Poesia - Surda para Sempre

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

ASPECTOS CENTRAIS DA IDENTIDADE SURDA

A identidade surda é marcada por aspectos culturais, linguísticos e sociais que são centrais
para a construção da comunidade surda e a valorização da surdez como uma característica
cultural, e não apenas uma deficiência.

Aqui alguns dos principais aspectos da identidade surda:

A língua de sinais é o principal componente da identidade surda. Para a maioria dos surdos, é a
primeira língua, essencial para a comunicação, expressão e construção de significados. No
Brasil, por exemplo, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é o idioma que une a comunidade
surda.

1- Cultura Surda: A cultura surda inclui valores, práticas e tradições próprias que são
compartilhados pela comunidade surda. A surdez é entendida como uma identidade
cultural e não como uma deficiência que precisa ser "corrigida". Há eventos,
produções artísticas e literárias que reforçam e promovem essa cultura.
2- Comunidade Surda: A comunidade é um espaço de identificação e pertencimento.
Nela, as pessoas surdas encontram aceitação, apoio e compreensão. Esse grupo
compartilha experiências semelhantes e se fortalece mutuamente na defesa de seus
direitos e na valorização de sua identidade.
3- Orgulho Surdo: Muitos surdos sentem orgulho de sua identidade, valorizando a surdez
como algo positivo e rejeitando a ideia de que precisariam se "adequar" aos padrões
da comunidade ouvinte. Esse orgulho se manifesta na valorização de sua língua e
cultura e na defesa dos direitos e reconhecimento da comunidade surda.
4- História e Luta por Direitos: A história da comunidade surda é marcada por lutas por
reconhecimento, respeito e direitos, especialmente no que diz respeito ao uso da
língua de sinais em espaços públicos e educativos. A conquista desses direitos é um
aspecto importante da identidade, pois reforça a ideia de autonomia e dignidade para
a pessoa surda.
5- Educação Bilíngue: A identidade surda é fortalecida pela educação bilíngue, que
considera a língua de sinais como primeira língua e o português (ou língua oficial do
país) como segunda. Esse modelo é essencial para o desenvolvimento educacional dos
surdos, pois respeita e valoriza sua forma de comunicação natural.
6- Relação com a Comunidade Ouvinte: A identidade surda também se constrói em
relação ao mundo ouvinte. A interação entre surdos e ouvintes, muitas vezes, envolve
desafios, como o preconceito, a falta de acessibilidade e a dificuldade de comunicação.
Entretanto, há um esforço crescente por parte da comunidade surda e de aliados
ouvintes para criar uma sociedade mais inclusiva e respeitosa.

Esses aspectos centrais demonstram como a identidade surda é rica, complexa e


intrinsecamente ligada à valorização da língua de sinais, da cultura e da comunidade surda
como elementos de orgulho e resistência.

Na poesia surda, os elementos visuais e performáticos são explorados de maneira muito rica e
dinâmica, já que esse tipo de poesia é expressado através da língua de sinais e depende de
movimentos corporais, expressões faciais e do uso do espaço para transmitir significados e
emoções. A espacialidade e o uso do corpo são fundamentais, e cada um desses aspectos é
cuidadosamente explorado para criar uma experiência visual e sensorial única.
Exploração da Espacialidade:

- A poesia surda utiliza o espaço ao redor do artista como uma extensão do seu corpo,
criando uma "pintura" em movimento. O espaço não é apenas o "palco", mas parte da
mensagem poética.

- Movimentos das mãos e dos braços percorrem diferentes direções e camadas do espaço
para representar tempo, intensidade e sentimentos, e até para fazer referência a pessoas,
lugares e eventos.

1. O artista também explora o espaço de modo a simular distâncias e proximidade,


enfatizando partes da narrativa ou sentimentos que precisam de destaque. Por exemplo, uma
ideia pode ser expressa perto do corpo para representar algo íntimo ou distante do corpo para
criar uma sensação de afastamento ou exterioridade.

2. Uso do Corpo e Expressividade Facial:

- Na poesia surda, o corpo é o principal "instrumento" de expressão. Além das mãos, o rosto,
ombros e tronco contribuem para a criação de uma "paisagem" visual rica. As expressões
faciais são cruciais para adicionar camadas de significado, sinalizando emoções que
complementam ou contrastam com o movimento das mãos.

- O corpo também reflete o ritmo da poesia, com gestos lentos para transmitir calma ou
reflexão e movimentos rápidos para indicar agitação ou intensidade. Esse ritmo é uma forma
visual de cadência poética, que, em vez de sons, se baseia na sequência e na fluidez dos
movimentos.

- Mudanças na postura corporal ajudam a demarcar transições entre personagens, cenas ou


sentimentos, como se o corpo fosse “mudar de personagem” dentro da performance. Essa
alternância corporal é uma forma performática de narrativa visual.

3. Criação de Imagens e Símbolos Visuais:

- Através dos movimentos, o artista cria metáforas visuais e signos que transcendem o que
está sendo sinalizado literalmente. A linguagem visual da poesia surda permite que o artista
faça uso de "imagens" corporais que, mesmo não sendo explícitas como palavras, são
reconhecidas por quem compreende a língua de sinais.

- Símbolos visuais, como o abrir e fechar das mãos, o alongamento dos braços, ou a maneira
como os olhos se movem, são fundamentais para construir a estrutura poética. Esses símbolos
visuais são particularmente impactantes na poesia surda porque, diferentemente da poesia
falada, as imagens e emoções são transmitidas diretamente e simultaneamente, de modo que
o público “vê” a poesia como um todo.

Esses aspectos são vitais para que a poesia surda seja uma experiência visual, quase
cinematográfica, onde espacialidade e corporalidade criam uma obra que vai além das
palavras e mergulha na arte visual e performática, capturando a essência e a profundidade dos
sentimentos e das ideias expressas.
A POESIA SURDA PARA SEMPRE PODE SER INTERPRETADO COMO UM ATO DE RESISTÊNCIA
CULTURAL E LINGUÍSTICA?

Sim, a poesia surda "Para Sempre" pode ser interpretada como um ato de resistência cultural e
linguístico, pois ela valoriza e promove a língua de sinais e a identidade surda em um contexto
muitas vezes dominado pela cultura ouvinte e pela língua falada. Através de sua expressão
visual e performática, a poesia surda desafia estereótipos, rejeita a visão da surdez como uma
deficiência e afirma a surdez como uma identidade cultural rica e digna de respeito.

Aqui estão alguns pontos que explicam como essa poesia se configura como um ato de
resistência:

1. Resistência Linguística:

- A utilização da língua de sinais como forma de expressão artística é um modo de afirmar


que esta é uma língua completa e sofisticada, com potencial expressivo comparável a qualquer
língua falada. Esse uso reforça o valor da língua de sinais como meio de comunicação e arte,
desafiando a ideia de que o português ou outra língua oral seja superior.

- Ao comunicar-se em língua de sinais, o artista dá visibilidade a essa língua, reivindicando o


direito de usá-la e promovendo a inclusão dela nos espaços culturais. Em muitos contextos, a
língua de sinais ainda luta por reconhecimento, e sua presença na poesia é uma forma de
resistência contra o apagamento linguístico.

2. Afirmação da Identidade Surda:

- A poesia surda celebra a identidade e a cultura surda, proporcionando uma narrativa em


que a surdez não é vista como uma limitação, mas sim como uma característica cultural única.
Ao valorizar a experiência visual e o uso do corpo, a poesia surda reafirma que a forma como
os surdos se comunicam e expressam é plena e significativa.

- O orgulho da identidade surda é ressaltado, e isso contribui para uma resistência contra a
ideia de que a pessoa surda precisa se adaptar ao mundo ouvinte. A performance poética, ao
ser expressada inteiramente em sinais, é uma celebração de uma visão alternativa e rica do
mundo, construída pela experiência surda.

3. Desafiar o Monopólio da Cultura Ouvinte:

- A poesia surda se afirma como um espaço de resistência, desafiando a predominância da


cultura ouvinte nos meios artísticos e literários. Ao existir e ser compartilhada, ela questiona a
centralidade da oralidade e propõe um tipo de arte que não depende do som, mas do visual e
da espacialidade.
- Ao trazer um espaço próprio, a poesia surda desafia o público a enxergar a expressão
artística além dos moldes da oralidade. Ela destaca que os surdos têm uma forma de expressão
que não é derivada, mas autônoma e completa.

4.Ressignificação da Surdez:

- A poesia surda ressignifica a surdez ao apresentá-la como um modo alternativo de


experienciar e representar o mundo. Essa ressignificação é uma forma de resistência, pois
combate a visão da surdez como uma deficiência que precisa ser superada e, em vez disso, a
celebra como algo que enriquece a diversidade cultural e linguística.

- Por meio da performance poética, a surdez é celebrada não como uma falta, mas como
uma diferença que contribui para a pluralidade cultural. Essa abordagem desafia o capacitismo
e propõe uma nova perspectiva sobre o que significa ser surdo.

Assim, "Para Sempre" pode ser entendido como uma forte declaração de resistência cultural e
linguística, que afirma a língua de sinais como veículo artístico e valoriza a cultura surda. É uma
maneira de reivindicar espaço, identidade e voz para a comunidade surda, reafirmando a
importância da diversidade linguística e cultural.

POESIA SURDA PARA SEMPRE DISCORRA SOBRE COMO A OBRA DIALOGA COM QUESTÕES
DE HEGEMONIA LINGUÍSTICA PRÁTICAS SOCIAIS COMUNICATIVAS OUVINTISTA E INCLUSÃO
SOCIAL PARA COMUNIDADE SURDA

A poesia surda "Para Sempre" dialoga de forma potente com questões de hegemonia
linguística, práticas comunicativas ouvintistas e inclusão social, revelando os desafios e as
resistências enfrentadas pela comunidade surda. Como expressão artística, a obra transcende
os limites da comunicação tradicional e se estabelece como uma forma de ativismo cultural e
linguístico, ao mesmo tempo em que explora e questiona as estruturas sociais dominantes.

Aqui estão alguns pontos que destacam como a poesia surda "Para Sempre" aborda esses
temas:

1. Hegemonia Linguística

- A hegemonia linguística se refere ao domínio de uma língua ou cultura sobre outras, e no


caso da sociedade majoritariamente ouvinte, isso significa a predominância da língua falada
sobre a língua de sinais. "Para Sempre" responde a essa hegemonia ao valorizar a língua de
sinais como um meio de comunicação artística e válida, que não é derivada, mas autônoma e
rica em expressão.

- A poesia surda confronta a ideia de que o português ou qualquer outra língua falada seja a
única forma legítima de expressão. Ao apresentar-se integralmente em língua de sinais, a obra
desafia a norma e cria um espaço onde a língua de sinais é a protagonista. Esse ato de
afirmação é uma forma de resistência contra a marginalização linguística que a comunidade
surda enfrenta frequentemente.

2.Práticas Sociais e Comunicativas Ouvintistas - Na sociedade ouvinte, as práticas


comunicativas estão centradas na oralidade, e espera-se frequentemente que os surdos se
adaptem a essa norma por meio da leitura labial, do uso de aparelhos auditivos ou até da
oralização. "Para Sempre" se recusa a se conformar a essas expectativas, reivindicando o
direito de expressar-se visualmente e de valorizar a corporeidade e a espacialidade da língua
de sinais.

- A poesia utiliza o corpo, o espaço e o movimento para transmitir significados que


transcendem a palavra falada. Dessa forma, "Para Sempre" critica a centralidade da oralidade
e propõe uma prática comunicativa alternativa, onde o visual e o espacial são elementos
essenciais. É um desafio direto à ideia de que a língua falada seja a forma "normal" ou
"adequada" de comunicação.

- Ao não adaptar-se às expectativas ouvintistas, a obra convida o público a repensar suas


concepções sobre o que é comunicação, questionando a ideia de que a comunicação eficaz só
ocorre por meio da voz.

3. Inclusão Social e Acessibilidade para a Comunidade Surda

- A inclusão social da comunidade surda passa pelo reconhecimento e pela valorização da


língua de sinais e pela criação de espaços onde os surdos possam ser compreendidos em sua
própria língua. "Para Sempre" faz uma declaração sobre a importância da inclusão verdadeira,
que respeita a identidade e as práticas culturais dos surdos.

- Ao destacar a poesia como uma manifestação artística em língua de sinais, a obra ressalta a
necessidade de que os espaços artísticos, educacionais e sociais sejam acessíveis aos surdos.
Não se trata apenas de adaptar os espaços ouvintes para os surdos, mas de criar espaços onde
a língua e a cultura surda possam ser expressas de forma plena e autônoma.

- "Para Sempre" simboliza um pedido de inclusão que não exige que a comunidade surda se
adapte ao modelo ouvinte, mas que convide a sociedade a aceitar e valorizar as diferenças. A
obra reivindica um conceito de inclusão que vá além do assistencialismo e que realmente
celebre a diversidade linguística e cultural, promovendo o entendimento e o respeito pelas
experiências surdas.

4. Empoderamento e Resistência Cultural

- Ao celebrar a língua de sinais e a identidade surda, a poesia "Para Sempre" se torna um ato
de resistência cultural, resistindo à pressão para que os surdos se conformem a um padrão
ouvinte. É um empoderamento coletivo que reforça o orgulho surdo e desafia o capacitismo
que ainda é comum em práticas sociais.

- A obra também ecoa um sentimento de orgulho pela identidade surda, mostrando que a
comunidade surda não precisa se "integrar" ao mundo ouvinte para ser plena ou digna de
respeito. Em vez disso, a inclusão deve significar a aceitação das diferenças e o apoio às
diversas formas de comunicação, valorizando a cultura surda em toda sua riqueza.

Conclusão

Assim, "Para Sempre" utiliza a poesia surda para denunciar e questionar a hegemonia
linguística, desconstruir práticas ouvintistas e exigir uma inclusão genuína para a comunidade
surda. A obra é um convite para repensar o que significa comunicar, incluir e respeitar. É uma
afirmação da autonomia surda, onde a língua de sinais é celebrada como uma forma completa
de expressão e onde a identidade surda é vista como uma parte fundamental e valiosa da
diversidade humana.

Você também pode gostar