolum que sob a placa de fixação existe uma porção de solo estabilizada, pela ação da
carga de pré-tensão do sistema, é confirmada. Nas proximidades da placa do sistema a
coloração da superfície tem tons verdes e amarelos, indicando pela escala apresentada, que a
movimentação de material neste ponto mínima , Figura 67. Devido à estabilização de parte do
material entre os grampos, para que alcançar os esforços máximos que o sistema de
faceamento é capaz de absorver são necessários espaçamentos um pouco maiores, condição
que gera economia, reduzindo o comprimento total de perfuração e de barras.

Figura 67: Detalhe da porção de solo estabilizada

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
114

O último comentário a cerca dos resultados é referente à distribuição das cargas pelo sistema
de faceamento, sendo possível afirmar que as cargas se distribuem entre os grampos no
mesmo formato de losango, um diamante, sendo possível observar junto da Figura 68 uma
representação desta condição. Na figura é verificado que na região indicada pelas setas a
deformação é menor, se concentrando no espaço entre os grampos.

Figura 68: Distribuição das cargas

Cabe apontar que a distribuição dos grampos colabora para este efeito, entretanto tem um
papel secundário. Esta constatação é baseada em ensaios similares realizados utilizando
malhas metálicas com diferentes formatos e mesma distribuição de grampos. Abaixo, na
Figura 69, está apresentado uma figura com um ensaio utilizando uma tela de aço com
aberturas quadradas e grampos sob uma distribuição em losango, indicando que a malha
exerce papel fundamental na distribuição de cargas.

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


115

Figura 69: Deformações para uma tela de malha quadrada, Geobrugg (2014)

5.4.2 Cargas atuantes

Os ensaios foram conduzidos inclinando a estrutura do ensaio até que fosse observada a
ruptura do sistema de faceamento testado ou que a inclinação máxima fosse atingida (85o).
Durante o processo foram registradas, em alguns dos chumbadores (os que foram previamente
instrumentados com os strain gauges), as cargas atuantes na cabeça dos grampos, a carga de
puncionamento e a carga no contato malha/placa. A seguir, serão apresentados os dados
coletados e a interpretação dos mesmos para somente um dos ensaios realizados,
contemplando apenas os dados referentes às cargas atuantes nos grampos, informação de
interesse da pesquisa. Os demais resultados estão apresentados, de maneira sumarizada junto
à Tabela 8, sendo que eles foram obtidos seguindo o mesmo procedimento abaixo
apresentado.

Os resultados do experimento que será apresentado a seguir foram obtidos utilizando como
sistema de faceamento a malha TECCO G65/3 mm, associada a grampos do tipo GEWI 32 e
placas P33, distribuídos sob um espaçamento de 3,0 x 3,0 m dentro da caixa, que foi
totalmente preenchida com o material classificado como seixo rolado (16-32mm). No dia em
que o ensaio foi realizado não havia registro de precipitação, entretanto não é possível afirmar

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
116

que o material estava totalmente seco, pois um dia antes do ensaio choveu e não foi realizado
um controle de umidade.

Pelo fato de ser um material granular com poros de grandes dimensões, o volume de água
acumulada da precipitação do dia anterior dentro do conjunto de ensaio foi gradualmente
drenada na medida em que a inclinação era conferida ao sistema, não tendo um papel
fundamental nos resultados.

Entretanto é plausível imaginar que parte desta água tenha sido absorvida pelos microporos
das partículas do material utilizado, gerando um incremento no peso total atuante no sistema.
Para a análise subsequente dos resultados este efeito foi desconsiderado, pois apenas uma
pequena porção do material foi submersa, criando um pequeno efeito de incremento de carga.

O procedimento de ensaio foi seguido inclinando a caixa gradualmente em intervalos de 5


graus para as leituras com o escâner laser, até o momento em que foi observada a ruptura,
com uma inclinação de 73o. Neste experimento foi verificado que o material de enchimento da
caixa iniciou a sua movimentação quando a inclinação do conjunto foi de 41o graus,
lembrando que o material apresenta um φ=33o. A posição da ruptura do sistema de
faceamento ocorreu junto ao grampo instrumentado GI 3, indicado na Figura 70, na inclinação
de 73o,

Na estrutura do ensaio foi instalada toda a instrumentação apresentada no capítulo 3.1,


incluindo a instalação três conjuntos de strain gauges em três grampos, utilizados para a
medição das cargas nestes elementos. A Figura 70 apresenta a planta baixa da estrutura de
ensaio, indicando posição onde os grampos instrumentados (GI 1, GI 2 e GI 3) foram locados.

Figura 70: Grampos instrumentados Baraniak e Schawarz (2014).

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117

Com esta configuração foi possível medir as cargas de puncionamento atuantes nos grampos
inferiores e a carga de cisalhamento no grampo superior para cada uma das condições de
inclinação que foram conferidas ao conjunto de ensaio e no momento da ruptura do sistema.

5.4.2.1 Carga de puncionamento

A carga de puncionamento surge no ensaio quando o material de enchimento se desloca,


fazendo com que a malha de aço se mova em direção à placa de fixação, no sentido de dentro
para fora. Este movimento gera um carregamento no conjunto grampo/malha/placa, que pode
ser definido como um esforço de tração para o grampo e um esforço de puncionamento da
malha contra a placa.

Deste modo, como foram registradas as cargas de tração atuantes na cabeça dos grampos
instrumentados, foi considerado que o esforço de tração medido corresponde á carga de
puncionamento no contato da malha com a placa. Na Figura 71 estão apresentadas as cargas
de tração medidas para a cabeça dos grampos.

Entretanto ressalta-se que podem existir pequenas diferenças entre a carga real atuante neste
ponto e os valores aqui apresentados, em função da posição de instalação dos strain gauges
ser levemente afastada do ponto de contato entre placa e grampo.

Analisando os resultados é possível notar que até aproximadamente os 41o a carga


considerada como puncionamento fica constante, assumindo até magnitudes levemente
negativas. Este comportamento está associado à resistência interna do material a o incremento
desta oferecida pelo faceamento e a pré-tensão aplicada as barras, ou seja, até o ponto onde o
material começa a deslizar a tela não é carregada, sofrendo grandes incrementos de carga na
medida em que o material desliza, até o ponto de ruptura ,73o, no grampo GI 3 com uma carga
total aproximada de 60 kN. O máximo valor registrado para a tensão no grampo ocorre no
grampo GI 02, com um valor de aproximadamente 80 kN.

Os valores negativos registrados, e associados à carga de pré-tensão aplicadas, são observadas


imediatamente após o início de movimentação do material, sofrendo um incremento gradual
até a carga de ruptura. Neste curto intervalo de tempo, a movimentação inicial do material faz
com que placa perca o contato, sendo então registrada a carga de pré-tensão do sistema. No
gráfico que relaciona carga e tempo existem patamares onde o carregamento é constante,
sendo estes os pontos onde o ensaio foi paralisado para realização das leituras laser, mantendo

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
118

a inclinação constante. Neste ponto cabe lembrar que os ensaios são realizados de maneira
bastante lenta, de maneira a evitar efeitos dinâmicos.

100

80

60
Carga (kN)

40 GI 1

20 GI 2
GI 3
0

-20
0 20 40 60 80 100
Inclinação (graus)

100

80

60
Carga (kN)

40 GI 1

20 GI 2
GI 3
0

-20
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Tempo (s)

Figura 71: Esforço de puncionamento. Adaptado de Baraniak e Schawarz (2014).

5.4.2.2 Flexão vertical nos grampos

Este esforço é oriundo da flexão do grampo, no sentido vertical, que ocorre quando a massa
de solo se desloca, solicitando então o contato existente entre a placa e malha do faceamento.
Esta medição foi realizada por meio do registro do esforço de flexão que atua no grampo por
meio dos strain gauges instalados tanto base e na cabeça do elemento.

De maneira análoga, a tensão na barra devido à flexão medida no grampo foi considerada
como sendo o a carga de cisalhamento que atua no ponto de contato malha/placa, também

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


119

sendo uma simplificação da realidade. O gráfico que apresenta o esforço de flexão no grampo,
tanto na base quanto na cabeça está apresentado na Figura 72.

3,5
3
2,5
2
Carga (kN)

1,5
1 GI 1
0,5 GI 2
0
-0,5 GI 3
-1
-1,5
0 20 40 60 80 100
Inclinação (graus)

Figura 72: Carga atuante no grampo que causa a flexão, Adaptado Baraniak e Schawarz
(2014).

No gráfico apresentado o incremento de carga no sentido positivo do eixo indica que houve
uma flexão do grampo no sentido superior da estrutura do ensaio, enquanto que a flexão no
grampo em direção sentido da base da estrutura é representada por cargas negativas, conforme
as setas indicativas no gráfico.

Neste gráfico também é possível observar que até aproximadamente os 40o de inclinação do
sistema, as cargas de flexão são constantes e praticamente nulas. Esta condição é explicada
pelo fato de que até este ponto a resistência da brita associada ao faceamento ainda é maior do
que o peso do material, ou seja, até os 40o o talude está estável.

Após este intervalo de inclinação é possível verificar, através das curvas apresentadas no
gráfico, que os grampos começam a sofrer flexão em ambos os sentidos, para cima e para
baixo. Esta situação ocorre devido ao processo de inclinação da estrutura de ensaio, que faz
com que a massa de material os desloque para baixo, carregando os grampos neste sentido,
promovendo então a flexão negativa. A carga no sentido positivo é registrada quando a malha
“puxa” os grampos para cima quando esta entra em carga sob a ação da massa de solo.

Também pode ser observado que os grampos inferiores, GI 2 e GI 3 apresentam um


comportamento semelhante até a inclinação aproximada de 60 graus, quando o GI 3 começa a
sofrer flexão negativa enquanto que o GI 2 se desloca para cima. Esta condição indica que a

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
120

massa de solo se movimenta de maneira assimétrica dentro da estrutura de ensaio, tendo um


volume deslocado maior na região acima do GI 3, hipótese corroborada pelo fato de que a
ruptura do faceamento foi observada neste grampo.

Este comportamento indica que o sistema de faceamento trabalha como um todo, absorvendo
as cargas da massa instável e distribuindo os esforços ao longo de toda a superfície tratada
com a solução aplicada até que o limite de resistência de algum dos elementos seja alcançado,
momento no qual se dá a ruptura.

O comportamento observado na base os grampos é diferente do observado na cabeça dos


grampos, sendo que estes apresentaram uma carga constante até inclinação atingir a marca
dos 20o, ponto no qual a massa de solo passa a carregar a base dos grampos. A partir daí a
carga de que atua na base dos grampos cresce rapidamente, fletindo todos os grampos
instrumentados da mesma maneira, no sentido negativo que corresponde ao deslocamento da
massa de solo, até atingir um valor máximo de 5 kN. Os sinais elétricos dos dispositivos de
medição da região da base no grampo apresentaram uma falha e não foram capturados pelo
sistema de aquisição de dados utilizado para inclinações superiores a 40o. A falha registrada é
associada a capacidade de medição dos strain gauges utilizados, que tiveram seu limite
superior ultrapassado durante a execução do ensaio.

5.4.2.3 Resumo dos resultados

No relatório fornecido pela Universidade de Berma, Baraniak et al. (2014), está apresentado
que todos os ensaios realizados utilizando as malhas de aço e o material de enchimento
considerados na presente pesquisa sofrem uma ruptura no sistema de faceamento.

Os resultados para os ensaios apresentados na Tabela 8 foram obtidos através da mesma


interpretação acima apresentada, e correspondem aos ensaios onde os chumbadores do
sistema foram ensaiados. Na tabela são apresentados os valores registrados para as ações
atuantes no sistema, tanto no momento da ruptura do faceamento (rup.) ou as cargas máximas
que foram registradas durante o ensaio (máx). Os resultados apresentados consistem nos
dados referentes aos experimentos realizando utilizando as malhas investigadas na presente
pesquisa em conjunto com a placa de fixação P33, a mesma utilizada no ensaio realizado.
Também cabe apontar que os resultados apresentados foram medidos para o grampo onde foi
observada a ruptura.

Bruno D. da Rosa ([email protected])– Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2015


121

Convém relembrar que o sinal positivo e negativo indicado para as cargas de cisalhamento da
Tabela 8 representa apenas a direção da movimentação do grampo ao longo do ensaio e que
as cargas indicadas foram registradas para o mesmo grampo.

Tabela 8: Resumo dos resultados. Adaptado de Baraniak et al. (2014)

Carga P Carga Z
a=b Material Inclinação
Ensaio Malha (puncionamento) (cisalhamento)
(m) utilizado (graus)
(kN) (KN)
1 G65/4 3,5 x 3,5 Areia 0-63 mm 80 máx 12 rup. 83
2 G80/2 3,5 x 3,5 Seixo 16-32 mm 35 rup. -6 máx. 56
3 G65/2 3,5 x 3,5 Seixo 16-32 mm 30 rup. 3 máx. 56
4 G65/3 3,0 x 3,0 Areia 0-63 mm 80 rup. 12 máx 84
5 G65/2 3,0 x 3,0 Areia 0-63 mm 40 rup. 8 rup. 63
6* G65/3 3,0 x 3,0 Seixo 16-32 mm 80 rup. 3 máx 73
7 G65/2 3,0 x 3,0 Seixo 16-32 mm 40 rup. 6 máx 57
*ensaio descrito anteriormente

Os resultados mostram, como já era esperado, que quanto mais resistente o material que
compõem o talude maiores são nos ângulos alcançados pela inclinação do sistema. Condição
evidenciada ao analisarmos os ensaios 5 e 7, cuja única diferença é o material, sendo possível
verificar uma diferença de quase 300 na inclinação final. Também é possível destacar as
cargas medidas, que são muito próximas, função da convergência no peso específico dos dois
materiais.

Também ao analisarmos uma mesma condição de espaçamento e tipo de material, ensaios 6 e


7, com um modelo de tela de aço diferente, é possível verificar que o ângulo máximo de
ensaio passe de apenas 57 o no experimento 7 para cerca de 73 o no experimento 6, indicando
que é fundamental conhecer os parâmetros de resistência do material.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
122

6 AVALIAÇÃO DAS METODOLOGIAS DE DIMENSIONAMENTO

Utilizando as metodologias de cálculo apresentadas no item 2.2.2.5, foi realizada uma série de
análises objetivando definir se os métodos desenvolvidos especificamente para este propósito
são capazes de expressar resultados condizentes com a realidade, situação aqui representada
pelos dados obtidos através da execução de ensaios em escala real.

Para tanto foram considerados nos cálculo analíticos os mesmos parâmetros de resistência dos
materiais de enchimento utilizados nos ensaios em escala real, bem como os dados obtidos na
pesquisa por meio do ensaio de tração da malha e do ensaio de cisalhamento no contato
malha/placa.

A escolha dos dois métodos apresentados se deu em função da especificidade destes para o
dimensionamento de sistemas de faceamento com malhas metálicas, tendo sido desenvolvidos
especialmente para este propósito.

Por fim uma análise paramétrica foi desenvolvida, onde foram investigados os efeitos da
variação nos parâmetros de resistência e comportamento do solo, a fim de verificar a sua
influência sobre os resultados do dimensionamento.

6.1 MODELO DE CÁLCULO RUVOLUM

A verificação deste método de dimensionamento foi realizada utilizando todas as equações e


hipóteses apresentadas, considerando no cálculo os parâmetros dos materiais definidos por
meio dos ensaios realizados. Sendo assim, foram analisadas todas as condições estudadas nos
ensaios em escala real, introduzindo no cálculo as variáveis de cada um dos experimentos
realizados.

Na sequência será apresentado o procedimento seguido em todas as análises realizadas, sendo


apenas apresentada a verificação para o ensaio número 6, sendo que o mesmo procedimento
se aplica aos demais, tendo como diferença apenas as variáveis e parâmetros de cálculo.

6.1.1 Verificação das instabilidades paralelas à superfície

O ensaio analisado, o ensaio 6, foi realizado utilizando um espaçamento entre os grampos de


a=b=3,0 metros, sendo a caixa preenchida com o seixo arredondado, cuja peso específico é de

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20 kN/m³, tendo um ângulo de atrito φ=33o. A malha utilizada neste ensaio foi a malha
TECCO G65/3mm, enquanto que os grampos são do tipo GEWI 32 (T=206 kN)

O primeiro passo da análise é calcular o esforço de cisalhamento que atua no grampo. Para
tanto foi necessário calcular a força peso da massa de solo, volume de material contido entre
os grampos e definir a tensão de pré-tensionamento, que é definida pelo projetista, e aqui
considerada como sendo 30 kN. Os chumbadores são executados perpendiculares à caixa de
solo, ou seja, o ângulo formado entre as barras e a horizontal é complementar à inclinação da
estrutura de ensaio. Foram considerados coeficientes de segurança unitários, a fim de
comparar com o ensaio em escala real, no momento da ruptura.

Então, utilizando os princípios apresentados no item 2.2.2.5 é possível determinar o esforço


de cisalhamento que atua nos grampos do sistema para a condição específica da análise, e
proceder com as verificações necessárias para garantir a segurança do dimensionamento,
estando os valores considerados no cálculo e resultados apresentados na Tabela 9.

Tabela 9: Cálculo do esforço de cisalhamento.


Dados de entrada Esforços Calculados (kN) Verificações
𝑆𝑟 232
α: 73o Força Peso (G): 216 𝑆𝑑 < = 146 < → 𝑂𝐾 (grampo)
𝐹𝑠 1,0
𝑇𝑟 402
φ:33o
Esforço Cisalhante (S): 146 𝑉𝑑 < = 30 < → 𝑂𝐾 (grampo)
𝐹𝑠 1,0
𝑃𝑟 180
c: 0 kN/m³ Res. ao cisalhamento (Sr): 232 𝑉𝑑 < = 30 < → 𝑂𝐾 (tela)
𝐹𝑠 1,0
γ: 20 kN/m³ 2 0,5
Res. à tração (Tr): 402 Tr 2 Sr
[(Vd/ ) + (Sd/ ) ] ≤ 1,0
a=b=3,00 metros Res. ao puncionamento (Pr) 180 Fs Fs
t=1,20 metros 0,63 ≤ 1,0 → ok
FS global = 1,0
Fs parcial=1,0

De acordo com os resultados do cálculo analítico acima apresentado é possível concluir que a
solução proposta (diâmetro, espaçamento e modelo de malha) está segura quanto a
instabilidades paralelas a superfície do talude, modelo de ruptura investigado.

O cálculo também indica que a carga de cisalhamento que atua no grampo é muito maior do
que a carga de tração, sendo primeira oriunda da massa de solo instável e a segunda da carga
de pré-tensionamento. Entretanto esta comparação é valida para o modelo de ruptura
superficial apresentado. O mesmo procedimento de cálculo analítico apresentado acima foi
realizado considerando as condições dos outros seis ensaios em escala real.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
124

Portanto foi verificado que com os dados de entrada correspondentes aos ensaios 02, 03, 04,
05 e 07 para a máxima inclinação atingida com o ensaio em escala real, dados apresentados na
Tabela 8, as cargas estimadas foram menores do que a resistência dos elementos do sistema,
ou seja, a ruptura não prevista pelo cálculo, indo de encontro à condição observada nos
ensaios. campo.

Para as condições do ensaio 01, o cálculo analítico utilizando o Ruvolum indica que haveria
uma ruptura por cisalhamento nos grampos, prevendo uma carga de cisalhamento de
aproximadamente 250 kN, enquanto a barra de aço utilizada resiste a 230 kN.

Deste modo, foi verificada qual a inclinação máxima para que com as condições deste ensaio,
material e espaçamento, os esforços fossem compatíveis com as resistências dos materiais. Os
resultados mostraram que a inclinação máxima admissível para o ensaio 01 seria de 78o,
inclinação inferior aos 83o atingidos no ensaio.

Porém ao analisarmos os grampos ao final do ensaio 01 foi observado que os grampos


estavam íntegros, entretanto como é possível observar na Figura 73 foi verificado uma grande
flexão dos mesmos, indicando que estes foram fortemente solicitados durante o ensaio.

Figura 73: Flexão do grampo na região de ruptura do ensaio 01. Baraniak et al. (2014)

Como o solo não apresenta rigidez suficiente para solicitar o grampo ao cisalhamento puro, a
barra de aço é fletida, Esta condição gera esforço de tração na barra, e como a resistência a
tração é superior a resistência ao corte, o grampo é mantido integro no processo. Tal condição
pode explicar a divergência entre a previsão e a realidade observada no ensaio.

Com base na comparação entre as previsões e os cálculos é possível afirmar que frente a
instabilidades paralelas a superfície do talude, o método de cálculo Ruvolum é capaz de

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prever os resultados de maneira satisfatória, e se mostra levemente conservador em suas


previsões, condição que vai a favor da segurança em um projeto.

As cargas medidas na base do grampo por meio dos strain gauges instalados não foram
apresentadas pelo fato de que os dispositivos de medição terem sofrido uma ruptura, para
inclinações superiores aos 40o e leituras da ordem de 5 kN, os resultados disponíveis não
representavam o carregamento na ruptura.

6.1.2 Verificação das instabilidades entre dois grampos

Os conceitos utilizados para a verificação da estabilidade da solução frente aos esforços de


massas instáveis contidas entre dois grampos também foi detalhada no item 2.2.2.5, onde
estão apresentados os principais conceitos do método de cálculo. A seguir, será apresentada
uma breve descrição do procedimento de cálculo e comentários a cerca dos resultados
obtidos.

Inicialmente é necessário definir a espessura crítica da camada instável, visto que nem sempre
a espessura total corresponde à condição que gera o carregamento crítico no faceamento. Este
procedimento é necessário em função que variando a espessura e o espaçamento entre os
grampos o ângulo β também é alterado, mudando a geometria do problema, o plano de falha
crítico do solo, e por consequência as cargas atuantes. Logo se faz necessário verificar qual o
conjunto (espessura e ângulo) que produz a maior força de puncionamento P atuante sobre a
malha, para um dado espaçamento, sendo este o valor de dimensionamento. .

Neste caso, o cálculo resulta em uma carga máxima de P=81,20 kN, calculada para a condição
onde atuam dois corpos instáveis. A carga prevista se aproxima do máximo valor registrado
durante todo o ensaio, que foi de aproximadamente 80 kN, indicando que o modelo é capaz de
reproduzir os efeitos de carregamento.

Quanto ao esforço que atua no sentido no contato entre a malha e a placa, a força Z, é
necessário apontar que a magnitude desta é definida como variável de entrada do método de
calculo, pois esta força surge devido ao atrito existente entre o material de enchimento e a
malha de aço, sendo transmitida para a cabeça do grampo, tracionando a malha nesta região.

Deste modo, na condição inicial este valor é assumido como sendo a resistência máxima da
amostra corrigida em função de um fator de segurança, definido no método como sendo de

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
126

pelo menos 2,0. Portanto, para a amostra considerada o valor da carga Z é de 15 kN, sendo
que não foi observada a ruptura causada por este esforço no sistema.

A Tabela 10 apresenta os resultados desta análise para o ensaio 06, indicando as cargas de
puncionamento calculadas para os dois modelos de ruptura considerados pelo método
Ruvolum.

Tabela 10: Cálculo do esforço de puncionamento


Dados de entrada Esforços Calculados (kN)
α: 73 o
Modelo de um corpo instável
φ:33 o
tcrítico= 1,08 m
c: 0 kN/m³ β=63,90o
γ: 20 kN/m³ P=64,42 kN
a=b=3,00 metros Modelo de dois corpos instáveis
t=1,20 metros tcrítico= 0,96 m
Pr=90 kN β=58,00o
P=81,20 kN – valor de projeto

Em pose dos resultados desta análise, para o caso particular do ensaio 06, o método prevê que
o sistema está estável aos 73o, porém muito próximo da ruptura. Ao variarmos a inclinação
observamos que a ruptura se dá aos 75o, uma variação muito pequena, indicando uma grande
proximidade entre o previsto e o observado.

A investigação de instabilidade entre dois grampos foi realizada para os seis ensaios restantes,
sendo possível separar os resultados dos cálculos numéricos em dois grupos com
características distintos o Grupo A composto pelos ensaios 01-02-03 e o Grupo B composto
por 04-05-06-07. A característica comum a todos os ensaios em cada grupo é o espaçamento
dos grampos, sendo de 3,50 m para o Grupo A e de 3,00 m para o Grupo B.

Para os três ensaios do Grupo A a previsão de cálculo é que para a inclinação máxima do
ensaio o faceamento sofreria a ruptura nos três casos, como realmente foi observado nos
ensaios em escala real realizados. Contudo foi observada uma grande diferença entre as
cargas estimadas pelo método Ruvolum e as cargas medidas realmente.

Para o ensaio 01 a carga máxima de puncionamento registrada foi de 80 kN, enquanto que a
calculada foi de 143 kN, valor levemente superior aos 140 kN resistidos pela amostra
G65/4mm estudada. A carga máxima registrada para os ensaios 02 e 03 foi de 35 e 30 kN,

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enquanto que a carga prevista para o sistema foi de 75 kN. Em ambos os casos a previsão de
cálculo supera a resistência da malha, enquanto que a medição do ensaio fica muito aquém da
carga máxima de puncionamento suportada pelos sistemas.

Mesmo com esta grande diferença entre a estimativa e o medido, o método Ruvolum previu
de maneira segura a ruptura do faceamento para a condição de ensaio, mostrando que o
método está a favor da segurança.

A razão mais provável para esta grande diferença entre a previsão e a realidade pode estar
associada ao grande espaçamento entre os grampos que influência na transmissão de cargas
pelo sistema, pois como será apresentado a seguir para o Grupo B, onde o espaçamento é de
3,0x3,0 as previsões de cálculo ficaram muito próximas da realidade observada em campo.

Para os ensaios de número 04 a carga prevista pelo cálculo foi de 83 kN enquanto que o
máximo registrado foi de 80 kN. Os ensaios 05 e 07 registraram a mesma carga de pico
40 kN, tendo uma previsão de 42 kN e de 44 kN respectivamente. Com os grampos espaçados
tanto na vertical quanto na horizontal em 3,00 m, os resultados previstos ficam muito
próximos dos valores de carregamentos medidos em campo, sustentando a hipótese de que o
elevado espaçamento interfere de alguma maneira nas medições.

A carga Z, que é um dado de entrada do método, é função do modelo da amostra ensaiada, e


exerce uma influência positiva na análise. Deste modo ao analisarmos os máximos valores
medidos nos ensaios em escala real e compararmos com as resistências aqui determinadas por
meio dos ensaios (capítulo 5.2), a hipótese de utilizar a resistência máxima reduzida pela
metade foi julgada adequada, pois a carga medida como Z ficou muito próxima dos valores
medidos em campo.

Como comentário final sobre o método Ruvolum é possível afirmar que para as condições dos
ensaios 01,02,03,05 e 07 o método previu corretamente a ruptura do sistema de faceamento,
enquanto que para os ensaios 04 e 06 as cargas previstas ficaram levemente abaixo da
resistência máxima da malha, indicando que o modelo de dimensionamento é capaz de
reproduzir a condição de ruptura. É fundamental levar em conta a utilização de fatores de
segurança nas análises em situações reais, para eliminar quaisquer efeitos das incertezas
existentes na natureza.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
128

Outro ponto que deve ser levado em conta, e que também é apontado por Baraniak e
Schawarz (2014), é que os sistemas não sofrem uma ruptura pela ação de um ou outro esforço
isoladamente, e sim pela combinação dos dois, ou seja, a resultante entre eles.

Por fim, o último comentário pertinente é referente à metodologia de medição. Aqui foi
considerado que a carga de tração atuante nos grampos é igual a de puncionamento, entretanto
podem haver diferenças entre as mesmas, sendo necessário avaliar a fundo esta condição.
Porém para a análise aqui realizada estas foram consideradas satisfatórias.

6.2 MÉTODO DE CÁLCULO MACRO 01

Conforme apresentado anteriormente, este método de cálculo foi desenvolvido para ser
aplicado a taludes rochosos, sendo que as suas variáveis correspondem a parâmetros de
resistência de fraturas rochosas. Portanto, para aplicá-lo à situação dos experimentos
realizados, foi necessário considerar os parâmetros de resistência ao cisalhamento do material
de enchimento. O detalhamento do cálculo apresentado corresponde ao ensaio 06, o mesmo
utilizado anteriormente.

Outro ponto importante que deve ser apresentado diz respeito ao plano de falha crítico
considerado no modelo, que é determinado por meio da avaliação das famílias de fraturas das
rochas. Como o material utilizado não apresenta um conjunto de fraturas, nas verificações
aqui desenvolvidas foi considerado inicialmente que o ângulo β crítico corresponde ao valor
definido na análise anterior, mecanicamente isto deveria resultar nos mesmos esforços obtidos
nos ensaios de campo.

6.2.1 Determinação dos esforços

O cálculo da força peso que atua neste sistema é função direta das relações entre os ângulos
de inclinação do talude e do plano de falha com espaçamento entre os grampos, sendo
necessário verificar em qual hipótese o nosso talude se encontra, ver item 2.2.2.5. Para o caso
do ensaio 06 o volume considerado no cálculo corresponde ao volume A, conforme indicado
na Tabela 11, condição que representa apenas um corpo prismático instável com um volume
1,21 m³/m, o que equivale a 24,1 kN/m.

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Tabela 11: Verificação do volume atuante


Dados de entrada Verificação
α: 73o se
φ:33 o
t
β ≥ α − arctan ( ) e β < α
b
c: 0 kN/m³
Volume A = 1,21 m³/m
γ: 20 kN/m³
t
a=b=3,00 metros β < α − arctan ( )
b
t=1,20 metros
Volume B – não se aplica
β=58,50o
Volume C – não se aplica

Para os demais ensaios o mesmo procedimento foi realizado estando apresentados apenas os
volumes e cargas obtidas para o volume crítico na Tabela 12.

Tabela 12: Cargas atuantes nos ensaios


Ensaio Volume Carga
(m³/m) (kN/m)
01 1,75 36,88
02 1,75 36,88
03 1,75 36,88
04 1,29 25,80
05 1,46 29,24
06 1,21 24,10
07 1,46 29,24
6.2.2 Verificação do sistema de faceamento

Considerando um coeficiente de aceleração sísmico horizontal (Δ) igual a zero e um FS=1,00,


e as características do ensaio 06, a carga que atua puncionando a malha, é calculada em
função da diferença entre as forças instabilizantes e estabilizantes, Equação 20, Equação 21 e
Equação 22. Os cálculos analíticos aqui realizados foram desenvolvidos manualmente e
verificados por meio do software de cálculo disponibilizado pela empresa Macaferri.

Ao utilizarmos as equações acima citadas é possível calcular, para estas condições, uma carga
estabilizante Gst= 20,45 kN/m e uma força instabilizante Gdr=20,45 kN/m, ou seja, não existe
carga de puncionamento atuando no talude para um coeficiente de segurança unitário e
coeficiente de aceleração sísmica Δ igual a zero para a condição do ensaio. Entretanto, na
Tabela 8, as medições indicam sim que existe um esforço atuante, de 80 kN.

Buscando verificar a influência do ângulo crítico da falha nos resultados o valor de 58o foi
alterado, de modo que quanto maior o ângulo das falhas menor é o volume mobilizado e por
Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
130

consequência a carga. Já no sentido decrescente, o volume instável sofre um incremento,


porém a carga que atua no sistema oriunda desta massa é menor. Estes resultados são função
da geometria do problema estudado.

Toda via, as cargas de puncionamento obtidas neste procedimento nulas, e como a carga de
tração que atua no sistema de faceamento é diretamente dependente da carga de
puncionamento, Equação 24, foi verificado que o sistema também não está sofrendo esforços
de tração na malha (T), ou seja, o sistema não está sendo mobilizado, de acordo com método
de cálculo.

A explicação para esta condição reside na análise do método de dimensionamento em si, com
enfoque especial para a Equação 21 e a Equação 22. Ao considerarmos um coeficiente de
segurança unitário e o coeficiente de aceleração sísmica igual a 0, as cargas que atuam no
sentido de instabilizar o talude sempre serão iguais as cargas que contribuem para a
estabilidade do talude. Deste modo é possível concluir que o modelo de cálculo MacRo 1
necessita fundamentalmente da consideração de fatores de segurança (majoração e
minoração) em sua análise para que resulte em algum carregamento no sistema.

Esta hipótese vai de encontro ao que é apontado por Macaferri (2014), que indica uma faixa
de variação para coeficientes de segurança. Para as forças estabilizantes a faixa de Fsst varia
entre 1,20~1,43 e para as forças instabilizantes Fsdr varia entre 1,10~1,56, sendo possível
notar que o mínimo indicado é sempre maior do que 1,00.

Logo, comparar os resultados de ensaios em escala real com os resultados previstos por este
modelo é uma tarefa complexa, pois as cargas previstas são extremamente dependentes dos
fatores de segurança considerados pelo usuário, sendo estes função das condições do talude
observadas em campo. Logo, conclui-se também que adotar este método em um talude real é
igualmente complexo e os resultados tendem a ser questionáveis.

Portanto aqui foram considerados os fatores de segurança máximos e mínimos apresentados


para determinar as cargas de puncionamento atuantes no sistema. Foram testadas diferentes
combinações entre os limites superiores e inferiores para a condição do ensaio 06. Como
resultado foram obtidas cargas de puncionamento variando entre 4,23 kN e 13,70 kN, para os
limites inferiores e superiores respectivamente.Estes resultados correspondem à 6% e 18% da
carga medida na realidade durante o ensaio.

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Como indicado pela Equação 24 a carga de tração é calculada em função da carga de


puncionamento acima determinada e do deslocamento previsto para o faceamento em função
de P. O deslocamento, dl, é definido com base na curva carregamento x deslocamento
específica para o modelo de malha investigado, e pode ser definida com base no ensaio
apresentado na UNI11437:2012. Como este ensaio não foi desenvolvido na pesquisa uma
estimativa grosseira da deformação esperada para a malha foi realizada de maneira analítica.

Para amostra TECCO G65/3mm utilizada no ensaio 06 foi considerada uma deformação
máxima de ruptura como sendo de 6%. Esta estimativa está relacionada aos resultados obtidos
para o ensaio de tração da malha (T), onde a máxima deformação foi de 6%. Deste modo,
pelo ensaio descrito na norma italiana, a decomposição da força de puncionamento gera duas
componentes que tracionam a tela.

Deste modo o máximo dl obtido é de 0,18 m (em função do espaçamento de 3,0x3,0), que
quando introduzido nas equações do método MACRO 01 define o esforço de tração atuante
para verificar a condição de ruptura ou não da tela. Para o limite inferior a carga de tração
longitudinal estimada é de T=54 kN/m enquanto para o limite superior a tração longitudinal
atinge T=175 kN/m.

Ao considerarmos a resistência de 140 kN/m da amostra G65/3mm, valor definido com base
no ensaio aqui realizado, verificamos que para o limite inferior dos fatores de segurança a
previsão do método indica que o talude está seguro, e que para a previsão com os limites
superiores o faceamento sofrerá rupturas.

Sendo assim não é possível comparar os resultados em escala real com as previsões de cálculo
do modelo, que exige a inserção de fatores de segurança em sua análise, pois deste modo
aproximação entre as previsões do modelo de cálculo com a realidade pode ser ajustada com
variação dos fatores de segurança dentro dos limites indicados em Macaferri (2014).

6.2.3 Análise paramétrica

Para concluir a avaliação dos métodos de dimensionamento investigados na pesquisa foi


realizada uma variação nos parâmetros de entrada necessários para as estimativas, a fim de
avaliar a sensibilidade destes modelos frente a diferentes condições de cálculo, e comparar
estas análises com os experimentos em escala real. Sendo assim foi definido que os
parâmetros investigados seriam o ângulo de atrito, coesão e a espessura da camada instável.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
132

Estes dados foram escolhidos para a análise paramétrica em função de que a determinação da
resistência ao cisalhamento em projetos geotécnicos brasileiros nem sempre é realizada de
maneira adequada, sendo necessário que em muitos casos os projetistas estimem estes valores
ou busquem correlações com as informações disponíveis, sendo eles alvo de grande incerteza.

O procedimento adotado para a realização das análises paramétricas foi o seguinte: em cada
caso investigado um dos parâmetros acima definidos foi variável, enquanto que os demais
foram mantidos constantes, para uma dada inclinação, modelo de malha metálica, tipo de
grampo e espaçamento entre os grampos. Esta metodologia permite verificar quem exerce a
maior influência nos resultados. Nesta análise foi considerado somente o método de cálculo
Ruvolum, devido ao menor número de incertezas envolvidas.

A faixa de variação dos parâmetros geotécnicos foi definida com base na literatura técnica de
resistência ao cisalhamento dos solos, em particular os livros de Lambe e Whitman (1969) e
Souza Pinto (2006).

6.2.3.1 Experimento Número 4

Os resultados obtidos através da análise paramétrica estão apresentados na Figura 74, que
sumariza graficamente todas as situações consideradas, indicando qual o parâmetro foi
alterado em cada análise e a magnitude da variação no esforço de puncionamento da malha e
cisalhamento no grampo.

A carga de puncionamento é mais sensível às variações no ângulo de atrito do material do que


a carga cisalhante que atua no grampo, sofrendo uma variação máxima de +- 20% dentro da
faixa considerada. A ruptura observada entre os intervalos de 38 para 35 graus não é
considerada crítica, pois o sistema já trabalhava no limite da resistência do faceamento na
condição inicial. Para esta variável, não é esperada uma ruptura por cisalhamento dos
grampos em nenhuma das situações observadas.

Já alterando a espessura da camada instável a carga de puncionamento atuante praticamente


não se altera, sendo que quando consideradas espessuras maiores ela se mantém constante,
pois o ângulo de β já atingiu seu valor limite para o espaçamento entre grampos considerado,
sofrendo uma pequena redução quando a espessura é reduzida. Esta situação é observada pois
a espessura crítica é definida em função do espaçamento dos grampos, coesão e f,

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133

permanecendo a mesma quando aumentamos a espessura da camada, corroborando para a


hipótese de que a espessura da caixa de ensaio é suficiente para verificar a malha.

Para a carga de cisalhamento no grampo, a espessura é fundamental, pois ela define o volume
de material atuando sobre os grampos, sendo possível notar que pequenas variações, em
apenas 0,2 m, geram incrementos da ordem de +- 20% no valor da carga atuante.

Como já era esperado, pequenas variações na coesão geram grande variações nos resultados,
função do baixo nível de tensões referentes a camadas de pequena espessura, superfície do
talude, sendo então recomendado excluir este parâmetro das análises deste tipo.

Quanto aos demais parâmetros é possível afirmar que variações em até 5 graus no ângulo de
atrito do solo e até 0,50 metros na espessura não irão resultar em erros expressivos nas
previsões desenvolvidas para as cargas atuantes na malha. Já para a carga de cisalhamento as
previsões podem levar a falhas nos grampos, com a faixa de variação descrita.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
134

250
f variável
200 c=0 kPa
Carga (kN) 150 t=1,20 m

100 Cisalhamento
Puncionamento
50

0
20 25 30 35 40 45 50
Ângulo de atrito (f)

160
140 f=38
120 c=0 variável
t=1,20 m
Carga (kN)

100
80
Puncionamento
60
Cisalhamento
40
20
0
5 6 7 8 9 10
Coesão (kPa)

300
f=38
250
c=0 kPa
200 t=variável
Carga (kN)

150
Puncionamento
100 Cisalhamento

50

0
0 0,5 1 1,5 2
Espessura Instável (m)

Figura 74: Resultados da análise paramétrica

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135

7 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 CONCLUSÕES

O último capítulo do presente trabalho aborda a apresentação das conclusões que foram
obtidas com o desenvolvimento do trabalho, estando estas baseadas nos experimentos e
ensaios realizados durante a pesquisa, bem como a análise dos mesmos. Estas serão listadas
separadamente com o objetivo de simplificar a compreensão das mesmas.

7.1.1 Conclusões em relação aos ensaios de tração nas malhas de aço

a) Resistência obtida: Foi verificado que em todos os ensaios realizados a resistência


máxima alcançada, quando normalizada em função do comprimento unitário, ficou
ligeiramente abaixo da carga nominal apresentada para as malhas ensaiadas, tendo sido
registrado em média uma diferença negativa de ~ 10%. Duas hipóteses podem justificar
esta diferença, a maior concentração de carga nos nós da amostra aqui estudada. A
segunda hipótese consiste na análise da fixação lateral da malha com o pórtico, que aqui
utiliza presilhas para fixar, enquanto que no ensaio original a malha é fixa por um pino,
tendo um grau de liberdade de movimentação maior, podendo esta diferença influenciar
os resultados;

b) Ruptura: As rupturas observadas nas amostras durante a realização dos ensaios ocorreram
em diferentes pontos da malha: nas quatro extremidades e no centro das amostras. Esta
distribuição aleatória indica que o processo de montagem exerceu pouca influência nos
resultados, e que não foi registrado pontos de concentração de carga, portanto cada
amostra rompeu em seu ponto de fragilidade e não em um local induzido pelo
equipamento.

7.1.2 Conclusões em relação ao ensaio de resistência no contato malha/placa

a) Resistência obtida: Nestes ensaios a resistência obtida, para as amostras que foram
rompidas, se aproximou bastante da resistência nominal dos modelos de malhas
avaliadas. No caso da malha G65/ 3 mm, a resistência nominal é de 30 kN, valor máximo
atingido no ensaio sem que fosse verificada a ruptura na malha;

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
136

b) Condição de ensaio: O ensaio foi realizado sem que a malha tivesse contato com material
de enchimento, situação do ensaio original. Entretanto, a situação verificada representa
uma condição comum observada em campo para taludes rochosos, que é quando existem
negativos nos taludes e a placa de fixação fica em contato somente com a malha do
faceamento, deste modo os ensaios foram considerados válidos e capazes de representar a
situação real. Já para os taludes em solo, existe uma restrição de movimento dada pelo
atrito entre a malha e o solo, entende-se que a condição em solo seja melhor do que a
condição em rocha, levando a valores superiores desta resistência

c) Deformação das amostras: Devido à condição de ensaio, os pontos de contato da amostra


com a placa ficaram limitados às extremidades da placa, condicionando um deslizamento
entre os arames da malha, rearranjando a estrutura da amostra em função da carga. Este
comportamento foi observado em todos os modelos estudados;

d) Distribuição de carga: Os arames de aço que compõem a malha trabalham em conjunto,


sendo as cargas distribuídas ao longo da superfície da amostra. Quando era verificada a
ruptura em um dos arames, mesmo que fora do ponto de aplicação de carga, a amostra
não suportava mais nenhum ganho de carga, indicando que a ruptura em um dos arames
compromete a distribuição de cargas no sistema;

e) Comportamento das amostras: Durante o ensaio, todos os deslocamentos “plásticos”


sofridos pela amostra podem ser associados ao rearranjo da estrutura ( abertura ou
fechamento dos nós) das malhas em função da condição de carregamento se dar somente
nos pontos de contato com a placa;

7.1.3 Conclusões em relação ao ensaio em escala real

a) Deformação do faceamento: Foi verificada que a deformação do faceamento devido à


ação do peso do material de enchimento se dá da mesma maneira que ela foi prevista no
método de dimensionamento RUVOLUM, ocorrendo um acúmulo de material na região
do grampo inferior. Também é possível apontar que a consideração realizada sobre a
porção de solo estabilizada em função da carga de pré tensionamento é verdadeira, sendo
indicada pelas zonas de deformação nula na região das placas. Por fim também foi
observado nos ensaios que o material se desloca aleatoriamente dentro da caixa, baseado
na diferença observada entre as cargas atuantes em grampos paralelos do sistema;

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137

b) Ruptura da tela: As cargas medidas para os esforços de puncionamento nos ensaios em


escala real no momento da ruptura, em alguns dos ensaios, ficaram abaixo da resistência
esperada para as amostras estudadas. Deste modo conclui-se que a ruptura do sistema não
se manifesta sob a ação isolada de esforços, sendo a carga de ruptura uma resultante entre
os esforços de puncionamento e cisalhamento que atuam nos grampos;

c) Distribuição de cargas: Ao analisarmos as leituras do escâner laser é possível notar que o


material se concentra em uma região entre os grampos com formato de losango, o mesmo
formato de construção das malhas. Ao compararmos com uma malha de formato
retangular com o mesma distribuição de grampos, fica evidente que a distribuição da
carga é função do formato losangular da malha e não função da distribuição dos grampos;

d) Inicio da movimentação: Foi registrado que o início da movimentação do material de


enchimento se deu em um ângulo superior ao ângulo de atrito do material, indicando que
a carga de pré-tensão conferida ao sistema ativa o faceamento, contribuindo para a
estabilização do talude.

7.1.4 Conclusões em relação aos métodos de dimensionamento

7.1.4.1 Método Ruvolum

Os resultados previstos pelo método Ruvolum se aproximaram bastante das observações


realizadas nos ensaios em escala real , estimando para a condição real o limite da ruptura do
sistema de faceamento ou a ruptura, para as condições de fatores de segurança unitários. Ao
introduzir os fatores da NBR 11682 todas as previsões indicaram ruptura do sistema em
inclinações inferiores às atingidas.

Quanto às cargas estimadas é possível afirmar que para os ensaios de menor espaçamento de
grampos, o grupo B, foi possível estimar as cargas máximas atuantes com fidelidade as
medições realizadas. Entretanto ao verificarmos as cargas do grupo A, as estimativas ficaram
muito distantes das medições indicando que o espaçamento maior exerce uma influência no
sistema.

A determinação de parâmetros geotécnicos para uma avaliação de solução é fundamental, em


especial a coesão do material, parâmetro de difícil determinação e dependente de várias
condições naturais, o qual exerce uma influência significativa nos resultados em função do
baixo nível de tensões do problema estudado. Com base na análise paramétrica recomenda-se

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
138

que ao utilizar o método Ruvolum este parâmetro seja desconsiderado, a menos que seja
extremamente confiável.

Por fim, com base na análise paramétrica e nos cálculos analíticos é possível afirmar com
certeza que a espessura da caixa utilizada no experimento em escala real é suficiente para
aplicar o máximo carregamento no sistema de faceamento, visto que o incremento da
espessura para um dado espaçamento entre os grampos não alterou o ângulo crítico de falha, e
por consequência a espessura crítica de material instável. Entretanto é de extrema importância
apontar que a verificação do cisalhamento nos grampos a espessura de solo é fundamental,
porém o objetivo do ensaio era verificar o faceamento e não o grampo.

7.1.4.2 Método Macro 01

Este método verifica o sistema somente frente à resistência a tração, dependente do esforço de
puncionamento, da malha utilizada como faceamento, com base na relação existente entre a
deformação e carga de puncionamento – UNI11437:2012. Entretanto este esforço não atua
sozinho no sistema, ainda existem os esforços localizados no contato malha/placa que não são
verificados pelo método, e que como mostram os ensaios em escala real estão presentes em
uma solução de faceamento.

Adicionalmente as previsões do método MacRo 1 exigem que sejam introduzidos fatores de


segurança mínimo, caso contrario, ao calcularmos utilizando Fs unitários as cargas atuante no
sistema ficam praticamente nulas, o que não condiz com os ensaio realizados. Deste modo, a
comparação das previsões com o ensaio em escala real é uma tarefa complexa, pois as
previsões podem ser ajustadas com a variação dos coeficientes de segurança dentro da faixa
indicada por Macaferri (2014), e tais indicações não podem ser tomadas a priori com
assertividade em um projeto real.

7.1.5 Sugestões para trabalhos futuros

Em virtude do tempo disponível e dos materiais fornecidos sugere-se que sejam realizados
uma nova campanha de ensaios utilizando uma gama mais variada de modelos de malhas
metálicas, utilizando as malhas hexagonais com e sem reforço de cabos de aço em diferentes
direções, malhas quadradas com e sem reforço de cabo de aço associadas a placas de fixação
com diferentes tamanhos e formatos. Deste modo seria possível construir um banco de dados
para diferentes materiais.

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139

Adicionalmente sugere-se que seja projetado e executado um ensaio em escala real, onde
sejam registradas todas as cargas e deformações utilizando estes diferentes modelos de malhas
e placas, contemplando também uma situação de taludes rochosos.

Devido a grande divergência entre as cargas previstas e as observadas para as diferentes


condições de espaçamento, sugere-se realizar ensaios com uma gama mais variada de
distribuição de grampos, a fim de verificar a influência destas nas medições.
Complementando este estudo sugere-se desenvolver e propor um sistema para a medição dos
esforços no contato malha grampo diretamente.

A realização dos ensaios de puncionamento, seguindo os dois procedimentos aqui


apresentados, é um ponto interessante a ser estudado, a fim de avaliar as diferenças entre os
dois modelos propostos.

Por fim, sugere-se que um talude real seja instrumentado durante a fase de instalação e
operação do sistema, a fim de verificar as cargas atuantes em um conjunto completo da
solução durante um dado período de tempo, objetivando verificar a influência de poro
pressões no sistema.

Faceamento de Solo Grampeado com Malhas de aço - Estudo dos Critérios de Dimensionamento
140

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