903-Texto Do Artigo-2237-2924-10-20221110

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Viabilidade das patentes de invenções implementadas por programas de

computador: aspectos jurídicos e tecnológicos


DOI: 10.31994/rvs.v13i2.903

Alejandro Knaesel Arrabal1


Rodrigo dos Santos Cardoso2
Ana Paula Colombo3
Ana Paula Schulz4

RESUMO

Este trabalho tem por objeto de investigação os fatores jurídicos e técnicos


relacionados a viabilidade de obtenção de patentes de invenções implementadas por
programas de computador. O estudo integra o campo dos direitos de propriedade
intelectual, em especial aqueles relativos à incidência da Lei nº 9.279/1996.
1
Doutor em Direito Público pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Vale
dos Sinos – UNISINOS. Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
Especialista em Direito Administrativo pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Professor e
pesquisador dos Programas de Mestrado em Direito (PPGD) e Administração (PPGAd) da FURB.
Líder do grupo de pesquisa Direito, Tecnologia e Inovação – DTIn (CNPq-FURB). Vice-líder do Grupo
de Pesquisa SINJUS - Sociedade, Instituições e Justiça (CNPq-FURB). Membro do grupo de
pesquisa Constitucionalismo, Cooperação e Internacionalização - CONSTINTER (CNPq-FURB).
Membro da AGIT – Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Regional de Blumenau –
FURB. [email protected] https://orcid.org/0000-0002-0927-6957
2
Doutor em Ciências Contábeis e Administração e Mestre em Administração pela Fundação
Universidade Regional de Blumenau – FURB. Professor titular da Fundação Universidade Regional
de Blumenau. Membro do grupo de pesquisa Direito, Tecnologia e Inovação – DTIn (CNPq-FURB).
Membro da AGIT – Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Regional de Blumenau –
FURB. [email protected] https://orcid.org/0000-0002-3376-9567
3
Mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação pela Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC. Advogada. Coordenadora de Propriedade Intelectual da AGIT –
Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Regional de Blumenau – FURB.
[email protected] https://orcid.org/0000-0002-9087-3555
4
Acadêmica do Curso de Direito da Universidade Regional de Blumenau - FURB. [email protected]
https://orcid.org/0000-0002-9721-4333

238
Realizado a partir de revisão bibliográfica e análise documental, os resultados
apontam que os programas de computador se tornaram objeto de interesse
mercantil autônomo a partir da década de 70, e que, ao longo das últimas décadas,
houve um significativo incremento econômico do setor. Os estudos indicam também
que o programa de computador “em si”, compreende um conjunto de instruções que
possibilitam o funcionamento de computadores e de tratamento de dados que
propiciam a gestão da informação das organizações em determinados contextos.
Nesta qualidade, os programas não são invenções, para efeito do que dispõe o
regime de propriedade industrial, mas podem ser considerados uma espécie de
“matéria prima” a partir da qual uma invenção pode ser implementada, assim como
se observa na relação entre as instruções (equiparadas por lei à obras literárias), as
quais são implementadas por linguagens.

PALAVRAS-CHAVE: PATENTES. INVENÇÕES. PROGRAMA DE COMPUTADOR.

Feasibility of patents of inventions implemented by computer programs: legal


and technological aspects

ABSTRACT

This work has as its object of investigation the legal and technical factors related to
the feasibility of obtaining patents for inventions implemented by computer programs.
The study integrates the field of intellectual property rights, especially those related to
the incidence of Law No. 9,279/1996. Based on a bibliographic review and document
analysis, the results indicate that computer programs have become an object of
autonomous commercial interest from the 70's onwards, and that, over the last few
decades, there has been a significant economic increase in the sector. The studies
also indicate that the computer program "in itself" comprises a set of instructions that

239
enable the operation of computers and data processing that provide the management
of information in organizations in certain contexts. In this quality, programs are not
inventions, for the purposes of the industrial property regime, but can be considered
a kind of “raw material” from which an invention can be implemented, as can be seen
in the relationship between the instructions (equated by law to literary works), which
are implemented by languages.

KEYWORDS: PATENTS. INVENTIONS. COMPUTER PROGRAM.

INTRODUÇÃO

Esse artigo trata dos fatores jurídicos e técnicos relacionados a viabilidade de


obtenção de patentes de invenções implementadas por programas de computador.
O estudo realizado integra-se a agenda institucional de fomento à Inovação e
Transferência de Tecnologia, na qual as Universidades, por meio de seus Núcleos
de Inovação, encontram-se vinculadas (BRASIL, 2004).
O esforço no sentido de aperfeiçoar os conhecimentos para a adequada
aplicação dos institutos da Propriedade Intelectual, em prol do desenvolvimento
social e econômico é uma demanda nacional. A Constituição Federal de 1988, em
seu art. 5º, inciso XXIX, institui a garantia de exclusividade temporária sobre
invenções, “tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e
econômico do País”.
Este dispositivo vincula-se a Lei nº 9.279/1996 que regula direitos e
obrigações relativos à propriedade industrial. Neste contexto, o Instituto Nacional de
Propriedade Industrial tem admitido a reivindicação de patentes de inventos
implementados a partir de Programas de Computador. Trata-se de assunto objeto de
amplo debate, especialmente na última década e, neste sentido, merecedor de
estudos voltados a observação das possibilidades e limites do modelo adotado.

240
A investigação procurou reconhecer objetivamente os critérios que qualificam
a patenteabilidade de uma solução técnica “materializada” a partir de um programa
de computador.
A pesquisa foi realizada por meio de revisão bibliográfica e análise
documental. A revisão bibliográfica considerou, na medida do possível, o repertório
doutrinário disponível mais atualizado. Quanto a análise documental, foram
observadas as normas nacionais correlatas, com especial atenção as seguintes:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; Lei nº 9.609/1998 que
dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, sua
comercialização no País; Lei nº 9.610/1998 que consolida a legislação sobre Direitos
Autorais; Lei nº 9.279/1996 que regula direitos e obrigações relativos à propriedade
industrial; Resolução INPI nº 158/2016 que institui as diretrizes de exame de pedidos
de patente envolvendo invenções implementadas por programas de computador; e
Portaria INPI nº 411/2020 que institui a nova versão das diretrizes de exame de
pedidos de patente envolvendo invenções implementadas em computador (IIC).
Foram também realizadas buscas na plataforma de dados do Instituto Nacional de
Propriedade Industrial – INPI, a fim de diagnosticar o quadro de reivindicações de
patentes no segmento.

1 RESULTADOS E DISCUSSÃO

1.1 A máquina e o programa

Em termos muito elementares, um computador é um artefato que realiza


cálculos. Seu funcionamento assemelha-se resumidamente ao de qualquer máquina
calculadora, com a diferença que o “cômputo” não é, para o computador, o “fim”,
mas o “meio” a partir do qual é possível obter certos resultados. Nesse sentido,
programar um computador é definir os parâmetros de operação dos cálculos cujos
resultados assumirão aplicações distintas dos parâmetros de cálculo em si.

241
Trata-se de um artefato cujos pressupostos técnicos demandaram a
integração gradual de inúmeras contribuições ao logo dos séculos XIX e XX,
destacando-se nessa trajetória os trabalhos de Charles Babbage, Ada Lovelace,
Herman Hollerith, Vannevar Bush, Alan Turing, Claude Shannon, John Von
Neumann entre outros (ISAACSON, 2014)
Os primeiros computadores funcionavam a partir de instruções operadas
manualmente. A evolução da capacidade de “armazenamento” e “memória” permitiu
o salto da ação mecânica para um conjunto de instruções, estruturada em forma de
linguagem.
Inicialmente os computadores eram programados “através de meios externos
como cartões perfurados, fitas perfuradas, painéis, cabos de conexão etc.”. Atribui-
se a John Von Neumann a “primeira descrição minuciosa e quase completa da
arquitetura de um computador” capaz de conter um “programa armazenado na
própria memória e, portanto, passível de automodificação e de geração por outros
programas”. O primeiro computador com estas características foi o EDVAC
(projetado e construído entre 1944 a 1951), cuja estrutura lógica “constitui o princípio
de funcionamento de computadores digitais até hoje”. (KOWALTOWSKI, 1996)
Das válvulas aos transistores e destes aos microprocessadores, o crescente
poder de processamento das máquinas (hardware) foi acompanhado pela
caracterização do programa (software) como um componente fundamental das
máquinas e um bem economicamente relevante. Na década de 70, o
desenvolvimento de softwares para computadores pessoais alterou “o equilíbrio de
forças na indústria emergente” tornando os sistemas operacionais e os aplicativos
bem tão importantes para o mercado quanto o hardware (ISAACSON, 2014, p. 329).
Na esteira de David Evans, Abrantes (2013b, p. 71) explica que a “indústria
de software atual é bem diferente de suas origens [...] quando seu crescimento
dependia de fabricantes de hardware customizado que possuíam altas margens de
lucro”, cenário no qual os custos relacionados ao desenvolvimento de softwares
eram suportados por essas empresas. A demanda contemporânea de aplicações
executadas sobre computadores de uso geral cresceu, somado ao fato de o

242
processo de programação ser muito mais complexo do que era nos anos 60 e 70.
Para Zackiewicz (2014, p. 317)

Mais do que informação, mais do que parte componente das


tecnologias da informação e comunicação e mais do que resultado
de trabalho humano especializado, o software passa a ser uma
mistura de agente e fator de produção, dotando de sentido
econômico as máquinas que o obedecem. Está nele a capacidade de
comandar a flexibilidade do hardware e gerar valor. Ele pode atuar
simultaneamente em muitas máquinas e, desse modo, transcende e
multiplica ad infinitum o trabalho humano de sua programação.
Possui a capacidade de modificar profundamente a organização
vigente dos fatores de produção ao economizar capital, trabalho e
recursos e baratear transações.

Segundo estudo realizado pela Huawei Technologies e Oxford Economics


(DIGITAL, 2017, p. 9), em 2016 a economia digital5 foi responsável por 15,5% do
PIB global, com a expectativa de atingir 24,3% até 2025. Complementarmente, a
ABES informa que, no ano de 2020, os softwares são responsáveis por 26% do
mercado global de Tecnologias de Informação (TI), ao lado dos serviços com 29% e
hardware com 45%. (ABES, 2021, p. 9). Estes dados revelam a inegável relevância
que a revolução digital assume para a sociedade, de modo que “a economia da
inovação atual tem destacado cada vez mais o papel dos ativos intelectuais como
estratégia de negócio das empresas e neste cenário destacam-se o papel das
patentes em especial no setor de tecnologia da informação” (ABRANTES, 2013b, p.
70).
Corroborando com a economia da inovação, as organizações que estão com
seus interesses na aproximação com o conceito da indústria 4.0, os programas de
computador são os meios que possibilitam o pilar deste conceito denominado
robótica e automação adaptativa, cuja necessidade é desenvolver máquinas com

5
“A Economia Digital se caracteriza por incorporar a internet, as tecnologias e os dispositivos digitais
nos processos de produção, na comercialização e na distribuição de bens e serviços. A economia
digital está composta por uma ampla gama de ‘inputs digitais’ que relacionam ‘habilidades digitais,
hardware, software e equipamentos de comunicação (equipamentos digitais), e também bens e
serviços digitais intermediários usados na produção’” (AGUILAR, 2020)

243
capacidade de realizar com maiores eficiências produções customizáveis e
previsibilidade de identificação de problemas no decorrer da cadeia produtiva,
aliando com isso inteligência artificial e comunicação remota (LIMA; GOMES, 2020).

1.2 Programa de computador: caracterização como conjunto de instruções

O artigo 1º da Lei nº 9.609/98 estabelece que o Programa de Computador


consiste na:

[...] expressão de um conjunto organizado de instruções em


linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de
qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas
automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos
ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou
análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.

Na qualidade de um “conjunto organizado de instruções”, expresso em


linguagem natural ou codificada, o programa de computador é equiparado a “obra
literária” para efeito de aplicação de direitos autorais (BRASIL, 1998, art. 2º).
A linguagem é, por assim dizer, a “matéria prima” por meio da qual as
instruções assumem forma sensível, seja em relação a máquina, sem em relação ao
ser humano. Antes de um computador realizar qualquer operação, um algoritmo
deve ser “representado” de forma compatível com uma máquina. Essa
representação, afirma Brookshear (2013, p. 2), é chamada de programa. Ele explica
ainda que “a representação de um algoritmo requer alguma forma de linguagem. No
caso dos humanos, ela poderia ser uma linguagem natural tradicional (inglês,
espanhol, russo, japonês) [...]” (BROOKSHEAR, 2013, p. 156)
Por sua vez, as linguagens de programação devem ser rigidamente
estruturadas, a fim de eliminar ambiguidades e contradições. Contudo, para efeito de
direitos autorais, não se exige que a expressão das instruções assuma forma
específica. Sua equiparação à obra literária dispensa a confirmação de efeitos
técnicos, de modo que a caracterização presente no conceito legal, que é – “[...] de

244
emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação [...]
para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.” – serve-se para balizar a
aplicação das especificidades legais contidas na Lei nº 9.609/98, frente ao regime
geral.
Disto decorre que, no campo dos direitos de autor, o software comporta dois
planos de expressão:

[...] um, que corresponde à instrução materializada por meio de


qualquer linguagem que seja interpretada pela máquina (código fonte
e código objeto); outro, que consiste em toda a expressão sensível
ao ser humano cuja emergência decorre do sincretismo entre
instrução (código) e máquina (hardware). Nesta categoria encontram-
se, por exemplo, a interface gráfica, ícones, elementos visuais, sons,
entre outras expressões que, independentemente do seu apelo
técnico funcional, enquadram-se no rol do artigo 7º da Lei 9610/98.
Estes dois níveis, portanto, sugerem a possibilidade de tutela autoral
híbrida, de modo que, para o código, incide o regime estrito da Lei
9609/98 e, para os elementos emergentes das instruções (como o
ambiente gráfico), considera-se o regime geral da Lei 9610/98.
(ARRABAL; COLOMBO, 2016, p. 41)

Por previsão expressa (art. 10, V) na Lei de propriedade industrial, os


programas de computador “em si” não são considerados inventos (BRASIL, 1996).
Paralelamente, no rol das obras intelectuais protegidas que consta na Lei de direitos
autorais (art. 7º, XII), os programas de computador são mencionados (BRASIL,
1998).
A fim de entender melhor a diferença entre uma obra dos direitos de autor e
um invento conforme dispõe a lei de propriedade industrial, é preciso compreender a
distinção básica dos propósitos que decorrem os dois regimes, assim como a
diferença dos “objetos” que dizem respeito a cada qual.
Os direitos de autor procuram tutelar interesses patrimoniais e morais
juridicamente vinculados a ação criativa que resulte em “expressão do espírito”

245
humano6. Trata-se, portanto, de uma categoria de direitos intelectuais cujo objeto
corresponde a nada mais do que algo realizado por alguém, manifesto sob alguma
forma sensível aos sentidos, independente do suporte físico a partir do qual se
materializa, dos sentimentos que provoque ou dos efeitos técnicos que possa
eventualmente produzir7.
No campo dos direitos intelectuais de indústria, a tutela de interesses
patrimoniais sobre inventos vincula-se a criação de novos produtos ou processos,
cujas qualidades objetivas possibilitem exata reprodução ou replicação e figurem
como solução para problemas concretos.
Disso resulta o entendimento que o programa de computador, enquanto
conjunto de instruções “em si”, embora seja passível de exata reprodução, não é
dotado de atributos objetivos que resolvam problemas concretos. De igual modo, um
desenho técnico de uma ferramenta, enquanto expressão gráfica, não é capaz de
gerar os efeitos da ferramenta. O desenho de uma ferramenta é uma representação
de um artefato técnico, o que é possível dizer também de um texto que procure
descrever o mesmo artefato. Ambos são representações e, nessa qualidade, não
detém os atributos objetivos do que representam.
É o que se observa, inclusive, nas orientações da Portaria 411/2020 do INPI:

O programa de computador em si, [...] referente aos elementos


literais da criação, tal como o código fonte. O programa de
computador em si não é considerado invenção e, portanto, não é
objeto de proteção por patente por ser mera expressão de uma
solução técnica, sendo intrinsecamente dependente da linguagem
de programação.

6
“São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas
em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: [...]”
(BRASIL, 1998, art. 7º)
7
“No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a forma literária ou artística, não abrangendo o
seu conteúdo científico ou técnico, sem prejuízo dos direitos que protegem os demais campos da
propriedade imaterial.” (BRASIL, 1998, art. 7º, § 3º)

246
As expressões do espírito humano, sejam representações do abstrato ou do
concreto, são reconhecidas como obra em relação a qual o respectivo autor tem
direitos patrimoniais e morais, independentemente de qualquer procedimento formal.
A titularidade originária do direito de exclusividade sobre o uso e fruição de uma
obra independe de registro (art. 18 da Lei nº 9.610/98). Em relação aos programas
de computador não é diferente (art. 2º, § 3º da Lei nº 9.609/98). Contudo, estabelece
a lei específica que “os programas de computador poderão, a critério do titular, ser
registrados em órgão ou entidade a ser designado por ato do Poder Executivo, por
iniciativa do Ministério responsável pela política de ciência e tecnologia”, o que se
encontra regulado no Decreto nº 2.556, de 20 de abril de 1998.
Considerando esse quadro normativo, o registro do software pode ser
realizado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI. Note-se que
este registro, de caráter eminentemente declarativo, não se confunde com a
reivindicação de patente, seja porque o objeto do registro é distinto do objeto da
patente, seja também em razão das condições e do alcance dos direitos
reconhecidos.

1.3 A caracterização de um invento patenteável

Costuma-se empregar a palavra “invento” ou “invenção” como sinônimo de


criação. Contudo, no campo dos direitos de propriedade industrial, toda invenção
(patenteável) é uma criação mas nem toda criação é uma invenção.
Para efeito de garantia de exclusividade sobre o uso e reprodução industrial,
uma criação qualifica-se como invento patenteável quando atende aos requisitos de
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial (BRASIL, 1996, art. 8º)
A novidade consiste na singularidade frente ao estado da técnica constituído
por tudo “aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido de
patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou
no exterior”. Em outras palavras, nova é a criação de que não se tem conhecimento
por indisponibilidade existencial. Neste sentido, “qualquer documento estrangeiro
publicado em qualquer momento ou lugar, sendo ele objeto ou não de patente, em

247
desuso ou de uso comum, pode constituir prova da falta de novidade”
(MAGALHÃES, 2016, p. 30).
A atividade inventiva corresponde a confluência do engenho intelectual com
as condicionantes materiais, para além do que se pode reconhecer como óbvio na
área de produção e/ou aplicação correspondente ao produto ou processo. Nos
termos da lei, “a invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um
técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica.”
(BRASIL, 1996, art. 13).
Por fim, a aplicação industrial corresponde a possibilidade objetiva de
reprodução do produto ou replicação do processo, em escala. Magalhães (2016, p.
28, 29) afirma que a invenção “deve ser capaz de ser reproduzida em escala por
qualquer terceiro interessado [...] o requisito de aplicação industrial elimina a
possibilidade de proteção de obras artísticas e literárias, concepções abstratas,
planos de negócio, métodos educativos, entre outros”. É suscetível de aplicação
industrial a criação que possa ser utilizada ou produzida em qualquer tipo de
indústria (BRASIL, 1996, art. 15). Materialmente, um invento pode ser um produto ou
um processo, cuja aplicação industrial consista no seu emprego como um elemento
que “integre a produção”, ou algo que “resulte da produção”.
Na esteira do Ato Normativo nº 127/97, Abrantes (2013a, p. 147) observa que
“é necessário que a invenção esteja inserida em um setor técnico (item 15.1.2 c),
resolva problema técnico, constituindo a solução para tais problemas, (item
15.1.2.e) e possua efeito técnico (item 15.1.2 f) afastando assim a possibilidade da
patenteabilidade de meras abstrações.” Assim, o invento deve implicar caráter
técnico quanto ao problema (objeto), a solução (aplicação) e efeitos (resultado),
conforme segue:

“Técnica quanto ao objeto”, significa que se está tratando de um


produto ou processo afim à materialidade do mundo. Técnica “em
sua aplicação” diz respeito ao seu caráter industrial, no sentido de
sua possibilidade de replicação ou operabilidade recursiva, em
ambiente controlado. Técnica “em seu resultado” é reconhecer que
os efeitos advindos a partir do produto ou processo, além de serem

248
de ordem prática e utilitária, são estáveis e universais aos propósitos
que lhe foram conferidos (ARRABAL; ARRABAL, 2020, p. 35).

Do exposto observa-se que uma Invenção, no campo da propriedade


industrial, apresenta contornos específicos que não autorizam assumi-la como
sinônimo de criação. Há aspectos de ordem técnica e critérios legais que a
distinguem das criações humanas de caráter estritamente representativo da
realidade objetiva.
Em relação ao processo de reivindicação da patente, cumpre considerar que
o pedido deve ser protocolado, instruído com a documentação exigida no art. 19 da
Lei 9.279/968. Da data do depósito até a decisão definitiva, o pedido será objeto de
análise formal (art. 20) e posteriormente de mérito (art. 30-37), de modo que o direito
de exclusividade, embora seja reconhecido desde a data do depósito (art. 40), só
será plenamente exercido a partir do deferimento com efeitos retroativos (art. 44).

1.4 Patenteabilidade de uma “invenção” implementada “por programa” ou


“em computador”

A Resolução INPI 158/2016 instituiu diretrizes nacionais para o exame de


pedidos de patentes envolvendo invenções implementadas por programas de
computador, a qual foi recentemente revogada em razão da Portaria INPI 411/2020
que apresenta a nova versão das diretrizes de exame de pedidos de patente
envolvendo invenções implementadas em computador (IIC).
De início, observa-se que norma administrativa vigente se refere à
implementação de invento em computador, e não mais por programa de
computador. Provavelmente a alteração se deu a fim de evitar equívocos que a
expressão “programa de computador” facilmente ocasionava, sugerindo a
patenteabilidade de software. Como já referido, o programa de computador em si

8
“Art. 19. O pedido de patente, nas condições estabelecidas pelo INPI, conterá: I - requerimento; II -
relatório descritivo; III - reivindicações; IV - desenhos, se for o caso; V - resumo; e VI - comprovante
do pagamento da retribuição relativa ao depósito.”

249
não pode ser objeto de patente. Trata-se de reconhecer que um “invento” – na
qualidade de processo9 – pode ser implementado a partir de um conjunto de
instruções expressas em uma linguagem. Outra razão para a mudança terminológica
decorre provavelmente do escopo de proteção, já que a normativa anterior (INPI,
Resolução 158/2016) e a vigente possibilitam a patente de sistema, aparelho ou
equipamento associados a processo, na qualidade de produtos, bem como admitem
patente de suporte físico caracterizado por conter método associado.
Uma “sequência de passos lógicos” que apontam para um resultado
específico é conhecida como algoritmo. Qualificado como um método ou processo,
o algoritmo pode ser objeto de patente10. Brookshear (2013, p. 153, 154) observa
que o algoritmo é o conceito mais fundamental da ciência da computação,
caracterizado por um “conjunto de passos que definem como uma tarefa é realizada”
ou, em termos formais um “conjunto ordenado de passos executáveis, não
ambíguos, que define um processo finalizável”. O autor explica a diferença entre um
algoritmo e sua representação, a partir de uma analogia entre uma narrativa
histórica e um livro:

Uma história é abstrata, conceitual, em sua natureza um livro é uma


representação física de uma história. Se um livro é traduzido para
outra língua ou republicado em um formato diferente, é simplesmente
a representação da história que muda – a história propriamente dita
permanece a mesma. Da mesma maneira, um algoritmo é abstrato e
distinto de sua representação. Um único algoritmo pode ser
representado de muitas maneiras. (BROOKSHEAR, 2013, p. 155)

Orientação análoga encontra-se nas diretrizes adotadas pelo INPI ao


distinguir os termos “conjunto de instruções” e “expressão de um conjunto de
instruções”: “um conjunto de instruções define um método, enquanto a expressão de

9
“O pedido de patente referente a invenções implementadas em computador, por se basear em um
processo, é enquadrado somente na natureza de patente de invenção [...]” (INPI, 2020, item [002])
10
“Considera-se como algoritmo uma sequência de passos lógicos a serem seguidos para a
resolução de determinado problema. De acordo com essa definição, um algoritmo consiste em um
método ou processo e, portanto, deve ser reivindicado como tal.” (INPI, 2020, item [007])

250
um conjunto de instruções define uma maneira particular de como tal método se
manifesta.” (INPI, 2020, item [018]). Assim, o que se espera para a caracterização
de um invento implementado em computador, além de outros requisitos, é que o
conjunto de instruções seja apto a gerar efeito técnico, independente dos atributos
de linguagem e do hardware, ainda que, por óbvio, estes sejam necessários para a
efetiva implementação do algoritmo.
São patenteáveis instruções correspondentes a processos ou métodos que,
ao serem colocados em prática (implementados) por meio de um computador
(software + hardware), resultem em determinado(s) efeito(s) técnico(s).
A Portaria INPI 411/2020 (item [021]) apresenta os seguintes exemplos de
efeitos técnicos:
a) otimização:
- dos tempos de execução;
- de recursos do hardware;
- do uso da memória;
- do acesso a uma base de dados;
b) aperfeiçoamento de funcionalidades da interface com o usuário;
c) gerenciamento de arquivos;
d) comutação de dados.
Observe-se que formas diferentes de escrituração do código podem gerar
efeitos técnicos, a exemplo da otimização de tempo de execução. Contudo, a
escrituração diferenciada do código não é considerada um invento, já que diz
respeito a “representação do processo” e não ao “processo em si” (INPI, 2020, item
[023]).
Em uma busca realizada na base de dados de patentes do Instituto Nacional
de Propriedade Industrial, foi possível identificar o seguinte quadro geral de patentes
e pedidos de patentes implementadas “por programa de computador”, “por software”
e “em computador”:

251
Tabela 1 - Busca na base do INPI por título
Cod. Expressão de busca Ocorrências Concedidas Período
A "implementado por programa de computador" 2 1 2000-2019
B "implementada por programa de computador" 0 0
C "implementado por software" 4 0 2002-2017
D "implementada por software" 0 0
E "implementado em computador" 66 15 1988-2018
F "implementada em computador" 2 0
Total 74 16
Fonte: Elaborado pelos autores

Foram identificadas 74 reivindicações de patentes cujo título contém as


expressões "implementado” ou “implementada” “por programa de computador", "por
software" e "em computador". Deste total, menos de um quarto (21,62%) foram
efetivamente concedidas. Nesse contexto cumpre considerar que, além das patentes
não concedidas por inadequação do mérito (não atendimento dos requisitos legais),
há outras hipóteses legais de arquivamento, a exemplo do não pagamento das
anuidades. Um aspecto que chama atenção neste quadro é a existência de
reivindicações de patentes “implementadas em computador” anteriores ao quadro
legislativo vigente.
Contudo, o resultado obtido nesta busca pode não revelar a integralidade de
patentes relacionadas ao segmento, já que possivelmente constam na base inventos
implementados por software (ou em computador) cujo título não contém exatamente
os termos utilizados na busca.
Deste modo, a partir do resultado obtido, foi realizada a estratificação do IPC -
International Patent Classification11 destas patentes, o que permitiu obter o seguinte
quadro:

11
“A Classificação Internacional de Patentes (CIP), estabelecida pelo Acordo de Estrasburgo de
1971, fornece um sistema hierárquico de símbolos independentes de linguagem para a classificação
de patentes e modelos de utilidade de acordo com as diferentes áreas da tecnologia a que
pertencem.” (WIPO, 2020)

252
Tabela 2 - Busca na base de Classificação Internacional de Patentes da WIPO
IPC (CIP) Descrição A C E F
KITCHEN EQUIPMENT; COFFEE MILLS; SPICE MILLS;
A47J 1
APPARATUS FOR MAKING BEVERAGES [6]
ELECTROTHERAPY; MAGNETOTHERAPY; RADIATION
THERAPY; ULTRASOUND THERAPY (measurement of
bioelectric currents A61B; surgical instruments, devices or
A61N methods for transferring non-mechanical forms of energy to or 1
from the body A61B 18/00; anaesthetic apparatus in general
A61M; incandescent lamps H01K; infra-red radiators for heating
H05B) [6]
CARD, BOARD OR ROULETTE GAMES; INDOOR GAMES
A63F USING SMALL MOVING PLAYING BODIES; VIDEO GAMES; 2
GAMES NOT OTHERWISE PROVIDED FOR [5]
ARRANGEMENT OR MOUNTING OF PROPULSION UNITS OR
OF TRANSMISSIONS IN VEHICLES; ARRANGEMENT OR
MOUNTING OF PLURAL DIVERSE PRIME-MOVERS IN
VEHICLES; AUXILIARY DRIVES FOR VEHICLES;
B60K 1
INSTRUMENTATION OR DASHBOARDS FOR VEHICLES;
ARRANGEMENTS IN CONNECTION WITH COOLING, AIR
INTAKE, GAS EXHAUST OR FUEL SUPPLY OF PROPULSION
UNITS IN VEHICLES [2006.01]
LOCOMOTIVES; MOTOR RAILCARS (vehicles in general B60;
B61C frames or bogies B61F; special railroad equipment for locomotives 1
B61J, B61K)
FERMENTATION OR ENZYME-USING PROCESSES TO
SYNTHESISE A DESIRED CHEMICAL COMPOUND OR
C12P 1
COMPOSITION OR TO SEPARATE OPTICAL ISOMERS FROM
A RACEMIC MIXTURE [3]
EARTH OR ROCK DRILLING (mining, quarrying E21C; making
shafts, driving galleries or tunnels E21D); OBTAINING OIL, GAS,
E21B 1
WATER, SOLUBLE OR MELTABLE MATERIALS OR A SLURRY
OF MINERALS FROM WELLS [5]
CONTROLLING COMBUSTION ENGINES (vehicle fittings, acting
on a single sub-unit only, for automatically controlling vehicle
speed B60K 31/00; conjoint control of vehicle sub-units of different
type or different function, road vehicle drive control systems for
purposes other than the control of a single sub-unit B60W;
cyclically operating valves for combustion engines F01L;
F02D controlling combustion engine lubrication F01M; cooling internal- 1
combustion engines F01P; supplying combustion engines with
combustible mixtures or constituents thereof, e.g. carburettors,
injection pumps, F02M; starting of combustion engines F02N;
controlling of ignition F02P; controlling gas-turbine plants, jet-
propulsion plants, or combustion-product engine plants, see the
relevant subclasses for these plants) [2006.01]
MEASURING DISTANCES, LEVELS OR BEARINGS;
SURVEYING; NAVIGATION; GYROSCOPIC INSTRUMENTS;
G01C PHOTOGRAMMETRY OR VIDEOGRAMMETRY (measuring liquid 1
level G01F; radio navigation, determining distance or velocity by
use of propagation effects, e.g. Doppler effect, propagation time, of

253
radio waves, analogous arrangements using other waves G01S)

MEASUREMENT OF INTENSITY, VELOCITY, SPECTRAL


CONTENT, POLARISATION, PHASE OR PULSE
G01J 1
CHARACTERISTICS OF INFRA-RED, VISIBLE OR ULTRA-
VIOLET LIGHT; COLORIMETRY; RADIATION PYROMETRY [2]
SCANNING-PROBE TECHNIQUES OR APPARATUS;
G01Q APPLICATIONS OF SCANNING-PROBE TECHNIQUES, e.g. 1
SCANNING-PROBE MICROSCOPY [SPM] [2010.01]
GEOPHYSICS; GRAVITATIONAL MEASUREMENTS;
DETECTING MASSES OR OBJECTS; TAGS (means for
G01V 2
indicating the location of accidentally buried, e.g. snow-buried,
persons A63B 29/02) [6]
ELECTRIC DIGITAL DATA PROCESSING (computer systems
G06F 2 26
based on specific computational models G06N)
ANALOGUE COMPUTERS (analogue optical computing devices
G06G G06E 3/00; computer systems based on specific computational 1
models G06N)
RECOGNITION OF DATA; PRESENTATION OF DATA; RECORD
G06K CARRIERS; HANDLING RECORD CARRIERS (printing per 1 2
seB41J)
COMPUTER SYSTEMS BASED ON SPECIFIC
G06N 1 1
COMPUTATIONAL MODELS [7]
DATA PROCESSING SYSTEMS OR METHODS, SPECIALLY
ADAPTED FOR ADMINISTRATIVE, COMMERCIAL, FINANCIAL,
MANAGERIAL, SUPERVISORY OR FORECASTING
G06Q PURPOSES; SYSTEMS OR METHODS SPECIALLY ADAPTED 1 9
FOR ADMINISTRATIVE, COMMERCIAL, FINANCIAL,
MANAGERIAL, SUPERVISORY OR FORECASTING
PURPOSES, NOT OTHERWISE PROVIDED FOR [2006.01]
IMAGE DATA PROCESSING OR GENERATION, IN GENERAL
G06T 6
[2006.01]
TRAFFIC CONTROL SYSTEMS (guiding railway traffic, ensuring
the safety of railway traffic B61L; radar or analogous systems,
sonar systems or lidar systems specially adapted for traffic control
G01S 13/91, G01S 15/88, G01S 17/88; radar or analogous
G08G 1
systems, sonar systems or lidar systems specially adapted for anti-
collision purposes G01S 13/93, G01S 15/93, G01S 17/93; control
of position, course, altitude or attitude of land, water, air or space
vehicles, not being specific to a traffic environment G05D 1/00) [2]
DISPLAYING; ADVERTISING; SIGNS; LABELS OR NAME-
G09F 1
PLATES; SEALS
H04B ELECTRIC COMMUNICATION TECHNIQUE 1
TRANSMISSION OF DIGITAL INFORMATION, e.g.
H04L TELEGRAPHIC COMMUNICATION (arrangements common to 1 4
telegraphic and telephonic communication H04M) [4]
Total 2 4 64* 2
Fonte: Elaborado pelos autores

254
*Do quadro geral de estratificação correspondente a expressão de busca "implementado em
computador" (cod. “E”),

Verifica-se que o maior número de patentes reivindicadas neste extrato está


relacionado aos seguintes assuntos:

Tabela 3 - Quatro maiores ocorrências e respectivos códigos IPC


IPC Ocorrências Assuntos
Processamento de dados digitais elétricos - sistemas computacionais
G06F 26
baseados em modelos computacionais específicos
Sistemas ou métodos de processamento de dados, especialmente
G06Q 9 adaptados para fins administrativos, comerciais, financeiros, gerenciais,
de supervisão ou de previsão [...]
G06T 6 Processamento ou geração de dados de imagem, em geral
H04L 4 Transmissão de informações digitais
Fonte: Elaborado pelos autores

Assim, a partir destes códigos IPC, nova busca realizada na base do INPI
integrando os quatro códigos12 retornou 33.651 resultados, sendo que deste
universo 4.273 correspondem a patentes concedidas, o que representa um montante
de 12,69%.
Cabe observa, por equiparação, que o total das patentes depositadas no
Brasil, relacionadas as categorias IPC destacadas, compreende 7,56% da totalidade
de patentes de invenção depositadas no período de 2000 a 2018 (INPI, 2019).
Em síntese, considerando a relevância econômica do segmento e os dados
extraídos da plataforma do INPI, pode-se afirmar que o número de patentes
reivindicadas de inventos implementados por software (ou em computador) é baixo,
o que não significa, necessariamente, que o sistema de proteção legal não seja
relevante para o desenvolvimento do setor. Em outro contexto pode-se inferir que os
códigos escritos são protegidos por restrição de acesso quando incorporados a
máquina e sendo assim, protegidas pelo know how dos inventores ou empresas que
comercializam a tecnologia.

12
Expressão de busca aplicada: G06F* or G06Q* or G06T* or H04L*

255
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A título de considerações finais, em relação a caracterização histórica dos


programas de computador, verificou-se que os mesmos se tornaram objeto de
interesse mercantil autônomo a partir da década de 70, e que, ao longo das últimas
décadas, houve um significativo incremento econômico do setor.
Observou-se também que a ordem jurídica brasileira, em matéria de direitos
de propriedade intelectual, apresenta desdobramentos em relação ao que se
entende por “programa de computador”. Para efeito de tutela jurídica, distingue-se o
programa como a “expressão” de um conjunto de instruções, equiparada a obra
literária nos termos do art. 2º da Lei n. 9.609/98, do que se tem como instruções na
condição de um “método ou processo” que se qualifica como invenção patenteável,
atendendo aos requisitos legais de novidade, atividade inventiva e aplicação
industrial, assim como aos requisitos técnicos de objetividade quanto ao problema, a
solução e aos efeitos.
É possível afirmar que, embora exista um contexto normativo que viabiliza a
obtenção de patentes implementadas por software (ou em computador), o quadro
que se apresenta a partir dos dados obtidos junto a plataforma do INPI indica que o
sistema de proteção é ainda pouco explorado, o que se soma a um déficit na relação
entre as patentes reivindicadas (depositadas) e as efetivamente concedidas.
Como sugestão para estudos futuros, recomenda-se o diagnóstico dos fatores
relacionados a este quadro, bem como o desenvolvimento de estratégias que
tornem os mecanismos legais de proteção administrativa conhecidos no setor e
estrategicamente aplicados, em prol do desenvolvimento socioeconômico nacional.
O presente artigo poderá contribuir com pesquisas e ações futuras
relacionadas ao fortalecimento da indústria de software nacional, na medida que
oferece subsídios para leituras estratégicas em relação a proteção de ativos do
setor.
A precariedade a respeito da compreensão quanto aos objetos, as funções e
os benefícios relacionados aos Direitos de Propriedade Intelectual ainda é uma
realidade dos ambientes empresariais no Brasil. Nesse sentido, tornar o

256
conhecimento sobre PI acessível e integrado ao cotidiano dos agentes produtores
de inovação é um desafio atual e futuro.

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no art. 3º da Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a proteção
da propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no
País, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2556.htm Acesso em: 20 abr. 2022.

BRASIL. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à


inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/lei/l10.973.htm Acesso em: 20 abr. 2022. [Atualizada pela Lei nº 13.243,
de 11 de janeiro de 2016]

BRASIL. Lei nº 9.276, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações


relativos à propriedade industrial. Disponível em:
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BRASIL. Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da


propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e
dá outras providências. Disponível em:
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Recebido em 16/08/2022
Publicado em 10/11/2022

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