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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

DIREITO

MARIA CAROLINA COSTA SILVA

RESUMO
Direito Processual Civil IV

Palmeiras de Goiás
2024
Doutrina - Artigos

Do pressuposto único para incidência do princípio da fungibilidade dos


recursos no processo civil
Magno Federici Gomes

Introdução

A discussão aborda os recursos processuais como meios de impugnação


às decisões judiciais, permitindo seu reexame por magistrados. Esses recursos
visam a reforma, anulação ou esclarecimento de decisões, refletindo a
necessidade humana de um duplo julgamento e a possibilidade de erro do
julgador.
Um aspecto central é o princípio da fungibilidade dos recursos, que permite
converter um recurso incorretamente interposto para o correto. Esse princípio é
importante para garantir o acesso ao Judiciário, evitando que formalismos
excessivos impeçam a resolução de conflitos. A crítica se direciona à aplicação
rígida desse princípio, sugerindo que a prática do direito material deve prevalecer
sobre o rigor formal.
Além disso, menciona a relevância da análise da jurisprudência e doutrina
sobre o tema, especialmente em relação ao Código de Processo Civil (CPC) de
1939 e suas implicações nas sistemáticas processuais atuais. O estudo propõe
examinar o acesso amplo à jurisdição e as formas dos atos processuais à luz
desse postulado, além de discutir a incidência do princípio da fungibilidade
recursal nas legislações vigentes e revogadas.

Do acesso amplo à jurisdição

O artigo analisa o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional,


previsto no art. 5º, inciso XXXV da CR/88, que assegura a todos o direito de
acesso à jurisdição, transcende a mera formalidade de acesso ao Judiciário.
Defende que o processo deve garantir uma tutela jurisdicional adequada e
efetiva, refletindo a evolução do conceito de jurisdição, que agora está atrelado
à efetividade processual e ao direito social de acesso à justiça. O autor critica
visões que limitam a função do processo à simples emissão de decisões justas,
enfatizando que o papel do Judiciário é restaurar a ordem jurídica e salvaguardar
direitos individuais e coletivos.

Das formas dos atos processuais

É discutido o conceito de formalismo no processo civil, conforme definido


por Oliveira (1997), que abrange a organização e a delimitação dos poderes e
deveres dos sujeitos processuais, visando a efetividade da tutela jurisdicional. O
formalismo é considerado essencial para garantir a previsibilidade e o equilíbrio
no processo, mas não deve ser visto como um fim em si mesmo. O princípio da
instrumentalidade das formas sugere que as formalidades devem ser adaptadas
para atender às finalidades do processo, priorizando a justiça sobre a rigidez
formal.
Dinamarco (2008) complementa essa visão ao afirmar que a
instrumentalidade do processo deve ser orientada para a obtenção de resultados
eficazes, evitando exageros processuais. A mudança da mentalidade dos juízes
é vista como crucial para garantir que as decisões judiciais priorizem a justiça,
em vez de se prenderem a formalidades desnecessárias.
Adicionalmente, o texto menciona que os recursos judiciais devem ser
avaliados com base em pressupostos de admissibilidade, como adequação e
singularidade, permitindo uma aplicação mais flexível do princípio da
fungibilidade recursal. A instrumentalidade das formas e a fungibilidade são
interligadas, permitindo uma abordagem mais racional e eficaz no sistema
processual, embora haja divergências sobre a natureza do erro necessário para
a aplicação desse princípio.

Dos princípios

Os princípios jurídicos são considerados a base fundamental do sistema


normativo, servindo como alicerces que orientam a interpretação e aplicação das
normas. Segundo Reale, eles são essenciais para a validade das demais
disposições, enquanto Bandeira de Mello destaca que violar um princípio é uma
transgressão mais grave do que desrespeitar uma norma isolada, pois afeta todo
o sistema jurídico e seus valores fundamentais. Ávila complementa essa visão
ao afirmar que os princípios são normas com finalidade imediata, exigindo uma
avaliação cuidadosa dos efeitos de suas aplicações. Em resumo, os princípios
constituem o substrato das normas jurídicas, influenciando sua formação,
interpretação e integração.

Distinção entre princípios e regras

O texto aborda a distinção entre regras e princípios no sistema normativo,


destacando que ambos são espécies do gênero normas, mas com
características diferentes. As regras têm um grau de abstração mais baixo e
estabelecem obrigações, permissões e proibições de forma descritiva. Já os
princípios possuem um nível mais elevado de abstração e são finalísticos,
orientando a realização de estados de coisas juridicamente relevantes.
Alexy e Dworkin são citados para explicar que, em caso de conflito entre
princípios e regras, a solução deve considerar a força relativa de cada norma no
contexto específico. Ávila critica os critérios tradicionais de distinção entre regras
e princípios e propõe novos critérios, como o modo como prescrevem
comportamentos e a natureza da justificação exigida para sua aplicação.
Em suma, enquanto as regras impõem condutas específicas de forma
imperativa, os princípios contribuem para decisões de maneira complementar e
podem coexistir em conflitos, permitindo uma maior flexibilidade na aplicação do
direito.

Do princípio da fungibilidade

A concepção de fungibilidade no direito refere-se à possibilidade de


substituir um instituto por outro, tanto no direito material quanto no processual.
No direito substancial, a fungibilidade permite que bens móveis ou prestações
sejam trocados por outros da mesma espécie. No âmbito processual, ela autoriza
o recebimento de recursos diferentes para impugnar decisões, evitando
formalismos que poderiam levar a injustiças.
A fungibilidade é aplicada em diversas situações, como nas tutelas de
urgência, demandas possessórias e procedimentos específicos. Além disso, a
doutrina aponta que, quando há dúvidas sobre o caminho adequado para
formular um pedido, o princípio deve ser aplicado para garantir que a parte não
seja prejudicada.
Estudiosos como Vasconcelos destacam a aplicação da fungibilidade em
várias dimensões processuais, como entre ações rescisória e anulatória, ou
entre embargos diversos. Isso reflete uma nova dimensão do princípio, visando
assegurar uma tutela jurisdicional mais justa e efetiva, baseada em valores
constitucionais fundamentais.

Do princípio da fungibilidade recursal no âmbito do direito processual civil

O princípio da fungibilidade recursal no direito processual civil permite que


recursos diferentes sejam aceitos quando há dúvida sobre qual utilizar. Desde o
CPC de 1939, sua aplicação evoluiu, especialmente com o novo CPC,
promovendo maior flexibilidade e evitando injustiças por formalismos. As
condicionantes para sua aplicação incluem a dúvida sobre o recurso correto e a
proteção do jurisdicionado contra prejuízos formais. Assim, busca-se uma tutela
mais justa e efetiva no sistema jurídico.

Do Código de Processo Civil de 1939

O CPC de 1939, em seu art. 810, estabelecia que a interposição de um


recurso inadequado não prejudicaria a parte, salvo em casos de má-fé ou erro
grosseiro. Essa previsão visava lidar com a complexidade do sistema recursal
da época, que incluía diversos recursos como apelação e agravo de petição. A
ambiguidade nas redações legais gerava confusão sobre qual recurso era
apropriado, resultando em frequentes erros na escolha dos mesmos.
Apesar da previsão do princípio da fungibilidade recursal, surgiram
controvérsias sobre sua aplicação, sem critérios objetivos claros. Entendeu-se
que erro grosseiro ocorria quando um recurso era interposto em desacordo com
a lei ou quando não havia dúvida sobre o recurso cabível. Quanto à má-fé, houve
divergências entre estudiosos, mas predominou a ideia de que se caracterizava
pela utilização indevida de um recurso impróprio para ganhar prazo ou protelar
o processo. O critério principal para má-fé seria a inobservância do prazo do
recurso correto.

Da sistemática vigente

Analisa-se a aplicação do princípio da fungibilidade dos recursos no atual


Código de Processo Civil (CPC), ressaltando que, apesar da ausência de uma
regra explícita como a do antigo Código de 1939, esse princípio ainda é
relevante. Inicialmente, a doutrina e a jurisprudência negaram sua aplicabilidade,
mas com o tempo, reconheceu-se que a simplicidade do novo CPC não eliminou
as dificuldades práticas que surgem no uso dos recursos.
Jorge (2002) e Moreira (1974) defendem que o formalismo não deve
prejudicar os interesses substanciais das partes, enfatizando a
instrumentalidade das formas. Os princípios não precisam de previsão expressa
para serem aplicados, portanto, a fungibilidade ainda pode ser válida no sistema
atual. A discussão gira em torno de quais requisitos devem ser considerados
para sua aplicação, se os do código revogado ou novos critérios adaptados à
realidade contemporânea.
A jurisprudência e a doutrina divergem sobre a manutenção de requisitos
como a ausência de má-fé, com muitos argumentando que a fungibilidade deve
ser aplicada de forma mais flexível, atendendo às necessidades do sistema
atual. A conclusão é que o único requisito necessário para a aplicação do
princípio da fungibilidade deve ser a presença de uma dúvida objetiva, excluindo
a necessidade de uma análise de má-fé.

Dúvida objetiva

Nery Júnior (1997) argumenta que a interposição de um recurso


inadequado é considerada erro grosseiro, especialmente quando a lei é clara
sobre o recurso correto. Esse erro também ocorre quando há unanimidade na
doutrina ou jurisprudência sobre o recurso cabível. Jorge (2002) complementa
que, em casos de dúvida na legislação ou divergência na doutrina, a parte não
comete erro grosseiro ao escolher seu recurso. A discussão do princípio da
fungibilidade recursal emerge quando há dúvida objetiva, sendo fundamental
para a análise de erros em recursos. Doutrinadores, como Medina (2002),
questionam a aplicação desse princípio, especialmente em relação aos recursos
especiais e extraordinários, considerando a rigidez das normas. Além disso, as
reformas no CPC criaram novas nuances sobre o que constitui sentença,
aumentando a complexidade do sistema recursal e a aplicação do princípio da
fungibilidade.

Da tempestividade

O artigo aborda o princípio da fungibilidade recursal no processo civil,


enfatizando a necessidade de que o recorrente siga o prazo do recurso que
considera adequado, independentemente de sua classificação como correto ou
incorreto. A crítica se dirige à jurisprudência predominante, que exige a
interposição do recurso errado dentro do prazo do recurso adequado. Essa
exigência é considerada problemática, pois pode prejudicar o acesso à justiça e
infringir princípios constitucionais, como o devido processo legal e a ampla
defesa.
O autor argumenta que a má-fé não deve ser presumida, pois essa
abordagem gera dificuldades para os jurisdicionados e perpetua interpretações
restritivas. A fungibilidade recursal deve, portanto, ser aplicada em benefício da
parte, permitindo que o juiz receba um recurso inadequado, desde que haja
dúvida objetiva sobre o recurso correto e ausência de erro grosseiro.
Além disso, destaca-se que a não aplicação do princípio da fungibilidade,
sem as devidas considerações sobre a dúvida e a boa-fé, infringe os direitos
fundamentais, criando barreiras ao exercício da jurisdição. O autor conclui que o
acesso à justiça deve ser garantido sempre que houver incerteza sobre o recurso
cabível, valorizando a efetividade do direito à defesa e a função do juiz como
garantidor da justiça no sistema processual. A interpretação deve, assim,
priorizar os princípios constitucionais, promovendo uma justiça mais acessível e
equitativa.

Do procedimento a ser seguido em caso de incidência do princípio da


fungibilidade recursal
O princípio da fungibilidade recursal refere-se à possibilidade de
substituição de um recurso por outro, dependendo da admissibilidade dos
mesmos. Sua aplicação prática exige que o órgão responsável adapte o recurso
interposto ao que realmente se aplica, especialmente em casos de erro, como a
troca entre apelação e agravo de instrumento. A competência para decidir sobre
a fungibilidade recai sobre o juízo que analisa o recurso. Quando um recurso é
interposto erroneamente, o juiz pode determinar que as partes sejam intimadas
para a complementação necessária, adaptando o procedimento conforme os
artigos do CPC. As dificuldades processuais não devem obstruir a viabilização
desse princípio.

Conclusão

O artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição de 1988 garante a todos o direito


à tutela jurisdicional justa e efetiva, superando a visão meramente formal de
acesso ao Judiciário. O processo deve ser um meio para alcançar a justiça, e
não um fim em si mesmo, permitindo que a forma não seja estritamente
observada se o ato cumprir sua finalidade, em conformidade com o princípio da
instrumentalidade das formas.
A fungibilidade recursal, decorrente desse princípio, surge quando há
dúvida objetiva sobre o recurso adequado para contestar uma decisão judicial.
Nesse caso, o Judiciário deve admitir e conhecer o recurso incorreto,
considerando princípios como legalidade, devido processo legal e os direitos
fundamentais, garantindo uma tutela efetiva.
A exigência de cumprimento rígido dos prazos para o recurso adequado é
considerada irrazoável, pois fere os postulados constitucionais. Entretanto, se o
recorrente agir de má-fé, ele estará sujeito às sanções previstas no Código de
Processo Civil, mas isso não deve impedir o conhecimento do recurso.

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