Ultrassonografia com Doppler

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 239

SÉRIE CASOS COMENTADOS DA SPR

ULTRASSONOGRAFIA COM

DOPLER
André Paciello Romualdo
(Organizador)
ULTRASSONOGRAFIA COM

DOPPLER
André Paciello Romualdo
(Organizador)

1ª Edição, 2023
São Paulo
Copyright © 2023 Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo que parcial, por
qualquer meio e processo, sem a prévia autorização escrita.

ISBN: 978-65-997296-2-1
doi da publicação: 10.29327/5135889

Publicado no Brasil em janeiro de 2023

Organizador: André Paciello Romualdo


Coordenação editorial: Sérgio Macedo Júnior
Copydesk e revisão: Lilian Mallagoli – Ventura Comunica
Planejamento e produção gráfica: Marco Murta – Farol Editora

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Romualdo, André Paciello


Ultrassonografia com Doppler [livro eletrônico] / André Paciello Romualdo.
-- São Caetano do Sul, SP : Farol Editora, 2023. -- (Casos comentados da
SPR ; 1) PDF.
DOI: 10.29327/5135889
Bibliografia.
ISBN 978-65-997296-2-1

 1. Diagnóstico por imagem 2. Doppler – Ultrassonografia colorida 3. Doppler –


Ultrassonografia dupla I. Título II. Série.

22-138876 CDD-616.07543

Índices para catálogo sistemático:


1. Doppler : Ultrassonografia dupla : Ciências médicas 616.07543
Inajara Pires de Souza – Bibliotecária – CRB PR-001652/0

Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR)

Av. Paulista, 491 – Conj. 41/42 – 01311-000 – São Paulo, SP


Tel. (11) 5053-6363 – www.spr.org.br
Sobre os autores

Organizador
André Paciello Romualdo
Radiologista Sênior de Ultrassonografia e Imagem Cardiovascular
do Grupo Fleury. Coordenador de Ultrassonografia da SPR. Autor
dos livros Doppler Sem Segredos e Doppler: Manual Prático – Do
Protocolo ao Relatório” (in press).

Autores
André Paciello Romualdo
Radiologista Sênior de Ultrassonografia e Imagem Cardiovascular
do Grupo Fleury. Coordenador de Ultrassonografia da SPR.

Alessandra Caivano Rodrigues Ribeiro


Mestre em Ciências da Saúde pela Santa Casa de SP. Médica colabo-
radora do Setor de Ultrassonografia da Santa Casa de SP. Médica da
Equipe de Ultrassonografia e Biópsia do Fleury Medicina e Saúde.
Médica da Equipe de Ultrassonografia da DASA.

Alexandre Fligelman Kanas


Radiologista Intervencionista do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da USP. Atua no Hospital Israelita Albert Einstein e no
Hospital Alemão Oswaldo Cruz/Grupo Fleury. Membro do Colégio
Brasileiro de Radiologia e da Sociedade Brasileira de Radiologia
Intervencionista e Cirurgia Endovascular.

4
Sobre os autores

Carlos Augusto Ventura Pinto


Médico Radiologista do Setor de Imagem – Área de Vascular do
Hospital Israelita Albert Einstein. Doutor pela Faculdade de Medi-
cina da Universidade de São Paulo.

José Eduardo Mourão Santos


Médico Radiologista – DDI UNIFESP. Membro titular do CBR.

Paulo Savoia Dias da Silva


Médico e Radiologista pela FMUSP. Aluno de Doutorado FMUSP.
Médico Radiologista do Instituto de Radiologia do HCFMUSP e
do Grupo Fleury.

Peter Célio Françolin


Médico Assistente do InRad – HCFMUSP. Membro da Comissão
Nacional de Ultrassonografia – CBR. Médico Assistente do Grupo
DASA. Membro da Junta Diretiva FLAUS.

5
Apresentação

Começamos o ano de 2023 com esta boa notícia: a chegada do e-book


“Ultrassonografia com Doppler”, que é parte da série “Casos Comentados
da SPR”.
Disponível no site da Sociedade Paulista de Radiologia (SPR), ele é de
acesso livre a toda a comunidade da Radiologia, o que muito nos orgulha!
Trata-se de mais uma iniciativa da SPR para oferecer atualização científica
de classe mundial aos nossos profissionais.
Trata-se de uma alternativa dinâmica e diferenciada de ensino, para
enriquecer e ampliar a nossa entrega de diferentes formatos de conteúdo
– temos cursos presenciais, online, híbridos, aulas e cursos na nossa Video-
teca Digital, e agora chegamos também com esta série de e-books!
O editor, Dr. André Paciello Romualdo, reuniu 21 casos que abordam
21 diferentes patologias diagnosticadas por meio da Ultrassonografia com
Doppler. Todos são interativos, permitindo que os leitores ampliem as
imagens, assistam a vídeos dos exames e respondam a quizzes.
Agradeço ao Paciello pela edição e pela autoria de alguns dos casos,
e também aos demais autores que contribuíram para que essa edição se
tornasse possível - os Drs. Alessandra Caivano Rodrigues Ribeiro, Alexandre
Fligelman Kanas, Carlos Augusto Ventura Pinto, José Eduardo Mourão
Santos, Paulo Savoia Dias da Silva e Peter Célio Françolin.
Apresentação

Nosso objetivo é não parar por aqui - há outros e-books previstos


ainda para este ano e nossa intenção é continuar expandindo a coleção,
abordando outras áreas, métodos e patologias.
Aproveite esta obra diferenciada e interativa para rever conceitos e
lembrar ou aprender condutas, e fique de olho nos canais da SPR para os
próximos lançamentos!
Boa leitura!

Cesar Higa Nomura


Presidente da Sociedade Paulista de Radiologia
e Diagnóstico por Imagem (SPR)
Biênio 2021-2023

7
Prefácio

Durante uma reunião científica da Sociedade Paulista de Radiologista,


em que estudávamos formas de aperfeiçoar o Curso Híbrido de Doppler
(veja mais sobre o curso aqui) e tornar a experiência dos alunos mais imer-
siva, apresentei a sugestão de elaborar um e-book com temas de interesse
em ultrassonografia com Doppler, a fim de aproveitar a expertise do nosso
grupo de especialistas. Essa ideia não só foi aceita de pronto pelo diretor
científico da sociedade, Dr. Antonio José da Rocha, como foi aperfeiçoada,
resultando na série “Casos Comentados da SPR”, da qual este “Ultrassono-
grafia com Doppler” é um dos primeiros lançamentos.
No decorrer da leitura, o aluno terá a oportunidade de aprender com
casos elaborados por referências na especialidade e testar seus conheci-
mentos com uma série de questões, cujos temas passam por praticamente
todas as principais áreas de interesse em ultrassonografia com Doppler.
Esse e-book se tornou realidade em tempo recorde não apenas pelo esforço
conjunto desses autores, mas também pelo trabalho inestimável dos cola-
boradores da sociedade, capitaneados por Sérgio Carlos de Macedo Júnior,
e da Farol Editora, que geriram todo o trabalho burocrático e técnico envol-
vido na elaboração e edição de um livro.
Desejo a todos um ótimo aprendizado, e que venham novas edições!

André Paciello Romualdo

8
Sumário

Caso 1 Caso 8 Caso 15


André Paciello Alessandra Caivano Alexandre Kanas

Caso 2 Caso 9 Caso 16


Carlos Ventura Alessandra Caivano Alexandre Kanas

Caso 3 Caso 10 Caso 17


Alexandre Kanas Peter Célio Françolin André Paciello

Caso 4 Caso 11 Caso 18


André Paciello Paulo Savoia Paulo Savoia

Caso 5 Caso 12 Caso 19


André Paciello José Eduardo Mourão José Eduardo Mourão

Caso 6 Caso 13 Caso 20


Peter Célio Françolin Carlos Ventura José Eduardo Mourão

Caso 7 Caso 14 Caso 21


Peter Célio Françolin Paulo Savoia Carlos Ventura
Caso 1
Autor: André Paciello Romualdo

• Radiologista Sênior de Ultrassonografia e Imagem Cardiovascular do Grupo Fleury


• Coordenador de Ultrassonografia da SPR

doi: 10.29327/5135889.1-1

10
Caso 1

DADOS CLÍNICOS
• Paciente do sexo feminino;
• 58 anos, exame de rotina.

IMAGENS

Figura 1. Doppler pulsado da carótida comum

11
Caso 1

Figura 2. Doppler colorido da porção proximal da carótida interna

Figura 3. Doppler pulsado da porção proximal da carótida interna

12
Caso 1

Figura 4. Doppler de amplitude da porção proximal


da carótida interna, plano longitudinal

Figura 5. Doppler de amplitude da porção proximal


da carótida interna, plano axial

13
Caso 1

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 1, é verdadeiro afirmar:

A Trata-se de estenose hemodinamicamente


significativa da porção proximal da carótida interna,
estimada entre 50 e 69%.

B As análises hemodinâmica e anatômica são


contraditórias, impossibilitando uma conclusão
pelo Doppler, sendo necessário um outro método
complementar como angiotomografia.

C O aumento de velocidade do pico sistólico na porção


proximal da carótida interna não preenche critérios
para estenose hemodinamicamente significativa.

D Trata-se de estenose hemodinamicamente


significativa, acima de 90%, e congruente com a
análise anatômica.

14
Caso 1

2. Em relação ao estudo Doppler de carótidas, é falso


afirmar:

A 
O Doppler é um método consagrado por avaliar
eventuais estenoses por critérios anatômicos, ao invés
de critérios hemodinâmicos.

B 
Um aspecto fundamental da análise é a correção
do ângulo Doppler, já que interfere diretamente na
velocidade aferida.

C 
Existem várias tabelas para quantificação de
estenose carotídea, que em geral mostram critérios
semelhantes, fundamentais para um correto
planejamento terapêutico.

D 
A avaliação velocimétrica da carótida comum deve ser
feita na sua porção distal, para que a comparação com
a carótida interna seja mais fidedigna.

15
Caso 1

3. São considerados critérios para determinação do grau


de estenose carotídea, exceto:

A 
O pico de velocidade sistólica na carótida interna,
sendo este o mais importante.

B 
A relação entre os picos de velocidade sistólica da
carótida interna e diastólica da carótida comum.

C 
O critério anatômico local (ECST) e não o distal
(NASCET).

D 
A relação entre os picos de velocidade sistólica da
carótida interna e da carótida comum.

16
Caso 1

Discussão
Neste caso, foi realizada a análise das carótidas comum e interna, a
fim de pesquisar o grau de ateromatose e sua repercussão hemodinâmica.
Para tanto, foi realizada varredura de toda extensão dos vasos no modo B
para pesquisa de placas ateromatosas, a perviedade e a análise subjetiva do
fluxo foram estudadas pelo modo colorido, particularmente pesquisando
locais de aliasing indicativas das maiores velocidades, e foram avaliadas as
velocidades de pico sistólico e a velocidade diastólica final nas porções distal
da carótida e proximal da carótida interna, sempre corrigindo o ângulo
Doppler em relação ao fluxo, respeitando a angulação máxima de 60°.
O Doppler é um método primordialmente hemodinâmico, mas que
também pode realizar análise anatômica do grau de estenose. Os princi-
pais critérios velocimétricos de quantificação da estenose são, pela ordem:
o pico de velocidade sistólica na carótida interna, a relação das velocidades
de pico sistólico entre as carótidas interna e comum e finalmente a velo-
cidade diastólica final na carótida interna. Entretanto, há outros critérios
hemodinâmicos, como a relação de pico de velocidade sistólica na carótida
interna e diastólica final da carótida comum, conhecida como critério de
Saint Mary, e o decaimento do pico de velocidade sistólico após a estenose.
A análise anatômica pode ser uma ferramenta secundária útil para
dirimir eventuais dúvidas e pode ser feita pelos métodos local (ECST) ou
distal (NASCET). No primeiro método deve-se calcular a relação entre os
diâmetros interno e externo no local da estenose e, no segundo, o diâmetro
no local da estenose e comparar com o vaso distal livre de placa. Entre-
tanto, o método ECST costuma supervalorizar o grau de estenose por conta
do remodelamento positivo da placa no local da estenose, enquanto o
método NASCET é mais fidedigno e utilizado particularmente nos métodos
angiográficos.

17
Caso 1

Segundo critérios utilizados atualmente, este caso é compatível com


estenose hemodinamicamente significativa, acima de 90% de acordo com
o consenso da Sociedade Brasileira de Cardiologia 2019 (velocidade de pico
sistólico maior que 400 cm/s, relação de pico de velocidade sistólico entre
carótida interna e comum maior que 5 e relação de Saint Mary maior que 30).

Respostas
1–D 2–A 3–C

18
Caso 1

Bibliografia Recomendada
1. Grant EG, Benson CB, Moneta GL, et al. Carotid Artery Stenosis: Grayscale
and Doppler Ultrasound Diagnosis—Society of Radiologists in Ultrasound
Consensus Conference. Ultrasound Quarterly 2003; 19:190–198.
2. 
Posicionamento de Ultrassonografia Vascular do Departamento de
Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Dos
Santos SN, de Alcantara ML, Freire CMV, et al. Arq Bras Cardiol. 2019;
112(6):809-849.
3. Staikov IN, Arnold M, Mattle HP. Comparison of the ECST, CC, and NASCET
grading methods and ultrasound for assessing carotid stenosis. European
Carotid Surgery Trial. North American Symptomatic Carotid Endarterect.
J Neurol 2000; 247: 681–686.

19
Caso 2
Autor: Carlos Augusto Ventura Pinto

• M
 édico Radiologista do Setor de Imagem - Área de Vascular do Hospital
Israelita Albert Einstein
• Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

doi: 10.29327/5135889.1-2

20
Caso 2

DADOS CLÍNICOS
•P
 aciente do sexo feminino, 48 anos, com sintomatologia
inespecífica, com fadiga, sudorese, perda de peso, artralgia,
com extremidades frias e claudicação de membros.

IMAGENS

Figura 1. Modo B, plano longitudinal artéria carótida comum

21
Caso 2

Figura 2. Doppler colorido, plano longitudinal artéria carótida comum

Figura 3. Modo B, plano longitudinal, imagem panorâmica,


artéria carótida comum e bifurcação carotídea

22
Caso 2

Figura 4. Doppler colorido, plano longitudinal, artéria carótida comum

Video 1. Modo B, plano longitudinal, com início na bifurcação carotídea


seguindo em direção caudal para a artéria carótida comum

23
Caso 2

QUESTÕES
1. Este caso 2 apresenta dois pacientes distintos,
paciente 1 (figuras 1 e 2) e paciente 2 (figuras 3, 4 e
vídeo 1). Em relação às imagens referidas, é verdadeiro
afirmar:

A Somente as imagens da carótida em modo B e Doppler


colorido mostradas aqui, sem a imagem do Doppler
pulsado, não sugerem nenhum tipo de diagnóstico.

B Trata-se de dissecção crônica da artéria carótida


comum, com trombose da luz falsa e consequente
redução luminal.

C As imagens demonstram ateromatose não calcificada


regular e difusa da artéria carótida comum.

D Os achados mostrados sugerem acometimento da


artéria carótida comum por alguma vasculite.

24
Caso 2

2. Ainda em relação ao caso 2 é correto afirmar:

A A arterite de Takayasu não costuma acometer as


carótidas, sendo estes casos localização pouco
habitual desta doença.

B Quando a arterite de Takayasu acomete as carótidas,


geralmente ocorre o envolvimento da artéria carótida
comum com preservação das artérias carótidas
interna e externa.

C As estenoses e os aneurismas causados pela arterite


de Takayasu são as alterações mais frequentemente
encontradas, do que o espessamento regular e difuso
destas artérias.

D O acometimento parietal regular e difuso


normalmente encontrado nas arterites é
indiferenciável do acometimento por aterosclerose.

25
Caso 2

2. Ainda em relação ao caso 2, é verdadeiro afirmar:

A Normalmente a ateroesclerose acomete a artéria


carótida comum, enquanto a arterite de Takayasu
acomete mais frequentemente a bifurcação carotídea.

B Tanto a arterite de Takayasu como a aterosclerose


acometem predominantemente pacientes idosos.

C A arterite de células gigantes tem distribuição típica


braquiocefálica, envolvendo as artérias temporal,
carótida externa e subclávia distal, axilar e braquial, e
não a artéria carótida comum.

D A displasia fibromuscular acomete preferencialmente


a artéria carótida comum, assim como a arterite de
Takayasu.

26
Caso 2

Discussão
As arterites consistem num processo clínico patológico no qual o vaso
é lesado pela inflamação. Esta inflamação pode alterar a estrutura do vaso,
dificultar o fluxo sanguíneo no seu interior e eventualmente levar à necrose.
A arterite de Takayasu (AT), por sua vez, é uma vasculite crônica que
acomete artérias grandes e médias, caracterizada por estenoses e oclusões,
e às vezes aneurismas, com predomínio por mulheres jovens, orientais e
com predileção pela aorta torácica, seus ramos e artérias pulmonares.
Envolvimento da artéria carótida comum com preservação das arté-
rias carótidas interna e externa é frequentemente observado na AT e foi
observado em 45% a 84% dos casos em séries relatadas anteriormente(1).
A incidência de aneurisma da artéria carótida extracraniana em pacientes
com arterite de Takayasu é de 1,8 - 3,9%(3).
A ultrassonografia é um método não invasivo e eficaz para avaliação
das artérias carótidas em pacientes com AT.
O diagnóstico de AT pode ser sugerido com base nas características
ultrassonográficas. A ultrassonografia também pode ser um método útil
para o acompanhamento das alterações anatômicas e hemodinâmicas em
resposta à terapia.
As características ultrassonográficas da AT envolvendo as artérias
carótidas foram relatadas como espessamento circunferencial difuso ou
segmentar longo com isoecogenicidade ou hiperecogenicidade da parede
arterial.2,5,8 (2001 pelo Instituto Americano de Ultrassom em Medicina •
J Ultrasound Med 20:371–378, 2001).
Neste caso, apresentamos dois pacientes diferentes, ambos com alte-
rações crônicas; o primeiro (figuras 1 e 2) com redução do calibre da caró-

27
Caso 2

tida comum, com espessamento regular e difuso, determinando impor-


tante redução do calibre e estenose crítica do vaso; o segundo (figuras 3,
4 e vídeo 1) apresenta dilatações sequenciais associadas a espessamento
parietal, porém sem determinar estenoses.

Respostas
1–D 2–B 3–C

28
Caso 2

Bibliografia Recomendada
1. Ho Park et al. Carotid Artery Involvement in Takayasu’s Arteritis Evalua-
tion of the Activity by Ultrasonography. J Ultrasound Med 20:371–378,
2001. doi: 10.7863/jum.2001.20.4.371.
2. Jeffrey R. Bond et al. Takayasu’s Arteritis Carotid Duplex Sonographic
Appearance, Including Color Doppler Imaging. J Ultrasound Med. 1990
Nov;9(11):625-9. doi: 10.7863/jum.1990.9.11.625.
3. Kazumasa Oura, et al. Takayasu’s Arteritis with a Thrombosed Aneurysm
on the Common Carotid Artery Causing Ischemic Stroke. Intern Med. 2022
Feb 1; 61(3): 425–428. Jul 30. doi: 10.2169/internalmedicine.7735-21.

29
Caso 3
Autor: Alexandre Fligelman Kanas

• R
 adiologista Intervencionista do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da USP
• A
 tua no Hospital Israelita Albert Einstein e no Hospital Alemão Oswaldo Cruz
– Grupo Fleury
• M
 embro do Colégio Brasileiro de Radiologia e da Sociedade Brasileira de
Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular

doi: 10.29327/5135889.1-3

30
Caso 3

DADOS CLÍNICOS
• Paciente do sexo feminino, 65 anos, exame de rotina.

IMAGENS

Figura 1. Ultrassonografia convencional (modo-B) do bulbo carotídeo


/ porção proximal da carótida interna, plano longitudinal

31
Caso 3

Figura 2. Tela dividida: modo-B / modo-B do bulbo carotídeo /


porção proximal da carótida interna, plano longitudinal

32
Caso 3

Figura 3. Ultrassonografia convencional (modo-B) do bulbo


carotídeo / porção proximal da carótida interna, plano axial

33
Caso 3

Figura 4. Doppler colorido do bulbo carotídeo /


porção proximal da carótida interna

34
Caso 3

Figura 5. Doppler pulsado da artéria carótida interna

35
Caso 3

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 3, é correto afirmar:

A Trata-se de uma variação anatômica, sem implicações


clínicas ou riscos associados.

B É uma patologia que só traz sintomas quando ocupa


mais de 50% da luz do vaso.

C Não é comum pacientes com essa condição clínica


serem assintomáticos.

D Embora a maior parte dos pacientes com essa


condição seja assintomática, ela pode estar associada
a um maior risco de eventos cefálicos isquêmicos.

36
Caso 3

2. Em relação aos métodos de imagem utilizados no


diagnóstico do caso 3, é correto afirmar:

A A ultrassonografia com Doppler é o único método


capaz de diagnosticar essa patologia, daí sua
importância.

B Por ser o padrão-ouro na investigação, a angiografia


com subtração digital (DSA) é o método mais
comumente utilizado no diagnóstico.

C Estudos sugerem que a angiotomografia tem


maior sensibilidade que a ultrassonografia para o
diagnóstico desta patologia.

D A angiografia com subtração digital (DSA) não


permite o diagnóstico desta patologia, pois só mostra
visualização da luz do vaso, não possilitando a
avaliação da sua parede.

37
Caso 3

3. Em relação ao diagnóstico do caso 3 e seu principal


diagnóstico diferencial, é correto afirmar:

A O seu principal diagnóstico diferencial é com


a dissecção focal da artéria carótida, sendo a
diferenciação entre essas duas patologias somente
possível por meio da história clínica, já que os achados
são quase sempre idênticos.

B Um aumento do diâmetro arterial no local pode


sugerir o diagnóstico de dissecção.

C Enquanto na dissecção os contornos são regulares,


na web carótida ela costuma apresentar múltiplas
irregularidades.

D Enquanto a web carótida pode acometer qualquer


porção da artéria carótida interna, a dissecção na
maioria das vezes acomete o bulbo carotídeo.

38
Caso 3

Discussão
Neste caso, foi realizado um estudo de carótidas com Doppler de rotina
(em paciente assintomática), com o objetivo de avaliação do complexo
médio-intimal e a pesquisa de ateromatose. Na avaliação do bulbo caro-
tídeo, foi observada uma fina membrana linear que se estende da parede
posterior do bulbo carotídeo, logo acima da bifurcação carotídea. O achado
sugere o diagnóstico de carótida web. Associa-se diminuta placa ateroma-
tosa não calcificada após a placa.
Apesar de controversa, histologicamente, a carótida web é considerada
uma variante intimal da displasia fibromuscular. É uma condição rara, mais
comum em mulheres, não sendo incomum serem bilaterais. A maior parte
é diagnosticada em pacientes jovens (por volta de 40 anos). Embora grande
parte dos casos seja observada em pacientes assintomáticos (como no caso
apresentado), existe uma clara associação com eventos isquêmicos cere-
brais. Acredita-se que, imediatamente distal à membrana, ocorrem uma
estase sanguínea e uma ativação plaquetária, que favorecem a formação de
trombos, como em nosso caso. Estudos sugerem que esses trombos podem
ser observados em cerca de um quarto dos casos e, muitas vezes, são eles os
sítios de formação de êmbolos, que migram intracranialmente.
Acredita-se que a carótida web possa ser subdiagnosticada, principal-
mente por desconhecimento dos radiologistas, exatamente por ser uma
condição rara. Entre os principais diagnósticos diferenciais, destaca-se a
dissecção da carótida. O flap observado pode parecer, nas diferentes moda-
lidades de imagem, a trave observada na carótida web. No entanto, ela
costuma acometer mais comumente os segmentos médio e distal da artéria
carótida comum (e não o bulbo carotídeo) e tem contornos mais irregulares
(diferente dos contornos suaves da membrana carotídea). Além disso, não é
raro estar associada a um aumento focal do calibre do vaso por enchimento

39
Caso 3

da falsa luz. Além disso, a clínica também favorece a distinção: embora


possa ser espontânea, a dissecção costuma ocorrer após um trauma e usual-
mente está associada à dor cervical. Outro diagnóstico diferencial é a placa
aterosclerótica. No entanto, ela também costuma ser mais irregular, pode
conter calcificações e usualmente acomete indivíduos mais velhos.
Diferentes métodos de imagem podem ser usados para o diagnós-
tico. É comum que o diagnóstico seja feito a partir da ultrassonografia.
Porém, alguns estudos sugerem que esse método não tem uma acurácia
tão boa quanto a angiotomografia, a angiorressonância e a angiografia
com subtração digital (DSA). Esta última, embora seja classicamente consi-
derada o padrão-ouro, não é muito realizada atualmente, por seu caráter
mais invasivo. Já as outras duas (angiotomografia e angiorressonância) são
bastante utilizadas, permitindo não só a avaliação da luz do vaso, como
também da sua parede, com destaque para a angiotomografia, que é de
aquisição rápida e permite a reconstrução multiplanar.

Respostas
1–D 2–C 3–B

40
Caso 3

Bibliografia Recomendada
1. Jonathan M. Coutinho, Sheldon Derkatch, Alphonse R.J. Potvin, George
Tomlinson, Leanne K. Casaubon, Frank L. Silver, Daniel M. Mandell.
Carotid artery web and ischemic stroke. (2017) Neurology. 88 (1): 65.
2. Sajedi PI, Gonzalez JN, Cronin CA, Kouo T, Steven A, Zhuo J, Thompson
O, Castellani R, Kittner SJ, Gandhi D, Raghavan P. Carotid Bulb Webs as
a Cause of “Cryptogenic” Ischemic Stroke. (2017) American Journal of
Neuroradiology. 38 (7): 1399.
3. Kim, S. J., Nogueira, R. G., & Haussen, D. C. (2018). Current Understan-
ding and Gaps in Research of Carotid Webs in Ischemic Strokes. JAMA
Neurology.

41
Caso 4
Autor: André Paciello Romualdo

• Radiologista Sênior de Ultrassonografia e Imagem Cardiovascular do Grupo Fleury


• Coordenador de Ultrassonografia da SPR

doi: 10.29327/5135889.1-4

42
Caso 4

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 60 anos, assimetria de pulso
e pressão sistólica entre os membros superiores.

IMAGENS

Figura 1. Doppler colorido da artéria vertebral esquerda

43
Caso 4

Figura 2. Doppler pulsado da artéria vertebral esquerda

Figura 3. Doppler pulsado da artéria subclávia esquerda

44
Caso 4

Figura 4. Doppler pulsado da artéria subclávia direita

Vídeo 1. Doppler colorido da artéria vertebral esquerda

45
Caso 4

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 4, é verdadeiro afirmar:

A Trata-se de Síndrome do Roubo Parcial da Subclávia


Esquerda, caracterizada por incisura mesossistólica.

B A análise das artérias subclávias é desnecessária na


avaliação do fluxo da artéria vertebral.

C O fluxo da artéria vertebral encontra-se normal, com


fluxo cranial e sem sinais de estenose.

D Trata-se de Síndrome do Roubo Total da Subclávia


Esquerda, caracterizada por inversão do sentido de
fluxo no Doppler colorido e pulsado.

46
Caso 4

2. Em relação ao caso 4, é falso afirmar:

A No caso de fluxo invertido na artéria vertebral, a


análise da artéria subclávia ipsilateral contribui para a
compreensão da fisiopatologia da doença de base.

B A análise da artéria subclávia direita demonstra que


o fluxo na artéria subclávia esquerda encontra-se
alterado, confirmando a alteração subjacente.

C O fluxo invertido da artéria vertebral indica uma


provável estenose significativa na sua origem.

D O conjunto dos achados da artéria vertebral ocorre


pela necessidade hemodinâmica do membro superior
ipsilateral.

47
Caso 4

3. Na Síndrome do Roubo da Subclávia é correto


afirmar, exceto:

A Na Síndrome do Roubo Parcial, observa-se incisura


mesossistólica, que poderá ser mais bem avaliada pela
manobra do cuff.

B A patologia de base encontra-se na artéria subclávia


depois da origem da artéria vertebral.

C Origem da artéria vertebral diretamente da crossa


da aorta praticamente impede essa possibilidade
diagnóstica.

D A avaliação da artéria subclávia por critérios diretos


(aumento dos picos de velocidade sistólica) e
indiretos (perda da diástole reversa e redução dos
picos de velocidade sistólica) comprova os achados
caracterizados na artéria vertebral.

48
Caso 4

Discussão
Neste caso, foi realizada a análise da artéria vertebral esquerda e das
artérias subclávias, sendo caracterizado fluxo invertido na artéria vertebral
esquerda tanto no modo colorido (fluxo em azul) quanto pulsado (traçado
abaixo da linha de base). Fundamental lembrar que o mapa de cores deve
estar ajustado de maneira adequada, com fluxo anterógrado cranial em
vermelho. Frente a tal achado, foi realizada avaliação complementar das
artérias subclávias, sendo caracterizadas redução da velocidade de pico
sistólico e perda da diástole reversa na porção pós-vertebral da artéria
subclávia esquerda em relação à direita. Esses achados são compatíveis com
Síndrome do Roubo da Subclávia.
A Síndrome do Roubo da Subclávia ocorre por obstrução significativa
da artéria subclávia antes da origem da artéria vertebral, em que o fluxo
para o membro superior afetado advém parcialmente do sistema vertebro-
basilar desde a artéria vertebral contralateral. O fluxo sempre tende a ir
do local de maior pressão para o território de menor pressão - no caso, o
membro superior que, por conta da isquemia, acaba apresentando vasodi-
latação periférica.
Dependendo do grau de obstrução e de vasodilatação periférica, o
roubo pode ser total ou parcial. No roubo total, o fluxo na artéria vertebral
encontra-se invertido, podendo-se realizar o estudo da artéria subclávia
apenas para confirmar a alteração na subclávia, como neste caso. No caso do
roubo parcial, observa-se um entalhe na curva sistólica da artéria vertebral,
conhecido como incisura mesossistólica ou sinal do coelho. Para confirmar
se há realmente obstrução da artéria subclávia, pode-se pesquisar achados
diretos de estenose hemodinamicamente significativa no local de obstrução
na artéria subclávia pelo Doppler ou por estudo angiográfico, caso essa
porção seja inacessível ao ultrassom, ou achados indiretos da obstrução

49
Caso 4

na artéria subclávia mais distal, que podem variar desde perda da diástole
reversa até um padrão tardus parvus. Adicionalmente, pode ser realizada a
manobra do cuff, em que se comprime o braço para ocluir a artéria braquial
e causar uma vasodilatação periférica mais acentuada. Ao se retirar o cuff
enquanto interroga-se a artéria vertebral, o roubo passa de parcial a total,
com inversão completa do fluxo na artéria vertebral.

Respostas
1–D 2–C 3–B

50
Caso 4

Bibliografia Recomendada
1. Kliewer MA, Hertzberg BS, Kim DH, et al. Vertebral Artery Doppler
Waveform Changes Indicating Subclavian Steal Physiology. AJR
2000;174:815–819.
2. Romero jm, Lev mh, Chan st, et al. US of Neurovascular Occlusive Disease:
Interpretive Pearls and Pitfalls. RadioGraphics 2002; 22:1165–1176.
3. Buckenham TM, Wright IA. Ultrasound of the extracranial vertebral artery.
The British Journal of Radiology, 2004; 77: 15–20.

51
Caso 5
Autor: André Paciello Romualdo

• Radiologista Sênior de Ultrassonografia e Imagem Cardiovascular do Grupo Fleury


• Coordenador de Ultrassonografia da SPR

doi: 10.29327/5135889.1-5

52
Caso 5

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo masculino, 32 anos, queixa de formiga-
mento ao elevar os braços.

IMAGENS

Figura 1. Doppler pulsado da artéria subclávia esquerda


no espaço costoclavicular em repouso

53
Caso 5

Figura 2. Doppler colorido da artéria subclávia esquerda no espaço


costoclavicular com elevação parcial do braço

Figura 3. Doppler colorido da artéria subclávia esquerda no


espaço costoclavicular com elevação total do braço

54
Caso 5

Vídeo 1. Doppler colorido da artéria subclávia esquerda no


espaço costoclavicular com elevação gradual do braço

55
Caso 5

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 5, observa(m)-se:

A Achados indiretos de oclusão da artéria subclávia na


porção subcoracoide.

B Aumento do fluxo na artéria subclávia em repouso,


indicativo de vasodilatação do membro superior
ipsilateral.

C Fluxo habitual na artéria subclávia em repouso, com


oclusão do fluxo no espaço costoclavicular à manobra
de elevação do braço.

D Exame normal; o formigamento deve estar


relacionado à alteração do plexo braquial.

56
Caso 5

2. Em relação ao caso 5, é falso afirmar:

A A alteração se dá no espaço costoclavicular e está


relacionada à Síndrome do Desfiladeiro Torácico.

B É mais raro ocorrer obstrução extrínseca da artéria


subclávia no espaço costoclavicular, em relação aos
espaços interescaleno e subcoracoide.

C Na pesquisa de formigamento do membro superior


de origem vascular, é fundamental realizar as diversas
manobras provocativas.

D A ausência de fluxo durante a manobra provocativa


está relacionada à oclusão extrínseca no espaço
costoclavicular.

57
Caso 5

3. Na Síndrome do Desfiladeiro Torácico é correto afirmar:

A Só ocorre por compressão extrínseca na artéria


subclávia.

B Ocorre mais comumente por origem arterial, seguido


de origem neurológica e por fim venosa.

C Ocorre tanto na artéria subclávia quanto na axilar.

D O local mais frequente de obstrução é o espaço


interescaleno, depois o costoclavicular e, por fim,
subcoracoide.

58
Caso 5

Discussão
Neste caso, foi realizada pesquisa de Síndrome do Desfiladeiro Torá-
cico. Tal síndrome ocorre por compressão extrínseca do feixe neurovascular
(plexo braquial, artéria subclávia e axilar e veia subclávia e axilar), sendo a
causa mais comum compressão neurológica; em segundo lugar, compressão
arterial; e, por fim, compressão venosa. Importante reconhecer a anatomia
normal da transição cervicotoracobraquial. A artéria subclávia apresenta
porções pré-escalena, interescalena e costoclavicular, enquanto a artéria
axilar apresenta porções suprapeitoral, retropeitoral e infrapeitoral. Os
espaços onde pode ocorrer compressão arterial são o interescaleno, costo-
clavicular e retropeitoral menor ou subcoracoide. O local mais frequente de
obstrução é o espaço costoclavicular.
O exame deve ser iniciado em repouso para observar calibre, pervie-
dade e velocidade de pico sistólico nas artérias subclávia e axilar, e então
complementado com manobras provocativas com o membro superior ipsi-
lateral, a fim de causar compressão em cada espaço e provocar a sintomato-
logia. São as manobras de Adson modificado (braço ipsilateral estendido ao
lado do corpo com rotação contralateral da cabeça), Wright (hiperextensão
e depois elevação do braço ipsilateral com rotação contralateral da cabeça)
e “militar com mochila” (tórax projetado para frente e ombro para trás em
inspiração profunda).
Os achados diretos da compressão significativa são caracterizados
tanto no Doppler colorido, como neste caso - com redução acentuada e even-
tualmente oclusão da artéria em um dos espaços analisados -, quanto no
Doppler pulsado com aumento significativo das velocidades de pico sistó-
lico e perda da fasicidade trifásica, eventualmente evoluindo para ausência
de sinal em caso de oclusão. Caso necessário, o exame pode ser comple-
mentado na artéria braquial com caracterização de achados secundários da

59
Caso 5

compressão, podendo variar desde perda da diástole reversa e redução das


velocidades sistólicas até a um padrão tardus parvus às manobras provoca-
tivas. Além disso, é fundamental caracterizar o gatilho da sintomatologia
clínica durante as manobras; em geral, formigamento da mão e do braço.

Respostas
1–C 2–B 3–C

60
Caso 5

Bibliografia Recomendada
1. Remy-Jardin M, Remy J, Masson P, et al. Helical CT Angiography of Thoracic
Outlet Syndrome: Functional Anatomy. AJR 2000; 174:1667–16.
3. Demondion X, Herbinet P, Jan VS, et al. Imaging Assessment of Thoracic
Outlet Syndrome. RadioGraphics 2006; 26:1735–1750.
4. Eliahou R, Sosna J, Bloom AI. Between a Rock and a Hard Place: Clinical
and Imaging Features of Vascular Compression Syndromes. RadioGraphics
2012; 32:E33–E49.

61
Caso 6
Autor: Peter Célio Françolin

• Médico Assistente do InRad – HCFMUSP


• Membro da Comissão Nacional de Ultrassonografia – CBR
• Médico Assistente do Grupo DASA
• Membro da Junta Diretiva FLAUS

doi: 10.29327/5135889.1-6

62
Caso 6

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 49 anos, dor e parestesia dos
quirodáctilos a esquerda há 30 dias.
• A
 o exame físico: necrose da ponta dos dedos da mão
esquerda.

IMAGENS

Figura 1. Doppler colorido e pulsado da artéria radial esquerda. Todas


as artérias do membro superior esquerdo apresentavam este padrão

63
Caso 6

Figura 2. Doppler colorido e pulsado da artéria digital do 3


QDE, realizada com transdutor de alta frequência

Figura 3. Doppler colorido e pulsado da artéria digital do 3 QDD, realizado


com transdutor de alta frequência, para estudo comparativo contralateral

64
Caso 6

Figura 4. Doppler colorido e pulsado da artéria vertebral


esquerda, realizado como complementação

Figura 5. Doppler colorido e pulsado da artéria vertebral


direita, para estudo comparativo contralateral

65
Caso 6

Figura 6. Doppler colorido e pulsado da artéria subclávia


esquerda proximal, realizada com transdutor endocavitário

Figura 7. Reconstrução tomográfica demonstrando o arco


aórtico e a emergência da artéria subclávia esquerda

66
Caso 6

Figura 8. Angiografia digital, demonstrando a implantação de


um stent bem sucedida na artéria subclávia esquerda

Figura 9. Fotografia das mãos da paciente

67
Caso 6

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 6, é verdadeiro afirmar:

A A avaliação das artérias digitais com Doppler não é


um método confiável.

B As análises hemodinâmicas dos segmentos arteriais


de membros superiores e das artérias vertebrais
são contraditórias, impossibilitando uma conclusão
pelo Doppler.

C O aumento de velocidade do pico sistólico na porção


proximal da artéria subclávia esquerda preenche
critérios para estenose hemodinamicamente
significativa.

D Os achados são compatíveis com fenômeno de


Raynaud.

68
Caso 6

2. Em relação ao estudo Doppler arterial de membros


superiores, é falso afirmar:

A O Doppler de artérias de membros superiores pode


apresentar limitações na avaliação do leito proximal
da artéria subclávia.

B Um aspecto fundamental da análise é a correção


do ângulo Doppler, já que interfere diretamente na
velocidade aferida.

C A avaliação de leitos alternativos (como a artéria


vertebral), bem como a troca de transdutores, pode
permitir uma análise mais ampla e adequada das
patologias arteriais de membros superiores.

D Diferente dos membros inferiores, a avaliação


ultrassonográfica arterial de membros superiores não
apresenta limitações ou janelas de acesso restrito.

69
Caso 6

3. Esta patologia é conhecida como:

A Fenomeno de Raynauld.

B Síndrome de Paget Schroetter.

C Síndrome do Dedo Azul.

D Síndrome do Desfiladeiro Torácico.

70
Caso 6

Discussão
Paciente buscou atendimento por quadro de dor, parestesia e alte-
ração de coloração progressiva dos dedos da mão esquerda, com início
há dois meses. Inicialmente internada com suspeita clínica de fenômeno
de Raynaud, que foi afastada pela equipe de cirurgia vascular. Solicitado
Doppler para avaliação do sistema arterial do membro superior esquerdo.
À avaliação inicial, nenhuma placa foi caracterizada. O fluxo monofá-
sico parecia suspeito, mas foi considerado secundário.
Optamos por avaliar as artérias digitais: a troca do transdutor linear por
um transdutor de maior frequência permitiu a caracterização das mesmas,
não sendo identificado fluxo à esquerda. Este achado era compatível com a
necrose da ponta dos dedos, mas não configurava um diagnóstico final.
Considerando-se a possibilidade de PLACA COMPLICADA no terço
proximal da artéria subclávia, e sabedores que este território apresenta
avaliação limitada pelo ultrassom, optamos por um teste simples e rápido:
a avaliação da artéria vertebral. Sabemos que sua morfologia de onda pode
estar alterada na estenose subclávia, configurando o “roubo da subclávia”.
E este foi diagnosticado à esquerda. O “sinal do coelho” foi evidente,
caracterizando que alguma estenose havia neste território.
Este achado, um sinal indireto de estenose, poderia ser estudado com
transdutor convexo ou endocavitário, trabalhando-se com uma frequência
mais baixa. E assim foi feito.
Apesar da janela limitada, foi avaliada a topografia da emergência da
artéria subclávia esquerda, sendo caracterizado o sinal do aliasing e altas
velocidades neste território. Um sinal DIRETO de estenose neste território.

71
Caso 6

O diagnóstico foi CONFIRMADO pela angiotomografia, configu-


rando-se “placa fibroadiposa ulcerada com estenose e embolização distal
para a circulação terminal”. Esta condição é conhecida como a “Síndrome
do Dedo Azul”.
A angiografia digital permitiu a angioplastia com implantação de stent,
restaurando o fluxo adequado no território.

Respostas
1–C 2–D 3–C

72
Caso 6

Bibliografia Recomendada
1. Guia Prático de Ultrassonografia Vascular, 4ª edição. Ed. Dilivros. Nostra-
damus, AC; Engelhorn, AL; Engelhorn, C; Filho, DM; Barros, F.
2. Posicionamento de Ultrassonografia Vascular do Departamento de
Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Dos
Santos SN, de Alcantara ML, Freire CMV, et al. Arq Bras Cardiol. 2019;
112(6):809-849.
3. Romualdo, Andre Pacciello: Doppler sem segredos, 2ª edição. Guanabara
Koogan.
4. Kliewer MA, Hertzberg BS, Kim DH, et al. Vertebral Artery Doppler
Waveform Changes Indicating Subclavian Steal Physiology. AJR
2000;174:815–819.

73
Caso 7
Autor: Peter Célio Françolin

• Médico Assistente do InRad – HCFMUSP


• Membro da Comissão Nacional de Ultrassonografia – CBR
• Médico Assistente do Grupo DASA
• Membro da Junta Diretiva FLAUS

doi: 10.29327/5135889.1-7

74
Caso 7

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo masculino, 33 anos, quadro de varizes à
esquerda. Foi solicitado Doppler de veias ilíacas e veia cava
inferior para pesquisa de Síndrome de Cockett.
• O
 radiologista observou um mapeamento colorido anormal
das artérias ilíacas, e resolveu ampliar o estudo (apesar de
não haver solicitação).

IMAGENS

Figura 1. Doppler colorido e pulsado da artéria ilíaca comum esquerda

75
Caso 7

Figura 2. Doppler colorido e pulsado da artéria aorta abdominal

Figura 3. Doppler colorido e pulsado da artéria subclávia esquerda

76
Caso 7

Figura 4. Angiotomografia Figura 5. Reconstrução da


da aorta angiotomografia da aorta

Figura 6. Angiografia digital para tratamento e controle após procedimento

77
Caso 7

QUESTÕES
1. Em relação ao caso, é verdadeiro afirmar:

A Não é possível prever a morfologia da onda nem o


padrão de fluxo baseado unicamente na avaliação ao
Doppler colorido.

B A morfologia de onda aórtica abdominal apresenta-se


alterada e sugere estenose proximal ao ponto
estudado.

C O vaso descrito como artéria ilíaca foi incorretamente


nomeado: trata-se da veia ilíaca.

D Varizes podem justificar a morfologia alterada da


onda da artéria ilíaca, por abertura de periferia.

78
Caso 7

2. Em relação ao caso, sobre o raciocínio diagnóstico


empregado, é falso afirmar:

A A avaliação da artéria subclávia esquerda definiu a


topografia da lesão.

B A morfologia da onda da artéria subclávia esquerda


está normal.

C Se a onda na artéria subclávia esquerda fosse


monofásica, poderíamos prosseguir para a avaliação
da artéria subclávia direita.

D Não podemos avaliar o território torácico, já que


os exames iniciais solicitavam a avaliação do eixo
abdominal, pélvico e de membros inferiores.

79
Caso 7

3. Sobre as estenoses arteriais em territórios


periféricos, é correto afirmar:

A Toda onda monofásica traduz estenose ou oclusão


proximal.

B O Doppler permite avaliação anatômica da estenose,


mas não define a hemodinâmica local.

C Fístulas arteriovenosas e sepsis podem gerar ondas


monofásicas em extremidades.

D Uma elevação de 50% da velocidade de pico sistólico


define uma estenose como hemodinamicamente
significativa.

80
Caso 7

Discussão
Paciente apresentando quadro de varizes em investigação de
compressão da veia ilíaca comum esquerda (Síndrome de Cockett). Ao
exame de Doppler colorido, foi observado um padrão de fluxo anormal na
artéria ilíaca comum, não sendo evidenciado o aliasing que rotineiramente
é visto quando se utiliza um preset de exame venoso.
Identificado fluxo monofásico nas artérias ilíacas, bem como na aorta
abdominal. Este achado sugere uma estenose proximal, apesar do paciente
ser assintomático.
Realizada complementação com estudo da artéria subclávia esquerda,
que se apresentou trifásica. Este achado indica que a estenose se encontra
na aorta torácica, entre a artéria subclávia esquerda e seu início do trajeto
abdominal.
O caso foi confirmado com estudos diretos de imagem, e o paciente foi
submetido à angioplastia com implantação de stent, com sucesso.

Respostas
1–B 2–D 3–C

81
Caso 7

Bibliografia Recomendada
1. Guia Prático de Ultrassonografia Vascular, 4ª edição. Ed. Dilivros. Nostra-
damus, AC; Engelhorn, AL; Engelhorn, C; Filho, DM; Barros, F.
2. Posicionamento de Ultrassonografia Vascular do Departamento de
Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Dos
Santos SN, de Alcantara ML, Freire CMV, et al. Arq Bras Cardiol. 2019;
112(6):809-849.
3. Romualdo, Andre Pacciello: Doppler sem segredos, 2ª edição. Guanabara
Koogan.

82
Caso 8
Autor: Alessandra Caivano Rodrigues Ribeiro

• Mestre em Ciências da Saúde pela Santa Casa de SP


• Médica colaboradora do Setor de Ultrassonografia da Santa Casa de SP
• Médica da Equipe de Ultrassonografia e Biópsia do Fleury Medicina e Saúde
• Médica da Equipe de Ultrassonografia da DASA

doi: 10.29327/5135889.1-8

83
Caso 8

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 77 anos, com queixa de dor
abdominal difusa há três meses, com piora há um dia.
• Antecedentes: colecistectomia.

IMAGENS

Figura 1. Análise hepática ao modo B

84
Caso 8

Figura 2. Análise esplênica ao modo B

Figura 3. Análise da veia porta ao modo B

85
Caso 8

Figura 4. Doppler colorido da veia porta

Figura 5. Doppler pulsado da veia porta

86
Caso 8

Figura 6. Análise da fossa ilíaca direita ao modo B

Figura 7. Análise da fossa ilíaca esquerda ao modo B

87
Caso 8

Figura 8. Análise da veia paraumbilical ao Doppler colorido

Figura 9. Análise da veia paraumbilical ao Doppler pulsado

88
Caso 8

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 8, assinale a alternativa CORRETA:

A O fluxo vascular da veia porta ao Doppler colorido


está hepatofugal.

B O índice esplênico está dentro dos limites da


normalidade.

C O calibre da veia porta está aumentado.

D A velocidade da veia porta está dentro dos limites da


normalidade.

89
Caso 8

2. Em relação à hipertensão portal, assinale a


alternativa INCORRETA:

A A presença da recanalização da veia paraumbilical


ao Doppler é um critério fidedigno para o seu
diagnóstico.

B O calibre da veia porta está sempre aumentado nesta


condição clínica.

C A redução da velocidade da veia porta (abaixo de 16


cm/s) faz parte de um dos critérios diagnósticos.

D Os pacientes com esta condição clínica podem ter


complicações infecciosas, como peritonite e sepse.

90
Caso 8

3. São considerados achados de imagem na hipertensão


portal, EXCETO:

A Ausência de colaterais portossistêmicas.

B Aumento do calibre da veia porta (maior que 1,3 cm).

C Presença de esplenomegalia.

D Fluxo invertido na veia porta ao estudo Doppler.

91
Caso 8

Discussão
Neste caso, foi realizada a avaliação do abdome com ênfase na análise
do sistema porta ao modo B, ao Doppler colorido e ao Doppler pulsado.
Para tanto, foi realizada a avaliação de todo o abdome com o transdutor
convexo e o transdutor linear – este último para a pesquisa de colaterais
portossistêmicas na parede abdominal, como a veia paraumbilical recanali-
zada para a escoamento do aumento da pressão do sistema porta. A pressão
do sistema porta é um preditor de morbidade e mortalidade no paciente
com hepatopatia crônica, pois, caso haja a hipertensão portal, o risco de
ruptura de varizes e hemorragia aumenta.
A hipertensão portal é uma síndrome clínica definida como aumento
patológico da pressão da veia porta. Pode ser classificada como pré-sinu-
soidal (trombose da veia porta, por exemplo), sinusoidal e pós-sinusoidal
(Síndrome de Budd-Chiari, por exemplo). A causa mais comum é a cirrose
(classificada como sinusoidal). O quadro clínico do paciente consiste em
varizes esofágicas, ascite, encefalopatia, síndrome hepatorrenal, insufici-
ência cardíaca, bem como complicações infecciosas que podem evoluir para
peritonite espontânea e sepse.
A ultrassonografia com Doppler colorido é o método de imagem
indicado para a avaliação primordial do sistema porta, pois avalia os
calibres dos vasos ao modo B, bem como a avaliação hemodinâmica
dos mesmos, para inclusive descartar a possibilidade de trombose das
veias porta e hepáticas. Inicialmente é realizada a avaliação do parên-
quima hepático e esplênico para a pesquisa de neoplasias primárias e/
ou secundárias, bem como ascite. Além disso, caso haja a presença de
TIPS (shunt portossistêmico intra-hepático transjugular) para o manejo
clínico do paciente, a ultrassonografia com Doppler colorido e pulsado
avalia a sua perviedade.

92
Caso 8

O diagnóstico ultrassonográfico da hipertensão portal consiste no


aumento do calibre da veia porta (maior que 1,3 cm), redução do pico de
velocidade da veia porta (menor que 16 cm/s), inversão do fluxo portal
(hepatofugal), esplenomegalia, ascite e a presença de colaterais portossis-
têmicas (esofagogástricas, esplenorrenais, recanalização da veia paraum-
bilical). Entretanto, a presença de calibre normal da veia porta não exclui
o diagnóstico de hipertensão portal. Destes critérios, os mais fidedignos
são a inversão do fluxo vascular da veia porta e a recanalização da veia
paraumbilical.

Respostas
1–D 2–B 3–A

93
Caso 8

Bibliografia Recomendada
1. Canella R, Giambelluca D, Pellegrinelli A, Cabassa P. Color Doppler Ultra-
sound in Portal Hypertension. J Ultrasound Med. 2021 Jan;40(1):7–14.
2. Bloom S, Kemp W, Lubel J. Portal hypertension: pathophysiology, diag-
nosis and management. Intern Med J. 2015 Jan;45(1):16-26.
3. Bandali MF, Mirakhur A, Lee E et col. Portal hypertension: Imaging of
portosystemic collateral pathways and associated image-guided therapy.
World J Gastroenterol. 2017 Mar 14;23(10):1735-1746.

94
Caso 9
Autor: Alessandra Caivano Rodrigues Ribeiro

• Mestre em Ciências da Saúde pela Santa Casa de SP


• Médica colaboradora do Setor de Ultrassonografia da Santa Casa de SP
• Médica da Equipe de Ultrassonografia e Biópsia do Fleury Medicina e Saúde
• Médica da Equipe de Ultrassonografia da DASA

doi: 10.29327/5135889.1-9

95
Caso 9

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 59 anos, com queixa de dor
no hipocôndrio direito há uma semana. Antecedente de
carcinoma de mama tratado cirurgicamente.
• Refere tratamento imunoterápico.

IMAGENS

Figura 1. Análise da veia porta ao modo B

96
Caso 9

Figura 2. Análise da veia esplênica ao modo B

Figura 3. Doppler colorido da veia esplênica

97
Caso 9

Figura 4. Doppler colorido da veia porta

Figura 5. Doppler pulsado da artéria hepática

98
Caso 9

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 9, assinale a alternativa CORRETA:

A Trata-se de trombose da veia esplênica.

B Trata-se de trombose da veia porta.

C O fluxo da artéria hepática encontra-se normal.

D As alternativas A e B estão corretas.

99
Caso 9

2. Em relação ao caso 9, assinale a alternativa


INCORRETA:

A Ao se identificar o trombo na veia porta, não há a


necessidade de avaliar a sua extensão.

B A análise da artéria hepática demonstra que os picos


de velocidades estão aumentados.

C A presença de fluxo ao Doppler colorido na veia


esplênica demonstra obliteração parcial do seu lúmen.

D A presença de transformação cavernomatosa da veia


porta não está presente.

100
Caso 9

3. Na avaliação da trombose da veia porta, é correto


afirmar, EXCETO:

A A ausência de fluxo ao Doppler colorido e pulsado é


patognomônico deste diagnóstico.

B A cirrose é uma das causas mais comuns.

C O calibre da veia porta está sempre reduzido.

D A avaliação da artéria hepática é fundamental para


análise do mecanismo hemodinâmico compensatório
para manter o suprimento vascular hepático.

101
Caso 9

Discussão
Neste caso, foi realizada a análise da veia porta e da veia esplênica para
a pesquisa de trombose em um contexto clínico de dor localizada no hipo-
côndrio direito em uma paciente com história prévia de neoplasia maligna.
Durante a avaliação das veias, foram caracterizados trombos murais ecogê-
nicos obliterando completamente o fluxo da veia porta ao Doppler colorido
e parcialmente o fluxo da veia esplênica, conforme evidenciado nas figuras
4 e 3, respectivamente. A análise da artéria hepática apresentou picos de
velocidades acima da normalidade (velocidade de pico sistólico entre 30 e 60
cm/s e diastólico entre 10 e 15 cm/s são considerados normais) e foi de suma
importância para corroborar com o diagnóstico da trombose da veia porta,
já que na presença de trombose da veia porta mecanismos hemodinâmicos
compensatórios podem ocorrer. Um deles é caracterizado pela vasodilatação
da artéria hepática para suprir a irrigação do fígado, como neste caso. O outro
é o desenvolvimento de vasos venosos colaterais, não presentes neste caso.
A trombose da veia porta é caracterizada por obstrução total ou parcial
do lúmen do vaso. Está relacionada a várias etiologias, especialmente nos
pacientes com hepatopatias; entretanto, pode ser identificada na ausência
de doença hepática. Existem várias causas relacionadas à trombose da veia
porta; dentre elas, estão as neoplasias e metástases hepáticas e pancreá-
ticas, pancreatites, hepatites, cirrose, estados de hipercoagulabilidade,
doenças mieloproliferativas, derivações portocavais, quadros abdominais
infecciosos e/ou inflamatórios, sepse, pileflebite, trauma, esplenectomia,
Síndrome de Budd-Chiari e alterações neonatais, como onfalite, desidra-
tação aguda e caracterização da veia umbilical. Dentre essas, a causa mais
comum de trombose da veia porta é a cirrose.
Avaliação clínica, exames laboratoriais e de imagem são fundamentais
para o diagnóstico e manejo clínico dos pacientes, na tentativa de evitar

102
Caso 9

o desenvolvimento da hipertensão portal. A ultrassonografia é o método


de imagem de escolha para o diagnóstico da trombose da veia porta, bem
como para a avaliação de vasos colaterais (transformação cavernomatosa)
que podem se desenvolver como consequência desta entidade. Ao Doppler
colorido, caracteriza-se a ausência de fluxo no interior da luz da veia porta,
bem como a presença de material ecogênico que pode obliterar completa ou
parcialmente o seu lúmen.
A trombose da veia porta pode ser aguda ou crônica, dependendo do
tempo de apresentação do quadro clínico. À avaliação ultrassonográfica, o
calibre da veia porta está aumentado (maior que 1,3 cm) em ambas. A ecoge-
nicidade do trombo pode auxiliar neste diagnóstico. Na trombose aguda a
ecogenicidade do trombo é menor ou até mesmo ausente (anecogênico),
o que pode dificultar a análise. Na trombose crônica a ecogenicidade do
trombo está aumentada, facilitando a sua identificação. Vale ressaltar que
avaliar e relatar a extensão da trombose é uma informação imprescindível
para o manejo clínico do paciente.

Respostas
1–D 2–A 3–C

103
Caso 9

Bibliografia Recomendada
1. Ponziani RF, Zocco MA, Campanale C et col. Portal vein thrombosis: Insight
into physiopathology, diagnosis and treatment. World J Gastroenterol.
2010 Jan 14;16(2):143–155.
2. Bayraktar Y, Harmanci O. Etiology and consequences of thrombosis in
abdominal vessels. World J Gastroenterol. 2006;12:1165–1174.
3. Xie WF, Wang JY, Liu YL et col. Consensus for management of portal vein
thrombosis in liver cirrhosis. J Dig Dis. 2021 Ma 11;22(5):295.

104
Caso 10
Autor: Peter Célio Françolin

• Médico Assistente do InRad – HCFMUSP


• Membro da Comissão Nacional de Ultrassonografia – CBR
• Médico Assistente do Grupo DASA
• Membro da Junta Diretiva FLAUS

doi: 10.29327/5135889.1-10

105
Caso 10

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 27 anos, com aumento do
volume abdominal progressivo há três meses.

IMAGENS

Figura 1. Ultrassonografia do fígado, modo B

106
Caso 10

Figura 2. Doppler colorido da veia cava inferior

Figura 3. Doppler colorido demonstrando a veia hepática direita

107
Caso 10

Figura 4. CT demonstrando os achados no corte axial

Figura 5. CT demonstrando os achados no corte axial, em nível mais alto

108
Caso 10

Figura 6. CT demonstrando os achados no corte


axial, ao nível da veia cava inferior

Figura 7. Reconstrução tomográfica dos cortes axiais para estudo da VCI

109
Caso 10

Figura 8. Reconstrução tomográfica dos cortes axiais para estudo da VCI

110
Caso 10

QUESTÕES
1. Qual o seu diagnóstico?

A Leriche.

B Trombose de veia porta.

C Cirrose hepática com trombose tumoral.

D Budd Chiari.

111
Caso 10

2. Em relação aos estudos por imagem, podemos afirmar:

A A presença do fluxo na veia hepática direita permite


afastar a possibilidade de Budd Chiari.

B Os aspectos do mapeamento do fluxo e o padrão do


vaso, bem como a circulação colateral, permitem
inferir um quadro crônico desta doença.

C Sem a angiografia digital, o diagnóstico não pode ser


firmado.

D Esta moléstia não cursa com hipertensão portal.

112
Caso 10

3. Esta patologia está geralmente associada a alguns


fatores. Assinale a alternativa que não apresenta uma
destas associações:

A Membrana de veia cava inferior.

B Anticoncepcionais orais.

C Distúrbios de coagulação.

D Esquistossomose.

113
Caso 10

Discussão
A Síndrome de Budd Chiari é uma doença que cursa com a trombose
de veia cava inferior ou de veias hepáticas ou de todas estas simultanea-
mente. Geralmente está relacionada a distúrbios de coagulação ou presença
de membrana no interior da veia cava inferior.
Seu diagnóstico por imagem dependerá da fase (aguda, subaguda
ou crônica), e geralmente podemos identificar alterações morfológicas do
fígado como o aumento do lobo caudado e ascite. Idealmente, a identifi-
cação do vaso ocluído permitirá o diagnóstico direto, bem como a eventual
presença de circulação colateral intra-hepática pode ajudar no diagnóstico
diferencial.

Respostas
1–D 2–B 3–D

114
Caso 10

Bibliografia Recomendada
1. Guia Prático de Ultrassonografia Vascular, 4ª edição. Ed. Dilivros. Nostra-
damus, AC; Engelhorn, AL; Engelhorn, C; Filho, DM; Barros, F.
2. Cerri, G. Ultra-sonografia abdominal. Editora Revinter.
3. Romualdo, Andre Pacciello: Doppler sem segredos, 2ª edição. Guanabara
Koogan.

115
Caso 11
Autor: Paulo Savoia Dias da Silva

• Médico e Radiologista pela FMUSP


• Aluno de Doutorado FMUSP
• Médico Radiologista do Instituto de Radiologia do HCFMUSP e do Grupo Fleury

doi: 10.29327/5135889.1-11

116
Caso 11

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 52 anos, 1º dia pós-operatório
de transplante hepático, realiza ultrassonografia com
Doppler do fígado transplantado.

IMAGENS

Figura 1. Doppler colorido e pulsado espectral da artéria hepática esquerda

117
Caso 11

Figura 2. Doppler colorido e pulsado espectral da artéria hepática no hilo

Figura 3. Doppler colorido e pulsado espectral da


artéria hepática no local da anastomose

118
Caso 11

Figura 4. Doppler colorido e pulsado espectral da artéria


hepática também no local da anastomose

Figura 5. Arteriografia cateterizando Figura 6. Arteriografia cateterizando


o tronco celíaco (pré-tratamento) o tronco celíaco (pós-tratamento)

119
Caso 11

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 11, é verdadeiro afirmar:

A Não foi possível fazer o diagnóstico apenas pela


ultrassonografia com Doppler e a arteriografia se fez
necessária para confirmar o diagnóstico.

B O diagnóstico em questão é uma causa comum de


infarto hepático.

C Está indicado o controle ultrassonográfico com


Doppler diário.

D O diagnóstico é de uma estenose significativa da


artéria hepática pós-transplante.

120
Caso 11

2. Em relação às estenoses ou tromboses das artérias


hepáticas pós-transplante, é correto afirmar:

A São menos frequentes que as complicações venosas,


como trombose portal pós-transplante.

B O aumento isolado da velocidade de pico sistólico


acima de 200 cm/s na anastomose faz o diagnóstico,
mesmo que no 1º dia pós-operatório.

C Se os fluxos intra-hepáticos apresentarem padrão


espectral tardus parvus e índices de resistividade
abaixo de 0,5, podemos suspeitar que existe uma
estenose significativa da anastomose a montante.

D As artérias hepáticas são o principal suprimento


sanguíneo do fígado e, portanto, suas estenoses/
tromboses devem ser corrigidas imediatamente.

121
Caso 11

3. São achados suspeitos para estenose da artéria


hepática pós-transplante, exceto:

A Aumento da velocidade de pico sistólico na


anastomose acima de 200 cm/s.

B Fluxos arteriais intra-hepáticos com padrão


espectral tardus parvus, com índices de resistividade
abaixo de 0,5.

C Aumento de fluxo compensatório da veia porta, acima


de 50 cm/s.

D Não caracterizar fluxo arterial no hilo e intra-hepático,


mesmo após aumentar o ganho e diminuir a escala do
Doppler.

122
Caso 11

Discussão
Neste caso, no 1º dia pós-operatório de transplante hepático, foi
evidenciado que os fluxos arteriais intra-hepáticos exibiam índices de resis-
tividade (IR) menores que 0,5, estimados em 0,41 e padrão espectral tardus
parvus (aceleração lenta), além de baixas velocidades relativas – figura 1. No
hilo, o fluxo arterial possuía aspecto semelhante: IR de 0,48, tardus parvus
e baixas velocidades relativas – figura 2. Ao analisar a artéria hepática na
região da anastomose (figuras 3 e 4), vemos que havia velocidades acima de
200 cm/s (619,8 e 582,6 cm/s, respectivamente). O conjunto dos achados
é compatível com estenose significativa da anastomose arterial pós-trans-
plante. O paciente foi submetido à arteriografia que confirmou o diagnós-
tico (figura 5) e realizou a angioplastia (figura 6).
Após o transplante hepático, as complicações arteriais são mais comuns
que as venosas. A trombose arterial é mais comum que a estenose arte-
rial, chegando a atingir cerca de 20% dos pacientes em algumas casuísticas,
principalmente pediátricas. Lembramos aqui que a maioria do suprimento
sanguíneo do fígado é proveniente da veia porta e não da artéria hepática;
logo, infartos hepáticos são raros devido a complicações das artérias. Na reali-
dade, o paciente pode até demorar alguns dias a ter sintomas decorrentes de
complicações arteriais, daí a importância da ultrassonografia com Doppler
no pós-operatório recente, para fazer o diagnóstico precoce. Quem recebe a
maior parte do seu suprimento sanguíneo das artérias hepáticas são as vias
biliares – essas, sim, sofrem mais com a estenose e/ou trombose arterial.
O diagnóstico da estenose significativa é feito por aumento significativo
da velocidade na região da anastomose, acima de 200 cm/s, e fluxo tardus
parvus a jusante, ou seja, no hilo e regiões intra-hepáticas, com velocidades
reduzidas. O fluxo tardus parvus é definido como o fluxo de aceleração lenta,
inferior a 300 cm/s² e/ou tempo de aceleração superior a 70 ms, muitas

123
Caso 11

vezes acompanhado de redução do IR abaixo de 0,5, traduzindo vasodi-


latação distal à estenose. Um cuidado que devemos ter é com relação ao
tempo pós-transplante. Sabe-se que, nos primeiros dias pós-transplante,
podemos encontrar velocidades aumentadas na anastomose, mesmo supe-
riores a 200 cm/s, mas devidas apenas ao edema da anastomose recente,
e não à estenose significativa verdadeira. Por isso, nos primeiros dias
pós-transplante, devemos ter cuidado em sugerir estenoses significativas
em pacientes com tais critérios pouco alterados. Nosso caso, apesar de ser
o 1º dia pós-transplante, apresentava critérios muito alterados, bem longe
dos limites da normalidade, e por isso foi considerada a estenose.
Em alguns casos, a região da anastomose arterial não será acessível à
ultrassonografia, principalmente aquelas mais próximas ao tronco celíaco
e/ou pacientes obesos e/ou com interposição gasosa gastrointestinal
importante. Nesses casos devemos considerar suspeitas apenas as altera-
ções pós-estenóticas descritas para as artérias intra-hepáticas ou no hilo e,
na dúvida, encaminhar o(a) paciente para angiotomografia ou até mesmo
diretamente para arteriografia, que tem a possibilidade de já realizar a
angioplastia no mesmo procedimento.
As tromboses ou estenoses próximas a 100% da artéria hepática podem
cursar com ausência de fluxo detectável no hilo e intra-hepático. Devemos
aumentar o ganho e reduzir a escala (filtro de parede e frequência de repe-
tição de pulso – PRF) para nos certificar de que realmente não há fluxo.

Respostas
1–D 2–C 3–C

124
Caso 11

Bibliografia Recomendada
1. Ajay K. Singh , Arun C. Nachiappan, Hetal A. Verma, Raul N. Uppot,
Michael A. Blake, Sanjay Saini, Giles W. Boland. Postoperative Imaging in
Liver Transplantation: What Radiologists Should Know. RadioGraphics
2010; 30:339–351.
2. Di Martino M, Rossi M, Mennini G, Melandro F, Anzidei M, De Vizio S,
et al. Imaging follow-up after liver transplantation. Br J Radiol 2016; 89:
20151025.
3 Jane D Crossin 1, Derek Muradali, Stephanie R Wilson. US of liver trans-
plants: normal and abnormal. Radiographics 2003 Sep-Oct;23(5):1093-114.

125
Caso 12
Autor: José Eduardo Mourão Santos

• Médico Radiologista – DDI UNIFESP


• Membro titular do CBR

doi: 10.29327/5135889.1-12

126
Caso 12

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo masculino, 58 anos, em acompanhamento
de HAS + DM tipo II + arterite de Takayasu + IRC classe 3.

IMAGENS

Figura 1. Modo B da artéria renal direita com stent (plano axial)

127
Caso 12

Figura 2. Modo Doppler colorido da artéria renal direita


com stent (plano axial)

Figura 3. Modo Doppler de amplitude da aorta


abdominal no corte longitudinal (plano sagital)

128
Caso 12

Figura 4. Modo Doppler colorido e pulsado da artéria


renal direita com stent (plano axial)

Figura 5. Modo Doppler colorido e pulsado da aorta


abdominal no corte longitudinal (plano sagital)

129
Caso 12

Figura 6. Reformatação coronal de corte axial da tomografia


computadorizada do abdômen com contraste, evidenciando
a aorta abdominal e a artéria renal direita com stent

Figura 7. Reformatação axial oblíqua de corte axial da tomografia


computadorizada do abdômen com contraste, evidenciando
a aorta abdominal e a artéria renal direita com stent

130
Caso 12

Figura 8. Modo Doppler colorido e pulsado de artéria


segmentar no corte longitudinal (plano coronal)

131
Caso 12

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 12, é verdadeiro afirmar:

A O aumento do pico de velocidade sistólica (PVS) na


artéria renal direita acima de 200 cm/s é compatível
com estenose hemodinâmica intra-stent acima de 60%.

B Uma relação do PVS da artéria renal direita com


a aorta de 11,7 vezes é compatível com estenose
hemodinâmica intra-stent acima de 60%.

C Uma velocidade diastólica final (VDF) acima de 100


cm/s é compatível com estenose hemodinâmica
intra-stent acima de 80%.

D Devido à oclusão da aorta na emergência das artérias


renais, não é possível avaliar a re-estenose na região
do stent.

132
Caso 12

2. Ao estudo Doppler, os critérios de avaliação direta da


artéria renal são considerados os melhores parâmetros
no diagnóstico da estenose hemodinamicamente
significativa. É correto afirmar:

A Um PVS acima de 100-120 cm/s é compatível com


estenose hemodinâmica acima de 50%.

B Uma VDF acima de 100-120 cm/s é compatível com


estenose hemodinâmica acima de 80%.

C Uma relação entre o PVS da artéria renal e da aorta


acima de 2,5 vezes é compatível com estenose
hemodinâmica acima de 60%.

D Um PVS acima de 180-200 cm/s é compatível com


estenose hemodinâmica acima de 60%.

133
Caso 12

3. Qual dos critérios indiretos relacionados abaixo


na avaliação da artéria renal ao Doppler indica uma
estenose hemodinamicamente significativa?

A Tempo de aceleração acima de 0,07 segundos.

B Aceleração acima de 300 cm/s2.

C Relação do PVS da artéria renal/artéria segmentar


inferior a 3,5.

D Índice de resistência acima de 0,8.

134
Caso 12

Discussão
O caso apresentado mostra paciente com hipertensão arterial sistê-
mica renovascular por estenose da artéria renal direita, tratada com
correção endovascular da estenose com uso de stent (endoprótese). O
seguimento mostra oclusão da aorta abdominal no nível da emergência
das artérias renais devido à doença de base (Doença de Takayasu), com
oclusão da artéria renal esquerda (rim esquerdo atrófico) e da artéria
mesentérica superior e estenose hemodinamicamente significativa do
tronco celíaco – achados não mostrados nas imagens apresentadas. Os
exames de imagem mostram estenose intra-stent, sendo melhor caracte-
rizada ao estudo Doppler. O estudo Doppler colorido mostra turbilhona-
mento do fluxo na porção distal, onde foi colocada a amostra do Doppler
pulsado para pesquisa de estenose. Também foi realizado o Doppler
pulsado da aorta abdominal no segmento suprarrenal pérvio para deter-
minar a relação da velocidade renal/aorta. A VDF foi mensurada na
artéria renal direita. A correção do ângulo Doppler em relação ao fluxo
foi observada, sendo respeitada a angulação máxima de 60°. Foi realizado
estudo Doppler colorido e pulsado das artérias segmentares e mensurado
o tempo de aceleração (TA), aceleração, índice de resistência (IR), PVS e
VDF, respeitando um ângulo inferior a 30°.
Os valores de PVS para o diagnóstico EAR > 60% mais constantes nos
artigos e consensos publicados na literatura variam entre > 180-200 cm/s.
A relação do PVS aorta/artéria renal (RAR) mais aceito é ≥ 3,5. Embora
Strandness tenha proposto a divisão em estenose hemodinamicamente
significativa inferior a 60% - quando o PVS for maior que 180 cm/s e a RAR
se mantiver inferior a 3,5 e acima de 60% sob os dois parâmetros velocimé-
tricos alterados -, nos consensos atuais, diante de outro indicador anormal,
considera-se que haja estenose hemodinamicamente significativa > 60%.

135
Caso 12

Nem sempre é possível avaliar as artérias renais: em casos como


pacientes acamados, exames em caráter de urgência com jejum e preparo
inadequados, em que não é possível acessar as artérias renais pelos flancos,
evitando as alças intestinais. A avaliação das artérias intrarrenais se mostra
útil no diagnóstico das EAR hemodinamicamente significativas pela reper-
cussão no leito renal. O estudo das artérias intrarrenais se mostra útil
também na avaliação de estenoses de artérias renais acessórias, quando
não visualizadas no estudo US Doppler. Os parâmetros indiretos avaliados
são o TA, a Aceleração, a Relação Renal/Segmentar (RSR) e Renal/Inter-
lobar (RIR). O IR reduzido com diferença entre os dois rins acima de 0,05-
0,07 (traduzindo um tardus parvus) apresenta baixa sensibilidade apesar
da alta especificidade. Já o IR acima de 0,8 cm está correlacionado com
uma resposta pior ao tratamento vascular para correção da EAR.
Wiliam et al. realizaram metanálise para avaliação dos parâmetros
mais acurados do US Doppler das artérias renais para o diagnóstico da este-
nose das artérias renais (EAR). Essa metanálise foi publicada na AJR em
2007 e mostrou que o melhor parâmetro é o PVS nas artérias renais e, o
pior parâmetro, a aceleração.
Nas diretrizes publicadas pela ACC/AHA na Circulation em 2006 e
pela SBC de 2019, além dos parâmetros referidos aqui, também é utilizada
a VDF acima de 150 cm/s para o diagnóstico de EAR > 80%, conforme
proposto por Olin et al. em 1995. Porém, em seu artigo publicado na
Annals of internal medicine, Olin comenta que essa velocidade pode não
estar aumentada em alguns pacientes com EAR entre 80-99% devido à
maior resistência (IR) na circulação renal.
No caso de estenose intra-stent, os parâmetros não são os mesmos
utilizados nas artérias nativas sem tratamento endovascular. Existe uma
divergência na literatura; porém, segundo Del Conde, um valor acima de
296 cm/s infere uma estenose hemodinâmica intra-stent > 60%.

136
Caso 12

Respostas
1–B 2–D 3–A

Bibliografia Recomendada
1. Hirsch AT, Haskal ZJ, Hertzer NR, Bakal CW, Creager MA, Halperin JL,
Hiratzka LF, Murphy WR, Olin JW, Puschett JB, Rosenfield KA, Sacks D,
Stanley JC, Taylor LM Jr, White CJ, White J, White RA, Antman EM, Smith
SC Jr, Adams CD, Anderson JL, Faxon DP, Fuster V, Gibbons RJ, Hunt SA,
Jacobs AK, Nishimura R, Ornato JP, Page RL, Riegel B; American Associa-
tion for Vascular Surgery; Society for Vascular Surgery; Society for Cardio-
vascular Angiography and Interventions; Society for Vascular Medicine
and Biology; Society of Interventional Radiology; ACC/AHA Task Force
on Practice Guidelines Writing Committee to Develop Guidelines for the
Management of Patients With Peripheral Arterial Disease; American Asso-
ciation of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation; National Heart,
Lung, and Blood Institute; Society for Vascular Nursing; TransAtlantic
Inter-Society Consensus; Vascular Disease Foundation. ACC/AHA 2005
Practice Guidelines for the management of patients with peripheral arte-
rial disease (lower extremity, renal, mesenteric, and abdominal aortic): a
collaborative report from the American Association for Vascular Surgery/
Society for Vascular Surgery, Society for Cardiovascular Angiography
and Interventions, Society for Vascular Medicine and Biology, Society
of Interventional Radiology, and the ACC/AHA Task Force on Practice
Guidelines (Writing Committee to Develop Guidelines for the Mana-
gement of Patients With Peripheral Arterial Disease): endorsed by the
American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation;
National Heart, Lung, and Blood Institute; Society for Vascular Nursing;

137
Caso 12

TransAtlantic Inter-Society Consensus; and Vascular Disease Foundation.


Circulation. 2006 Mar 21;113(11):e463-654. doi: 10.1161/CIRCULATIO-
NAHA.106.174526. PMID: 16549646.
2. Santos SN, Alcantara ML, Freire CMV, Cantisano AL, Teodoro JAR, Porto
CLL, Amaral SI, et al. Posicionamento de Ultrassonografia Vascular do
Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardio-
logia – 2019. Arq Bras Cardiol: Imagem cardiovasc 2019;32(3):157-9.
3. Gerhard-Herman M, Gardin JM, Jaff M, Mohler E, Roman M, Naqvi TZ;
American Society of Echocardiography; Society for Vascular Medicine
and Biology. Guidelines for noninvasive vascular laboratory testing: a
report from the American Society of Echocardiography and the Society for
Vascular Medicine and Biology. Vasc Med. 2006 Nov;11(3):183-200. doi:
10.1177/1358863x06070516. PMID: 17288127.
4. Del Conde I, Galin ID, Trost B, Kang J, Lookstein R, Woodward M, Gusta-
vson S, Cambria RP, Jaff MR, Olin JW. Renal artery duplex ultrasound
criteria for the detection of significant in-stent restenosis. Catheter Cardio-
vasc Interv. 2014 Mar 1;83(4):612-8. doi: 10.1002/ccd.25270. Epub 2013
Nov 14. PMID: 24155154.
5. Williams GJ, Macaskill P, Chan SF, Karplus TE, Yung W, Hodson EM, et
al. Comparative accuracy of renal duplex sonographic parameters in the
diagnosis of renal artery stenosis: paired and unpaired analysis. AJR Am J
Roentegenol. 2007;188(3):798-811.

138
Caso 13
Autor: Carlos Augusto Ventura Pinto

• M
 édico Radiologista do Setor de Imagem - Área de Vascular do Hospital
Israelita Albert Einstein
• Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

doi: 10.29327/5135889.1-13

139
Caso 13

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 44 anos, 15° P.O. de TX renal,
evoluindo com hipertensão grave e piora da função renal e
sopro no enxerto.

IMAGENS

Vídeo 1. Doppler colorido, da artéria renal

140
Caso 13

Vídeo 2. Doppler colorido, da artéria renal

Vídeo 3. Doppler espectral, terço médio da artéria renal

141
Caso 13

Figura 4. Doppler espectral, da anastomose da artéria renal

Figura 5. Doppler espectral de artéria intrarrenal (artéria arqueada)

142
Caso 13

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 13, é verdadeiro afirmar:

A As análises ao Doppler espectral e ao Doppler colorido


são contraditórias, impossibilitam uma conclusão e
seria necessário um outro método de imagem.

B Trata-se de estenose hemodinamicamente


significativa no terço médio da artéria renal.

C O aumento de velocidade do pico sistólico no terço


médio da artéria renal não preenche critérios para
estenose hemodinamicamente significativa.

D A anastomose arterial também apresenta critérios de


velocidades compatíveis com estenose significativa,
porém menos importante quando comparada ao terço
médio desta artéria.

143
Caso 13

2. Ainda em relação ao caso 13 é correto afirmar:

A Ao Doppler é possível caracterizar um


transbordamento do sinal colorido para os tecidos
perivasculares, chamado de artefato de vibração.

B Ao Doppler colorido caracteriza-se o artefato


de refração, onde ocorre deslocamento ou
pseudoduplicação da imagem colorida.

C Ao Doppler colorido é possível observar o artefato de


Twinkling, caracterizado por um extravasamento da
cor ao redor de estenoses acentuadas.

D Para minimizar o artefato de vibração ao Doppler


colorido, devemos reduzir o ganho, reduzir a escala ou
usar o Doppler de amplitude.

144
Caso 13

3. Ainda em relação ao caso 13, sobre a estenose arterial


no rim TX, é verdadeiro afirmar:

A Uma das causas mais frequentes de estenose da artéria


renal é o tempo prolongado do transplante do órgão,
gerando maior isquemia.

B A estenose da artéria renal é das complicações


vasculares menos frequentes, ocorrendo em cerca de
0,3 % dos transplantes renais.

C A estenose ocorre normalmente no terço médio


da artéria renal devido à intensa manipulação e à
eventual tortuosidade da artéria.

D A maioria dos casos de estenose ocorre devido à falha


técnica.

145
Caso 13

Discussão
A estenose da artéria renal (EAR) é a complicação vascular mais
frequente, ocorrendo em aproximadamente 5% dos transplantes renais,
principalmente nos primeiros seis meses de pós-operatório, e é uma das
principais causas de perda do enxerto.
Entre os achados clínicos associados, estão a hipertensão arterial de
difícil controle, a piora da função renal e o sopro no enxerto. O diagnós-
tico e o tratamento imediatos da EAR podem prevenir danos ao enxerto e
sequelas sistêmicas.
A EAR tem inúmeras causas e geralmente ocorre no local da anasto-
mose cirúrgica. Entre as causas de estenose em outros locais da artéria,
estão a doença pré-existente na artéria doadora e o trauma durante a coleta
do rim ou durante o transplante. No caso exposto, percebemos que a este-
nose existente situava-se no terço médio da artéria, achado bem menos
frequente do que a estenose na anastomose.
A ultrassonografia com Doppler é a principal ferramenta de imagem
para a avaliação do rim transplantado, e particularmente na estenose arte-
rial, normalmente não necessitando de outros métodos imaginológicos
para a confirmação deste diagnóstico.
A análise do rim transplantado pela ultrassonografia começa com o
estudo ao modo B, para analisar a morfologia renal, o seu parênquima, possí-
veis coleções perirrenais, etc. Em seguida, realiza-se o estudo com Doppler
da artéria e veia renais, com especial atenção às anastomoses, à procura de
possíveis estenoses. Para finalizar, efetua-se o estudo ao Doppler dos vasos
intrarrenais para a coleta dos índices de resistência e de pulsatilidade arte-
riais (refletem dano renal), para a análise das suas acelerações (padrão Tardus
Parvus indica estenose significativa da artéria renal) e para a pesquisa de
eventuais fístulas arteriovenosas decorrente de biópsia prévia.

146
Caso 13

Neste caso, a análise do rim transplantado demonstrou no modo colo-


rido um importante aliasing no terço médio da artéria renal, associado ao
artefato de vibração tecidual (bleeding), caracterizado pelo transborda-
mento do sinal colorido para fora do vaso.
Na sequência, o volume de amostra foi posicionado no local do
aliasing, determinado previamente pelo modo colorido, para a análise
ao modo espectral, corrigindo o ângulo Doppler, inferior a 60°e sempre
paralelo ao fluxo sanguíneo.
As imagens do caso expostas aqui mostram apenas a velocidade de pico
sistólico que atingiu 500 cm/s (valores normais são de até 300 cm/s (Radio-
Graphics). Porém, neste caso, a relação de velocidades de pico sistólico entre
o local de estenose e pré-estenótico foi muito superior a 2 (normal até 2) e
a relação entre a artéria renal e a artéria ilíaca externa muito maior do que
2,0 (normal até 2,0). Além disso, pôde ser observado um acentuado alarga-
mento da curva espectral, achado também associado às estenoses arteriais
hemodinamicamente significativas.
Para tentar corrigir os artefatos produzidos pela acentuada estenose
arterial (de vibração e aliasing), é necessário reduzir o ganho no modo colo-
rido e aumentar a escala tanto no modo colorido como no espectral. Desta
forma, ocorre redução do extravasamento da cor para fora da artéria e a
curva espectral consegue ser amostrada totalmente dentro do envelope
(sem cortar o pico sistólico).
Por último, o estudo das artérias intrarrenais evidenciou redução
da velocidade de aceleração, com 225 cm/s2 (normal acima de 3 m/s2) e
aumento do tempo de aceleração, com 124 ms (normal abaixo de 70 ms),
achados normalmente associados à estenose significativa a montante (neste
caso da artéria renal).

147
Caso 13

Respostas
1–B 2–D 3–A

Bibliografia Recomendada
1. Mark D. Sugi, et al. Imaging of Renal Transplant Complications throughout
the Life of the Allograft: Comprehensive Multimodality Review. RadioGra-
phics 2019; 39:1327-1355. httpshttps://doi.org/10.1148/rg.2019190096.
2. Khai Gene Leong, et al. Renal transplant ultrasound: The nephrologist’s
perspective. Australas J Ultrasound Med. 2015 Nov; 18(4): 134–142. doi:
10.1002/j.2205-0140.2015.tb00220.x.
3. Robinson KA, Kriegshauser JS, Dahiya N, Young SW, Czaplicki CD,
Patel MD. Detection of transplant renal artery stenosis: determining
normal velocities at the renal artery anastomosis. Abdom Radiol (NY)
2017;42(1):254–259.76.

148
Caso 14
Autor: Paulo Savoia Dias da Silva

• Médico e Radiologista pela FMUSP


• Aluno de Doutorado FMUSP
• Médico Radiologista do Instituto de Radiologia do HCFMUSP e do Grupo Fleury

doi: 10.29327/5135889.1-14

149
Caso 14

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo masculino, 48 anos, com queixa de
claudicação nos membros inferiores.

IMAGENS

Vídeo 1. Aorta abdominal longitudinal ao modo-B

150
Caso 14

Vídeo 2. Aorta abdominal longitudinal ao Doppler colorido

Vídeo 3. Angiotomografia arterial de abdome, reformatação coronal

151
Caso 14

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 14, podemos afirmar:

A O diagnóstico é incompatível com a vida.

B O intestino delgado deve estar sofrendo isquemia.

C Classicamente, essa doença se apresenta pela tríade:


disfunção erétil, claudicação na pelve e coxas, e
ausência de pulsos femorais.

D Devemos encaminhar o paciente para a hemodinâmica


imediatamente.

152
Caso 14

2. São causas conhecidas para essa entidade, exceto:

A Aterosclerose.

B Vasculites.

C Tromboses.

D Tumores.

153
Caso 14

3. Sobre a Síndrome de Leriche, estão corretas as


alternativas abaixo, exceto:

A O grupo epidemiológico mais acometido são homens


entre 30 e 40 anos.

B Tratamentos possíveis são endarterectomia


aortoilíaca, by-pass aorto-bifemoral e by-pass
axilo-bifemoral.

C A oclusão aórtica geralmente se dá abaixo da


emergência das artérias renais.

D É comum a doença acometer a aorta torácica.

154
Caso 14

Discussão
Neste caso, observa-se que há uma oclusão da aorta abdominal. No
vídeo 1, ao modo-B, nota-se um conteúdo heterogêneo no interior do vaso
e, ao ligar o Doppler colorido (vídeo 2), observa-se que não há fluxo na
aorta no local desse conteúdo heterogêneo. Ainda no vídeo 2, é possível ver
também que o tronco celíaco e artéria mesentérica superior estão pérvias,
com fluxo ao Doppler colorido. Na TC reformatação coronal (vídeo 3) perce-
bemos que a oclusão ocorre abaixo da emergência das artérias renais, que
estão pérvias, apesar de haver estenoses nas mesmas e infartos renais,
maior à direita. O conjunto dos achados de imagem, associado aos dados
clínicos fornecidos, é compatível com o diagnóstico da Síndrome de Leriche.
Originalmente, a tríade de disfunção erétil, claudicação da pelve e coxa,
com ausência dos pulsos femorais, foi descrita como Síndrome de Leriche,
geralmente afetando homens mais jovens (30-40 anos). No entanto, atual-
mente, todas as oclusões aortoilíacas com pulsos femorais ausentes são
comumente chamadas utilizando esse epônimo, sendo a disfunção sexual
concomitante frequente, mas não necessariamente presente. Classica-
mente, a síndrome poupa as artérias renais.
As causas podem ser: aterosclerose, vasculites e tromboses. A doença
oclusiva aortoilíaca é mais comum em idosos com doença aterosclerótica
avançada. O início agudo é mais comum em mulheres e está associado a
cerca de 50% de mortalidade. Geralmente a oclusão se dá de forma crônica
com o desenvolvimento de colaterais.
O diagnóstico da oclusão aórtica pode ser feito tanto pela ultrasso-
nografia com Doppler, como por angiotomografia ou angioressonância;
entretanto, a angiotomografia possui maior acurácia para avaliação do
acometimento ou não dos ramos aórticos. Os tratamentos podem ser: endar-
terectomia aortoilíaca, by-pass aorto-bifemoral ou by-pass axilo-bifemoral.

155
Caso 14

Respostas
1–C 2–D 3–D

Bibliografia Recomendada
1. Takigawa M, Akutsu K, Kasai S et al. Angiographic Documentation of
Aortoiliac Occlusion in Leriche’s Syndrome. Can J Cardiol. 2008;24(7):568.
2. Wei-Jing Lee, Yung-Ze Cheng, Hung-Jung Lin. Leriche Syndrome. Int J
Emerg Med (2008) 1:223.
3. Sebastià C, Quiroga S, Boyé R, Perez-Lafuente M, Castellà E, Alvarez-Cas-
tells A. Aortic Stenosis: Spectrum of Diseases Depicted at Multisection CT.
Radiographics. 2003 Oct;23 Spec No:S79-91.

156
Caso 15
Autor: Alexandre Fligelman Kanas

• R
 adiologista Intervencionista do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da USP
• A
 tua no Hospital Israelita Albert Einstein e no Hospital Alemão Oswaldo Cruz
– Grupo Fleury
• M
 embro do Colégio Brasileiro de Radiologia e da Sociedade Brasileira de
Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular

doi: 10.29327/5135889.1-15

157
Caso 15

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 32 anos, 20° P. O. de retirada de
corpo estranho intra-aórtico (Amplatzer cardíaco migrado),
evoluindo com dor abdominal.

IMAGENS

Figura 1. Ultrassonografia convencional (modo-B) da


porção distal da aorta (eixo longitudinal)

158
Caso 15

Figura 2. Ultrassonografia convencional (modo-B)


da porção distal da aorta (eixo axial)

Figura 3. Doppler colorido da porção distal da aorta (eixo axial)

159
Caso 15

Figura 4. Ultrassonografia convencional (modo-B)


da porção distal da aorta (eixo axial)

Figura 5. Doppler de amplitude da porção distal da aorta (eixo axial)

160
Caso 15

Figura 6. Doppler de amplitude da porção distal da aorta (eixo longitudinal)

Figura 7. Tela dividida: modo-B / Doppler colorido da


porção distal da aorta (eixo longitudinal)

161
Caso 15

Figura 8. Doppler pulsado da porção distal da aorta (eixo longitudinal)

Figura 9. Doppler pulsado da porção distal da aorta (eixo longitudinal)

162
Caso 15

Figura 10. Doppler de amplitude da porção distal da


aorta / artéria ilíaca comum esquerda

Vídeo 1. Doppler colorido da porção distal da aorta


/ artérias ilíacas comuns (eixo axial)

163
Caso 15

Vídeo 2. Tela dividida: modo-B / Doppler colorido da


porção distal da aorta (eixo longitudinal)

Vídeo 3. Doppler da porção distal da aorta / artéria


ilíaca comum esquerda (eixo longitudinal)

164
Caso 15

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 15, é verdadeiro afirmar:

A O fluxo invertido na luz falsa é chamado de endoleak.

B A presença de um flap intimal sugere o diagnóstico de


dissecção.

C Não há acometimento das artérias ilíacas.

D A presença de trombose descarta o diagnóstico de


dissecção.

165
Caso 15

2. Em relação às luzes verdadeira e falsa na dissecção da


aorta abdominal, é falso afirmar:

A A luz falsa costuma ser maior que a verdadeira.

B Eventuais placas ateromatosas calcificadas na parede


ajudam a identificar a luz verdadeira.

C A trombose da luz verdadeira é mais comum que da


luz falsa.

D O tronco celíaco, artéria mesentérica superior e


artéria renal direita normalmente são oriundos da luz
verdadeira.

166
Caso 15

3. Em relação à dissecção da aorta abdominal,


é falso afirmar:

A Pode levar a um aumento de calibre da aorta.

B Síndrome de Marfan pode aumentar o risco de


dissecção.

C A ultrassonografia é o padrão-ouro na avaliação.

D Isquemia de órgãos abdominais e dos membros


inferiores são possíveis complicações.

167
Caso 15

Discussão
Neste caso, após uma cirurgia para retirada de corpo estranho intra-
-aórtico (um Amplatzer para correção de forame oval patente), foi reali-
zada uma ultrassonografia de aorta para avaliação de dor abdominal persis-
tente. Na ultrassonografia convencional (modo-B) foi caracterizado um flap
intimal. Esse flap se origina cerca de 1 cm abaixo da emergência da artéria
mesentérica inferior e se prolonga para as artérias ilíacas comuns. Deter-
mina aumento focal do calibre da aorta distal (sem configurar ectasia). A
luz verdadeira está pérvia em toda sua extensão e, a luz falsa, pérvia nos
seus segmentos médio e distal (onde apresenta sentido invertido) e trom-
bosada no seu segmento proximal.
Embora uma ultrassonografia detalhada possa trazer muitas infor-
mações e corroborar no plano terapêutico, na imensa maioria das vezes
uma angiotomografia é necessária na sequência. A angiotomografia é o
padrão-ouro, pois traz mais detalhes do início, do fim e das características
da dissecção. Além disso, ela deve sempre ser realizada, pois permite a
avaliação da aorta torácica, que tem acesso limitado pela ultrassonografia e
não é raro estar concomitantemente acometida, informação que auxilia na
programação da abordagem cirúrgica.
No caso em questão, a dissecção foi iatrogênica. No entanto, na maior
parte das vezes, ela ocorre em pacientes idosos com aterosclerose e hiper-
tensão ou em pacientes com anormalidades aórticas estruturais (como
coartações de aorta ou síndromes de tecido conjuntivo anormal). A queixa
álgica é o sintoma mais comum, podendo ou não estar associada a isquemia
de órgãos, dependendo da extensão da dissecção e da oclusão de ramos
aórticos.
Após a visualização do flap intimal, é importante a avaliação das luzes
verdadeira e falsa. A luz verdadeira é a original do vaso, delineada pela

168
Caso 15

camada íntima de todos os lados, e costuma ser a menor (o que não ocorreu
no nosso caso) e menos pulsátil, sendo geralmente comprimida pela luz falsa,
que tem pressão maior (e é definida como o canal preenchido por sangue
que adentra a camada média do vaso). Em pacientes idosos, com ateroma-
tose, as calcificações parietais podem ajudar a identificar a luz verdadeira. Já
uma trombose parcial favorece a identificação da luz falsa. Além das carac-
terísticas da dissecção, é importante avaliar o calibre máximo do vaso (que
é comum aumentar por conta da luz falsa) e o envolvimento dos principais
ramos aórticos, tanto no sentido de prolongamento da dissecção para eles,
quanto pela possibilidade de oclusão (mais comum se forem oriundos da
luz falsa), levando a isquemia dos órgãos. Vale lembrar que o tronco celíaco,
a artéria mesentérica superior e a artéria renal direita normalmente são
oriundos da luz verdadeira, o que faz com que, por exemplo, o rim esquerdo
seja mais comumente acometido que o direito.

Respostas
1–B 2–C 3–C

169
Caso 15

Bibliografia Recomendada
1. Murillo H, Molvin L, Chin AS, Fleischmann D. Aortic Dissection and Other
Acute Aortic Syndromes: Diagnostic Imaging Findings from Acute to
Chronic Longitudinal Progression. (2021) Radiographics: a review publica-
tion of the Radiological Society of North America, Inc. 41 (2): 425-446.
2. Blount KJ, Hagspiel KD. Aortic diameter, true lumen, and false lumen
growth rates in chronic type B aortic dissection. AJR Am J Roentgenol.
2009;192 (5): W222-9.
3. Macura KJ, Corl FM, Fishman EK et-al. Pathogenesis in acute aortic
syndromes: aortic dissection, intramural hematoma, and penetrating athe-
rosclerotic aortic ulcer. AJR Am J Roentgenol. 2003;181 (2): 309-16.

170
Caso 16
Autor: Alexandre Fligelman Kanas

• R
 adiologista Intervencionista do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da USP
• A
 tua no Hospital Israelita Albert Einstein e no Hospital Alemão Oswaldo Cruz
– Grupo Fleury
• M
 embro do Colégio Brasileiro de Radiologia e da Sociedade Brasileira de
Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular

doi: 10.29327/5135889.1-16

171
Caso 16

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo masculino, 72 anos, com dor no membro
inferior direito ao caminhar mais de 15 minutos.

IMAGENS

Figura 1. Doppler pulsado da artéria femoral comum direita

172
Caso 16

Figura 2. Doppler pulsado da artéria femoral profunda direita

Figura 3. Doppler pulsado da artéria femoral profunda direita

173
Caso 16

Figura 4. Doppler colorido da artéria femoral superficial direita (terço médio)

Figura 5. Doppler colorido da artéria femoral superficial direita (terço médio)

174
Caso 16

Figura 6. Doppler pulsado de dois pontos na artéria


femoral superficial direita (terço médio)

Figura 7. Doppler pulsado da artéria tibial posterior direita (terço distal)

175
Caso 16

Figura 8. Doppler pulsado da artéria tibial anterior direita (terço distal)

Figura 9. Doppler colorido da artéria fibular direita (terço proximal)

176
Caso 16

Figura 10. Doppler pulsado da artéria fibular direita (terço distal)

Vídeo 1. Doppler colorido da artéria femoral superficial direita

177
Caso 16

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 16, é correto afirmar:

A O fluxo trifásico observado na artéria femoral comum


direita exclui estenoses na artéria ilíaca externa
ipsilateral.

B Como é observada uma redução de calibre na artéria


femoral superficial direita no modo-B, o uso do
Doppler não era necessário.

C Um aumento de mais de 50% da velocidade de pico


sistólico na artéria femoral profunda direita já indica
uma estenose maior de 50%.

D O Doppler colorido ajuda na localização das estenoses,


que podem ser melhor quantificadas com o Doppler
espectral.

178
Caso 16

2. Em relação ao Doppler arterial de membros inferiores,


é correto afirmar:

A Fluxos bifásicos são patológicos na maior parte dos casos.

B Fluxos trifásicos no terço distal das artérias


infrageniculares exclui alterações significativas no
leito vascular cranial.

C Existem outras causas para fluxos monofásicos além


de estenoses / oclusões proximais.

D Embora dificultem a avaliação no modo-B, placas


calcificadas não limitam o estudo com Doppler.

179
Caso 16

3. Na avaliação arterial de membros inferiores é correto


afirmar:

A Em uma suboclusão, a velocidade pode não estar


aumentada ou pode até mesmo estar reduzida.

B Uma estenose proximal maior de 50% altera a


hemodinâmica do membro e impede qualquer avaliação
de estenoses distais com o Doppler espectral.

C Quanto mais próximo da estenose, maior é a


probabilidade de encontrarmos um fluxo tardus parvus.

D A saída de artérias colaterais antes de uma


estenose indica que certamente o fluxo distal estará
monofásico.

180
Caso 16

Discussão
Neste caso, foi realizada a análise das artérias do membro inferior
direito em paciente com queixa de claudicação intermitente. Nesses casos,
a análise com Doppler espectral é fundamental, pois permite a avaliação
do padrão de fluxo dos vasos. De modo geral, por ter um leito de alta resis-
tência; o padrão espectral habitualmente esperado é de fluxo trifásico em
todos os vasos do membro. No entanto, a ausência do fluxo anterógrado
final (configurando padrão bifásico) usualmente não tem significado pato-
lógico, na exceção de uma mudança abrupta de padrão trifásico para bifá-
sico. No caso em questão, foi observado um padrão de fluxo monofásico no
terço distal das três artérias infrageniculares. Embora esse padrão possa ser
observado em outros contextos (como processos inflamatórios, tumores e
fístulas), caso esse achado seja observado, é necessária atenção redobrada
no rastreamento de estenoses cranialmente.
Nesse paciente, os achados distais podem ser explicados pela estenose
na artéria femoral superficial no terço médio da coxa, a partir de onde já
era observado o fluxo monofásico. Neste ponto, foi evidenciado aliasing
no mapeamento com Doppler colorido, além de estreitamento luminar no
próprio modo-B. Assim, prosseguiu-se com a realização de estudo espectral
no local e imediatamente proximal à lesão, em que se evidenciou borra-
mento da janela sistólica e um aumento de mais de três (ou quatro) vezes
da velocidade de pico sistólico, configurando uma estenose maior de 70%
(ou 75%). Destaca-se aqui a emergência de colaterais imediatamente antes
da estenose, que desaguam no leito vascular distal, sendo responsáveis por
auxílio no fluxo.
Nota-se ainda estenose maior de 50% (ou de “cerca de 50%”) na emer-
gência da artéria femoral profunda, por um aumento de duas vezes na velo-
cidade de pico sistólico e borramento da janela sistólica.

181
Caso 16

Finalmente, é interessante notar que, além do já mencionado fluxo


monofásico observado nas artérias infrageniculares, a artéria fibular apre-
senta, no seu terço distal, uma redução da velocidade sistólica e uma acele-
ração reduzida (padrão tardus parvus). Além disso, não são caracterizados,
no terço proximal da perna, achados que, em conjunto, sugerem uma
oclusão / estenose crítica no local.

Respostas
1–D 2–C 3–A

182
Caso 16

Bibliografia Recomendada
1. Del Conde, I., & Benenati, J. F. (2014). Noninvasive Testing in Peripheral
Arterial Disease. Interventional Cardiology Clinics, 3(4), 469–478.
2. Lewis JE, Williams P, Davies JH. Non-invasive assessment of peripheral
arterial disease: Automated ankle brachial index measurement and pulse
volume analysis compared to duplex scan. SAGE Open Med. 2016 Jul
12;4:2050312116659088. doi: 10.1177/2050312116659088. PMID:
27493755; PMCID: PMC4959301.
3. Hwang JY. Doppler ultrasonography of the lower extremity arteries: anatomy
and scanning guidelines. Ultrasonography. 2017 Apr;36(2):111-119.

183
Caso 17
Autor: André Paciello Romualdo

• Radiologista Sênior de Ultrassonografia e Imagem Cardiovascular do Grupo Fleury


• Coordenador de Ultrassonografia da SPR

doi: 10.29327/5135889.1-17

184
Caso 17

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo masculino, 60 anos, queixa de lesão
palpável levemente arroxeada e indolor na face ventral da
falange proximal do 2° dedo da mão direita que apresentou
leve crescimento nos últimos meses.

IMAGENS

Figura 1. Imagem modo B da lesão palpável

185
Caso 17

Figura 2. Doppler colorido da lesão palpável com compressão do transdutor

Figura 3. Doppler colorido da lesão palpável com compressão do transdutor

186
Caso 17

Figura 4. Doppler pulsado no interior da lesão


palpável com compressão do transdutor

Figura 5. Doppler pulsado junto à lesão palpável

187
Caso 17

Vídeo 1. Imagem modo B da lesão palpável com compressão do transdutor

Vídeo 2. Doppler colorido da lesão palpável com compressão do transdutor

188
Caso 17

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 17:

A Trata-se de lesão de natureza lipomatosa, não se


podendo afastar transformação maligna por conta da
vascularização.

B Trata-se de pseudoaneurisma por rotura arterial.

C Trata-se de lesão mista de provável natureza vascular,


com componente de baixo fluxo.

D Trata-se de lesão sólida de provável natureza vascular,


com componentes de alto e baixo fluxo.

189
Caso 17

2. Em relação ao caso 17, é falso afirmar:

A O estudo Doppler não fez diferença no diagnóstico,


apenas o modo B já seria suficiente.

B Além do estudo Doppler, foi fundamental realizar


manobras de compressão com o transdutor.

C Para um adequado diagnóstico, ajustes de preset como


PRF e ganho do modo colorido contribuíram com o
diagnóstico.

D Em lesões focais, sempre é interessante acrescentar


estudo Doppler colorido, para caracterizar a natureza
da lesão.

190
Caso 17

3. Nas lesões focais de natureza vascular, o Doppler:

A Tem papel menos relevante porque não consegue


captar velocidades baixas.

B Só tem utilidade se usado o modo amplitude.

C Só ajuda em lesões superficiais e com no mínimo 5 cm


de extensão.

D Contribui não apenas com a caracterização da


natureza da lesão, como no planejamento cirúrgico ao
identificar vasos de irrigação e drenagem.

191
Caso 17

Discussão
Neste caso, foi realizado estudo de lesão focal superficial com trans-
dutor linear de alta frequência, utilizando-se Doppler colorido e pulsado.
Para adequada caracterização do fluxo, perceba que o PRF e o ganho do modo
colorido tiveram que ser ajustados para baixas velocidades, e foram neces-
sárias manobras de compressão do transdutor para que o fluxo pudesse ser
captado.
Ao modo B, a imagem tinha características de lesão mista com compo-
nente predominante cístico, que o estudo Doppler demonstrou se tratar de
lagos venosos de uma malformação venosa e, portanto, de baixo fluxo. Tal
malformação estava contida na tela subcutânea, sem sinais de invasão das
estruturas subjacentes, e foi possível observar, ainda, a drenagem por veias
digitais até a veia cefálica, não tendo sido observado componente arterial
alimentando a lesão.
Malformações venosas são a maioria das malformações vasculares,
apresentando largo espectro que varia de ectasias cutâneas até lesões volu-
mosas, sendo em geral esporádicas. Está presente ao nascimento, torna-se
mais proeminente da infância para a puberdade e não mostra alteração
significativa na vida adulta.
Clinicamente, apresenta-se como lesão palpável azulada ou arro-
xeada, mole, compressível, em geral sem pulsação, calor ou sopro audível,
quando superficial. Pode acometer qualquer tecido, mas mais comumente
envolve o tecido subcutâneo da cabeça, pescoço ou extremidades, podendo
se estender para a musculatura, mucosa oral e deformar ossos adjacentes
em casos mais crônicos e exuberantes. O tipo focal, como o desse caso, clas-
sicamente se apresenta como lesão em que predominam múltiplas imagens
císticas que correspondem aos lagos venosos compressíveis, por vezes
associando-se focos de calcificação compatíveis com flebólitos. Ao estudo

192
Caso 17

Doppler, o fluxo por vezes só é caracterizado com manobras de compressão


do transdutor ou Valsalva, apresentando-se monofásico e de baixas veloci-
dades, sendo muitas vezes possível identificar a veia de drenagem, impor-
tante para o correto planejamento cirúrgico. Eventualmente, pode ser carac-
terizada pequena irrigação arterial com altos índices de resistividade, que
não deve ser confundida com componente arterial de uma malformação
arteriovenosa.
No seu relatório, é importante constar as características morfológicas
da lesão, a localização, suas dimensões e eventuais sinais de invasão de
estruturas adjacentes. Ao Doppler colorido e pulsado, relate se a lesão é
ou não vascularizada, as características morfológicas de onda e padrão de
velocidades, bem como os territórios de irrigação e drenagem, caso identi-
ficados. Na opinião, é importante levantar a possibilidade de se tratar de
malformação vascular de baixo ou alto fluxo, mesmo que não seja possível
avançar até um diagnóstico etiológico preciso.

Respostas
1–C 2–A 3–D

193
Caso 17

Bibliografia Recomendada
1. Petit P. Imaging in diagnosis and treatment of vascular lesions of the hand.
Chir Main. 2008; 27(Suppl 1):S201-210.
2. Ernemanna U, Kramerb U, Millerb S, Bisdasa S, Rebmannc H, Breuningerd
H, Zwicke C, Hoffmannf J. Current concepts in the classification, diagnosis
and treatment of vascular anomalies. European Journal of Radiology 2010;
75(1):2-11.
3. Dubois J, Alison M. Vascular anomalies: what a radiologist needs to know.
Pediatr Radiol 2010; 40:895-905.
4. Wassef M, Blei F, Adams D, et al. Vascular Anomalies Classification: Recom-
mendations From the International Society for the Study of Vascular
Anomalies. Pediatrics. 2015 Jul;136(1): e203-14.

194
Caso 18
Autor: Paulo Savoia Dias da Silva

• Médico e Radiologista pela FMUSP


• Aluno de Doutorado FMUSP
• Médico Radiologista do Instituto de Radiologia do HCFMUSP e do Grupo Fleury

doi: 10.29327/5135889.1-18

195
Caso 18

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 62 anos, desconforto e edema
no membro inferior esquerdo há um dia.

IMAGENS

Figura 1. Modo-B da região da confluência das


veias femoral e femoral profunda

196
Caso 18

Figura 2. Doppler colorido da mesma região da figura 1

Figura 3. Duas imagens axiais dos vasos tibiais posteriores, à


esquerda sem compressão e, à direita, com compressão

197
Caso 18

Figura 4. Doppler colorido e pulsado espectral


de uma das veias tibiais posteriores

Figura 5. Doppler colorido e pulsado espectral da transição


entre as veias femoral comum e ilíaca externa à esquerda

198
Caso 18

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 18, é verdadeiro afirmar:

A É uma oclusão arterial.

B É uma trombose venosa profunda do membro inferior


esquerdo, possivelmente aguda.

C É uma trombose venosa profunda do membro inferior


esquerdo, com sinais de cronificação/recanalização.

D Uma tomografia computadorizada com contraste


fase venosa poderá trazer informações adicionais ao
diagnóstico.

199
Caso 18

2. Em relação ao estudo Doppler venoso de membros


inferiores, para pesquisa de trombose, é correto afirmar:

A Há perda de fasicidade do fluxo da veia cranial ao


trombo.

B Deve-se colocar o(a) paciente em pé para pesquisa de


sinais de incompetência valvar.

C O critério mais fidedigno não depende do Doppler: é a


ausência de compressibilidade com conteúdo venoso
ecogênico ao modo-B.

D Deve-se medir a velocidade de fluxo antes, durante e


após o trombo para detectar aumentos de 2 a 3 vezes
na velocidade e assim confirmar o diagnóstico.

200
Caso 18

3. São alterações que podem ser encontradas nas


tromboses venosas profundas de membros inferiores,
exceto:

A Conteúdo ecogênico com ausência de compressibilidade


ao modo-B.

B Ausência de fluxo ao Doppler colorido no local do


trombo.

C Perda de fasicidade do fluxo venoso inferior (caudal)


ao trombo.

D Ao não encontrar fluxo em uma veia, deve-se


aumentar a escala e reduzir o ganho para confirmar o
diagnóstico.

201
Caso 18

Discussão
Neste caso podemos ver que existe um conteúdo ecogênico na conflu-
ência das veias femorais ao modo-B (figura 1). Ao ligar o Doppler colorido,
percebemos que há fluxo na artéria femoral, porém não na região da veia em
que há o conteúdo ecogênico (figura 2). Além disso, mais inferiormente, na
região dos vasos tibiais posteriores, percebemos que uma das veias também
possui um conteúdo ecogênico, que não comprime (figura 3). Ademais,
nota-se que o fluxo na outra veia tibial posterior que comprime apresenta o
padrão espectral sem fasicidade com a respiração – “portalizado”, em refe-
rência ao que seria o padrão espectral habitualmente encontrado na veia
porta (figura 4). Já o fluxo na transição entre as veias femoral comum e
ilíaca externa à esquerda, ou seja, cranial ao conteúdo ecogênico femoral,
possui fasicidade com a respiração, isto é, varia sua velocidade conforme a
paciente respira (figura 5).
O diagnóstico é de trombose venosa profunda (TVP) nas veias femorais
e em uma das veias tibiais posteriores. O diagnóstico de TVP pode ser feito
quando encontramos: conteúdo ecogênico na veia, ausência de compressi-
bilidade de tal conteúdo venoso e ausência de fluxo ao Doppler no local do
conteúdo ecogênico. Além disso, em alguns casos é possível encontrar fluxo
venoso não fásico com a respiração inferiormente à trombose, e superior-
mente à trombose, o fluxo volta a ter o padrão espectral normal, fásico com
a respiração. Nesse caso, havia o fluxo não fásico em uma das veias tibiais
posteriores, devido à trombose da veia femoral a jusante.
Ressalta-se que o principal critério diagnóstico para TVP se dá ao
modo-B, e não ao Doppler, que é a ausência de compressibilidade da veia.
Devemos exercer uma força de compressão até percebermos que a artéria
está começando a comprimir, pois se a artéria comprime, a veia obriga-
toriamente deve comprimir quando não há nenhum trombo. Diferenciar

202
Caso 18

TVP aguda de crônica nem sempre é possível, mas geralmente as trom-


boses mais agudas estão associadas a aumento de calibre do vaso e oclusão
praticamente total do mesmo; já as TVPs mais crônicas apresentam vasos
de calibre normal ou afilados, e ao Doppler podemos encontrar áreas de
recanalização/fluxo parcial no vaso.
Ao não encontrarmos fluxo em um vaso, devemos aumentar o ganho
do Doppler e reduzir a escala do mesmo (frequência de repetição de pulso
– PRF e filtro de parede) para termos certeza de que realmente não há
fluxo. Além disso, o fluxo muitas vezes só poderá ser demonstrado com a
compressão distal do membro inferior.
Os principais sintomas da TVP de membros inferiores são: edema
(mais específico), dor (ocorre em 50% dos pacientes, mas é inespecífico),
alterações de sensibilidade (ocorrem em 75% dos pacientes), aumento da
temperatura ou eritema cutâneo sobre a área de trombose e/ou sintomas
clínicos de tromboembolismo pulmonar como primeira manifestação
clínica. Entretanto, em quase 50% dos pacientes com sintomas clássicos não
são encontrados trombos à ultrassonografia com Doppler; e cerca de 50%
dos pacientes com TVP documentada por imagem não têm sintomas espe-
cíficos. Logo, percebe-se que o diagnóstico é muito difícil de ser feito clini-
camente e, portanto, na grande maioria dos casos, a ultrassonografia com
Doppler será necessária. Os membros inferiores são o local mais comum de
TVP e sua complicação mais temida é o tromboembolismo pulmonar.

Respostas
1–B 2–C 3–D

203
Caso 18

Bibliografia Recomendada
1. Needleman L, Cronan JJ, Lilly MP, Merli GJ, Adhikari S, Hertzberg BS,
DeJong MR, Streiff MB, Meissner MH. Ultrasound for Lower Extremity
Deep Venous Thrombosis: Multidisciplinary Recommendations From the
Society of Radiologists in Ultrasound Consensus Conference. Circulation.
2018;137(14):1505-1515.
2. Sapp B, Craddock G, Sapp J. Patterns and Distribution of Deep Vein
Thrombus in the Lower Extremity. Journal for Vascular Ultrasound.
2015;39(2):71-77.
3. Barrosse-Antle ME, Patel KH, Kramer JA, Baston CM. Point-of-Care
Ultrasound for Bedside Diagnosis of Lower Extremity DVT. Chest. 2021
Nov;160(5):1853-1863.

204
Caso 19
Autor: José Eduardo Mourão Santos

• Médico Radiologista – DDI UNIFESP


• Membro titular do CBR

doi: 10.29327/5135889.1-19

205
Caso 19

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo masculino, 42 anos, em investigação de
insuficiência venosa crônica.

IMAGENS

Figura 1. Modo B da veia safena magna direita no terço


inferior da coxa e superior da perna (corte transversal)

206
Caso 19

Figura 2. Modo Doppler colorido e pulsado da junção


safenofemoral direita (corte longitudinal)

Figura 3. Modo Doppler colorido de veia perfurante


paratibial direita (corte longitudinal)

207
Caso 19

Figura 4. Modo B da veia safena parva esquerda no terço


superior e médio da perna (corte transversal)

Figura 5. Modo Doppler colorido e pulsado da junção


safenopoplítea esquerda (corte longitudinal)

208
Caso 19

Figura 6. Modo Doppler colorido e pulsado da veia


poplítea esquerda (corte longitudinal)

209
Caso 19

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 19, qual das alternativas está
incorreta:

A O refluxo valvular na veia poplítea esquerda é superior


a 1,0 segundo compatível insuficiência valvular.

B O refluxo valvular na junção safenofemoral direita é


superior a 0,5 segundo compatível com insuficiência
valvular troncular.

C O refluxo valvular na junção safenopoplítea esquerda


é superior a 0,5 segundo compatível com insuficiência
valvular troncular.

D A veia perfurante paratibial direita apresenta calibre


normal (inferior a 0,5 cm).

210
Caso 19

2. Qual das alternativas está incorreta em relação ao


refluxo valvular:

A No segmento venoso femoropoplíteo, refluxos


valvulares inferiores a 1,0 segundo de duração não são
considerados significativos.

B No segmento venoso tibiofibular, refluxos valvulares


inferiores a 1,0 segundo de duração não são
considerados significativos.

C Tempo de refluxo valvular inferior a 0,35 segundo


de duração nas veias perfurantes não é considerado
significativo.

D Nas veias safenas magna e parva, refluxos valvulares


inferiores a 0,5 segundo de duração não são
significativos.

211
Caso 19

3. Em relação ao exame Doppler para a pesquisa de


insuficiência venosa crônica, podemos afirmar:

A A pesquisa de veia perfurante insuficiente próximo à


úlcera varicosa deve ser realizada rotineiramente.

B A pesquisa de refluxo valvular na veia safena magna


pode ser realizada em decúbito dorsal em posição de
Trendelenburg.

C A pesquisa de refluxo valvular realizada pela


compressão manual não é procedimento adequado.

D Na pesquisa do refluxo na safena magna, a manobra


de Valsalva pode ser uma alternativa à compressão
manual nos pacientes com junção safenofemoral
competente.

212
Caso 19

Discussão
O caso apresentado mostra paciente com diagnóstico clínico de insu-
ficiência venosa crônica com refluxo valvular troncular na safena magna
direita até o terço superior da perna, drenando o refluxo em veia perfu-
rante paratibial dilatada e insuficiente. Observa-se ainda refluxo valvular
troncular na safena parva esquerda até o terço inferior da perna. Há refluxo
valvular também no sistema venoso profundo esquerdo até a porção infra-
patelar da veia poplítea.
O sistema venoso é divido em três (profundo, superficial e perfu-
rante). Eles estão localizados em dois compartimentos principais: profundo
e superficial. Os compartimentos estão separados pela fáscia muscular. O
compartimento profundo situa-se abaixo da fáscia e contém as veias do
sistema venoso profundo, enquanto o compartimento superficial situa-se
acima da fáscia, está limitado superficialmente pela derme e é subdividido
pela fáscia safena, no compartimento safeno, que contém as veias safenas.
As veias tributárias, acessórias e comunicantes das veias safenas situam-se
fora desse compartimento. As veias perfurantes perfuram a fáscia muscular,
comunicando um compartimento com o outro. As junções safenofemoral e
safenopoplítea se estendem até a penúltima válvula pré-terminal, situada a
cerca de 3 a 5 cm distal à válvula terminal.
Pelo consenso da SBACV/CBR de 2019, considera-se refluxo valvular
anormal:
• 
> 1 segundo para o segmento femoropoplíteo;
• 
> 0,5 segundo para as veias do sistema superficial (safenas e tribu-
tárias) e demais veias do sistema venoso profundo;
• 
> 0,35 segundo para as veias perfurantes.

213
Caso 19

Várias são as manobras utilizadas para suscitar o refluxo, destacan-


do-se a manobra de Valsalva e a compressão manual distal. A pesquisa de
refluxo deve ser realizada preferencialmente com o paciente na posição
ortostática; em casos de impossibilidade, a posição de Trendelenburg reversa
com elevação de 30º pode ser usada. As veias da perna podem também ser
avaliadas com o paciente sentado e o membro examinado pendente na
mesa de exame. Lembramos que Labropoulos et al., 2003, afirmaram: “O
teste de refluxo em pacientes na posição supina deve ser evitado, devendo
ser realizado somente na posição ortostática”.

Respostas
1–D 2–B 3–A

214
Caso 19

Bibliografia Recomendada
1. Nardino EP et al. Consenso sobre Duplex Scan. SBACV e CBR - 1. ed. - Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.
2. Coleridge-Smith P, Labropoulos N, Partsch H, Myers K, Nicolaides A,
Cavezzi A. Duplex ultrasound investigation of the veins in chronic venous
disease of the lower limbs--UIP consensus document. Part I. Basic prin-
ciples. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2006 Jan;31(1):83-92. doi: 10.1016/j.
ejvs.2005.07.019. Epub 2005 Oct 14. PMID: 16226898.
3. Labropoulos N, Tiongson J, Pryor L, Tassiopoulos AK, Kang SS, Ashraf
Mansour M, Baker WH. Definition of venous reflux in lower-extremity veins.
J Vasc Surg. 2003 Oct;38(4):793-8. doi: 10.1016/s0741-5214(03)00424-5.
PMID: 14560232.

215
Caso 20
Autor: José Eduardo Mourão Santos

• Médico Radiologista – DDI UNIFESP


• Membro titular do CBR

doi: 10.29327/5135889.1-20

216
Caso 20

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 76 anos, em investigação de
insuficiência venosa crônica.

IMAGENS

Figura 1. Modo Doppler colorido e pulsado da veia


femoral comum esquerda (corte longitudinal)

217
Caso 20

Figura 2. Modo Doppler colorido e pulsado da veia


poplítea esquerda (corte longitudinal)

Figura 3. Modo B da junção safenofemoral (corte transversal)

218
Caso 20

Figura 4. Modo B da veia safena parva esquerda no


terço médio da perna (corte longitudinal)

Figura 5. Modo B da veia safena parva esquerda no terço médio


da perna sem e com compressão (corte transversal)

219
Caso 20

Figura 6. Modo B-flow colorido da veia safena


parva esquerda (corte longitudinal)

Figura 7. Modo B-flow colorido da veia safena


parva esquerda (corte transversal)

220
Caso 20

Figura 8. Ressonância magnética da veia safena parva esquerda


no plano sagital ponderado em T2 com saturação de gordura

Figura 9. Ressonância magnética da veia safena parva esquerda


no plano axial ponderado em T2 com saturação de gordura

221
Caso 20

Figura 10. Ressonância magnética da veia safena parva esquerda no plano


sagital ponderado em T1 com saturação de gordura, pós-contraste

222
Caso 20

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 20, qual das alternativas está
incorreta:

A O refluxo valvular na veia poplítea esquerda após a


compressão manual distal não evidencia sinais de
insuficiência valvular.

B A curva fásica com a respiração observada na veia


femoral comum esquerda no Doppler pulsado auxilia
a descartar trombose venosa profunda no segmento
ilíaco e na VCI.

C A veia safena parva encontra-se dentro do


compartimento safeno.

D A figura 3 mostra a cabeça do Mickey obtida num


corte transversal na região da junção safenofemoral e
a orelha medial corresponde à artéria femoral comum.

223
Caso 20

2. Qual das alternativas abaixo está incorreta em relação


à veia safena parva?

A O conceito de junção safenopoplítea foi revisto e se


estende até a penúltima válvula pré-terminal.

B A veia safena parva acessória superficial está


localizada dentro do compartimento safeno,
superficialmente à veia safena parva.

C O termo veia femoropoplítea foi substituído por


extensão cranial da veia safena parva.

D A veia de Giacomini corresponde à veia circunflexa


posterior na coxa e comunica a veia safena parva com
a veia safena magna.

224
Caso 20

3. Em relação à nomenclatura atualmente aceita para


as veias dos membros inferiores e adotada pelo CBR,
podemos afirmar:

A As veias perfurantes são atualmente designadas


preferencialmente pela localização e os epônimos são
permitidos somente para as veias perfurantes de Cockett.

B A veia femoral superficial é extensão da veia poplítea


e conflui para a formação da veia femoral, juntamente
com a veia femoral profunda.

C O aneurisma venoso corresponde a um aumento


do calibre da veia superior a 100% do segmento
adjacente.

D Aplasia e agenesia são sinônimos designando a


ausência da veia ou de um segmento venoso.

225
Caso 20

Discussão
O caso apresentando mostra paciente com diagnóstico clínico de
insuficiência venosa crônica em pós-operatório tardio de safenectomia
magna bilateral. Há veia perfurante tibial posterior esquerda insuficiente
drenando veias tributárias insuficientes na face medial da perna, aqui não
representadas. Observa-se dilatação focal da veia safena parva no terço
médio da perna, com aumento do calibre superior a 50% do diâmetro do
segmento adjacente compatível com aneurisma. Essa dilatação é ocasio-
nada por cistos na parede do vaso evidenciados no estudo ultrassono-
gráfico e a ressonância magnética; esse achado é compatível com doença
cística adventícia da veia safena parva.
As principais veias do sistema venoso profundo são:
• 
Veias ímpares – femoral comum, femoral, femoral profunda,
poplítea (podem se duplicadas em até 20% dos pacientes);
• 
Veias pares – tibiais anteriores, tibiais posteriores, fibulares, sole-
ares, gastrocnêmias mediais e gastrocnêmias laterais.

As principais veias do sistema venoso superficial são as veias safenas


magna e parva. As safenas magna e parva devem estar sempre no comparti-
mento safeno delimitado pelas fáscias safenas. As veias tributárias, acessó-
rias e comunicantes das veias safenas situam-se fora desse compartimento.
As veias safenas acessórias têm trajeto paralelo às veias safenas, seja ante-
rior, posterior ou superficial ao tronco principal das veias safenas; uma
exceção se faz em relação à veia safena magna acessória anterior no seu
segmento proximal na coxa, onde coabita o compartimento safeno junto à
veia safena magna.

226
Caso 20

As veias profundas com dilatações acima de 50% são chamadas aneu-


rismáticas. Calibre inferior a 50%, são chamadas hipoplásicas. As veias
perfurantes medem até 3,5 mm de calibre, que deve ser medido no nível da
fáscia muscular.

Respostas
1–D 2–B 3–A

227
Caso 20

Bibliografia Recomendada
1. Nardino EP et al. Consenso sobre Duplex Scan. SBACV e CBR – 1. ed. – Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.
2. Caggiati A, Bergan JJ, Gloviczki P, Eklof B, Allegra C, Partsch H; Inter-
national Interdisciplinary Consensus Committee on Venous Anatomical
Terminology. Nomenclature of the veins of the lower limb: extensions,
refinements, and clinical application. J Vasc Surg. 2005 Apr;41(4):719-24.
doi: 10.1016/j.jvs.2005.01.018. PMID: 15874941.
3. Caggiati A, Bergan JJ, Gloviczki P, Jantet G, Wendell-Smith CP, Partsch
H; International Interdisciplinary Consensus Committee on Venous
Anatomical Terminology. Nomenclature of the veins of the lower limbs:
an international interdisciplinary consensus statement. J Vasc Surg. 2002
Aug;36(2):416-22. doi: 10.1067/mva.2002.125847. PMID: 12170230.
4. Bascone C, Iqbal M, Narh-Martey P, Szuchmacher M, Cicchillo M, Krishna-
sastry KV. Venous Adventitial Cystic Disease: A Review of 45 Cases Treated
Since 1963. Int J Vasc Med. 2016;2016:5287697. doi: 10.1155/2016/5287697.
Epub 2016 Nov 3. PMID: 27885342; PMCID: PMC5112310.

228
Caso 21
Autor: Carlos Augusto Ventura Pinto

• M
 édico Radiologista do Setor de Imagem - Área de Vascular do Hospital
Israelita Albert Einstein
• Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

doi: 10.29327/5135889.1-21

229
Caso 21

DADOS CLÍNICOS
• P
 aciente do sexo feminino, 56 anos, com insuficiência renal,
em exame de ultrassom Doppler de rotina das artérias
carótidas, seis meses após uma tentativa de punção para
passagem de cateter em veia jugular interna.

IMAGENS

Figura 1. Modo B, corte longitudinal da carótida


comum e da veia jugular interna

230
Caso 21

Vídeo 1. Modo B, corte transversal da carótida


comum e da veia jugular interna

Vídeo 2. Doppler colorido, corte transversal da


carótida comum e da veia jugular interna

231
Caso 21

Vídeo 3. Doppler colorido, corte longitudinal da


carótida comum e da veia jugular interna

Vídeo 4. Doppler espectral, corte transversal da


carótida comum e da veia jugular interna

232
Caso 21

QUESTÕES
1. Em relação ao caso 21, é verdadeiro afirmar:

A Trata-se de dissecção da artéria carótida comum.

B Corresponde a um ramo arterial não habitual


(variação anatômica) no terço médio da artéria
carótida comum.

C As análises anatômica e hemodinâmica adquiridas


pela ultrassonografia Doppler não são suficientes
para se chegar ao diagnóstico, sendo necessária a
complementação com outro método.

D Os achados são compatíveis com fístula arteriovenosa


(FAV) entre a carótida comum e a veia jugular interna.

233
Caso 21

2. Quanto aos achados característicos das FAVs ao


Doppler, é correto afirmar:

A Fluxo de baixa intensidade com padrão espectral de alta


resistência.

B Fluxo de baixa intensidade com padrão espectral de


baixa resistência.

C Fluxo de alta intensidade com padrão espectral de alta


resistência.

D Fluxo de alta intensidade com padrão espectral de


baixa resistência.

234
Caso 21

3. Sobre a regulagem adequada dos parâmetros do


aparelho de ultrassom para avaliar as FAVs ao Doppler, é
correto afirmar:

A Aumentar a escala e reduzir o filtro de parede.

B Aumentar a escala e diminuir o ganho.

C Diminuir a escala e aumentar o filtro de parede.

D Diminuir a escala e aumentar o ganho.

235
Caso 21

Discussão
As fístulas carótida-jugular comuns adquiridas são incomuns. Um
alto índice de suspeição é necessário para o diagnóstico. Muitas vezes, a
fístula é perdida durante a fase aguda da lesão; como resultado, a maioria
dos pacientes não é tratada por semanas ou meses após a lesão inicial(1,2,3).
O cateterismo de veia central é realizado com frequência para manejo
perioperatório e acesso intravenoso de longo prazo. Complicações trau-
máticas associadas à inserção de cateter de VJI têm sido bem descritas
na área de anestesia e na literatura médica e a complicação mais comum é
a punção da artéria carótida, com incidência relatada entre 2% e 9,9%(1).
Sem dúvida, a punção arterial predispõe a desenvolver a rara complicação
da FAV.
Como neste paciente assintomático, esta alteração costuma ser insi-
diosa, desenvolvendo-se ao longo de vários meses ou até anos.
A presença de uma FAV é uma complicação grave, com efeitos em
longo prazo, incluindo infecção, embolização sistêmica, isquemia cerebral e
congestão cardíaca. O tratamento indicado é o reparo cirúrgico precoce da
FAV. A cirurgia é menos difícil durante os estágios iniciais, porque fibrose
e circulação distorcem a anatomia e aumentam o risco de dissecção. Entre
outras precauções para evitar a FAV iatrogênica, está a canulação da VJI
guiada por ultrassom.
O ultrassom Doppler é sem dúvida nenhuma o principal método diag-
nóstico para lesões vasculares periféricas. As imagens mostram as altera-
ções características de uma FAV de alto fluxo entre a artéria carótida comum
(ACC) e a VJI. As figuras 1 e 2 caracterizam o trajeto fistuloso ao modo B,
além de veia jugular interna ectasiada e pulsatilidade local acentuada; as
figuras 3 e 4 mostram a fístula ao Doppler colorido caracterizada por fluxo

236
Caso 21

turbulento (aliasing) devido a altas velocidades, comunicando a carótida


comum com a veia jugular interna; e, finalmente, a figura 5 evidencia ao
Doppler pulsado um fluxo com altas velocidades, com importante alarga-
mento da curva espectral com padrão de baixa resistência, compatível com
a fístula arteriovenosa.
A regulagem adequada para a avaliação das FAVs para evitar o aliasing
inclui o aumento da escala e a redução do ganho ao Doppler tanto colorido
como espectral.

Respostas
1–D 2–D 3–B

237
Caso 21

Bibliografia Recomendada
1. Kurt P. Droll, et al. Carotid-Jugular Arteriovenous Fistula: Case Report of
an Iatrogenic Complication Following Internal Jugular Vein Catheteriza-
tion. Case Reports J Clin Anesth. 2004 Mar;16(2):127-9. doi: 10.1016/j.
jclinane.2003.06.003.
2. Adenauer Marinho de Oliveira Góes Junior,et al. Surgical repair of a trau-
matic carotid-jugular arteriovenous fistula. J Vasc Bras. 2020;19:e20200008.
https://doi.org/10.1590/1677-5449.200008.
3. Claudio Caldarelli, et al. Acquired Carotid-Jugular Fistula: Its Changing
History and Management. Hindawi. Review Article. Open Access. Volume
2013. Article ID 320241. https://doi.org/10.1155/2013/320241.

238
www.spr.org.br

ISBN 978-65-997296-2-1

doi 10.29327/5135889

Você também pode gostar