Artigo 1
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O objetivo do presente artigo é realizar uma análise da logística, e do seu sentido reverso, dentro
de uma empresa que trabalha no ramo de montagem de refrigeradores, considerada referência
nacional neste seguimento, localizada no município de Três Lagoas-MS.
1. Referencial bibliográfico
1.1. Atividades logísticas
Neste sentido, pode-se dizer que o objetivo das organizações que buscam se destacar no
mercado de acordo com seu processo logístico, refere-se a fazer a distribuição de materiais na
quantidade solicitada, no tempo correto, em conformidade com o que foi especificado pelo
cliente, no local definido e no momento combinado (KOHN et al, 2011). Tudo isso deve ser
programado de acordo com o número de clientes, fornecedores e a gama de produtos que estão
envolvidos na cadeia logística de cada organização. Portanto, pretende-se aprimorar os fluxos
de movimentação física dos materiais/produtos para torna-los mais eficientes e eficazes e
contribuir positivamente para os resultados organizacionais. Com isso, são utilizadas técnicas
e ferramentas capazes ajudar no planejamento estratégico dos gestores sobre tomada de
decisões futuras que poderão melhorar processos de abastecimento e distribuição. (MOURA E
VALENTINA, 2016; ARAGÃO et al, 2016).
Além disso, esse processo deve levar em conta o transporte utilizado como um dos principais
componentes logísticos, cuja finalidade é interligar pontos de movimentação de insumo,
produtos acabados ou serviços. Ballou (2006) assegura que o uso de transportes quanto aos
tipos de modais correspondentes, tais como rodoviário, hidroviário, aéreo, dutoviário e
ferroviário deve estar de acordo com o volume de carga que se deseja transportar, necessidade
de rapidez ou não na entrega, distâncias e rotas e custos envolvidos na programação, e então
será determinado o modal mais adequado em cada caso.
A logística reversa classifica-se conforme o uso do produto, desta forma, divide-se em bens de
pós-venda e bens de pós-consumo. Para Leite (2009) e Rodrigues et al. (2002), eles podem ser
caracterizados como:
– Bens de pós-venda: produtos que tem pouco ou nenhum uso e o retorno é justificado por
diversas razões, como por exemplo, consignação de produtos, embalagens retornáveis,
erros de expedição, etc; ou ainda, fazem a movimentação regressa por motivos de
qualidade ou garantia (recall e devolução), produtos com data de validade próximo ao
vencimento e sazonalidade de vendas, produtos obsoletos, liberação de espaço em área
de loja, entre outros;
Moura e Botter (2002) asseguram sobre um sistema de coleta programada chamado Milk run,
que parte da necessidade de redução de custos de transporte da operação e maximização da
capacidade do transporte e otimização das rotas de coleta de insumos. Diferentemente do
sistema convencional, onde a matéria-prima é entregue pelo fornecedor à empresa cliente, ou
seja, próximo elo da cadeia, neste caso, a empresa consumidora de insumos compra no sistema
FOB (free on board), o que implica que a movimentação ficará totalmente sob a
responsabilidade do cliente.
A figura 1 ilustra de forma simples a ocorrência da operação do sistema Milk Run, onde favorece
o entendimento quanto ao fluxo/rota realizada pelo cliente através de seus fornecedores.
Com isso, pode-se dizer que a empresa cliente tende a utilizar caminhos capazes de captar
matérias-primas de diversos fornecedores em um mesmo roteamento para que se garanta as
vantagens competitivas mencionadas anteriormente.
2. Metodologia
O procedimento utilizado para a realização deste trabalho foi o estudo de caso, que de acordo
com Yin (2001) e Gil (2007), caracteriza-se quando é possível observar diretamente e realizar
entrevistas sistemáticas para uma análise aprofundada e detalhada dos eventos e, além disso, os
comportamentos não podem ser manipulados.
Conforme dito por Gil (2007), as pesquisas descritivas têm como objetivo principal descrever
as características de uma população ou um fenômeno. Tal pesquisa foi baseada em uma visita
na fábrica de refrigeradores, na qual houve uma entrevista, apoiada pela aplicação de um
questionário com questões abertas ao responsável pelo setor logístico.
A organização conta com o sistema milk run para que seja realizada a coleta da matéria-prima
em cada um de seus fornecedores, colocando a própria empresa como responsável pelo
transporte dos seus insumos até a planta fabril. Nas datas estabelecidas um transporte
terceirizado da empresa faz a coleta das matérias-primas, abastecendo seus caminhões com os
materiais especificados, para que não retornem a fábrica com espaços vazios. Além disso, o
principal modal de distribuição dos produtos é o rodoviário, representando aproximadamente
90% da expedição de freezers.
O tipo de logística reversa empregado pela indústria em estudo está relacionado ao retorno de
produtos que já foram enviados ao cliente, e que por motivos relacionados a avarias deve
retornar para o suporte técnico autorizado (STA) mais próximo para que haja uma avaliação da
condição do produto. Após a verificação é feita uma negociação com o cliente a fim de
renegociar o preço do refrigerador, já que sua logística de retorno reflete em um alto custo à
empresa. Quando detectada a real necessidade de volta do produto é ponderado o retorno
através de três possibilidades:
– O produto é devolvido nos STA espalhados pelo país e só depois volta à fábrica;
– É feita a logística reversa direta. Este caso é mais recorrente quando há um grande número
de carga que voltará a empresa;
A escolha do método mais adequado para a devolução do produto à fábrica é feita a partir da
análise dos pontos críticos e quais os custos estarão envolvidos, afim de minimizá-los.
Quando um cliente solicita a assistência técnica para o produto, é aberta uma chamada para que
seja indicada a empresa de serviço técnico mais próximo do cliente, dentre as 450 assistências
autorizadas espalhadas pelo país. Outra questão levantada é o fato da organização estudada
conseguir obter informações do produto conforme o número de série de cada unidade
produzida, e que são registradas em um sistema.
Um dos serviços prestados pela empresa chama-se recape, este serviço é uma estratégia
utilizada por eles para melhorar a satisfação dos clientes e consiste em reformar refrigeradores
obsoletos para que eles voltem ao mercado, permitindo o prolongamento de sua vida útil. O
programa recape consiste em uma intervenção nos produtos que iriam para o descarte e a partir
de processos específicos podem ser reformados e revitalizados afim de retornar aos antigos
donos.
Este programa possui duas unidades específicas para o serviço em questão, sendo uma
localizada no bairro da Mooca – SP e a outra na cidade de Vitória de Santo Antão – PE. Os
principais clientes deste serviço são as grandes companhias de bebidas e sorvetes. As empresas
clientes são responsáveis por entregar os produtos nas localidades que possuem o serviço de
recape, utilizando o frete free on board (FOB), ou seja, quem paga por este serviço de logística
é o cliente. Com o produto já nas unidades são feitas as reformas necessárias, trocando
componentes que se encontram com defeitos e reformando as carcaças dos refrigeradores para
que os produtos retornem aos clientes.
O uso de recape traz diversos benefícios à empresa, pois consegue postergar o descarte dos
refrigeradores e proporciona ganhos econômicos aos clientes associados aos processos de
armazenamento e descarte.
No entanto, quando o refrigerador é condenado, ou seja, sem a possibilidade de reforma, ele vai
diretamente para o scrap, que é uma área destinada a receber estes produtos. A metodologia de
descarte é feita da seguinte maneira, os produtos condenados têm seus componentes
aproveitados em uma segunda linha e a carcaça do refrigerador é descartada em um local seguro
e adequado. Esta atividade é de responsabilidade do setor de recursos humanos (RH). Em alguns
casos, os produtos avariados, diferentemente dos freezers condenados, podem ser
reaproveitados como PVE (Produtos vendidos no estado), que são aqueles produtos onde o
cliente não se importa com o tipo de avaria que o refrigerador apresenta, uma vez que isto não
impossibilita o seu uso.
O retardamento dos descartes dos refrigeradores proporciona a empresa analisada uma melhor
economia de custos em relação as áreas de armazenamento e descarte de refrigeradores, além
de proporcionar um menor consumo de matéria prima, e gerar menos resíduos ao meio
ambiente. Somado a isso, as peças que passam pelo recape e conseguem ser recuperadas são
listadas em uma tabela para receberem um novo preço de venda. Além disso é possível
recuperar carcaças de refrigeradores, portas, evaporadores, dentre outras peças.
Pode-se ressaltar que a empresa analisada não tem nenhuma responsabilidade sobre o descarte
de produtos que não são recapeados ou chegam ao final de sua vida útil, ela é totalmente do
cliente, o qual se compromete no ato da compra ao assinar um termo legal. O maior objetivo
para a realização do recape é a ampliação do portfólio, afim de estimular a satisfazer e
expectativas dos clientes, além de agregar serviços a organização.
4. Conclusão
Todavia, é notório que ainda hoje os produtos que não vão para o Recape, ou outros programas,
são descartados de qualquer forma, visto que os consumidores não se preocupam com questões
ambientais na maioria das vezes. Como alternativa, a empresa poderia aplicar outros tipos de
intervenção para conscientizar o descarte correto dos refrigeradores ao fim de sua vida útil.
Já em relação ao uso do milk run, a organização viu aqui a oportunidade de minimizar gastos e
aumentar a confiabilidade de prazos em seu processo de aquisição de insumos. A empresa
mostrou-se engajada na realização desta atividade, afim de obter a quantidade certa de insumos,
no tempo certo e sem o desperdício de espaços no caminhão ao fazer o roteamento pelos
fornecedores. Portanto, é visto que a indústria analisada se utiliza das atividades logísticas como
forma de atingir diferenciais competitivos em relação aos seus concorrentes.
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