FI092 Aula 14

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FI092 – Notas de aula – Aula 14

Vol. 1. Cap. 17. Gravitação universal (cont.)


3. Lei da gravitação universal

Ao analisar as leis de Kepler, Newton notou que as velocidades dos planetas variam ao
longo da órbita, em módulo e direção. Como ele já havia estabelecido que a variação
da velocidade implica a ação de forças, concluiu que os planetas e o Sol deveriam estar
interagindo à distância, por meio de forças gravitacionais. Graças a seus
conhecimentos profundos de Matemática e a uma grande capacidade de generalização,
Newton descobriu que as forças gravitacionais dependem diretamente das massas do
Sol e do planeta, e inversamente do quadrado da distância entre eles.

Esse resultado tem validade geral, e pode ser aplicado a quaisquer corpos materiais
(Figura 17.6), constituindo a lei da Gravitação Universal:

Dois pontos materiais atraem-se com forças cujas intensidades são diretamente
proporcionais às suas massas e inversamente proporcionais ao quadrado da
distância que os separa.

Figura 17.6. Vários exemplos


de objetos cujo movimento é
influenciado pela gravidade.
Extraída de [2].

Se 𝑀 e 𝑚 forem as massas de dois pontos materiais, e 𝑟 for a distância entre eles, a


intensidade da força gravitacional é dada por:

1
𝑀𝑚
𝐹=𝐺
𝑟2

Nessa expressão, 𝐺 é a constante de gravitação universal:

𝐺 = 6,67 ∙ 10−11 N ∙ m2 /kg 2 .

𝐺 não depende do meio; seu valor é o mesmo no ar, vácuo ou qualquer outro meio
interposto entre os corpos.

Se ao invés de pontos materiais tivermos esferas, a distância 𝑟 que deve ser considerada
é aquela entre seus centros (Figura 17.7).

Figura 17.7. A força gravitacional entre


corpos esféricos deve considerar a distância
entre seus centros. Extraída de
https://questcosmic.files.wordpress.com/
2012/11/forc3a7a-gravitacional-newton.jpg.

Obs.:
• A força gravitacional é uma força de campo que atua à distância ao longo da
reta que une os centros dos corpos.
• Como 𝐺 tem um valor muito pequeno, a força gravitacional somente terá uma
intensidade apreciável se ao menos uma das massas for elevada, como a de um
planeta.
• Para corpos de pequenas massas (como as coisas do dia a dia, como pessoas,
objetos, carros etc.), a atração gravitacional tem intensidade desprezível.

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Exercícios

1) O planeta Marte está a uma distância média de 2,3 ∙ 108 km do Sol. Se a massa de
Marte é 6,4 ∙ 1023 kg e a do Sol é 2,0 ∙ 1030 kg, determine a intensidade da força com
que o Sol atrai Marte. Dada: 𝐺 = 6,67 ∙ 10−11 N.m2/kg2.

Solução: Basta usar os valores dados na expressão da força gravitacional:

𝑀𝑚 −11
2,0 ∙ 1030 ∙ 6,4 ∙ 1023
𝐹=𝐺 = 6,67 ∙ 10
𝑟2 (2,3 ∙ 108 ∙ 103 )2
6,67 ∙ 2,0 ∙ 6,4 ∙ 1030+23−11 1042
𝐹= 2 11 2
= 16,1 ∙ 22
= 16,1 ∙ 1020
2,3 ∙ (10 ) 10
2
𝐹 = 1,61 ∙ 1021 N
____________________________________________________________________
2) Dois corpos de massas 𝑀 e 𝑚, situados a uma distância 𝐷 um do outro, atraem-se
mutuamente com força de intensidade 𝐹. Qual será a intensidade 𝐹′ da nova força de
atração nas seguintes situações:
a) A massa 𝑀 se torna duas vezes maior.
b) A massa 𝑚 se torna três vezes menor.
c) A distância entre os corpos quadruplica.

Solução: A força de atração entre os corpos é:

𝑀𝑚
𝐹=𝐺
𝐷2

a) Se 𝑀′ = 2𝑀, então

𝑀′𝑚 2𝑀𝑚 𝑀𝑚
𝐹′ = 𝐺 2
= 𝐺 2
= 2𝐺 2
⇒ 𝐹 ′ = 2𝐹
𝐷 𝐷 𝐷

b) Se 𝑚′ = 𝑚/3, então:
𝑚
𝑀𝑚′ 𝑀 1 𝑀𝑚 1
𝐹 ′ = 𝐺 2 = 𝐺 23 = 𝐺 2 ⇒ 𝐹 ′ = 𝐹
𝐷 𝐷 3 𝐷 3

c) Se 𝐷′ = 4𝐷, então:

𝑀𝑚 𝑀𝑚 𝑀𝑚 1 𝑀𝑚 1
𝐹′ = 𝐺 = 𝐺 = 𝐺 = 𝐺 ⇒ 𝐹 ′
= 𝐹
𝐷′2 (4𝐷)2 16𝐷2 16 𝐷2 16
____________________________________________________________________
3) Uma nave interplanetária parte da Terra e dirige-se à Lua numa trajetória retilínea
determinada por um segmento que une o centro da Terra ao centro da Lua. Sabendo-se
que a massa da Terra 𝑀𝑇 é aproximadamente igual a 81 vezes a massa da Lua 𝑀𝐿 ,
determine o ponto no qual é nula
a intensidade da força
gravitacional resultante que age
na nave devido apenas às ações
simultâneas da Lua e da Terra.
Considere ainda a Terra e a Lua
estacionárias no espaço, com
distribuição de massa homogênea
e, para efeito de cálculo, com
massa total localizada nos seus
centros.

3
Solução: Supondo que a massa da nave seja 𝑚, ela sofrerá uma força da Terra com
sentido para a esquerda (de acordo com o esquema da figura) de intensidade:

𝑀𝑇 𝑚
𝐹𝑇 = 𝐺
𝑥2

E a nave sofrerá uma força da Lua, com sentido para a direita, de intensidade

𝑀𝐿 𝑚
𝐹𝐿 = 𝐺
(𝑑 − 𝑥)2

em que 𝑑 é a distância Terra-Lua. A intensidade da força gravitacional sobre a nave


será nula quando:

𝑀𝑇 𝑚 𝑀𝐿 𝑚
𝐹𝑇 = 𝐹𝐿 ⇒ 𝐺 = 𝐺
𝑥2 (𝑑 − 𝑥)2
𝑀𝑇 𝑀𝐿 81𝑀𝐿 𝑀𝐿
⇒ 2 = ⇒ =
𝑥 (𝑑 − 𝑥)2 𝑥2 (𝑑 − 𝑥)2
81 1
⇒ 2= 2
⇒ 81(𝑑 − 𝑥)2 = 𝑥 2 ⇒ √81(𝑑 − 𝑥)2 = √𝑥 2
𝑥 (𝑑 − 𝑥)
⇒ 9(𝑑 − 𝑥) = 𝑥 ⇒ 9𝑑 − 9𝑥 = 𝑥 ⇒ 9𝑑 = 10𝑥
⇒ 𝑥 = 0,9 𝑑

Ou seja, quando a nave tiver percorrido 90% da distância entre a Terra e a Lua, a força
gravitacional sobre ela será nula.
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5. Aceleração da gravidade

Supondo que 𝑀 é a massa da Terra e 𝑚 é a massa de um corpo em sua superfície, pela


lei da gravitação universal, a força que a Terra exerce sobre o corpo é:

𝑀𝑚
𝐹=𝐺
𝑅2

em que 𝑅 é o raio da Terra. Por outro lado, vimos que a força que a Terra exerce sobre
um corpo em sua superfície é o próprio peso do corpo, ou seja:

𝑃 = 𝑚𝑔

Portanto, devemos ter:


𝑀𝑚
𝐹=𝑃⇒𝐺 = 𝑚𝑔
𝑅2
4
𝑀
⇒𝑔=𝐺
𝑅2

Ou seja, a aceleração da gravidade 𝑔 depende da massa da Terra, de seu raio e da


constante de gravitação universal.

Por outro lado, vemos que, se o corpo se encontrar a uma altura ℎ da superfície terrestre,
então a força da Terra sobre ele deve ser

𝑀𝑚
𝐹=𝐺
(𝑅 + ℎ)2

Igualando esta expressão ao peso do corpo nessa altura (𝑃ℎ ), encontramos que a
aceleração da gravidade a uma altura ℎ da superfície terrestre será:

𝑀𝑚
𝐹 = 𝑃ℎ ⇒ 𝐺 = 𝑚𝑔ℎ
(𝑅 + ℎ)2
𝑀
𝑔ℎ = 𝐺
(𝑅 + ℎ)2

Ou seja, a aceleração da gravidade diminui à medida que o corpo se afasta da superfície.


O quadro a seguir resume isto.

As expressões acima podem ser generalizadas para qualquer planeta de massa 𝑀, raio
𝑅 e corpo situado a uma altura ℎ da superfície.

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Exercícios

1) Considere um corpo de 100 kg no interior de um satélite artificial em torno da Terra.


O satélite encontra-se a uma altitude (distância da superfície) igual ao próprio raio da
Terra. Suponha a Terra estacionária no espaço. Determine:
a) A aceleração da gravidade no interior do satélite em relação à aceleração da
gravidade na superfície da Terra (adote 𝑔 = 10 m/s2).
5
b) O peso do corpo na superfície da Terra e na altura em que se encontra o satélite.

Solução: a) A aceleração da gravidade na altura do satélite (que é ℎ = 𝑅) será:

𝑀 𝑀 𝑔 10
𝑔ℎ = 𝐺 = 𝐺 = = ⇒ 𝑔ℎ = 2,5 m/s 2
(2𝑅)2 4𝑅2 4 4

Ou seja, 𝑔ℎ = 𝑔/4 (em que 𝑔 é a gravidade na superfície da Terra).

b) O peso do corpo na superfície da Terra será:

𝑃 = 𝑚𝑔 = 100 ∙ 10 = 1000 N

Já no satélite, o peso do corpo será:

𝑃ℎ = 𝑚𝑔ℎ = 100 ∙ 2,5 = 250 N


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2) A massa da Terra é aproximadamente igual a 81 vezes a massa da Lua e seu raio é
aproximadamente 3,7 vezes o raio da Lua. Determine a aceleração da gravidade na
superfície da Lua, 𝑔𝐿 , em relação à aceleração da gravidade na superfície da Terra, 𝑔𝑇 .
Quanto pesará, na Lua, um corpo de peso 60 N na superfície da Terra?

Solução: A aceleração da gravidade na Lua será:

𝑀𝑇
𝑀𝐿 81 3,72 𝑀𝑇
𝑔𝐿 = 𝐺 2 = 𝐺 = 𝐺 ⇒ 𝑔𝐿 = 0,169 𝑔𝑇
𝑅𝐿 𝑅𝑇 2 81 𝑅𝑇2
(3,7)

Portanto, um corpo de peso 60 N na superfície da Terra, na Lua pesará:

𝑃𝐿 = 𝑚𝑔𝐿 = 0,169 𝑚𝑔𝑇 = 0,169 𝑃𝑇 = 0,169 ∙ 60 ⇒ 𝑃𝐿 = 10,14 N


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3) O planeta X tem a metade da massa do planeta Y e raio quatro vezes menor.
Compare as acelerações da gravidade, 𝑔𝑋 e 𝑔𝑌 , nas superfícies desses planetas.

Solução: Temos que 𝑀𝑋 = 𝑀𝑌 /2 e 𝑅𝑋 = 𝑅𝑌 /4. Portanto:

𝑀𝑋 𝑀𝑌 /2 𝑀𝑌 16
𝑔𝑋 = 𝐺 = 𝐺 = 𝐺 ⇒ 𝑔𝑋 = 8𝑔𝑌
𝑅𝑋2 (𝑅𝑌 /4)2 𝑅𝑌2 2

Ou seja, embora o planeta X tenha massa e raio menores que Y, a aceleração da


gravidade em sua superfície é 8 vezes maior que na superfície de Y.
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6
Vol. 1. Cap. 12. Forças de atrito
1. Introdução

Até o momento, discutimos a ação de forças em situações ideais: desprezando a


resistência do ar, ou considerando superfícies como sendo perfeitamente lisas.

Agora, veremos o que acontece em situações mais reais. Neste capítulo estudaremos a
força de atrito que aparece quando duas superfícies escorregam uma sobre a outra, e a
força de resistência do ar.

Em particular, o atrito pode ser:


• Dinâmico – quando há movimento relativo entre os corpos em contato.
• Estático – quando não há movimento.

2. Atrito dinâmico

Considere um livro sobre uma mesa (Figura 12.1a). Se aplicarmos uma força sobre o
mesmo, este começará a se mover até atingir uma certa velocidade (Figura 12.1b). Se
retirarmos a força, a velocidade do livro diminui até ele parar (Figura 12.1c). Isso pode
ser interpretado considerando que há uma força, chamada de força de atrito dinâmico
⃗𝒇𝒂𝒕 , que se opõe ao movimento.

Figura 12.1. A força de atrito ⃗𝒇𝒂𝒕 se opõe ao movimento das superfícies em contato.
Extraída de [1].

Figura 12.2. A força de atrito ⃗𝑭𝒂𝒕 se opõe ao


movimento das superfícies em contato. É
causada pelas rugosidades das superfícies
que estão em contato. Extraída de [3].

7
Esta força é causada pelas rugosidades das superfícies em contato e pelas forças de
adesão entre as moléculas das duas superfícies. As rugosidades se interpenetram e as
força de adesão formam microssoldas, dificultando o movimento de um corpo em
relação ao outro (Figura 12.2).

Quando ocorre movimento, a intensidade da força de atrito 𝑓𝑎𝑡 é proporcional à


intensidade da força normal 𝐹𝑁 :

𝑓𝑎𝑡 = 𝜇𝑑 𝐹𝑁

em que 𝜇𝑑 é uma constante de proporcionalidade chamada coeficiente de atrito


dinâmico ou coeficiente de atrito cinético. Este coeficiente não possui unidade, pois
é uma razão entre as intensidades de duas forças (𝜇𝑑 = 𝑓𝑎𝑡 /𝐹𝑁 ). Portanto, 𝜇𝑑 é uma
grandeza adimensional (“sem dimensões”).

O coeficiente de atrito depende da natureza dos sólidos em contato (p. ex., aço sobre
aço, madeira sobre pedra etc.) e do estado de polimento das superfícies. Pode variar de
valores baixos (p. ex., 0,02) a valores elevados (p. ex., 1,2).

Figura 12.3. A força normal ⃗𝑭𝑵 tem intensidade igual a) ao próprio peso ou b) a uma
componente do peso. Extraída de [1].

A força normal 𝐹𝑁 entre as superfícies em contato geralmente tem intensidade igual ao


próprio peso 𝑃 (p. ex., Figura 12.3a) ou a sua componente (p. ex., 𝑃𝑛 = 𝑃 cos 𝜃 na
Figura 12.3b).

A força de atrito dinâmico não depende:


• Da velocidade com que o corpo desliza sobre a superfície.
• Da área de contato entre o corpo e a superfície.

8
Por exemplo, para um bloco que desliza sobre uma superfície devido à ação de uma
força 𝐹 , como na Figura 12.4, a força de atrito terá a mesma intensidade
independentemente de se o bloco se apoia na face de maior área ou de menor área.

Figura 12.4. A força de atrito ⃗𝒇𝒂𝒕 tem mesma intensidade independentemente da área de
contato entre o corpo e a superfície. Extraída de [1].

Referências

[1] Ramalho, Nicolau, Toledo. Os fundamentos da física. 9a ed. Moderna, 2007.


[2] Trefil J e Hazen RM. Física viva – Uma introdução à física conceitual. Rio de
Janeiro, LTC, 2014.
[3] Nicolau. Os fundamentos da física, 2019.
https://osfundamentosdafisica.blogspot.com/2019/11/.

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