Noelia Redaçao
Noelia Redaçao
Noelia Redaçao
PROFESSORA:___________________________________ SÉRIE:
Aluno(a):_______________________________________ Data:
Isto foi num desses países onde a neve cai durante o tempo de
inverno – e fazia um horrível frio naquela noite do ano.
Dentro do frio e dentro do escuro da noite a menina lá seguia,
de pés descalços pela cidade deserta. Descalça? Sim. É verdade que
saíra de casa com um par de chinelas muito grandes para seus pés,
pois tinham sido de sua mãe. Ao atravessar a rua, porém, teve de
correr para desviar-se duma carruagem na disparada, e perdeu as
chinelas; quando voltou para procura-las, viu que um moleque havia
apanhado um pé, saindo a correr com ele na mão. “Vou fazer um
berço desta chinela!”, dizia ele. O outro pé não foi possível encontrar
– com certeza sumiu enterrado na neve pelas paras dos cavalos.
Por isso lá ia a menina de pés nus e já azuis do frio. A era uma
vendedeira de fósforos, do tempo em que os fósforos se vendiam
soltos e não em caixa; no avental trazia uma porção deles e na mão
um punhadinho. Mas ninguém lhe comprara ainda um só, e lá se ia
ela, tiritando de frio, sem um vintém no bolso. Verdadeiro retrato da
miséria, a coitadinha!
Flocos de neve recobriam seus cabelos cor de ouro, todos cacheados
sem que a menina desse por isso.
Em muitas casas a luz do interior saía pelas janelas misturada com
um saboroso cheiro de ganso assado – porque era dia de S. Silvestre,
dia em que todos que podem comem um ganso assado.
Em certo ponto a menina sentou-se encolhidinha rente a uma
parede e cruzou os pés debaixo da saia. Nada adiantou. Sentiu-os
mais enregelados ainda. Como não tivesse vendido nenhum fósforo
não se animava a voltar para casa. Sem dinheiro no bolso estava
proibida de aparecer lá.
Seu pai com certeza que a surraria – além disso o frio era lá tanto
como ali. Uma casa velha, teto esburacado e paredes rachadas por
onde o vento entrava zunindo.
Suas mãozinhas começaram a perder os movimentos.
Teve uma ideia: acender um daqueles fósforos para aquecer os
dedos entanguidos. Assim fez. Riscou um fósforo na parede – chit!
Que luz bonita e que agradável quentura! O fósforo queimava qual
velinha, com a chama defendida do vento pela sua mão em concha.
Que bom! A menina sentia como se estivesse sentada diante dum
grande fogão, com ferro para mexer as brasas e uma caixa de lenha
ao lado. Tão agradável aquele calorzinho do fósforo, que ela espichou
o pé para que também aproveitasse um pouco – mas nisto a chama
foi morrendo e afinal apagou-se. Só ficou em sua mão um toquinho
carbonizado.
A menina riscou outro fósforo, e à luz dele a parede da casa a
que estava encostada tornou-se transparente como um véu, deixando
ver tudo quanto se passava lá dentro. Estava posta uma grande
mesa, com toalha alvíssima e prataria de porcelana; ne centro, um
ganso recheado de maçãs e ameixas, que recendia um perfume
delicioso. De repente o ganso ergueu-se da travessa e, ainda com a
faca e o garfo de trinchar espetados no papo, veio na direção dela.
Nisto o fósforo apagou-se e tudo desapareceu. A menina riscou
outro fósforo, e imediatamente se achou sentada debaixo da mais
bela árvore de Natal que seus olhos tinham visto nas casas de
brinquedos. Mil velinhas ardiam na ponta dos galhos, e os enfeites
dependurados pareciam olhar para ela. Mas esse fósforo também foi-
se apagando, e à medida que se ia apagando a árvore de Natal ia
crescendo, crescendo, e as velinhas subindo até ficarem como
estrelas no céu. Uma delas caiu, traçando um longo risco de l ---
Alguém está morrendo, pensou a menina com a ideia em sua avó. A
boa velhinha fora a única pessoa na vida que lhe dera amor, e
costumava dizer que quando uma estrela cai é sinal de que alguém
está morrendo e com a alma a ir para o céu.
A menina acendeu outro fósforo – e desta vez o que apareceu
foi a sua própria vovó, brilhante como um espírito e com o mesmo
olhar meigo de sempre.
--- Vovó! Exclamou ela. Leve-me consigo! Eu sei que a senhora
vai sumir-se quando este fósforo chegar ao fim, como aconteceu com
o ganso recheado e a linda árvore de Natal...
E para que isso não acontecesse a menina tratou de acender
um fósforo atrás do outro, sem esperar que a chama morresse. Era o
meio de conservar a vovó perto de si.
uz.
E os fósforos foram ardendo com luz brilhante como a do dia, e sua
vovó nunca lhe apareceu tão bela, nem tão grande. Foi-se chegando,
tomou a netinha nos braços e com ela voou, radiante, para onde não
há neve, nem frio mortal, nem fome, nem cuidados – para o céu.
No outro dia encontraram o corpo da menina entanguido na
calçada, com as faces roxas e um sorriso feliz nos lábios. Havia
morrido de fome e frio na última noite daquele dezembro.
O sol do novo ano veio brincar sobre o pequenino cadáver. Em
sua mãozinha rígida estavam ainda os fósforos que não tivera tempo
de acender. Os passantes olhavam e diziam: “A coitada procurou
aquecer-se com os fósforos”, mas ninguém suspeitou as lindas coisas
que ela viu, nem o deslumbramento com que começou o ano novo
em companhia de sua avó.
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