O Que É Latifúndio

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O que é latifúndio?

O latifúndio é uma propriedade rural cujas características dizem respeito à dimensão,


à produtividade e à finalidade e está associado ao período de colonização do Brasil.
Latifúndio corresponde a uma extensa propriedade agrícola privada,
geralmente não exploradas economicamente, portanto improdutivas. Quando
exploradas são destinadas ao cultivo de um único produto agrícola (monocultura),
com finalidade de abastecer, comumente, o mercado externo, devido à produção em
larga escala.
Uma das principais características do latifúndio é a concentração das
propriedades nas mãos de poucos proprietários rurais, famílias ou empresas. Essa
concentração fundiária está associada a diversos conflitos e lutas por terra no Brasil.
Etimologia da palavra latifúndio
A origem da palavra latifúndio vem do latim: “latifundĭum,ĭi”. Essa palavra significa:
extensa propriedade rural.
Latifúndio e o Estatuto da Terra
Foi por meio do Estatuto da Terra, criado em 1964, que as propriedades rurais
passaram a ser categorizadas. Sendo assim, este estatuto foi responsável por trazer à
luz da legalidade questões a respeito do uso e da ocupação das terras no Brasil.
Conceitos como módulo rural, imóvel rural, propriedades familiares, minifúndio e
latifúndio passaram a fazer parte da legislação brasileira caracterizando, então,
a estrutura fundiária do país.
Latifúndio é definido no Art. 4º da LEI Nº 4.504 de 1964 como:

V - "Latifúndio", o imóvel rural que:


a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1°, alínea b (dos limites máximos
permitidos de áreas dos imóveis rurais, os quais não excederão a seiscentas vezes o módulo médio da
propriedade rural nem a seiscentas vezes a área média dos imóveis rurais, na respectiva zona;), desta
Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine;
b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou superior à dimensão do
módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas,
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja deficiente ou inadequadamente
explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural;

O Estatuto da Terra também traz as definições de:

1. Latifúndio por dimensão: fixado na letra a do inciso V do Art. 4º da mesma Lei


acima, correspondendo ao imóvel rural que exceda a dimensão máxima de 600
vezes o módulo médio da propriedade rural ou 600 vezes a área média dos
imóveis rurais, tendo em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas
regionais e o fim a que se destine.
2. Latifúndio por exploração: corresponde ao imóvel de área igual ou superior
ao módulo fiscal que encontra-se inexplorado ou deficientemente explorado
dado o mau uso da terra. Este tipo de latifúndio caracteriza-se então pela
improdutividade, tendo geralmente como objetivo a especulação imobiliária
(manter as terras inexploradas com o intuito de que seu valor de mercado
aumente com o passar do tempo).
Leia também: Especulação imobiliária nas cidades
Contudo, o termo latifúndio caiu em desuso na legislação brasileira. A partir
da Constituição Federal de 1988, o termo foi suprimido da legislação, que passou
a classificar os imóveis rurais em pequenas e médias propriedades. Assim, a
Constituição não apresentou conceitos para classificação das propriedades rurais,
passando, assim, a fazer relação entre a propriedade e sua função social.
Mas você sabe o que é função social da terra?
Segundo a Constituição Federal de 1988, função social é definido no Art. 186 como:

A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,


segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
O aproveitamento da terra deve estar diretamente relacionado ao interesse público,
sendo, dessa forma, entendida como o cumprimento de deveres positivos visando
tanto aos interesses individuais como aos interesses coletivos. Sendo assim, terra
improdutiva não exerce sua função social.
Latifúndio x Minifúndio
Minifúndio são pequenas propriedades rurais destinadas à subsistência de uma
família.
Ao contrário do latifúndio, minifúndio é, habitualmente, caracterizado por ser uma
propriedade rural com pequenas dimensões. Normalmente, pertencem a uma
família que por meio da agricultura e pecuária de subsistência tira dela seu
sustento. Geralmente é praticada a policultura com finalidades de suprir as
necessidades básicas dos produtores, bem como abastecer o mercado interno.
O Estatuto da Terra define minifúndio como:

IV – "Minifúndio": o imóvel rural de área e possibilidade inferiores às da propriedade familia

O minifúndio, portanto, é o imóvel rural que apresenta pequena extensão, não


possibilitando a manutenção de uma propriedade familiar, sendo ineficiente para o
desenvolvimento socioeconômico do proprietário.
Latifúndio produtivo
É considerado latifúndio produtivo a propriedade rural que cumpre a sua função
social, explorada de forma eficiente, visando ao bem-estar coletivo, segundo o que é
previsto em lei.

Latifúndio improdutivo é aquele que se mantém inexplorado, não cumprindo, então,


sua função social.
Latifúndio improdutivo
É considerado latifúndio improdutivo a propriedade rural que não cumpre sua função
social, sendo, assim, explorada de forma ineficiente ou até mesmo não sendo
explorada, visando apenas à especulação.

Latifúndios são grandes extensões de terra, que podem ser produtivas ou


improdutivas

Concentração fundiária no Brasil

A concentração fundiária é considerada por muitos um grave problema no


espaço rural do Brasil, com a maior parte das terras nas mãos de poucas
pessoas.

O território brasileiro tem como uma de suas questões políticas internas mais
debatidas a temática da concentração fundiária, ou seja, a posse não democrática da
maior parte das terras no espaço rural do país. Em razão da intensiva concentração
de renda, do estabelecimento de monoculturas voltadas para a exportação, além de
uma série de fatores históricos, o campo brasileiro é altamente concentrado nas mãos
de poucos proprietários. Observe o quadro a seguir:
Tabela elaborada pelo DIEESE a respeito da estrutura fundiária no Brasil ¹
Como é possível observar nos dados da estrutura fundiária brasileira, a maior parte
dos estratos de área – 42,5% – encontra-se concentrada em 0,8% de imóveis, que
apresentam uma área média de 6.185 hectares. Por outro lado, 33% dos imóveis
apresentam uma área equivalente a 1,4% dos estratos de área ocupados, o que
equivale a uma área média de apenas 4,7 hectares. Outros 25,4% dos imóveis
apresentam uma área média de 16,2 hectares e ocupam 3,7% da área total do Brasil
destinada à produção econômica no campo. Isso revela que há uma grande
quantidade de terras sob posse de um número muito pequeno de pessoas.
No entanto, é um erro atribuir somente às políticas dos últimos anos o problema da
concentração fundiária brasileira. Trata-se de um processo histórico que vem se
perpetuando nos dias atuais e é frequentemente associado à questão da colonização
do Brasil com a divisão da área ocupada pelos portugueses em Capitanias
Hereditárias. Citam-se também as sesmarias (lei que distribuía as terras entre
produtores, obrigando-os a nelas manter algum tipo de cultivo) e, posteriormente, a
Lei de Terras de 1850, que agregou um grande valou ao solo e tornou as propriedades
inacessíveis à população de baixa e média renda.

Em contrapartida, movimentos sociais do campo reuniram-se de forma mais


organizada a partir da década de 1950, embora antes também existissem lutas pela
democratização das posses no meio rural. Constituíram-se, nessa época, então, as
chamadas Ligas Camponesas, que, até o início da ditadura militar, deram o rumo à
luta pela terra no Brasil, inclusive apresentando um ousado modelo de reforma
agrária, abalizado pelo então presidente João Goulart no ano de 1963, sendo este
deposto logo em seguida pelo Golpe de 1964.
Durante o regime militar (1964-1984) foi elaborado o chamado Estatuto da Terra para
melhor regulamentar a questão fundiária no país. No entanto, há muitas críticas
direcionadas a essa lei, que, segundo alguns posicionamentos, pode ser considerada
uma falsa tentativa de promover a reforma agrária, tendo como intuito principal a sua
dificultação burocrática.

Mesmo posteriormente, com o fim da ditadura e a consolidação do Plano Nacional de


Reforma Agrária em 1985, a questão pouco avançou, principalmente pela força de
setores ruralistas, notadamente a UDR (União Democrática Ruralista) que conseguiu
se sobrepor aos movimentos sociais do campo. Esses movimentos, nesse momento,
tinham como principal representação o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), que, através de ocupações de latifúndios rurais quase sempre
improdutivos, tenta ainda hoje pressionar o governo pela execução completa da
reforma agária.
Vale lembrar que reforma agrária não representa uma simples distribuição de terras,
mas a viabilização para que os produtores possam nela produzir, com incentivos
fiscais (tais quais os que alguns grandes produtores hoje recebem) e fornecimento de
tecnologias, métodos e condições de cultivo. Ressalta-se também que a reforma
agrária não é um consenso, havendo, por exemplo, aqueles ideólogos que
argumentam que a sua implantação diminuiria a produtividade do agronegócio e das
mercadorias de exportação do país. Trata-se, afinal, de um polêmico debate que vem
se arrastando por muitos anos no Brasil sem encontrar um devido consenso.
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¹ Dados da tabela: DIEESE, Estatísticas do Meio Rural 2010-2011. apud, MARTINS, D. et al. Geografia sociedade e

cotidiano: espaço brasileiro. Volume 02, 3ª ed. São Paulo: escala educacional, 2013. p. 109.

No Brasil, há uma grande concentração fundiária e muitos espaços


improdutivos

Lutas e Conquistas

A luta pela terra e por Reforma Agrária no Brasil, ao longo de cinco séculos, tem sido marcada
por muita luta e resistência, que se intensificou nos últimos anos. Há, de um lado, milhares de
famílias Sem Terra que almejam conquistar um pedaço de chão para a sua sobrevivência. De
outro, existe o latifúndio, defendendo sua posse a todo custo e impedindo o cumprimento da
Constituição de 1988. Com isso, o campo brasileiro se tornou palco de conflitos quase que
cotidianos. Essa situação acontece somente por conta do modelo que controla a agricultura,
baseado na grande propriedade, com utilização de pouca força de trabalho, com a mecanização
intensa voltada à produção de monoculturas de alguns produtos para a exportação.
O resultado disso é uma imensa concentração de terras e de renda, excluindo os camponeses de
suas terras e provocando o aumento da pobreza no campo. Além disso, cria o êxodo rural,
tornando ainda mais complicada a vida nos territórios urbanos - desprovidos de infraestrutura
para receber essas populações.
Nesse contexto, o MST vem tentando contribuir com essas famílias na luta por seu pedaço de
chão. Por isso, somos atacados por setores conservadores e patrimonialistas da sociedade
brasileira, que utilizam vários instrumentos para combater o nosso Movimento e todos aqueles
que lutam pela Reforma Agrária. Perseguem quem luta pela plena realização dos direitos sociais
garantidos na Constituição e por medidas de melhoria das condições de vida do povo brasileiro,
como escola, saúde, trabalho e dignidade. O presente documento pretende apresentar, de forma
breve e objetiva, um panorama da luta pela Reforma Agrária e das conquistas e desafios do
nosso Movimento desde sua origem.
Fazemos um panorama da luta pela terra na história do nosso país e da organização do MST.
Apresentamos dados sobre a situação do campo, a concentração de terra, as demandas dos
trabalhadores rurais Sem Terra e a reação dos latifundiários e do agronegócio. Neste material,
estão disponíveis informações e dados sobre as nossas conquistas, realizações, esforços e
projetos nas áreas de educação e produção, além de textos que revelam o reconhecimento da
sociedade ao MST, com prêmios e homenagens em nível nacional e internacional. No capítulo
dos anexos, estão as linhas gerais da nossa atuação, como o nosso programa agrário, os nossos
desafios e os nossos compromissos com o desenvolvimento nacional, com justiça social e
soberania popular.

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