Introdução: A Representação Do Eu Na Vida Cotidiana

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Resenha: Erving Goffman - "A Representação do Eu na Vida Cotidiana"

Erving Goffman, um dos mais influentes sociólogos do século XX, aborda em A


Representação do Eu na Vida Cotidiana (2014) a dinâmica das interações sociais e a forma
como os indivíduos "atuam" nas relações do dia a dia. Inspirado pela metáfora teatral, ele
analisa como cada pessoa assume papéis específicos para construir uma imagem de si
mesma, manipulando suas "performances" para os outros. A obra é dividida em capítulos
que se complementam, formando um estudo detalhado da interação social como uma
"encenação" que revela tanto o controle da imagem quanto a estrutura das relações sociais.
Aqui, focamos em três seções: Introdução, Capítulo 1 ("Representações") e Capítulo 7
("Conclusão").

Introdução

Na introdução, Goffman estabelece as bases de sua teoria dramatúrgica, onde a interação


social é vista como um palco em que cada indivíduo desempenha um papel. O autor sugere
que a vida cotidiana envolve a necessidade de se apresentar de maneira coerente aos
outros, moldando o comportamento em função das expectativas sociais. O conceito central
é o "eu" que precisa ser "interpretado" de forma convincente, envolvendo uma série de
estratégias que ajudam a criar uma imagem desejada. Essa "performance" visa alcançar o
que ele chama de "definição da situação", ou seja, uma compreensão comum entre os
envolvidos sobre o que aquela interação representa.

Capítulo 1: Representações

Neste capítulo, Goffman detalha como a "representação" está presente em cada interação.
Ele observa que o "eu" público é moldado pela expectativa de aceitação e pelo controle do
comportamento para atender às normas sociais. As pessoas, de acordo com ele, têm uma
"fachada", um conjunto de sinais expressos para projetar a imagem de uma pessoa segura
e autêntica. Essa fachada é composta por elementos fixos e variáveis, como a aparência, o
estilo de comunicação e os gestos, que criam uma narrativa visual e comportamental sobre
o indivíduo. Além disso, ele explora como os "atores" procuram controlar a impressão dos
outros, manipulando a informação para "esconder" aspectos que possam contradizer a
imagem desejada.

Goffman também introduz o conceito de "região" (ou "setting"), que define os espaços de
performance como "frente" (onde o ator se apresenta para o público) e "fundo" (onde ele se
prepara longe do olhar dos espectadores). Essa divisão permite entender como as pessoas
alternam entre momentos de "encenação" e de "preparação" ao longo de seu dia. Em um
ambiente público, por exemplo, um funcionário atua de maneira cortês com os clientes
(frente), enquanto em espaços privados relaxa, se permitindo ser mais espontâneo (fundo).

Capítulo VII: Conclusão

Na conclusão, Goffman retoma os conceitos apresentados ao longo do livro e reflete sobre


as implicações das performances sociais. Ele sugere que a vida em sociedade depende de
uma espécie de "contrato tácito" entre os participantes das interações, onde cada um
assume papéis e expectativas. O autor propõe que, embora as pessoas sejam conscientes
de que as interações sociais são "encenadas", elas se engajam nelas com sinceridade,
contribuindo para a coesão social. Goffman também discute as limitações desse modelo
dramatúrgico, admitindo que nem todas as interações podem ser completamente explicadas
por ele, mas ressalta sua eficácia para o entendimento de grande parte das situações
cotidianas.

Considerações Finais

A Representação do Eu na Vida Cotidiana é uma obra seminal que oferece uma perspectiva
única sobre a interação social. A abordagem dramatúrgica de Goffman, com seus conceitos
de fachada, controle da informação e definição da situação, revela a complexidade do
comportamento humano nas interações diárias. Com estilo analítico, Goffman consegue
transformar o que parece banal em uma análise rica das relações humanas, tornando sua
obra indispensável para a sociologia e para áreas afins que buscam entender o
comportamento social.

Resenha: Erving Goffman - "Manicômios, Prisões e Conventos"

Em Manicômios, Prisões e Conventos (1974), Erving Goffman examina o que ele define
como “instituições totais” — locais onde indivíduos são isolados do mundo externo e
submetidos a uma rotina controlada por regras rigorosas. O livro é uma análise profunda de
ambientes como manicômios, prisões, conventos, hospitais militares e orfanatos,
oferecendo uma perspectiva inovadora sobre as dinâmicas e os efeitos dessas instituições
na identidade dos indivíduos. Nesta resenha, abordaremos o Prefácio, a Introdução e a
seção "As características das instituições totais" (p.7-108), que são as bases centrais da
obra.

Prefácio

No prefácio, Goffman esclarece o contexto e as motivações para a elaboração do livro, fruto


de sua pesquisa etnográfica em uma instituição psiquiátrica. Ele apresenta as “instituições
totais” como espaços que se destacam por retirar dos indivíduos boa parte de sua
autonomia, forçando-os a adotar comportamentos que se conformem às normas
institucionais. Nesse sentido, o autor pretende estudar a “mortificação do eu”, ou seja, o
processo de perda da identidade individual que ocorre nesses lugares. Este conceito-chave
antecipa o foco da obra, que se concentra nos mecanismos de controle e submissão que
moldam os internos.

Introdução
Na introdução, Goffman descreve o conceito de “instituição total” e caracteriza essas
organizações como lugares em que os internos vivem e trabalham, com uma barreira física
e social que os separa do mundo exterior. Ele identifica diferentes tipos de instituições, cada
qual com finalidades específicas, que vão desde cuidados (hospitais) até reclusão e punição
(prisões), além de outras com fins religiosos (conventos). O ponto comum, no entanto, é a
imposição de uma estrutura rígida que reduz os indivíduos a papéis pré-definidos, limitando
suas identidades pessoais.

As instituições totais também se baseiam em uma “quebra” radical da vida anterior dos
internos. Goffman compara essa situação à de um “servidor” que precisa obedecer a uma
rotina e a regras impostas pelos “superiores” (funcionários da instituição). Essa dinâmica
resulta na desintegração da identidade dos internos, cujas liberdades são substituídas por
um regime de controle que busca moldá-los conforme os padrões da instituição.

As características das instituições totais (p. 7-108)

Goffman expande, neste capítulo, a análise das características específicas das instituições
totais. Ele argumenta que, nessas instituições, as atividades cotidianas dos internos (como
comer, dormir e trabalhar) são regulamentadas e supervisionadas, realizadas de acordo
com um cronograma rígido. Goffman divide essas atividades em "grupos” que se realizam
em espaços comuns e que integram todos os aspectos da vida dos internos sob um mesmo
controle.

Outro conceito central abordado é o da "mortificação do eu", ou a perda da identidade


pessoal, que Goffman descreve como um processo em que os internos são despojados de
sua individualidade. Esse processo inclui a imposição de uniformes, a restrição de objetos
pessoais e a sujeição a regras rígidas de comportamento. Ao conformarem-se às regras e
ao ambiente institucional, os internos acabam moldados à imagem da instituição, perdendo
traços de sua própria identidade. Esse processo é agravado pela divisão entre "grupos de
trabalho" (funcionários da instituição) e "grupo de internos", criando uma hierarquia onde os
funcionários exercem poder absoluto.

Goffman também explora como os internos reagem a essa perda de identidade, adotando
estratégias de resistência ou conformidade para sobreviver à vida institucional. Algumas
dessas estratégias incluem o “público privado” (mantendo aspectos de sua vida pessoal
ocultos) e o “papel secundário” (adaptação às regras como forma de proteção). Esses
mecanismos representam as tentativas dos internos de preservar um mínimo de autonomia
em um ambiente que busca restringir completamente suas liberdades.

Considerações Finais

Manicômios, Prisões e Conventos é uma análise crítica das instituições totais e dos efeitos
psicológicos devastadores que elas podem ter nos indivíduos. Goffman utiliza uma
abordagem etnográfica rigorosa para mostrar como a identidade pessoal é desconstituída e
remodelada em ambientes institucionais, destacando a importância da autonomia individual
e da preservação da dignidade humana. Sua análise sobre a “mortificação do eu” traz
reflexões valiosas sobre os limites do poder institucional e as formas de resistência dos
internos, e permanece como uma leitura essencial para quem busca entender as dinâmicas
de controle e resistência nas instituições sociais.

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