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Memórias

Póstumas

de
Brás
Cubas
Memórias Póstumas de BRÁS CUBAS
CENA 01: VELORIO DE BRÁS CUBAS

QUINCAS BORBA -Nunca poderia imaginar que estaríamos nós, aqui, um dia, a
chorar a perda de um amigo tão caro! Vos que o conhecestes, meus senhores, podeis
dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda de um dos mais belos
caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas que caem do
céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a
dor crua e má que lhe rói a natureza às mais intimas entranhas ; tudo isso é sublime
louvor ao nosso ilustre finado.

VIRGÍLIA - Morto! Não posso aceitar! Morto!

BRÁS Narrador - A fidelidade dos amigos só conhecemos nessas horas ... Não me
arrependo das vinte apólices que lhe deixei. Seu discurso foi impecável ! Por certo
fará um excelente proveito dos contos de reis que lhe renderei. As mulheres são elas
que nos levam à loucura. Tão lindas, tão doces e tão perigosas. O que se passa pela
cabeça de uma mulher? bom, não tentemos adivinhar, deixemo – la alçar seu vôo
mais esplêndido, pois a encontramos quando me restituir aos tempos de outrora.

CENA 02: A VISITA DE VIRGíLIA

BRÁS Narrador- Há dois anos não nos vemos I Anda.visitando defuntos?

VIRGíLIA – Ora, defuntos, ando a ver se ponho os vadios para a rua.

BRÁS Narrador- Que notícias trazes , então, a este futuro defunto?

VIRGíLIA - Que idéias essas! Olhe que não volto mais. Morrer!.Todos nós
havemos de morrer, basta estarmos vivos!

BRÁS Narrador - Mas diga-me. Que novidades trazes?

VIRGíLIA - Que novidades poderia trazer-lhe uma Viúva! meu caro Brás?!?
Apenas da movimentação das ruas, dos jantares com as senhoras, e Tonho, que
tornou-se bacharel, o que mais?

BRÁS Narrador - Vida muito diferente daquela de outrora, não, senhora Virgília?

VlRGíLIA - Qual senhora Brás?! Sabes muito bem que as cerimônias não caem
bem a nós. Mas deixe-me ir que já se faz tarde. Vim apenas ver como estás
Prometo que virei amanhã ou depois.
BRÁS Narrador - Não sei se faz bem, o doente é um solteirão e a casa não tem
senhoras.

VIRGÍLIA - Estou velha! Ninguém mais repara em mim! mas para cortar as
dúvidas virei com Tonho.

CENA 03: A FUGA RECUSADA

BRÁS Narrador - E tinha razão minha doce Virgília . Cerimônia é o que não nos caia
bem. Era bom que a dama viesse mesmo com Tonho, pois já bastavam os fuxicos do
passado, nunca podemos prever as histórias que tecem de nos por aí, as dúvidas que
semeiam. Tonho era filho único de Virgília e na idade de cinco anos fora cúmplice
inconsciente de nossos amores...

BRÁS CUBAS - Como passas esta tarde?

VIRGÍLIA - Agora melhor com tua chegada. Demorastes muito hoje o que houve?

BRÁS CUBAS. - Cousas bobas, conversas de café, com poucos amigos. Mas não
me pareces feliz.. seria apenas por meu atraso? ( irônico) ,

VlRGíLIA - Não, estou temerosa , pois creio que desconfiam de nós.

BRÁs CUBAS - Quem poderia...

VlRGíLIA – Damião, o criado.

BRÁS CUBAS - Por que desconfias??

VIRGÍLIA - Noto umas esquisitices, nele.. não sei.. (trata-me bem; não há
dúvidas mas o olhar parece que não é o mesmo.

BRÁS CUBAS - O que é isso minha bela? Parece-me apenas uma cisma sua.

VIRGÍLIA - Não, não é, durmo mal; ainda esta noite acordei, aterrada sonhando
que ele ia me matar.

BRÁS CUBAS -ISSO NÃO !!! (INDIGNADO)

VIRGÍLIA - Talvez seja ilusão mas eu penso que ele desconfia. (CONGELA)

BRÁS CUBAS narrador - Tranqüilizei-a como pude, mas sei que tal desconfiança
poderia ser verdadeira e o adultério de Virgília estar mesmo prestes a ser descoberto.
Estávamos na sala de visitas, que dava justamente para chácara, onde trocáramos o
beijo inicial. Virgília era uma mulher bonita, fresca... Era clara, muito
clara, faceira, pueril, cheia de ímpetos misteriosos... e ... casada. Virgília era casada.
e pensar que quase a desposei a pedido do meu pai, mas isso é outra história que com
certeza vos contarei mais tarde, pois não matemos o tempo que este nos enterra.
Naquela época não nos amávamos... Mas agora sim, senhores, agora que todas leis
sociais no-lo impediam, agora é que nos amávamos deveras... E eu a queria só para
mim... e foi assim que, naquele mesmo dia, propus-lhe unir-se verdadeiramente a
mim.

BRÁS CUBAS – Virgília proponho-te uma cousa.

VIRGíLIA - Que é?

BRÁS CUBAS - Amas-me?

VIRGíLIA - Oh, claro !

BRÁS CUBAS - Tens coragem?

VlRGILIA - De que?

BRAS CUBAS - De fugir.

VlRGILIA - Oh, não!

BRAS CUBAS - Iremos para onde for mais, cômodo uma casa grande ou
pequena, à tua vontade, na roça na cidade ou na Europa onde te parecer melhor, onde
ninguém nos aborreça e não haja perigos para ti, onde vivamos um para o
outro... sim ? Fujamos. Tarde ou cedo ele pode descobrir alguma cousa e estarás
perdida... ouves? Perdida... ouves? Perdida... morta, e ele também, porque eu o
matarei, juro-te. Meu amor, estaríamos livres dessa aflição que rouba suas noites
de sono, poderíamos finalmente nos amarmos.

VlRGILIA - Não escaparíamos talvez ele iria ter comigo e matava-me do mesmo
modo.

BRAS CUBAS - Isso não, meu amor! O mundo é assaz vasto e eu tenho meios
de viver onde quer que haja ar puro e muito sol, ele não chegaria até nós. Só as
grandes paixões são capazes de grandes ações e ele não te ama tanto a ponto de ir
buscá-la.

VIRGÍLIA - Saibas, senhor, que meu marido gosta muito de mim!

BRÁS CUBAS - Pode ser, pode ser que sim...

LOBO NEVES - Estas cá a muito tempo?


VIRGILIA - Não, meu bem. O senhor Brás acaba de chegar e estava a tua espera.
Agora que chegaste peço licença ao amigo, pois preciso deitar-me um pouco,
pois não sinto-me bem.

BRAS- - Claro, senhora agradeço pela agradável companhia.

LOBO - Pareces mesmo um tanto abatida. Vá que em seguida verei se melhoraste.


Uma beleza esta minha mulher, não é mesmo, Brás?

BRÁS - Sem duvida meu caro. sua esposa é uma perfeição.

LOBO - É um conjunto de qualidades sólidas, e finas, amorável, elegante,


austera, um modelo.

BRÁS - Feliz deve ser você, de ter uma dama como a senhora Virgilia.

LOBO - Sem dúvida! Virgília é única cousa que acalma meu espírito, pois a política
me consome, meu caro Brás.

BRÁS - Não me digas que não gostas de política?!

LOBO - Sei que lhe digo. Não podes imaginar o que tenho passado, entrei na política
por gosto, por família, por ambição e um pouco por vaidade. Veja que reúno em mim
todos os, motivos que levaram um homem à vida pública. Creia que tenho passado
horas e dias, não há constância de sentimentos, gratidão, não a nada... nada... nada...
mas o que estou eu aqui a fazer, lhe fatigando com minhas amofinações?! .

BRÀS - Deixe de desculpar-se, amigos são para essas cousas

BRÁS Narrador - em que situações mete-nos a vida não é mesmo? Hora vedes os
senhores, não me faltava mais nada: Eu confidente do marido de minha amante...
parece que esta palavra assustou-te. Dizer assim em voz alta, confessar que somos
amantes, mas amante é, digamos,o "cargo" que ocupo na vida de Virgília.O amigo
deve estar a questionar-se sobre meu pregresso amoroso... não, meu caro, Virgilia
não fora minha única mulher...tinha 17 anos, pungia-me um buçozinho que eu
forcejava por trazer à bigode, os olhos vivos e resolutos sim, eu. era esse garção
bonito, airoso, abastado e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou-se
diante de mim e levantou seus olhos cobiçosos...

CENA 04 : A DOCE MARCELA

MARCELA - Olá, Chico!

BRÁS – Como vais?

MARCELA - Com certeza bien mejor ahora que usted chegaste.


BRÁs- AHII!

MARCELA - Te gusta mi cuerpo?

BRÁS - Sim, a senhora é muito bela.

MARCELA – Entonces pega-me, niño, sinta-me, estoy a cá prea ésto

BRÁS - Não sei se devo... É a primeira vez que...

MARCELA - No se preocupe, lindo. Yo se que nunca estuviste com uma mujer...

BRÁS - Quem contou-te?

MARCELA - Se vê em sus ojos, querido, pero no se quede triste, usted és um


niño muy guapo e me quedarei contenta de hacerte unos cariños. Vamos bailar!!!

BRÁS CUBAS Narrador - Marcela apaixonava-me, dei a ela todo o frescor de minha
meninice, as tardes com aquela espanhola tornavam-se cada dia mais quentes e
necessárias. Marcela fazia parte de mim. Mostrou-me os prazeres da vida adulta.
Cobria-a de presentes, jóias... Não podia imaginar meus dias sem seus toques
calientes.

MARCELA - pega-me, niño, beija-me... Aprendiste tan bien los cariños que lo
ensine. Es niño safado, deves estar exercitando co nel todas las ninãs o que
haces acá, no? Pero no importo-me, me quedo contenta por ensinaste tan bien.

BRÁS-OH! Marcela, linda Marcela! Deixas-me louco...sou todo teu...quem mais tem
tua formosura, teu amor...?

MARCELA - Ora, chiquito, regalo-te solamente com carinõ. Tu és encantador. E


olha que yo se o que hablo, soy uma. Mujer experiente... mas usted...

BRÁS - Olha o que trago para ti hoje, formosura.

MARCELA - Mira, chiquito. Que lindo! Voy guarda-Ia com muy carino junto a los
otros mimos que usted dete-me. Me quedo tan feliz...

BRÁS - Ficas linda, meu amor... Daria-te o mundo!

MARCELA - Para que tanto, este hogar parece-me tan grande para nossotros, el
mondo es muy peliroso...

BRÁS – Por que tens medo do mundo? Protejo-te do que for presciso!!
MARCELA - No tengo dudas de esto; pero no estarás a mi lado para siempre y...

BRÁS - Não me venhas com essas historias, pare de falar em separação,

Pareces que não acreditas em nosso amor...


MARCELA - Eso és para ti

BRÁS - Mas o crucifixo que teu pai deu-te?

MARCELA - Ora Chico, acreditaste mismo que era um regalo di papá?

BRÁS - Mas foste o que disseste.

MARCELA – No, nenê? Papá no podia dar-me uma cosa tan valiosa...

BRÁS - Mas então?

MARCELA - Um mimo de um amigo.

BRÁS - Como os que freqüentam este lugar?

MARCELA - Chico, usted siempre soube que eu... ,

BRÁS - Saber eu sabia, mas também não precisavas dar-me como lembrança um
presente de outro. Parece que debochas de mim.

MARCELA - O que é esto, nenê? Amei a outro, que importa, se acabou? Um dia
quando nos separarmos...

BRÁS - Não fales mais em separação CHEGA!!!


Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Papai,
logo que teve aragem dois onze contos de réis, sobressaltou-se deveras...

CENA 05 : COIMBRA

PAI- Dessa vez vais para Europa!

BRÁS - Mas, pai...

PAI - Claro que vais! O que estás pensando da vida, meu filho, que é um eterno
baile, onde tomas uma dama pela mão e sai por aí a cometer sandices?!
BRÁS - Não sei do que falas, papai!
PAI- AH, não sabes então!

BRÁS – Não! E saibas que eu não vou a lugar algum.

PAI - Mas isso é o que não se discute. Vais cursar uma universidade, provavelmente
Coimbra.

BRÁS - Coimbra?

PAI- Sim. Coimbra quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno.

BRÁS-Gatuno?

PAI - Gatuno, sim, senhor. Não é outra cousa um filho que me faz isto. Vês? Títulos
e mais títulos de dividas. É assim que um moço deve zelar pelo nome dos seus?
Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogos ou a vadiar pela
rua? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo ou ficas sem cousa nenhuma. Não há escolha.

PAI- Onde vais !!!

BRÁS - Vou resolver minha vida, papai, preciso apressar-me.

PAI - Podes ir, mas saibas que não permitirei que leves contigo aquela mulher...
NÃO PERMITIREI... NÃO PERMITIREI !!!

CENA 06 : CONVITE.A MARCELA

MARCELA - Que saudades estava de ti!

BRÁS FICA CALADO DE CABEÇA BAIXA

MARCELA - Que tens, niño???

BRÁS - Papai quer afastar-me de ti.

MARCELA - Como?

BRÁS - Quer que eu vá estudar fora.

MARCELA - Donde?

BRAS - Em Coimbra, mas vais comigo.


MARCELA - Não posso, querido.

BRÁS - Podemos sim, vem comigo. Arranjarei recursos, dinheiro. Terás tudo. O
que quiseres
MARCELA - Não é assim!

BRÁS - Olha, ... toma. .

MARCELA - Doido! Ora você!

BRÁS - Vens comigo?

MARCELA - VOU. Quando embarcas?

BRÁS - Daqui a dois ou três dias.

MARCELA - Vou então.

BRÁS - Então prepara-te. Prepara-te. Que voltarei para buscar-te. Até breve, meu
amor. Prepara-te. Prepara-te.

CENA DO NAVIO

CENA 07: A PROPOSTA DO PAI

PAI - Não me perdoaste-me, não é mesmo, meu filho?

BRÁS - Apenas não entendi o por que.

PAI - Não podia deixar que acabasses com tua vida, meu filho, Ao lado daquela
mulher jamais seria um homem. Por isso o impedi de levá-la contigo. Quero ver-te
casado com um belo futuro, a política...

BRÁS - Não nasci para isso!

PAI - Mas nosso futuro quem faz somos nós

BRÁS - Confesso ao senhor que nesse momento não encontro forças para nada.

PAI - Sentiste muito a perda de tua mãe, não, meu filho? Eu também, mas isso não é
vida, Brás é preciso conformar-te com a vontade de Deus!!!

BRÁS - Já me conformei, papai, mas às vezes a imagem de mamãe vem a minha


cabeça e ...

PAI - Brás, trago comigo uma idéia que pode tirá-lo desta pasmaceira em que te
encontras. Trago-te dois projetos: um lugar de deputado e um casamento Aceitas???

BRÁS - Ora, papai! Não entendo de política e...


PAI - E?

BRÁS - Quanto à noiva...

PAI- SIM?

BRÁS - Ora, papai deixe-me viver como um urso que sou.

PAI - Mas os ursos também casam.

BRÁS - Pois traga-me uma ursa ."... A Ursa Maior...

PAI - A carreira política é necessária a você, filho quantos amigos conhecemos


que são hoje deputados, e alguns serão um dia ministro, Verás!

BRÁS - Não, acho que a carreira política não é para mim.

PAI - Mas e quanto à noiva? Basta vê-la que irá rapidamente pedí-la em casamento
sem demorar um dia.

BRÁS - Com se chama a moça?

PAI- Virgilia. Um anjo, .seu , pateta, um anjo sem asas. Imagine uma moça assim,
desta altura, viva como um azogue, e uns olhos... Ela é filha do conselheiro Dutra.

BRÁS - Não sei. Estou disposto a examinar as duas cousas, a candidatura e o


casamento.

PAI - Brás, não me venhas com histórias. Não fico sem uma resposta definitiva De-
fi-ni-ti-va De-fi-ni-ti-va

BRÁS - As palavras de papai martelavam em minha cabeça

CENA: 08 A DECISAO DE CASAR-SE

(BRÁS SE AJEITA)
J.
PAI- E então, estas pronto para o jantar na casa da família de sua futura esposa?

BRAS - Sim, mas essa roupa, não sei se é apropriada. Sinto-me mal com ela.

PAI - Deixe ver. Não há nada de mal em ti, pelo contrário, agora sim, mas do que
nunca pareces um Cubas
BRÁS - Papai, há algo que eu preciso saber.

PAI - Pois diga o que é.

BRÁS - Esse casamento. Há algum ajuste prévio com o senhor Dutra?

PAI - Não! Ajuste algum, há tempos, conversando com ele a teu respeito, confessei-
lhe o desejo que tinha de te ver deputado, e de tal modo falei,que ele me prometeu
fazer alguma cousa, e creio que fará!

BRÁS – Sim! Mas é a noiva???

PAI-AH!!!, A noiva é uma jóia, uma flor, uma estrela, uma cousa rara.

BRÁS-AHN,AHN, PAPAI !!!

PAI - É filha dele; imaginei que, se casasses com ela, mais depressa serias deputado

BRÁS - Só isto???

PAI- Só meu filho, mas apressa-te, não ficaria bem chegar atrasado!

(BRÁS PEGA O RELOGIO E OLHA, O PAI TOMA DE SUAS MAOS)

PAI - Precisas reparar o vidro desse relógio, menino. Esta todo quebrado. onde
andaste com ele? Imagine se o Dutra vê esse caco.

BRÁS - Sim, papai, arranjarei um tempo para isso.

PAI- Aproveite o caminho, há muitas relojoarias pelas bandas da rua do ourives.

BRÁS - Vou ver o que faço.

PAI- Se não fizer o reparo é melhor que nem o tire do bolso, está uma vergonha.

BRÁS - (indo embora) Sim, o farei, mas agora deixe-me ir.

PAI- Vá, Boa sorte, meu filho. E lembre-se Virgilia é o seu melhor futuro

CENA 09: MARCELA VELHA.

MARCELA - Quer comprar alguna cosa?


BRÁS SE ASSUSTA E OLHA PRA ELA E PRA BOiNA

MARCELA- No crês no que vês no? Pero soy yo no queres sentarte um poco?

BRÁS-Sim!!!

MARCELA - Ainda és um niño?

BRÁS - Não, não mais!

MARCELA - Sim, ainda és um niño. Usted no puede hablar lo mismo de mi no? El


tiempo no fuera mi amigo. No soy mas la suya Marcela. No tengo mas la sonrisa, la
fiesta en mi cuerpo, no tengo mas usted. Me quedo tão infeliz com su traiçao

BRÁS - Não traí você. Não houve outro jeito.

MARCELA - Chico, no precisas mentir, yo se que no poderia acreditar em ti pero el


sonho es demasiado Dulce...

BRÁS - Papai impediu-me de buscar-te chamou uns homens, tomaram-me pelo


braços, meteram-me numa sege, me levaram à casa do intendente de polícia donde
fui transportado a uma galera que seguia para Lisboa.

MARCELA - No opôs se?

BRÁS - Se resisti? Imagine só! Eu a amava, mas toda resistência seria inútil. Chorei
dias, noites... e foste durante muito tempo uma idéia fixa. Malditas idéias fixas que
me perseguem!... Minha vontade nessa ocasião era dar um mergulho no oceano e
gritar seu nome, Marcela, Marcela, Marcela....

MARCELA – Basta! No quiero hablar mas sobre esso. Pinso que podrias volver e...
amaram-me otros homens... um morrió em mis braços... deixou-me esta loja, que é
tudo que tengo ahora!

BRÁS - Estas doentes???

MARCELA-As bexigas...el tiempo apressou-se em dejar-me vieja. E usted, niño,


como estás?

BRÁS - Trouxe o diploma que papai tanto desejava, Minha carta de alforria! Mamãe
deixou-nos. Voltei de Coimbra nessa ocasião, ainda à tempo de vê-la!

MARCELA - Casaste???

BRÁS - Ainda não !!! ( música) preciso ir agora.


BRÁS narrador - Deixei-me ir, então, ao passado e, no meio das recordações e
saudades, perguntei a mim mesmo porque motivo fizera tanto desatino, mas... as
aventuras são a parte torrencial e vertiginosa da vida, isto é, a exceção.

CENA 10: VIRGILIA E LOBO NEVES

BRÁS narrador - Os almoços e jantares na casa do Dutra foram vários, mas toda esta
assiduidade não me garantira a mão de sua filha.

VIRGILIA - Quando serás ministro?

LOBO NEVES - Pela minha vontade, já, pela dos outros, daqui a um ano.

VIRGILIA – promete que algum dia me farás baronesa?

LOBO NEVES - Marquesa, porque eu serei marquês.

VIRGILIA - Encantador!

LOBO NEVES - Tu que és encantadora, minha cara. Tê-la como esposa é sonho de
muitos... Sinto-me honrado de ser escolhido.

VIRGILIA - Papai sempre soube guiar bem futuro da família.

LOBO NEVES Da qual em breve farei parte.

BRÁS narrador - Vigília escapara-me das mãos. Comparou a águia ao pavão, e


elegeu a águia. Não morri de amores pelo desenlace, pois não se ama duas vezes a
mesma mulher, e eu, tinha de amar aquela, tempos depois. Papai, porém, vendo
esvair-se meu futuro, ficou inconformado. E acredito que morreu desse desgosto...
Encontramo-nos, em bailes da sociedade, mais tarde, quando aí sim o anjo do
amor nos laçou, beijamo-nos aflitos, temerosos - ardentes... A mulher da minha vida
não aceitou minha proposta de fuga, pegou-se ao filho para armar suas desculpas,
mas o que não podia era separar duas cousas que no espírito dela estavam
intimamente ligadas: o nosso amor e a consideração pública... Vivemos, então, no
mais doce mundo do mistério.

CENA 11 : A CASA DA GAMBOA

PLÁCIDA - Carma, sinhá. Seu Brás já deve de tá chegando. Ta certo que


num divia tá demorando tanto mais eu vô falar uma verdade prá iaiá: Se ôce qué
viver assim nessa vida, paciênça, tem que ficá quietinha, viu?
VIRGILIA - Sabes que não tinha escolha. Não posso deixar meu marido e amo o
Brás.

PLACIDA - Pois é, e eu que num tenho juízo mermo.Aprovar um negócio desses.

VIRGÍLIA – É que acreditas no amor.

PLAC1DA - Isso que é verdade. Uma cousa tão linda dessas Deus num pode castigá
né? Olha ele aí sinhá-!!!

BRÁS- Como está minha formosura hoje?

PLACIDA - Sinhá tá isperando o senhor desde cedo...

BRÁS - Então é isso, minha bela?

VIRGILlA _ É.achas pouco, então?

BRÁS - Ora minha querida, estava conversando com uns amigos e o tempo
passou... Além do mais não podia dizer à eles a urgência que me tirava da
conversa, poderiam desconfiar, e sabes que muitos conhecem seu marido.

VIRGILIA - É que tenho algo muito importante a lhe dizer Brás!

BRÁS - Não me digas que teu marido resolveu aceitar finalmente o cargo de
Presidente da província e viajas com ele.

VIRGILIA - Sabes bem que meu marido não aceitou a nomeação por aquele
motivo...

PLACIDA - Veja se tem presteza o seu Lobo Neves não aceitar o cargo de
presidente da província só por causa que no papel tava escrito o número treze.

VIRGILIA - Não repitas mais isso, meu marido contou-me essa fraqueza em segredo
e não gostaria de ver essas palavras espalhadas por aí. E tu. bem sabes que iria junto.
Lobo Neves o escolheu secretário. Viajarias conosco. Mas não é isso que me aflige.

PLACIDA - Secretário.Vê se pode; minha nossa Senhora, um secretário do outro.

BRÁS - O que é então, Meu doce?

VIRGILIA - Mas que idéia, falar em doce essa hora. Que cousa mais sem
Propósito, não vês que me enjoa?
PLACIDA - A sinhá num tá bem desde que chegou parece igualzinho quando ela
embuchô de Tonho...

BRÁS - Então é isso que tens a me dizer? Digas-me logo, Então!

VIRGILIA - Não sei se posso garantir mas...

BRÁS - Estás grávida? Diga-me, terás um filho meu?

PLACIDA - Pare com isso, senhor! Respeite-me

BRÁS narrador - Não podia conter minha felicidade durante aqueles dias que
sucederam a notícia de minha paternidade. Um filho!- Um ser tirado do meu ser! Eu
só pensava naquele embrião anônimo, de obscura paternidade, e uma voz secreta me
dizia: é teu filho. Teu filho! E repetia estas duas palavras, com certa voluptuosidade
indefinível, e não sei que assomos do orgulho. Sentia-me homem. . Às vezes, ao pé
de virgília, esquecia-me dela e de tudo.

CENA 12: A CHEGADA DE LOBO NEVES À GAMBOA

PLÁCIDA - Virge, desconjuro, olha quem vem lá ! Minha nossa senhora, ocês tem
que saí daqui, vai acontece uma tragédia dos diabos!!!

VIRGILIA - O que foi dona Plácida. O que acontece?

PLÁCIDA - Num é hora de falação, não sinhá, temo que fazer as cousas logo!

BRÁS - Mas do que falas, mulher?

PLÁCIDA - Seu Lobo Neves que vem vindo aí!

VIRGILIA - Meu Marido!

PLÁCIDA - Pode num parece, né sinhá, mas que outro marido a sinhá tem?

BRÁS - De cá não sairei. Estava mesmo na hora de esclarecermos isso. Hoje


finalmente ele saberá de tudo e poderemos enfim nos amar em paz.

VIRGILIA - Mas isso é que não, sou uma senhora de respeito e um escândalo não me
agradaria!

BRÁS - Tens medo, sempre este medo!

PLÁCIDA - Nhonhô num discute, num sai daí até o marido de iaiá ir embora.

BRÁS - NÃO, FICAREI!!!


PLÁCIDA - Num tá vendo que tá deixando sinhá nervosa, ela num pode, faz mal prá
crianças de ocês! .
BRÁS - Por meu filho eu vou, mas saibas que se não fosse a existência dele...

PLÁCIDA - Vá, minha Nossa Senhora. Calma sinhá, que a velha aqui vai arresorver
tudo.

LOBO NEVES CHEGA NA CASA DE PLACIDA

PLÁCIDA - O senhor por aqui honrando a casa de sua velha? Entre faça favor, mas
que cousa, adivinhe quem está cá ?!?..

VIRGILIA - O que fazes por aqui?

LOBO NEVES - Ia passando, vi a janela aberta, resolvi vir cumprimentar Dona


Plácida.

PLÁCIDA - Muito agradecida. E dizem por ai que as velhas num tem presteza pra
nada... Parece que iaiá está com ciúmes. Aqui... bom... Mas..., Senta com agente,
Doutor.

LOBO NEVES - Com prazer!

VlRGILIA - Estava de saída quando chegaste

PLÁCIDA - É. acho mio ocês num demorá muito mermo, parece que vai cair água
por aí. A sinhá já tava cum medo de ir embora suzinha. Foi bom mermo o senhor
ter aparecido. Parece que o coração da gente é que leva a gente pros lugares, né não,
Iáiá?.

VIRGILIA - Sim! parece mesmo que meu marido desconfiava que precisava de
sua companhia.

LOBO NEVES - Sim, estava mesmo desconfiado.

PLACIDA - Fiquei muito feliz com sua visita, Doutor...

LOBO NEVES - Mas agora que estou aqui não há por que nos apressarmos, vamos
juntos para casa, o tempo não me assusta.

VIRGILIA – Mas já incomodo D. Plácida há muito tempo. Com certeza quer fazer
alguma cousa, cuidar da casa.

LOBO NEVES - Mas a casa parece-me um brinco, a Senhora não tem pressa de que
saiamos tem?

PLÁCIDA - Não, mas é que...


VIRGILIA - Não seja insistente, Neves.Precisamos ir. Outro dia voltamos a mais
uma visita.

PLÁCIDA - Vou gostar um bocado.

LOBO NEVES - Bom, a tarde parecia-me propícia a boas conversas, mas já que
minha esposa insiste ... Prometo voltar.

PLÁCIDA - Venha e traga esse mimo com o senhor, sinto falta desta menina.

BRÁS narrador - Não sabia se agradecia a D. Plácida pela cobertura que nos deu ou
se a odiava por não ter permitido que tudo viesse a tona. Logo ela que temia tanto
pelo pecado que cometia ao encobrir um romance adúltero, uma pouca vergonha
como chamava no inicio, logo ela soube disfarçar tão bem o cheiro de amor que
exalava naquele lugar. Escondido, naquele quarto fechado, sentia-me um criminoso.
Umas três semanas depois, fui visitar o casal Neves em seu doce lar quando fui
acometido pelos mas duro dos golpes.

CENA13: FOI-SE O EMBRIÃO

LOBO NEVES - Meu amigo...


BRÁS - O que houve? O que tens? O que se passou com a senhora?

LOBO NEVES - Acabou-se tudo

BRÁS - Como? Não me digas que...

LOBO NEVES - Sim. Acabamos de perder nosso filho.

BRÁS - Mas não pode ser ... Não pode ser verdade ..,

VIRGILIA - É verdade

LOBO NEVES - Vamos. Deixemo-la descansar. Obrigado pela presença. Não sabes
a dor que é perder um filho

BRÁS - Perder um filho

VIRGILIA - Perder um filho.

LOBO - Perder um filho...

CENA14: A DESPEDIDA

BRÁS narrador - Algumas semanas depois, Lobo Neves foi nomeado presidente da
província. Agarrei-me à esperança da recusa, se o decreto viesse outra vez.
datado com numero 13... Trouxe porém, a data do dia 31, e esta simples transposição
de algarismos eliminou deles a substância diabólica. E desta vez, graças às cartas
anônimas que denunciavam os encontros da Gamboa, não fui convidado para ser
secretário do meu rival. Que profundas que são as molas da vida...

VIRGILIA – Sim, É amanha, você vai a bordo?

BRÁS - Estás doida? É impossível !!!

VIRGILIA - Então Adeus!!!

BRÁS – ADEUS!!!

VIRGILIA - Não se esqueça de Dona Plácida.Vá vê-Ia algumas vezes, coitada! Foi
ontem desperdir-se de nos! chorou muito disse que eu não a veria mais... É uma boa
criatura. não achas?

BRÁS - Certamente

VIRGILIA - Se tivermos de escrever, ela receberá as cartas. Agora ate daqui a ...

BRÁS - Talvez dois anos?

VIRGILIA – Qual, Ele diz que é só até fazer as eleições

BRÁS - Sim? Então é breve... BEIJO...Separemo-nos

VIRGILIA - Custa-me muito

BRÁS - Mas é preciso; ADEUS... Virgília_.. ADEUS...


VIRGILIA - ADEUS!!!!

CENA 15: VELÓRIO DEFINITIVO

BRÁS narrador - A partida de virgilia deu-me uma amostra da viuvez. A primeira


vez que pude reve-la depois da presidência foi num baile em 1855. Trazia um
soberbo vestido de gorgorão azul e ostentava às luzes o mesmo par de ombros de
outros tempos. Não é ainda a invalidez, mas já não é mais a frescura. Lembra-me que
falávamos muito, sem aludir a cousa nenhuma do passado... E ela estava
magnífica...Expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de
1869, na minha bela chácara de catumbi. Tinha 64 anos, rígidos e prósperos, possuía
cerca de trezentos contos. Minha vida resume-se nas negativas: Não conheci a
celebridade com a criação de um remédio milagroso para a cura de quase todos os
males, O emplasto Brás Cubas, não fui ministro, não fui califa, não
conheci o casamento, e ao chegar a este outro lado do mistério deparei-me com um
pequeno saldo que é a derradeira negativa, não tive filhos, não transmiti a nenhuma
criatura o legado da nossa miséria.

LOBO NEVES - A obra si mesma é tudo...

VIRGILIA - Se te agradar, fino espectador....

MARCELA - Pago-me da tarefa...

BRÁS - Se não te agradar, pago-te com piparote e....

TODOS - ADEUS!!!

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