Gestão Penitenciária

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CURSO DE CAPACITAÇÃO

GESTÃO PENITENCIÁRIA

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO

2. HISTÓRICO DO DIREITO PENITENCIÁRIO EA CONSEQÜENTE EVOLUÇÃO

DA PENA DE PRISÃO

3. JUSTIFICATIVA: POR QUE UM MODELO DE GESTÃO PARA A POLÍTICA

PRISIONAL NACIONAL

4. A QUALIDADE DE VIDA PROFISSIONAL NO TRABALHO DO SERVIDOR

PENITENCIÁRIO

5. A INTERVENÇÃO DA GESTÃO PENITENCIÁRIA NA QUALIDADE DE VIDA

PROFISSIONAL

6. BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS DOS SISTEMAS PRISIONAIS

7. ESPÉCIES DE SISTEMAS PRISIONAIS

8. SISTEMA PENSILVÂNICO OU DE FILÁDELFIA OU CELULAR

9. SISTEMA AUBURNIANO

10. A CONDIÇÃO DA MULHER PRESA

11. OS DESAFIOS

12. A MULHER E A PRISÃO, A PRISÃO E A MULHER

13. PRISÕES-MODELO APONTAM SOLUÇÕES PARA CRISE CARCERÁRIA NO

BRASIL

14. RAÍZ DO PROBLEMA

15. MODELO APAC

16. MODELO AMERICANO

17. SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

18. CONSEQÜÊNCIAS DAINEXISTÊNCIA DE ESTABELECIMENTOS PENAIS

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APRESENTAÇÃO

Embora o cenário drástico de superlotação das unidades prisionais no

Brasil seja central para a violação de direitos das pessoas privadas de liberdade

no sistema prisional, é certo que ele não pode ser visto, de forma simplista, como

a única causa dos problemas carcerários. A análise do cenário nacional revela

que não há correlação direta entre a taxa de ocupação de unidades e a qualidade

dos serviços penais, havendo diversos outros elementos, próprios da gestão

pública, que interferem negativa ou positivamente na política penal implementada

por cada Unidade da Federação ou mesmo em cada unidade prisional.

A gestão prisional no país é carente de conceitos que amparem a sua

especificidade, prevalecendo ainda o empréstimo de saberes de outras áreas,

sobretudo do conhecimento importado da atividade policial. Essa deficiência tem

forte impacto na formatação de fluxos e rotinas que não amparam

adequadamente o acesso das pessoas privadas de liberdade a serviços, direitos

e políticas previstos na Lei de Execução Penal, sendo necessário estabelecer

com maior clareza as diferenças entre a política de segurança pública e a política

penal e prisional.

Partindo desse diagnóstico, o Departamento Penitenciário Nacional vem

realizando uma série de esforços para melhoria dos serviços penais brasileiros,

que vão desde a elaboração de diretrizes voltadas à qualificação da política

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prisional implementada no país, até a formatação de um Modelo de Gestão que

possa orientar os estados e estabelecimentos acerca das alternativas para a

melhoria dos processos de Administração Penitenciária.

Para a difusão e implementação local deste Modelo de Gestão, o

Departamento Penitenciário Nacional pretende instituir programa de cooperação

federativa voltado à execução de políticas de formação, aperfeiçoamento e

especialização dos serviços penais estaduais, estando orientado pelos seguintes

postulados:

1- Reconhecimento e igual dignidade entre todos os atores que interagem

com o sistema penitenciário;

2-Empoderamento e protagonismo dos sujeitos encarcerados;

3- Gestão prisional baseada uma perspectiva de desencarceramento.

O Brasil experimentou nas últimas décadas um processo de enrijecimento

da política de encarceramento em massa, destacando-se entre os países no

mundo com maior crescimento na taxa de pessoas privadas de liberdade. Com

esse crescimento acelerado, observou-se o aumento abrupto no número de

presos e no déficit de vagas disponíveis no sistema prisional, alcançando, em

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junho de 2014, um déficit prisional de 231.062 vagas, com uma taxa de ocupação

de 161%, ou seja, 1,61 preso para cada vaga disponível (Depen, 2015, p. 11).

Não obstante, ainda que o cenário drástico de superlotação das unidades

seja central para a violação de direitos das pessoas privadas de liberdade no

sistema prisional, é certo que ele não pode ser visto, de forma simplista, como a

única causa dos problemas carcerários. A análise do cenário nacional revela que

não há correlação direta entre a taxa de ocupação de unidades e a qualidade dos

serviços penais, havendo diversos outros elementos, próprios da gestão pública,

que interferem negativa ou positivamente na política penal implementada por

cada Unidade da Federação ou mesmo em cada unidade prisional.

A gestão prisional no país é carente de conceitos que amparem a sua

especificidade, prevalecendo ainda o empréstimo de saberes de outras áreas,

sobretudo do conhecimento importado da atividade policial. Essa deficiência tem

forte impacto na formatação de fluxos e rotinas que não amparam

adequadamente o acesso das pessoas privadas de liberdade aos serviços,

direitos e políticas previstos na Lei de Execução Penal, sendo necessário

estabelecer com maior clareza as diferenças entre a política de segurança

pública e a política penal e prisional.

Partindo desse diagnóstico, o Departamento Penitenciário Nacional

passou a reunir especialistas, a partir de Grupos de Trabalho (GTs) e outros

fóruns, visando elaborar diretrizes voltadas à qualificação da política prisional

implementada no país. Além disso, em julho de 2015, por meio de parceria com o
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PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, deu-se início a

uma consultoria que teve como objetivo, conforme previsto em edital, produzir

subsídios às políticas públicas do DEPEN, especialmente com a elaboração de

proposta para o modelo de gestão para a política prisional.

Sabe-se que o fenômeno do hiperencarceramento (Garland, 2008) não é

um problema restrito ao sistema penitenciário, podendo ser compreendido como

um resultado da aplicação de modelos contemporâneos de reformas da justiça

criminal e das polícias (Brasil, 2015). Sabe-se, também, que não se trata de uma

questão exclusiva do Brasil, uma vez que a superlotação dos presídios pode ser

observada na maioria dos países ocidentais, além de China, Índia e outras

nações.

Os postulados, princípios e diretrizes foram concebidos por meio de

processo de elaboração bibliográfica e conceitual e de discussões realizadas em

Grupo de Trabalho composto por pesquisadores, operadores e gestores dos

sistemas de justiça criminal e penitenciário, tendo em vista a transformação das

condições de degradação e de violação de direitos que historicamente marcam

os sistemas penitenciários no Brasil. Levou-se em conta, ainda, a necessidade

de inserção do país no conjunto de esforços internacionais de transformação das

características de fragmentação, de reprodução, endogenia e entropia que

marcam as gestões prisionais, buscando produzir interfaces entre a instituição-

prisão e um conjunto mais amplo de políticas públicas e sociais.

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A partir da estruturação dos aspectos normativos e organizacionais que

devem compor a Política Prisional, buscando, sobretudo, a abertura dos sistemas

prisionais e sua integração num conjunto mais amplo de políticas públicas e

sociais, este percurso de formulação do Modelo de Gestão preservou a

arquitetura conceitual e de funcionalidades anteriormente elaborada, articulando

os âmbitos da política prisional, dos sistemas estaduais de gestão prisional e da

gestão, ao nível operacional dos estabelecimentos prisionais, da execução penal.

Compreende-se que o enfrentamento ao hiperencarceramento no Brasil não

pode obnubilar outros processos que contribuem para o acirramento das

condições insalubres e desumanas que compõem o cenário prisional.

Compreende-se também que o desenvolvimento de estratégias para uma boa

gestão das políticas penitenciárias, como base num modelo que privilegie a

promoção de direitos aos sujeitos em privação de liberdade, é tarefa urgente para

uma Nação que busca o desenvolvimento pleno de sua população.

HISTÓRICO DO DIREITO PENITENCIÁRIO E

A CONSEQÜENTE EVOLUÇÃO DA PENA DE PRISÃO

A antiguidade desconheceu totalmente a privação de liberdade, estritamente

considerada sanção penal. Mesmo havendo o encarceramento de delinqüentes,

este não tinha caráter de pena, e sim de preservar os réus até seu julgamento ou

execução. Recorria-se à pena de morte, às penas corporais e às infamantes.

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Durante vários séculos a prisão serviu de contenção nas civilizações mais

antigas (Egito, Pérsia, Babilônia, Grécia, etc. ), a sua finalidade era: lugar de

custódia e tortura.

A primeira instituição penal na antiguidade, foi o Hospício de San Michel, em

Roma, a qual era destinada primeiramente a encarcerar "meninos incorrigíveis",

era denominada Casa de Correção.

Platão propunha o estabelecimento de três tipos de prisões: uma na praça do

mercado, que servia de custódia; outra na cidade, que servia de correção, e uma

terceira destinada ao suplício. A prisão, para Platão, apontava duas ideias: como

pena e como custódia.

Os lugares onde se mantinham os acusados até a celebração do julgamento

eram diversos, já que não existia ainda uma arquitetura penitenciária própria.

Utilizavam-se calabouços, aposentos em ruínas ou insalubres de castelos, torres,

conventos abandonados, palácios e outros edifícios.

O Direito era exercido através do Código de Hamurabi ou a Lei do Talião,

que ditava: "olho por olho, dente por dente" tinha base religiosa (Judaísmo ou

Mosaísmo) e moral vingativa.

As sanções da Idade Média estavam submetidas ao arbítrio dos governantes,

que as impunham em função do "status" social a que pertencia o réu. A

amputação dos braços, a forca, a roda e a guilhotina constituem o espetáculo

favorito das multidões deste período histórico.

Penas em que se promovia o espetáculo e a dor, como por exemplo a que o

condenado era arrastado, seu ventre aberto, as entranhas arrancadas às pressas

para que tivesse tempo de vê-las sendo lançadas ao fogo. Passaram a uma

execução capital, a um novo tipo de mecanismo punitivo.


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Durante os séculos XVI e XVII a pobreza se abate e estende-se por toda a

Europa.

E contribuíram para o aumento da criminalidade: os distúrbios religiosos, as

guerras, as expedições militares, as devastações de países, a extensão dos

núcleos urbanos, a crise das formas feudais e da economia agrícola, etc.

Ante tanta delinquência, a pena de morte deixou de ser uma solução

adequada. Na metade do século XVI iniciou-se um movimento de grande

transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na criação

e construção de prisões organizadas para a correção dos apenados.

A suposta finalidade das instituições consistia na reforma dos delinquentes

por meio do trabalho e da disciplina. Tinham objetivos relacionados com a

prevenção geral, já que pretendia desestimular a outros da vadiagem e da

ociosidade.

Antes das casas de correção propriamente ditas, surgem casas de trabalho

na Inglaterra (1697) em Worcester e em Lublin (1707), ao passo que em fins do

século XVII já haviam vinte e seis. Nessas casas, os prisioneiros estavam

divididos em 4 classes: os explicitamente condenados ao confinamento solitário,

os que cometeram faltas graves na prisão e a última aos bem conhecidos e

velhos delinquentes.

A mais antiga arquitetura carcerária em 1596, foi o modelo de Amsterdã

RASPHUIS, para homens, que se destinava em princípio a mendigos e jovens

malfeitores a penas leves e longas com trabalho obrigatório, vigilância contínua,

exortações, leituras espirituais. Historicamente, liga teoria a uma transformação

pedagógica e espiritual dos indivíduos por um exercício contínuo, e as técnicas

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penitenciárias imaginadas no fim do século XVII, deu direcionamento às atuais

instituições punitivas.

Em 1597 e 1600, criaram-se também em Amsterdã a SPINHIS, para

mulheres e uma seção especial para meninas adolescentes, respectivamente.

Já as raízes do Direito Penitenciário começaram a formar-se no Século XVIII,

com os estudos de BECARIA e HOWARD. Durante muito tempo o condenado foi

objeto da Execução Penal e só recentemente é que ocorreu o reconhecimento

dos direitos da pessoa humana do condenado, ao surgir a relação de Direito

Público entre o Estado e o condenado.

Realmente, o Direito Penitenciário resultou da proteção do condenado. Esses

direitos se baseiam na exigência Ética de se respeitar a dignidade do homem

como pessoa moral.

Os dois métodos aplicados no Direito Penitenciário são: método científico - é

um dos elementos da planificação da política criminal, especialmente quanto ao

diagnóstico do fenômeno criminal, a verificação do custo econômico-social, e a

exata aplicação do programa. Já a estatística criminal é estudada pelo método

estatístico, o qual destina-se a pesquisa da delinquência como fenômeno massa.

Estas estatísticas dividem-se em três ordens: policiais, judiciais e penitenciárias.

Somente no Século XX avultou a visão unitária dos problemas da Execução

Penal, com base num processo de unificação orgânica, pelo qual normas de

Direito Penal e normas de Direito Processual, atividade da administração e

função jurisdicional obedeceram a uma profunda lei de adequação às exigências

modernas da Execução Penal.

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Todo esse processo de unificação foi dominado por dois princípios do Código

Penal de 1930: a individualização da execução e o reconhecimento dos direitos

subjetivos do condenado.

BECARIA e HOWARD deram causa a uma grande evolução da doutrina de

Execução Penal, com a produção de longa série de tratados e revistas

especializadas (DE BEAUMONT, TOCQUEVILLE, DUCPETIAUX, PESSINA,

VIDAL e CUCHE).

Sucessivamente realizaram-se congressos sobre o assunto, os quais já

assumiam caráter internacional, como o de Londres em 1872.

Dá-se a devida importância à criação da Comissão Penitenciária

Internacional, que se transformou na Comissão Penal e Penitenciária (1929), que

deu origem à elaboração das Regras Mínimas da ONU.

Após a 2ª Guerra Mundial, surgem em vários países a Lei de Execução

Penal (LEP), como na Polônia, Argentina, França, Espanha, Brasil, e outros

estados-membros da ONU.

No Brasil, com o advento do 1º Código Penal houve a individualização das

penas. Mas somente à partir do 2º Código Penal, em 1890, aboliu-se a pena de

morte e foi surgir o regime penitenciário de caráter correcional, com fins de

ressocializar e reeducar o detento.

Com o reconhecimento da autonomia do Direito Penitenciário pela

Constituição Brasileira (art. 24, I ), todas as Universidades terão de adotar o

ensino do direito penitenciário. A reforma penal não se fará sem a renovação do

ensino universitário das disciplinas relacionadas com o sistema penal.

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Dentre os mais modernos estabelecimentos carcerários encontram-se:

Walnut Street Jail, na Filadélfia (1829); Auburn, Nova York, em (1817); e o

sistema da Pensylvânia, todos nos Estados Unidos da América. Consideram-se

modernos pois instalam a disciplina, removem a tentação da fuga e reabilitam o

ofensor. No sistema de Auburn, os prisioneiros dormem em celas separadas,

mas trabalham, durante o dia, em conjunto com os demais prisioneiros. Este

método de sistema está sendo implantado em todo os EUA. Já o sistema da

Pensylvânia, o ofensor é isolado durante todo o período do confinamento.

Todos estes sistemas são baseados na premissa do isolamento, na

substituição dos maus hábitos da preguiça e do crime, subordinando o preso ao

silêncio e a penitência para que encontre-se apto ao retorno junto à sociedade,

curado dos vícios e pronto a tornar-se responsável pelos seus atos, respeitando

a ordem e a autoridade.

A Conferência Nacional Penitenciária ( NationalPrisonConference), realizada

em Cincinnati, Ohio - EUA, em 1870, foi o primeiro sinal da reforma carcerária.

Encorajados pelo recente estabelecimento da condicional, a conferência abordou

em seu tema principal a prisão perpétua. Escolheu uma corte específica para os

casos de prisão perpétua, a qual delimitará o tempo mínimo e máximo para todas

os tipos de penas. É acreditável que este tipo de sentença dará ao ofensor maior

incentivo à sua reabilitação, o que determinará uma satisfatória mudança nos

cárceres atuais.

A detenção se tornou a forma essencial de castigo. O encarceramento

passou a ser admitido sob todas as formas. Os trabalhos forçados eram uma

forma de encarceramento, sendo seu local ao ar livre. A detenção, a reclusão, o

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encarceramento correcional não passaram, de certo modo, de nomenclatura

diversa de um único e mesmo castigo.

JUSTIFICATIVA: POR QUE UM MODELO DE GESTÃO PARA A

POLÍTICA PRISIONAL NACIONAL

O ano de 2015 marcou o quadragésimo aniversário da obra “Vigiar e

punir”, de Michel Foucault, evidenciando que os inconvenientes da prisão já não

eram nenhuma novidade. Tampouco o é a afirmação do filósofo francês a

respeito da reprodução da prisão que é operada a cada tentativa de sua reforma.

Da mesma forma, permanece em aberto o debate acerca de seu crescimento

massivo, dos usos inadequados das alternativas penais, da ineficiência das

ações de reintegração social (UNODC, 2013) e, sobretudo, das possibilidades de

sua superação – e, sendo possível, de como fazê-lo.

Por outro lado, se a perspectiva foucaultiana atribui à instituição prisional a

primazia na construção de formas de controle sobre corpos e de produção de

saberes a elas articulados, no caso brasileiro salta à vista a ineficácia das prisões

tanto para o exercício de tal controle, como na produção de tais saberes. O

surgimento, a expansão e a nacionalização de organizações criminais originárias

do interior das celas das prisões, aliados à escassez, às dificuldades e à falta de

transparência na produção e divulgação de dados sobre as prisões nos

diferentes entes federativos, dão ao sistema prisional brasileiro características

bastante específicas, que apenas podem ser compreendidas pelos diferentes

olhares que sobre elas se lançam.


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Historicamente, as transformações operadas sobre a prisão durante a

modernidade atribuíram-lhe três funções primordiais: “punir, defender a

sociedade isolando o malfeitor para evitar o contágio do mal e inspirando o temor

ao seu destino, corrigir o culpado para reintegrá-lo à sociedade, no nível social

que lhe é próprio” (Perrot, apud Maia et al, p. 13). Tais funções foram

incorporadas no Sistema Penal Brasileiro, que as consagrou por meio do artigo

59 do Código Penal, estabelecendo parâmetros de necessidade e suficiência

para a determinação de penas, por um lado, e finalidades de reprovação e

prevenção ao crime, por outro (Ferreira, 2012).

No entanto, quando se observam as realidades atuais8 das prisões

brasileiras, depreende-se que nem mesmo a punição reflete aqui o sentido que

lhe foi dado pelos reformadores da modernidade: longe de constituir uma

estratégia de disciplinamento dos corpos, as práticas punitivas, alicerçadas sobre

as péssimas condições de encarceramento, têm alimentado processos violentos

de resistência e enfrentamento da população prisional contra as equipes

dirigentes, contra o Estado e contra a própria sociedade brasileira, fazendo com

que processos antes restritos ao ambiente prisional ultrapassem as muralhas que

cercam as cadeias e atinjam pessoas que, à primeira vista, não teriam quaisquer

relações com as prisões. Tampouco as propostas de disciplinamento pelo

trabalho ou de isolamento entre pessoas privadas de liberdade e sociedade

tornam-se efetivas.

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São muitas as evidências do fracasso da promessa do isolamento, tais

como o fluxo constante de presos promovido pelas constantes transferências de

unidades; as articulações e disputas entre os diferentes grupos criminais

existentes nas prisões brasileiras; a ocupação de postos de comando e

negociação entre “mundo do crime” e Estado (Melo, 2014); o fluxo de pessoas

que adentram as prisões nas condições de familiares dos custodiados,

advogados, ou representantes de ONGs, movimentos sociais, universidades,

dentre outros; a coexistência, em muitas localidades, entre “guardas e bandidos

que habitam territórios semelhantes,compartilhando o espaço público e

disputando legitimidade (Feltran, 2011; Melo, 2014); os fluxos constantes de

sujeitos que passam pela prisão reiteradas vezes.

Todas estas dinâmicas, acrescidas do desenvolvimento tecnológico e das

dificuldades em conter a entrada de aparelhos de telefonia celular – ou mesmo

dispositivos rústicos de comunicação, como pipas, pombo-correio etc. - nos

presídios, tornam permanente o contato entre os lados de dentro e de fora das

muralhas. De modo análogo, a escassez da oferta de serviços, e nesta escassez,

a expressiva oferta de trabalhos precarizados; a escassez de funcionários e de

espaços adequados, aliados a uma percepção bastante comum de que as

prisões são locais onde criminosos desfrutam de casa, comida e benefícios

exagerados, são elementos que contribuem para o fracasso da promessa

ressocializadora que a prisão promoveria pelo trabalho, promessa essa que “se

converteu em um dos elementos mais distintivos da vida cotidiana dentro [das]

prisões” (Aguirre, 2009, p. 46), e cujo fracasso representa, paradoxalmente, o

sucesso de uma perspectiva de sociedade que vem testemunhando

simultaneamente o retorno de penas supliciantes – com prisões mais rígidas e a

proliferação de tratamento antes considerados cruéis e até de tortura – associado


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à multiplicação de mecanismos de controle dispersos em toda a sociedade

(Alvarez, 2007, p. 96).

A este cenário somam-se ainda ações marcadas pelo voluntarismo, pelo

espontaneísmo e pela experimentação assistemática, características bastante

presentes nas iniciativas pontuais que marcam a busca por inovação e melhorias

em sistema autorreprodutores, nos quais a inexistência de uma política que

normatize os princípios e as práticas de gestão e que estabeleça diretrizes

comuns e compartilhadas entre os diferentes atores envolvidos (aí incluindo os

estados e seus respectivos órgãos de gestão penitenciária), acaba por contribuir

para o crescente quadro de desalento que marca os diferentes olhares sobre a

prisão, desde aquele de muitos servidores públicos que atuam no sistema

penitenciário e enxergam nele apenas sua fonte de emprego e renda, passando

pelas pessoas privadas de liberdade, que o tomam como um local de

desumanização de si – e no qual, portanto, faz-se necessário desenvolver

diferentes formas de resistência – e envolvendo também a população em geral,

na qual se promove e se corrobora aquele processo de desumanização.

A QUALIDADE DE VIDA PROFISSIONAL NO TRABALHO DO

SERVIDOR PENITENCIÁRIO

A expressão qualidade de vida no trabalho foi introduzida a partir da

década de 70, na Inglaterra, como tentativa de criar uma maior motivação nos

empregados, visando melhorar a forma de organizar o trabalho e os efeitos

negativos na saúde e no bem-estar geral dos trabalhadores. Nesse sentido, a


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qualidade de vida no trabalho tem sido uma preocupação do homem desde o

início de sua existência com outros títulos em outros contextos, mas sempre

voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-estar ao trabalhador na execução

de sua tarefa.

Por outro lado, entende-se que a qualidade de vida do profissional no

trabalho seria garantir condições de trabalho que promovam a segurança, a

saúde e o bem estar do trabalhador dentro e fora da instituição, ou seja,

proporcionar uma maior participação por parte dos funcionários, propiciando

integração com superiores, com colegas e com o próprio ambiente.

A qualidade de vida profissional se dá pelaexperiência de bem estar,

atributo secundário ao “equilíbrio entre as demandas ou cargas de trabalho e os

recursos (psicológicos, organizacionais e reacionais) disponíveis para enfrentá-

los”.

Existem pesquisas em várias instituições públicas observando um número

significativo e alarmante de “profissionais com diversas queixas sobre a

organização do trabalho, fundamentalmente: horas trabalhadas, ergonomia do

mobiliário de trabalho, a excessiva demanda de usuários a ser atendida, baixos

salários, entre outros”.

A realidade exposta aponta riscos que fragilizam a qualidade de vida

profissional, podendo ser uma queixa também dos servidores do Sistema


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Penitenciário. O trabalho do Servidor Penitenciário é considerado um trabalho

árduo e de difícil manejo, o que tem contribuído para produção de riscos

psicossociais, em razão dos problemas que os servidores têm enfrentado na

execução de suas atividades, marcada pela superlotação das prisões, conflitos

internos, número insuficiente de trabalhadores para atender a demanda e

complexidade da organização, informações estas publicadas com frequências

nos noticiários gaúchos.

A equipe técnica do Serviço Penitenciário tem como principal competência

“desenvolver o tratamento penal, por meio da garantia dos direitos às pessoas

em condição de privação de liberdade e da mediação de conflitos existentes no

ambiente prisional”. Contudo, lhes é direcionada grande responsabilidade de

mediação de conflitos e promoção do tratamento penal, expondo-se a todo

contexto de aprisionamento da pessoa presa, que traz em si, históricos de

infrações,injustiças, necessidades, angústias, medo, violência e sofrimento. Por

se trabalhar com o cuidado humano, o profissional se expõe a condições

objetivas e subjetivas das fragilidades humanas, tornando-se um receptor de

aspectos vulnerabilizantes que podem afetar a sua própria saúde mental,

indicando a necessidade de cuidado consigo.

Para se fazer cumprir a Lei de Execuções Penais – LEP e as

competências atribuídas ao Servidor, o esforço profissional torna-se uma tarefa

árdua e difícil para tais profissionais, devido a possíveis fragilidades, como: a

grande demanda de trabalho, carência de recursos humanos e materiais para

operacionalizar os serviços de assistência ao preso e na efetivação de Políticas

Públicas que possam viabilizar a reinserção social destes, além dos fatores
18
pessoais trazidos pelos servidores que podem fragilizar seu exercício

profissional. Esta realidade pode levar o Servidor Penitenciário a sentimentos de

impotência, baixa estima, frustração e ao adoecimento, fragilizando a qualidade

de vida do profissional. Contudo, o espaço de trabalho onde o Servidor

penitenciário atua é um ambiente vulnerável a situações de risco a saúde mental

pelo desenvolvimento dos mais variados sintomas, devido a sua própria

natureza, que apresenta um universo de hostilidades, sofrimento humano,

conflitos interpessoais e os impactos dos limites institucionais para o exercício

profissional.

Os profissionais do sistema penitenciário estão mais propensos aos

agravos, especialmente, pelas diversas situações laborais estressoras e

redutoras de sua qualidade de vida. Isto pela própria natureza do ambiente

prisional que traz em si um cenário de vulnerabilidades. Os riscos psicossociais

que os trabalhadores prisionais têm vivenciado em sua atividade laboral, está

diretamente relacionado com a organização do trabalho, com o conteúdo do

cargo, com a realização da tarefa, assim como a possível sobrecarga e más

condições de trabalho.

Considerando os riscos psicossociais do trabalho penitenciário, pesquisa

realizada em 2012 por Rubia Tschiedel acerca do trabalho prisional e as

implicações na saúde mental do agente de segurança penitenciária no Rio

Grande do Sul, indicam que o trabalho no cárcere pode ser considerado

potencialmente uma “ocupação arriscada e estressante”, podendo “levar a

distúrbios de várias ordens, tanto físicos quanto psicológicos”.

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No tocante ao adoecimento do profissional, os transtornos mentais são os

responsáveis pelo maior número de dias de afastamento do trabalho, ou seja,

são problemas de saúde que afastam os trabalhadores do trabalho por longos

períodos. Além disso, como não se trata de uma lesão visível ou de um processo

físico mensurável, muitas vezes, os trabalhadores não têm o seu sofrimento

legitimamente reconhecido. Para se atestar tal afirmativa, fundamentasse em

estudos realizados com grupos de profissionais que trabalham em ambientes

prisionais. Estudos realizados na França com todas as categorias de

trabalhadores penitenciários, foi observado que 24% apresentaram

sintomatologia depressiva, 6% de distúrbios da ansiedade e 41% de distúrbios do

sono.

Outra pesquisa realizada com agentes penitenciários do Rio de Janeiro,

relataram que a concepção saúde/doença refletem a dicotomia entre doenças do

corpo e doenças da mente. As doenças da mente referem-se ao estresse

decorrente das tensões do trabalho, marcado por expressões como “nervos

abalados”, “esquentamento de cabeça”, “mente perturbada”, “neurose de cadeia”.

Usando, dessa maneira, umcódigo próprio para interpretá-las, as doenças

mentais referem ao conjunto de ansiedades, receios e insatisfações decorrentes

das exigências do trabalho. Como se percebe o estresse no trabalho pode

interferir significativamente na saúde física e mental, assim como nas relações de

afeto e amizade, podendo inclusive desencadear outros problemas ainda mais

estressantes, gerando um círculo vicioso de proporções cada vez mais

imprevisíveis.

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Os desajustes psicossomáticos e o estresse causados a servidores do

sistema penitenciário, podem estar ligados a sobrecarga de trabalho e acúmulos

físicos e emocionais. Outra pesquisa demonstra que a falta de cuidado com as

defesas psicossociais podem favorecer transtornos emocionais como:

“sentimento de insegurança, ansiedade, medo, fobias, apatia, depressão. [...]

perturbações cognitivas como atenção, a memória, o pensamento, a

concentração”.

Entende-se, então, que a saúde e a qualidade de vida do trabalhador

penitenciário não dependem exclusivamente da sua condição como indivíduo ou

mesmo das condições desfavoráveis disponibilizadas pela instituição. Depende,

sim, de um jogo movimentado na relação e na forma como um e outro fator

integram o espaço organizacional. Sendo assim, o estresse se desenvolve não

propriamente como uma doença, mas um estado de desgaste extremo, que

favorece o aparecimento e agravamento de doenças. Ele representa, hoje em

dia, talvez, o maior mal provocado pelas condições de trabalho.

Contudo, quando o trabalhador se encontra sob pressão, pode vir

apresentar alguns sintomas de estresse, entre eles: “nervosismo, ansiedade,

irritabilidade, fadiga, sentimentos de raiva, angústia, período de depressão,

dor no estômago, dor nos músculos do pescoço e ombros e dores

discretas no peito”, podendo até desenvolver a Síndrome de Burnout,

caracterizada pelo adoecimento laboral. A atividade laboral pode significar “fonte

de construção, realização, satisfação, riqueza, bens materiais e serviços úteis à

sociedade humana. Entretanto, o trabalho também pode significar escravidão,

exploração, sofrimento, doença e morte”.


21
Ressalta-se que a mesma forma de exploração do trabalho que dominou

na época da escravidão e no início da Revolução Industrial existe hoje em dia,

porém com maior sutileza. Considera que “ao longo da história, as organizações

têm sido associadas a processos de dominação social nos quais indivíduos ou

grupos encontram formas de impor a respectiva vontade sobre os outros”. Assim,

a atividade laboral tem promovido o ser humano de muitas maneiras, dentre elas

a satisfação de estar em pleno exercício profissional, o reconhecimento e

valorização do seu esforço, além da conquista do estado de independência,

contribuindo na manutenção financeira da sua vida pessoal e possibilitando a

elevação da autoestima. Porém, espaços de trabalho, assim como o trabalho nos

espaços prisionais, tem desencadeado sintomas de insatisfação, desânimo,

depressão e estresse causados por conflitos interpessoais, assédio moral por

parte dos gestores, más condições de trabalho e pelos mais diversos fatores.

Sabe-se que profissionais expostos a condições de trabalho mínimas para

lidar com pessoas em situação de privação de liberdade, desprovidos de

necessidades básicas e reduzidos de assistência podem estar mais expostos

arepercussões insalubres na saúde física e mental e consequentemente na

qualidade de vida geral e profissional. O maior problema encontra-se em torno da

falta de conhecimentos em saber lidar com suas fontes estressoras, ou seja, com

suas tensões e para tal se faz necessária à intervenção de um coletivo, o próprio

trabalhador, a gestão penitenciária, o grupo de convivência profissional e o

serviço de atendimento ao servidor da instituição no enfrentamento as demandas

de risco que podem impactar a qualidade de vida profissional do trabalhador e

consequentemente a sua produtividade e rentabilidade no trabalho.

22
A INTERVENÇÃO DA GESTÃO PENITENCIÁRIA NA QUALIDADE DE

VIDA PROFISSIONAL

Considerando as consequências negativas do estresse laboral na vida do

técnico superior penitenciário, falar de qualidade de vida, pressupõe entender o

grau de satisfação que eles têm buscado em suas atividades laborais, visto que

os mesmos podem estar adoecendo. Além disto, emerge pensar em

investimentos nas políticas públicas que promovam o bem-estar laboral e criem

estratégias para enfrentar os dilemas vivenciados pelos servidores do sistema

prisional da atualidade.

A partir desta realidade entende-se que a gestão penitenciária tem papel

fundamental nos estabelecimentos prisionais, ambiente de trabalho do Servidor

Penitenciário, não apenas na gestão do tratamento penal e da segurança e

disciplina, mas também no gerenciamento das equipes de trabalho e das

demandas pessoais e coletivas trazidas por eles para o bom desempenho de

suas funções.

23
Neste contexto, faz-se necessário pensar na Organização como um todo e

nas estratégias de gestão de pessoas ou de determinadas ações um

componente intrínseco na gestão, por fazer parte do processo de trabalho. As

organizações são conceituadas como sistemas sociais que combinam com

ciência e pessoas.

No tocante ao comportamento das pessoas nas organizações eles são

imprevisíveis, porque nasce de necessidades humanas e de sistemas de valores.

Não existe “mágica” para se trabalhar com pessoas, nem solução perfeita aos

problemas da organização. O que podemos fazer é aumentar o nosso

conhecimento e habilidades de forma que os relacionamentos no ambiente do

trabalho sejam bem avaliados.

Contudo, a definição de estratégias pelo gestor no gerenciamento das

demandas trazidas pela equipe de trabalho é necessária e indispensável para a

harmonia do ambiente laboral, pela saúde mental do trabalhador e para o êxito

do trabalho a ser desenvolvido. “A utilização de estratégias corporativas impõe

vários desafios à organização: selecionar o que interessa do que é obsoleto,

escolher entre o essencial e o supérfluo de maneira defensiva; manter,

aperfeiçoar ou aumentar a corporação.”

A educação pode contribuir significantemente no processo de organização

da cultura da instituição favorecendo as boas relações entre profissionais e

gestores.12 No ambiente de trabalho ela pode funcionar como um instrumento de

agregação da equipe, pois através do diálogo, da formação, do levantamento de


24
demandas e das reflexões, o gestor pode conhecer a realidade de cada servidor,

considerá-las dentro das possibilidades institucionais e intervir sobre elas

promovendo ao trabalhador melhores condições de trabalho, direcionando

aprogramas de atenção ao servidor que auxiliem nos problemas pessoais ou

profissionais que tem comprometido sua qualidade de vida profissional,

discutindo coletivamente estratégias de superação das fragilidades institucionais

humanizando as relações e o espaço de trabalho.

Entende-se que o gestor tem papel importantíssimo no processo de

trabalho da sua equipe assim como no desempenho pessoal e profissional do

servidor na instituição, para tal deve demonstrar a capacidade de estabelecer

relações humanas interpessoais e intergrupais para o pleno exercício da sua

prática e intervenção sobre as demandas trazidas até a gestão penitenciária

demonstrado zelo pela qualidade de vida profissional de todos inclusive a sua

própria. Para acolher as demandas do sofrimento psíquico dos seus servidores,

se oferta o Serviço de Atendimento ao Servidor, deixando de contemplar e

intervir com precisão as demandas de servidores lotados em regiões mais

longínquas.

Considera-se que o gestor do Estabelecimento Prisional é a representação

imediata da instituição para o servidor, necessitando estar aberto a colher e

intervir sobre as demandas de trabalho trazidas pelo trabalhador, assim como

suas angústias e perspectivas para a melhor qualidade de vida profissional. No

movimento saúde-trabalho, satisfação-insatisfação e sofrimento-prazer, os

trabalhadores mobilizam suas inteligências e seus recursos disponíveis na busca

25
de soluções criativas para tornar a atividade desenvolvida possível, e ao mesmo

tempo, para obter resultados positivos no exercício dessa atividade.

Contudo, valorizar o esforço profissional pela promoção da qualidade de

vida no trabalho pelo gestor, pode garantir a harmonia institucional e o êxito no

produto do trabalho, pois esta pode ser uma estratégia de gestão de pessoas que

resultem em bons resultados tanto para a organização empregadora quanto para

os trabalhadores.

BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS DOS SISTEMAS

PRISIONAIS

Consoante à história das penas, é notório que a prisão durante a Idade

Média e grande parte da Idade Moderna era utilizada como forma cautelar para

queo preso tivesse decretada sua prisão capital, ou seja, serviam como forma de

prendê-los e não os punir.

As prisões advieram de forma discreta, durante a Idade Média, quando a

Igreja, utilizava a prisão para punir os monges e clérigos da época que

praticavam algum delito.

No século XVI, surgiram algumas prisões ao redor do mundo, quais sejam,

a Houseofcorretion, em Londres, no ano de 1550, que foi utilizada como base

para outras prisões edificadas em Amsterdã, que em 1595 criou o

encarceramento para os homens e em 1597 para as mulheres.


26
No entanto, corroborado ao exposto, só foi ganhar força no século XVIII

com a construção da Casa de correção de Gand, na Bélgica em 1775, e o

Hospício São Miguel, na Roma em 1703 e 1704, considerados o marco inicial

das penitenciárias.

Importante trazer a baila, a figura do sheriffJonh Howard, que em razão da

sua profissão, teve chance de conhecer diversas prisões e notar as condições

precárias que o preso vivia. E com isso, escreveu o livro The StateofPrision in

EnglandandWalles (1776), que surtiu efeitos aos presos, tendo em vista relatar a

incapacidade do estado em administrar os problemas dos encarceramentos.

Segundo Edgard Magalhães Noronha, 2004, p. 26: “Howard lutou

basicamente por um tratamento mais humano do encarcerado, dando-lhe

assistência religiosa, trabalho, separação individual diurna e noturna, alimentação

sadia, condições de higiene etc”.

E em 1787, após anos de intensas discussões acerca da melhor forma de

punir, criou-se a Philadelphia Society for Alliviatingthe Misere ofPublicPrisons,

que resultou na abolição dos trabalhos forçados, das mutilações, dos açoites e

definiram restrições à pena capital, sendo ela reservada, ao crime de homicídio

doloso. (PIMENTEL, 1989, p.266).

ESPÉCIES DE SISTEMAS PRISIONAIS

SISTEMA PENSILVÂNICO OU DE FILÁDELFIA OU CELULAR


27
Teve como prelúdio em 1970, através da construção do Walnut Street Jail,

na Filadélfia, Estado da Pensilvânia. Segundo João Farias Júnior (2001, p.371)

as celas eram:

Individuais, do tipo que o americano chama de OutsideCell,

isto é, celas com portas maciças, tendo só um visor ou janelinha no

alto da parede dos fundos, cada cela tem uma janela gradeada para

o arejamento do seu interior. Este tipo de cela, se diferencia do tipo

InsideCell, que tem a frente toda gradeada, inclusive a porta também

gradeada e a parede dos fundos; é, também, fundo de outra cela,

por isso esta parede é destituída de janela gradeada para

arejamento. Qualquer pessoa que chegue a sua frente poderá

visualizar todo o seu interior através de sua grande frontal.

Tratava-se de um regime de isolamento, em que as celas eram minúsculas

e individuais, os presos não exerciam atividades laborais e nem podiam receber

visitas. Era conhecido como “morte em vida”.

Quanto aos prisioneiros, importante trazer a baila, narrativa da obra

Crepúsculo de uma era, de César Barros Leal (2001, p.33):

Eram expostos aos olhos dos visitantes para que estes

pudessem vê-los em suas enxovias, como exemplos atemorizantes.

As condições rigorosíssimas em que viviam, porém, conquanto

assegurassem um ambiente de ordem e disciplina, isento quase


28
inteiramente de fugas, e evitassem o contágio moral, a interação

perversiva, criminógena, por outro lado exasperavam o sofrimento,

afetavam a saúde física e psíquica dos apenados e, de modo algum,

preparavam para o retorno à sociedade livre.

O detento era também estimulado a ler a Bíblia, tendo em vista que

através dela poderia se arrepender dos atos ilícitos, por ter que permanecer em

silêncio, meditando e orando, foi que surgiu o também nome isolamento celular

do preso. Recebeu diversas críticas tendo em vista ser muito severo dificultando

totalmente a readaptação do preso à sociedade.

Enrico Ferri apud César Roberto Bitencourt (2011, p. 82) traz críticas ao

sistema celular que tem total relação atualmente:

A prisão celular é desumana porque elimina ou atrofia o

instinto social, já fortemente atrofiado nos criminosos e porque

torna inevitável entre os presos a loucura ou a extenuação (por

onanismo, por insuficiência de movimentos, de ar, etc...

Ainda, importante mencionar, que para a manutenção do sistema, é

necessário despender quantia muito alta, o que na época tornava-se inviável haja

vista ser uma sociedade capitalista.

Ademais, interessante expor o Regime Disciplinar existente em nosso

sistema prisional atual, regulamentado pela Lei de Execução Penal (lei nº 7.210

de 1984), em seu artigo 52, dispõe:

29
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta

grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas,

sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao

regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características:

I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de

repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de

um sexto da pena aplicada;

II - recolhimento em cela individual;

III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com

duração de duas horas;

IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho

de sol.

§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos

provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem

alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da

sociedade.

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o

preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de

envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações

criminosas, quadrilha ou bando.

Portanto, é possível encontrá-lo ainda nos diversos sistemas prisionais.

SISTEMA AUBURNIANO

30
Surgiu no ano de 1818, em Aurburn, Estado de Nova Iorque, representava

um sistema mais abrandado do Pensilvânico ou Filadélfico, descrito acima, tendo

em vista que permitia o convívio dos presos durante o horário de trabalho, porém

em silêncio, por isso também conhecido como Silent System.

É tratado como um sistema muito agressivo, pois se houvesse qualquer

comunicação entre os presos, eram punidos com severos castigos corporais. Em

relação ao silêncio Michel Foucalt (1999, p.212), descreve:

Os detentos só podendo falar com os guardas, com a

permissão destes e em voz baixa, referência clara, tomada ao

modelo monástico. A prisão deve ser um microcosmo de uma

sociedade perfeita onde os indivíduos estão isolados em sua

existência moral, mas onde sua reunião só se efetua num

enquadramento hierárquico estrito, sem relacionamento lateral, só

se podendo comunicar no sentido vertical.

O sistema arburniano fracassou quanto ao Silent System, no entanto,

quanto a sua estrutura física, é muito utilizado, com divisão de três blocos, quais

sejam, o primeiro era composto de prisioneiros frequentes sob o regime de

isolamento total, o segundo era composto por presos menos reincidentes e eram

submetidos a isolamento durante três dias na semana, e o terceiro grupo era

composto por presos que tinham maiores chances de reabilitação, em que o

isolamento ocorria nos períodos noturnos e o trabalho conjunto no período

diurno, ou frequentavam o isolamento uma vez na semana.

A CONDIÇÃO DA MULHER PRESA


31
OS DESAFIOS

Considerar a perspectiva multidimensional que envolve a mulher e a

prisão, a prisão e a mulher, requer indagar o significado da cultura masculina,

imposta e internalizada como modelo padrão no ocidente, que influencia nossa

maneira de pensar e de produzir as relações sociais em todos os níveis de

realidade. Requer considerar e compreender os diferentes contextos em que a

mulher presa vive, tais como seus laços sociais, familiares, simbólicos, suas

visões de mundo, forma¬ção pessoal, crenças, valores, religiosidade. Estas

questões se colocam quando indagamos o que na verdade foi capaz de provocar

o delito e sobrepor-se a um dos maiores bens para a manutenção da vida que é

o direito à liberdade.

A "condição da mulher presa" nos remete à compreensão de que a

condição humana abarca mais do que as condições nas quais a vida foi dada ao

homem (Arendt, 1981:17). Abarca também as circunstâncias que cercam os

homens em sociedade e que se projetam como as condições de sua existência:

as relações de classe, as relações entre pobreza e riqueza, as desigualdades

sociais, o frágil acesso aos bens da sociedade, entre outras. É possível assim,

entender que a "condição da mulher presa" é um desdobramento da questão

social e que, como tal, constitui uma questão mais estrutural de organização de

justiça do Estado e de direitos humanos, do que de invisibilidade e

desconhecimento do que ocorre intramuros.

Encontramos na 1a fase da pesquisa sobre o sistema prisional feminino no

Estado de São Paulo um cotidiano de vida das mulheres presas bastante

desafiador.
32
a)O gênero só é especificado quando as questões investigadas têm como

cenário uma prisão de mulheres; prevalecem os modelos androcêntricos, não só

na forma das normas legais, mas também no olhar socialmente estabelecido

sobre os fenômenos da criminalidade ou do desvio. Além da questão da

superlotação, que é comum no universo prisional masculino, a mulher sofre

diferentes formas de violência (conforme as necessidades específicas de

gênero), no que tange ao seu corpo, na condição de esposa, de mãe, de ser

humano diferenciável entre todos os diferentes. Vivencia um processo de

invisibilidade nas abordagens institucionais, mas também de descaso,

aparentemente deliberado, conduzido a uma múltipla condenação - a mulher

presa é também prisioneira de sua condição de mulher. Geralmente as mulheres

presas acabam cumprindo suas penas em cadeias provisórias sem o

atendimento necessário a que têm direito.

b)A maioria das prisões, hoje, configura-se como espaço físico e de

representações concretas, onde o Estado consolida e legitima, na forma das

estruturas públicas que aí estão o imaginário repressor ou punitivo destinado

como solução aos desviantes. A prisão constitui, hoje, espaço exclusivamente

punitivo e homogeneizante, voltado ao controle e à segregação dos desiguais,

sobretudo daqueles marcados por distintos contextos sociais, econômicos ou de

classe. Na perspectiva institucional, os indivíduos punidos consideram-se

reabilitados na medida em que se anulam enquanto sujeitos - essa abordagem

reformadora do indivíduo assume, na mulher, propriedades de acentuada

tentativa de transformação da sua identidade e de sua condição.

c)A expressão "mulher encarcerada" remete a uma representação

individual derivada de um contexto social, histórico e cultural que atribui à mulher


33
um conjunto de estigmas e preconceitos que, do ponto de vista etiológico, são

associados a atos de violência e humilhação, indignação e sofrimento, tanto

como agressora quanto na condição de vítima. Esse processo de múltipla

afetação da mulher - inferior submissa e pecadora - conduziu, no Brasil, a outra

invisibilidade da sua condição enquanto mulher encarcerada: o descaso para

com a sua individualidade na perspectiva de uma entidade hominificada,

homogênea e esquecida.

d)Acresce-se a essa invisibilidade institucionalizada entre muros a imagem

socialmente construída sobre a mulher que delinquiu. A mulher encarcerada

constitui a negação do ideal moral feminino, sendo, frequentemente, alvo de

repúdio explícito, de segregação e, ao contrário do homem preso, não passível

de perdão. À conduta do homem, capaz de se regenerar, opõe-se a noção de

que o desvio da mulher a incapacita nas suas naturais aptidões de esposa, de

cuidadora, de mãe e de marco referencial do lar. Não se trata apenas de

manifestações reproduzidas na herança de cultura de poder violento e

segregador, mas também da explícita violação dos direitos objetivos expressos

em lei e dos direitos subjetivos conquistados pelas mulheres.

e)A "impossibilidade" institucionalizada de reestruturar o sistema

penitenciário por meio de processos de "ressocialização" e de "inclusão social",

atendendo aos direitos sociais e humanos e a condição de indivíduo se agrava

quando se trata da "mulher encarcerada". Assim, o sistema prisional tem mantido

de forma consciente e institucionalizada, a homogeneização da população

carcerária feminina, negando-lhe os direitos individuais reconhecidos nas normas

nacionais e internacionais, como a individualização das penas, não exercendo o

seu efetivo papel de "sodalizador", "educador", "includente" e "exemplar"; pelo

34
contrário, reafirma, em muitos casos, a reprodução da exclusão social, da

estigmatização e da própria criminalidade.

f) Subsiste o intuito de transformar e enquadrar a mulher presa em

modelos tradicionais, entendidos de acordo com padrões sexistas, conforme o

caráter reabilitador do "tratamento". Procura-se restabelecer o papel social de

mãe, de esposa e guarda do lar, fazendo a mulher presa aderir aos valores da

classe média, naturalizando as atribuições de gênero e reproduzindo a

desigualdade.

g)As práticas e comportamentos criminalizados pela norma tendem a

naturalizar-se no olhar coletivo - naturalização da norma. Furtar e traficar, sendo

socialmente reprovados e juridicamente criminalizados, constituem práticas

correntes de um processo de sobrevivência do cotidiano, em que falta o trabalho,

a educação, e do qual a comunidade e o Estado estão ausentes, sem

efetivamente aplicar as suas políticas públicas de assistência, apoio e

acompanhamento.

h)Observa-se uma substancial alteração dos processos identitários da

"mulher encarcerada". Durante décadas, a mulher presa conviveu com o universo

do desconhecido, decorrente da diversidade de origens e de motivações do seu

desvio, e entre desconhecidos tornava-se vulnerável aos processos de

modelagem da personalidade e dos valores. Essa circunstância favorecia a

construção (e a auto reconstrução) de uma identidade de gênero identificada nas

atividades restauradoras da personalidade feminina praticadas na prisão. Hoje,

por efeito da crescente associação a grupos sociais vulneráveis e excluídos do

sistema socioeconômico e educativo e, dada a alteração do espectro

criminológico com o aumento do consumo e tráfico de entorpecentes, as


35
identidades coletivas emergem a partir da noção de pertencimento de classe, de

bairro, de vizinhança e, muitas vezes, do grupo familiar.

i) A homogeneidade dos contingentes de reclusas altera a representação

da prisão - do anterior vácuo social passou-se à constituição de uma

continuidade com o mundo pré-prisional. Se acrescentarmos a essa imprevista

disfunção do espaço prisional a incapacidade institucional de configurar a

ressocialização ou a efetivação de políticas públicas como um processo amplo,

poderemos entender os recentes fenômenos como movimentos de

"reorganização", que procuram ocupar os espaços de abandono do Estado a

recente constituição das "facções criminosas", as ações das ONG's, o papel das

igrejas para suprir espaços importantes do desempenho "cuidador" atribuído e

reclamado do Estado, entre outras.

Todos estes desafios desdobram-se em situações conflitivas ou que

envolvem aspectos contraditórios, e nos colocam diante de incertezas e

demandas difíceis de serem enfrentadas. Percebidos e analisados de forma

estanque registram sua fragilidade, mas, apreendidos no seu contexto e cenários

multi-referenciados, apresentam as contradições da organização da instituição

carcerária e do Estado, no cotidiano da vida nas prisões.

A MULHER E A PRISÃO, A PRISÃO E A MULHER

Observamos que as formas sob as quais funcionam as prisões e, de modo

geral, a organização judiciária, são simplificadoras na medida em que a condição

dos sujeitos e, aqui, particularmente da mulher, fica reduzida à infração praticada.

Expressando uma visão dicotômica do ser humano nos espaços das prisões, o
36
olhar para a mulher presa traz implícita e explicitamente o ideal ocidental que

reafirma e justifica as cisões do bem e do mal.

O delito, observado pela ótica do sistema prisional e as representações

cotidianas nas quais o Estado se consolida e se legitima, na forma das estruturas

públicas que aí estão o imaginário repressor ou punitivo destinado como solução

às desviantes, revelam uma visão estática da realidade e uma visão dualística

das encarceradas, ficando seus atos e sua pessoa classificados como benéficos

ou maléficos. Essa ordem na instituição prisional parte de uma visão de homem

pronto e acabado e não de seres em desenvolvimento, que estão no sistema

justamente para ressocializar-se, para se conhecer e conhecer o outro, para

perceber os limites e possibilidades dos seus atos, reconhecer suas

responsabilidades, conquistar seus espaços e respeitar os espaços do outro,

aprender a conviver com a ordem, com as regras coletivas e de convivência, mas

com direito também de questioná-las, quando necessário. Quase sempre esse

questionamento se apresenta na ótica do sistema como falta de bons modos, até

como insurgência. Ora, o desenvolvimento humano não pode ser visto como bom

ou mau, mas como pulsões de vida em que cabe o erro e o acerto, a experiência

e a aprendizagem.

O ser humano é um ser racional e irracional, capaz de medida e

desmedida; sujeito de afetividade intensa e instável. Sorri e chora, mas sabe

também conhecer com objetividade; é sério e calculista, mas também ansioso,

angustiado, gozador ébrio, extático, é um ser de violência e de ternura, de amor e

de ódio; é um ser invadido pelo imaginário e pode conhecer o real, que é

consciente da morte, mas que não pode crer nela; que secreta o mito e a magia,

mas também a ciência e a filosofia; que é possuído pelos deuses e pelas ideias,

mas que duvida dos deuses e critica as ideias; nutre-se dos conhecimentos
37
comprovados, mas também de ilusões e de quimeras. E quando, na ruptura de

controles racionais culturais e materiais, há confusão entre o objetivo e subjetivo,

entre o real e o imaginário, quando há hegemonia de ilusões, excesso

desencadeado, então o homo demens submete o homo sapiens e subordina a

inteligência racional a serviço de seus monstros (Morin, 2000:59-60).

Evoca-se aqui, uma proposta do pensador francês contemporâneo Edgar

Morin, quando, criticando o período em que vivemos como de extrema política

mentalmente regressiva, reduzida à economia e às ideias fragmentadas e

gregárias, traz como ponto de partida o conceito de Política de Civilização.

Propõe assim, exercitar e colocar em "campo" uma política pela qual o ser

humano em toda sua inteireza, torne-se o centro das preocupações e da vida. É

uma "política do homem", multidimensional, na qual todos os problemas

humanos têm sua dimensão política. Define civilização pelo conjunto dos seus

constituintes materiais, técnicos, cognitivos, científicos e tradicionais; suas

carências e perversões configuram o bem-estar (desenvolvimento tecnológico,

cultural, etc.), como conquistas da nossa civilização, às quais aspiram todos

quantos a elas não tenham acesso. Esta visão que integra o pensamento

complexo - não pode ocultar a gravidade dos problemas e ameaças geradas pela

nossa civilização. Os progressos das ciências, das técnicas, da economia, da

urbanização, da burocracia e mesmo do individualismo, que pareciam ser

motores de um progresso histórico generalizado, revelam de todas as formas, as

suas ambivalências.

A consciência da ausência de humanização no sistema prisional feminino

conduz a certa expectativa para retirar este problema dos subterrâneos

intrapolíticos onde estão escondidas diferentes questões, tais como: o

descumprimento da Lei de Execução Penal (LEP), a arquitetura prisional


38
"adaptada" do sistema prisional masculino para o feminino, a invisibilidade dos

filhos das cidadãs presas, a perda da identidade feminina e étnico-racial, o uso

abusivo de drogas e, o encarceramento do Serviço Social nas prisões.

Apesar de tudo, as cadeias não existem no vácuo e, de algum modo às

lógicas internas reenviarão a lógicas extra prisionais, quer tomemos apenas o

grupo recluso, quer a instituição no seu todo. Do ponto de vista institucional, por

exemplo, o universo em questão não só não destituiu como faz constantemente

apelo ao referente (que para as internas podemos também considerar como

identitário), no qual se funda desde o início: o gênero. Mais propriamente, uma

determinada ideologia do gênero, cujas tonalidades se acentuam quando conjuga

feminino com delinquência. A relação da prisão com esta ideologia, manifesta¬-

se em elementos materiais, organizacionais e simbólicos da instituição, tendo

momentos históricos fortes (como nas ditaduras) e fracos (por efeito de inércia ou

de vontade política).

A LEP orienta e regulamenta as condições de cumprimento de penas

privativas e restritivas de liberdade. A impossibilidade da estrita observação ou

até mesmo do sentido orientador da lei é reconhecida por todos os níveis e

agentes do sistema legislativo, executivo e judiciário. Estas instâncias se

refugiam em análises genéricas, com base em relatórios que "denunciam" a

situação com contínuas recomendações para a necessidade de cumprimento da

lei, mas sem conseguir atingir seus objetivos.

O sistema penitenciário se fecha num universo impenetrável, difícil de

promover mudanças, oculta e mascara a realidade prisional, abrigando-se no

recorrente argumento da escassez de recursos para adequar as unidades

penitenciárias ao aumento das taxas de criminalidade. A consequência imediata


39
é a sempre anunciada e reconhecida superlotação das cadeias com o decorrente

agravamento das já precárias condições físicas e de acolhimento da população

prisional.

"Não é muito fácil... está tudo lotado... é difícil conseguir (uma

transferência)... não é função nossa... já devia ir para uma cadeia provisória, que

existe... mas está aí... a polícia civil acabou assumindo essa responsabilidade

que não é dela... a polícia militar não assumiu por questões da administração,

não sei por quê... e ficou aquele provisório como definitivo... tem gente que chega

a cumprir pena aqui... agora é que tem aquele CDP de Franco da Rocha... não

recebi nenhum documento oficial... vai ser feita esta inclusão, deslocar... a cadeia

de Indaiatuba, já se começou a fazer esse processo... a próxima será Itupeva...

que para elas é melhor porque lá tem tudo... aqui tem de arrumar, de

improvisar...”.

Observa-se assim, a institucionalização de limites para reestruturar o

sistema penitenciário e para a efetivação dos processos de "ressocialização" e

de "inclusão social", situação que se agrava quando se trata da "mulher

encarcerada".

A ideia de construção de espaços diferenciados para homens e mulheres,

prevista na reforma do Código Penal de 1940 (momento em que o Estado

brasileiro assumiu a competência exclusiva de acolher e tutelar os condenados),

que culminou com a construção do Presídio de Mulheres no Carandiru, não

sofreu evolução, sendo recorrente, nesse espaço de tempo, as adaptações de

espaços masculinos para receber o crescente contingente carcerário feminino.

Lembramos que esse modelo de prisão feminina dos anos 40 acentuava (e agora

formalizava como modelo oficial do Estado) o sentido moralizador e restaurador


40
do ideário doméstico, cultural e submisso da mulher, contraditoriamente

ausentes, até hoje, das condições para o exercício do seu papel de esposa e de

mãe. Nenhuma unidade penitenciária feminina do Estado de São Paulo possui

maternidade, berçário ou creche, nenhuma unidade possui assistência

ginecológica continuada, e poucas oferecem condições para a visita íntima de

companheiros (as), direitos que só em maio de 2009, passaram ao regime de

obrigatoriedade.

L., 31 anos, tem três filhos, foi presa grávida por sequestro há sete anos,

encontra-se na Penitenciária Feminina "Dra. Maria Cardoso de Oliveira" -

Butantã, na qual estão cerca de 630 mulheres presas em regime-aberto. Expõe

que na maternidade, sofreu preconceito de outras mulheres por estar presa.

"A gente ia dar vacina nos bebês, todas se afastavam e cochichavam,

olhando pra mim e pra minha filha. Eu estava descalça e ela, enrolada num pano,

porque não deixavam minha advogada levar roupinhas pra ela".

Permaneceu apenas três dias com a criança - nascida com problemas no

coração, segundo L. -, que foi entregue para a família. Ficou presa numa cadeia

em São Bernardo (SP) por um ano e sete meses. Em seguida, foi para a extinta

Penitenciária do Tatuapé, e lá permaneceu por oito meses. Seguiu para a

Penitenciária Feminina de Sant'Anna, na qual ficaram três anos e nove meses,

até chegar ao Butantã reconhecido como a melhor de todas, onde está há oito

meses.

"Aqui tem muito curso interessante, tem a biblioteca. A janela dos quartos

é de vidro, a gente pode olhar a rua. (...) Em São Bernardo, a alimentação era

horrível, meus filhos pegaram uma doença lá, ficaram com um cascão pelo corpo
41
todo. (...) No Tatuapé, fazia tratamento do coração porque tenho arritmia; as

firmas eram boas, tinha professor de dança. O ruim é que não tinha ventilação na

cela, não tinha janela".

Sobre a Penitenciária de Sant'Anna, segundo L., "o bom é que se mora de

dois e tem visita na cela". Frequentava a igreja Assembleia de Deus, estudou até

o oitavo ano do ensino fundamental, considerava-se "morena clara", afirmando

que a família da mãe era de negros.

L. não pôde permanecer com sua filha no período de amamentação. Isto

contraria a previsão constitucional que, no inciso L, do seu artigo 5o, determina:

"Às presidiárias serão asseguradas as condições para que possam permanecer

com seus filhos durante o período de amamentação". Contraria também o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 que, em seu artigo 9o,

prevê: "o poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições

adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas à

medida privativa de liberdade".

No que tange às políticas de ressocialização e de trabalho, assim como os

"direitos sociais e humanos" referenciados pela LEP, observa-se grande distância

entre o que dispõem essas políticas e a legislação, por um lado, e aquilo que, por

outro, é levado a termo. As prisões quase que dependem da qualidade de

profissional que as coordenam; suas ações não são monitoradas e é pouco

visível o compromisso para colocar programas e políticas em prática.

Assim, o sistema prisional tem mantido, de forma consciente e

institucionalizada, a homogeneização da população carcerária feminina,

negando-lhe os direitos individuais e coletivos reconhecidos nas normas


42
nacionais e internacionais. Deixa de cumprir suas atribuições no que concerne ao

caráter individual das penas, não exercendo o seu efetivo papel de "socializador",

"educador", "includente" e "exemplar". Pelo contrário, reafirma, em muitos casos,

a reprodução da exclusão social, a estigmatização e a própria criminalidade.

As práticas e os comportamentos criminalizados pela norma tendem a

naturalizar-se no olhar coletivo. Furtar e traficar, socialmente reprovados e

juridicamente criminalizados, constituem práticas correntes de um processo de

sobrevivência do cotidiano, em que faltam o trabalho, a educação, e do qual a

sociedade/comunidade e o Estado estão ausentes, sem efetivamente aplicar as

suas políticas públicas de assistência, apoio e acompanhamento.

A pobreza é tratada como um fenômeno natural da sociedade. Persiste

certa ideologia de que quem é rico tem boas condições de vida partindo de seu

próprio esforço. Os pobres, ao contrário, parecem não se esforçar, mantendo-se

na condição já naturalizada. Assim, a questão da pobreza é vista antes como um

caso de segurança pública, do que como uma questão social, decorrente de

diferentes situações, especialmente, a concentração de renda, baixo nível de

exigência educacional e a grande desigualdade social.

Criada pela mãe, empregada doméstica e pelo padrasto, funileiro e técnico

de eletrodomésticos, Le., presa na Penitenciária Feminina de Sant'Anna, revela

boa memória de sua a infância, em Guarulhos, onde nasceu. Lembra-se dos

brinquedos e do gosto que tinha em ir à escola. A avó teve participação na sua

criação e na dos seis irmãos, pois os pais trabalhavam. Mas, se contradiz quanto

à inexistência de "obstáculos":

43
"Minha mãe não podia comprar material de escola e roupa para todo

mundo. Era mais economizado. Minha família também já passou fome,

principalmente quando minha mãe ficou grávida dos gêmeos. Muita gente a

ajudou, a Pastoral da Criança, a assistente social, as mulheres para quem ela

fazia faxina (...). Comecei a trabalhar com 11 anos, vendendo bala no farol. Com

13, cuidava de criança, com 15, trabalhei em lanchonete, com 17, em padaria e

em telemarketing com 19, onde fiquei até seis meses antes de ser presa. Depois

voltei a vender bala em faróis."

Na prisão, hoje, Le. Não se esconde da máquina fotográfica do

pesquisador; enfrenta a sua circunstância reconhecendo a infração, mas não

interioriza a outrora vergonha ou estigmatização moral. A sua conduta legitima-se

agora no contexto alargado do grupo social em que se situam as suas práticas

consideradas possíveis: traficar é um negócio (reconhecido como ilegal e que

pode levar à prisão), mas que, em princípio, não ofende ninguém. É um

expediente disponível para suprir necessidades imediatas de sobrevivência e

assegurar a coesão do grupo familiar. É também a maneira de demonstrar poder

no âmbito das correlações de forças da sociedade.

A partir destas considerações, compreende-se que tirar o problema do

subterrâneo, torná-lo centro da atenção política e transformá-lo, é o grande

desafio. A qualidade de vida nas penitenciárias femininas é questão social, diz

respeito ao Estado e à sociedade.

CONSIDERAÇÕES

44
A intenção foi discutir conceitos de qualidade de vida profissional de

servidores penitenciários, refletindo acerca do papel da gestão penitenciária na

garantia de espaços de trabalho que promovam saúde e reduzam riscos

psicossociais e vulnerabilidades no trabalho penitenciário.

Ocorre que o binômio homem/trabalho ao longo da história sempre se

apresentou conflitante, portanto, requer estudos e investimentos na perspectiva

de superação do estigma trabalho penoso, fazendo com que o ambiente de

trabalho seja um espaço de satisfação pessoal e bem-estar do trabalhador.

Ressalta-se considerar a saúde e bem-estar como foco no cenário da qualidade

de vida profissional do servidor penitenciário, considerando os fatores de risco

desses profissionais nos ambientes prisionais.

Refletiu-se acerca de estratégias de gestão que possam contribuir na

intervenção de aspectos que possam interferir na qualidade de vida profissional

dos profissionais expostos aos mais diversos riscos de trabalho, podendo ser

eles psicossociais, ocasionados pela exaustão por fontes estressoras. Portanto,

cabe citar que o interesse da pesquisa esteve para além de apontar vagas

críticas à realidade das condições de trabalho no Sistema Prisional e que podem

desencadear um estado de esgotamento mental no servidor público, vindo afetar

seu bem-estar no espaço ocupacional e consequentemente sua qualidade de

vida profissional.

Buscamos desvelar proposições a partir das necessidades/demandas do

servidor e da visão estratégica do gestor, que possam contribuir para a melhor


45
qualidade de vida no trabalho do Servidor Técnico Penitenciário, garantindo

assim, a qualificação na oferta do Serviço Público, a redução de afastamentos

por moléstia, favorecendo a qualidade de vida profissional do trabalhador,

promovendo uma qualidade de vida total que considere o contexto da vida

pessoal x profissional para a garantia da saúde e bem estar do servidor.

Cabe ao gestor, demonstrar a importância que o servidor tem para a

organização motivando-o a sua prática laborativa, principalmente neste momento

de crise econômica em que vive o Brasil, momento em que o trabalhador se

sente desvalorizado e desrespeitado. Contudo, cabe a gestão criar estratégias

para que o servidor possa se sentir bem, e se tratando de contexto penitenciários

o desafio torna-se grande, pelas inúmeras características apontadas ao longo do

texto acerca da vulnerabilidade de riscos que o espaço pode provocar no

trabalhador.

Entretanto, torna-se indispensável pensar na acumulação de esforços por

parte da gestão penitenciária, que possam contribuir na superação de condições

frágeis de vulnerabilidade que arriscam a saúde do trabalhador, garantindo enfim

um espaço de trabalho que promova a qualidade de vida profissional.

PRISÕES-MODELO APONTAM SOLUÇÕES PARA CRISE

CARCERÁRIA NO BRASIL

46
Unidades prisionais pequenas, estímulo do contato dos

detentos com suas famílias e com a comunidade, trabalho,

capacitação profissional e assistência jurídica eficiente. Essas são

algumas das características de prisões consideradas modelo que já

funcionam pelo país. Elas estão sendo tratadas pelas autoridades

como possíveis soluções para os problemas do sistema prisional

brasileiro.

O sistema carcerário do país já foi classificado de "medieval" pelo próprio

ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Entre seus principais problemas

estão os assassinatos, a superlotação, a falta de infraestrutura e higiene, os

maus-tratos, a atuação do crime organizado e os motins.

Há pouco mais de dois meses essa realidade veio à tona com a explosão

de violência no complexo penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão – que

resultou na intervenção da Força Nacional após o assassinato de cerca de 60

detentos no período de um ano.

A crise acabou sendo amenizada com ações emergenciais, mas, para

analistas em segurança, a única forma de evitar explosões de violência como

essa é fazer mudanças estruturais nos sistemas carcerários dos Estados.

47
RAÍZ DO PROBLEMA

Segundo o especialista em segurança pública Cláudio Beato, professor da

Universidade Federal de Minas Gerais, a violência dentro dos presídios está

diretamente relacionada com a insegurança nas ruas.

Como o Estado falha em garantir a integridade dos presos em muitas

unidades prisionais, segundo ele, para se proteger, os detentos se organizam em

facções criminosas. Porém, esses grupos evoluem criando redes de advogados,

formas de financiamento, obtenção de armas e assim elevam o crime para um

nível mais nocivo, que afeta toda a sociedade.

"As prisões são as responsáveis pela mudança do patamar do

crime no Brasil", afirmou.

A primeira forma de mudar a realidade carcerária seria então fazer o

Estado cumprir seu papel de garantir a segurança dos detentos. Mas é mais

difícil fazer isso em unidades prisionais enormes e superlotadas.

"Unidades (prisionais) pequenas e próximas da comunidade

com a qual o detento tem laços: essa é a melhor forma para

colaborar com a sua recuperação", afirmou o juiz Luiz Carlos de

Resende e Santos, chefe do Departamento de Monitoramento e


48
Fiscalização do Sistema Carcerário, um órgão do CNJ (Conselho

Nacional de Justiça).

Segundo ele, há atualmente no sistema prisional do país algumas

unidades que possuem essas características e poderiam ser tomadas como

modelos.

Santos diz que, na maioria dos casos, o bom funcionamento dessas

prisões está diretamente relacionado a uma determinada gestão ou

administrador. Por isso, a maioria das boas experiências acabam surgindo e

desaparecendo em um movimento cíclico.

Ainda assim, algumas delas têm perdurado por anos e estão chamando a

atenção dos especialistas do setor.

MODELO APAC

Um dos modelos positivos citados por analistas é o da Apac (Associação

de Proteção e Amparo aos Condenados). Ele funciona em mais de 30 unidades

em Minas Gerais e no Espírito Santo e abriga aproximadamente 2,5 mil detentos.

49
O modelo tem uma forte ligação com a religião cristã – fato criticado por

alguns especialistas. Suas características principais são proporcionar aos presos

contato constante com suas famílias e comunidade, ensinar a eles novas

profissões - como a carpintaria e o artesanato – e não usar agentes

penitenciários armados na segurança.

Uma das principais vantagens do sistema é a baixa taxa de reincidência

dos detentos no crime – entre 8% e 15%, segundo o CNJ. Nos presídios comuns

ela pode chegar a 70%, de acordo com a entidade.

Mas para que o modelo dê certo, os presos (dos regimes fechado e

semiaberto) que participam dele são cuidadosamente selecionados. Detentos

com histórico de violência e desobediência, além de líderes de facções

criminosas, geralmente não têm acesso a essas unidades. Mesmo assim,

segundo Santos, o índice de fugas ainda seria maior que o do sistema

penitenciário comum.

"O modelo da Apac é interessante e funciona muito bem para os presos

menos perigosos e eles são a grande maioria (da população carcerária do país)",

afirmou Beato.

MODELO AMERICANO

50
Unidades prisionais pequenas, estímulo do contato dos

detentos com suas famílias e com a comunidade, trabalho,

capacitação profissional e assistência jurídica eficiente. Essas são

algumas das características de prisões consideradas modelo que já

funcionam pelo país. Elas estão sendo tratadas pelas autoridades

como possíveis soluções para os problemas do sistema prisional

brasileiro.

O sistema carcerário do país já foi classificado de "medieval" pelo próprio

ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Entre seus principais problemas

estão os assassinatos, a superlotação, a falta de infraestrutura e higiene, os

maus-tratos, a atuação do crime organizado e os motins.

Há pouco tempo, essa realidade veio à tona com a explosão de violência

no complexo penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão – que resultou na

intervenção da Força Nacional após o assassinato de cerca de 60 detentos no

período de um ano.

A crise acabou sendo amenizada com ações emergenciais, mas, para

analistas em segurança, a única forma de evitar explosões de violência como

essa é fazer mudanças estruturais nos sistemas carcerários dos Estados.

51
A BBC Brasil ouviu uma série de juristas e especialistas no setor prisional

para levantar os problemas e fatores que podem nortear esse tipo de mudança.

SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

O art. 24 da Constituição Federal Brasileira optou pela denominação de

"Direito Penitenciário" eliminando outras denominações como "Direito da

Execução Penal" ou "Direito Penal Executivo".

O Direito Penitenciário é o conjunto de normas jurídicas que disciplinam o

tratamento dos sentenciados, é disciplina normativa. A construção sistemática do

Direito Penitenciário deriva da unificação de normas do Direito Penal, Direito

Processual Penal, Direito Administrativo, Direito do Trabalho e da contribuição

das Ciências Criminológicas, sob os princípios de proteção do direito do preso,

humanidade, legalidade, jurisdicionalidade da execução penal.

Já a Ciência Criminológica ou Penologia, é o estudo do fenômeno social,

cuida do tratamento dos delinquentes, e o estudo da personalidade dos mesmos,

sendo uma ciência causal-explicativa inserindo-se entre as ciências humanas. O

objeto da Ciência Criminológica antigamente, limitava-se ao estudo científico das

penas privativas de liberdade e de sua execução, atualmente compreende ainda

o estudo das medidas alternativas à prisão, à medidas de segurança, o

tratamento reeducativo e a organização penitenciária.

52
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

Rodrigues Marcus VC. Qualidade de vida no trabalho: evolução e análise no

nível gerencial. Petrópolis: Editora Vozes; 1999.

53
Moretti Silvinha. Qualidade de vida no trabalho x autorealização humana

[Internet]. [citado em 30 jul 2016]. Disponível em: http://www.ergonomia.ufpr.br.

Guimarães LAM. Atualizações em qualidade de vida no trabalho. Apostila do

Programa de Mestrado em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB),

2005.

Lei nº 7.210 de 11 de Julho de 1984. Lei de Execuções penais. [Internet].

[citado em 15 de maio de 2016]. Disponível em: .

Bonez A et al. Saúde mental de agentes penitenciários de um presídio

catarinense [internet]. Curitiba: PsicolArgum.; 2013;31(74):507-17. [citado em abril de

2012]. Disponível em: .

Tschiedel RM, Monteiro JK. Prazer e sofrimento no trabalho das agentes de

segurança penitenciária [internet]. Estudos de psicologia: 2013;18(3):527-535. [citado

em 05 de setembro de 2013]. Disponível em: .

Chies LAB. A prisionalização do agente penitenciário: um estudo sobre os

encarcerados sem pena. Cadernos de Direito, 2001.

Carlotto MS. Síndrome de burnout: o estresse ocupacional do professor.

Canoas: Ed. ULBRA; 2010.

Couto HA, Moraes, LFR. Limites do homem. Revista Proteção. 2000.

Vaez Elaine Cristina Vaz. Qualidade de vida profissional em assistentes sociais

da cidade Campo Grande. [dissertação]. Campo Grande: Universidade Católica Dom

Bosco; 2007.

Morgan G. Imagens da Organização. 1.ed. São Paulo: Atlas; 2007.

Costa Selma. Visão estratégica de recursos humanos. ULBRA EAD; 2014.


54
Carlotto MS, Câmara SG. Análise da produção científica sobre a Síndrome de

Burnout no Brasil. Revista Psico. 2008;39(2):152-158.

ATIVIDADES DO CURSOGESTÃO PENITENCIÁRIA

Os exercícios a seguir, são de múltipla escolha. Assinale a alternativa correta. Em

seguida, preencha corretamente o Cartão Resposta. Boa Sorte!

55
1- A equipe técnica do Serviço Penitenciário tem como principal competência

“desenvolver o tratamento penal, por meio da garantia dos direitos às

pessoas em condição de privação de liberdade e da:

( A ) “intervenção de conflitos existentes no ambiente prisional”.

( B )“aniquilação de conflitos existentes no ambiente prisional”.

( C ) “mediação de conflitos existentes no ambiente prisional”.

( D ) Todas as alternativas acima estão corretas.

2 - Embora o cenário drástico de superlotação das unidades prisionais no Brasil

seja central para a violação de direitos das pessoas privadas de liberdade no

sistema prisional, é certo que ele não pode ser visto, de forma simplista:

( A ) Como causa inexistente dos problemas carcerários.

( B ) Como a única causa dos problemas carcerários.

( C ) Que se contrapõe à ideia jurídica.

( D ) Todas as alternativas acima estão erradas.

3 – A gestão prisional no país é carente de conceitos que amparem a sua

especificidade, prevalecendo ainda o empréstimo de saberes de outras

áreas, sobretudo:

56
( A ) Do conhecimento importado dopoder público.

( B ) Do conhecimento importado da atividade policial.

( C ) Do conhecimento próprio.

( D ) Todas as alternativas acima estão corretas.

4 – Departamento Penitenciário Nacional reúne especialistas, a partir de Grupos

de Trabalho (GTs) e outros fóruns, visando elaborar diretrizes voltadas à:

( A ) Qualificar a polícia.

( B ) Qualificar todo o Poder Público.

( C ) Qualificação da política prisional implementada no país.

( D ) Todas as respostas acima estão corretas.

5 – se a perspectiva foucaultiana atribui à instituição prisional a primazia na

construção de formas de controle sobre corpos e de produção de saberes

a elas articulados, no caso brasileiro salta à vista a ineficácia das prisões

tanto para o exercício de tal controle:

57
( A ) Como na produção de tais saberes.

( B ) Como na produção de história.

( C ) Como uma previsão amadorística.

( D ) Todas as alternativas acima estão corretas.

6 - Para se fazer cumprir a Lei de Execuções Penais – LEP e as

competências atribuídas ao Servidor, o esforço profissional torna-se uma

tarefa árdua e difícil para tais profissionais, devido a possíveis

fragilidades, como:

( A ) A grande demanda de trabalho.

( B ) Carência de recursos humanos e materiais para operacionalizar os

serviços de assistência ao preso e na efetivação de Políticas Públicas que

possam viabilizar a reinserção social destes.

( C ) Fatores pessoais trazidos pelos servidores que podem fragilizar seu

exercício profissional.

( D ) Todas as respostas acima estão corretas.

7 - A definição de estratégias pelo gestor no gerenciamento das

demandas trazidas pela equipe de trabalho é necessária e indispensável para a

harmonia do ambiente laboral, pela saúde mental do trabalhador e:

( A ) Para o fracasso do trabalho a ser desenvolvido.


58
( B ) Para as demandas do dia a dia.

( C )Para o êxito do trabalho a ser desenvolvido.

( D ) Nenhuma das respostas está correta.

8 – Cabe a gestão criar estratégias para que o servidor possa se

sentir bem, e se tratando de contexto penitenciários o desafio

torna-se grande, pelas inúmeras características apontadas

acerca da:

( A ) Gama de problemas trazidos.

( B ) Vulnerabilidade de riscos que o espaço pode provocar no trabalhador.

( C) Inúmeros riscos para os presos.

( D ) Nenhuma das respostas acima está correta.

9 – As prisões são as responsáveis pela mudança do:

( A ) Apaziguamento de soluções.

( B ) Patamar de trabalho no Brasil.

( C ) Patamar do crime no Brasil.

59
( D ) Todas as alternativas acima estão corretas.

10 – Um dos modelos positivos de Gerenciamento Prisional, citados por analistas é o

da:Apac (Associação de Proteção e Amparo aos Condenados).

( A ) Epac (Associação de Proteção e Amparo aos Condenados).

( B ) Apac (Associação de Proteção e Amparo aos Condenados).

( C ) Ipac (Intituição de Proteção e Amparo aos Condenados).

( D ) Nenhuma das respostas acima está correta.

GESTÃO PENITENCIÁRIA

Cursista :_________________________________________________________________
Assinatura : ______________________________________________________________
RG:_________________________ Órgão/Estado:_____________
Nota:_________________ Data:_______________

Após responder as atividades favor enviar o cartão resposta preenchido e assinado

Cartão resposta
(A) (B) (C) (D)
Questão 01
(A) (B) (C) (D)
Questão 02
(A) (B) (C) (D)
Questão 03
(A) (B) (C) (D)
Questão 04

60
(A) (B) (C) (D)
Questão 05
(A) (B) (C) (D)
Questão 06
(A) (B) (C) (D)
Questão 07
(A) (B) (C) (D)
Questão 08
(A) (B) (C) (D)
Questão 09
(A) (B) (C) (D)
Questão 10

Observações: ________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_________________________________________________________________

61

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