Aplicação Do Modelo SWMM para Análise de Alagamento de

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ISSN 1980-0827 – Volume 19, Number 6, Year 2023

Aplicação do modelo SWMM para análise de alagamento de túnel


urbano na cidade do Recife – PE

Maria Angélica Veiga Da Silva


Mestre em Engenharia Civil, POLI-UPE, Brasil
[email protected]

Willames de Albuquerque Soares


Professor Doutor em Tecnologias Energéticas e Nucleares, POLI-UPE, Brasil.
[email protected]

Marco Aurelio Calixto Ribeiro de Holanda


Doutorando em Tecnologias Energéticas e Nucleares, UFPE, Brasil.
[email protected]

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ISSN 1980-0827 – Volume 19, Number 6, Year 2023

RESUMO
Os alagamentos em centros urbanos têm sido recorrentes, principalmente em centros urbanos com um crescimento
desordenado e uma rede coletora deficitária. Neste contexto, a cidade do Recife-PE apresenta uma vulnerabilidade
a alagamentos na ocorrência de precipitações moderadas e fortes. Deste modo, objetivou-se simular a inserção de
um reservatório de detenção no do Túnel da Abolição, situado em uma área central de Recife-PE, por meio de um
modelo hidrológico-hidráulico, avaliando seus efeitos na minimização dos alagamentos dentro do túnel, a partir de
eventos de precipitação ocorridos na cidade. Para isto foram obtidos, junto a Prefeitura do Recife, os dados do sistema
de microdrenagem do local e definidos os parâmetros e variáveis necessários para a simulação hidráulico-hidrológica,
tais como: delimitação e caracterização das áreas de contribuição, chuva de projeto e curva de maré. Posteriormente
foi realizada a calibração e a validação do modelo, que gerou resultados satisfatórios, com erros inferiores a 10%.
Entretanto, o local de estudo apresenta uma condição de escoamento desfavorável, o sistema de drenagem
concentra a água pluvial captada para o interior do túnel e a implantação de um reservatório de detenção, apesar de
diminuir volume e altura no ponto de controle, não é resolutiva. Por conta disso, sugeriu-se um sistema de
monitoramento como proposta para antecipar as possíveis falhas do bombeamento e evitar os alagamentos.

PALAVRAS-CHAVE: Escoamento superficial. Modelagem hidrológica. Susceptibilidade urbana.

1 INTRODUÇÃO

O novo Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da


Organização das Nações Unidas (IPCC, 2022), afirma que em um cenário mundial as populações
urbanas tiveram um aumento de mais de 397 milhões de pessoas entre 2015 e 2020, com mais
de 90% desse crescimento ocorrendo em regiões menos desenvolvidas. O World Resources
Institute Brasil (WRI, 2015), publicou em seu Manual de Desenvolvimento Urbano Orientado ao
Transporte Sustentável (DOTS) que a população de regiões menos desenvolvidas era afetada
por estar em áreas afastadas dos grandes centros urbanos, pelo fato de as cidades não serem
conectadas e por não disporem de um serviço de transporte coletivo de qualidade para o
deslocamento até os centros de interesse e o restante da cidade.
Miyamoto (2010) e Berglund et al. (2020) correlacionam o aumento da densidade
populacional com a necessidade de implantação de equipamentos de engenharia, como túneis,
pontes e viadutos e o uso de infraestruturas inteligentes que possibilitem um deslocamento
mais rápido das pessoas.
Segundo Medeiros (2019), o bom funcionamento de uma cidade depende dos
sistemas e infraestruturas, como por exemplo a rede de transportes, que permitem a
mobilidade de bens e pessoas, promovendo o acesso a saúde, trabalho, lazer, moradia, entre
outros, garantindo a vitalidade da própria cidade.
Para favorecer o tráfego das cidades é imprescindível que os Planos Diretores adotem
em seu planejamento uma infraestrutura urbana de qualidade para que a densidade gere
impactos positivos nas áreas urbanas e crie cidades mais prósperas e sustentáveis (WRI, 2015).
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) é importante salientar a
importância da pavimentação das vias urbanas como elemento de melhoria para a locomoção
nas cidades.
Para Mesquita e Lima Neto (2020) e Holanda e Soares (2019), que analisaram os
impactos da impermeabilização do solo na hidrologia de uma bacia hidrográfica urbana, foram
observados que a urbanização sem planejamento impacta diretamente na hidrologia, pois o
acréscimo da impermeabilização aumenta a quantidade e intensidade dos alagamentos e

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acentua o volume do escoamento superficial, podendo causar maiores transtornos à população


local e aos transeuntes. Barros (2005), por sua vez, afirma que o aumento gradativo do volume
de escoamento superficial para o mesmo índice de precipitações torna obsoleto o sistema de
drenagem projetado, impossibilitando o escoamento adequado das águas pluviais.
Além do aumento da impermeabilização do solo, fatores como o aumento da
temperatura da superfície global estão diretamente ligados ao aumento de precipitações
intensas em alguns locais e de períodos mais longos de seca em outros. Assim, diante das
projeções de volume e frequência dessas precipitações extremas, espera-se o aumento da
ocorrência de alagamentos (Duarte et al., 2021; Verçosa, 2019).
Estudo realizado por Wanderley et al. (2018) sobre a precipitação diária da cidade do
Recife demonstrou que todos os meses do ano são propícios a ocorrência de valores diários
extremos, acima de 50 mm de precipitação, sendo que o período entre março e agosto
apresentam maior probabilidade. Portanto, isso reafirma a suscetibilidade da área de estudo
aos eventos extremos de chuvas diárias e a relevância do assunto perante o planejamento do
sistema de drenagem da cidade.
Situações de alagamentos podem causar interrupções ou redução do desempenho nos
modos de deslocamento, podendo interferir direta ou indiretamente no padrão de
comportamento da população e na distribuição de insumos e serviços em uma cidade,
notadamente nas regiões metropolitanas que são as mais vulneráveis, pois concentram a
maioria dos transportes coletivos e individuais, e onde vive o maior percentual da população
(IDTP, 2017).
As soluções de drenagem do sistema tradicional geralmente transferem o problema
de alagamentos para as áreas jusantes, acelerando o escoamento da água pluvial. Assim desde
a década de 70 houve um avanço na busca e emprego de soluções alternativas, entre elas as
chamadas “técnicas compensatórias”. (Baptista et al., 2015). O uso de técnicas compensatórias
podem ser opções válidas para reduzir a vazão e consequentemente os alagamentos. ( Kändler,
et al., 2022; Zhu et al., 2019).
Um meio de se avaliar o desempenho dessas soluções alternativas, antes de sua
implantação, é a utilização de modelos hidrológicos e hidráulicos (Holanda et al., 2020; Monteiro
et al., 2021). A utilização de modelos hidráulicos e hidrológicos possibilitam tanto a verificação
do redimensionamento dos sistemas de drenagem, quanto da simulação do emprego de
técnicas compensatórias, representando uma ferramenta fundamental na gestão dos recursos
hídricos (Parisi et al., 2020).
Um dos modelos hidrológicos que vem sendo largamente utilizado ultimamente para
prognóstico dos efeitos da impermeabilização, causada principalmente pela urbanização, e para
simulação de alternativas para reestabelecer condições ambientais mais favoráveis é o modelo
Storm Water Management Model (SWMM). Segundo Lewis e Michelle (2022) o SWMM é um
modelo dinâmico de simulação de chuva-escoamento usado para simulação de evento único ou
de longo prazo (contínua) da quantidade e qualidade do escoamento principalmente de áreas
urbanas.
Nesse contexto, objetivou-se inserir o sistema de drenagem existente do túnel urbano
de uma cidade costeira e plana impactado pela precipitação e pelo nível da maré, através da
utilização do modelo hidrológico e hidráulico, SWMM, e avaliar o comportamento da drenagem

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do local de estudo observando se os resultados simulados foram condizentes com os resultados


observados e propor, a partir desse modelo, uma solução para minimizar os efeitos de
alagamento.

2 METODOLOGIA

2.1 Caracterização da área de estudo

A Cidade de Recife está localizada no estado de Pernambuco na região nordeste do


Brasil. Possui uma população estimada em 1.653.461de habitantes e uma área de 218,5 km²,
ocupando o nono lugar do ranking dos municípios mais populosos do estado. É uma cidade
litorânea constituída geologicamente por rochas sedimentares e com o relevo composto por
uma planície rodeada por morros. Apresenta um clima tropical quente e úmido, com alta
pluviosidade no período chuvoso compreendido entre os meses de março a agosto e com
pluviosidade máxima de 391 mm no mês de junho. Apresenta um processo de urban ização
desordenado, com a ocupação de locais impróprios para a habitação, tais como áreas
inundáveis, de morros e de encostas e possui sistemas de drenagem vulneráveis às oscilações
das marés (IBGE, 2021; Silva Júnior et al., 2020; Verçosa, 2019).
Atualmente a cidade possui cinco túneis urbanos que são de extrema importância para
a locomoção dos habitantes na cidade, de modo que a interrupção do uso de algum desses
equipamentos afeta sensivelmente a mobilidade. A área de estudo específica é o túnel urbano
denominado de Túnel da Abolição, localizado na Rua Real da Torre e que passa sob a Rua Benfica
(Figura 1). Ele, que está sob a responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem de
Pernambuco (DER-PE), possui 287 m de extensão, 8,8 m de altura e é o mais recentemente
construído, tendo suas obras concluídas no ano de 2015.

Figura 1 – Formatação da margem do túnel

Fonte: Word, 2021.

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Observa-se na Figura 1 a localização do Túnel da Abolição e do Corredor Leste -Oeste,


com o Museu da Abolição situado ao lado do túnel e a praça João Alfredo logo acima dele. O
objetivo da construção do túnel foi eliminar um dos mais importantes cruzamentos da cidade, a
interseção do Corredor Leste-Oeste com a 2ª Perimetral, no sentido dos bairros da Torre para
Afogados, otimizando um dos principais pontos de retenção do corredor Av. Caxangá/Rua
Benfica, melhorando consideravelmente a velocidade média do tráfego misto e do corredor de
transporte da Av. Caxangá.
O citado túnel se diferencia dos demais por ter as contenções constituídas por estacas
secantes com 600 mm de diâmetro. Essa tecnologia foi escolhida pelo baixo nível de vibrações
emitidas, dado que nos arredores do local existem construções históricas, como o Museu da
Abolição, que dá nome ao túnel e que possui uma extensa área externa e de solo permeável. Na
parte superior e central do túnel foi implantada uma praça para integrar e humanizar os
arredores do Museu da Abolição.

2.2 Modelagem

A região de estudo foi dividida em duas áreas de contribuição definidas a partir dos
dados disponibilizados na plataforma eletrônica - Portal de Informações geográficas da cidade
do Recife (Prefeitura do Recife – ESIG) que fica sob responsabilidade da Autarquia de
Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (EMLURB), no qual pode-se extrair a planta da cidade
em ambiente CAD e as informações de drenagem. A rede possui informações quanto à
localização dos poços de visita (PV) e suas cotas, além das dimensões e comprimentos das
galerias. Apesar disso, tendo sido constatada a ausência de alguns desses dados, estes foram
estimados e replicados por semelhança. Outras informações sobre o projeto da drenagem
interna do Túnel da Abolição foram extraídas do seu projeto executivo ( Governo do Estado de
Pernambuco, 2012).
Para os dados pluviométricos foram utilizadas as informações aferidas pela estação
pluviométrica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
(CEMADEN), localizada no bairro da Boa Vista, distante 1,5 Km do túnel. Para as informações da
tábua da maré foram utilizados os dados disponibilizados pela Diretoria de Hidrografia e
Navegação da Marinha do Brasil (DHN). De posse dos dados, dois eventos pluviométricos foram
utilizados na calibração e validação do modelo. Para essa calibração foram reajustados os
parâmetros: 1) coeficiente de rugosidade de Manning para os condutos, 2) altura da camada de
sedimento depositado nos condutos e 3) área alagada no nó de controle, para simular com a
capacidade hidráulica da rede instalada mais próxima à realidade. Após a calibração, foi
realizada a validação do modelo com a utilização de outro evento pluviométrico e
posteriormente verificada a possibilidade de adoção de uma bacia de detenção na área de
estudo para mitigar os alagamentos.

3 RESULTADOS

3.1 Precipitação e maré

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O evento de precipitação que foi utilizado para a calibração ocorreu no dia


13/06/2019, causando vários transtornos à população da Cidade do Recife. No período de 24 h,
entre os dias 13 e 14 de junho, o CEMADEN registrou um total de 149,20 mm de precipitação
sobre o Recife, sendo o sexto maior valor acumulado de chuva em 24 h para o mês de junho
desde 1961. Essa precipitação corresponde a 38% da média de chuva esperada para este mês
(391 mm). Um segundo evento de precipitação foi utilizado na análise. Este, ocorreu entre em
14/01/2022, com um volume acumulado de 91,16 mm e que também causou alagamentos em
vários pontos da cidade e também no Túnel da Abolição. As Figuras 2 e 3 demonstram a relação
de precipitação e maré por intervalos de horas, nos respectivos eventos.

Figura 2 – Relação precipitação versus maré no dia da precipitação de 13/06/2019


25 Precipitation 3

Amplitude da maré (mm)


Tide
20
Precipitação (mm)

2
15

10
1
5

0 0
11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00
Tempo (h)

Figura 3 – Relação precipitação versus maré no dia da precipitação de 14/01/2022

40 Precipitation 2,5
Tide
Amplitude da maré (mm)

2
Precipitação (mm)

30

1,5
20
1
10
0,5

0 0
03:00 04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00
Tempo (h)

Conforme mostra a Figura 2, referente ao evento do dia 13/06/2019, houve um


período de oito horas de precipitação ininterrupta, totalizando 142 mm, e no meio deste
período, a maré atingiu uma altura máxima de 2,50 m. Para o evento do dia 14/01/2022, a Figura
3 mostra que houve uma concentração pluviométrica maior da entre as três e as seis horas,
tendo sido aferido um total de 61,05 mm. No horário de maior precipitação a maré estava com

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altura de 1,50 m, e apesar do intervalo sem chuvas entre as 7 h e 00 min e 11 h e 00 min, a


precipitação retornou por volta das 12 h, coincidindo com a subida da maré.

3.2 Rede de Drenagem existente

Na Figura 4 são apresentadas a imagem do Túnel da Abolição (A) e o traçado da rede


de drenagem do local de estudo (B), respectivamente.

Figura 4 – A) Imagem do Túnel da Abolição e B) sua traçado da rede de drenagem

O Túnel da Abolição, Figura 4A, apresenta uma cota muito inferior, quando comparada
ao nível das ruas adjacentes, Figura 4B. O traçado em destaque representa o coletor tronco
principal, que possui 600 mm de diâmetro e que se inicia na Rua Real da Torre e segue até o seu
exutório no canal existente na Rua João Ivo da Silva, recebendo a contribuição da rede coletora
proveniente da Rua Hercílio Cunha.
Pelo fato do túnel se encontrar em cota mais baixa, foi necessário adotar um sistema
de bombeamento para o redirecionamento das águas acumuladas, representado na Figura 5,
em projeção horizontal.

Figura 5 – Esquema de Drenagem do Reservatório do Túnel da Abolição

No ponto mais baixo da pista foi construído um esquema de drenagem com função
dupla de condução e armazenamento das águas acumuladas, através de tubulações de concreto
com diâmetro constante igual a 1,5 m e que possui uma capacidade de 265 m³ de

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armazenamento. Atualmente há duas bombas de recalque seis cavalos e mais uma bomba
reserva de quatro cv. No entanto, por conta de constantes furtos de fiação e outros intrínsecos
à rede elétrica de alimentação, o funcionamento das bombas acaba não sendo efetivo, e n a
ocorrência de chuvas, o sistema não atua satisfatoriamente no escoamento a água, resultando
no alagamento do túnel.
Ademais a praça situada na parte superior e central do túnel, que é constituída por
sete canteiros elevados com grama que são intercalados por áreas gradeadas para iluminação e
ventilação, também contribui para essa situação, conforme ilustrados pela Figura 6.

Figura 6 – Detalhe das áreas abertas para ventilação e iluminação (A) e interior do túnel em período de chuva (B).

Em períodos de precipitação, os canteiros acumulam água e as direcionam para o


interior do túnel, que caem em cascata pelas aberturas gradeadas, dificultando, em momentos
de maior vazão, a mobilidade dos transeuntes.

3.3 Aplicação do modelo SWMM

Para simular o funcionamento atual do sistema de drenagem foram consideradas e


inseridas as áreas de contribuição e o sistema de drenagem no software SWMM, Figura 7.

Figura 7 – Imagem do interior do túnel, do dia 13/06/2019, e Representação das áreas de contribuição, do ponto de
controle e da bacia de detenção

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A inserção do modelo no software SWMM tem como objetivo representar o


funcionamento atual do sistema de drenagem, considerando as inundações na Junção "Nó 13"
definido como ponto de controle. Nele o parâmetro para o volume máximo de alagamento
simulado seria compatível com o observado e calculado no local durante os eventos de chuva,
sem considerar a existência das bombas, já que em ambos os eventos elas estavam fora de
funcionamento.
Este mesmo procedimento também havia sido adotado por outros autores que
estudaram problemas de alagamentos no Recife como Silva (2018), que utilizou a modelagem
hidrológica- hidráulica para atenuação de alagamentos no entorno da Escola Politécnica de
Pernambuco; Oliveira (2017), que estudou as alternativas compensatórias para drenagem
urbana em um ponto crítico da cidade do Recife; Silva Júnior, Silva e Cabral (2014), que
estudaram alternativas compensatórias para o controle de enchentes em áreas urbanas com
influência das marés em Recife; Silva Júnior (2015) que estudou alternativas para controle de
alagamentos em localidade do Recife-PE e Silva e Cabral (2014), que estudaram sobre a
atenuação de picos de vazão em área problema, realizando um estudo comparativo de
reservatórios de detenção em lote, em logradouros e em grande área da bacia.
Tanto para calibração quanto para a validação do modelo, foram observadas as alturas
d'água em fotos e vídeos durante os alagamentos ocorridos nos eventos de precipitação e, a
partir daí, foram aferidas in loco as alturas desses alagamentos no ponto de controle.
No dia 13/06/2019, evento utilizado para calibração do modelo, obteve -se a partir dos
registros fotográficos e da planta da cidade em ambiente CAD uma área aproximada de
alagamento de 917 m². A altura máxima de lâmina d’água de 0,50 m no ponto de controle foi
verificada através dos registros fotográficos e confirmada in loco. Para definição do volume de
alagamento, considerou-se a equivalência entre a área de alagamento delimitada (917 m²) e a
máxima altura da lâmina d’água observada (0,50 m) no ponto de controle, replicando a lâmina
d’água no projeto topográfico de perfil do túnel, cujo produto entre estes fatores resulta, em
termos estimativos, no volume alagado, que somado ao volume dos condutos de
armazenamento (265 m³) resultou em um volume total estimado de 621 m³.
A seguir, na Tabela 1, apresentam-se os principais resultados obtidos para a calibração
e validação do modelo.

Tabela 1 – Principais resultados obtidos para a Calibração e Validação do modelo


Calibração – evento de 13/06/2019 Validação – evento de 14/01/2022
Erro Erro
Aspectos Observado Simulado Relativo Observado Simulado Relativo
(%) (%)
Lâmina Máxima de alagamento
(m) 0,50 0,50 0,00% 0,45 0,49 8,89%
Volume máximo de alagamento
(m 3) 621 614 1,14% 585 540 -7,72%
Escoamento
Erros de - - - -
superficial 0,00% 0,00%
Continuidade
Propagação
para: - - - -
da vazão 1,01% 1,17%

Conforme apresentado na Tabela 1, durante a calibração conseguiu-se alcançar uma

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altura de alagamento simulada de 0,50 m no ponto de controle (Nó 13) e um volume máximo
de 614 m³, apresentado respectivamente erros de 0% e 1,14% para esses parâmetros. No
término da etapa de calibração obteve-se um erro médio de continuidade para escoamento
superficial de 0,00% e 1,01% para propagação de vazão. Após a calibração partiu-se para a
validação com a chuva do dia 14/01/2022, sendo utilizada a mesma modelagem definida na
calibração, ou seja, sem alterar os parâmetros físicos do modelo, modificando apenas a série de
precipitação e a curva de maré para os dados aferidos para este dia. Obteve -se erros relativos
de 8,89% para altura do alagamento, visto que a lâmina foi 0,04 m maior que o observado e -
7,72% para o volume máximo gerado, visto que o volume de alagamento foi 45 m³ menor que
o observado. Além disso apresentaram erro médio de continuidade para escoamento superficial
de 0,00% e 1,17% para propagação de vazão.
Os trabalhos citados anteriormente de Silva (2018), Oliveira (2017), Silva Júnior et al.
(2017), Silva Júnior (2015) e Silva e Cabral (2014), adotaram como admissível o limite de 10%
para distorções. Diante disso, pode-se constatar que a qualidade da calibração e validação foram
satisfatórias, com erros inferiores ao limite dos 10% tanto entre altura e o volume do
alagamento, quanto para a continuidade (escoamento superficial e propagação de vazão.

3.4 Avaliação da utilização da técnica compensatória

O Túnel da Abolição já apresenta em seu projeto uma medida de controle na fonte que
é a adoção de condutos de armazenamento, cuja função é de retenção e condução das águas
captadas para um poço de bombeamento, de onde a água é direcionada para seu exutório.
Nesse contexto, foi simulada a inserção de uma bacia de detenção ao lado do túnel, no terreno
do museu, bem como apresentado na Figura 7.
Como a área de estudo está situada ao lado de um Museu, o qual possui uma extensa
área externa permeável, o local do anfiteatro (uma área circular rodeadas de degraus a céu
aberto), poderia funcionar como uma bacia de detenção e parte da água captada na área de
contribuição 1(Ac1), a qual antecede o Túnel, seria conduzida para essa bacia de detenção.
A seguir, na Tabela 2, está exposto o comparativo dos resultados para a precipitação
ocorrida no dia 13/06/2019 com e sem a implementação da bacia de detenção proposta.

Tabela 2 – Comparativo entre os resultados obtidos para os eventos de precipitação do dia 13/06/2019 sem e com a
Bacia de detenção
Sem bacia Com a Diferença
Aspectos de bacia de Relativa
detenção detenção (%)
Lâmina Máxima de alagamento (m) 0,50 0,43 -14,00%
Volume máximo de alagamento (m 3) 614 506 -17,66%
Duração do alagamento (h) 10,79 9,90 -8,25%
Escoamento
0,00% 0,00% -
Erros de superficial
Continuidade para: Propagação da
1,01% 0,38% -
vazão

Como resultados da simulação, apresentados na Tabela 2, observou-se que a lâmina


máxima de alagamento e o volume máximo de alagamento diminuíram respectivamente 14,00%

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e 17,66% para o evento de precipitação do dia 13/06/2019. Além disso, houve um decréscimo
no tempo de alagamento de uma hora em relação aos cenários sem e com a bacia de detenção.
No entanto, mesmo com a adoção da bacia de detenção, as simulações apontaram que a adoção
da técnica compensatória não seria suficiente para resolver o problema do alagamento, tendo
em vista que a altura da lâmina d’água no ponto de controle chegaria a 0,43 m, altura suficiente
para cobrir o pneu de um carro de passeio, indicando que o emprego dessa medida não é o mais
adequado para resolução do problema.
Considerando que o perfil do túnel apresenta cota muito inferior ao nível das ruas
adjacentes, ele próprio funciona como um reservatório e, mesmo com um volume menor, a
água acumulada ainda apresenta uma lâmina alta que inviabiliza o seu uso. É necessário,
portanto, um sistema de bombeamento com maior eficiência e eficácia, com monitoramento
do nível dos reservatórios para onde a água é escoada e controle remoto das bombas de
recalque dos túneis para que elas sejam acionadas quando atingirem níveis elevados de
acúmulo. Além disso, é importante um sistema de monitoramento permanente para o caso de
falhas nas bombas, visando que falhas de funcionamento sejam percebidas com antecedência e
possam ser resolvidas antes de potenciais situações de alagamentos.

3.5 Análise financeira

Para complementação do estudo, foi realizada uma análise financeira reajustando o


valor da licitação realizada em junho de 2020 (Governo do Estado de Pernambuco, 2020) para a
implantação de sistema de monitoramento de um túnel da cidade do Recife. O resultado
alcançado na análise totalizou, em valores atuais, R$ 314.133,63.
Para implementar este sistema, é necessário um painel para o acionamento das
bombas de drenagem por soft-starter ou inversores. O controle de partida das bombas é
realizado por transmissores de nível ultrassônicos e acionado de acordo com o nível dos
reservatórios através de um controlador lógico programável (CLP). O CLP vem com um modem
GSM (Sistema Global de Comunicações Móveis) incorporando, dessa forma, os dados das
bombas e níveis dos reservatórios que são transmitidos para um servidor. Com esses dados
chegando ao cliente é possível monitorar o status das bombas, níveis dos reservatórios, histórico
de alarmes e tendências via telas gráficas.

4 CONCLUSÕES

Durante o estudo do local, foi verificado que ele apresenta uma condição de
escoamento desfavorável, devido ao sistema de drenagem subterrâneo concentrar toda a água
pluvial captada para o interior do túnel, decorrente de princípios de concepção do projeto. Além
disso, há dependência do sistema de bombeamento para o escoamento da água, que se
apresenta vulnerável e não possui um sistema de controle que informe com antecedência
possíveis falhas. Demonstrando que o dimensionamento do sistema de drenagem conceb ido e
a falta de monitoramento podem ser uma das causas dos recorrentes alagamentos na área
estudada.

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Os cenários simulados no SWMM se apresentaram aderentes ao retratar a rede de


drenagem existente da área de estudo, portanto, as análises quantitativas apresentadas
exprimem a realidade do sistema. Com a simulação de implantação de uma bacia de detenção
que receberia o volume de água captado da área de contribuição Ac1, foram verificados a
redução do volume e da altura de alagamento no ponto de controle, além da diminuição em
10% do tempo de alagamento, porém insuficientes para resolver o problema do túnel de forma
que evitasse a sua interdição.
Para efetiva resolução do problema de alagamento, sugere-se a adoção de um sistema
de monitoramento em tempo real para controle do sistema de bombeamento do túnel. Ainda
assim, vale salientar que um sistema deste tipo ainda seria sensível a falta de energia, além do
que a cidade é alvo constante de atos de vandalismos e furtos, o que também pode interromper
esse monitoramento.
Reforça-se ainda a importância do correto dimensionamento de projetos, onde haja
uma interligação entre as disciplinas de arquitetura, infraestrutura e drenagem. Há uma série
de instrumentos legais que orientam sobre a questão das águas pluviais. Além disso, a utilização
de modelos hidráulicos e hidrológicos podem possibilitar a verificação do dimensionamento dos
sistemas de drenagem, inclusive com a simulação de emprego de técnicas compensatórias.

5 REFERÊNCIAS

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