Odayr Olivetti - Nova Versão Internacional Da Bíblia em Por

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 9

1

NOVA VERSÃO INTERNACIONAL DA BÍBLIA EM PORTUGUÊS:


RESUMO INFORMATIVO1

Rev. Odayr Olivetti, Ministro jubilado da Igreja Presbiteriana do Brasil, foi pastor de várias
igrejas e professor de Teologia Sitemática no Seminário Presbiteriano de Campinas. É autor
de alguns livros e tradutor de inúmeras obras cristãs. Reside em Águas da Prata, SP.

A mais comum pergunta que nos fazem, com relação à produção de uma nova versão da
Bíblia é: "Por que mais uma?" É razoável a pergunta, pois não são poucas as traduções da
Bíblia para o português. Não trataremos disto aqui; há obras acessíveis, com preciosas
informações a respeito.2 Anotamos neste contexto somente os seguintes pontos: 1. falando
em termos gerais, as versões mais utilizadas em nossas igrejas são revisões da Versão de
Almeida, com maior ou menor esforço para atualização; 2. as versões mais características
são lavradas em linguagem excessivamente popular (A Bíblia na Linguagem de Hoje) ou
excessivamente livre (A Bíblia Viva, que é apresentada explicitamente como uma paráfrase
da Bíblia), ou são traduções de traduções (e. g., A Bíblia de Jerusalém, edição em português
de uma "tradução francesa publicada na Bélgica").3

I. RAZÕES QUE JUSTIFICAM UMA NOVA TRADUÇÃO DA BÍBLIA

Retornemos à pergunta: "Por que mais uma tradução da Bíblia?" Certamente há mais de
uma resposta a essa pergunta, e com elementos que poderiam tomar amplo e longo espaço
deste artigo. Restringimo-nos a estas resumidas considerações:

A. Um dos propósitos das boas traduções é comunicar a verdade antiga em termos


compreensíveis para as novas gerações.
B. A língua do povo é dinâmica, não estática. A literatura acompanha, embora lentamente,
o dinamismo vívido, móvel e ágil da linguagem falada. Os clássicos da literatura são
reeditados com atualização ortográfica e com notas explicativas, semânticas e outras. – As
versões da Bíblia não devem fugir a esse desiderato.
C. Há sempre novas descobertas históricas e arqueológicas, com implicações filológicas.
Essas descobertas influem na terminologia de vários assuntos e no conhecimento e
interpretação de crenças, práticas e costumes. Tudo isso influi no trabalho do tradutor, com
vistas à fidelidade aos textos originais.
D. Nenhum trabalho é perfeito. Sempre há lugar para o aperfeiçoamento. Aqui vão três
fatos que dão testemunho disso: (1) a existência de comissões permanentes de revisão,
geralmente mantidas pelas sociedades bíblicas; (2) durante os trabalhos da Comissão de
Tradução da NVI em português, com freqüência alguém dizia: "Cada vez que volto ao texto
já trabalhado, encontro algo que poderia ser melhorado"; (3) a Comissão de Tradução da
NIV (em inglês), após a conclusão de seus trabalhos para a primeira edição, em 1978,
declarou que reconhecia a imperfeição de seu trabalho. 4 Por certo nenhum tradutor e
1
Texto originalmente publicado na Vox Scripturae, v. III, n. 2, 1993, p. 215-226.
2
Exemplos: John Mein, A Bíblia, como chegou até nós (vem até 1940, quando foi criada a Imprensa Bíblica
Brasileira); e o valioso opúsculo de Júlio Andrade Ferreira, Bíblia - Enigma da Literatura, que vem até 1982.
3
Júlio A. Ferreira, Bíblia - Enigma da Literatura (Campinas: Luz para o Caminho, 1985) p. 30.
4
Cf. The Story of the New International Version (Nova Iorque: New York International Bible Society, 1978)
p. 16.
2

nenhuma comissão de tradutores da Bíblia têm a pretensão de que seu trabalho é perfeito e
definitivo.
E. Cada versão e cada revisão das versões em uso presenteiam o público com contribuições
valiosas que grangeiam o reconhecimento e a gratidão de todos os interessados na
divulgação da Palavra de Deus. Mas todas as versões, traduções e revisões sempre deixam
algo a desejar, neste ou naquele aspecto. Recentemente um colega perguntou-nos: "Por que
outra versão? A Versão de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil, parece-me
suficientemente boa." Nossa resposta é que, de fato, a referida revisão de Almeida vem
prestando excelente serviço, fazendo jus à nossa mais profunda gratidão. Mas não deixa de
apresentar falhas e de conter textos cuja redação pode ser melhorada. Damos a seguir uns
poucos exemplos tomados ao acaso:

Atualizada NVI
João 8.42 Disse-lhe Jesus: "Se Deus fosse o Pai de vocês, vocês
Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse de fato vosso pai, me amariam, pois eu vim de Deus e agora estou aqui.
certamente me havíeis de amar; porque eu vim de Eu não vim por mim mesmo, mas ele me enviou".
Deus e aqui estou; pois não vim de moto próprio, mas
ele me enviou.
Efésios 1.13,14 [13] Nele também vocês foram selados com o
[13] em quem vós, depois que ouviste a palavra da Espírito Santo da promessa, quando vocês ouviram e
verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele creram na palavra da verdade, o evangelho que os
também crido, fostes selados com o Santo Espírito da salvou. [14] O Espírito Santo é a garantia da nossa
promessa; [14] o qual é o penhor da nossa herança até herança até a redenção do que pertence a Deus, para o
ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua louvor da sua glória.
glória.
Efésios 4.15 ... cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
A expressão "o cabeça, Cristo" vem num contexto em [16] de quem todo o corpo ...
que o apóstolo utiliza a figura do corpo para a igreja.
Cabeça aí representa o órgão vivo de governo vital do
corpo, não pura chefia [cf. 1.22, onde "o cabeça" é
correto (chefe de todas as coisas)].
Hebreus 3.6 mas Cristo é fiel como Filho sobre a sua casa; a qual
Cristo, porém, como Filho, sobre a casa de Deus; e somos nós, se guardamos firme até ao fim a ousadia e
esta casa somos nós, se nos apegarmos firmemente à a exultação da esperança.
confiança e à esperança da qual nos gloriamos.
Apocalipse 6.12 Observei quando ele abriu o sexto selo. Houve um
Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol escureceu como tecido de
grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina negra, toda a lua tornou-se vermelha como
crina, a lua toda como sangue, sangue,

Para a presente ocasião, damos aqui dois exemplos tirados do Antigo Testamento. O
primeiro apresenta vocábulos que favorecem associações inconvenientes; o segundo, por
seus termos e pelo emprego impróprio de uma adversativa, não foi entendido plenamente
por um homem de boa cultura geral e de escolaridade média. As passagens em apreço são
as seguintes:
3

Atualizada NVI
Gênesis 42.25; 44.12 Em seguida, José deu ordem para que enchessem de
Ordenou José que lhes enchessem os sacos de cereal, trigo suas bagagens, devolvessem a prata de cada um
e lhes restituíssem o dinheiro, a cada um no seu saco, deles, colocando-a nas bagagens, e lhes dessem
e os suprissem de comida para o caminho; e assim mantimentos para a viagem. E assim foi feito. ... O
lhes foi feito. ... O mordomo os examinou, administrador começou então a busca, desde a
começando do mais velho e acabando no mais moço e bagagem do mais velho até a do mais novo. E a taça
achou-se o copo no saco de Benjamim foi encontrada na bagagem de Benjamim.
Deuteronômio 21.15-17 Se um homem tiver duas mulheres e preferir uma
Se um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama delas, e ambas lhe derem filhos, e o filho mais velho
e outra a quem aborrece, e uma e outra lhe derem for filho da mulher que ele não prefere, quando der a
filhos, e o primogênito for da aborrecida, no dia em herança de sua propriedade aos filhos, não poderá dar
que fizer herdar a seus filhos aquilo que possuir, não os direitos do filho mais velho ao filho da mulher
poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferida, se o filho da mulher que ele não prefere for
preferindo-o ao filho da aborrecida, que é o de fato o mais velho. Ele terá que reconhecer o filho
primogênito. Mas ao filho da aborrecida reconhecerá da mulher que ele não prefere como filho mais velho,
por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo dando-lhe porção dupla de tudo o que possui. Aquele
quanto possuir, porquanto aquele é o primogênito do filho é o primeiro sinal da força de seu pai e o direito
seu vigor; o direito da primogenitura é dele. do filho mais velho lhe pertence.

Há na Atualizada textos que precisam ser melhorados, para fins de entendimento, de


fluência e de liturgia. Há textos bons - em grande proporção. E há textos ótimos; não há
como melhorá-los. Mas os dois primeiros casos justificam o esforço em prol de uma
tradução melhor.

F. "Por que mais uma versão?"- A Nova Versão Internacional não pretende ser apenas
"mais uma versão". Com modéstia, mas com convicção, alimentamos aspirações mais
elevadas. Esperamos que a NVI apresente algumas características próprias, que a distingam
das demais, e que venha a ocupar durante um período razoavelmente longo um amplo
espaço entre os povos de língua portuguesa, mormente o Brasil. As características próprias
poderão ver-se no decorrer deste ensaio, quando falarmos dos princípios, critérios e
métodos adotados.

I. PRINCÍPIOS NORMATIVOS

Registraremos aqui os princípios fundamentais que regem o trabalho de produção da Nova


Versão Internacional da Bíblia. Será uma seleção de pontos, mas abrangente. É importante
salientar que esses princípios não foram previamente estabelecidos em gabinete. Foram
surgindo naturalmente durante os trabalhos dos grupos envolvidos. Confirmando isto, na
relação abaixo vamos anotando os princípios que fomos encontrando na leitura dos
documentos publicados pela International Bible Society, que aceitou o desafio de patrocinar
o preparo e a publicação da nova versão. Aí vão os princípios:
A. Que se produza uma fiel tradução das Escrituras, na linguagem comum do povo.
B. Que os trabalhos e objetivos da nova tradução não estejam presos a interesses
denominacionais.
C. Que a nova versão seja resultado do trabalho colegiado de especialistas evangélicos
comprometidos com os fundamentos da fé bíblica, da fé cristã.
D. Que o objetivo seja não a produção de uma versão comprometida com alguma posição
particular, mas, sim, uma tradução por meio da qual a Bíblia fale, a seu modo, o que ela
quer falar.
4

E. Que os envolvidos nos trabalhos de tradução sejam pessoas que confiam na plena
autoridade e fidedignidade da Bíblia, reconhecida como a Palavra de Deus.
F. Que os tradutores não se prendam a um único método de tradução (concordância quanto
possível com a estrutura sintática do hebraico, aramaico e do grego, com maior ou menor
grau de literalidade; paráfrase, que preserva a substância do original expressa em palavras e
frases próprias do tradutor; e equivalência ou equivalência dinâmica, em que se procura
compreender bem o que o escritor bíblico quis dizer e colocar isso na linguagem atual do
vernáculo). Os tradutores da NVI são incentivados a um uso eclético dos diferentes
métodos - restringindo ao mínimo a paráfrase, aproveitando bem a equivalência funcional e
sempre tendo em vista a real e total fidelidade aos textos originais.
G. Que a linguagem dos textos seja igualmente apropriada para uso individual e para leitura
pública (uso pessoal e doméstico, e uso litúrgico).
H. Que se procure acompanhar a variedade de gêneros, estilos e níveis estilísticos presentes
nos originais bíblicos.
I. Que sejam dadas à nova versão formas de apresentação que facilitem a leitura, a
apreensão da natureza dos textos e sua compreensão (tipos legíveis; agrupamento de
versículos em unidades de períodos de oração ou parágrafos; uso de aspas para diálogos e
citações; adequação ao gênero ou estilo, como, por exemplo, nas relações genealógicas e
outras listas, nas saudações epistolares, na poesia; uniformidade nalguns casos, como nas
formas das notas de rodapé; uso variável, mas coerente e obedecendo a um claro e definido
critério, de tratamentos (2a. e 3a. pessoas, conforme os casos).
J. Mais que um princípio, uma prática que emergiu desde os primeiros encontros da
Comissão de Tradução, é o caráter espiritual do trabalho governando as pesquisas e
discussões técnicas. Isto favoreceu o desenvolvimento do espírito de comunhão – irmãos
pertencentes às mais diversas denominações evangélicas unidos com o mesmo propósito e
buscando juntos a iluminação do mesmo Espírito que inspirou os escritores da Bíblia.

III. NEW INTERNATIONAL VERSION E NOVA VERSÃO INTERNACIONAL

Como se relacionam os responsáveis pela produção internacional da nova versão e os


tradutores do Brasil? Muita coisa se poderia dizer a respeito, com um excelente saldo
positivo. Limitamo-nos aos pontos que consideramos os mais importantes.

A. As relações têm sido fraternas e cordiais, e de mútuo respeito e mútua consideração.


B. A Comissão de Tradução brasileira tem liberdade para não seguir rigorosamente a
versão em inglês, cuja primeira edição completa foi lançada em 1978, após dez anos de
trabalho realizado por uma comissão de especialistas e com a ajuda consultiva de
numerosos outros irmãos e irmãs competentes, de diversos países.
C. O que a Comissão de Tradução da NIV (em inglês) espera e recomenda aos brasileiros
pode resumir-se nos seguintes termos: que se valorize o esforço feito durante anos por um
grande número de cristãos especializados nas diversas áreas do saber humano e teológico e
desejosos de produzir uma versão da Bíblia fiel às Escrituras originais, fiel a Deus e
espiritualmente benéfica para o povo de Deus. Vem em apoio disso a declaração de James
R. Powell, ex-presidente da International Bible Society, que transcrevemos a seguir:

A NIV não tinha corporações poderosas que a sustentassem, nem ricos investidores
nem patronos especiais nem organizações bem equipadas - tinha apenas cristãos
5

comuns. Eles eram o povo de Deus que, na hora de Deus, estava atento e pronto.
Nesse sentido, a New International Version foi de fato um projeto de Deus. Suas
impressões digitais estão por toda parte, desde o sonho original até a publicação. Em
retrospecto, podemos verificar que Ele estava presente a cada passo do caminho -
reunindo as pessoas certas, provendo os recursos financeiros e nunca deixando o
sonho morrer.5 É justo, portanto, que aqueles irmãos esperem de tradutores doutros
povos que dêem atenção ao trabalho feito. Com base nisso tudo, aqueles irmãos
esperam dos tradutores brasileiros que estes não façam nem adotem mudanças
substanciais do texto e dos procedimentos sem levar em conta, antes, o trabalho
realizado pelos que produziram a versão inglesa; e que tenham bons motivos, boas
razões, para mudanças que façam ou pretendam fazer.

IV. O MANUAL DE TRADUÇÃO: EXCERTOS

Como diz o título desta parte, não vamos transcrever todo o texto do referido manual, mas
apenas os pontos e itens que julgamos principais e de maior interesse para o público.

A. Do Prefácio
"Os tradutores se basearão nos melhores textos disponíveis e consultarão especialistas em
tradução da Bíblia. Nenhum deles representará oficialmente um grupo eclesiástico em
particular, pois deseja-se evitar qualquer tendência denominacionalista. Todos eles
aceitarão a inspiração, a autoridade e a infalibilidade das Escrituras Sagradas, a Palavra de
Deus escrita. - Os objetivos da nova versão são a fidelidade aos textos originais e a clareza
necessária para a leitura pública e devocional, a memorização, a pregação e o ensino."

B. Da Introdução
"Este projeto é um esforço para tornar disponível uma tradução da Bíblia que incorpore o
texto melhor documentado, a tradução mais exata e o melhor estilo literário em prol de uma
comunicação eficaz. Este Manual de Tradução estabelece com clareza o critério de quão
dinâmica e literal deve ser a Nova Versão Internacional, que é uma versão fundamentada na
filosofia da tradução conhecida como equivalência funcional, isto é, fundamentada no
significado. Valendo-se desse critério deve-se considerar, por exemplo, a possibilidade de
se empregarem duas palavras em português sempre que uma só palavra não consiga
transmitir o significado total desejado pelo texto original."

C. Do Propósito (todos os itens)


"(1) A tradução será fiel à Palavra de Deus em cada detalhe, tal como aparece no texto mais
preciso das línguas originais das Escrituras. (2) A tradução refletirá claramente a unidade e
a harmonia dos escritos inspirados pelo Espírito Santo. (3) A tradução apresentará com
clareza quanto seja possível somente o que diz o original, sem acrescentar elementos
interpretativos injustificados. (4) A tradução será destinada a comunicar a verdade da
revelação de Deus tão eficazmente quanto seja possível aos leitores de língua portuguesa e
na linguagem do povo. (5) A obra terminada será adequada tanto para a adoração pública
como para o estudo da Palavra e para a leitura devocional. (6) O projeto será um esforço
cooperativo e representativo de modo que se possa aplicar a mais excelente erudição e a
5
Richard K. Barnard, God's Word in our Language - The Story of the New International Version (Colorado
Springs, CO: International Bible Society, 1989) 18.
6

versão fique o mais livre possível de preferências/tendências teológicas individuais dos


tradutores/revisores. Dessa forma, nas etapas iniciais se aplicarão à obra críticas
construtivas vindas de diversas fontes. Assim as igrejas estarão apropriadamente preparadas
para receber a nova tradução quando esta estiver à venda. (7) Todos os que vierem a ser
contratados para o projeto como tradutores/revisores não somente deverão ter os requisitos
necessários de erudição, mas também considerarão o trabalho como uma tarefa sagrada,
honrando a Bíblia como inspirada Palavra de Deus. Deles será exigido que afirmem
formalmente o que se declara no Pacto de Lausane I: 'Afirmo a divina inspiração, fidelidade
e autoridade de todas as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento como a única Palavra
escrita de Deus, sem erro em tudo o que afirma, sendo a regra infalível de fé e prática'."

D. Do Procedimento
"Os tradutores/revisores sempre levarão em conta os princípios da tradução e se
empenharão por exatidão, clareza e força de expressão. A unidade da qualidade e da
expressão torna obrigatório seguir as decisões já tomadas e registradas no Manual de
Tradução. Qualquer desejo/necessidade de se desviar destes princípios deve ser anotada na
margem para posterior discussão em reunião da Comissão de Tradução da Bíblia."

E. Dos Princípios
"(1) Texto - A NVI em português tomará como ponto de partida a NIV inglesa ... a fim de
aproveitar o excelente trabalho dos eruditos que participaram do projeto da NIV inglesa.
Entretanto, o propósito não será produzir uma tradução de uma versão inglesa, mas uma
tradução do texto original para satisfazer os interesses do mundo de língua portuguesa,
levando em conta os níveis de comunicação e a aceitação do leitor. (2) Nível de Exatidão
Literal - O propósito do projeto não é preparar uma tradução palavra por palavra, nem
tampouco uma paráfrase. Não se pode explicar em termos específicos a posição exata entre
os dois extremos. O que importa é expressar em bom português o pensamento do original. -
Ainda que a tradução de alguma passagem possa ser mais literal ou livre, se fará um
esforço para manter os conceitos e proteger o sentido do original, evitando acrescentar
idéias que não estejam nem nas palavras nem na sintaxe do original e que não possam ser
inferidas do contexto. - Uma compreensão do original é o primeiro passo no processo de
tradução. Em conformidade com isso deve-se levar em conta as idéias e o estilo de cada
livro ou autor em particular. (3) Nível Idiomático - Será feito todo o possível para se
alcançar um bom estilo de português. - O português moderno será normalmente empregado.
As orações longas do texto original deverão ser divididas e convertidas em unidades mais
curtas. Deve-se empregar a sintaxe grega, hebraica ou aramaica, caso haja paralelismo, em
um bom estilo em português; mas se não houver tal paralelismo, a sintaxe portuguesa mais
adequada ao significado do original será escolhida. - Os parágrafos também serão curtos...
– O tradutor/revisor deverá perguntar-se: 'Como digo isso em linguagem comum e
corrente?' 'Falamos dessa maneira hoje?' Além disso deverá ler as passagens em conjunto e
em voz alta para perceber a eufonia e a adaptabilidade para a leitura pública. (4)
Características Específicas do Idioma - Permitem-se 'a transposição de frases e orações';
'citação indireta em português' traduzindo 'citação direta'; o emprego de 'diversas formas
aceitáveis em português para dar variedade à tradução de tempos e modos verbais';
'sacrificar o valor da concordância em benefício do valor da comunicação'; preservando,
porém, 'se for possível, as palavras cheias de significado teológico, tais como: pecado,
graça, expiação, redenção e ressurreição'; 'a tradução das conjugações do verbo dizer não
7

será fixa'; 'as conjugações de valor sintático pronunciado devem ser cuidadosamente
representadas. Em alguns casos, porém, poderão ser trocadas por um ponto-e-vírgula'; no
caso de traduções alternativas, 'uma nota alternativa legítima poderá ser acrescentada',
como em João 1.26 (em água, com água); ocasionalmente 'vocábulos de importância'
poderão ter tradução diversa, como, por exemplo, 'crer em um versículo, e confiar em
outro'; para os nomes, será empregada 'a forma que se encontra na Versão Almeida Revista
e Atualizada (ARA)', anotando-se os casos em que isto não se dê. - Tudo subordinado à
condição de que seja preservada a fidelidade ao texto original."

V. PREFÁCIO DO NOVO TESTAMENTO EM PORTUGUÊS: EXCERTO

"... a Sociedade Bíblica Internacional reuniu um grupo de estudiosos evangélicos, de


diversas denominações, especialistas nas línguas originais e na língua pátria para produzir
um texto fiel e, ao mesmo tempo, contemporâneo. Além de se esforçar por alcançar uma
tradução acessível, a comissão formada procurou também esquivar-se da vulgaridade, dos
regionalismos, enfim, de tudo que possa empobrecer o texto. É com este espírito de
esperança que a Sociedade Bíblica Internacional tem a satisfação de colocar em suas mãos
o Novo Testamento na Nova Versão Internacional que pretende ampliar a corrente histórica
marcada por aqueles dentre o povo de Deus que têm se esforçado para fazer compreendida
a revelação divina na Bíblia Sagrada."

VI. TRADUTORES

A. Breve Nota Histórica


Nos termos do Dr. Russell P. Shedd., na reunião da Comissão de Tradução da Bíblia em
São Paulo, em 22 de junho de 1990, "tudo começou com o contato feito pela International
Bible Society com Edições Vida Nova, por meio do pastor William Stoll, há cerca de três
anos. Desde então o projeto tem caminhado, recebendo um tratamento mais cuidadoso e
intenso desde o fim de 1989". Nessa mesma reunião houve proveitosa discussão sobre
tradução do inglês ou dos originais grego, hebraico e aramaico, prevalecendo a idéia de
fazer-se tradução direta dos originais, usando-se a versão em inglês como roteiro digno da
mais atenta e séria consideração.

B. Participantes dos Primeiros Trabalhos e da Reunião de Junho de 1990


As primeiras pessoas envolvidas no Brasil com o projeto são: da parte da International
Bible Society, o Dr Eugene Rubingh; da parte do projeto brasileiro, o Dr. Russell P. Shedd
(diretor de Edições Vida Nova) e o Pr. Luiz Alberto Teixeira Sayão (coordenador do
projeto). A princípio foi feita uma tradução a partir do inglês, com o propósito de se
conseguir um texto sobre o qual fosse possível trabalhar. O Pr Adiel (metodista) e o Rev.
Márcio L. Redondo (batista) traduziram respectivamente o Novo e o Antigo Testamento.
Em seguida, o texto passou por vários revisores (das mais diversas denominações), que
deram suas sugestões tanto em nível exegético como estilístico. Da primeira reunião
organizada pela International Bible Society com o propósito de formar uma comissão de
tradução a partir dos originais, realizada em junho de1980, além do Dr. Rubingh, do Dr.
Shedd, do Pr. Sayão e do Rev. Márcio, participaram os seguintes irmãos: Ênio Mueller
(ministro luterano da IECLB no Rio Grande do Sul, professor de teologia em São Leopoldo
-RS), Antônio Gilberto (pastor das Assembléias de Deus, um dos principais líderes da
8

CPAD); Enéias Tognini (pastor presidente da Convenção Batista Nacional), Humberto


Gomes de Freitas (pastor presbiteriano [IPB], professor de hebraico no Seminário
Presbiteriano de Recife), Richard Julius Sturz (missionário das CBFMs, então professor de
teologia sistemática na FTBSP), Estevan F. Kirschner (então professor de teologia do Novo
Testamento no Seminário Bíblico Palavra da Vida) e Lourenço S. Rega (professor de grego
e ética, FTBSP), e Odayr Olivetti, que subscreve este artigo e que se ligou ao trabalho em
janeiro de 1990.

C. Participantes dos Primeiros Trabalhos e da Reunião de Junho de 1990


A primeira comissão ficou efetivamente assim composta: Coordenador: Luiz Alberto
Teixeira Sayão, pastor batista, bacharel em Lingüística e em Hebraico pela USP, e
mestrado na área de Hebraico (USP). Antigo Testamento: Carlos Oswaldo Cardoso Pinto,
pastor batista,
mestre e doutorando em teologia do Dallas Theological Seminary, diretor e professor de
exegese, grego e hebraico no SBPV (palavra da Vida); Humberto Gomes de Freitas, pastor
presbiteriano, mestre em teologia pelo Reformed Theological Seminary, professor de
hebraico em Recife. Novo Testamento: Estevan Frederico Kirschner, mestre em
hermenêutica e Ph.D. m Novo Testamento pelo London Bible College; Antônio Gilberto,
pastor das Assembléias de Deus, reconhecido líder e autor de diversos livros, diretor da
CPAD; Dr Rubens Damião, pastor presbiteriano independente, doutor em teologia.
Teologia Sistemática-Histórica: Ênio Ronald Mueller, pastor luterano da IECLB, mestre em
teologia e doutorando pelo Instituto Ecumênico de Pós-graduação em São Leopoldo (RS);
Richard Julius Sturz, da Missão Batista Conservadora, mestre em teologia pelo Eastern
Baptis Seminary, até recentemente professor titular de Teologia Sistemática na TBSP.
Teologia Prática: Abraão de Almeida, pastor da Assembléia de Deus, reconhecido líder e
autor de diversos livros, diretor do Departamento de Língua Portuguesa da Editora Vida em
Miami, EUA; Russell Shedd, da Missão Batista Conservadora, Ph.D. em teologia pela
Universidade de Edimburgo (Escócia), professor titular de Novo Testamento na FTBSP.
Língua Portuguesa (Estilística): Odayr Olivetti, pastor presbiteriano [IPB], autor e tradutor
de diversas obras. O Dr Rudi Zimmer, doutor em teologia pelo Concordia Seminary (EUA),
pastor luterano da IELB, inicialmente fez parte da comissão, mas não pôde permanecer
como membro, atuando apenas como consultor de aramaico.

Em 1992 foram acrescentados os seguintes componentes da Comissão de Tradução:


Randall K. Cook, pastor batista regular, mestre em missiologia e divindade, especialização
em hebraico, coordenador do curso de pós-graduação do SEBARSP; Paulo Mendes, pastor
batista independente, mestre pela FBTSP, professor no Seminário Batista Independente de
Campinas (missão sueca); Martin Weingaertner, pastor luterano da IECLB com estudos
complementares em Erlangen, Alemanha; Betty Bacon, missionária inglesa da UESA,
autora; e Carl Bosma, holandês, pastor da Igreja Reformada Holandesa, missionário na IPB,
atualmente professor no Calvin Theological Seminary em Grand Rapids, EUA.

CONCLUSÃO

Encerramos esta nota resumindo algumas experiências pessoais resultantes de contatos


pastorais:
9

• Um casal evangélico estranhou a preocupação com uma nova versão, mas reconheceu
que, nos primeiros contatos com a Bíblia, nenhum dos dois entendia bem a linguagem das
versões usuais.
• Uma jovem brasileira, recém-convertida, disse-nos que encontrara numa livraria uma
Bíblia em inglês cuja linguagem ela entendia com mais facilidade. Era a New International
Version.
• Conversando com um médico evangélico brasileiro sobre o projeto NVI, disse-nos ele que
quando esteve nos Estados Unidos conheceu a NIV, e daí em diante passou a fazer uso
habitual dessa versão. [Anos depois, dei um exemplar do NT/NVI ao referido médico, que
era professor de Escola Dominical, de uma classe de jovens. Passados não muitos dias, ele
me contou o seguinte: ‘Dei o NT a um jovem que fazia poucas semanas que freqüentava a
igreja. Pedi-lhe que lesse determinado trecho. Ele leu um pouco, parou e disse: "Ah, isto a
gente entende!"]
• Há pouco tempo um experimentado ministro evangélico perguntou-nos como a NVI
traduz Atos 8:9, e criticou a tradução de Almeida, que usa a expressão "praticava a
mágica", quando o correto seria "praticava a feitiçaria". Seu rosto iluminou-se quando lhe
dissemos que na NVI a tradução é nos seguintes termos: "Um homem chamado Simão
vinha praticando feitiçaria naquela cidade..."
• Quando a Comissão de Tradução, numa de suas reuniões, estava concluindo os trabalhos
de tradução do Novo Testamento, em um dado momento alguém solicitou que fosse feita
uma leitura solene de parte do capítulo 6 de Apocalipse. Durante a leitura houve perceptível
elevação do ambiente, ficando a atmosfera impregnada de uma sensação de temor e
reverência.

Tais experiências, entre outras, reforçam a convicção de que a Nova Versão Internacional
será um instrumento do Espírito de Deus para comunicar bênçãos a muitos. Assim seja!

Você também pode gostar