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INTERNACIONAIS
AULA 3
TEMA 1 – O MARXISMO
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entre aqueles que são os proprietários dos meios de produção e a força de
trabalho. Nesse sentido, para analisarmos a história de sociedades
escravocratas, por exemplo, nosso olhar deveria recair sobre a relação entre
homens livres e escravos; em sociedades feudais, entre senhores feudais e
servos, e em meio ao capitalismo, entre burgueses e proletários (Sarfati, 2005).
Desse modo, podemos entender um dos principais conceitos importantes
ao marxismo: a luta de classes. Na abertura de O manifesto comunista, Engels
e Marx (1999) são enfáticos ao afirmar: “a história de toda sociedade até hoje é
a história de lutas de classes”. Essa frase demonstra o chamado determinismo
histórico inerente à teoria marxista, uma vez que considera as classes sociais
como a estrutura basilar das sociedades ao longo do tempo, sendo a história
fruto da constante luta entre essas classes.
Para Marx, portanto, a economia é o motor da história, e para
entendermos essa questão precisamos compreender o que Marx vai chamar de
infraestrutura e de superestrutura. A economia, a base material da sociedade,
é o que determinaria a infraestrutura das sociedades, como as forças produtivas
e as relações de produção. Essa infraestrutura seria o fator que define as
características da superestrutura. A superestrutura de uma sociedade são suas
instituições jurídicas, políticas e ideológicas (Sarfati, 2005). Ou seja, nos dias
atuais, em que a infraestrutura das sociedades é capitalista, o marxismo entende
que a justiça, a política e a ideologia dessas sociedades servem a sua classe
dominante: a burguesia.
O conflito entre aqueles que são proprietários e aqueles que não são os
proprietários dos meios de produção seria inerente à história, portanto,
inevitável. Além disso, para o marxismo, as mudanças de verdade nas
sociedades se dariam somente por meio da alteração da infraestrutura. Teria sido
o caso da mudança do feudalismo para o capitalismo, por exemplo. Além disso,
na visão marxista, mudanças na superestrutura são superficiais, ou seja,
eventuais reformas políticas ou judiciárias contemporâneas não seriam capazes
de superar o capitalismo, mantendo-se apenas como superestruturas voltadas à
defesa da infraestrutura da sociedade. Em resumo, portanto, quando Marx
afirma que a economia é o motor da história é a isto que ele se refere: somente
mudanças da infraestrutura levam a alterações históricas estruturais.
O marxismo argumenta que essas mudanças de infraestrutura têm origem
em contradições inerentes aos próprios sistemas, como, por exemplo, na
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ascensão de uma classe burguesa em meio ao feudalismo. O materialismo
histórico marxista trabalha, portanto, com uma noção dialética que é composta
por uma tese: o nascimento de um modo de produção; uma antítese: as
contradições desse modelo; e uma síntese: a crise do modelo e o surgimento de
um novo (Sarfati, 2005). A crise do capitalismo, portanto, viria com a estagnação
econômica, a concentração de capital e as quedas das taxas de lucro (Nogueira;
Messari, 2005).
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Outro elemento importante que deve ser compreendido acerca desse
tema é o nacionalismo. Após as Guerras Napoleônicas, que se encerraram no
início do século XIX, os Estados começam a ser identificados com os ideais
nacionalistas, em oposição às identidades dinásticas, religiosas ou mesmo
multiétnicas que predominavam na Europa até então (o que se deve
compreender sobre essa questão é que, por exemplo, um camponês que vivia
no interior da França no século XVIII se via muito mais como um católico súdito
da Casa Bourbon do que propriamente um francês). O que precisamos entender
é a seguinte questão: as identidades nacionais não são “naturais”, mas sim um
projeto político de organização da sociedade com base em ideais comuns, como
história, raça, etnia, religião, território, cultura etc.
Percebemos, portanto, que o nacionalismo é um tipo de identidade que
ganha força ao mesmo tempo que o capitalismo se consolida como a
infraestrutura dominante, em detrimento dos modelos feudais. Assim, podemos
considerar o nacionalismo parte da superestrutura gerada pela infraestrutura
capitalista. Os marxistas compreendem, de fato, que o nacionalismo foi um
projeto da burguesia para enfraquecer as identidades de classe na Europa do
século XIX. Como assim?, você pode estar se perguntando. Veja bem:
Marx defendia que um operário alemão, trabalhando em uma fábrica de sapatos
em Berlim, tinha uma identidade muito mais parecida com um operário francês
trabalhando em uma fábrica metalúrgica em Paris do que com o dono alemão
dessa fábrica de sapatos. Para Marx, ambos seriam proletários e essa identidade
de classe seria mais relevante do que as distintas identidades nacionais entre
esses operários. O nacionalismo, portanto, teria servido como um fator de
coesão social para atenuar as tensões vinculadas às lutas de classe. Você pode
até estar pensando que isso é irrelevante, mas para as RI essa questão é
fundamental e tem na Primeira Guerra Mundial seu ponto-chave.
Ao longo do século XIX as Internacionais Socialistas eram os movimentos
que representavam essa visão marxista pautada na identidade de classe,
organizando diversos partidos políticos – em sua maioria, de natureza operária
– em torno da bandeira proletária e da luta de classes. A Associação
Internacional dos Trabalhadores foi fundada em 1864, em Londres, tendo sido
chamada de Primeira Internacional Socialista para promover a solidariedade de
classe no seio do continente europeu, sendo uma espécie de partido
internacional do proletariado (Nogueira; Messari, 2005).
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Nos antecedentes da Primeira Guerra Mundial, houve o esgotamento da
chamada Segunda Internacional Socialista, com cisões pautadas justamente em
distintas concepções nacionalistas, principalmente aquelas vinculadas aos
alemães, que optaram por sua identidade nacional – apoiando a Alemanha na
Primeira Guerra Mundial – em detrimento de sua identidade de classe. Entende-
se, assim, que a Primeira Guerra Mundial teve, como uma de suas origens, as
rivalidades entre distintas nacionalidades, determinando a “vitória” do projeto
burguês em detrimento do projeto marxista vinculado à luta de classes (Saraiva,
2007). Essa questão também seria uma evidência do argumento marxista de que
o Estado capitalista moderno estimulava o nacionalismo e o patriotismo como
estratégias de divisão do proletariado (Nogueira; Messari, 2005).
O capitalismo, porém, teria, na própria Primeira Guerra Mundial, uma de
suas mais marcantes contradições, tendo em vista que um dos principais fatores
que levaram ao conflito foi justamente a disputa interimperialista entre grandes
potências, como a Inglaterra e a Alemanha. Não à toa, também a Revolução
Russa seria um resultado direto da Primeira Guerra Mundial.
Aqui entramos em uma interpretação importante do marxismo para o
principal tema das RI: as guerras. Para os marxistas, a guerra é uma
consequência natural no modelo capitalista, uma vez que o Estado é utilizado
para garantir os interesses da burguesia – a política externa de um Estado,
portanto, reflete os interesses dessa classe burguesa – que vê na expansão de
mercados um objetivo fundamental. Essa expansão capitalista colocaria os
Estados em choque uns com os outros, principalmente quando operando sob a
lógica do colonialismo e do imperialismo, assim as guerras seriam inevitáveis por
fazerem parte dos ciclos de expansão e retração do sistema capitalista (Sarfati,
2005).
Apreende-se, portanto, que, na visão marxista, a paz mundial será
possível somente com o fim do capitalismo e o estabelecimento do comunismo
internacional, uma vez que não haveria classes sociais, permitindo, assim, uma
solidariedade global (Sarfati, 2005).
Outra interpretação interessante que o marxismo oferece às RI é sobre a
noção de anarquia internacional, conceito-chave para diversas teorias das RI.
Para teorias como o realismo, a anarquia é o que ajudaria a explicar as guerras
entre os Estados, com base em concepções egoístas da natureza humana.
Porém, os marxistas interpretam a guerra como fruto da natureza econômica do
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capitalismo e da consequente luta de classes, tirando o foco da anarquia
internacional como o fator determinante para o acontecimento de guerras
(Sarfati, 2005).
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Crédito: MAEADV/Shutterstock.
Com essa questão, a Cepal chama a atenção para o fato de essas trocas
desiguais serem caracterizadas por um efeito de deterioração de seus termos.
Isso quer dizer que produtos industriais e manufaturados carregariam consigo
um valor agregado alto, com altas margens de lucro, enquanto os produtos
agrícolas e as matérias-primas têm como característica principal os valores
flutuantes, determinados pela oscilação de preços no mercado internacional.
Assim, se um país como o Brasil dependia da sua produção e exportação
de café para crescer, como foi o caso por tantas décadas entre o fim do século
XIX e o início do século XX, esse Estado estaria fadado à estagnação, uma vez
que o preço do café é determinado pelas lógicas de oferta e demanda. Nessa
dinâmica, mesmo quando o preço do café está alto e o país está lucrando com
sua exportação, a tendência é que isso não dure muito tempo, pois o mercado
vai se regular, uma vez que mais produtores vão produzir café, tentando
aproveitar-se desses altos preços. Logo, com o aumento da oferta no mercado,
o preço do café – e consequentemente o lucro dos produtores – vai cair. É o que
a Cepal chama de deterioração dos termos de troca, que levou economistas
cepalinos a questionar: quantas toneladas de sacas de café precisamos vender
para comprar um computador?
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Com base nesse raciocínio, a Cepal conclui que há questões econômicas
estruturais que condenam a periferia – e, portanto, a América Latina – ao
subdesenvolvimento. Mais que isso, com esse diagnóstico percebe-se que o
próprio desenvolvimento do centro só é possível mediante o
subdesenvolvimento da periferia. A solução para esse problema, na visão
cepalina, seria investir na industrialização como promotora do desenvolvimento.
Esse diagnóstico influenciou não apenas no campo científico, como na teoria da
dependência (TD), mas também na formulação de políticas públicas em toda a
América Latina, principalmente quando se pensa nos programas de
industrialização por substituição de importações (ISI).
A teoria da dependência, portanto, tem como característica a
transferência do conceito marxista de luta de classes para as dinâmicas das
relações entre o centro e a periferia (Sarfati, 2005). Por meio de obras como
Dependência e desenvolvimento na América Latina, de Fernando Henrique
Cardoso e Enzo Faletto, a TD é influenciada pelo pensamento cepalino e
desenvolve suas ideias particulares.
A TD observa duas dinâmicas de desenvolvimento: o doméstico e o
externo. O desenvolvimento doméstico segue os modelos marxistas por meio da
interação entre as classes sociais, enquanto o desenvolvimento externo é
produto das relações da elite do país com o restante do mundo, com a
apropriação da máquina do Estado para seus interesses (Sarfati, 2005). Com
isso, fica evidente que, por vezes, mesmo sob condições de subdesenvolvimento
interno, as elites burguesas de um país têm condições de enriquecer. Por
exemplo, no Brasil cafeeiro, a sociedade mantinha-se pobre e pouco dinâmica,
com salários baixos e poucas oportunidades de emprego, no entanto os grandes
proprietários de terras mantinham seus lucros, mesmo com as oscilações nos
preços do café. Iremos explorar mais essa questão na seção “Na prática” desta
etapa.
Os teóricos da dependência chamam a atenção para o fato de, no sistema
capitalista, os países serem desenvolvidos ou subdesenvolvidos de acordo com
sua posição na divisão internacional do trabalho. Desse modo, a periferia seria
altamente dependente do centro e, portanto, deveria adotar políticas que lhe
oferecessem maiores graus de autonomia. Essa autonomia, compreendida
como pré-condição para o desenvolvimento nos trabalhos de autores como Hélio
Jaguaribe, passaria, principalmente, pela consolidação da industrialização na
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periferia. Na América Latina, o modelo de ISI buscou consolidar esse processo
com a estruturação de indústrias locais com foco no abastecimento dos
mercados domésticos, principalmente quando se trata de bens de consumo não
duráveis.
No período, de fato, a industrialização era concebida como a única
alternativa ao desenvolvimento, porém o modo de conduzir esse processo era
divergente. Na Ásia, por exemplo, a industrialização foi voltada para a produção
de bens de consumo duráveis para exportação. O caso latino-americano, voltado
ao mercado doméstico, acabou encontrando seus limites nas crises econômicas
das décadas de 1980, que colocaram em evidência a vulnerabilidade da periferia
perante grandes crises econômicas globais.
NA PRÁTICA
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Assim, sob a visão da TD, a condição de periferia do Brasil estaria tanto
relacionada a sua posição na divisão internacional do trabalho quanto a um
histórico de apropriação, pelas elites domésticas, do Estado e das políticas
públicas voltadas a seus interesses particulares.
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
ENGELS, F.; MARX, K. O manifesto comunista. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra,
1999.
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