Notas de Aula Fatores de Formaçào Do Solo
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Notas de Aula Fatores de Formaçào Do Solo
1. MATERIAL DE ORIGEM
Figura 1. Estrutura interna da Terra. Fonte: Aula do Prof. Wanilson Luiz Silva (Unicamp)
No manto superior, entre as profundidades aproximadas de 100 e 350 km, situa-se uma
região muito quente, em que as rochas encontram-se próximas ao estado de fusão. Esta zona
constitui a fonte dos magmas, que penetram na crosta terrestre através de intrusões ou fendas, ou
derramam-se sobre a superfície através do fenômeno do vulcanismo. O magma tende a deslocar-
se na crosta em direção à superfície, que ao extravasar, formam os derrames vulcânicos,
denominado lava.
A palavra magma provém do grego e refere-se a uma massa, como aquela utilizada no
preparo do pão. Em geologia, magma é qualquer material rochoso fundido, de consistência
pastosa, que apresenta mobilidade, e que ao consolidar-se, constitui as rochas ígneas.
O magma apresenta alta temperatura, da ordem de 800 a 1200º C, sendo constituída por
uma parte líquida representada pelo material rochoso fundido, outra parte sólida que corresponde
a minerais já cristalizados e uma parte gasosa, constituída predominantemente por H 2O e CO2.
Os magmas têm, majoritariamente, composição de SiO 2, além do alumínio, ferro, cálcio,
magnésio, sódio, potássio, que constituem aproximadamente 99% da litosfera, sendo, portanto,
os constituintes mais comuns nos minerais formadores das rochas. Os outros, entre eles os
demais elementos essenciais às plantas, ocorrem em proporções menores nas rochas, e são
disponibilizados através dos processos de intemperismo.
É evidente que as concentrações e distribuição dos elementos nas rochas variam
enormemente conforme o tipo de rocha considerada. Assim, uma rocha calcária, por exemplo,
apresentará um elevado conteúdo de cálcio, um arenito conterá um alto teor de silício e menor
proporção dos demais elementos.
A crosta terrestre é constituída de diferentes tipos de rochas, as quais, segundo sua
origem, diferenciam-se em três grupos fundamentais: ígneas ou magmáticas, metamórficas e
sedimentares.
As rochas de origem magmáticas e metamórficas constituem cerca de 95 % do volume
total da crosta, porém ocupam apenas 25 % da sua superfície, enquanto as sedimentares ocupam
em volume apenas 5 %, porém cobrem aproximadamente 75 % da superfície da terra.
O material de origem do solo é o estado do sistema solo no tempo zero da sua formação
(Jenny, 1941). Em geral, quanto mais jovem o solo, maior é a influência e as relações do material
de origem com as propriedades do solo.
Em alguma profundidade do perfil encontra-se a rocha inalterada pelo intemperismo, e a
pressuposição normal é que rocha do mesmo tipo existia anteriormente no espaço atualmente
ocupado pelo perfil do solo. Em muitos casos esta é uma inferência correta, mas há
circunstâncias onde não é. O material de origem do solo pode ser o regolito constituído por
depósitos superficiais de materiais intemperizados proveniente de outra rocha fonte, sem relação
com a rocha subjacente.
Desta maneira, cabe ao pedólogo inferir em cada situação particular qual é o material de
origem mais provável do solo. Na maioria dos casos, o horizonte C ou R representa o material de
origem do solo.
As rochas, conforme suas origens diferem entre si quanto a sua composição mineralógica,
textura e estrutura. A composição mineralógica trata da presença dos minerais essenciais, que
são aqueles sempre presentes e abundantes em algumas rochas. Ela também determina a
composição química da rocha, como somatório da composição química de todos os seus
minerais. A textura refere-se ao tamanho, forma e arranjo entre os cristais ou grãos constituintes
das rochas. A estrutura da rocha indica seu aspecto externo, que se pode manifestar em formas
diversas. Por influencia de todas essas características, as rochas variam em sua resistência física,
estabilidade química e permeabilidade à água e gases. Essas variações influenciam, de modo
decisivo, a maneira como elas são afetadas pelo intemperismo.
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A série é denominada descontínua, pois à medida que a temperatura diminui, os minerais anteriormente formados reagem com o
líquido residual, originando um mineral estável nas novas condições de temperatura, mas com composição química e estrutura
interna diferente. Já, a série é denominada contínua, quando a troca de elementos Ca e Na modifica apenas a composição
química, não alterando a estrutura interna desses minerais.
Figura 4. Série de reação de Bowen. Fonte: Livro Decifrando a Terra.
Apesar da grande diversidade de minerais que compõe a rocha, são poucos aqueles
classificados como essenciais, os quais ocorrem em maiores proporções nas rochas. Os minerais
acessórios são os que ocorrem em menores quantidades na rocha.
Os principais minerais essenciais das rochas são feldspatos, quartzo, piroxênios,
anfibólios, olivinas e micas (biotita e muscovita), sendo que a proporção com que ocorrem nas
rochas permite, com auxilio de outras características, classifica-las.
Os termos leucocrática, mesocrática e melanocrática são utilizados para designar a
proporção entre os diversos grupos de minerais presentes nas rochas.
Os minerais ricos em Si e Al são denominados minerais félsicos e seus principais
representantes são: quartzo, feldspatos potássicos, plagioclásios calco-sódicos e muscovita.
Os minerais com menores teores de SiO 2 são aqueles que contém maior quantidade de Fe e Mg, e
são denominados minerais ferromagnesianos ou máficos, como as olivinas, piroxênios,
anfibólios e biotita.
A cor das rochas ígneas é definida pela proporção de minerais félsicos em relação à
proporção de minerais máficos, conferindo à rocha uma coloração mais clara ou mais escura,
conforme a quantidade de um ou de outro tipo de mineral. Assim, uma subdivisão geral das
rochas ígneas quanto à cor é apresentada, apesar de haver exceções na natureza, como: rocha
leucocrática, rocha de coloração clara, pois apresenta maior proporção de minerais félsicos, ex.
granito, riolito, sienitos claros; rochas mesocráticas: rochas de coloração intermediária entre
clara e escura, pois apresentam proporção semelhante dos minerais félsicos e máficos, ex.
sienitos, diorito e andesito; rochas melanocráticas apresentam maior proporção de minerais
máficos, escuros, ex. basalto, diabásio, gabro, peridotito.
São formadas a partir dos produtos de intemperização de quaisquer outros tipos de rochas
(magmática, sedimentar ou metamórfica), que são transportados e posteriormente depositados ou
precipitados em qualquer ambiente de sedimentação. Os principais agentes de transporte são a
água e o vento. Por exemplo, quando a areia, proveniente de uma rocha fonte, ser transportada
por enxurrada, depositada no fundo de um vale e litificada, o resultado será um arenito.
Rochas sedimentares são, portanto, formadas pelo transporte, deposição e consolidação
de sedimentos provenientes da destruição de rochas pré-existentes na superfície da crosta
terrestre. As rochas sedimentares recobrem, aproximadamente, 75 % da superfície da crosta
terrestre, por isso influenciam a maioria das paisagens e dos solos na Terra.
A composição química e física das rochas sedimentares é muito variável e é intimamente
relacionada com as características do material que deu origem ao sedimento.
Distinguem-se basicamente três tipos de sedimentos: clásticos, químicos e orgânicos, de
acordo com a natureza, o tamanho e o tipo de sedimentos (Figura 5).
As rochas epiclásticas, primeira subdivisão das rochas clásticas, são caracterizadas por
terem os seus sedimentos transportado, preferencialmente, pela água ou pelo vento, e
depositados em um ambiente de sedimentação. Estas por sua vez se dividem em três diferentes
tipos de rochas quanto à textura de seus sedimentos formadores: psefitos, psamitos e pelitos.
Os psefitos são formados pelos sedimentos maiores, denominados cascalhos, grãos
maiores que 2 mm de diâmetro e seus principais exemplos são os conglomerados e as brechas.
Os conglomerados são, sobretudo, formados por calhaus, cascalho e seixos arredondados, os
quais são unidos por um cimento, que pode ser de constituição siliciosa, calcária, argilosa,
ferruginosa ou mista.
Os psamitos são produtos da consolidação de sedimentos da fração areia (2 - 0.05 mm) e
seus exemplos mais importantes são os arenitos. Os grãos que formam os arenitos são
geralmente constituídos por quartzo, porém pode ser de qualquer outro mineral, como o
feldspato e a mica, desde que possuam diâmetro de areia. Sua coloração é bastante variável,
podendo ser vermelho, amarelo, acinzentado etc. O arcósio é um tipo especial de arenito com
grande quantidade do mineral feldspato (Figura 6).
Figura 6: Rocha sedimentar: arcósio.
Assim como nos psefitos, a união dos elementos formadores dos psamitos ocorre através
da cimentação natural, manifesta-se na forma de algum agente cimentante químico presente no
ambiente de formação da rocha, como a argila, calcário, óxidos de ferro e sílica, os quais podem
ter seu nome incluído no nome da rocha para caracteriza-la. Por exemplo, conglomerado silicoso,
arenito calcário, arenito ferruginoso etc.
O pelito, última subdivisão das rochas classificadas como epiclásticas, são rochas
formadas pelo transporte e deposição dos sedimentos com partículas de diâmetro menores, como
o silte e argila (< 0,05 mm). Estes sedimentos consolidam-se apenas pela compressão provocada
pelo peso das camadas superiores, aliada à saída da água intersticial e à pequena elevação da
temperatura, suficientes para provocar a formação de forças de ligação entre as partículas.
São exemplos importantes de rochas peliticas: os siltitos, argilitos e folhelhos. Os
argilitos e os folhelhos caracterizam-se por apresentar granulação fina, pelo predomínio da
fração argila (diâmetro menor que 0,002 mm), sendo untuoso ao tato. Os folhelhos diferenciam-
se dos argilitos por apresentarem uma esfoliação característica, formando estratos finos ou
paralelos (Figura 7). Os siltitos são rochas sedimentares de granulação intermediária entre os
argilitos e arenitos (diâmetro entre 0,05 e 0,002 mm), podendo ser identificados no campo por
apresentar aspereza quando atritados entre os dentes, podendo ser este um critério útil para
diferencia-los dos argilitos que não são aspereza ao dente.
As principais variáveis do material de origem que exercem maior influência nos solos
são: grau de consolidação, granulometria e composição. Quanto à influência do grau de
consolidação, observa-se que, em materiais não consolidados, como depósitos marinhos e
lacustres, areia, por exemplo, o desenvolvimento do perfil de solo pode ocorrer sem a
necessidade prévia do intemperismo da rocha em material fino, ao contrário das rochas
consolidadas, como um basalto.
A granulometria do material de origem é a principal determinante da textura do solo, que
por sua vez, altera propriedades como CTC, sorção de íons, drenagem e capacidade de retenção
de água no solo. Por exemplo, um material de origem composto basicamente por minerais como
o quartzo, como um arenito, irá originar um solo arenoso. Os solos desenvolvidos de quatzitos,
por sua resistência à intemperização, tendem a ser rasos. Por outro lado, rochas ígneas básicas
(basalto e gabro) devido aos baixos teores de quartzo, originarão solos argilosos.
A composição do material de origem, além de influenciar a velocidade de intemperização
da rocha, altera o suprimento de elementos essenciais. Rochas félsicas, ricas no mineral
feldspato, fornecem baixos teores de Ca, Mg, Fe e Mn, favorecendo a formação do argilomineral
caulinita e um resíduo significativo em quartzo. Por outro lado, rochas máficas, ricas em
minerais ferromagnesianos, fornecem altos teores de cátions de reação básica e de Fe,
favorecendo a formação do argilomineral esmectita (em ambientes de lixiviação restrita) e de
caulinita e óxidos de Fe (condições de intemperismo intenso). Já as rochas ultrabásicas,
serpentinitos e peridotitos, podem provocar problemas de toxidez em solos, decorrentes de
elevados teores de Ni, Co, Cu.
Os possíveis efeitos do material de origem nas características químicas e físicas dos solos
derivados estão brevemente descritos a baixo. Convêm destacar que os exemplos abaixo são
generalizações que não eliminam a possibilidade outras ocorrências, pois a formação do solo
também depende da interação do material de origem com outros fatores de formação do solo.
No grupo das rochas ferromagnesianas estão incluídos os andesitos, dioritos, basalto,
diabásio, gabro, horblenda-gnaisse, são ricas em minerais contendo Fe, Mg e plagioclásio
cálcico, que intemperizam rapidamente, originando solos argilosos. Em ambientes com
drenagem restrita ou com baixa pluviosidade, originam solos argilosos com predomínio de
esmectitas, como por exemplo: Chernossolos, Vertissolos e Gleissolos. Os solos resultantes do
saprólito dessas rochas quando estiver submetido a ambientes lixiviante e oxidante, haverá o
predomínio de Latossolos e Nitossolos, com grande quantidade de caulinita e óxidos de ferro.
O teor de quartzo é muito baixo nessas rochas, com muito pouca areia para produzir
horizontes superficiais arenosos, como ocorre nos solos originados de granito.
Consequentemente, os horizontes superficiais tende a ser franco-argilosos. Quando o ambiente é
de oxidação, os solos tendem a serem vermelhos escuros a brunos escuros devido ao elevado teor
de Fe nos minerais dessas rochas. O teor de bases e o pH do solo podem ser elevados,
dependendo do grau do intemperismo alcançado. Dentre os Latossolos, aqueles com coloração
vermelha escura, que tem alta saturação de bases como o grande grupo dos Latossolos
Vermelhos eutroférricos, quase sempre foi desenvolvido em locais onde predominam rochas
básicas, principalmente o basalto e diabásio, e incluí algumas modalidades dos popularmente
conhecidos como “terra roxa”.
As rochas félsicas, granitos e gnaisses granitóides, composta predominantemente pelos
minerais quartzo, feldspato ortoclásio, com menores quantidades de mica, geralmente
predominando a muscovita, e pequenas quantidades de horblenda. Estas rochas mostram
pequenas diferenças no padrão de intemperismo devido à diferença na estrutura. Solos
originados do saprólito dessas rochas tendem a ser grosseiros especialmente nos horizontes
superficiais. Os solos geralmente são friáveis e permeáveis, com baixo teor de bases devido ao
elevado teor de quartzo no material de origem e, devido à lixiviação favorecida pela textura
grosseira. As reservas em nutrientes tendem a ser baixa nesses solos. A mineralogia da argila
tende a ser caulinitica em climas quentes e úmidos e vermiculita-ilita-esmectita em solos de
climas mais áridos.
Os xistos são rochas metamórficas, folhadas, ricas em micas ou cloritas, com teores
variados de quartzo e baixos teores de outros minerais facilmente intemperizáveis. Devido ao
baixo teor de quartzo, solos formados de micaxisto tende a ser siltosos e menos grosseiros que os
solos derivados de granito. Podem apresentar uma alta reserva em potássio nas micas, exceto em
paisagens muito intemperizadas. Nos solos irá predominar os argilominerais ilita e vermiculita,
exceto nos solos antigos e intemperizados onde domina o argilomineral caulinita. Solos de
sericita-xisto podem ser muito siltosos, ácidos com elevados teores de alumínio trocável devido
ao intemperismo da sericita. Solos formados em resíduo de clorita-xistos tendem a serem
argilosos, plásticos e com alto teor de esmectitas, e possivelmente contém elevados teores de
magnésio.
O efeito das rochas sedimentares, como os arenitos quartzosos, que contem mais de 50 %
de partículas no tamanho areia, predominando o quartzo, com agentes cimentantes variados
(sílica, ferro, carbonato), os quais juntamente com minerais acessórios (feldspatos, micas) têm
grande influência no tipo de solo formado. Em geral, esses solos tem textura grosseira,
especialmente nos horizontes superficiais, e alta permeabilidade, consequentemente tende a
serem solos pobres em bases e com baixa reserva de nutrientes e valor de pH, especialmente se
formados em climas úmidos, onde a alta permeabilidade do solo favorece a sua lixiviação. Os
solos tendem a ser profundos, a não ser que estejam sendo formados em resíduos de arenitos
cimentados com sílica, onde são rasos.
Os solos formados de arenito com cimento de ferro tende a ser vermelhos (Argissolos e
Latossolo Vermelho Amerelo, Latossolo Vermelho). Quando a rocha for o arcósio (contém 25 %
ou mais de feldsoatos), como os arenitos arcosianos, os solos formados tendem a ser argilosos e
com alta reserva em nutrientes, dependendo da taxa de lixiviação (Argissolos e Latossolos).
Os Neossolos Quartzarênico formam-se em materiais resistentes ao intemperismo, como
as areias de quartzo, e apresentam limitações pela baixa capacidade de armazenar águas e
nutrientes para as plantas.
2. Clima
O clima é o mais influente dos quatro fatores que agem sobre o material de origem, pois
determinará a natureza e a intensidade do intemperismo que ocorre em grandes áreas
geográficas. A ação do clima na formação do solo decorre das variáveis climáticas,
principalmente da precipitação pluviométrica, temperatura e o vento.
A água é o principal agente de todas as reações do intemperismo das rochas e da
transformação dos minerais, bem como essencial ao crescimento e desenvolvimento das plantas.
A água também atua na redistribuição, adição e remoção de materiais no interior do perfil do
solo, portanto, a disponibilidade e o fluxo de água no solo determinam a velocidade da maioria
dos processos de formação do solo, mas é importante ressaltar que esta deve penetrar no regolito
para ser eficaz na formação do solo.
A quantidade de água que percola através do perfil depende: das condições climáticas
prevalecentes (precipitação, temperatura, evapotranspiração); da taxa de declive, a qual pode
condicionar uma perda lateral superficial maior ou menor; porosidade e cobertura do solo.
Um dos conceitos mais importantes relacionados à gênese do solo é o de água excedente.
Para entendermos esse conceito, precisamos retomar as definições de precipitação pluviométrica
e evapotranspiração. A precipitação pluviométrica consiste no total de água precipitada em um
determinado local em um determinado período de tempo. Por evapotranspiração entende-se o
total de água que é perdida num determinado período através da evaporação da superfície do solo
mais a água perdida por transpiração da planta.
O balanço entre o total de água precipitada e o total de água evapotranspirada permite
determinar a presença ou não da água excedente. Assim, quando o total de água precipitada for
maior que a quantidade de água evapotranspirada tem-se a ocorrência de água excedente e,
quando a precipitação for menor do que a evapotranspiração tem-se a ocorrência de déficit de
água.
As considerações importantes que derivam desse conceito são de que quando ocorre água
excedente as condições são mais propicias para a existência de intemperismo mais drástico,
alterando os minerais constituintes das rochas e formação de solos mais profundos, porém menos
férteis. Ao contrário, quando as precipitações são baixas e a evapotranspiração elevada, típico de
clima semiárido, por exemplo, as reações de intemperismo são lentas, e os solos formados são
geralmente pouco profundos, porém a fertilidade pode ser maior, pois foram menos lixiviados
(lembre-se que a fertilidade também vai depender do material de origem).
A ausência de água é um fator importante na determinação das características dos solos
nas regiões secas ou quando a evapotranspiração excede a quantidade de chuva. Nesses casos, os
sais solúveis não são lixiviados do perfil do solo, em alguns casos, se acumulam na superfície ou
no interior do solo, favorecendo os processos de carbonatação e salinização e, podem limitar o
desenvolvimento de plantas, exemplo os solos salinos e sódicos.
Portanto, a distribuição sazonal das chuvas, a evaporação, o relevo local e a
permeabilidade do solo interagem entre si para determinar como a precipitação efetiva influencia
na formação do solo. Quanto maior a profundidade de penetração da água, mais intemperizados e
espesso será o solo. O excesso de água que percola através do seu perfil transporta os materiais
solúveis e suspensos das camadas superiores para as inferiores, bem como pode carregar os
materiais solúveis para a água de drenagem. Portanto, é a água de percolação que ajuda na
diferenciação dos horizontes do solo (horizonte eluvial), e consequentemente resulta em solos
distróficos e álicos ou solos eutróficos.
O efeito da temperatura na gênese do solo é principalmente indireto, pois controla a
quantidade de umidade disponível para os processos de formação do solo. Sabe-se que a cada
aumento de 10 ºC as taxas das reações bioquímicas dobram (aproximadamente).
Se a água e temperaturas elevadas estão, ao mesmo tempo, presentes no perfil, os
processos de intemperismo, lixiviação, atividade dos micro-organismos e crescimento das
plantas serão maximizados. O pouco desenvolvimento dos perfis de solo em regiões frias
contrasta com os perfis intensamente intemperizados dos trópicos úmidos. Tanto a temperatura
como a umidade influenciará também no teor e na natureza dos resíduos orgânicos adicionados
ao solo, pois interferem na atividade da biota.
O vento é um agente importante no transporte e distribuição dos materiais suspensos por
longas distâncias. A orientação do declive influencia significativamente as condições
microclimáticas, devido à variação da radiação incidente (a radiação solar que chega a superfície
em regiões com latitudes mais elevadas é mais intensa na face norte, onde os solos formados
serão mais rasos, pois a maior parte da água evapora, e esses solos permanecem mais secos) e na
quantidade de sedimentos depositados (face exposta ao vento), e consequentemente, nas
características do solo.
Um aspecto importante do fator clima na formação do solo é a sua natureza cíclica e a
descontinuidade das adições. As chuvas são distribuídas em determinados números de dias, com
intensidades desiguais, resultando em continuas alterações nos gradientes de umidade do solo.
O clima é o fator de formação do solo que tem maior influência no teor de matéria
orgânica, pH, disponibilidade de N e saturação por bases do solo. Também tem efeito
significativo na profundidade do perfil, textura e no tipo de argilomineral formado. Por exemplo,
em situações de lixiviação intensa, ocorre uma mudança dos argilominerais de esmectita à
caulinita (veremos na aula de minerais). Outro exemplo é a formação preferencial da goethita em
ambientes com temperaturas mais baixas e com excesso de água (imprimem coloração amarelada
ao solo). Por outro lado, em ambientes de temperaturas mais elevadas e menor umidade favorece
a formação da hematita (que confere coloração avermelhada ao solo).
3. Organismos
4. Relevo
A altitude tem uma relação direta com a temperatura, a qual decresce cerca de 6 oC para
cada 1000 m de elevação do terreno, o que tem muita influência no acumulo de matéria orgânica.
Outro efeito refere-se à posição do lençol freático (catena).
1. Topo
2. Ombro
3. Encosta
4. Sopé
5. Planícies ou sopé coluvio-aluviais
Esses elementos podem estar ou não estar presentes em uma paisagem, podendo ocorrer
tanto repetições como a ausência de alguns elementos em diferentes porções da paisagem.
Nesses segmentos de paisagem encontram-se solos diferentes, sendo a sucessão de solos que
ocorrem desde o topo até a planície aluvial denominado de catena (Figura 12). Esses termos
induz a ideia de que a transição entre os diferentes tipos de solo não são claros, mas sim essa
transição é gradativa.
5. Tempo
É o fator mais passivo na formação do solo, não adiciona e nem exporta material e tão
pouco gera energia para processos ativos do solo.
A relação dos solos com o tempo pode ser discutidas quanto aos seguintes aspectos:
(1) Estádio relativo do desenvolvimento do solo;
(2) Datação absoluta de horizontes e perfis do solo;
(3) Taxa de formação do solo;
(4) Idade da paisagem.
A estimativa do estádio relativo do desenvolvimento do solo baseia-se nas feições
morfológicas presentes no perfil do solo, por exemplo, solo jovem apresentará o perfil com
horizontes A-R; solo intermediário apresentará perfil com horizontes Bi, Bv, Bk; o solo maduro
apresentará perfil com horizontes A-B-C.
A datação absoluta de horizontes e perfis do solo baseia-se em métodos radiométricos
14
( C).
Com relação à taxa ou velocidade de formação do solo, além do fato de ser muito lenta,
muito pouco é conhecida. Uma estimativa global (baseada no balanço geoquímico de rochas,
solos e água) fornece taxa de formação de solo variando entre 370 e 1290 kg ha -1/ano, o que
equivaleria respectivamente em cerca de 27 a 80 anos para a formação de uma camada de 1 mm
ha-1 de solo. Tomando como exemplo a taxa menor como referência, a formação de um hectare
de um solo com 100 cm de espessura levaria 27 mil anos, supondo as condições pedoclimáticas
constantes, o que é pouco provável.
Considerando o longo tempo necessário para formar o solo, e que o processo erosivo de
uma única chuva pode acarretar perda de vários centímetros de espessura, fica evidente a
necessidade de manejar o solo com extremo cuidado.
Com fins didáticos, temos que o inicio da formação do solo se da a partir da exposição da
rocha ou do material inconsolidado na superfície, quando passa a sofrer ação conjunta de
processos físicos, químicos e biológicos do intemperismo.
Os musgos e os liquens normalmente são os precursores da formação do solo, pois podem
instalar-se na superfície de uma rocha praticamente inalterada, e com o passar do tempo forma
uma camada delgada de material alterado, que já pode propiciar o desenvolvimento de algumas
plantas.
A partir dai os processos químicos, físicos e biológicos começam a atuar mais
intensamente, dando inicio a formação de um horizonte A. Nas etapas posteriores o manto de
alteração aprofunda-se formando horizontes subsuperficiais mais espessos e aprofundados, até
atingir a maturidade, onde as características do solo variam pouco com o tempo.