As Grandes Unidades Geologica1

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As grandes universidade Geologica de Angola

A geologia de Angola pode ser subdividida em onze unidades regionais, cada uma das quais possuindo
uma combinação diferente de jazidas minerais.

Rochas Sedimentares efusivas e metamórficas de cobertura de idade Quaternária à Terciária


compreendendo areias, arenitos quartzito, burgaus e argila estendendo-se para cima de metade do
território, incluindo toda a parte leste de Angola.

Sedimentos marinhos pleistocénicos a cretácicos jazem numa série de bacias costeiras na margem
ocidental de Angola.

Sedimentos Mesozóicos a Paleozóicos equivalentes ao super grupo Karoo ocorrem principalmente no


Graben Cassange, uma depressão de trend geográfico centro-norte a noroeste. Ocorrem numerosos
corpos sub-vulcânicos e vulcânicos, incluindo Kimberlitos e carbonatitos ao longo de um lineamento
principal de direcção trend sudoeste a nordeste atravessando Angola, bem como basaltos, doleritos,
sienitos, traquitos e fonolitos.

Cinturões do Proterozóico superior(de Idade Panafricana) ocorrem ao longo do escudo Precâmbrico,


sendo os mais importantes o Congo Ocidental, Damara e Maiombe-Macongo. Eles são caracterizados
pela ocorrência de mineralizações de metais básicos e uma variedade de minerais industriais.

Rochas proterozóicas e Arqueanas formam os escudos Angolano, Maiornbe, Cassai e Bangweulo e o


horst do Kwanza. Formacões granitíco-gneissicas, metavulcano-sedimentar e meta-sedimentar,
(cinturões verdes) estão presentes no Centro-sul de Angola (Cassinga e Menongue). O complexo básico
(ultrábasico) do Cunene ocupa 20.000 Km2 da parte sudoeste do escudo Angolano.

Tipos de unidades Geológicas de Angola

As três grandes unidades geológicas de Angola são o Escudo Angolano, a Bacia do Congo e a Bacia do
Kwanza.

As três grandes unidades geológicas de Angola são compostas pelo Escudo Angolano, a Bacia do Congo e
a Bacia do Kwanza. O Escudo Angolano é a região mais antiga e resistente às mudanças geológicas,
sendo formado por rochas cristalinas que datam de mais de 2 bilhões de anos.
A Bacia do Congo é uma região sedimentar que se estende por Angola, República Democrática do Congo
e Congo-Brazzaville, sendo composta principalmente por rochas sedimentares e vulcânicas. Já a Bacia do
Kwanza é uma região sedimentar localizada no centro de Angola, que contém depósitos de petróleo e
gás natural.

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Imagem da capa da Revista de Ciência Elementar

Capa da Revista de Ciência Elementar

Revista de

Ciência Elementar

Volume 7, número 4, Dezembro de 2019

De regresso à geologia de Angola: I. A zona costeira de Luanda ao Cuanza Sul

Luís Vítor Duarte 📧

MARE — Departamento de Ciências da Terra, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de


Coimbra

Referência Duarte, L.V., (2019) De regresso à geologia de Angola: I. A zona costeira de Luanda ao Cuanza
Sul, Rev. Ciência Elem., V7(4):078

DOI http://doi.org/10.24927/rce2019.078
Resumo

Estamos de volta a Angola. Ao país da Welwitschia, do Imbondeiro, da raríssima Palanca Negra, e de


tantos outros símbolos e maravilhas naturais. Se juntarmos o riquíssimo património geológico
reconhecido em todo o país, desde as Pedras Negras de Pungo Andongo à Bacia do Okavango, muito
dificilmente se esgotará o tema. Até porque teríamos de passar toda uma vida neste deslumbrante país
que é Angola! Depois do Planalto da Humpata e da Serra da Leba - um desses lugares de eleição -, e dos
seus registos de vida proterozoica1, o objetivo desta nova visita é a vasta zona costeira de Angola com o
seu magnífico registo sedimentar meso-cenozoico, que se perde de vista nas arribas que se prolongam
entre as províncias do Cuanza (ou Kwanza) Sul e de Benguela. Lugares e geologia que, pela sua dimensão
temática e interesse geológico, obrigam a duas crónicas distintas. A primeira delas reporta-se à primeira
das províncias. A ideia é seguir depois para a vizinha Benguela, num percurso sempre contrário ao
sentido da corrente superficial oceânica com o mesmo nome. O itinerário tem começo em Luanda.

Território que vive numa organização caótica, Luanda está assente em terrenos neogénicos e
quaternários, carbonatados e arenosos, desde o primeiro dos seus andares, o Miocénico, ao
Holocénico2. Não desmerecendo a importância destes depósitos, é nos efeitos de evolução
paleogeográfica mais recente que se destacam na paisagem os aspetos geológicos mais relevantes de
Luanda: os cordões de areia costeiros, intensamente antropizados, da Ilha de Luanda e da Restinga do
Mussulo3. Construções sedimentares que fazem adivinhar que o modelo de deriva litoral dominante
nesta parte do globo se faz tendencialmente de sul para norte. Sem a possibilidade de um sobrevoo, as
melhores imagens, ainda por cima com a particularidade do zoom “à medida”, poderão ser obtidas a
partir do Google Earth. Mas, num ápice, e sem necessidade de recorrer a qualquer voo “astral”,
chegamos a um lugar do “outro mundo”: o conhecido Miradouro da Lua. Uma paisagem
particularmente colorida e contrastante, bem de frente para o Atlântico Sul, mas onde a máxima “com
os pés bem assentes na terra” não se apresenta muito fiável, dadas as fragilidades das rochas aí
presentes. A beleza do local deve-se à ação combinada dos fenómenos de erosão atmosférica sobre
litologias que se diferenciam por critérios de composição mineralógica e granulométrica (FIGURA 1).
Estamos perante algumas das mesmas unidades neogénicas que ocorrem de forma menos expressiva e
atrativa em Luanda. Segundo os especialistas, toda a sucessão sedimentar aqui observada reflete uma
acumulação que se terá processado nos últimos 6 milhões de anos, registando importantes variações
climáticas e do nível do mar. Grande parte do registo sedimentar é interpretado como uma fase de
evolução deltaica que deu origem ao atual rio Cuanza e que a tectónica fez erguer para a posição
morfológica atual4. Um pouco mais a sul, atravessamos o mais famoso canal fluvial de Angola e
entramos na Província do Bengo, onde fica o Parque Nacional da Quiçama. Mas o nosso “safari” é
essencialmente geológico. Para além de dar o nome ao rio e a duas províncias angolanas, o termo
Cuanza é igualmente repartido pela grande bacia que enquadra todo o enchimento sedimentar desta
vasta região e que se prolonga para offshore: a Bacia do Cuanza, mundialmente conhecida pelos seus
importantes recursos em hidrocarbonetos5,6.
FIGURA 1. Uma das imagens clássicas do Miradouro da Lua, mostrando o contraste entre duas grandes
unidades siliciclásticas de cor branca e avermelhada (ferruginosa), bem como os efeitos da erosão. Um
efeito de zoom mostrará muito mais, em especial o estilo de empilhamento das unidades
esbranquiçadas dominadas por estruturas cruzadas. Uma sucessão que conta a evolução neogénica e
quaternária do paleo-delta do Cuanza3.

Percorridos pouco mais de uma centena de quilómetros, chegamos então à província do Cuanza Sul, o
nosso principal foco. Uma região amplamente conhecida pelas plantações de café, que tem a cidade de
Sumbe como capital. A antiga Novo Redondo do tempo colonial. Não sendo propriamente um território
com mármores, tal como a original vila do Redondo no Alentejo, o carbonato domina igualmente as
rochas da região, mas sob a sua variante sedimentar mais típica, o calcário. Esta rocha compõe a base
das sucessões sedimentares que se observam na zona costeira do Cuanza Sul, porção onshore da Bacia
do Cuanza, sob diversas tipologias litológicas. Unidades formadas em ambiente marinho e, já lá iremos,
datadas de vários andares do Cretácico, o único período do Mesozoico aqui registado. De acordo com
todos os modelos paleogeográficos, de um tempo consentâneo com a abertura do Atlântico Sul, que
terá ocorrido “algum tempo” depois da génese da sua porção setentrional. As idades dos basaltos dos
fundos oceânicos, bem como a dos sedimentos – mais antigos no hemisfério norte – que se lhes
sobrepõem, assim o comprovam. Entre outras variantes litológicas, que envolvem unidades siliciclásticas
e evaporíticas, este é o enquadramento geral da geologia que se estende até Benguela. Neste contexto,
teremos de começar pela Província do Bengo, bem a norte, e pelo lugar musicado por Paulo Flores, o
Cabo Ledo. Um dos lugares clássicos da estratigrafia da Bacia do Cuanza, de onde provém o nome da
Formação de Cabo Ledo que é datada, com base no seu conteúdo paleontológico, do Cenomaniano5,6,
o primeiro andar do Cretácico Superior. A imagem não é propriamente espetacular, mas o objeto é de
excelência (FIGURA 2). O rol de afloramentos carbonatados adensa-se a partir de Porto Amboim com
sucessões verdadeiramente espetaculares, essencialmente datadas do Albiano, o último andar do
Cretácico Inferior que representa cerca de 12,5 milhões de anos. Um dos andares com maior duração de
todo o Mesozoico7, e claramente o melhor representado no onshore de toda a bacia angolana, através
das carismáticas formações de Catumbela e de Quissonde5,6. Por razões estéticas e, implicitamente
pelas características geológicas, são propostas observações em dois locais. O primeiro deles, a uma
extensa arriba localizada a sul de Porto Amboim, imediatamente a norte da foz do rio Queve, onde é
possível observar uma das sucessões da Formação de Quissonde mais impressionantes de toda a bacia
(FIGURA 3A), onde não faltam fósseis de invertebrados marinhos (FIGURA 3B).
FIGURA 2. A Formação do Cabo Ledo (Cenomaniano) presente na Estrada Nacional 100, junto a Cabo
Ledo. Este é um dos principais pontos de observação desta unidade em toda a Bacia do Cuanza,
correspondendo a alternâncias marga-calcário depositadas em ambiente marinho.

FIGURA 3. A) Alternâncias marga-calcário da Formação de Quissonde (Albiano) a sul de Porto Amboim.


De uma magnitude arrasadora para os olhos de qualquer geólogo; B) Um dos muitos amonoides
possíveis de observar na Formação de Quissonde (Albiano).

O segundo deles corresponde à paradisíaca Praia do Tapado, junto à divisa com a província de Benguela,
sendo possível discernir as diferenças litológicas entre as referidas formações de Catumbela e de
Quissonde (FIGURAS 4 e 5). Porém, entre toda a envolvência carbonatada das cercanias do Sumbe,
destacam-se outros geossítios, mas por razões geomorfológicas. São eles, a garganta do Quicombo
(FIGURA 6A) e as grutas da Sassa (FIGURA 6B)8,9. No primeiro caso, resultado da ação fluvial do rio
Quicombo (ou Cubal), já muito perto da sua foz. As grutas da Sassa estão inseridas numa paisagem
cársica muito particular e ainda pouco conhecida e valorizada, que inclui a circulação subterrânea parcial
do Cambongo, rio que desagua junto à capital da Província10.

FIGURA 4. Praia do Tapado, zona costeira junto ao limite entre as províncias do Cuanza Sul e de
Benguela. De realçar, o contraste litológico bem patente na imagem entre as duas formações albianas
de Catumbela (na base) e de Quissonde (unidade mais margosa).

São de facto muitos os lugares de interesse geológico do Cuanza Sul, e não nos desviámos assim tanto
da sua zona costeira. Entretanto, antes de concluir esta pequeníssima crónica sobre tão grande e
sugestivo território, teremos de percorrer um outro rio, o Queve (ou Keve), também conhecido como
Cuvo, já acima mencionado. A intenção é ir em direção a oriente, ou seja, para montante do rio, algo
que não nos deixará de surpreender (FIGURA 7).
FIGURA 5. Aspeto dos calcários da Formação de Catumbela, cuja natureza litológica mais resistente,
relativamente às unidades enquadrantes, imprime na paisagem uma morfologia muito peculiar. De
notar, os efeitos da carsificação e a vegetação espinhosa que constituem bons marcadores cartográficos
desta unidade.

FIGURA 6. A) Garganta do rio Quicombo, um pouco antes deste se espraiar na sua foz. As margens do rio
são aqui representadas por unidades do Albiano ao possível Turoniano7; B) Curso do rio Cambongo, que
emerge à superfície junto às grutas da Sassa (lado esquerdo da imagem). O encaixe do rio é feito em
unidades do Albiano, desenvolvendo-se para norte, antes de infletir em direção ao mar.

FIGURA 7. Um dos grandes meandros do rio Queve, ladeando a lagoa de Pemba. Ao fundo, o rio é
envolvido por pequenas colinas carbonatadas com rochas datadas do Aptiano. Estamos muito perto do
bordo oriental da Bacia do Cuanza, ou seja, das suas unidades mais antigas.

Este percurso, realizado inevitavelmente por estrada, tem por objetivo a observação das unidades
basais que preenchem a Bacia do Cuanza, como são os casos das formações do Binga e do Cuvo5,6. Esta
última, a mais antiga de todas (de possível idade ante barremiana), muito bem reconhecida nas
múltiplas sondagens de prospeção petrolífera, realizadas em toda a bacia, mas de muito difícil
observação em afloramento. Apesar da natural emoção, não sendo um objeto geológico
particularmente fotogénico, guardamos as imagens para o que vem a seguir. Concretamente, o lugar
onde o percurso do rio abandona as rochas sedimentares e, num plano morfológico mais alto, mas ainda
muito distante da sua nascente – imagine-se, lá para o Huambo! –, corta unidades do bem antigo
Maciço ígneo-metamórfico11. Uma marca distinta deixada na paisagem, através das Cachoeiras do
Binga, geradas pela diferença litológica entre as rochas sedimentares mais brandas da Bacia do Cuanza e
as mais competentes, datadas do Pré-Câmbrico (FIGURA 8)9. O impacto desta pequena maravilha da
natureza é tal, que o motivo é retratado numa das edições da nota angolana de 100 kwanzas. De frente
para o plano superior da cachoeira principal, um reflexo da antiga colonização portuguesa, com o que
resta de uma antiga ponte sobre o Cuvo (FIGURA 9). Retomando a ponte nova, está na hora de voltar ao
Sumbe e esperar pela incursão geológica na Província de Benguela.
FIGURA 8. O limite oriental da Bacia do Cuanza, aqui materializado pelas impactantes Cachoeiras do
Binga com águas do rio Keve. As cascatas resultam do contraste morfológico entre as rochas do Maciço
ígneo-metamórfico do Pré-Câmbrico e os sedimentos cretácicos mais basais.

FIGURA 9. Resquícios da ponte portuguesa sobre o rio Keve/Cuvo onde é possível observar a parte
superior das Cachoeiras do Binga.

NOTA:

O autor agradece aos companheiros de viagem e de observações geológicas, Januário Segundo, Alberto
Gonçalves, João Cavita e Luís Meneses.

Referências

1 DUARTE, L. V. Do Planalto da Humpata (Angola) aos micróbios do fundo do mar, Rev. Ciência Elem.,
V5(1):012. 2017.

2 ANTUNES, M. T. O Neocretácico e o Cenozóico do litoral de Angola, Junta de Investigações do


Ultramar, Lisboa, 212p.. 1964.

3 AMARAL, I. Luanda e os seus dois arcos complexos de vulnerabilidade e risco, Territorium, 9, 89-115.
2002.

4 CAUXEIRO, C. et al. Stratigraphic architecture and forcing processes of the late Neogene Miradouro da
Lua sedimentary prism, Cuanza Basin, Cuanza Basin, Angola. Journal of African Earth Sciences. 95, 77–
92.

5 BROGNON, G. P. & VERRIER, G. R. Oil and geology in Cuanza basin of Angola, 50 (1), 108–158. 1996.
6 BROWNFIELD, M. E. Geology and total petroleum systems of the West-Central Coastal Province (7203),
West Africa., 2207-B, 52 p.. 2006.

7 http://www.stratigraphy.org/index.php/ics-chart-timescale

8 LAPÃO, L. G. P. & SIMÕES, M. V. C. Notícia Explicativa da folha 184 – Novo Redondo, da Carta
Geológica de Angola, escala 1:100 000, Direcção Provincial dos Serviços de Geologia e Minas, Luanda.
1972.

9 DUARTE, L. V. et al. Do Proterozoico da Serra da Leba (Planalto da Humpata) ao Cretácico da Bacia de


Benguela (Angola). A geologia de lugares com elevado valor paisagístico, Comunicações Geológicas, 101,
III, 1255-1259. 2014.

10 AMARAL, I. O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões


de drenagem em Angola, Finisterra, XLI, 82, 15-48. 2006.

11 PERES, A. M. et al. Notícia Explicativa da folha 185 – Vila Nova do Seles, da Carta Geológica de Angola,
escala 1:100 000, Direcção Provincial dos Serviços de Geologia e Minas, Luanda. 1970.

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