Notas de Aula Fatores de Formaçào Do Solo

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FATORES DE FORMAÇÃO DO SOLO

Notas de aula da disciplina de GMCS


Prof. Alinne da Silva -CESI/UEMA

1. MATERIAL DE ORIGEM

A litosfera é parte externa consolidada do planeta terra, também denominada de crosta


terrestre. A espessura da litosfera varia, nos continentes, entre 30 a 80 km.
Abaixo da litosfera ocorrem outras camadas mais espessas, como o manto e o núcleo,
cujos constituintes são mantidos em temperaturas muito elevadas e onde predominam elementos
mais pesados. Há um aumento da temperatura e da densidade da crosta em direção ao núcleo,
cuja constituição, presume-se ser de níquel e ferro (Figura 1).

Figura 1. Estrutura interna da Terra. Fonte: Aula do Prof. Wanilson Luiz Silva (Unicamp)

No manto superior, entre as profundidades aproximadas de 100 e 350 km, situa-se uma
região muito quente, em que as rochas encontram-se próximas ao estado de fusão. Esta zona
constitui a fonte dos magmas, que penetram na crosta terrestre através de intrusões ou fendas, ou
derramam-se sobre a superfície através do fenômeno do vulcanismo. O magma tende a deslocar-
se na crosta em direção à superfície, que ao extravasar, formam os derrames vulcânicos,
denominado lava.
A palavra magma provém do grego e refere-se a uma massa, como aquela utilizada no
preparo do pão. Em geologia, magma é qualquer material rochoso fundido, de consistência
pastosa, que apresenta mobilidade, e que ao consolidar-se, constitui as rochas ígneas.
O magma apresenta alta temperatura, da ordem de 800 a 1200º C, sendo constituída por
uma parte líquida representada pelo material rochoso fundido, outra parte sólida que corresponde
a minerais já cristalizados e uma parte gasosa, constituída predominantemente por H 2O e CO2.
Os magmas têm, majoritariamente, composição de SiO 2, além do alumínio, ferro, cálcio,
magnésio, sódio, potássio, que constituem aproximadamente 99% da litosfera, sendo, portanto,
os constituintes mais comuns nos minerais formadores das rochas. Os outros, entre eles os
demais elementos essenciais às plantas, ocorrem em proporções menores nas rochas, e são
disponibilizados através dos processos de intemperismo.
É evidente que as concentrações e distribuição dos elementos nas rochas variam
enormemente conforme o tipo de rocha considerada. Assim, uma rocha calcária, por exemplo,
apresentará um elevado conteúdo de cálcio, um arenito conterá um alto teor de silício e menor
proporção dos demais elementos.
A crosta terrestre é constituída de diferentes tipos de rochas, as quais, segundo sua
origem, diferenciam-se em três grupos fundamentais: ígneas ou magmáticas, metamórficas e
sedimentares.
As rochas de origem magmáticas e metamórficas constituem cerca de 95 % do volume
total da crosta, porém ocupam apenas 25 % da sua superfície, enquanto as sedimentares ocupam
em volume apenas 5 %, porém cobrem aproximadamente 75 % da superfície da terra.
O material de origem do solo é o estado do sistema solo no tempo zero da sua formação
(Jenny, 1941). Em geral, quanto mais jovem o solo, maior é a influência e as relações do material
de origem com as propriedades do solo.
Em alguma profundidade do perfil encontra-se a rocha inalterada pelo intemperismo, e a
pressuposição normal é que rocha do mesmo tipo existia anteriormente no espaço atualmente
ocupado pelo perfil do solo. Em muitos casos esta é uma inferência correta, mas há
circunstâncias onde não é. O material de origem do solo pode ser o regolito constituído por
depósitos superficiais de materiais intemperizados proveniente de outra rocha fonte, sem relação
com a rocha subjacente.
Desta maneira, cabe ao pedólogo inferir em cada situação particular qual é o material de
origem mais provável do solo. Na maioria dos casos, o horizonte C ou R representa o material de
origem do solo.
As rochas, conforme suas origens diferem entre si quanto a sua composição mineralógica,
textura e estrutura. A composição mineralógica trata da presença dos minerais essenciais, que
são aqueles sempre presentes e abundantes em algumas rochas. Ela também determina a
composição química da rocha, como somatório da composição química de todos os seus
minerais. A textura refere-se ao tamanho, forma e arranjo entre os cristais ou grãos constituintes
das rochas. A estrutura da rocha indica seu aspecto externo, que se pode manifestar em formas
diversas. Por influencia de todas essas características, as rochas variam em sua resistência física,
estabilidade química e permeabilidade à água e gases. Essas variações influenciam, de modo
decisivo, a maneira como elas são afetadas pelo intemperismo.

1.1. Rochas magmáticas

As rochas magmáticas ou ígneas se originam do resfriamento e da consolidação ou


solidificação do magma. O termo ígnea provém de ignis, que significa fogo. São consideradas
rochas de origem primária, e delas derivam, por vários processos, as rochas sedimentares e
metamórficas.
As rochas magmáticas ou ígneas podem ser classificadas em intrusivas ou extrusivas.
Quando o magma, em seu movimento ascendente, não extravasa à superfície da crosta terrestre,
são formadas as rochas magmáticas intrusivas, plutônicas ou abissais, que resultam da
solidificação do magma em profundidade, cujos exemplos mais comuns são granito e o gabro
(Figura 2).
Neste caso, o resfriamento do magma ocorre lentamente, havendo tempo para o
desenvolvimento de cristais maiores e bem definidos, formando uma textura fanerítica
(macrocristalina). textura grosseira, com os minerais facilmente perceptíveis a olho nu ou
facilmente sentidos ao tato, como no granito e no gabro, no qual podem ser observados os
cristais grandes de quartzo, micas (claros), anfibólios (escuros).

Figura 2. Rochas magmáticas intrusivas: granito (esq.) e gabro (dir.).

As rochas extrusivas, também denominadas vulcânicas ou efusivas são formações de


origem ígnea cujo material consolida-se depois de alcançar a superfície da crosta através de
fendas ou pela cratera de vulcões sob a forma de erupção explosiva ou não. Os exemplos mais
comuns são o basalto e o riolito (Figura 3).

Figura 3. Rochas magmáticas extrusivas: riolito (esq.) e basalto (dir.).

Neste caso, o magma mantido inicialmente em altas temperaturas e pressões, ao entrar em


contato brusco com um ambiente com temperaturas bem mais baixas (atmosfera), o resfriamento
do magma ocorrerá rapidamente, não havendo tempo para a formação de cristais grandes e bem
definidos, formando uma textura afanítica ou microcristalina, onde os cristais não são visíveis a
olho nu.
Por vezes, podem se observar alguns cristais esparsos numa massa afanítica, que
representam o inicio da cristalização de alguns minerais que não se desenvolveram totalmente
pela rápida consolidação do magma.
Estruturas indicativas de escape de gases são as vesículas (quando vazias) e as amigdalas
(quando preenchidas por minerais tardios).
Geralmente, a estrutura das rochas ígneas é maciça, uma vez que o magma tende a se
alojar e consolidar em regimes isentos de tensões. Há, porém, estruturas indicativas de fluxo,
tanto em rochas extrusivas como nas intrusivas. Exemplo, os sienitos, que apresenta a orientação
de cristais feldspatos.
Um grupo intermediário entre as rochas intrusivas e extrusivas é representado pelas
rochas magmáticas hipaabissais. Neste caso o magma solidifica-se próximo à superfície, mas
sem extravasar sobre a mesma. A cristalização neste caso é igualmente rápida, e formam-se
geralmente rochas com textura microcristalina, tais como o diabásio. Essas rochas ocorrem
normalmente como intrusões ou veios no interior de outras rochas já solidificadas. Quando essas
intrusões ocorrem de forma perpendicular à superfície recebe a denominação de diques, e quando
são paralelas à mesma são chamdas de sills.
A ordem de cristalização dos minerais com o resfriamento da massa magmática constitui
um aspecto importante da mineralogia das rochas ígneas.
Na medida em que o magma resfria-se, alguns elementos se unem para formar cristais. Os
primeiros minerais a sofrerem cristalização são a olivina e os piroxênios, por exemplo, e
conforme a temperatura vai baixando, outros minerais vão sendo cristalizados. Esses minerais
inicialmente ficam imersos (nadando) na massa viscosa do magma até que a temperatura fique
suficientemente baixa para que todos os minerais se formem. Como o quartzo é um dos últimos
minerais a se cristalizar, normalmente preenche os interstícios (espaços) existentes entre os
demais minerais já cristalizados. Quanto maior for o tempo de resfriamento do magma, maior a
possibilidade de se formarem minerais grandes. Quando o resfriamento é rápido, não há tempo
suficiente para ocorrer polimerização de vários elementos, e por isso, formam-se cristais muito
pequenos.
A cristalização dos diversos minerais obedece a uma sequência determinada pela
temperatura e pela composição do magma. Essa sequência é conhecida como série de reação de
Bowen (Figura 4), sendo distinguida como série descontínua dos minerais ferromagnesianos e
série contínua dos plagioclásios1.
A ordem de cristalização, no magma, dos principais minerais primários formadores das
rochas ígneas esta relacionado com o intemperismo.
Os minerais que se cristalizam em condições de temperaturas elevadas advêm de magmas
menos viscosos e com menores teores em SiO 2. Essa condição favorece a formação de silicatos
com menor grau de polimerização. Já, os minerais que se cristalizam em temperaturas baixas,
apresentam altos teores de SiO2 e com maior grau de polimerização. Por isso, as duas séries de
cristalização culminam com o quartzo, silicato de estrutura cristalina de maior complexidade e
que se forma quando não existem mais os outros elementos na massa magmática.

1
A série é denominada descontínua, pois à medida que a temperatura diminui, os minerais anteriormente formados reagem com o
líquido residual, originando um mineral estável nas novas condições de temperatura, mas com composição química e estrutura
interna diferente. Já, a série é denominada contínua, quando a troca de elementos Ca e Na modifica apenas a composição
química, não alterando a estrutura interna desses minerais.
Figura 4. Série de reação de Bowen. Fonte: Livro Decifrando a Terra.

As características distintivas das rochas ígneas, as quais estão diretamente relacionadas ao


intemperismo são: composição química e mineralógica.

Composição química das rochas magmáticas

A composição química das rochas magmáticas varia em função da proporção entre os


diversos elementos que compõe as mesmas. Uma classificação comum das rochas magmáticas
baseia-se na quantidade de sílica (SiO2), distinguindo-se em: rochas ácidas > 65 % de SiO 2 em
peso; rochas intermediárias entre 52 e 65 % de SiO 2; rochas básicas entre 45 e 52 % de SiO 2;
rochas ultrabásicas < 45 % de SiO2.
Atenção! Estes termos, ácida e básica, NÃO TEM NADA HAVER COM ÍNDICE DE
pH.
Esses termos, ácida e básica, embora não indiquem características de acidez ou
alcalinidade das rochas, normalmente são um indicativo da sua riqueza em minerais essenciais,
que contenham elementos como Mg, Na, K, Ca, Fe. Assim, quanto maior for o conteúdo
destes, maior a possibilidade de formarem-se solos férteis, com pH elevado. Esta
composição química, por sua vez, esta diretamente relacionada à composição mineralógica
da rocha.
O raciocínio para este entendimento é o seguinte, quanto maior for a proporção de sílica,
expressa como SiO2, menor será a proporção dos demais óxidos, tais como FeO, MgO, CaO,
K2O. Portanto, quanto maior o teor de sílica, mais ácida será a rocha, sua coloração será mais
clara, devido a menor quantidade dos minerais ricos em Fe, e também menor teor de minerais
que contem Ca e Mg. Tais rochas, que podem ser exemplificadas pelo granito e riolito, darão
origem a solos menos férteis. Já, as rochas com baixos teores de SiO 2, como o basalto e o gabro,
tem maior proporção de Fe, Mg e Ca na sua constituição, e por isso são mais escuras e podem
dar origem a solos mais férteis.

Composição mineralógica das rochas magmáticas

Apesar da grande diversidade de minerais que compõe a rocha, são poucos aqueles
classificados como essenciais, os quais ocorrem em maiores proporções nas rochas. Os minerais
acessórios são os que ocorrem em menores quantidades na rocha.
Os principais minerais essenciais das rochas são feldspatos, quartzo, piroxênios,
anfibólios, olivinas e micas (biotita e muscovita), sendo que a proporção com que ocorrem nas
rochas permite, com auxilio de outras características, classifica-las.
Os termos leucocrática, mesocrática e melanocrática são utilizados para designar a
proporção entre os diversos grupos de minerais presentes nas rochas.
Os minerais ricos em Si e Al são denominados minerais félsicos e seus principais
representantes são: quartzo, feldspatos potássicos, plagioclásios calco-sódicos e muscovita.
Os minerais com menores teores de SiO 2 são aqueles que contém maior quantidade de Fe e Mg, e
são denominados minerais ferromagnesianos ou máficos, como as olivinas, piroxênios,
anfibólios e biotita.
A cor das rochas ígneas é definida pela proporção de minerais félsicos em relação à
proporção de minerais máficos, conferindo à rocha uma coloração mais clara ou mais escura,
conforme a quantidade de um ou de outro tipo de mineral. Assim, uma subdivisão geral das
rochas ígneas quanto à cor é apresentada, apesar de haver exceções na natureza, como: rocha
leucocrática, rocha de coloração clara, pois apresenta maior proporção de minerais félsicos, ex.
granito, riolito, sienitos claros; rochas mesocráticas: rochas de coloração intermediária entre
clara e escura, pois apresentam proporção semelhante dos minerais félsicos e máficos, ex.
sienitos, diorito e andesito; rochas melanocráticas apresentam maior proporção de minerais
máficos, escuros, ex. basalto, diabásio, gabro, peridotito.

1.2. Rochas sedimentares

São formadas a partir dos produtos de intemperização de quaisquer outros tipos de rochas
(magmática, sedimentar ou metamórfica), que são transportados e posteriormente depositados ou
precipitados em qualquer ambiente de sedimentação. Os principais agentes de transporte são a
água e o vento. Por exemplo, quando a areia, proveniente de uma rocha fonte, ser transportada
por enxurrada, depositada no fundo de um vale e litificada, o resultado será um arenito.
Rochas sedimentares são, portanto, formadas pelo transporte, deposição e consolidação
de sedimentos provenientes da destruição de rochas pré-existentes na superfície da crosta
terrestre. As rochas sedimentares recobrem, aproximadamente, 75 % da superfície da crosta
terrestre, por isso influenciam a maioria das paisagens e dos solos na Terra.
A composição química e física das rochas sedimentares é muito variável e é intimamente
relacionada com as características do material que deu origem ao sedimento.
Distinguem-se basicamente três tipos de sedimentos: clásticos, químicos e orgânicos, de
acordo com a natureza, o tamanho e o tipo de sedimentos (Figura 5).

Figura 5. Classificação das rochas sedimentares.

As rochas epiclásticas, primeira subdivisão das rochas clásticas, são caracterizadas por
terem os seus sedimentos transportado, preferencialmente, pela água ou pelo vento, e
depositados em um ambiente de sedimentação. Estas por sua vez se dividem em três diferentes
tipos de rochas quanto à textura de seus sedimentos formadores: psefitos, psamitos e pelitos.
Os psefitos são formados pelos sedimentos maiores, denominados cascalhos, grãos
maiores que 2 mm de diâmetro e seus principais exemplos são os conglomerados e as brechas.
Os conglomerados são, sobretudo, formados por calhaus, cascalho e seixos arredondados, os
quais são unidos por um cimento, que pode ser de constituição siliciosa, calcária, argilosa,
ferruginosa ou mista.
Os psamitos são produtos da consolidação de sedimentos da fração areia (2 - 0.05 mm) e
seus exemplos mais importantes são os arenitos. Os grãos que formam os arenitos são
geralmente constituídos por quartzo, porém pode ser de qualquer outro mineral, como o
feldspato e a mica, desde que possuam diâmetro de areia. Sua coloração é bastante variável,
podendo ser vermelho, amarelo, acinzentado etc. O arcósio é um tipo especial de arenito com
grande quantidade do mineral feldspato (Figura 6).
Figura 6: Rocha sedimentar: arcósio.

Assim como nos psefitos, a união dos elementos formadores dos psamitos ocorre através
da cimentação natural, manifesta-se na forma de algum agente cimentante químico presente no
ambiente de formação da rocha, como a argila, calcário, óxidos de ferro e sílica, os quais podem
ter seu nome incluído no nome da rocha para caracteriza-la. Por exemplo, conglomerado silicoso,
arenito calcário, arenito ferruginoso etc.
O pelito, última subdivisão das rochas classificadas como epiclásticas, são rochas
formadas pelo transporte e deposição dos sedimentos com partículas de diâmetro menores, como
o silte e argila (< 0,05 mm). Estes sedimentos consolidam-se apenas pela compressão provocada
pelo peso das camadas superiores, aliada à saída da água intersticial e à pequena elevação da
temperatura, suficientes para provocar a formação de forças de ligação entre as partículas.
São exemplos importantes de rochas peliticas: os siltitos, argilitos e folhelhos. Os
argilitos e os folhelhos caracterizam-se por apresentar granulação fina, pelo predomínio da
fração argila (diâmetro menor que 0,002 mm), sendo untuoso ao tato. Os folhelhos diferenciam-
se dos argilitos por apresentarem uma esfoliação característica, formando estratos finos ou
paralelos (Figura 7). Os siltitos são rochas sedimentares de granulação intermediária entre os
argilitos e arenitos (diâmetro entre 0,05 e 0,002 mm), podendo ser identificados no campo por
apresentar aspereza quando atritados entre os dentes, podendo ser este um critério útil para
diferencia-los dos argilitos que não são aspereza ao dente.

Figura 7. Rocha sedimentar argilito (esq.) e folhelho (dir.).

Os sedimentos clásticos podem apresentar muitas classes de tamanhos de grãos


misturados, devendo-se na classificação da rocha, observar qual fração é predominante.
Uma feição muito comum à maioria das rochas sedimentares de origem clástica é a
disposição em camadas, formando estratos finos e parelelos, muitas vezes de coloração
diferente. Esta estratificação pode ser plano-paralela, como na maioria dos casos em que as
rochas são formadas em ambientes lacustre ou marinho, ou pode ser cruzada como na maioria
das rochas formadas em ambientes eólico e fluvial.
As rochas classificadas como piroclásticas, segunda subdivisão das clásticas, são
formadas pela consolidação de sedimentos sólidos oriundos de manifestações vulcânicas. Assim
elas podem ser entendidas como uma fase transicional entre as rochas ígneas e as sedimentares,
visto que são formações ígneas extrusivas, mas sujeiras ao transporte e à deposição, como por
exemplo, os tufos vulcânicos ou tufitos e as brechas vulcânicas.
Os sedimentos de origem química são formados pela deposição e sedimentação de
componentes que foram dissolvidos, transportados em solução e precipitados quimicamente
graças à diminuição da solubilidade desses compostos. Os sedimentos são solúveis e precipitam
em diferentes maneiras. Os evaporitos são rochas nas quais a precipitação dos sedimentos dá-se
pela evaporação de água e consequente insolubilização dos sais em solução, como por exemplo,
o gesso.
Outros tipos importantes das rochas sedimentares de origem química são aquelas
conhecidas como de reação bioquímicas, resultantes de atividades de plantas e animais. Por
exemplo, plantas no mar podem influenciar a quantidade de CO 2 dissolvido em água, que
combinado com o Ca, pode provocar a precipitação de alguns sais, especialmente os carbonatos.
Os principais exemplos dessas rochas são os calcários e as dolomitas. Os calcários são rochas
sedimentares que apresentam em sua constituição mais de 50 % do mineral calcita e podem ser
classificados de acordo com a seu teor de Ca como: calcários calcíticos (> 95 % CaCO 3),
magnesiano (90 - 95 % de CaCO 3) ou dolomítico (50 - 90 % CaCO 3), este último possui também
o mineral dolomita.
Os sedimentos orgânicos são aquelas formadas pelo acúmulo de restos orgânicos vegetais
e animais geralmente em ambiente saturado com água. Algumas plantas e animais podem
absorver carbonato de Ca e utiliza-lo para a formação de seus corpos, carapaças e partes duras
que com a sua morte vão se acumular no fundo dos mares. Esse é um tipo comum de formação
de rocha de origem calcária de formação orgânica.
É importante salientar que a maioria das rochas sedimentares carbonatatas sofre tanto a
influência química como orgânica, sendo difícil separa-las com exatidão. Outras rochas
orgânicas importantes são aquelas produzidas pela sedimentação e consolidação de grandes
massas de material vegetal em tempos pretéritos, que possibilitaram a formação das turfas e dos
carvões minerais, como a hulha e a antracita (Figura 8).

Figura 8. Rocha sedimentar de origem orgânica hulha (Esp.) e antracita (Dir.).

1.3. Rochas metamórficas


As rochas magmáticas e sedimentares, em sua condição natural estável, podem se tornar
instável frente a modificações na pressão, elevação da temperatura, presença de forte atrito,
dando origem a rochas com características diferentes, as metamórficas.
As rochas metamórficas são, portanto, resultantes do metamorfismo ou da transformação
de outras rochas pré-existentes, sejam elas rochas ígneas, sedimentares ou mesmo outra rocha
metamórfica.
Metamorfose significa transformação, mudança de forma, sem que se perca a essência da
matéria em transformação. Metamorfismo, em Geologia, define o conjunto de processos pelos
quais uma determinada rocha é transformada, através de reações que se processam no estado
sólido. Essas modificações implicam em mudanças na textura, estrutura, composição
mineralógica que ocorrem, geralmente, de forma combinada.
As rochas metamórficas são caracterizadas por mudanças em que não existe perda da
natureza da matéria, pois não há destruição da rocha. O processo geológico responsável por esta
transformação é denominado metamorfismo, processo este que pode levar a rocha a sofrer
transformações apenas físicas, como crescimentos de cristais, ocasionando novas texturas, ou
pode levar a alterações químicas, ocasionado o surgimento de novos minerais, ou ainda pode
levar a alterações pelo aparecimento de novas texturas e novos minerais, pela atuação conjunta
de alterações físicas e químicas.
O estudo dessas rochas é dificultado pela complexidade apresentada pelo conjunto de
seus representantes, em função dos múltiplos agentes que influem no metamorfismo, como
temperatura, pressão, forte atrito e tempo de atuação do processo.
A principal fonte de calor na Terra é o calor residual do manto e do núcleo. As reações
metamórficas iniciam-se a temperaturas superiores a 200 o C, portanto, o calor do metamorfismo
termal pode ser gerado naturalmente pelo aumento da temperatura em profundidade, ou através
de câmaras magmáticas, que irão afetar a rocha encaixante. Este calor gera o metamorfismo de
contato, que ocorre nas adjacências das grandes massas ígneas. Ao redor do contato desenvolve-
se uma auréola de metamorfismo cujas dimensões dependem do tamanho, da massa ígnea e da
natureza da rocha encaixante (Figura 9).

Figura 9. Metamorfismo de contato. Fonte: Aulas do Prof. Wilson Teixeira (USP)


O metamorfismo devido à pressão pode ser de dois tipos, pressão uniforme ou litostatica
e pressão direcional.
A pressão litostática atua semelhante à pressão hidrostática, onde um corpo mergulhado
em água recebe o mesmo módulo de pressão em todas as direções, variando de intensidade com
a profundidade. A intensidade da pressão litostática é função da coluna de rochas sobrejacente e
da densidade dessas rochas, ou seja, se deve ao próprio peso do material sobrejacente sobre as
rochas no interior da crosta. Exemplo, em regiões profundas (35 - 40 km) da crosta as rochas são
submetidas a pressões confinantes da ordem de 10.000 a 12.000 vezes a pressão atmosférica de
superfície, e mesmo que sejam posteriormente expostas à superfície pela erosão, preservarão os
aspectos gerados naquelas condições. Essas rochas não são comuns na superfície. A pressão
litostática, por ter intensidade uniforme em todas as direções, não causa deformação mecânica
acentuada durante o metamorfismo.
A pressão dirigida, por sua vez, é produzida pela movimentação das placas tectônicas e
atua de forma vetorial, produzindo tensões e deformações. O metamorfismo direcional deve-se,
portanto, aos esforços tectônicos, que provocam pressões direcionais sobre determinados locais
das rochas (Figura 10).

Figura 10. Metamorfismo condicionado à pressão dirigida.


Fonte: Aulas do Prof. Wilson Teixeira/USP

Em consequência da deformação, ocorre a geração de texturas e estruturas orientadas. A


principal característica dessas rochas é a estrutura xistosa, onde minerais se dispõem em estratos
finos e paralelos, dando um aspecto folhado à rocha. Esta estrutura é característica dos xistos.
Os principais fatores que influem nas características finais das rochas metamórficas são o
tipo de rocha original que sofre o metamorfismo, a espécie e o grau de metamorfismo envolvido
no processo. Uma das maneiras de estudar as rochas metamórficas é agrupa-las em classes
químicas, que são dependentes, principalmente, da composição mineralógica da rocha de
origem. Exemplos: as rochas gnaisses e quartzitos tiveram origem a partir de granitos, arenitos e
quartzitos. A ardósia, filito e micaxisto tiveram origem de argilitos, siltitos e folhelhos.
Como exemplo de algumas rochas metamórficas tem-se:
Gnaisse: rocha com faixas de xistosidade, formada pela alteração do granito ou do riolito.
Migmatito: rocha de textura cristalina, bandeada, possuindo uma parte granítica e outra
xistosa.
Micaxisto: rochas metamórficas de granulação fina e laminada, constituída
essencialmente de micas e quartzo.
Anfibolito: rocha escura, rica em minerais do grupo dos anfibólios, originadas do
metamorfismo do basalto ou gabro.
Quartzito: rocha clara, extremamente dura, originada dos grãos de quartzo dos arenitos.
Mármore: rocha de coloração muito variável, bandeada, originada do metamorfismo de
calcários.
Itabirito: variedade de quartizito, rico em hematita (óxido de Fe).

1.4. Efeitos do material de origem na formação do solo

As principais variáveis do material de origem que exercem maior influência nos solos
são: grau de consolidação, granulometria e composição. Quanto à influência do grau de
consolidação, observa-se que, em materiais não consolidados, como depósitos marinhos e
lacustres, areia, por exemplo, o desenvolvimento do perfil de solo pode ocorrer sem a
necessidade prévia do intemperismo da rocha em material fino, ao contrário das rochas
consolidadas, como um basalto.
A granulometria do material de origem é a principal determinante da textura do solo, que
por sua vez, altera propriedades como CTC, sorção de íons, drenagem e capacidade de retenção
de água no solo. Por exemplo, um material de origem composto basicamente por minerais como
o quartzo, como um arenito, irá originar um solo arenoso. Os solos desenvolvidos de quatzitos,
por sua resistência à intemperização, tendem a ser rasos. Por outro lado, rochas ígneas básicas
(basalto e gabro) devido aos baixos teores de quartzo, originarão solos argilosos.
A composição do material de origem, além de influenciar a velocidade de intemperização
da rocha, altera o suprimento de elementos essenciais. Rochas félsicas, ricas no mineral
feldspato, fornecem baixos teores de Ca, Mg, Fe e Mn, favorecendo a formação do argilomineral
caulinita e um resíduo significativo em quartzo. Por outro lado, rochas máficas, ricas em
minerais ferromagnesianos, fornecem altos teores de cátions de reação básica e de Fe,
favorecendo a formação do argilomineral esmectita (em ambientes de lixiviação restrita) e de
caulinita e óxidos de Fe (condições de intemperismo intenso). Já as rochas ultrabásicas,
serpentinitos e peridotitos, podem provocar problemas de toxidez em solos, decorrentes de
elevados teores de Ni, Co, Cu.
Os possíveis efeitos do material de origem nas características químicas e físicas dos solos
derivados estão brevemente descritos a baixo. Convêm destacar que os exemplos abaixo são
generalizações que não eliminam a possibilidade outras ocorrências, pois a formação do solo
também depende da interação do material de origem com outros fatores de formação do solo.
No grupo das rochas ferromagnesianas estão incluídos os andesitos, dioritos, basalto,
diabásio, gabro, horblenda-gnaisse, são ricas em minerais contendo Fe, Mg e plagioclásio
cálcico, que intemperizam rapidamente, originando solos argilosos. Em ambientes com
drenagem restrita ou com baixa pluviosidade, originam solos argilosos com predomínio de
esmectitas, como por exemplo: Chernossolos, Vertissolos e Gleissolos. Os solos resultantes do
saprólito dessas rochas quando estiver submetido a ambientes lixiviante e oxidante, haverá o
predomínio de Latossolos e Nitossolos, com grande quantidade de caulinita e óxidos de ferro.
O teor de quartzo é muito baixo nessas rochas, com muito pouca areia para produzir
horizontes superficiais arenosos, como ocorre nos solos originados de granito.
Consequentemente, os horizontes superficiais tende a ser franco-argilosos. Quando o ambiente é
de oxidação, os solos tendem a serem vermelhos escuros a brunos escuros devido ao elevado teor
de Fe nos minerais dessas rochas. O teor de bases e o pH do solo podem ser elevados,
dependendo do grau do intemperismo alcançado. Dentre os Latossolos, aqueles com coloração
vermelha escura, que tem alta saturação de bases como o grande grupo dos Latossolos
Vermelhos eutroférricos, quase sempre foi desenvolvido em locais onde predominam rochas
básicas, principalmente o basalto e diabásio, e incluí algumas modalidades dos popularmente
conhecidos como “terra roxa”.
As rochas félsicas, granitos e gnaisses granitóides, composta predominantemente pelos
minerais quartzo, feldspato ortoclásio, com menores quantidades de mica, geralmente
predominando a muscovita, e pequenas quantidades de horblenda. Estas rochas mostram
pequenas diferenças no padrão de intemperismo devido à diferença na estrutura. Solos
originados do saprólito dessas rochas tendem a ser grosseiros especialmente nos horizontes
superficiais. Os solos geralmente são friáveis e permeáveis, com baixo teor de bases devido ao
elevado teor de quartzo no material de origem e, devido à lixiviação favorecida pela textura
grosseira. As reservas em nutrientes tendem a ser baixa nesses solos. A mineralogia da argila
tende a ser caulinitica em climas quentes e úmidos e vermiculita-ilita-esmectita em solos de
climas mais áridos.

Os xistos são rochas metamórficas, folhadas, ricas em micas ou cloritas, com teores
variados de quartzo e baixos teores de outros minerais facilmente intemperizáveis. Devido ao
baixo teor de quartzo, solos formados de micaxisto tende a ser siltosos e menos grosseiros que os
solos derivados de granito. Podem apresentar uma alta reserva em potássio nas micas, exceto em
paisagens muito intemperizadas. Nos solos irá predominar os argilominerais ilita e vermiculita,
exceto nos solos antigos e intemperizados onde domina o argilomineral caulinita. Solos de
sericita-xisto podem ser muito siltosos, ácidos com elevados teores de alumínio trocável devido
ao intemperismo da sericita. Solos formados em resíduo de clorita-xistos tendem a serem
argilosos, plásticos e com alto teor de esmectitas, e possivelmente contém elevados teores de
magnésio.

O efeito das rochas sedimentares, como os arenitos quartzosos, que contem mais de 50 %
de partículas no tamanho areia, predominando o quartzo, com agentes cimentantes variados
(sílica, ferro, carbonato), os quais juntamente com minerais acessórios (feldspatos, micas) têm
grande influência no tipo de solo formado. Em geral, esses solos tem textura grosseira,
especialmente nos horizontes superficiais, e alta permeabilidade, consequentemente tende a
serem solos pobres em bases e com baixa reserva de nutrientes e valor de pH, especialmente se
formados em climas úmidos, onde a alta permeabilidade do solo favorece a sua lixiviação. Os
solos tendem a ser profundos, a não ser que estejam sendo formados em resíduos de arenitos
cimentados com sílica, onde são rasos.
Os solos formados de arenito com cimento de ferro tende a ser vermelhos (Argissolos e
Latossolo Vermelho Amerelo, Latossolo Vermelho). Quando a rocha for o arcósio (contém 25 %
ou mais de feldsoatos), como os arenitos arcosianos, os solos formados tendem a ser argilosos e
com alta reserva em nutrientes, dependendo da taxa de lixiviação (Argissolos e Latossolos).
Os Neossolos Quartzarênico formam-se em materiais resistentes ao intemperismo, como
as areias de quartzo, e apresentam limitações pela baixa capacidade de armazenar águas e
nutrientes para as plantas.

Os calcários ou dolomitas contém mais de 50 % de carbonatos complementados por silte,


argila, quartzo, Fe, dentre outros. O tipo de solo formado esta relacionado ao tipo dominante de
“impurezas” no calcário. Se o calcário é argiloso, resultam solos argilosos, com baixa taxa de
lixiviação, com pH e saturação por bases elevadas (Luvissolos, Chernossolos). Se o calcário
apresentar elevado teor de Fe, por exemplo, hematita (a hematita é um óxido de Fe que imprime
coloração avermelhada ao solo), resulta em um solo vermelho, Argissolo Vermelho.

Os folhelhos são ricos em argilominerais e feldspato. Os solos formados no saprolito de


folhelhos argilosos são geralmente argilosos e pouco permeáveis. Podem ter alta saturação de
bases e pH (Vertissolos) ou serem ácidos (Argissolo acinzentado).

2. Clima

O clima é o mais influente dos quatro fatores que agem sobre o material de origem, pois
determinará a natureza e a intensidade do intemperismo que ocorre em grandes áreas
geográficas. A ação do clima na formação do solo decorre das variáveis climáticas,
principalmente da precipitação pluviométrica, temperatura e o vento.
A água é o principal agente de todas as reações do intemperismo das rochas e da
transformação dos minerais, bem como essencial ao crescimento e desenvolvimento das plantas.
A água também atua na redistribuição, adição e remoção de materiais no interior do perfil do
solo, portanto, a disponibilidade e o fluxo de água no solo determinam a velocidade da maioria
dos processos de formação do solo, mas é importante ressaltar que esta deve penetrar no regolito
para ser eficaz na formação do solo.
A quantidade de água que percola através do perfil depende: das condições climáticas
prevalecentes (precipitação, temperatura, evapotranspiração); da taxa de declive, a qual pode
condicionar uma perda lateral superficial maior ou menor; porosidade e cobertura do solo.
Um dos conceitos mais importantes relacionados à gênese do solo é o de água excedente.
Para entendermos esse conceito, precisamos retomar as definições de precipitação pluviométrica
e evapotranspiração. A precipitação pluviométrica consiste no total de água precipitada em um
determinado local em um determinado período de tempo. Por evapotranspiração entende-se o
total de água que é perdida num determinado período através da evaporação da superfície do solo
mais a água perdida por transpiração da planta.
O balanço entre o total de água precipitada e o total de água evapotranspirada permite
determinar a presença ou não da água excedente. Assim, quando o total de água precipitada for
maior que a quantidade de água evapotranspirada tem-se a ocorrência de água excedente e,
quando a precipitação for menor do que a evapotranspiração tem-se a ocorrência de déficit de
água.
As considerações importantes que derivam desse conceito são de que quando ocorre água
excedente as condições são mais propicias para a existência de intemperismo mais drástico,
alterando os minerais constituintes das rochas e formação de solos mais profundos, porém menos
férteis. Ao contrário, quando as precipitações são baixas e a evapotranspiração elevada, típico de
clima semiárido, por exemplo, as reações de intemperismo são lentas, e os solos formados são
geralmente pouco profundos, porém a fertilidade pode ser maior, pois foram menos lixiviados
(lembre-se que a fertilidade também vai depender do material de origem).
A ausência de água é um fator importante na determinação das características dos solos
nas regiões secas ou quando a evapotranspiração excede a quantidade de chuva. Nesses casos, os
sais solúveis não são lixiviados do perfil do solo, em alguns casos, se acumulam na superfície ou
no interior do solo, favorecendo os processos de carbonatação e salinização e, podem limitar o
desenvolvimento de plantas, exemplo os solos salinos e sódicos.
Portanto, a distribuição sazonal das chuvas, a evaporação, o relevo local e a
permeabilidade do solo interagem entre si para determinar como a precipitação efetiva influencia
na formação do solo. Quanto maior a profundidade de penetração da água, mais intemperizados e
espesso será o solo. O excesso de água que percola através do seu perfil transporta os materiais
solúveis e suspensos das camadas superiores para as inferiores, bem como pode carregar os
materiais solúveis para a água de drenagem. Portanto, é a água de percolação que ajuda na
diferenciação dos horizontes do solo (horizonte eluvial), e consequentemente resulta em solos
distróficos e álicos ou solos eutróficos.
O efeito da temperatura na gênese do solo é principalmente indireto, pois controla a
quantidade de umidade disponível para os processos de formação do solo. Sabe-se que a cada
aumento de 10 ºC as taxas das reações bioquímicas dobram (aproximadamente).
Se a água e temperaturas elevadas estão, ao mesmo tempo, presentes no perfil, os
processos de intemperismo, lixiviação, atividade dos micro-organismos e crescimento das
plantas serão maximizados. O pouco desenvolvimento dos perfis de solo em regiões frias
contrasta com os perfis intensamente intemperizados dos trópicos úmidos. Tanto a temperatura
como a umidade influenciará também no teor e na natureza dos resíduos orgânicos adicionados
ao solo, pois interferem na atividade da biota.
O vento é um agente importante no transporte e distribuição dos materiais suspensos por
longas distâncias. A orientação do declive influencia significativamente as condições
microclimáticas, devido à variação da radiação incidente (a radiação solar que chega a superfície
em regiões com latitudes mais elevadas é mais intensa na face norte, onde os solos formados
serão mais rasos, pois a maior parte da água evapora, e esses solos permanecem mais secos) e na
quantidade de sedimentos depositados (face exposta ao vento), e consequentemente, nas
características do solo.
Um aspecto importante do fator clima na formação do solo é a sua natureza cíclica e a
descontinuidade das adições. As chuvas são distribuídas em determinados números de dias, com
intensidades desiguais, resultando em continuas alterações nos gradientes de umidade do solo.
O clima é o fator de formação do solo que tem maior influência no teor de matéria
orgânica, pH, disponibilidade de N e saturação por bases do solo. Também tem efeito
significativo na profundidade do perfil, textura e no tipo de argilomineral formado. Por exemplo,
em situações de lixiviação intensa, ocorre uma mudança dos argilominerais de esmectita à
caulinita (veremos na aula de minerais). Outro exemplo é a formação preferencial da goethita em
ambientes com temperaturas mais baixas e com excesso de água (imprimem coloração amarelada
ao solo). Por outro lado, em ambientes de temperaturas mais elevadas e menor umidade favorece
a formação da hematita (que confere coloração avermelhada ao solo).

3. Organismos

Os organismos vivos (fator biótico) desempenham um papel extremamente ativo na


formação do solo através da ação dos micro-organismos, vegetais, macrofauna e o homem.
A ação do fator organismo no material inicial é considerada como o pré-requisito para a
formação do solo. Nesse contexto, as areias eólicas litorâneas (dunas) ainda não vegetadas não
são consideradas solos, mas após a sua estabilização por meio da colonização por espécies
vegetais, havendo a formação insipiente de um horizonte A pelo acumulo de componentes
orgânico, poderá resultar em um Neossolo Quartzarenico.
Os liquens e os musgos são os precursores da formação do solo devido a sua baixa
exigência nutricional. Estes micro-organismos se instalam sobre as rochas inalteradas e, através
das reações de absorção, extraindo elementos pelo contato direto, troca de íons e liberação de
ácidos orgânicos, vão criando a condição para o estabelecimento e desenvolvimento dos vegetais
superiores através da alteração de delgada camada da rocha.
As algas, bactérias e fungos igualmente exercem papel importante na formação do solo,
na medida em que são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica do solo e formação
do húmus. Os produtos sintetizados pelos micro-organismos durante as fases de decomposição,
tais como resinas, ácidos graxos, ceras e polissacarídeos são responsáveis pelo processo de
agregação das partículas sólidas do solo, contribuindo para a estabilização dos agregados
estruturais.
Os vegetais agem direta ou indiretamente na formação dos solos. O efeito direto é pela
penetração, crescimento e desenvolvimento de raízes nas fendas das rochas, que junto com as
secreções orgânicas vão acelerar o processo de intemperismo.
Um efeito indireto é a proteção do solo pela cobertura vegetal, diminuindo a ação da
erosão hídrica e eólica sobre a superfície do solo. A cobertura vegetal atenua o impacto direto
das gotas de chuva, o que diminui o escoamento da água sobre a superfície e favorece a
infiltração vertical de água no solo, colaborando para acelerar os processos de intemperismo e
formando solos mais profundos. A cobertura do solo tem ainda a função na diminuição da
amplitude térmica do solo, impedindo que o solo sofra alterações bruscas de temperatura.
Outro efeito da vegetação na formação do solo é através da ação das raízes das arvores
que podem penetrar em grandes profundidades absorvendo nutrientes e transferindo-os para a
parte aérea. Após a queda das folhas, galhos e frutos grande parte dos nutrientes retorna à
superfície, e após os processos de decomposição e mineralização, são novamente reaproveitados
por outras plantas. Dessa forma, essas raízes reciclam os nutrientes, minorando as perdas sofridas
pelos processos de lixiviação normal dos solos. Esse efeito é muito importante, particularmente,
nos ecossistemas tropicais, onde os solos são muito intemperizados.
A macrofauna inclui os cupins, formigas e minhocas. Esses organismos são responsáveis
pela trituração prévia dos resíduos orgânicos, tornando mais fácil a ação dos micro-organismos.
A macrofauna é responsável também pela mistura do material orgânico no perfil do solo,
fenômeno denominado de bioturbação. A bioturbação ocorre à medida que esses organismos
transportam material das camadas superiores para as camadas inferiores, e vice e versa,
homogeneizando o perfil. Outro efeito importante da macrofauna na formação do solo é o de
escavação, que aumentam a porosidade interna do perfil, facilitando a percolação de água e
drenagem.
As intervenções humanas no solo podem ser incluídas com o fator organismos ou,
conforme já mencionado por Dokuchaev, destacada como fator antrópico. As características de
um solo adquiridas lentamente em milhares de anos, sob influência dos fatores ambientais
naturais, podem ser rapidamente modificadas pela ação humana. Por isso, o uso do solo deve ser
baseado na sua aptidão ao objetivo proposto, o que envolve uma avaliação do risco e beneficio
decorrente da utilização pretendida.

4. Relevo

O relevo é a configuração da superfície do terreno. Embora seja um fator passivo na


formação do solo, é um fator condicionante dos demais fatores ativos.
As relações entre relevo e a formação do solo são muito diversificadas. A chuva que
precipita em um terreno é relativamente homogênea, porém, dependendo da inclinação e forma
do terreno, poderá ocorrer maior percolação vertical ou escorrimento superficial, influenciando
na velocidade das reações químicas ou uma maior taxa de erosão e remoção das camadas
superiores do perfil.
A precipitação pluvial pode seguir três vias principais na superfície terrestre: fluxo
superficial, fluxo subsuperficial e infiltração com percolação profunda. A quantidade de água
que segue cada uma dessas vias depende da quantidade e duração das chuvas, topografia do
terreno, permeabilidade do solo, material subjacente, cobertura vegetal e condição física da
superfície do solo.
O fluxo superficial é responsável pela erosão, cuja intensidade aumenta com o grau de
declividade, e a distância do ponto de inicio do escorrimento. O material erodido das partes mais
altas é depositado na parte inferior da paisagem, constituindo o coluvio. Estes processos de
erosão e redeposição resultarão em solos mais rasos na parte superior, e um correspondente
espessamento do solo em direção a parte mais baixa.
As formas convexas do relevo favorecem maior percolação vertical da água, enquanto
formas côncavas favorecem maior acúmulo de água em relação às partes mais alta da paisagem
(Figura 11). Essas diferentes formas do relevo refletem na coloração do solo, dominando solos
vermelhos nos primeiros e amarelados nos segundos. No relevo deprimido, a acumulação de
água pode favorecer a formação de solos glei, cujo horizonte inferior apresenta cores
acizentadas, devido a redução e remoção dos óxidos de ferro.

Figira 11. Formas do relevo.

A altitude tem uma relação direta com a temperatura, a qual decresce cerca de 6 oC para
cada 1000 m de elevação do terreno, o que tem muita influência no acumulo de matéria orgânica.
Outro efeito refere-se à posição do lençol freático (catena).

Uma paisagem bem desenvolvida geralmente apresenta os seguintes elementos:

1. Topo
2. Ombro
3. Encosta
4. Sopé
5. Planícies ou sopé coluvio-aluviais

Esses elementos podem estar ou não estar presentes em uma paisagem, podendo ocorrer
tanto repetições como a ausência de alguns elementos em diferentes porções da paisagem.
Nesses segmentos de paisagem encontram-se solos diferentes, sendo a sucessão de solos que
ocorrem desde o topo até a planície aluvial denominado de catena (Figura 12). Esses termos
induz a ideia de que a transição entre os diferentes tipos de solo não são claros, mas sim essa
transição é gradativa.

Figura 12. Seguimentos em uma paisagem.

1. O topo ou interflúvio constitui a parte mais elevada da paisagem, sendo considerado um


divisor de águas. A topografia no topo ou interflúvio é suave ondulada ou quase plana. Quando o
topo for amplo, constituindo um plato, favorece a percolação vertical de água, com isso o
intemperismo é mais intenso, levando a formação de solos profundos. Quando o topo é estreito
ou nas proximidades do ombro, constitui uma crista, e ocorre menor infiltração de água e maior
escoamento superficial, favorecendo a formação de solos rasos.

2. O ombro ou escarpa é a porção convexa, normalmente estreita, situada entre o interflúvio


e a encosta. O ombro é um seguimento erosional, pois apresenta maiores taxas de declive, e
considerando a convexidade da vertente, há intenso escoamento superficial da água,
consequentemente acelerando os processos erosivos. Nesses segmentos formam-se solos rasos,
como os solos Litólicos e afloramentos rochosos, bem como o teor de matéria orgânica tende a
ser menor.

3. A encosta é a porção situada entre o ombro e o sopé, apresentando o declive mais


acentuado na paisagem e é considerado um seguimento erosional devido à forte inclinação do
terreno. Normalmente uma pequena quantidade de água infiltra no perfil, favorecendo a
formação de solos rasos. As variações na espessura dos perfis podem ser observadas ao longo da
encosta, sendo os solos mais rasos no 1/3 superior e os ligeiramente mais profundos no 1/3
inferior. Quando a área é vegetada, o desenvolvimento do perfil pode ser mais profundo, pois a
vegetação impede o escorrimento superficial e favorece a infiltração de água no perfil.
4. O pedimento ou sopé é um seguimento deposicional, apresenta concavidade, recebendo
material erodido do ombro e das encostas. Os solos desse segmento são mais profundos do que
os solos do segmento dos ombros e das encostas. Dependendo da profundidade do lençol
freático, os afloramentos de água podem ser comuns e a retenção de água é elevada, podendo
originar solos gleizados. Nos sopés os solos tendem a apresentar maiores teores de bases, matéria
orgânica e, os solos neste seguimento da paisagem são geralmente muito heterogêneos em
função de depósitos coluviais.

5. As planícies ou sopé coluviais-aluviais constituem um segmento que só se forma quando


os vales atingem maturidade e isso ocorre quando ele tem a forma de U. Os sedimentos
transportados pelos rios e depositados nos vales (aluvio) e os sedimentos erodidos das encostas e
também depositados nos vales (coluvio) formam o material de origem desse segmento da
paisagem. Nesse segmento da paisagem predominam solos férteis e mal drenados.

Ao longo da catena, a posição e a flutuação do lençol freático influenciam diferentemente


os solos. Comumente, no sopé coluvio-aluvial, o lençol freático esta na ou próximo da superfície,
enquanto na parte superior da catena o perfil do solo permanece acima do lençol freático ao
longo do ano. Assim, em climas úmidos, é comum observar a sequência de solos vermelhos
(Latossolo ou Argissolo Vermelho) ocupando os interflúvios, com transição para solos bruno-
amarelados nas encostas e sopés coluviais (Argissolos Amarelos) passando a solos gleizados
com aspecto mosqueado no sopé coluvio-aluvial.

5. Tempo

É o fator mais passivo na formação do solo, não adiciona e nem exporta material e tão
pouco gera energia para processos ativos do solo.
A relação dos solos com o tempo pode ser discutidas quanto aos seguintes aspectos:
(1) Estádio relativo do desenvolvimento do solo;
(2) Datação absoluta de horizontes e perfis do solo;
(3) Taxa de formação do solo;
(4) Idade da paisagem.
A estimativa do estádio relativo do desenvolvimento do solo baseia-se nas feições
morfológicas presentes no perfil do solo, por exemplo, solo jovem apresentará o perfil com
horizontes A-R; solo intermediário apresentará perfil com horizontes Bi, Bv, Bk; o solo maduro
apresentará perfil com horizontes A-B-C.
A datação absoluta de horizontes e perfis do solo baseia-se em métodos radiométricos
14
( C).
Com relação à taxa ou velocidade de formação do solo, além do fato de ser muito lenta,
muito pouco é conhecida. Uma estimativa global (baseada no balanço geoquímico de rochas,
solos e água) fornece taxa de formação de solo variando entre 370 e 1290 kg ha -1/ano, o que
equivaleria respectivamente em cerca de 27 a 80 anos para a formação de uma camada de 1 mm
ha-1 de solo. Tomando como exemplo a taxa menor como referência, a formação de um hectare
de um solo com 100 cm de espessura levaria 27 mil anos, supondo as condições pedoclimáticas
constantes, o que é pouco provável.
Considerando o longo tempo necessário para formar o solo, e que o processo erosivo de
uma única chuva pode acarretar perda de vários centímetros de espessura, fica evidente a
necessidade de manejar o solo com extremo cuidado.
Com fins didáticos, temos que o inicio da formação do solo se da a partir da exposição da
rocha ou do material inconsolidado na superfície, quando passa a sofrer ação conjunta de
processos físicos, químicos e biológicos do intemperismo.
Os musgos e os liquens normalmente são os precursores da formação do solo, pois podem
instalar-se na superfície de uma rocha praticamente inalterada, e com o passar do tempo forma
uma camada delgada de material alterado, que já pode propiciar o desenvolvimento de algumas
plantas.
A partir dai os processos químicos, físicos e biológicos começam a atuar mais
intensamente, dando inicio a formação de um horizonte A. Nas etapas posteriores o manto de
alteração aprofunda-se formando horizontes subsuperficiais mais espessos e aprofundados, até
atingir a maturidade, onde as características do solo variam pouco com o tempo.

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