Aula 2

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SOCIOLOGIA DO CRIME E DA

VIOLÊNCIA
AULA 2

Prof. Valmir de Souza


CONVERSA INICIAL

No estudo da sociologia, uma gama de teoria é colocada à disposição


dos pesquisadores. Iniciada com bases positivistas, ao longo do tempo a
sociologia vem se consolidando como ciência própria que traça linhas de
pensamentos reflexivos sobre as estruturas e modos de vida do corpo social.
O conhecimento sobre as estruturas e os conceitos que formam a
ciência da sociologia é importante para a formação do agente de segurança
pública.
O estudo dos autores clássicos se faz necessário por apresentar um
cabedal de informações históricas, fundamentos, debates éticos, métodos,
conceitos e teorias, capazes de proporcionar ao estudante o domínio da área
de pesquisa para a qual busca formação.
A vivência urbana trouxe diversas implicações para as relações sociais.
A ocupação urbana é um aspecto de enorme influência na criminalidade e na
violência.

TEMA 1 – SOCIOLOGIA COMO REPRESENTAÇÃO DA SOCIEDADE

As representações sociais são vinculadas ao conhecimento não


científico e são alegorias que fazem a ligação entre o indivíduo e o mundo ao
seu redor, ou seja, estão ligadas ao indivíduo (suas crenças, sua ideologia) e à
coletividade (os valores e crenças de uma comunidade específica) (Ramos,
1996).
Em oposição a uma visão individualista do comportamento, Durkheim
consolidou na base da sociologia (especialmente na área criminal) a teoria do
funcionalismo, que trata as relações individuais e dos grupos como um
organismo funcional.
O todo social é formado por partes que se interligam e possuem um grau
de interdependência − concepção de funcionalismo estrutural − entendendo
que cada elemento do conjunto possui uma importância particular que contribui
para o funcionamento estável do corpo social.
O estruturalismo sofre condenações em função do desprezo das
condições históricas ao aplicar um certo determinismo estrutural. Em reação a
isso surge então o pós-estruturalismo.

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TEMA 2 – SOCIOLOGIA CLÁSSICA – KARL MARX

Karl Marx, nascido em Tréveris/Trier, capital da província alemã do


Reno, em maio de 1818, fundamentou suas teorias buscando entender os
componentes materiais que são inerentes ao trabalho humano, convertido num
sistema de ações que se inter-relacionam com os próprios instrumentos de
produção e o homem em si, transformando sua força natural em força
produtiva, culminando na realidade vivida. Em suma, o processo de produção
existe para a satisfação das necessidades humanas.
O pensamento de Marx se coloca contrário às concepções históricas do
socialismo utópico, cuja origem estaria na obra Utopia, de Thomas More.
O socialismo utópico buscava a implementação de uma sociedade
“perfeita” em que a igualdade entre as pessoas seria uma constante e
conquistada por adesão voluntária da classe burguesa.
Levando em conta a essência da teoria marxista, o crime é analisado
como o produto da sociedade de classes.

TEMA 3 – SOCIOLOGIA CLÁSSICA – ÉMILE DURKHEIM

Émile Durkheim (1858-1917), filósofo francês apontado como um dos


primeiros grandes teóricos da sociologia, definiu os parâmetros da sociologia,
delimitando como objeto de estudo o fato social, selecionando o que era de
interesse da sociologia. Para Durkheim (2007, p. 1), todo sujeito “come, bebe,
dorme, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que essas funções se
exerçam regularmente. Portanto, se esses fatos fossem sociais, a sociologia
não teria objeto próprio, e seu domínio se confundiria com o da biologia e da
psicologia”.
Fatos sociais são coercitivos por exercer pressão a todo indivíduo desde
sua tenra idade.
Os criminosos sempre existirão em qualquer sociedade e seu
comportamento desempenha funções sociais de inovação e criatividade.
Nesse sentido, Durkheim afirma que nem todo o crime se verifica sob a
incidência da anomia, ou seja, pelo enfraquecimento das normas numa dada
sociedade (Dores, 2004).

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TEMA 4 – SOCIOLOGIA CLÁSSICA – MAX WEBER

O alemão Max Weber inaugurou a sociologia compreensiva, teoria que


procura defender que a razão não é definida previamente, não preexiste, não é
um dado pronto.
Compreender o sentido das ações sociais dos indivíduos que vivem em
sociedade é a base do método sociológico de Weber. A ação social somente
tem significado quando há interação entre os indivíduos.
Para Weber, o surgimento do capitalismo é importante para o
entendimento da sociedade. A sociedade moderna, sob a égide do capitalismo,
que é caracterizado pela desigualdade advinda da divisão do trabalho e sua
especialização, traz como consequência a desumanização do homem,
potencializando conflitos e gerando violência.
Weber transmite a ideia de que pela dominação temos a manutenção de
uma ordem social que se constrói por conta dos acordos advindos das
decisões racionais dos integrantes do Estado, ou seja, pela política.

TEMA 5 – TIPOS IDEAIS E AÇÃO SOCIAL PARA MAX WEBER

Weber definiu os tipos ideais, que são uma construção imaginária dos
quesitos mais destacados dos comportamentos vividos no corpo social, da qual
se pode conceber configurações típicas, tornando-se uma ferramenta de
investigação.
Estas configurações se encerram em quatro ações essenciais:

1. Ação social racional com relação a fins − verifica-se que a ação do


sujeito é, por excelência, racional, direcionada a um fim. Um exemplo
disso seria comprar um caderno por causa do desempenho e da
adequação às necessidades do estudo.
2. Ação social racional com relação a valores − aqui a motivação da ação
tem por fundamento um princípio positivo ou negativo (religioso, político,
moral, ético, estético etc.). Um exemplo disso seria a aquisição de um
caderno pela importância que se dá a uma marca especifica.
3. Ação social afetiva − ação motivada pelo estado emocional. Um exemplo
seria a compra de um caderno que mais lhe apetece.

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4. Ação social tradicional − por motivações relacionadas aos costumes e às
tradições da vida cotidiana. Um bom exemplo seria a compra de um
caderno que seus familiares estão acostumados a comprar.

Para Weber, a ação social ocorre por meio das relações sociais.

NA PRÁTICA

Como vimos, a representação social se caracteriza por alegorias que


fazem a ligação do indivíduo com o mundo ao seu redor. O espaço urbano se
mostra um lugar de disputa pelo poder, havendo, consequentemente, a
formação de territórios, visíveis ou não, como expressão de divisão social.
Algumas cidades vivenciam um novo fenômeno conhecido como
rolezinho, que é o agrupamento de jovens reunidos em shopping centers,
parques e lugares cujo acesso é aberto ao público. O objetivo, segundo os
jovens, é o entretenimento, a paquera, o lazer. Todavia, muitos administradores
de shoppings têm procurado proibir essa prática, até mesmo recorrendo à
justiça, que veda a reunião por meio de ordem judicial.
Pelo que foi estudado até agora, na prática, poderia haver uma
imposição de poder sobre os jovens da periferia? Ou a ação dos jovens se
caracteriza como violência em relação à ordem estabelecida?

FINALIZANDO

É importante que os gestores em segurança conheçam a dinâmica da


vivência urbana e seus processos de interação, entendendo qual é a
importância do conceito de representação social para a sociologia, com o
enfoque do indivíduo e da coletividade.
É primordial também conhecer a visão de cada um dos autores clássicos
de como o poder, o trabalho e o capitalismo influenciam os mecanismos de
controle sociais e como se refletem nas relações sociais, afetando o fenômeno
do crime e da violência.
O conhecimento das teorias dos autores clássicos como Marx, Durkheim
e Weber se verifica fundamental para o entendimento da sociedade atual,
colaborando essencialmente para o planejamento e a formulação de políticas e
ações de segurança.

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REFERÊNCIAS
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VIEIRA JÚNIOR, R. Pós-estruturalismo e pós-anarquismo: conexões. 142 f.
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WEBER; M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia


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Ed. da Universidade de Brasília, 1991. v. 1.

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