Julia-Tuma Artigo
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RESUMO
A música é uma das formas de expressão cultural mais antigas e importantes da humanidade.
Ao longo dos séculos, a forma como a música é produzida, distribuída e consumida sofreu
várias alterações importantes. Com o avanço da tecnologia e a popularidade da Internet, as
plataformas digitais ou redes sociais tornaram-se uma das mais importantes formas de acesso à
música. Diante desses antecedentes, surge a questão central deste estudo: “Como as redes
sociais influenciam o consumo de música das gerações atuais?”. Compreender o impacto dessas
plataformas no comportamento de consumo de música contemporânea é fundamental para
analisar as mudanças na indústria da música e seu impacto social, cultural e econômico. Esta
investigação incidirá sobre o impacto das redes sociais no consumo de música contemporânea.
Desde o surgimento do Spotify, principal rede de consumo de música, até sua influência através
do Instagram, Tik Tok e Youtube, redes sociais de consumo de música, eles definem o que
pega, o que não pega e por quê.
PALAVRAS-CHAVE: Redes sociais, música, trend, consumo
INTRODUÇÃO
1
Júlia Tuma de Queiroz é estudante do curso de Jornalismo é pesquisadora do Centro Interdisciplinar de Pesquisa,
CIP, da Faculdade Cásper Líbero. Email: [email protected]
2
Tânia Maria de Oliveira Pinto Teixeira é professora nos cursos de Jornalismo e Relações Públicas na Faculdade
Cásper Líbero e mestre em Epistemologia do Jornalismo (ECA/USP).
Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas,
Rádio, TV e Internet Especialização e
Mestrado em Comunicação
Para compreender a fundo o impacto das redes sociais no consumo de música pela
Geração Z, é essencial traçar um perfil detalhado dessa demografia que cresceu em um ambiente
digital em constante evolução. Nascida a partir do final da década de 1990 até os dias atuais, a
Geração Z é frequentemente apelidada de "nativos digitais" devido à sua proficiência
tecnológica. Don Tapscott (2009), especialista em gerações, observa que os nativos digitais são
nativos de uma nova cultura digital, caracterizada por serem autores, editores e criadores de
conteúdo.
A Geração Z é caracterizada por sua aptidão natural para as tecnologias digitais, o que
reforça a ideia de que suas vidas foram moldadas por uma realidade onde a internet, dispositivos
móveis e as redes sociais são onipresentes. Essa geração exibe uma preferência marcante por
conteúdo visual, o que reflete o mundo da cultura das redes sociais no qual estão imersos. Essa
preferência também se manifesta em sua relação com a música, que é um componente central
na vida dessa geração.
Plataformas como TikTok, Instagram e YouTube são centrais para a cultura da Geração
Z, uma vez que possibilitam a criação e compartilhamento de vídeos e imagens. A música se
tornou uma parte integrante dessa experiência, seja como trilha sonora de vídeos curtos,
performances de dança ou versões de músicas populares. Assim, a Geração Z adota a música
não apenas como uma experiência auditiva, mas como algo visual e altamente interativo.
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Faits divers é uma expressão jornalística e um conceito de teoria do jornalismo que designa os assuntos não
categorizados nas editorias tradicionais dos veículos. Tais excertos tornam-se noticiosos por apresentarem casos
inexplicáveis e excepcionais.
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Permitindo que talentos emergentes fossem descobertos com base em seu mérito
artístico, em vez de dependerem de recursos financeiros ou conexões da indústria. Essa
transformação, evidenciada pelos insights de Thomas Roth, ilustra a transição de uma indústria
dominada por grandes gravadoras para um ambiente onde a criatividade, autenticidade e
diversidade musical são celebradas e valorizadas.
Outro ponto importante a ser considerado é o papel das redes sociais, que têm se
mostrado fundamentais para a promoção e divulgação de novos artistas. As redes sociais
possibilitaram que músicos e criadores de conteúdo musical se conectassem diretamente com
seus públicos, criando comunidades de fãs leais. Artistas desconhecidos podem viralizar suas
músicas por meio de compartilhamentos e interações nas redes sociais, construindo seguidores
e estabelecendo carreiras sólidas com base em seu talento e criatividade. Esse fenômeno reflete
a democratização do acesso à audiência global por meio das redes sociais, proporcionando uma
plataforma para uma diversidade de vozes na indústria musical.
Em entrevista para Carolina Huertas, da revista Meio & Mensagem, concedida em 13
de setembro de 2022, Thomas Roth diz:
Nós estamos no meio de uma revolução que, obviamente, não atingiu apenas o campo
das artes ou da música, mas também as relações humanas, negociais, as formas de
criar, produzir e distribuir. O mundo digital propiciou mudanças inimagináveis:
facilitou e democratizou por um lado e, por outro, deu voz há muita gente que na
verdade não tem talento, mas muitas vezes tem esperteza ou fala até bobagem,
vendendo besteirol, coisas inimagináveis em outros tempos. Mas isso é um fenômeno
mundial. Com a internet e as redes você tem um universo gigantesco de gente criando
e produzindo conteúdo musical. (HUERTAS, 2022).
O ponto levantado por Thomas Roth sobre a prevalência das músicas voltadas para as
"dancinhas" e tendências nas redes sociais, em particular no contexto do TikTok e outras
plataformas, é um reflexo da dinâmica em rápida evolução da indústria da música na era digital.
Essa tendência de criar músicas específicas para se encaixarem em desafios de dança e
modismos online é um fenômeno que merece uma análise mais aprofundada, especialmente em
um contexto acadêmico.
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conteúdo ocorrem nas redes sociais e como isso afeta a popularidade da música. Thompson
argumenta que o compartilhamento nas redes sociais segue princípios de psicologia e sociologia
que explicam por que algumas músicas se tornam virais, enquanto outras permanecem
desconhecidas. Através de exemplos do mundo da música e da cultura pop, ele explora como
as redes sociais criam tendências e o que torna algo digno de ser compartilhado em um mundo
cheio de distrações digitais. Esse entendimento é fundamental para analisar por que certas
músicas se tornam populares e como as redes sociais desempenham um papel crucial nesse
processo.
Já Daniel J. Levitin, autor de "A Música no Seu Cérebro: A Ciência de Uma Obsessão
Humana", oferece uma perspectiva neurocientífica sobre como a música afeta o cérebro
humano. Seu livro explora como a música é percebida, processada e experimentada a nível
cerebral. Ao considerar a influência das redes sociais no consumo de música, é importante
compreender como a música impacta as emoções e as relações sociais. Levitin destaca como a
música tem o poder de criar conexões emocionais e sociais entre as pessoas, e como as redes
sociais amplificam essa capacidade, permitindo que os ouvintes compartilhem músicas que
evocam sentimentos e criem vínculos com outros amantes da música.
Jenkins destaca a relevância da mídia convergente e das redes sociais na criação de
comunidades virtuais de fãs e na promoção da música. Segundo Jenkins, a mídia convergente
não apenas altera a forma como consumimos conteúdo, mas também como o produzimos e
compartilhamos.
Isso é evidente nas redes sociais, que se tornaram um espaço onde as pessoas
compartilham suas preferências musicais, exploram novas faixas e interagem com outros
entusiastas da música. Essas plataformas se transformaram em fóruns contínuos de discussão
musical, onde as músicas são recomendadas, debatidas e celebradas. Essa constante interação
com a música tem um impacto profundo na formação da identidade musical das gerações atuais,
permitindo que elas explorem uma ampla gama de gêneros e artistas, expandindo seus
horizontes musicais.
Sidnei Oliveira complementa essa visão ao destacar como a Geração Y utiliza
ativamente as redes sociais como uma plataforma para expressar sua identidade e interesses,
incluindo suas preferências musicais. De acordo com Oliveira (2010), há mais informação
publicada na internet em uma semana do que todo o conteúdo gerado até o século 19. O que
reforça a ideia de que temos infinitas possibilidades de conteúdo disponíveis na palma da mão,
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discussão musical, onde as músicas são recomendadas, debatidas e celebradas. Segundo Jenkins
(2015), essa constante interação com a música tem um impacto profundo na formação da
identidade musical das gerações atuais, permitindo-lhes explorar uma ampla gama de gêneros
e artistas, expandindo seus horizontes musicais.
Nesse sentido, a partir das perspectivas apresentadas por Jenkins e Oliveira,
estabelecemos uma análise sobre como as redes sociais influenciam as escolhas musicais, os
padrões de descoberta de música e a criação de comunidades musicais nas gerações
contemporâneas, fornecendo assim insights valiosos para nossa pesquisa.
Conclusão
Concluindo esta pesquisa, é essencial refletir sobre o poder transformador da música e
sobre o papel cada vez mais central das redes sociais e da tecnologia em nossas vidas. A música,
em sua capacidade de tocar as fibras mais profundas de nossas emoções, permanece um
elemento unificador em uma sociedade cada vez mais diversificada e fragmentada. Ela é o fio
que conecta pessoas de diferentes origens e culturas, que proporciona consolo em tempos
difíceis e celebração em momentos de alegria. A música é uma linguagem universal que
transcende barreiras e nos conecta em um nível humano fundamental.
No entanto, a influência das redes sociais e da tecnologia na música não pode ser
subestimada. Elas moldam as maneiras como descobrimos, compartilhamos e interagimos com
a música. O algoritmo que escolhe as próximas faixas em nossas playlists pode limitar nossa
exposição a novos sons, criando bolhas musicais. Por outro lado, as redes sociais nos permitem
explorar gêneros globais diversos e conectar-se com entusiastas da música de todo o mundo.
Nesse contexto, é fundamental encontrar o equilíbrio entre a personalização e a
diversidade musical. A música é rica e diversificada, e nossas escolhas não devem ser limitadas
a um estreito conjunto de recomendações algorítmicas. Devemos continuar a explorar,
experimentar e celebrar a música em todas as suas formas, buscando a ampla gama de sons e
estilos que o mundo tem a oferecer.
Além disso, à medida que a música é consumida em escala global, a questão dos direitos
autorais e da remuneração justa para artistas se torna cada vez mais premente. As redes sociais
desempenham um papel importante na promoção de novos talentos, mas também levantam
desafios relacionados à propagação de músicas pirateadas. Encontrar soluções equitativas para
garantir que os artistas sejam devidamente recompensados por seu trabalho é essencial para o
futuro da indústria musical.
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Em última análise, a música e as redes sociais são duas forças culturais poderosas que
continuam a evoluir e a se entrelaçar. A música oferece uma trilha sonora para nossas vidas,
enquanto as redes sociais criam comunidades e conexões em torno dela. É uma simbiose
complexa que molda nossa identidade musical e cultural.
À medida que exploramos essas dinâmicas em constante mudança, é importante lembrar
que a música e a cultura são um reflexo de quem somos como sociedade. Ao continuarmos a
pesquisar e analisar o impacto das redes sociais no consumo de música, estamos, de certa forma,
olhando no espelho da nossa própria evolução cultural. Portanto, que essa pesquisa possa servir
como um lembrete constante da importância da música, da tecnologia e da comunidade na
sociedade atual, e como podemos moldá-las para um futuro mais inclusivo, diversificado e
harmonioso.
Referências
JENKINS, Henry. Fans, Bloggers and Gamers: Exploring Participatory Culture. New York:
New York University Press, 2006, 279 p.
JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Cultura da Conexão: Criando Valor e
Significado por Meio da Mídia Propagável. 1ª edição. São Paulo: Editora Aleph, 2015.
LEVITIN, Daniel J. A Música no Seu Cérebro (Nova Edição): A Ciência de uma Obsessão
Humana. Traduzido por Clovis Marques. Capa de Thiago Lacaz. 1ª edição. Editora Objetiva,
2021.
HUERTAS, Carolina. Thomas Roth: Música, redes sociais. Meio & Mensagem. 13.9.2022.
Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/midia/thomas-roth-musica-redes-
sociais. Acesso em: 17 de setembro de 2023.
SOUZA, João Lucas de. A publicidade integrada: uma análise no âmbito das mídias on-
line e off-line e seus desdobramentos na estratégia omnicanal da Samsung. . São Paulo:
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. Disponível em:
https://repositorio.usp.br/directbitstream/1cd3aced-d987-47b3-8d76-d7c16ab18cc7/tc4827-
Joao-Souza-Publicidade.pdf. Acesso em: 20 dez. 2023. , 2022