Texto Eduardo

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Ah, as crianças! Todos sabem que silêncio, com elas, é sinal de confusão.

Eu mesmo, era um

verdadeiro pestinha, especialmente durante as férias, quando passava os dias no sítio dos meus

avós. Ao lado do grande rio que separa o Paraná de São Paulo, aquele lugar era um refúgio para

mim.Não faltavam bichos e criaturas para eu levar até a casa deles - desde insetos e calangos até,

dizem, até mesmo uma cobra quando eu era muito novo.

Mas foi uma certa presepada, talvez a mais audaciosa, que deixou sua marca em nossa infância.

Era um daqueles dias em que eu e meu primo Luis Paulo, sempre Luis Paulo desde que nasceu

assim chamado, o mais velho e mais próximo de mim, saímos para explorar o mato. Equipados

com estilingues, tralhas e até um facão, pegamos emprestado - na verdade, escondido - do meu

avô. Um homem alto, de caminhar calmo por conta de uma lesão nas costas, mas que nunca

parava de trabalhar. Não tínhamos um objetivo aí caminhar pela mata ao longo do rio e andávamos

sem medo ou rumo, foi assim que, ao atravessar o mato, encontramos uma velha jangada

abandonada à beira do rio.

Aquela jangada maltratada e solitária parecia nada mais do que um monte de tábuas e barris para

qualquer um, vejo hoje em dia, Mas para nós, era um tesouro. "Achamos um barco!", gritamos, e

sem pensar duas vezes, a colocamos na água. E como boiava! Decidimos que era o momento de

pegar as varas de pescar do meu avô e zarpar para uma pescaria.

Após alguns tombos na água e cobertos de terra, fomos para casa, ajudamos nossos avós com a

comida, era nosso trabalho todo dia moer um pouco de cana, em uma máquina manual com

manivela e engrenagens, Dona Maria, nossa vósinha, era conhecida por seu coração enorme, mas

paciência chega, logo tivemos que limpar o rastro de terra que deixamos no piso, quando

finalmente conseguimos, voltamos correndo para o "barco" carregando varas de pesca boias,anzóis
,isca e comida para passar o tempo.

Lá estávamos, a margem do rio se tornando uma linha distante. Pescamos e conversamos sobre

tudo e nada, naquele jeito que só crianças têm. Num momento, paramos para lembrar das histórias

do meu avô sobre o "peixe grande" que poderia nos engolir de uma vez. Foi o suficiente para

ficarmos medrosos. Não colocamos um dedo na água! E assim, com o entardecer já

empanturrados de besteiras e cansados, o sono nos venceu.

Eu nunca senti tanto medo quanto naquele despertar gelado, molhado, e com uma escuridão

profunda sob meus pés. Havia caído na água enquanto dormia e me debatia para voltar à jangada,

com Luis Paulo segurando firme minha camisa. Subi de volta, mas o susto ficou. Estávamos muito

longe da margem ela parecendo apenas um risco ao longe e o remo desaparecera.

- Será que vamos parar em São Paulo? - Luis Paulo perguntou, tentando manter a calma. - Não

sei... mas tem algo na água - respondi, a voz trêmula. - Deve ser só peixe. - tentava tranquilizar,

mas ele também lançava olhares para o rio.

Nos entreolhamos, sem saber se ríamos ou tremíamos. O cansaço pesou, e logo um adormeceu

enquanto o outro tentava vigiar.

Acordamos com o sol nascendo. Minha primeira pergunta foi sobre meu estilingue que sumira, mas

Luis Paulo só deu de ombros. Olhamos ao redor e percebemos que tínhamos chegado a alguma

margem, sem saber bem onde. Seria São Paulo? Pelo menos ali, naquela pedreira, não havia mais

perigo de sermos arrastados.

- Anda logo, estamos perdidos aqui! - ele ralhou, tentando colocar ordem na nossa pequena

expedição.
E assim andamos. O sol esquentava as pedras, o chinelo estourava cada novo passo até que

desistimos de usá-los. As sombras das árvores eram a única orientação no meio do caminho.

Quando finalmente encontramos um velho píer destruído, tantas vezes já escalamos esses

escombros, suspiramos. Sabíamos que ainda estávamos no Paraná, afinal, mas uma pontinha de

decepção nos pegou - seria incrível desbravar o estado vizinho.

Voltamos para casa mais sujos de barro e cansados do que nunca. Chegando ao sítio, fomos

recebidos por um alvoroço. Carros, motos, gente por todo lado. Meu avô, vendo nossos rostos

enlameados e a falta das varas, foi o primeiro a dar um suspiro de alívio antes de sermos rodeados

por parentes e perguntas.

Hoje, ao olhar para trás, sei que tudo poderia ter terminado de outra maneira. Mas, para nós, a

lembrança ficou como uma das melhores aventuras. No dia seguinte, lá estávamos outra vez,

prontos para explorar, agora em trio com o Julio, nosso primo baixinho e pronto para causar mais

uma confusão.

Nota: no dia seguinte literalmente quebrei o braço.

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