Preparatório para o TI - Enzo

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Trazer e separar historicamente e sociologicamente fatos sobre as pessoas em situação de rua

Historicamente, o fenômeno da falta de moradia tornou-se mais evidente e desafiador com o


processo de industrialização, especialmente em países ocidentais. No século XIX, a
urbanização acelerada levou a um aumento das migrações para os centros urbanos, o que
intensificou o problema da falta de moradia em várias cidades europeias e norte-americanas. A
concentração de riqueza e o crescimento das cidades geraram condições desiguais, levando
pessoas sem estabilidade econômica a morarem em condições precárias nas periferias ou nas
ruas.

Sociologicamente, as causas que levam à situação de rua são complexas e multifacetadas,


abrangendo desde o desemprego e a pobreza até problemas de saúde mental e dependência
química. A falta de uma rede de suporte familiar ou comunitária também é um fator relevante.
Nas sociedades contemporâneas, as políticas econômicas neoliberais, como cortes em
programas sociais, privatizações e a falta de moradias acessíveis, contribuem para que as
populações vulneráveis fiquem desamparadas. Esses fatores estruturais indicam que o
fenômeno da falta de moradia não é apenas um "problema pessoal", mas uma questão
estrutural que reflete desigualdades profundas.

(Referente a esse assunto há também uma perspectiva Marxista que aborda essa questão
apresentando o conceito de exército industrial de reserva. O conceito de exército industrial de
reserva, ajuda a entender sociologicamente a situação de rua como resultado de forças
estruturais do capitalismo. Segundo Marx, o exército industrial de reserva é composto por uma
massa de trabalhadores desempregados ou subempregados, que o sistema capitalista mantém
à margem para pressionar os empregados e garantir um contingente sempre disponível e
barato de mão de obra. Essa população reserva é mobilizada conforme as flutuações da
economia, mas em períodos de crise ou recessão, como nas últimas décadas marcadas pela
aplicação de políticas neoliberais, ela se expande de maneira acentuada. Nas sociedades
contemporâneas, a implementação de políticas econômicas neoliberais intensificou o tamanho
e o impacto desse exército de reserva. Medidas como cortes em programas sociais,
privatizações, flexibilização das leis trabalhistas e redução de direitos trabalhistas contribuem
para o aumento da precarização do trabalho e da falta de segurança financeira, empurrando as
camadas mais vulneráveis para condições de trabalho informais, intermitentes ou de baixa
remuneração. Como resultado, muitos desses indivíduos acabam sem condições de sustentar
suas necessidades básicas, como moradia, alimentando um ciclo que leva à situação de rua.)

Um importante aspecto sociológico é a estigmatização enfrentada pelas pessoas em situação


de rua, frequentemente vistas como "ameaças" ou "degradantes" para o espaço urbano. Esse
preconceito reforça barreiras sociais e institucionais, dificultando o acesso dessas pessoas a
serviços básicos como empregos e habitação. A exclusão se manifesta não apenas
economicamente, mas também simbolicamente, criando um estigma social que impede a
reintegração dessas pessoas à sociedade. Sociólogos como Erving Goffman estudam a
construção de estigmas, mostrando como eles afetam profundamente a identidade e o status
social dos indivíduos.
As abordagens políticas em relação à população em situação de rua variam amplamente.
Políticas de habitação social, intervenções em saúde mental, programas de geração de
emprego e educação são algumas das abordagens bem-sucedidas para mitigar o problema. Na
década de 1980, diversos países europeus passaram a adotar programas de "Housing First"
(Habitação Primeiro), oferecendo moradia estável antes de exigir que os beneficiários resolvam
problemas pessoais como dependência ou saúde mental. Essa abordagem, que reduz o tempo
de exposição à rua, tem mostrado resultados positivos em várias partes do mundo.

Situação no Brasil:

A situação de rua no Brasil está intimamente ligada a processos históricos, como a


escravidão, a urbanização (favelização) e o racismo estrutural, que ainda moldam a
vida de populações vulneráveis.

A escravidão, que perdurou no Brasil por mais de 300 anos, foi um fator determinante
na exclusão social e racial. O país foi o último nas Américas a abolir a escravidão, em
1888, com a assinatura da Lei Áurea. No entanto, essa libertação formal não veio
acompanhada de políticas de inclusão social ou econômica para a enorme população
negra libertada. Sem terra, sem acesso a empregos formais e marginalizados,
ex-escravizados e seus descendentes foram obrigados a ocupar os espaços mais
precários das cidades, sem qualquer tipo de apoio estatal. Muitos desses indivíduos
acabaram vivendo em condições insalubres, formando comunidades à margem dos
centros urbanos que mais tarde se transformariam em favelas. Assim, a abolição sem
integração social consolidou um ciclo de pobreza e exclusão que ainda afeta
descendentes dessa população, que estão mais suscetíveis à falta de moradia e
condições de vida estáveis.

Na ausência de alternativas, essas pessoas ocuparam áreas periféricas e


marginalizadas, formando moradias improvisadas em encostas e terrenos baldios —
um fenômeno conhecido como "favelização". Essa urbanização desigual reforçou a
segregação entre classes e raças, já que as populações negras e de baixa renda foram
relegadas a esses espaços. Sem saneamento, infraestrutura básica ou segurança, as
favelas se tornaram sinônimo de pobreza e vulnerabilidade. A política habitacional
brasileira tem sido historicamente deficiente, concentrando-se principalmente em
remoções e em soluções de emergência, em vez de investir em moradias acessíveis e
integradas. A falta de uma política de moradia social sustentável e a concentração de
terra e riqueza nas mãos de poucos contribuíram para a criação de uma estrutura
urbana excludente e discriminatóri.

O racismo estrutural no Brasil se manifesta em várias esferas, da educação ao


mercado de trabalho, passando pela segurança pública e o acesso à moradia. Esse
racismo é uma continuidade histórica das estruturas de poder e exclusão implantadas
desde a escravidão. A população negra no Brasil continua sendo a mais afetada pela
pobreza, pela violência policial e pela falta de oportunidades, além de ser
predominantemente encontrada em trabalhos informais e mal remunerados. As
políticas de habitação e os programas de assistência social no Brasil muitas vezes não
conseguem atender adequadamente essa população, e os estigmas sociais reforçam
sua marginalização. Assim, uma grande parte da população de rua brasileira é
composta por negros e pardos, refletindo um legado de discriminação racial e
econômica que limita o acesso desses grupos aos direitos fundamentais.

As abordagens da sociologia, como as de autores como Florestan Fernandes, ajudam


a entender como o racismo estrutural se articula e perpetua desigualdades, impactando
diretamente as chances de ascensão social e de inclusão econômica das populações
marginalizadas. Em um ciclo contínuo, a exclusão econômica e social perpetua-se,
empurrando essas populações para a informalidade e, em casos mais extremos, para a
situação de rua.

A partir da redemocratização do Brasil em 1985, surgiram movimentos sociais e


organizações que lutam pelos direitos de moradia e pela inclusão das populações
vulneráveis, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o Movimento
Nacional da População de Rua. Essas organizações pressionam por políticas de
moradia digna, acesso a emprego e saúde e pelo fim do preconceito e da violência
contra a população em situação de rua. No entanto, políticas públicas voltadas para a
população de rua ainda são escassas e, muitas vezes, insuficientes para resolver as
causas estruturais do problema. Programas como o Minha Casa, Minha Vida
ofereceram moradia a famílias de baixa renda, mas não atenderam adequadamente às
populações mais vulneráveis, que continuam a enfrentar a exclusão urbana.

A cultura de descredibilização de movimentos sociais

A descredibilização de movimentos sociais no Brasil é um fenômeno complexo, que


ganhou força especialmente após a redemocratização. Desde então, movimentos como
o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento Nacional da População de Rua têm sido alvos
de campanhas de deslegitimação por parte de setores políticos, da mídia e de figuras
públicas. Essa descredibilização ocorre em um contexto de disputas ideológicas e de
resistência às mudanças que esses movimentos buscam implementar. A
descredibilização de movimentos sociais geralmente surge de setores que se opõem a
transformações estruturais que desafiam interesses econômicos e políticos
estabelecidos. Movimentos que reivindicam acesso a direitos como moradia, terra e
saúde pública ameaçam interesses privados, como o mercado imobiliário, grandes
latifundiários e setores conservadores da política. Esses interesses, por vezes,
promovem narrativas que associam esses movimentos a práticas ilegais, como invasão
de propriedade, vandalismo e até violência, como forma de enfraquecê-los.

Um exemplo é a forma como movimentos de luta pela terra, como o MST, são
retratados na mídia. Muitas vezes, as ocupações e protestos são descritos como
"invasões" e "ameaças à ordem pública", ignorando o contexto de desigualdade
fundiária e a ausência de uma reforma agrária ampla no Brasil. Da mesma forma, o
MTST enfrenta resistência e é frequentemente acusado de “instrumentalizar” a
população de baixa renda para ganhos políticos, embora seu foco principal seja a luta
por moradia digna.

As estratégias de descredibilização variam e incluem desde campanhas difamatórias


na mídia até a criminalização judicial dos líderes dos movimentos. Esses movimentos
são frequentemente acusados de “subversão” ou de serem manipulados por partidos
políticos para gerar desordem. Em alguns casos, as lideranças dos movimentos são
monitoradas, detidas ou julgadas com base em acusações que, em contextos mais
neutros, poderiam ser interpretadas como direitos de manifestação e organização.y

Esse movimento de descredibilização tem um impacto direto na opinião pública, que


muitas vezes passa a ver os movimentos sociais como ameaça à "ordem" e à
"segurança". Isso contribui para dificultar o diálogo entre os movimentos e o Estado,
reduzindo as chances de políticas públicas efetivas que atendam às demandas dessas
populações vulneráveis. Além disso, quando os movimentos sociais são rotulados
como criminosos ou radicais, há uma retração do apoio popular, o que enfraquece sua
capacidade de mobilização e visibilidade. Essa deslegitimação afeta diretamente as
políticas públicas, pois autoridades governamentais se sentem pressionadas a adotar
uma postura de repressão em vez de diálogo, o que perpetua a exclusão social. No
caso do Minha Casa, Minha Vida, o programa foi implementado sem atender
totalmente às necessidades específicas das populações mais vulneráveis, talvez em
parte devido à pressão para manter uma certa “ordem” urbana em vez de atender as
reais necessidades da população em situação de rua ou em risco habitacional.

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