Sermão de Santo António de Padre António Vieira

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Estrutura interna e externa da obra

Contextualização histórico-literária
Contexto histórico (em Portugal e no mundo)
Contexto literário (plano estético e artístico)
No seculo XVII estamos na época do Barroco, etilo dominado pela estética.
De gosto e de sensibilidade, predominou durante cerca de um século. Este
estilo manifestou-se na literatura, na pintura, na arquitetura, na música, na
culinária, no vestuário, no teatro, nas manifestações religiosas. Parte da
crise dos renascentistas, e gera uma forma diferente de ver o mundo, um
dualismo entre o espírito e a razão. E um estilo extravagante, exagerado (o
uso abusivo de adornos) uso de cores fortes e dourados, exuberantes
rendas.
A arte barroca manifesta-se em duas fases:
O cultismo- que corresponde à sobrecarga de ornamentos retóricos e
formais, com predomínio de troca de palavras, de imagens e construções.
Concetismo- consiste nos jogos de conceitos, entendidos como palavras de
engenho.

O apelo aos sentidos era determinante para o processo de indução do


individuo à ordem social, e a pregações eram um meio de penetrar na
consciência dos ouvintes. Vieira utilizou-as um estilo logico e vigoroso, com
virtuosismo barroco.
Os paradoxos e os efeitos persuasivos, a sedução dos seus
raciocínios e tom combativo tornam admirável a arte de António
Vieira.

Vida e obra do Padre António Vieira


Padre António Vieira, filho de Cristão Vieira Ravasco e de Maria de Azevedo,
nasceu a 6 de fevereiro de 1608. Em 1614 foi para o Brasil, onde estudou
num colégio jesuítas. Formou-se em Humanidades, exerceu a sua função
evangelizadora junto dos indígenas de uma aldeia, mais tarde voltou para a
capital para continuar a sua formação. Em 1624 acompanhou a invasão por
parte dos holandeses, descrevendo em relatórios e cartas as vitorias e as
derrotas portuguesas e pregando o valor da resistência. Estudou a língua
tupi-guarani. Foi ordenado Padre a 10 de dezembro de 1634. Regressou a
Lisboa, o seu talento começa a espalhasse pela cidade pregou na Capela
Real e foi nomeado pregador régio. Regressando outra vez para o Brasil
Padre António Vieira dedica-se às missões junto aos índios do Pará e do
Maranhão, assumindo um papel importante e ativo nos conflitos jesuítas e
colonos e defendeu ostensivamente os índios contra os interesses na
escravatura. António pregou o sermão de Santo António em 1654 e volta
para lisboa, mais uma vez volta para o Maranhão, foi expulso e embarcado
para a Lisboa. Foi perseguido e preso pela inquisição. Foi perdoado a 12 de
junho de 1668, partindo depois para Roma. Em 1697, terminou a revisão do
tomo XII dos seus Sermões. Morreu a 18 de julho de 1697, com 89 anos.

Objetivo da eloquência (docere, delectare,


movere)
Padre António Vieira segue os princípios da eloquência (arte do bem falar)
que pretende atingir os seguintes objetivos no público que é dirigido:
Docere – instruir e educar o auditório, função educativa.
Delectare – agradar e deleitar o auditório, através da argumentação, função
estética.
Movere – comover e persuadir o auditório, levando-o a mudar a sua postura,
função moralizadora.

Estratégias discursivas para atingir os


objetivos e as funções da eloquência
Docere Delectare Movere
 Citações e  Recursos  Discursos interpelativo do
exemplos bíblicos expressivos, auditório/ leitor, através de
 Citações de como a apóstrofes, interrogações
escritores da metáfora, a retóricas, frases exclamativas e
Antiguidade comparação, a imperativas.
Clássica imagem, a  Recursos a argumentos de
alegoria, os autoridade (citações de autores
trocadilhos, as de referência e de frases
antíteses, entre bíblicas).
outros

Visão global e estrutura argumentativa


Este sermão foi pregado dia 13 de junho de 1654, 13 de junho dia que se
celebra Santo António.
O “sermão de Santo António” é uma obra reconhecida da literatura
portuguesa, cuja mensagem se matem intemporal, a sua leitura contribui
para percebermos e conhecermos de certa forma o passado (e época em
que foi escrito).
Os sermões eram preferidos oralmente nos púlpitos das igrejas (temos
algumas marcas de um discurso oral na obra), partindo de palavras bíblicas,
com o intuito de espalhar a palavra de Deus e de moldar comportamento.
Os oradores normalmente partiam de um conceito predicável, isto é uma
citação bíblica, que depois vai gerar o desenvolvimento de argumentos com
o objetivo de transmitir a verdade e convencer o auditório.
O sermão de Vieira é claramente um discurso de natureza argumentativo,
que pretende convencer o interlocutor, baseando-se numa tese.
Padre António Vieira escreveu inúmeros sermões sendo o mais conhecido “O
sermão de Santo António” em, Luís de maranhão, no Brasil, e três dias
depois vem para Portugal e defende os nativos do Maranhão que eram
violentamente explorados e escravizados pelos colonos.
Durante esta Obra Vieira inspira-se no Santo António, que metaforicamente
pregou aos peixes, Vieira construiu então a sua obra a defender os índios
como se estivesse a pregar aos peixes.
O sermão de Santo António e uma alegoria, uma vez que os peixes são uma
metáfora para os homens, cujos vícios e defeitos o orador pretende alertar o
auditório e talvez corrigir os sues comportamentos, através de um discurso
argumentativo.
O discurso deste sermão está estruturado em seis capítulos estrutura
externa, que se desenvolve de forma logica em partes a estrutura interna.

Organização do discurso do “Sermão de Santo António”


Estrutura Estrutur Estrutura argumentativa
interna a
Externa
 Contextualização do sermão.
 Definição do tema: evidencia da corrupção. Apresentação do
Introdução

Capítulo I

conceito predicável: “Vos estis sal terrae” em defesa dos índios.


Exórdio

 Exposição das partes que compõem o sermão.


 Elogio e homenagem a Santo António; apelo à celebração do seu dia
e à imitação das suas práticas por ser um modelo a seguir.
Explicação do título da obra.
 Invocação a Senhora do Mar
Exposição do plano e das partes que compõem o sermão (ideias a
defender, usando a alegoria e o exemplo)
Desenvolvimento

Louvor das virtudes dos peixes em geral


Confirmação
Exposição e

Capítulo II

 Características elogiadas:
 ovem e não falam;
 são obedientes, atentos e devotos;
 comportam-se de maneira diferente dos homens;
 Esta referência às virtudes dos peixes sugere, por inferência, os
defeitos dos homens (oposição), à exceção de Santo António, que
evidencia as qualidades atribuídas aos peixes (analogia).
Louvor das virtudes dos peixes em particular
 Características de peixes que merecem elogios:
 Peixe Tobias (o poder curativo da cegueira e o afastamento dos
demónios);
Capítulo III

 Rémora (a persistência);
 Torpedo (o poder persuasivo);
 Quatro-olhos (a capacidade de distinção entre o bem e o mal);
 No contexto deste elogio ressalta a analogia com Santo António:
 curava os ouvintes da cegueira e afastava os demónios;
 como pregador, orientava e indicava o caminho correto aos homens;
 fazia tremer os homens, convertendo-os;
 alertava os homens para a existência do céu e do inferno;
Repreensão dos vícios dos peixes em geral
Confirmação

Capítulo IV

 Vícios de peixes que merecem repreensões:


 comem-se uns aos outros, e os maiores comem os mais pequenos;
 cegueira conduz à perdição;
 Por analogia os vícios atribuídos aos peixes referem-se aos
comportamentos dos homens
Repreensão dos vícios dos peixes em particular
 Vícios de peixes que merecem ser censurados; Roncadores (arrogância e
soberba);
 Voadores (oportunismo e parasitismo)
Capítulo V

 Pregadores (ambição e presunção);


 Polvo (falsidade, hipocrisia e traição)
 Por oposição a estes vícios dos peixes, Santo António:
 evidenciava humildade, apesar de ser sábio;
 ligou-se a Cristo e Cristo a ele;
 apesar da sua sabedoria, que lhe daria asas para subir, encolheu-as
para desce;
 foi um exemplo de candura, sinceridade, bondade e verdade.
 Exortação/apelo ao auditório para pôr em prática os que ouviam.
Conclusã

Peroraçã

Capítulo

Comparação do orador com os peixes, assumindo-se como pecador.


 Enaltecimento dos peixes.
VI
o

 Incitamento a que louvem e respeitem Deus, pois, ao contrário dos


homens, eles não o ofendem.

Interação persuasiva e exemplaridade


Padre António Vieira era um mestre no uso das palavras com intenção
persuasiva, utilizando-a sempre num discurso vivo e mobilizador.
São utilizados diversos tipos de argumentos:
Argumentos de autoridade- recuso às ideias de alguém que é um
especialista no assunto abordado, exemplo de citações “Pois isso Moisés…”
capítulo II linha 24, “Falando dos peixes Aristóteles…” capitulo II linha 29.
Argumentos universais- saberes universalmente aceites;
Argumentos de singularidade- apresentação de alguém pela sua
singularidade, pelas suas características únicas;
Argumento experienciais- recurso a experiências já vividas;
Argumentos dedutivos- recurso a particularização;
Argumentos indutivos- recurso a generalização;
Argumentos por analogia- semelhanças ou aproximações;
Argumentos históricos- tradições e experiências históricas;
Argumentos proverbiais ou de sabedoria popular – citação au “Vox populi”;
Argumentos exemplares- apresentação de comportamento, de exemplos
virtuosos;

Critica social e alegoria

António Vieira, ao longo da obra utiliza uma linguagem figurativa e recursos


expressivos, para criar um discurso que seja persuasivo.
No discurso figurativo estão contidos a alegoria, a metáfora e a
comparação.
Símbolos associados a metáforas e comparações são os peixes como
representação da sociedade e o sal com representação dos pregadores e da
Doutrina.
Metáfora: Vieira compara os peixes à comunidade humana, sugerindo que,
apesar de serem criaturas simples, têm qualidades que os humanos
deveriam imitar. Por exemplo, ao falar sobre a pureza dos peixes, ele os usa
como símbolo da virtude. Muitas vezes ao longo da obra as características
dos peixes estão associadas a maus comportamentos humanos e os
diversos vícios. “O polvo com aquele seu czz”
2. Aliteração: Em trechos onde repete sons, como em “peixes que
pugnaram”, a sonoridade ajuda a criar um ritmo envolvente, enfatizando a
urgência da mensagem.
3. Anáfora: Ele utiliza repetições, como em “Vós, peixes, que…”,
ao longo do texto, para reforçar a chamada à atenção dos ouvintes e criar
um padrão que capta o interesse.
4. Personificação: Vieira trata os peixes como se fossem capazes
de ouvir e entender a sua mensagem, como quando se refere a eles como
“ouvintes”, implicando que têm uma sabedoria que os humanos ignoram.
5. Antítese: Um exemplo claro é quando ele contrasta o
comportamento dos peixes, que se adaptam ao seu meio e vivem em
harmonia, com a hipocrisia dos homens, que desobedecem a Deus.
Esses recursos ajudam a construir um sermão poderoso, que não só
comunica uma mensagem moral, mas também envolve emocionalmente o
público. Se precisar de uma análise mais detalhada ou de um trecho
específico, é só avisar!

Quatro-olhos
Contraste com os homens
Salienta a existência do bem e do mal do céu e do inferno, critica os
homens no sentido de que este não são capazes de destingir o bem e o mal.
Viera usa o céu e o inferno como forma de persuadir o homem a adotar
determinados comportamentos. Os homens sendo racionais claramente não
se comportam como tal, assim quatro-olhos seria mais merecedor de uma
lama racional. O autor pretende criticar também aqueles que dão
demasiada importância a sua imagem e vaidade. “porque neste mundo todo
é vaidade” página 29.
Veieira faz uma comparação também com Santo António, enaltecendo-o as
suas virtudes, dizendo que santo António está sempre atentos a tentações e
vícios.
“Oh que bem informara estes quatro-olhos uma alma racional, e que bem
empregada fora neles, melhor que em muitos homens!” (l.94)

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