Livro Texto - Unidade I
Livro Texto - Unidade I
Livro Texto - Unidade I
Avaliação de Viabilidade
de Projetos
Autor: Prof. Claudio Ditticio
Colaboradores: Profa. Daniela Menezes Brandão
Prof. André Galhardo Fernandes
Professor conteudista: Claudio Ditticio
Graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP-1973) e mestre em Economia Política pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP-2008). Participou de cursos de especialização em Métodos Quantitativos,
Banking, Marketing, Processos Administrativos e Operacionais, Derivativos Financeiros, Sistemas e Processos de
Educação a Distância (EaD), Avaliação de Empresas e Tecnologia da Informação e Comunicação.
Possui uma larga experiência profissional como administrador e diretor de bancos e instituições financeiras.
Também atuou como sócio-diretor em consultoria de economia e de análise política. Foi professor e pesquisador da
Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP).
Atua na educação a distância da UNIP como professor conteudista. Foi coordenador do Curso Superior de
Tecnologia em Gestão Pública, produzindo textos e ministrando aulas nos cursos de Empreendedorismo, Gestão
Pública, Gestão Financeira, Gestão Ambiental e Gestão de Agronegócios, todos nessa modalidade de ensino. Participou
de bancas examinadoras de concursos públicos, com ênfase em Ciências Contábeis e Gestão Pública.
CDU 658.15
U509.04 – 20
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Bruna Baldez
Kleber Souza
Talita Lo Ré
Sumário
Finanças Corporativas - Avaliação de Viabilidade
de Projetos
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 11
Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ANÁLISE CONTÁBIL E FINANCEIRA......................................... 15
1.1 Abrangência da análise financeira................................................................................................. 16
1.2 Informações sobre a empresa.......................................................................................................... 19
1.3 Demonstrativos e relatórios contábeis......................................................................................... 23
1.3.1 Balanço patrimonial (BP)...................................................................................................................... 25
1.3.2 Demonstrativo dos resultados do exercício (DRE)..................................................................... 27
1.3.3 Demonstrativo de fluxo de caixa (DFC).......................................................................................... 28
1.3.4 Relevância dos demonstrativos contábeis.................................................................................... 29
2 ÍNDICES CONTÁBEIS E FINANCEIROS....................................................................................................... 29
2.1 Índices de liquidez................................................................................................................................ 32
2.1.1 Índice de liquidez geral......................................................................................................................... 33
2.1.2 Índice de liquidez corrente.................................................................................................................. 34
2.1.3 Capital de giro líquido........................................................................................................................... 34
2.1.4 Índice de liquidez seca........................................................................................................................... 35
2.1.5 Índice de liquidez imediata.................................................................................................................. 36
2.2 Índices de endividamento.................................................................................................................. 37
2.2.1 Índice de estrutura de capital............................................................................................................. 37
2.2.2 Índice de dependência........................................................................................................................... 38
2.2.3 Índice de dependência de curto prazo............................................................................................ 38
2.2.4 Índice de cobertura de juros............................................................................................................... 39
2.2.5 Índice de cobertura de caixa............................................................................................................... 39
2.3 Índices de rentabilidade (ou lucratividade)................................................................................ 40
2.3.1 Retorno sobre o ativo............................................................................................................................ 41
2.3.2 Retorno sobre o capital próprio......................................................................................................... 41
2.3.3 Margem líquida........................................................................................................................................ 42
2.4 Índices de atividade.............................................................................................................................. 43
2.4.1 Giro do estoque........................................................................................................................................ 43
2.4.2 Giro de contas a receber....................................................................................................................... 44
2.4.3 Prazo médio de vendas.......................................................................................................................... 45
2.4.4 Prazo médio de recebimento de vendas........................................................................................ 45
2.4.5 Prazo médio de pagamento de compras....................................................................................... 46
2.4.6 Prazo médio de renovação de estoques......................................................................................... 46
2.5 Índices de valor de mercado............................................................................................................. 47
2.5.1 Índice preço/lucro.................................................................................................................................... 48
2.5.2 Índice valor de mercado/valor de livro........................................................................................... 48
2.6 Análises: vertical e horizontal.......................................................................................................... 49
2.6.1 Análise vertical.......................................................................................................................................... 50
2.6.2 Análise horizontal.................................................................................................................................... 53
2.7 Atribuição de pesos para os índices............................................................................................... 56
2.8 Limitações dos índices financeiros e das informações contábeis..................................... 56
2.9 EBITDA, NOPAT e EVA.......................................................................................................................... 57
2.9.1 EBITDA.......................................................................................................................................................... 57
2.9.2 NOPAT........................................................................................................................................................... 58
2.9.3 EVA................................................................................................................................................................. 58
Unidade II
3 ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA E DE VALORES DE CURTO PRAZO..................................................... 63
3.1 O valor do dinheiro no tempo.......................................................................................................... 65
3.2 Planejamento de caixa........................................................................................................................ 68
3.2.1 Política financeira.................................................................................................................................... 69
3.2.2 Ciclos operacionais e financeiros...................................................................................................... 70
3.2.3 Orçamento de caixa................................................................................................................................ 73
3.3 Controle do saldo de caixa................................................................................................................ 74
3.4 Manutenção de um saldo mínimo de caixa............................................................................... 74
3.5 Elaboração do DFC................................................................................................................................ 76
3.6 Construção do diagrama do fluxo de caixa................................................................................ 78
3.7 Análises de outros valores de curto prazo.................................................................................. 81
3.7.1 Contas a receber de clientes............................................................................................................... 81
3.7.2 Manutenção e controle de estoques............................................................................................... 84
3.7.3 Contas a pagar.......................................................................................................................................... 88
4 CUSTOS E ESTRUTURAS OPERACIONAIS................................................................................................. 89
4.1 Custos suportados pela empresa.................................................................................................... 89
4.2 Custos fixos.............................................................................................................................................. 90
4.3 Custos variáveis..................................................................................................................................... 91
4.4 Custos semifixos.................................................................................................................................... 92
4.5 Custos diretos e indiretos.................................................................................................................. 92
4.6 Margem de contribuição (MC)......................................................................................................... 93
4.7 Ponto de equilíbrio (PE)...................................................................................................................... 95
4.8 Alavancagens.......................................................................................................................................... 98
4.8.1 Alavancagem operacional.................................................................................................................... 99
4.8.2 Alavancagem financeira......................................................................................................................102
4.8.3 Alavancagem total ou combinada..................................................................................................105
Unidade III
5 AVALIAÇÃO DE PROJETOS E INVESTIMENTOS..................................................................................... 112
5.1 Métodos de avaliação por períodos de payback.................................................................... 113
5.2 Método da taxa interna de retorno (TIR).................................................................................. 115
5.3 Método do valor presente líquido (VPL) ou Net Present Value (NPV)........................... 119
5.4 Método índice de valor atual (IVA)..............................................................................................124
5.5 Divergências de resultados na aplicação de diferentes métodos....................................125
5.6 Taxa interna de retorno modificada (TIRM)..............................................................................125
5.7 Metodologia das opções reais........................................................................................................126
6 ESTRUTURAS E CUSTOS DE CAPITAIS.....................................................................................................128
6.1 Orçamento de capital........................................................................................................................128
6.2 Taxas de juros e orçamento de capital.......................................................................................129
6.3 Capital próprio x capital de terceiros..........................................................................................130
6.4 Estrutura de capital da empresa...................................................................................................132
6.5 Estrutura ótima de capital...............................................................................................................133
6.6 Mensuração do custo do capital...................................................................................................133
6.6.1 Importância de medir o custeio do capital utilizado pela empresa................................. 134
6.7 Custo do capital próprio...................................................................................................................135
6.7.1 Modelo de precificação de ativos de capital (CAPM)............................................................. 135
6.7.2 Security market line..............................................................................................................................141
6.7.3 Modelo APT..............................................................................................................................................141
6.7.4 Custo de capital com base no lançamento de ações preferenciais................................. 142
6.7.5 Custo de capital com base no lançamento de ações ordinárias....................................... 143
6.7.6 Lucros retidos......................................................................................................................................... 144
6.8 Custo do capital de terceiros..........................................................................................................145
6.8.1 Custo de capital com base na colocação de debêntures no mercado............................ 146
6.8.2 Custo de capital com base na obtenção de empréstimos e financiamentos
no mercado........................................................................................................................................................ 147
6.9 Custo médio ponderado de capital (CMPC) ou
Weighted Average Cost Of Capital (WACC).....................................................................................149
6.10 Escolha dos pesos dos elementos de capital.........................................................................150
6.11 Questões relacionadas com gestão e custo de capital......................................................152
6.12 Ajustes do custo de capital em função de riscos diferenciados dos projetos.........155
Unidade IV
7 RISCOS E RETORNOS....................................................................................................................................161
7.1 Retorno de investimentos e de ativos........................................................................................163
7.2 Riscos de investimentos...................................................................................................................165
7.3 Riscos medidos com o uso de estatística..................................................................................168
7.4 Tipos de riscos financeiros...............................................................................................................170
7.4.1 Riscos de crédito................................................................................................................................... 172
7.4.2 Riscos operacionais.............................................................................................................................. 173
7.4.3 Riscos cambiais...................................................................................................................................... 173
7.4.4 Riscos de taxas de juros..................................................................................................................... 173
7.4.5 Riscos de financiamentos.................................................................................................................. 174
7.5 Comportamentos em relação a riscos........................................................................................174
7.6 Diversificação dos investimentos..................................................................................................175
7.7 Riscos x incertezas..............................................................................................................................176
8 TÓPICOS COMPLEMENTARES....................................................................................................................178
8.1 Market Valeu Added (MVA).............................................................................................................178
8.2 Economic Value Added (EVA).........................................................................................................179
8.3 Mercados financeiros.........................................................................................................................182
8.3.1 Subsistema normativo........................................................................................................................ 183
8.3.2 Subsistema operativo.......................................................................................................................... 186
8.3.3 Divisão dos mercados financeiros.................................................................................................. 187
8.3.4 Mercados futuros e de derivativos................................................................................................ 189
8.4 Políticas de distribuição de dividendos......................................................................................191
8.5 Objetivos e práticas de responsabilidade social nas empresas.........................................193
8.6 A teoria de agência.............................................................................................................................195
8.7 Escolha do regime tributário aplicado à empresa.................................................................197
8.8 Obtenção de capital mediante IPO..............................................................................................198
8.9 Repasses governamentais................................................................................................................200
8.10 Análise de ativos intangíveis e Goodwill.................................................................................201
8.11 Projetos incentivados......................................................................................................................203
8.12 Captações no exterior.....................................................................................................................204
APRESENTAÇÃO
Olá, aluno(a)!
Nesta disciplina, vamos tratar de finanças e, mais especificamente, dos recursos financeiros, obtidos
e gerados pelas empresas, independentemente de seu porte e ramo de atividades. O livro-texto irá
mostrar o status e a evolução das finanças das empresas, considerando os aspectos conjunturais e
estruturais da economia como um todo e as melhores práticas e procedimentos das organizações no
âmbito financeiro.
Sabemos que é muito importante o conhecimento de finanças por todos, principalmente aqueles
que estão envolvidos com a análise e as decisões relacionadas às empresas e organizações em geral,
sejam as que objetivam lucros em suas atividades, sejam outras voltadas, por exemplo, a interesses
comunitários. É certo também que tais conhecimentos são muito úteis para o desempenho financeiro
do próprio indivíduo.
Segundo Brigham e Ehrhardt (2016, p. IX): “Finanças são, no sentido real, o pilar do sistema de
gestão empresarial livre. Uma boa administração financeira tem, portanto, vital importância para a
saúde econômica das empresas, da nação e do mundo”.
Este estudo acompanha as empresas desde a mais tenra idade e prossegue em toda a sua existência.
Aqueles que vão iniciar um negócio novo, que vão empreender, procurando trazer produtos e soluções
novas para a coletividade, já têm, naturalmente, uma preocupação fundamental com o assunto de finanças,
além de considerar a necessidade de obtenção de capital para transformar seus objetivos em realidade.
Assim, esta disciplina se presta ao estudo das questões financeiras de modo geral, procurando
mostrar técnicas e processos capazes de permitir análises mais acuradas sobre a empresa e, também,
sobre a riqueza dos indivíduos que nela estão interessados.
9
Os objetivos financeiros também são, obviamente, responsáveis por boa parte do que denominamos
“preocupações com a sustentabilidade”, mas a empresa deve, além disso, procurar atender a outros
aspectos relacionados aos objetivos sociais, cada vez mais valorizados em termos éticos, sociais, de
proteção ao meio-ambiente etc.
De fato, não é possível conceber a sustentabilidade de forma restrita. Acima de tudo, uma empresa
sustentável é criada para não “morrer”, ultrapassando o tempo de vida dos seus fundadores.
Se, por um lado, é necessário que a empresa procure sempre maximizar o lucro para os proprietários,
acionistas, sócios, por outro, deve considerar o fato de que está inserida numa comunidade da qual é
membro muito destacado; além de estar cada vez mais imersa num universo globalizado.
Vê-se, então, em nível global, um forte direcionamento para a inclusão de assuntos ligados às
finanças desde o início das atividades escolares, partindo do grau Fundamental ao Médio.
O que se espera é criar uma cultura e aumentar o conjunto de conhecimentos sobre o assunto,
notadamente num período de mudanças na orientação econômica dos governos, procurando uma
moeda mais estável, que permita à sociedade fugir do “fantasma” da inflação e demandando que
cada indivíduo possa experimentar opções de aumento de rentabilidade do seu capital, mas sempre
preocupado com o risco que corre nas operações do mercado. E, aqui, estamos tratando tanto das
pessoas físicas quanto das empresas.
Note que, além da área de finanças propriamente dita, esta disciplina traz e estimula a consulta de
conceitos e informações relacionadas com outras disciplinas correlatas, como administração, economia,
contabilidade, matemática financeira, estatística etc. É esse tipo de abrangência e de inter-relação que
torna o assunto mais desafiador – basta ver que, nas livrarias e bibliotecas, encontramos compêndios
muito volumosos sobre o tema, destacando-se entre as várias áreas do conhecimento profissional.
Procuramos priorizar neste livro-texto o tratamento dos conceitos e as informações financeiras com
base na realidade brasileira, seguindo o esforço de novos autores que pensam o assunto. Claramente,
há especificidades no Brasil em comparação a outras nações, ditadas pela nossa história, nossa situação
econômica, nossa cultura, nosso relacionamento com o exterior etc.
Convido-o, portanto, a uma leitura atenta do texto, com a certeza de que lhe será muito útil,
não só para os fins específicos da disciplina e do curso que frequenta, mas para toda a sua vida
profissional e pessoal.
Bons estudos!
10
INTRODUÇÃO
Trataremos também das informações que são obtidas externamente aos controles/registros contábeis.
O ponto de partida será o balanço patrimonial, que a maioria dos analistas considera como o mais
importante e destacado relatório produzido pela contabilização dos eventos na empresa.
Uma visão bastante geral do conteúdo de um BP permite que comecemos a entender, por exemplo,
quais as distinções básicas entre investimentos e financiamentos. Mas, antes de tudo, o que é a função
financeira da empresa?
Intuitivamente, é possível entendê-la como o tratamento, através dos ativos e passivos, de qual é a
melhor combinação entre a origem dos recursos (próprios ou de terceiros) com as várias alternativas e
sua utilização nos variados tipos de investimentos ou projetos que podem ser realizados pela empresa.
Há valores que, embora não estejam totalmente disponíveis em caixa – que é o caso do próprio
dinheiro vivo, existente nos cofres da empresa ou depositados em contas correntes ou contas de rápida
movimentação, em bancos e outras instituições financeiras –, são também passíveis de afetar a liquidez
da empresa, como é o caso do que é mantido em estoques e em contas a receber, em função de créditos
concedidos ou prazos oferecidos para pagamentos pelos clientes.
11
O outro lado da moeda é também importante, como aquilo que recebemos de adiantamento
dos nossos fornecedores e valores que já tenham sido comprometidos para pagamento de salários
e recolhimento de tributos às entidades governamentais que, entre outros, fazem parte do passivo
(dívidas e obrigações) de curto e médio prazos.
A análise dos valores classificados como circulantes propicia um melhor conhecimento das condições
de liquidez de uma empresa. A liquidez é tão importante quanto a rentabilidade. Evidentemente, há
instituições que demandam maior ou menor liquidez, dadas as suas características operacionais.
Sem dúvida, uma empresa que atua mais no curto prazo, no geral, tem mais necessidades de caixa
(e liquidez) para cumprir com suas obrigações e saldar suas dívidas. E é claro que uma empresa precisa
ser rentável, ainda que, em determinados momentos, mais difíceis, inclusive gerados por fatores externos
a ela, possa não apresentar uma performance mais condizente com o que se planeja. No entanto, na
maioria das vezes, é necessário que os seus resultados (das suas operações) remunerem, como veremos,
os capitais que utilizou, seja de seus donos, sócios, acionistas ou mesmo de terceiros.
Nesse momento, trataremos das diferentes possibilidades de alavancagem dos lucros (operacional,
financeiro e combinado/total), partindo da margem de contribuição obtida com as vendas líquidas
(receitas menos despesas) dos produtos e considerando a existência de custos fixos e de despesas com
juros das operações de empréstimo e financiamento para a obtenção de capitais de terceiros junto a
bancos e demais agentes dos mercados financeiros.
Custos e estruturas de capitais (ou seja, do mix entre a aplicação do capital próprio e de terceiros)
serão também um assunto a ser tratado. Afinal, quais capitais devem suportar as operações e os
investimentos feitos pela empresa? Os que são aportados pelos sócios ou acionistas ou aqueles que são
obtidos junto ao mercado, como em transações com bancos e instituições financeiras?
Veremos a visão da gestão financeira fundamentada em criação de valor, com ênfase na adoção do
indicador EVA – método que vem se tornando mais frequente e que mede o lucro econômico esperado
em um novo negócio ou propicia a comparação de empresas ou negócios para possíveis investimentos.
12
Apresentaremos, ainda que de forma sintética, as instituições e os produtos e serviços oferecidos
pelos sistemas e mercados financeiros, cujo conhecimento é fundamental tanto para o administrador
financeiro quanto para o empreendedor, empenhados em iniciar, com sucesso, as operações de sua
empresa. A corporação precisa conhecê-los, por ser uma importante fonte de captação de recursos
financeiros de terceiros, mas também próprios, como veremos mais detalhadamente.
Temos a certeza de que você terá em mãos um texto que lhe permitirá compreender de forma
mais completa o extenso mundo financeiro e suas influências para as empresas. Indicaremos algumas
leituras ao longo deste livro-texto, que irão proporcionar muitos convites ao incremento dessa pesquisa.
É importante considerar a enorme interação desta disciplina com outras, como economia, ciências
contábeis e administração geral.
Para o empreendedor, é necessário apresentar e defender o seu projeto, demonstrando aos potenciais
investidores a oportunidade de participar ou mesmo auxiliar no financiamento de seus recursos para o
desenvolvimento do seu negócio.
13
A participação do investidor num novo empreendimento está diretamente relacionada às
oportunidades por este oferecidas, que ele tenderá a comparar com outras alternativas de remuneração
ou retorno, econômico e financeiro, e, claro, ao atendimento de outros objetivos quanto à sustentabilidade
de seu aporte de capital.
14
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ANÁLISE CONTÁBIL E FINANCEIRA
Apesar de sua referência fundamental ser a empresa, tais conceitos são perfeitamente aplicáveis a
organizações em geral, inclusive as de fins não lucrativos e independentemente de vínculo com o setor
privado ou público, sejam estes da administração direta ou indireta.
Observação
Diz-se, então, que na administração privada tudo pode ser feito, desde
que não seja contrário à legislação em vigor. Na pública, contudo, somente
é permitido realizar o que é previsto na legislação.
As empresas e os mercados, de forma geral, têm cada vez mais atuado sob a égide dos processos
de globalização, que tem afetado de forma muito significativa o porte e as características do sistema
financeiro nacional.
Nas décadas de 1960 a 1980 (mais precisamente, 1964 a 1985), quando vigorava o regime militar
no Brasil, foram promulgadas leis fundamentais para a constituição das instituições e a operação dos
mercados financeiros, com destaque para:
As crises que continuam a afetar empresas e mercados têm trazido, também, uma preocupação
com a chamada accountability. Apesar de não haver uma tradução final para o termo accountability, é
possível entendê-lo como um indivíduo ou organização que presta contas de suas atividades, aceita suas
responsabilidades e disponibiliza as informações de forma transparente. Veremos sobre esse conceito e
sua relação direta com as preocupações com governança corporativa mais adiante.
Compreender e participar dessas mudanças é crucial para a nossa própria participação na economia
e na sociedade e, obviamente, para o nosso sucesso profissional e pessoal.
Ademais, há um certo consenso de que a pujança da economia de um país guarda relação direta
com o seu sistema financeiro, o que importa a todos, notadamente às empresas e aos empreendedores.
As empresas, particularmente, têm nessa administração uma de suas tarefas mais naturais. Nelas,
emergem a figura do hoje denominado CFO (chief financial officer), que responde pelo controle e pela
gestão dos recursos financeiros da empresa, tido como executivo essencial para o desenvolvimento
estratégico empresarial e sua competitividade.
A gestão financeira de uma empresa e, naturalmente, o foco de atuação dos profissionais que com
ela trabalham são generalizados pelos elementos a seguir (RIBEIRO, 2016):
As empresas devem, primordialmente, ser vistas analisando-se sua dimensão estratégica, tanto
em suas operações internas quanto nos relacionamentos externos, cobrindo as necessidades de seus
diversos stakeholders.
[...] todo indivíduo (ou grupo de pessoas) que pode influenciar os objetivos
de uma empresa, e, também, ser influenciado por suas decisões. Exemplo de
stakeholders: acionistas (controladores e minoritários), empregados, fornecedores,
clientes, consumidores.
Os acionistas ou proprietários de uma empresa são os que suprem primariamente os recursos para
a realização de suas atividades, tendo como objetivo principal obter retorno financeiro compatível com
o risco que assumem. É importante que a empresa gere riqueza para os seus acionistas e proprietários,
que sejam competitivos com os outros retornos que o investidor possa obter nos mercados.
Conhecida também pela sigla TI, a tecnologia da informação pode ser entendida como:
[...] uma área que utiliza a computação como um meio para produzir,
transmitir, armazenar e usar informações.
• Sistemas de telecomunicações;
É preciso que cuidemos da nossa realidade e das expectativas de ganhos (ou de perdas) que possam
ocorrer com nosso patrimônio, seja da empresa, seja dos setores públicos, seja de cada um de nós
como pessoas físicas. Como mencionamos, finanças é um assunto tão importante que, na atualidade,
comenta-se muito sobre a intenção de orientar os alunos, desde o próprio ensino inicial, a conhecerem
o que é o dinheiro e sua influência na sociedade.
Você certamente já deve ter percebido que, entre as decisões financeiras fundamentais, podem
ser enquadradas:
• Oportunidades nas escolhas de fontes de captação de recursos financeiros, seja com seus
próprios acionistas, sócios, proprietários ou junto a terceiros.
18
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
• Análise das oportunidades de M&A (mergers and acquisitions), ou seja, fusões e aquisições de
empresas, e de trabalhos consorciados ou conduzidos em parcerias com outras organizações.
Como vimos, sob a ótica do empreendedor, é cada vez mais importante conhecer e poder analisar o
capital necessário à abertura do negócio e as expectativas de crescimento da empresa. Enfim, num mundo
globalizado e com alto nível de financeirização, essas exigências tornam-se cada vez mais presentes.
• Constituição de dívidas pela obtenção de capitais com terceiros (bancos, mercados de crédito e
de capitais etc.).
Para entendermos como obter as estimativas dos valores a serem retornados pelos investimentos
concretizados na empresa, serão também abordados os métodos de análise específicos (VPL, TIR etc.).
Atualmente, em qualquer que seja a situação, precisamos conhecer ou criar as informações para
melhor análise dos fatos e conceitos. Qualquer empresa, para o início e a manutenção de suas atividades,
utiliza os chamados fatores ou recursos de produção. Os fatores de produção são, genericamente,
entendidos como:
• Capital: máquinas e equipamentos (capital físico) ou, ainda, recursos financeiros (capital
financeiro) e intelectuais.
• Tecnologia: mais recentemente, tem sido destacada como outro fator de produção, aquele que
tende a melhorar a produtividade dos demais.
• Sociedade anônima: o capital social é dividido em ações que podem ou não ser transacionadas
livremente (nos mercados de balcão ou nas bolsas de valores). Os acionistas respondem apenas ao
preço das ações subscritas ou adquiridas.
Saiba mais
ABREU, E.; SILVA, L. Sistema financeiro nacional. São Paulo: Forense, 2017.
Existem outros tipos mais simples de organização societária, como é o caso das empresas ou
microempresas individuais (com apenas um proprietário), de pequeno porte.
20
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Em síntese, admite-se que o objetivo principal da empresa é a maximização da receita e, mais do que
isso, do lucro que deve proporcionar aos proprietários, acionistas, sócios etc.
Apesar de seu objetivo básico ser o lucro, há vários outros importantes perseguidos pela empresa, como:
Você pode estar se perguntando como podemos conhecer e analisar uma empresa, inclusive
compará-la com outras que atuem no mesmo ou em diferentes segmentos do mercado.
21
Unidade I
Para a análise de qualquer empresa, utilizam-se as informações contábeis, mas também outras de
cunho operacional e gerencial, para avaliar a situação e as perspectivas de atuação futura.
Por isso, a empresa se preocupa cada vez mais com a constituição de um sistema de informações
que possa, por exemplo, monitorar e, com isso, garantir o seu desempenho e dos seus administradores
e integrantes, de forma a subsidiar o processo decisório.
Informações
De origem
Interna Externa
Compreendem Compreendem
São internas as informações extraídas a partir dos registros e demonstrativos contábeis; expressas,
portanto, em valores monetários.
No conjunto das informações externas, existem aquelas que são divulgadas por jornais, revistas,
televisão e internet, e as que podem ser obtidas em visitas e contatos com os stakeholders da
própria empresa.
22
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Por mais completo que possa ser o sistema de informações, sempre haverá
[aquelas] que influenciam as decisões e que podem não constar de registro
formal. Por outro lado, em muitas organizações ainda existem líderes
que não transmitem a seus funcionários informações importantes para a
realização de suas atividades.
Definido o tipo de estruturação societária, o montante do capital a ser investido e os demais objetivos
sociais, cabe à empresa desenvolver as suas atividades operacionais.
Evidentemente, as atividades por ela executadas dependerão de seu tipo básico e ramo
de atuação, como:
As diversas contas que compõem o patrimônio da empresa podem ser inter-relacionadas, visando
ao provimento de informações relevantes sobre seu comportamento, tanto para os usuários internos
quanto externos.
De acordo com Fipecafi (2007) apud Carmona (2009, p. 25), “a estrutura de dados que a contabilidade
possui é fundamental para que ela atinja seu valor informativo para os diversos usuários”.
Várias demonstrações financeiras podem ser elaboradas a partir das informações contábeis. Figuram
entre os usuários das informações contábeis:
23
Unidade I
• Acionistas potenciais.
• Clientes.
• Instituições financeiras.
• Entidades de governo.
• Concorrentes.
• Administradores da empresa.
A figura a seguir mostra o diagrama de um sistema de informações contábeis a partir dos eventos
ocorridos na empresa.
Integralização de
capital
Demonstrações
Compra de financeiras
matéria‑prima
Dados para imposto
Produção de bens de renda e outras
informações fiscais
Pagamentos a
fornecedores, Interpreta Relatórios de custos
empregados e de produção
governos Calcula
Dados para
Vendas dos produtos Classifica orçamento de
receitas, despesas,
Recebimento das Registra custos e empréstimos
vendas
Processa Acompanhamento
Compra de de planos e
equipamentos investimentos e
financiamentos
Financiamentos de
ativos permanentes Diversos outros
relatórios gerenciais
Diversas outras
operações
24
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Saiba mais
Ativo R$ Passivo R$
Circulante 30.000,00 Circulante 15.000,00
Realizável a longo prazo 1.000,00 Exigível a longo prazo 0,00
Permanente 20.000,00 Patrimônio líquido: 36.000,00
– Capital 32.000,00
– Lucros acumulados 4.000,00
Total 51.000,00 Total 51.000,00
O patrimônio é mensurado pela diminuição, em relação aos seus bens e direitos (ativos), dos
compromissos e das obrigações (passivo com terceiros), expressos monetariamente.
Ross, Westerfield e Jordan (2010) apud Carmona (2009, p. 27) destacam que “a estrutura das
informações contábeis é uma maneira conveniente de organizar e resumir o que a empresa possui (seus
ativos), o que ela deve (seus passivos) e a diferença entre os dois (patrimônio líquido)”.
25
Unidade I
O BP possui dois lados: no lado esquerdo, de quem o enxerga frontalmente, estão os ativos; no
lado direito, os passivos e o capital dos acionistas. Assim, o BP declara o que a empresa possui e como
ela é financiada.
Observação
Balanço patrimonial
Ativo circulante Passivo circulante
Passivo não circulante
Ativo não circulante
Patrimônio líquido
Os ativos são formados pelos bens e direitos da empresa. No passivo, estão registrados os relacionados
com as diversas fontes de recursos obtidos pela empresa, contraindo dívidas com terceiros ou com os
próprios sócios.
O patrimônio líquido (PL) – isto é, a dívida que a empresa mantém com os próprios sócios, proprietários
e acionistas – é, então, descrito algebricamente como:
PL = A – P
26
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
A: Ativo
Tanto o ativo quanto o passivo segregam os valores de curto prazo (ou seja, realizáveis ou vencíveis
até um ano, após a data do BP, denominados circulantes) e os de longo prazo, ou, ainda, de prazo
indefinido. O que, então, pertence aos sócios e proprietários da empresa?
O PL representa, no BP, o que pertence aos sócios, proprietários, acionistas. É o que resta aos acionistas
após a empresa ter quitado as suas obrigações.
Resumindo, o ativo mostra onde e como a empresa aplicou os recursos financeiros; e o passivo, de
onde estes vieram (quais foram suas fontes de captação).
Um exemplo simples, como o revelado na tabela anterior, já permite que se consiga um número
significativo de informações da empresa que se pretende analisar. Vê-se, por exemplo, que o financiamento
dos ativos (isto é, dos investimentos, que totalizam 51 mil reais) é feito exclusivamente com capital
próprio (36 mil reais), não havendo financiamentos de longo prazo. Mas observe que a empresa se vale
de 15 mil reais (isso é, de capital de terceiros), que é um valor de curto prazo, necessário à cobertura de
seus compromissos com fornecedores, empregados, governo etc.
O DRE, outro importante relatório contábil, apresenta como a empresa alcançou o resultado em
cada ciclo (normalmente, ano) de atividades, finalizando-o com lucro ou prejuízo.
É fácil concordar que o DRE é essencial para a compreensão do desempenho financeiro de uma empresa.
A tabela a seguir mostra um exemplo de DRE, em reais (R$), em um determinado ano, para uma
empresa hipotética.
27
Unidade I
Esse demonstrativo nos permite de pronto concluir, além do resultado positivo da empresa (lucro)
no período, que ela foi financiada por recursos próprios. Veja que não houve a incidência de despesas
financeiras, que denunciam financiamentos junto a terceiros.
Outro relatório contábil de grande importância para a verificação e a análise da empresa é o DFC,
que permite o acompanhamento do caixa (liquidez) da empresa, registrando:
• Eventos operacionais.
• Operações de investimento.
28
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
É importante ressaltar que os demonstrativos financeiros dificilmente refletem uma posição atual,
mas de períodos passados da empresa.
Também deve ser observado que eles não apresentam valores não monetários (não quantificáveis), como:
• Motivação, experiência e conduta, pessoal e profissional, de quem atua na empresa, como é o caso
dos administradores e funcionários.
Lembrete
Deve-se, pois, procurar conhecer o máximo possível os aspectos relacionados com as informações
que auxiliam a compreender a empresa.
Com o intuito de conhecer melhor e, assim, tirar conclusões mais precisas quanto a determinada
empresa, são comumente utilizados, e de forma intensa, os dados disponíveis nos principais relatórios
contábeis, antes mencionados, e, também, outras informações para estabelecer índices e poder, por
exemplo, efetuar as oriundas de outras fontes. O que se pretende é apurar:
• Condições de liquidez.
29
Unidade I
• Rentabilidade.
• Valor de mercado.
Como podemos perceber, tais índices cobrem muitas informações sobre a empresa e classificam-se
entre as medidas mais tradicionais de avaliação da empresa, que são:
De pronto, é possível destacar o fato de os resultados apresentados por esses índices representarem
dados extraídos do passado, isto é, do momento que os demonstrativos contábeis foram emitidos.
Por isso, muitas informações podem perder atualidade quando chegam às mãos dos analistas,
encarregados do estudo da empresa.
Ademais, aponta Carmona (2009, p. 29): “Empresas que exploram atividades econômicas vinculadas
ao setor industrial podem possuir padrões patrimoniais diferentes de entidades de atividade econômica
vinculada ao setor comercial ou ao setor de serviços”.
Portanto, pode ser enfatizado o uso de diferentes tipos de indicadores, consoante o tipo, as
características de atuação e até o porte da empresa em análise. Há situações em que os administradores
e os analistas definem índices próprios para o acompanhamento e o controle da empresa, quando esta
desempenha funções muito específicas no mercado.
A escolha dos índices mais adequados para a medição da empresa vincula-se a um conjunto de
questões que devem ser observadas, a priori:
• O que pode ser considerado um valor alto ou baixo – bom ou ruim – para determinado índice?
Para o estudo dos indicadores, utilizaremos as informações que lhes servem de fonte, disponíveis no
BP da empresa Sensação, com os valores verificados nos anos de 2017 e 2018, a partir da adaptação dos
modelos apresentados em Silva (2012).
De forma a melhorar a legibilidade dos dados, os valores são expressos em milhares (R$).
31
Unidade I
Para este estudo, utilizaremos, também, as informações disponíveis no DRE da empresa Sensação
nos anos de 2017 e 2018, com a adaptação dos modelos apresentados em Silva (2012). Os valores
são expressos em milhares (R$). Também é expressa em milhares de unidades a quantidade de ações
negociadas pela empresa.
2017 2018
R$ (mil) R$ (mil)
Receita operacional bruta 974,60 967,80
Impostos incidentes sobre vendas -231,00 -232,00
Renda operacional líquida 743,60 735,80
Custo dos produtos vendidos -521,00 -542,00
Lucro bruto 222,60 193,80
Despesas operacionais
Vendas -85,40 -76,50
Gerais e administrativas -42,90 -46,00
Honorários da administração -1,00 -1,00
Despesas de depreciação -10,00 -10,00
Outras receitas e despesas -1,00 -1,00
Resultado antes das receitas e despesas financeiras 82,30 59,30
Receitas (despesas) financeiras líquidas -3,60 -7,80
Resultado antes dos tributos sobre o lucro 78,70 51,50
Imposto de Renda e Contribuição Social -31,48 -20,60
Lucro líquido do exercício 47,22 30,90
Quantidade de ações emitidas pela empresa 100,00 100,00
Lucro líquido por ação 0,472 0,309
O índice de liquidez é um dos aspectos mais significativos quando se procura estudar determinada
empresa. O que se diz é que não basta a empresa ser rentável, mas deve dispor, também, de caixa
adequado para suprir seus compromissos com relação à manutenção de valores de curto prazo. Isso é
ainda mais importante na análise de bancos e instituições financeiras, cuja operação depende de suas
condições de liquidez, que podem “pôr por terra” os bons e até excelentes resultados, em termos de
rentabilidade nos respectivos períodos de atuação.
A análise das condições de liquidez é obtida a partir dos valores inscritos em seu BP nos grupos
de circulante, tanto no ativo quanto no passivo. Nos grupos do circulante, classificados no ativo, e, de
outro lado, no passivo, são englobados os valores de direitos e obrigações vencíveis em curto prazo
32
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
(até o final do exercício subsequente). Quanto maior for o valor, melhor será a condição retratada pelo
respectivo índice.
São variados os índices de liquidez, mas comumente empregados nas análises de empresas à medida
que determinados são ou não considerados para a sua formação.
Apresentamos, neste tópico, os mais adotados por quem deseja conhecer e analisar a
liquidez de uma empresa.
Compara os grupos circulante e realizável a longo prazo do ativo com os grupos circulante e exigível
a longo prazo do BP:
AC + RLP
ILG =
PC + ELP
onde:
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, com base em seus demonstrativos contábeis
mostrados anteriormente e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 6
2017 2018
206.20 + 119.13 325.33 216.30 + 104.20 320.50
ILG = = ILG = =
196.70 + 126.10 322.80 180.40 + 111.20 291.60
33
Unidade I
Esse índice será considerado bom caso o ILG seja superior ou igual a 1.
AC
ILC =
PC
onde:
Neste caso, o que se procura é a razão entre os valores do ativo e do passivo circulante. O ativo
circulante compreende as disponibilidades (também conhecidas como caixa e equivalentes de caixa),
os direitos realizáveis no exercício social subsequente e as aplicações de recursos em despesas do
próximo exercício.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, revelados pelos demonstrativos contábeis
anteriormente apresentados e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 7
2017 2018
206.20 216.30
ILC = = 1,0483 ILC = = 1,1990
196.70 180.40
Este é, talvez, o índice de mais fácil apuração e revela, também, um aumento da liquidez da empresa
em 2018, comparativamente a 2017.
O índice de liquidez corrente não deve ser confundido com o valor obtido a título de capital
de giro líquido (CGL), que é representado pela diferença entre os montantes de ativo circulante e
passivo circulante:
CGL = AC - PC
34
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
onde:
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, considerando que os valores são expressos no BP
em milhares de reais, serão:
Tabela 8
2017 2018
CGL = 206.20 - 196.70 = R$ 9.50 CGL = 216.30 - 180.40 = R$ 35.90
O CGL – também conhecido como capital circulante líquido (CCL) – indica o valor total da
disponibilidade financeira para suportar seus compromissos de curto prazo.
Espera-se um resultado positivo, que reflita a folga de liquidez para a empresa arcar com seus
compromissos, evitando tornar-se inadimplente.
AC − E
ILS =
PC
onde:
E: estoques.
35
Unidade I
Este indicador é calculado com a redução do total do ativo circulante do que se mantém em estoques.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir dos dados extraídos do seu BP e
considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 9
2017 2018
206.20 − 73.70 132.50 216.30 − 67.10 149.20
ILS = = ILS = =
196.70 196.70 180.40 180.40
D
ILI =
PC
onde:
Este indicador considera o total das disponibilidades, isto é, o que tem conversibilidade
imediata em dinheiro, como é o caso da conta caixa e de outras que podem imediatamente ser
transformadas em dinheiro.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir das informações de seu BP e considerando
que os valores são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 10
2017 2018
19.70 53.80
ILI = = 0,1002 ILI = = 0,2982
196.70 180.40
36
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Os cálculos exemplificados para a empresa Sensação, nos anos de 2017 e 2018, indicam que, de
forma geral, quanto maior for o respectivo índice de liquidez, melhor será a situação financeira da
empresa. Naturalmente, esse índice, assim como os demais relacionados com liquidez (mas não só com
ela), pode ser comparado com os de outros períodos operacionais da mesma empresa ou com os de
outras empresas do mesmo segmento de mercado.
Indicam a avaliação do perfil da estrutura financeira de uma empresa para o financiamento de suas
atividades operacionais e administrativas. Possibilitam o confronto dos capitais obtidos junto a terceiros
com o que foi aportado ou está à disposição dos acionistas. Quanto menor for o valor, melhor será o
resultado retratado pelo índice.
Ross et al. (2013) apud Carmona (2009) definem os níveis de endividamento como os que analisam
a capacidade de a empresa liquidar as obrigações, principalmente de longo prazo.
PE
IEC =
PL
onde:
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir dos números expressos em seu BP e
considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 11
2017 2018
126.00 111.20
IEC = = 0,3691 IEC = = 0,3343
341.33 332.60
37
Unidade I
PE
ID =
AT
onde:
Neste caso, o passivo exigível (capital de terceiros) é comparado com todos os ativos da empresa.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir dos valores constantes em seu BP e
considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 12
2017 2018
126.00 111.20
IDCP = = 0,1898 IDCP = = 0,1781
664.03 624.20
PC
IDcp =
AT
onde:
Para este indicador, é expressa a relação entre o passivo circulante (dívida com terceiros, mas apenas
de curto prazo) contra todos os ativos da empresa.
38
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, com base nos registros do seu BP e considerando
que os valores são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 13
2017 2018
196.70 180.40
ID = = 0,2962 ID = = 0,2890
664.03 624.20
LAJIR
ICJ =
Juros
onde:
LAJIR: lucro da empresa antes da dedução dos juros e dos impostos devidos sobre o resultado do período.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, considerando que os valores em seu BP e em seu
DRE são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 14
2017 2018
82.30 59.30
ICJ = = 22,8611 ICJ = = 7,6026
3.60 7.80
Quanto maior for esse índice, melhor será a condição de pagamento de juros contratuais pela
empresa. Verifica-se uma significativa piora da empresa Sensação em 2018, comparativamente ao ano
anterior, no que tange a essa medição.
Ainda no conjunto dos indicadores do endividamento da empresa, este pode ser obtido
com a formulação:
39
Unidade I
LAJIR + Depreciação
ICC =
Juros
onde:
LAJIR: lucro da empresa antes da dedução dos juros e dos impostos devidos sobre o resultado do período;
Aqui, leva-se em conta a capacidade da empresa no pagamento dos juros contratuais de suas
obrigações, considerando o respectivo fluxo de caixa (entrada e saída de recursos financeiros).
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir dos valores expressos em milhares de reais
no seu BP e DRE, serão:
Tabela 15
2017 2018
82.30 + 10 92.30 59.30 + 10 69.30
ICC = = ICC = =
3.60 3,60 7.80 7.80
Observação
De forma geral, quanto menor for o respectivo índice de endividamento, com exceção dos dois
últimos apresentados, melhor será a situação financeira da empresa. Novamente, esse índice pode ser
comparado com os de outros períodos operacionais da própria empresa e/ou com os de outras empresas
do mesmo ou até de diferentes segmentos de mercado.
40
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Brigham e Houston (2001) apud Carmona (2009, p. 37) definem os índices de rentabilidade como
aqueles que mostram os efeitos combinados de liquidez, gestão de ativos e endividamento sobre os
resultados operacionais.
LL
RsA =
AT
onde:
Com ele, consegue-se obter a taxa de retorno de todo o capital empregado na empresa mediante a
razão entre o lucro líquido (LL) obtido pela empresa contra os ativos totais, no respectivo período.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir do que é apresentado pelo seu BP e DRE,
e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 16
2017 2018
47.22 30.90
RsA = = 0,0711 RsA = = 0,0495
664.03 624.20
Comenta Carmona (2009, p. 38): “Independentemente do tamanho das empresas, esse índice
representa um dos quocientes de eficiência mais conhecidos e utilizados pelos usuários internos e
externos das informações contábeis”.
41
Unidade I
LL
RsCP =
PL
onde:
Agora, o que se mede é a taxa de retorno do capital próprio, com base no que foi aportado e retido
em lucros anteriores, cujo total pertence aos sócios e acionistas da empresa.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, no BP e no DRE, a partir dos valores registrados e
expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 17
2017 2018
47.22 30.90
RsCP = = 0,1383 RsCP = = 0,0929
341.33 332.60
Entre os indicadores que procuram medir os resultados operacionais contra os lucros obtidos no
período, a margem líquida é obtida com a formulação:
LL
MgL =
V
onde:
Aqui, é feita a comparação entre o lucro líquido obtido pela empresa e o total das vendas no
respectivo período.
42
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Para efeito de cálculo deste índice, consideramos como V o total da receita líquida, expresso no DRE
de cada período/ano.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, considerando que os valores são expressos em
milhares de reais, serão:
Tabela 18
2017 2018
47.22 30.90
MgL = = 0,0635 MgL = = 0,0420
743.60 735.80
De forma geral, quanto maior for o respectivo índice de rentabilidade (lucratividade), melhor será
a situação financeira da empresa. Naturalmente, esse índice também pode ser comparado com os de
outros períodos operacionais da mesma empresa ou com os de outras empresas do mesmo (ou até
de diferente) segmento de mercado.
Lembrete
Este grupo de índices é usado, basicamente, para a medição dos níveis de atividades da empresa,
relacionando diversos grupos de contas, operacionais e comerciais. Visam compreender como a
instituição vem realizando suas operações.
V
GE =
Estoques
43
Unidade I
Trata-se de um índice que é apurado utilizando informações tanto do BP quanto do DRE da empresa.
Com os valores expressos em milhares de reais, os cálculos deste índice para a empresa Sensação serão:
Tabela 19
2017 2018
743.60 735.80
GE = = 10,0896 GE = = 10,9657
73.70 67.10
Enquanto o índice imediatamente anterior é relacionado com os estoques, este mede a velocidade
com que a empresa reinicia o ciclo de vendas de seus produtos e serviços. Usa-se a formulação a seguir:
V
GCR =
CaR
Para efeito de cálculo deste índice, novamente consideramos como V o total da receita líquida,
expresso no DRE de cada período/ano, e o total de contas a receber, deduzido dos valores das
duplicatas/títulos descontados junto ao sistema financeiro, em cada período/ano, demonstrado no BP.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, expressos em milhares de reais, serão:
Tabela 20
2017 2018
743.60 743.60 735.80 735.80
GCR = = GCR = =
(93.00 − 14.20) 78.80 (104.20 − 30.00) 74.20
44
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
O prazo médio de recebimento de vendas (PMR ou PMRV) é obtido calculando-se o tempo médio
que uma empresa leva para receber de seus clientes aquilo que lhes vende, como bens ou serviços.
Usa‑se a formulação a seguir:
V
PMeR =
GCR
onde:
V: vendas;
O equilíbrio entre suas contas a pagar e a receber é importante para a constatação da saúde do
capital de giro da empresa.
Sabemos o quanto é complexo manter os números na “ponta da língua” e, mais do que isso, entender
e transformar a montanha de informações que é gerada em dia em dados para melhorar a administração.
O índice mede o número de dias necessários, no período, para cobrar as contas a receber e poder
reiniciar o processo operacional da empresa.
Carmona (2009, p. 40) comenta: “o objetivo deste indicador é ilustrar a velocidade com que a
empresa está habilitada a cobrar pelas vendas realizadas”.
360dias xDuplicatasreceber
PMRV =
Vendasbrutas
Os cálculos deste índice, em número de dias, para a empresa Sensação, cujos valores são expressos
em milhares de reais, adotando o ano comercial de 360 dias, serão:
Tabela 21
2017 2018
360dias x93,00 33.480,00 360dias x104,20 37.512,00
PMRV = = 35 PMRV = = 39
974,60 974,60 967,80 967,80
45
Unidade I
Veja que houve um aumento desse prazo quando se comparam os exercícios de 2017 e
2018 da empresa.
Agora, vamos analisar o tempo que a empresa dispõe para pagar suas compras junto aos diversos
fornecedores de matéria-prima e/ou produtos e serviços:
360dias xFornecedores
PMPC =
Compras
onde:
Os cálculos do número de dias de pagamento de compras para a empresa Sensação, cujos valores
são expressos em milhares de reais, e considerando o ano comercial de 360 dias, serão:
Tabela 22
2017 2018
360dias x53,20 19.152,00 360dias x44,30 15.948,00
PMPC = = 37 PMPC = = 30
521,00 521,00 542,00 542,00
Este índice revela, em média, quantos dias a empresa demora para pagar suas compras. Foi adotado,
na fórmula, o ano comercial de 360 dias. Como aproximação do total de compras, foi utilizado o valor
(no DRE) em custo dos produtos vendidos.
360dias xEstoques
PMRE =
Custovendas
Os cálculos do número de dias que se renovam os estoques para a empresa Sensação, admitindo o
ano comercial de 360 dias e os valores expressos em milhares de reais, serão:
46
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Tabela 23
2017 2018
360dias x73,70 26.532,00 360dias x67,10 24.156,00
PMRE = = 51dias PMRE = = 45dias
521,00 521,00 542,00 542,00
Este índice revela, em média, quantos dias a empresa demora para vender seu estoque.
Os índices ora descritos, aplicáveis às companhias abertas, relacionam o preço das ações, praticado no
mercado, para a respectiva empresa (por exemplo, em bolsas de valores) com as informações refletidas
em seus valores contábeis.
Saiba mais
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
Brigham e Houston (2001) definem os índices de valor de mercado como aqueles que relacionam o
preço das ações da empresa aos seus lucros e ao valor patrimonial da ação.
Observação
Você deve ter percebido que dificilmente há uma igualdade entre esses
dois valores, considerando as frequentes alterações das cotações dos papéis
em negociação nos mercados de capitais.
47
Unidade I
Saiba mais
Revela a relação entre o preço de mercado das ações da empresa (P), fazendo a comparação com os
lucros (L) ocorridos no período em análise:
P
IPL =
L
Para efeito de cálculo deste índice, consideremos que a cotação média do preço da ação da empresa
no mercado é, apenas a título de exemplo, de R$ 1.000,00 em 2017 e R$ 12.000,00 em 2018. Admitindo
que os valores são expressos em milhares de reais, os cálculos deste índice para a empresa Sensação serão:
Tabela 24
2017 2018
1.000 12000
IPL = = 21,18 IPL = = 0.3883
47.22 30.90
Procura mostrar a relação entre o valor de mercado da empresa (M) – isto é, o valor total de suas
ações negociadas nos mercados de capitais – e o valor expresso em sua contabilidade (VC):
48
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
M
IVM =
VC
Para efeito de cálculo deste índice, consideremos que a cotação média do preço da ação da empresa,
no mercado, é de R$ 10,00 em 2017 e R$ 12,00 em 2018. Admitimos como valores contábeis das ações
o que está contabilizado como capital social em 2017 e 2018.
Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, cujos valores são expressos em milhares
de reais, serão:
Tabela 25
2017 2018
(100x10.00) 1.000,00 (100x12.00) 1.200,00
IVM = = IVM = =
(304.7 /100) 3.0470 (304.70 /100) 3.0470
Neste caso, quanto maior for o índice, melhor será a percepção dos investidores sobre a situação
econômico-financeira da empresa.
Lembrete
Além dos índices financeiros, a análise de uma empresa costuma se valer das técnicas de análise
vertical (AV) e análise horizontal (AH) de valores das demonstrações contábeis (normalmente, BP e DRE).
49
Unidade I
Não existe uma legislação específica para definir a utilização e as formas de análise (vertical e
horizontal). Na verdade, trabalha-se com práticas consagradas e aprovadas pelo mercado, tanto
brasileiro quanto mundial.
• À apuração do lucro (ou prejuízo) do exercício, com base na receita bruta ou receita líquida (no DRE).
valoritem
AVi = (100)
valorreferência
Como exemplo, analisemos o BP da empresa Sensação nos anos de 2017 e 2018, que contém, para
cada conta e subgrupo, tanto do ativo quanto do passivo, os valores em milhares de reais, permitindo
os cálculos dos índices de AV:
50
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Ativo não circulante R$ (mil) AV % R$ (mil) AV % Passivo não circulante R$ (mil) AV % R$ (mil) AV %
Total do realizável a
longo prazo 119,130 17,940 104,500 16,741
Investimentos
Patrimônio líquido
Total do patrimônio
líquido 341,330 51,403 332,600 53,284
Total do ativo 664,030 100 624,200 100 Total do passivo 664,030 100 624,200 100
E assim se procede com relação aos demais valores do demonstrativo, sempre adotando como
referência o total do ativo ou do passivo.
51
Unidade I
com os de outras empresas, principalmente que atuem no mesmo segmento de operações, considerando
eventuais diferenças de porte, região geográfica e outros fatores distintivos.
Outro importante demonstrativo contábil que pode ser utilizado na AV é o DRE, visando identificar a
representatividade de cada um dos seus itens/valores em relação à receita líquida de vendas, por exemplo.
Como exemplo, analisemos o DRE da empresa Sensação nos anos de 2017 e 2018, cujos valores são
expressos em milhares de reais e permitem a apuração, para cada item, dos índices de AV:
2017 2018
r$ (mil) AV % R$ (mil) AV %
Receita operacional bruta 974,60 131,07 967,80 131,53
Impostos incidentes sobre vendas -231,00 -31,07 -232,00 -31,53
Renda operacional líquida 743,60 100,00 735,80 100,00
Custo dos produtos vendidos -521,00 -70,06 -542,00 -73,66
Lucro bruto 222,60 29,94 193,80 26,34
Despesas operacionais
Vendas -85,40 -11,48 -76,50 -10,40
Gerais e administrativas -42,90 -5,77 -46,00 -6,25
Honorários da administração -1,00 -0,13 -1,00 -0,14
Despesas de depreciação -10,00 -1,34 -10,00 -1,36
Outras receitas e despesas -1,00 -0,13 -1,00 -0,14
Resultado antes das receitas e despesas financeiras 82,30 11,07 59,30 8,06
Receitas (despesas) financeiras líquidas -3,60 -0,48 -7,80 -1,06
Resultado antes dos tributos sobre o lucro 78,70 10,58 51,50 7,00
Imposto de renda e contribuição social -31,48 -4,23 -20,60 -2,80
Lucro líquido do exercício 47,22 6,35 30,90 4,20
Quantidade de ações emitidas pela empresa 100,00 100,00
Lucro líquido por ação 0,472 0,309
Cabe um alerta no que tange à análise dos resultados, em função de ocorrências de inflação e seu
impacto na evolução dos preços.
Em tempos não inflacionários, as receitas de vendas demonstram com mais exatidão quanto a
empresa vendeu no respectivo período. Contudo, se forem significativos os impactos inflacionários, isso
pode distorcer as informações apontadas no demonstrativo, dada a constante alteração de preços, por
exemplo, entre os meses do ano (início e final).
52
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Esta técnica possui características mais voltadas à análise dos resultados ao longo do tempo,
diferentemente do que foi revelado na AV.
Este indicador permite que se examine a evolução histórica de cada rubrica contábil das respectivas
demonstrações (BP e DRE).
Investimentos
Empresas controladas 165,200 100 137,700 83,354
Outros investimentos 1,100 100 1,600 145,455
Total de investimentos 166,300 100 139,300 83,764
Imobilizado líquido 171,100 100 154,100 90,064
Depreciação acumulada -1,000 100 -2,000 200,000
Intangível 1,300 100 10,000 769,231
Total do ativo não Total do passivo não
circulante 457,830 100 407,900 89,094 circulante 126,000 100 111,200 17,815
Patrimônio líquido
Capital social 304,700 100 304,700 48,814
Reserva de capital 3,400 100 0,000 0,000
53
Unidade I
Nesse exemplo, adotou-se como base de comparação (= 100%) os valores de cada item/conta em
2017 e 2018. Adota-se, usualmente, o período mais antigo, considerando todos os seus valores como
base 100, e, a partir daí, estabelece-se a comparação para exercícios posteriores.
Usa-se a formulação:
(valoritem )20Xn
AH20Xn = [ ]100
(valoritem )20X1
Faz-se a comparação entre o valor de determinado item no período analisado e o valor que ele
apresentou no período-base da série.
2017 2018
R$ (mil) AH % R$ (mil) AH %
Receita operacional bruta 974,60 100,00 967,80 99,30
Impostos incidentes sobre vendas -231,00 100,00 -232,00 100,43
Renda operacional líquida 743,60 100,00 735,80 98,95
Custo dos produtos vendidos -521,00 100,00 -542,00 104,03
Lucro bruto 222,60 100,00 193,80 87,06
Despesas operacionais
Vendas -85,40 100,00 -76,50 89,58
Gerais e administrativas -42,90 100,00 -46,00 107,23
Honorários da administração -1,00 100,00 -1,00 100,00
Despesas de depreciação -10,00 100,00 -10,00 100,00
Outras receitas e despesas -1,00 100,00 -1,00 100,00
Resultado antes das receitas e despesas financeiras 82,30 100,00 59,30 72,05
Receitas (despesas) financeiras líquidas -3,60 100,00 -7,80 216,67
Resultado antes dos tributos sobre o lucro 78,70 100,00 51,50 65,44
Imposto de renda e contribuição social -31,48 100,00 -20,60 65,44
Lucro líquido do exercício 47,22 100,00 30,90 65,44
Quantidade de ações emitidas pela empresa 100,00 100,00
Lucro líquido por ação 0,47 0,31
54
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Assim, pode-se constatar a evolução do valor do item ao longo do tempo, ou seja, seu crescimento
(ou diminuição).
Comenta Silva (2012, p. 215): “Muitas vezes é importante saber o comportamento das vendas do
último ano em relação ao [...] anterior do que desenvolvermos uma série histórica mais longa”.
Naturalmente, a estabilidade monetária dos períodos deve também ser analisada, considerando
eventuais situações inflacionárias ou deflacionárias.
Analisando a tabela anterior, verifica-se que o índice de AH da receita operacional líquida (ROL) de
2017 para 2018 foi:
A receita operacional líquida para a empresa Sensação diminuiu 1,05% de 2017 para 2018, admitindo‑se
a inexistência da inflação.
Se, eventualmente, a inflação foi de 5% do primeiro para o segundo ano, precisamos deflacionar
esse último, para poder compará-lo com 2017:
735.80
ROL 2018 1,05 700.762
(100) = (100) = (100) = 94,24
ROL 2017 743.60 743.60
Considerando uma inflação entre os dois períodos em torno de 5%, a receita operacional líquida
diminuiu 5,76% entre os dois anos analisados.
55
Unidade I
Assim, com a AH, é possível acompanhar, por exemplo, o crescimento (ou a diminuição) das vendas
ou mesmo de outras receitas e despesas entre os períodos de análise, em função de aspectos como:
• Aumento (ou diminuição) das taxas de juros, recebidas ou pagas em operações financeiras.
A atribuição de um peso, para que se possa realizar uma análise comparativa entre cada um
dos índices estudados, permitirá uma melhor avaliação de seus resultados, melhorando os níveis de
decisões pela empresa.
Devemos, pois, ter em mente o fato de que uma análise com base em índices contábeis deve ser
completada por outras informações sobre o desempenho e as perspectivas de atuação da empresa e de
seus administradores.
Além do que já foi salientado, relacionado com o fato de se tratar de informações passadas, entre os
fatores que conduzem às imprecisões dos índices, podem ser citados:
• Possível tendência à obtenção de índices superiores aos que se verificam, em média, no respectivo
setor de atividades.
• Dificuldade de estabelecer padrões referenciais para que se possa julgar, com mais precisão, os
respectivos índices financeiros.
Ross et al. (2013) apud Carmona (2009, p. 45) consideram que “não há uma regra que seja útil para
a identificação do elenco de indicadores a serem analisados e que sirvam para o estabelecimento de
padrões para a análise e as comparações de empresas”.
• EBITDA.
• NOPAT.
• EVA.
2.9.1 EBITDA
EBITDA é um acrônimo da expressão em inglês Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and
Amortization. Usa-se como substituto, em português, o termo LAJIDA, representando lucros antes de
juros, impostos, depreciação e amortização.
Esse indicador é muito utilizado pelos estudiosos da situação da empresa e é extraído das informações
constantes do DRE.
O indicador, padronizado por instrução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), permite que se
conheça, de forma mais confiável, a performance operacional da empresa e, naturalmente, a comparação
de seus resultados com outras empresas do mesmo setor de atividades.
57
Unidade I
Assim:
Lucro operacional líquido = receita operacional líquida - (custos dos produtos vendidos +
despesas operacionais)
Para o cálculo do EBITDA, é necessário somar (reverter) ao lucro operacional valores referentes à
amortização e depreciação, inclusas nos custos e nas despesas operacionais.
Observação
Assim:
2.9.2 NOPAT
O indicador NOPAT (Net Operating After Taxes, em inglês, ou lucro operacional depois dos impostos)
leva em conta o impacto representado pelo desgaste do imobilizado da empresa e o imposto incidente
sobre o resultado operacional do período.
Esse indicador ainda não considera os custos de obtenção de capitais (próprios ou de terceiros), o
que é propiciado pela EVA.
2.9.3 EVA
58
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
Resumo
59
Unidade I
Exercícios
Questão 1. Em 2018, as ações de uma determinada empresa de capital aberto tiveram o preço
médio de R$ 52,40 (cinquenta e dois reais e quarenta centavos), valor 10% menor que o visto em 2019.
O lucro da corporação manteve-se constante em R$ 56.000,00 (cinquenta e seis mil reais) em ambos os
anos. A partir dos dados fornecidos, o índice de preço/lucro (IPL) de 2019 foi igual a:
A) 0,001.
B) 0,010.
60
FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS
C) 10,01.
D) 0,100.
E) 0,800.
A) Alternativa correta.
Justificativa: o acréscimo de 10% no preço médio da ação para 2019 leva o indicador (p) para R$ 58,22,
cuja divisão pelo lucro de R$ 56.000 é igual a 0,001.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: este valor é dez vezes maior que o correto para a conta proposta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: para que o valor da alternativa c estivesse correto, seria necessário que o lucro anual
da empresa fosse de aproximadamente R$ 5,60.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: para que o valor da alternativa c estivesse correto, seria necessário que o lucro anual
da empresa fosse de aproximadamente R$ 560,00.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: este valor é mais de 768 vezes maior que o correto da questão.
Questão 2. “[...] em geral, os analistas preferem essa medida [ebitda] ao invés da margem operacional,
pois ela exclui despesas financeiras e depreciação. O EBITDA (Earnings before Interest, Taxes, Depreciation
and Amortization) é a expressão em inglês para lucro antes dos impostos, depreciação e amortização.
Esse indicador é visto como uma aproximação do impacto das vendas no caixa da empresa, de forma
que a margem EBITDA fornece uma ideia de retorno em termos de dinheiro em caixa (Fórmula 2). Além
disso, é um número muito valorizado pelo mercado na avaliação de uma empresa, porque espelha o
desempenho da instituição levando em consideração somente os ganhos gerados por sua atividade
principal (Cavalcante & Associados, 2014)”
61
Unidade I
Quando o mercado precisa de uma análise acerca dos resultados após a inclusão das taxas e impostos,
um dos indicadores a ser usado pode ser:
A) EBITDA ajustado.
B) NOPAT.
C) EBITDA.
D) PMPC.
E) Índice preço/lucro.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: tal como o EBITDA, o indicador ajustado não incorpora os custos com impostos
nas suas análises.
B) Alternativa correta.
Justificativa: o NOPAT (Net operating profit after taxes) avalia o lucro operacional da empresa,
indicador que envolve a majoração dos números pelos impostos.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: o prazo médio para pagamento de compras (PMPC) envolve o cálculo do prazo de
pagamento dos insumos e produtos adquiridos pela empresa.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: o índice preço lucro (P/L) envolve a análise de outras questões que não estão ligadas à
inclusão ou não dos desembolsos com tributos.
62