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PATRIMÔNIO E GESTÃO – COISAS DE MUSEU

Heloísa Helena Fernandes Gonçalves da Costa*


Luciana Silveira Cardoso**

RESUMO

O presente artigo traz à discussão a contribuição da disciplina “Patrimônio, História e


Memória em Museus” para o desenvolvimento e aporte teórico do projeto “Museu como
instrumento de Gestão do Patrimônio Cultural: Desenvolvimento do Plano Museológico no
Museu Antropológico Diretor Pestana” (MADP), apresentado ao Programa de Pós Graduação
Profissionalizante em Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Santa Maria/RS. A
partir dos conceitos trabalhados em sala buscou-se novos olhares sobre o tema da pesquisa,
bem como a ampliação das possibilidades de ação e a interação entre patrimônio cultural e
gestão museológica. Sempre considerando o Museu Antropológico Diretor Pestana e as
políticas de gestão a serem exercidas.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural, Gestão Museológica, Museu Antropológico Diretor


Pestana.

ABSTRACT

This article presents a contribution to the discussion of the discipline "Heritage, History and
Memory in Museums" for the development and theoretical project "Museum as an instrument
of Cultural Heritage Management: Plan Development Museológico the Anthropological
Museum Director Pestana" (MADP) presented to Vocational Graduate Program in Cultural
Heritage Federal University of Santa Maria / RS. From the concepts used in the classroom we
sought new perspectives on the topic of research, as well as the expansion of the possibilities
of action and interaction between cultural heritage and museum management. Always
considering the Anthropological Museum Director Pestana and management policies to be
exercised.

Key-words: Patrimônio Cultural, Gestão Museológica, Museu Antropológico Diretor


Pestana.

*
Universidade Federal da Bahia(UFBA), Doutora em Sociologia pela Université du Québec à Montréal.
**
Museu Antropológico Diretor Pestana, Bacharel em Museologia pela Universidade Federal de Pelotas(UFPel)
e Mestranda do Programa de Pós Graduação Profissional em Patrimônio Cultural pela Universidade Federal
de Santa Maria(UFSM).
43 Heloísa Helena Fernandes Gonçalves da Costa e Luciana Silveira Cardoso

INTRODUÇÃO

É importante observar que muitas são as ações desenvolvidas em favor da preservação


de patrimônio, entretanto, torna-se fundamental entender e reconhecer que o patrimônio é
muito mais do que uma edificação e/ou um fato histórico. De acordo com Luporini (2000),
nos dias atuais pensar o patrimônio é reconhecer as mudanças na conceituação do termo, que
passa de patrimônio histórico para patrimônio cultural e direciona as ações de preservação
considerando não só o edificado, mas também os saberes, os fazeres, as manifestações, etc.
Entendemos que para haver uma real preservação do patrimônio cultural é necessário
que se projetem ações mais ajustadas às novas realidades sociais. Neste sentido, apresenta-se
a necessidade de criar e atualizar nossas instituições museais, para que trabalhem com a
memória social e o patrimônio cultural, e tornem-se espaços relevantes para a cidadania.
Concordamos com Santos (2002):
A Museologia e o Museu têm uma importância central no contexto de reconstrução
das nações, na busca de um mundo livre e equitativo. Para tanto, torna-se necessária
a formulação de novas diretrizes, à luz dos conhecimentos historicamente
acumulados, no sentido de utilizar o patrimônio cultural como um referencial para o
exercício da cidadania e desenvolvimento social, por meio do processo educativo.
(SANTOS, 2002, págs. 38 e 39)
Percebemos ser necessário que se busque, para que possamos cumprir com sucesso o
objetivo proposto acima, a preservação do patrimônio considerando os fenômenos sociais de
acordo com sua dinâmica real, ou seja, considerando, sobretudo, os grupos sociais envolvidos
nos processos e as diversidades culturais, pois assim exerceremos com propriedade o “fazer
museológico”, sempre reconhecendo a cultura como um processo.
E é neste sentido, considerando os processos culturais e percebendo a necessidade do
fazer museológico, que entram em voga as questões relacionadas à gestão museológica.
Entendemos que não basta criar ou melhorar as instituições de caráter museológico. Tal ação
deve ser acompanhada de uma política de gestão efetiva que reconheça as necessidades dos
espaços de memória, bem como auxilie no desenvolvimento de políticas de preservação
relacionadas aos acervos, segurança, documentação, difusão, estrutura física, educação e,
sobretudo, de reconhecimento e utilização da instituição por parte da sociedade, aceitando
aquele espaço como seu, tanto para usufruir quanto para salvaguardar.
A gestão eficaz do museu é uma responsabilidade que envolve todos os recursos e as
atividades museológicas e todo o pessoal. É um elemento necessário no
desenvolvimento e progresso do museu. Sem gestão própria, um museu não pode
providenciar a preservação e a utilização adequada do acervo, nem pode manter e
apoiar uma exposição e um programa educativo eficaz. Sem uma gestão qualificada,

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pode perder-se o interesse e a confiança pública e o reconhecimento e valor do


museu, como instituição ao serviço da sociedade, pode ser posto em perigo.
Necessita de ser uma reflexão a um alto nível de desenvolvimento social com
pessoal com várias competências educativas e de tomadas de decisão. (Edson, 2004,
pg.145)

A nosso ver, concordando com Edson (2004), o papel fundamental das políticas de
gestão é apoiar a organização da instituição, para que seja possível alcançar resultados
consistentes e assim a Missão institucional seja articulada e cumprida. Defendemos que a
gestão museológica é a ferramenta necessária para que os museus se reconheçam, e consigam
cumprir com excelência suas diretrizes básicas enquanto espaços destinados à salvaguarda e
preservação das memórias e, consequentemente, das identidades sociais.
Indo ao encontro dos aspectos apresentados e defendidos, está a responsabilidade do
Museu Antropológico Diretor Pestana – MADP de ser um local referência para a sociedade
ali representada, ou seja, um patrimônio cultural local, além da questão de ausência de
políticas efetivas de gestão no museu referido.

DESENVOLVIMENTO – o projeto

Inaugurado em 1961 e tendo como objetivo representar “O homem, na sua evolução


dentro do seu meio ambiente, como membro ativo da comunidade” (Fischer, 1962, p.02), o
Museu Antropológico Diretor Pestana se constitui em uma instituição museológica que se
apresenta, perante a comunidade Ijuiense e da Região Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul, como um espaço destinado a guarda dos artefatos que representavam a sociedade, bem
como um local de estudos e pesquisas.
Segundo Mário Osório Marques (1961), o Museu foi fundado para:
...proceder um levantamento, de todos os setores do município e da região.
Estudaremos nossa história: as origens e desenvolvimento desta região.... aqueles
esforços, aqueles sacrifícios iniciais, todo o heroísmo que se expendeu, tudo que
deve ser recordado, é necessário que nada se perca... para que tenhamos tradição,
para que nossa vida tenha continuidade. (MARQUES, 1961)

É neste sentido, reconhecendo a relevância desta instituição para a salvaguarda dos


objetos, documentos e relatos da comunidade da Região Noroeste do RS, que se entende a
necessidade de elaborar e efetuar políticas direcionadas para a gestão do Museu.
Tendo sido aberto ao público em 25 de maio de 1961, por iniciativa do Centro de
Estudos e Pesquisas Sociais da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijuí, o Museu

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Antropológico Diretor Pestana estava responsável por várias tipologias de objetos, bem como
documentos referentes ao município de Ijuí e da Faculdade mantenedora.
Seu acervo inicialmente foi constituído pela doação de material arqueológico coletado
na região pelo Dr. Martin Fischer, um dos fundadores do Museu, sendo acrescido por doações
da comunidade ijuiense. Os cidadãos foram incentivados pelo Programa Radiofônico “Nossas
Coisas Nossa Gente” a participarem do projeto dos fundadores da instituição, que ia ao ar
semanalmente.
Atualmente, o Museu é mantido pela Fundação de Integração, Desenvolvimento e
Educação do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – FIDENE, estando situado em prédio
próprio com área de 1.600m², sendo 491m² destes ocupado pela Exposição de Longa
Duração. A mesma retrata desde a caminhada do Índio, primeiro habitante da Região, seguido
do Caboclo e do Negro, até aspectos das diferentes atividades desenvolvidas a partir da
fundação e colonização do município pelos 19 grupos étnicos que se instalaram, apresentando
ainda atividades agrícolas, comunicação, transporte, indústria, comércio, prestação de
serviços, lazer, educação, religião e moradia, concluindo com um espaço reservado às
manifestações culturais presentes atualmente.
Além do acervo em exposição, que é cerca de dez por cento da totalidade de objetos
musealizados, o Museu é responsável pela salvaguarda de documentos bibliográficos,
iconográficos, filmográficos, sonoros e textuais que estão classificados sob normas
arquivísticas e pertencem, de acordo com sua entrada, a um dos arquivos, sendo os mesmos:
Arquivo Ijuí, Arquivo Sindicalismo, Arquivo Cooperativismo, Arquivo Regional e Arquivo
Kaingang, Guarani e Xeta, além do Arquivo FIDENE – arquivo institucional.
Podemos dizer que o Museu Antropológico Diretor Pestana tem sido, desde a sua
criação, um local de experimentação. Afinal, destacou-se como a primeira instituição da
Região Noroeste que iniciou o processo de salvaguarda, em espaço único, de todos os
documentos referentes à história e memória da sociedade local e regional, também por ser
parceiro da 4ª Região Museológica do Estado do Rio Grande do Sul e desenvolver atividades
em parceria com o Sistema Estadual de Museus.
Entretanto, algumas atividades técnicas específicas foram sendo deixadas à margem
das demais demandas, o que gerou para o Museu grandes problemas no que tange ao alto
reconhecimento de sua Visão e Missão.

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Embora seja reconhecida pela comunidade como um local de guarda e comunicação, a


instituição desconhece suas necessidades e potencialidades, e por tal motivo acaba não
conseguindo assumir uma diretriz para o desenvolvimento de suas demandas, muitas vezes
optando pelo abandono de certa atividade, sem ao menos avaliar as influências que podem ser
geradas a partir de tal ação.
Ao observar tal realidade e, através do conhecimento empírico conhecer as
enfermidades geradas pela falta de diretrizes, é possível notar o quanto as teorias e práticas
museológicas estão unidas e dependem uma da outra para o desenvolvimento de uma ação
efetiva, sendo possível perceber também que hoje a elaboração de uma política de gestão 1
museológica é, sem dúvida, a ferramenta necessária para reconhecer as necessidades e apontar
as soluções a curto e longo prazo.
Além disto, é importante citar que o MADP, assim como os demais Museus
Brasileiros, deve adequar-se à Lei 11.904, de janeiro de 2009, que Institui o Estatuto dos
Museus. Dentre os vários apontamentos estão os Artigos 44, 45, 46 e 47, que direcionam e
afirmam a necessidade de que as instituições elaborem e implementem o Plano Museológico.
Art. 44. É dever dos museus elaborar e implementar o Plano Museológico.
Art. 45. O Plano Museológico é compreendido como ferramenta básica de
planejamento estratégico, de sentido global e integrador, indispensável para a
identificação da vocação da instituição museológica para a definição, o ordenamento
e a priorização dos objetivos e das ações de cada uma de suas áreas de
funcionamento, bem como fundamenta a criação ou a fusão de museus, constituindo
instrumento fundamental para a sistematização do trabalho interno e para a atuação
dos museus na sociedade.
Art. 46. O Plano Museológico do museu definirá sua missão básica e sua função
específica na sociedade e poderá contemplar os seguintes itens, dentre outros:
I – o diagnóstico participativo da instituição, podendo ser realizado com o concurso
de colaboradores externos;
II – a identificação dos espaços, bem como dos conjuntos patrimoniais sob a guarda
dos museus;
III – a identificação dos públicos a quem se destina o trabalho dos museus;
IV – detalhamento dos Programas:
a) Institucional;
b) de Gestão de Pessoas;
c) de Acervos;
d) de Exposições;
e) Educativo e Cultural;
f) de Pesquisa;
g) Arquitetônico-urbanístico;
h) de Segurança;
i) de Financiamento e Fomento;

1
Utilizamos tal expressão pois, além do Plano Museológico os Museus necessitam, para um efetivo processo de
gestão, de outros documentos, tais quais: Regimento Interno e Organograma. Documentos estes que o MADP já
desenvolveu e baseia-se para realização de suas atividades.

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j) de Comunicação.
§ 1o Na consolidação do Plano Museológico, deve-se levar em conta o caráter
interdisciplinar dos Programas.
§ 2o O Plano Museológico será elaborado, preferencialmente, de forma
participativa, envolvendo o conjunto dos funcionários dos museus, além de
especialistas, parceiros sociais, usuários e consultores externos, levadas em conta
suas especificidades.
§ 3o O Plano Museológico deverá ser avaliado permanentemente e revisado pela
instituição com periodicidade definida em seu regimento.
Art. 47. Os projetos componentes dos Programas do Plano Museológico
caracterizar-se-ão pela exequibilidade, adequação às especificações dos distintos
Programas, apresentação de cronograma de execução, a explicitação da metodologia
adotada, a descrição das ações planejadas e a implantação de um sistema de
avaliação permanente.

Todos os apontamentos citados anteriormente, somados ao fato de tal projeto e tema


ainda não terem sido trabalhados junto ao Programa de Pós Graduação Profissionalizante em
Patrimônio Cultural impulsionaram a necessidade e oportunidade de executar tal ação. Afinal,
busca-se, além de trazer à discussão as questões relacionadas à gestão dos museus, a
possibilidade de desenvolver um projeto pioneiro na Região, bem como a entrega de um
produto que possa ser efetivado, a curto prazo, pelo Museu.

REFLEXÕES

Desde 1985, com a Declaração do México, se abre o debate e adota-se o conceito de


Patrimônio Cultural que, segundo o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios –
ICOMOS:
É tudo o que, para determinado conjunto social, interessa proteger por ser
considerado como cultura própria, o que é base de sua identidade, o que o faz
distinto de outros grupos, incluindo não somente monumentos ou outros bens de
caráter físico, mas a experiência vivida, que se condensa na linguagem, nos
conhecimentos, nas tradições, nos modos de usar bens e espaços. (ICOMOS 2)

Neste sentido temos a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e


Natural da UNESCO em 1972, e em 1988 a Constituição Federal Brasileira que através do
Artigo 216, constitui os bens culturais brasileiros, de natureza material e imaterial.
Podemos dizer que a preocupação em conhecer os artefatos que fazem parte da
história e da memória do povo é de suma importância para que a sociedade se reconheça e
faça parte das políticas culturais, além de ter sido grande incentivadora para a criação de
espaços de memória - Museus.

2
http://www.icomos.org.br/001_001.html - acessado no dia 28/04/2013, às 21h42min.

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Entendemos que os processos de regulamentação direcionados ao patrimônio cultural


são o embrião das ações de preservação do patrimônio, afinal, é necessário conhecer o
patrimônio, e isto só se dá através do desenvolvimento de pesquisas e inventários. Indo ao
encontro deste apontamento, temos todo um conjunto de ações em nível nacional que
corroboram nosso pensamento, dentre elas a criação do Serviço de Proteção ao Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN); a implementação do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); a Fundação Nacional de Artes (FUNARTE) e a Lei
3.551 de 4 de agosto de 2000 que institui o Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial.
Além das regulamentações, temos a ampliação do conceito de Museu e da
responsabilidade do mesmo para com o Patrimônio.
Se no século XVIII os Museus firmam-se como espaços de contemplação e
aprendizado, direcionado para pessoas mais “instruídas”, no século XIX, influenciados pela
Revolução Francesa3, apresentam-se as políticas de nacionalização das coleções dos Museus,
o que gera, no século XX, os chamados Museus da Nação, com o intuito de congregar a
história dos heróis e feitos nacionais. Proposta esta que se valida no Brasil, passando assim o
estado a atuar como vetor das ações de preservação do patrimônio entre as décadas de 20 e 50
do século XX.
Este período de valorização da história dos heróis nacionais foi de suma importância
para o fazer museológico e para a noção de patrimônio cultural, pois se percebeu que os
hábitos, costumes, modos de fazer e até mesmo os artefatos materiais de parte da população
estavam sendo esquecidos. Ficando, no final do período, o questionamento: O que é o
patrimônio cultural nacional?
Observa-se, porém, uma mudança de paradigma, o que se constitui em um novo modo
de ver os Museus. Em 1972 surge uma nova proposta para o campo museológico. É a
chamada Nova Museologia, que se expressa publica e internacionalmente na Mesa Redonda
de Santiago do Chile. Este movimento afirma a função Social do Museu e o caráter global de
suas intervenções, e é corroborado em 1984 pela Declaração de Quebec que traz Princípios de
Base para uma Nova Museologia.

3
Movimento social e político ocorrido na França no final do século XVIII que teve por objetivo principal
derrubar o Antigo Regime e instaurar um Estado democrático que representasse e assegurasse os direitos de
todos os cidadãos. In: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/especial/home_rev_francesa.htm

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A chamada Nova Museologia tem a intenção de estimular os museus a se afastarem de


uma postura elitista, enfim, busca tornar a ação museológica mais abrangente, enfatizando a
necessidade da interação entre o Museu e a sociedade, ou seja, “contribuir para a
transformação de uma realidade não dominada pela comunidade num recurso útil para seu
desenvolvimento, tanto presente quanto futuro”(Varine, s.a).
Se no começo do século XX os Museus são gerenciados pelo estado e seguem
diretrizes de gestão direcionadas para a chamada “história oficial”, o final do século XX e o
século XXI apresentam-se como um marco para os processos de gestão compartilhada do
patrimônio.
É neste viés que estão as políticas de gestão museológica, afinal existe a necessidade
de implementar e disseminar a Nova Museologia e para isso é importante criar diretrizes para
padronizar e melhor conhecer e quantificar as ações. Neste momento temos a criação dos
cursos de Museologia, com os currículos totalmente embasados nesta Museologia Social, e a
criação do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) ligado ao Ministério da Cultura e
responsável por “promover e assegurar a implementação de políticas públicas para o setor
museológico, com vistas em contribuir para a organização, gestão e desenvolvimento de
instituições museológicas e seus acervos” (Lei 11.906, art. 1º) sempre em consonância com o
Sistema Brasileiro de Museus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os apontamentos feitos na introdução deste artigo constituem uma reflexão teórica a


respeito da forma como, enquanto profissional de Museu, entendemos e vemos as instituições
museológicas. Entretanto, é importante ressaltar que tais percepções, embora reconhecidas,
estavam afastadas do projeto apresentado ao Programa de Mestrado, tendo em vista o caráter
mais técnico e direcionado do projeto apresentado.
Porém, ao assistirmos a disciplina Patrimônio, História e Memória em Museus, tais
conceitos vieram a discussão, despertando o interesse em refletir a respeito dos conceitos de
memória e identidade relacionados aos conceitos de patrimônio cultural e gestão museológica,
que já haviam sido trabalhado quando da apresentação do projeto de seleção.
Entretanto, essas novas relações conceituais acabam tornando-se ponto de partida para
que se aprofunde o estudo e a avaliação dos mesmos em relação aos novos conceitos que

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serão trabalhados na dissertação, sendo os mesmos: Museu, Gestão e Plano Museológico.


Afinal é impossível, ao pensarmos o Museu, não nos depararmos com o seu reconhecimento
enquanto “lugar de memória”, “templo das Musas”, entre outros. Conceitos com os quais o
MADP, enquanto Museu corroborado nas ações da Nova Museologia, não quer e, a nosso ver,
não deve estar relacionado.
Além das considerações já apontadas, é importante citar o desenvolvimento das
políticas voltadas ao patrimônio e aos Museus, assunto tratado no item Reflexões deste artigo,
isto porque o MADP, mesmo não aplicando nenhum tipo de ação de gestão, considera tais
transformações de extrema importância para que se defina que tipo de Museu teremos e
faremos para as próximas gerações. E esta será a diretriz a ser seguida pela pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FISCHER, Martin. O Comunitário, nº 01, p.02 – Suplemento do Jornal Correio Serrano de


1º de Setembro de 1962.
MARQUES, Mário Osório. Museu e História. Cadernos do Museu nº 11. Ijuí. Editora
UNIJUÍ, 1981, 67 páginas.
EDSON, Gary. Gestão do Museu. In: Como Gerir um Museu: Manual Prático. ICOM, 2004.
________________. Museologia: Roteiros Práticos – Segurança em Museus. Ed. da USP,
2003.
VARINE, Hugues de. Repensando o conceito de museu. In: GJESTRUM, John Aage;
MAURE, Mare. Okosmuseumboka. Noruega: s/e. 1988. p33.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão, Campinas, SP, Editora
da UNICAMP, 1990.
Ciências & Letras. – nº 27 – Porto Alegre; Revista da Faculdade Porto – Alegrense de
Educação, Ciências e Letras, 2000, p349.
SANTOS, Maria Célia. Museu: Centro de educação comunitária ou contribuição ao
ensino formal?. Caderno de Sociomuseologia Lisboa: Centro de Estudos de
Sociomuseologia. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2002.

LEGISLAÇÕES

Código de Ética Profissional do Museólogo – COFEM 1992


Constituição Federal Brasileira – 1988
Lei 3.551/00 – Institui o Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial
Lei 11.904/09 – Institui o Estatuto dos Museus
Lei 11.906/09 – Cria o Instituto Brasileiro de Museus

CARTAS PATRIMONIAIS

VOL. I, 2013, Santa Maria, RS: Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas Editores. Jul 2013/Jun2014.

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