1 Dallacosta, Restelatto e Turra 2019

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R E V I S T A O N L I N E D E P E S Q U I S A

CUIDADO É FUNDAMENTAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO . ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO
R E V I S T A O N L I N E D E P E S Q U I S A

CUIDADO É FUNDAMENTAL
PESQUISA DOI: 10.9789/2175-5361.2019.v11i1.113-117

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO . ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO

Adesão ao tratamento e hábitos de vida de hipertensos


Adherenceto treatmentandlifestyleofpatientswithhypertension
Adhesión al tratamiento y hábitos de vida de hipertensos
Fabiana Meneghetti Dallacosta;1 Marcia Terezinha da Rocha Restelatto;2 Luana Turra3

Como citar este artigo:


Gomes BRP, Paes GO, Traverso FA. Adesão ao tratamento e hábitos de vida de hipertensos. Rev Fun Care
Online. 2019 jan/mar; 11(1):113-117. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361.2019.v11i1.113-117

RESUMO
Objetivo:Analisar a adesão ao tratamento anti-hipertensivo e hábitos de vida de hipertensos. Método:
Estudo transversal, realizado com hipertensos da Estratégia Saúde da Família de Lacerdópolis-SC. Utilizou-se
entrevista e o BriefMedicationQuestionnaire. Resultados: Participaram 72 hipertensos, 68,1% mulheres, idade
média 68,4 anos (±12,1). Quanto à adesão ao tratamento, 6,9% são aderentes, 19,4% tem provável adesão,
70,8% provável baixa adesão e 2,8% baixa adesão. Quem usa múltiplas doses é menos aderente (p=0,00),
falhoumais em listar o que usa (p=0,03) e omitiumais (p=0,02). Houve dificuldades para ler o rótulo, abrir
a medicação e lembrar de tomar todos os dias, e 19,4% relataram falha de dias ou doses. Conclusão:Houve
dificuldade em listar a medicação em uso, ler, abrir e lembrar-se de tomar a medicação, especialmente naqueles
acima de 60 anos. A prescrição de múltiplas doses interfere significativamente na adesão ao tratamento e no
correto uso da medicação.
Descritores: Hipertensão,Atenção primária à saúde, Adesão à medicação.

ABSTRACT
Objective: To analyze adherence to antihypertensive treatment and lifestyle of hypertensive patients. Methods: Cross-sectional study with
hypertensive patients from the Family Health Strategy of Lacerdópolis, SC. We used interview and the Brief Medication Questionnaire.
Results:Participated 72 patients, 68.1% women, mean age 68.4 years (± 12.1). Regarding adherence to treatment, 6.9% are adherents,
19.4% are likely to join, 70.8% are likely to be low adherents and 2.8% are low adherents. Those who used multiple doses were less
adherent (p = 0.00), failed to list what they used (p=0.03), and omitted more (p=0.02). There are difficulties for reading, opening and
remembering the medication every day, and 19.4% reported failure of days or doses.Conclusion: There are difficulties to list medication
in use, read, open and remember to take the medication, especially in those over 60 years. Multi-dose prescription significantly interferes
with adherence to treatment and correct use of medication.
Descriptors:Hypertension,Primary health care,Medicationadherence.

RESUMEN
Objetivo: Analizar la adhesión al tratamiento antihipertensivo y hábitos de vida de hipertensos. Métodos: Estudio transversal, realizado
con hipertensos de la Estrategia Salud de la Familia de Lacerdópolis, SC. Se utilizó una entrevista con el BriefMedicationQuestionnaire.
Resultados: participaron 72 hipertensos, 68,1% mujeres, edad media 68,4 años (± 12,1). En cuanto a la adhesión al tratamiento, el 6,9%

1 Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde. Professora da UNOESC.


2 Enfermeira. Mestranda em Biociências e Saúde pela UNOESC. Professora da UNOESC.
3 Aluna de Graduação em Enfermagem da UNOESC.

DOI: 10.9789/2175-5361.2019.v11i1.113-117 | Gomes BRP; Paes GO; Traverso FA | Adesão ao tratamento e hábitos de vida de hipertensos

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son adherentes, el 19,4% tiene probable adhesión, el 70,8% probable


MÉTODO
baja adhesión y el 2,8% baja adhesión. El que utiliza múltiples dosis es
menos adherente (p = 0,00), fallaron más en listar lo que usan (p = 0,03) Estudo transversal, realizado com hipertensos assistidos
y omitieron más (p = 0,02). Hubo dificultades para leer la etiqueta, abrir pela Estratégia Saúde da Família de um município do Meio
la medicación y recordar tomar todos los días, y el 19,4% relató un fallo Oeste Catarinense. Foram incluídas pessoas de ambos os sexos,
de días o dosis. Conclusión: hubo dificultad en enumerar la medicación com idade mínima de 18 anos e que estavam em tratamento
en uso, leer, abrir y recordar la toma de la medicación, especialmente en medicamentoso. Para a coleta dos dados, utilizou-se entrevista
aquellos de más de 60 años. La prescripción de múltiples dosis interfiere semiestruturada e o BriefMedicationQuestionnaire (BMQ)
significativamente en la adhesión al tratamiento y en el correcto uso de la para análise da adesão ao tratamento. O BMQ é dividido
medicación. em trêsdomínios, que identificam barreiras à adesão,
Descriptores:Hipertensión,Atención Primaria de salud, Cumplimiento de considerando regime, crenças e recordação em relação ao
la medicación. tratamento medicamentoso.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa
INTRODUÇÃO da Universidade do Oeste de Santa Catarina, com o parecer
número 1.087.282 e respeitou os preceitos éticos constantes
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são na Declaração de Helsinki (2008) e a Resolução do Conselho
causa de mortalidade e morbidade prematura em todo o Nacional de Saúde n. 466, de 2012.
mundo, e no Brasil correspondem a aproximadamente 70% O município tem uma população adulta de 1.618 pessoas
das mortes em adultos.1,2 Mesmo considerando uma queda e, aproximadamente, 400 hipertensos, tendo uma Estratégia
de 20% nessa taxa na última década, que pode ser atribuída Saúde da Família. Participaram do estudo 72 hipertensos,
a ampliação da Atenção Básica, melhoria da assistência e que foram entrevistados durante atendimento na ESF e em
declínio do tabagismo, ainda é um problema de saúde relevante visitas domiciliares, juntamente com as Agentes Comunitárias
e que gera elevados custos para o Sistema Único de Saúde de Saúde (ACS).
(SUS) e consequências graves para a saúde e bem-estar da A adesão foi calculada segundo as variáveis independentes,
população adulta.3 foi utilizado o programa SPSS 21.0, com nível de significância
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma DCNT de 95%.
complexa, possui alta prevalência e baixas taxas de controle,
envolvendo tratamento medicamentoso e não medicamentoso,
com uso contínuo de remédios e mudança no estilo de RESULTADOS E DISCUSSÃO
vida. 4,5É um importante fator de risco, sendo a causa mais Dos 72 participantes, 68,1% são do sexo feminino, média
frequente das doenças do aparelho circulatório.3,4 Estes agravos de idade 68,4 anos, (±12,1), 84,7% brancos, 77,8% casados,
estão intimamente ligados ao controle ineficaz dos níveis sendo a amostra semelhante ao achado em outras pesquisas
pressóricos, e os níveis pressóricos sofrem influência direta com os mesmos fins.2,6,9,10-1A Tabela 1 mostra as variáveis
da baixa adesão ao tratamento proposto.6 sociodemográficas de acordo com a adesão ao tratamento.
O conceito de adesão varia entre autores, entretanto, de A maioria (84,7%)se considera ativa fisicamente, 91,7%
maneira geral, entende-se como a utilização dos medicamentos referiram ter hábitos alimentares saudáveis, 19,4% fazem
ou outros procedimentos prescritos em pelo menos 80% de uso de bebida alcoólica regularmente, 1,4% são fumantes.
seu total, levando em consideração horários, doses e tempo Entre aqueles que disseram ser ativos fisicamente, quando
de tratamento.7A nãoadesão é um fenômeno complexo e questionados sobre a prática efetiva do exercício físico, 28
multideterminado, e é um desafio para os profissionais da (38,9%) fazem eventualmente, 22 (30, 6%) não praticam.
atenção primária, principalmente da Estratégia Saúde da A duração da atividade varia, 44 (61,6%) de 15-30min, 6
Família (ESF) e dos programas Hiperdia.5 (8,3%) de 30min-1hora, e acima de 1 hora apenas um 1
O programa Hiperdia, do Ministério da Saúde, foi criado participante (1,4%). Os resultados de diversas pesquisas
em 2002, e tem como um de seus objetivos acompanhar e mostram de que a atividade física aumenta a longevidade
orientar hipertensos e diabéticos, visando o tratamento e o e protege contra o desenvolvimento das principais DCNT.
uso correto das medicações, assim como trabalhar prevenção Ainda, níveis adequados de atividade física auxiliam na
e promoção da saúde.8Ao conhecer a adesão ao tratamento reabilitação de pacientes com doenças cardiovasculares e
e as dificuldades enfrentadas pelos hipertensos para o uso outras doenças crônicas.12
correto das medicações, é possível elaborar e implementar O tempo médio de diagnóstico de hipertensão arterial
estratégias de intervenção que favoreçam um maior grau de sistêmica foi 11,5 anos, com máximo de 40 anos de diagnóstico.
adesão ao tratamento e, consequentemente, melhor controle Encontrou-se média de circunferência abdominal de 100,8 cm
dos níveis tensionais.9 (±12,5) e pressão arterial sistólica no momento da entrevista
O objetivo deste estudo foi analisar a adesão ao tratamento de 127,5 mmHg (±15,5). A média de circunferência abdominal
medicamentoso e hábitos de vida de portadores de hipertensão indica situação limítrofe para homens e acima do desejado
arterial, participantes de um grupo Hiperdia de Santa Catarina. para mulheres, sendo o ideal para homens abaixo de 102 cm
e para mulheres 88 cm.4Esse aspecto também foi evidenciado
em estudo com hipertensos da cidade de São Paulo.6

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Tabela 1 - Distribuição das variáveis sociodemográficas e de saúde de hipertensos assistidos pela Estratégia Saúde da Família
(ESF) segundo adesão ao tratamento. Lacerdópolis-SC, Brasil, 2016.

Total Aderentes Não aderentes


Variáveis p
n (%) n (%) n (%)
Sexo
Masculino 23 (32) 04 (17) 19 (83) 0,25
Feminino 49 (68) 15 (31) 34 (69)
Faixa etária
>61 anos 56 (78) 13 (23) 43 (77) 0,33
< 60 anos 16 (22) 06 (37,5) 10 (62,5)
Estado Civil
Casado 56 (78) 17 (30) 39 (70)
0,22
Solteiro 04 (5,5) 01(25) 03 (75)
Outros 12 (16,6) 01(08) 11 (92)
Ativos fisicamente
Sim 61 (85) 16 (26) 45 (74) 0,60
Não 11 (15) 03 (27) 08 (73)
Hábito alimentar saudável
Sim 66 (92) 18 (27) 48 (73) 0,49
Não 06 (08) 01 (17) 05 (83)
Consumo de bebida alcoólica
Sim 14 (19,5) 04 (28,5) 10 (71,5) 0,53
Não 58 (80,5) 15 (26) 43 (74)
Fumantes
Sim 01 (1) 0 01(100) 073
Não 71 (99) 19 (27) 52 (73)
Múltiplas doses medicamento
Sim 52 (72) 06 (11,5) 46 (88,5) 0,00
Não 20 (28) 13 (65) 07 (35)
Omitiram medicações
Sim 41 (57) 06 (15) 35 (85) 0,01
Não 31 (43) 13 (42) 18 (58)

Em relação ao manuseio da medicação anti-hipertensiva (Tabela 2), a maioria não tem dificuldade em abrir a embalagem,
mas 11 pessoas acham muito difícil ler o que está escrito na embalagem, e cinco acham muito difícil lembrar-se de tomar
todos os remédios. Pessoas acima de 60 anos referiram mais dificuldade em abrir a embalagem, ler e lembrar.Com relação ao
esquecimento, 12 entrevistados (16,7%) esqueceram de tomar a medicação em algum dia da semana. Dos que esqueceram,
9 (75%) esqueceram uma vez, 3 (25%) esqueceram duas vezes nos últimos sete dias. Na população idosa, o maior número
de morbidades leva ao consumo elevado de fármacos, o que contribui para diminuir a adesão ao tratamento e dificulta
para lembrar todas as medicações em uso,13 e, neste estudo, a maioria (72,2%) recebe um esquema de múltiplas doses de
medicamentos (2 ou mais vezes/dia).

Tabela 2 - Problemas referidos pelos hipertensos com relação ao manuseio da medicação.Lacerdópolis-SC, Brasil, 2016.

Muito difícil Um pouco difícil Não muito difícil


Quanto é difícil:
n (%) n (%) n (%)
Abrir/fechar a embalagem 5 (6,9%) 4 (5,6%) 63 (87,5%)
Ler o que está escrito na embalagem 11 (15,3%) 18 (25%) 43 (59,7%)
Lembrar de tomar todo o remédio 5 (6,9%) 12 (16,7%) 55 (76,4%)
Conseguir a medicação 1 (1,4) 9 (12,5%) 62 (86,1%)
Tomar vários comprimidos ao mesmo tempo 2 (2,8%) 6 (8,3%) 64 (88,9%)

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Quanto à adesão ao tratamento, 6,9% foram considerados vista que muitos hipertensos, quando não têm complicações e
aderentes, 19,4% tem provável adesão, 70,8% provável baixa mantém a pressão estável, por vezes abandonam o tratamento
adesão e 2,8% baixa adesão. Considerando apenas aderentes e ou passam a não tomar a medicação corretamente, não se
não aderentes, 73,6% podem ser considerados não aderentes conscientizando de que só estão controlados devido ao uso
ao tratamento. Quem tem esquema de múltiplas doses é menos correto da medicação18.
aderente ao tratamento (p=0,00). Não houve diferença de
adesão entres os sexos (p=0,25). Entrevistados com idade Tabela 3 - Problemas referidos quanto ao regime de
tratamento, segundo Questionário de Adesão ao tratamento
superior a 60 anos falharam mais em relatar as medicações em (BMQ).Lacerdópolis-SC, Brasil, 2016.
uso que os demais. E ainda, os maiores de 60 anos omitiram
mais doses de medicações em seus relatos. Pessoas que fazem SIM NÃO
Variáveis
uso de múltiplas doses foram menos aderentes (p=0,00), n (%) n (%)
falharam mais em listar o que usam (p=0,03) e omitiram Falhou em listar
mais (p=0,02), sendo que os homens falharam mais que as (espontaneamente)
mulheres (p=0,02). os medicamentos 61 (84,7%) 11 (15,3%)
prescritos no relato
A adesão ao tratamento é um dos maiores desafios no inicial?
tratamento da hipertensão.14 Estudo realizado no Paraná Interrompeu a terapia
encontrou adesão de 59% dos hipertensos nele observamos devido ao atraso
que as pessoas fazem uso de múltiplas doses foram menos na dispensação da - 72 (100%)
aderentes, resultados também descritos em outros estudos.7,9,11- medicação ou outro
motivo?
3-5
A escolha de fármacos com menor número de doses diárias
Relatou alguma falha
pode ser uma alternativa para melhorar a adesão.15 14 (19,4%) 58 (80,6%)
de dias ou de doses?
Estratégias lúdicas são uma opção para fortalecer
Reduziu ou omitiu
a autonomia do paciente facilitar o uso da medicação, doses de algum 41 (56,9%) 31 (43,1%)
especialmente com a população idosa ou analfabeta,16 medicamento?
mas algumas técnicas visam apenas o uso da medicação, Tomou alguma dose
não o entendimento do que está sendo usado, e, assim,não extra ou medicação
6 (8,3%) 66 (91,7%)
necessariamente favorecem a adesão, pois o paciente não se a mais do que o
prescrito?
preocupa em saber o que está usando, não grava o nome da
medicação, e isso não se reflete necessariamente em aumento
Quanto à alimentação dos entrevistados, das 66 pessoas
da adesão ao tratamento.
que referiram ter uma alimentação saudável, 38 (52,8%)
No ESF onde se deu este estudo, é utilizado o modelo
consomem frutas e verduras todos os dias da semana, 23
da sacolinha, no qual o paciente recebe a medicação na
(31,9%) o fazem de 3 a 5 vezes por semana e o restante
dose certa para 30 dias, separada entre remédios a serem
de forma eventual, sendo que o consumo pobre em frutas
tomados pela manhã e à noite através de desenho (sol/lua).
e hortaliças está relacionado ao aumento dos níveis
Mesmo assim, quase todos (84,7%) falharam em listar os
da pressão arterial.19 Sessenta e uma pessoas (84,7%)
medicamentos em uso, 19,4% relataram falha de dias ou doses
relataram controlar a ingestão de sal nas refeições. A dieta
da medicação, 56,9% reduziramou omitiramdoses de algum
hipossódica deve ser seguida e continuamente orientada
medicamento, 8,3% tomaramalguma dose extra ou medicação
aos hipertensos, devido a relação entre o consumo de sal
a mais do que o prescrito (Tabela 3). Os profissionais da
ser diretamente relacionada aos níveis pressóricos.19Os
saúde desempenham papel fundamental para melhorar a
hábitos de vida são parte fundamental do tratamento do
adesão ao tratamento, sendo a interação usuário-profissional
hipertenso e constituem-se de cuidados alimentares, controle
determinante para a adesão farmacológica,17 e a atuação da
do peso, redução do sal na dieta, não fumar, não ingerir
equipe multiprofissional, especialmente enfermeiros, tem se
bebida alcoólica em excesso, reduzir o estresse e praticar
mostrado uma estratégia eficiente para melhorar a adesão
exercícios físicos.20
ao tratamento.18
Dentre os participantes, 44 (61,1%) relataram já ter tido
Quando questionados sobre o funcionamento da
alguma complicação associada à HAS, dessas, 47,2% tiveram
medicação, 68 (94,4%) responderam que funciona bem
pico de pressão alta, 16,6% complicações cardíacas, 4,2%
e 4 (5,6%) responderam que funciona de forma regular.
complicação renal, 1,4% cerebral e 18% outras complicações.
Perguntados o quanto essa medicação causa problema, 6
Do grupo de pacientes classificados como aderentes e provável
entrevistados (8,3%) relataram problemas e 66 (91,7%) não.
adesão, 24,4% destes apresentaram complicações. Já os
Pacientes hipertensos são, com frequência, assintomáticos, o
identificados como provável baixa adesão, 73,6% tiveram
que contribui para a não adesão ao tratamento. A detecção
presença de complicações.A HAS é considerada como um
precoce da hipertensão e a inclusão desses pacientes nos
dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de
programas Hiperdia fazem com que pessoas “sadias” passem
complicações renais e doenças cardíacas e cerebrovasculares,
a necessitar de consultas periódicas, exames e orientações,
o que aumenta a morbidade e mortalidade da doença, e
que só serão seguidas se o paciente estiver consciente da
gera altos custos médicos e socioeconômicos, resultantes,
importância do controle pressórico adequado e do seguimento
especialmente das complicações atreladas a doença.4,20
do tratamento medicamentoso e não medicamentoso, haja

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11. Saab FilhJJ, Grunewald AV, Tanino C, Farias LFY, Oroscos SS, Souza
CONCLUSÃO FA, Duarte EM. Adesão ao tratamento anti-hipertensivo por usuários
Neste estudo,tivemos predominância de mulheres, atendidos em Unidades De Estratégia Saúde Da Família. Braz J
SurgClin Res. ago 2016; 15(1):17-22.
acima de 60 anos, que fazem uso de múltiplas doses de anti-
12. Gobbi S. Atividade Física para pessoas idosas e recomendações da
hipertensivos. A adesão ao tratamento foi baixa, especialmente Organização Mundial da Saúde de 1996. Ver BrasAtiv Física e Saúde
naqueles que usam múltiplas doses. Pessoas acima de 60 1997; 2(2): 41-19.
anos apresentaram mais dificuldade em ler os rótulos, abrir 13. Tavares NUL, Bertoldi AD, Thumé E, Fachini LA, França GVA, Mengue
SS. Fatores associados à baixa adesão ao tratamento medicamentoso
e lembrar de tomar a medicação, além disso, os participantes em idosos. Rev Saúde Pública. 2013;47(6):1092-101.
menos aderentes foram os que mais relataram complicações 14. Girotto E, Andrade SM, Cabrera MAS, Matsuo T. Adesão ao
associadas a HAS. tratamento farmacológico e não farmacológico e fatores associados na
Esses resultados mostram a importância da educação atenção primária da hipertensão arterial. Ciência & Saúde Coletiva.
2013; 18(6):1763-72.
permanente e contínua com os hipertensos, tornando-os mais 15. PerrottiTC, Filho JC, Uehara CA, Filho CMA, Miranda RD. Tratamento
ativos e comprometidos com o tratamento. Diversas são as farmacológico da hipertensão no idoso. Rev BrasHipertens.2007;
estratégias disponíveis para combater a baixa adesão, com 14(1):37-41.
destaque para aquelas que propiciam informação ao paciente. 16. Cyrino RS, Silva LED, Souza MR, Borges CJ, Pereira LTS. Atividades
lúdicas como estratégia de educação em saúde com idosos. Rev Ciênc
Os profissionais que atuam na atenção primária necessitam Ext.2016;12(3):154-163.
além de conhecer os pacientes, identificar os que aderem 17. Santos FS, Oliveira KR, Colet CF. Adesão ao tratamento medicamentoso
e os que não aderem ao tratamento, elencando os motivos pelos portadores de Diabetes Mellitus atendidos em uma Unidade
Básica de Saúde no município de Ijuí/RS: um estudo exploratório. Rev
que levam a não adesão, para que assim possam elaborar CiêncFarm Básica Apl. 2010; 31(3):223-7.
ações de educação continuada para auxiliar os hipertensos na 18. Giorgi DMA. Estratégias para melhorar a adesão ao tratamento anti-
compreensão e conhecimento sobre o tratamento, favorecendo hipertensivo. Rev BrasHipertens. 2006; 13(1):47-50.
uma atitude participativa e voltada para a qualidade de vida. 19. Molina MCB, Cunha RS, HerkenhoffLF, Mill JG. Hipertensão arterial
Agradecemos a Enfermeira MarineiaStortipelo seu auxílio e consumo de sal em população urbana. Rev Saúde Pública 2003;
37(6):743-50.
neste estudo.
20. Mascarenhas, CHM, Oliveira MML, SOUZA MS. Adesão ao
tratamento no grupo de hipertensos do bairro Joaquim Romão -
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CEP: 89.600-000
E-mail: [email protected]

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