Marcela Sobre Ira Silva
Marcela Sobre Ira Silva
Marcela Sobre Ira Silva
Resumo:
Banca examinadora:
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
À Professora Sílvia por possibilitar, no percurso da graduação, o contato com o bairro Lindéia,
fonte de questionamentos e indagações para a psicologia. Pela orientação deste trabalho e
esclarecimentos necessários a um caminho por vezes obscuro e difícil.
À Professora Fabiana Campos - encontro que marcou este curso - pela psicologia que revela,
pelos ensinamentos de pesquisa e metodologia, pela fé no homem, na sua capacidade de
transformação e pela incessante e positiva condição de se indignar.
Aos colegas da Administração, Economia, Ciências Sociais, Letras e Psicologia que, compondo
este grupo de pesquisa, revelam sua harmonia nas diferenças. Às Professoras Maristela e Rita -
figuras importantes na constituição do grupo e execução da pesquisa.
À turma da Psicologia - presença durante grandes momentos do curso – Aline, Ana Carolina,
Andréia, Juliana, Joziane, Luciana, Marcelo, Maria e Neila, pela construção de uma psicologia
possível movida pela necessidade de desvendar “aonde nasce a fonte do ser”.
Ao Zélio, pela história que me concede e consente contar, pela pessoa que se tornou, pela vida
que construiu e pelo encontro que possibilitou. Por me ajudar a pensar a psicologia e por me
ceder seu jeito de ser humano.
Aos meus pais [Marcelo e Inêidina], irmãos [Rodrigo, Flávio, Saulo] e Wendell - origem de mim,
histórias sem fim.
A todos eles, simplesmente porque a produção individual sempre é, antes de tudo, social.
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"Não entendo a existência humana e a necessária luta para fazê-la melhor, sem
esperança e sem sonho (...) Não sou esperançoso por pura teimosia, mas por
imperativo existencial e histórico”.
Paulo Freire
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................08
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................39
6. REFERÊNCIAS........................................................................................................................41
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1. INTRODUÇÃO
Neste momento, a autora aponta para uma diferença que Vigotski elabora entre fato real e
fato científico, concepção esta que compreende que o processo de conhecimento implica em
apreender apenas signos do objeto e nunca a materialidade em si. Como produto do pensamento e
do conceito, o material científico é mutável e, no caso da psicologia, revela a crise causada, ora
pela fragmentação, ora pela junção de conceitos e epistemologias irreconciliáveis, que resulta em
problemas de pesquisa mal fundamentados e/ou equivocados. Ao explicitar a apropriação
mediada e pouco legítima que a ciência psicológica russa faz das idéias de Marx, a autora ressalta
ainda que Vigotski objetivava a redefinição dos problemas da psicologia, a partir de uma base
epistemológica bem definida e delimitada.
Por isso, o ecletismo e a miscelânea de conceitos e termos heterogêneos da psicologia são
considerados por Vigotski (1927/2004) como uma postura ingênua e pouco científica de alguns
profissionais que ignoram a incompatibilidade entre as bases filosóficas e epistemológicas das
diferentes elaborações teóricas. Tal postura, causada pela variabilidade no campo da psicologia,
revela uma tentativa inconseqüente de elaborar uma ciência geral com a adesão e aceitação de
todos os conhecimentos produzidos, ignorando as diferenças básicas e essenciais entre esses
conhecimentos.
Para Vigotski (1927/2004), a inexatidão teórica e a superposição de diferentes idéias
conduzem a uma posição não-crítica do psicólogo que se propõe a estudar e a conhecer “tudo”,
mas que, nessa proposição, acaba por não compreender “nada”. O autor ressalta ainda o cuidado
que todo psicólogo deve ter com a linguagem utilizada, pois cada terminologia representa a base
teórico-científica que a sustenta e, nesse sentido, os psicólogos têm demonstrado
das bases materialistas mecanicistas que predominam no campo do conhecimento e das ciências,
ora das concepções idealistas e introspeccionistas sobre o homem.
No ocidente, essas diferentes influências tornaram-se a base para a definição de três
principais escolas que disputavam o campo psicológico: a introspeccionista, representada por
Wundt (1832-1928), propunha a descrição dos fenômenos da consciência através da análise de
seus elementos constituintes, a gestaltista propunha uma análise holística dos fenômenos
psíquicos e contava com a colaboração de Wertheimer (1880-1943), Koffka (1871-1946) e
Kohler (1887-1946) e a funcionalista que, por sua vez, contrapunha essas tendências
introspeccionistas e foi a linha em que se manifestou a revolução behaviorista nos EUA. Nesse
sentido, Sirgado (1995) considera que a tendência funcionalista constituía um retorno ao modelo
estímulo-resposta (S-R), descartando a análise científica dos fenômenos da consciência e dos
processos mentais, sem abordar, entretanto, os processos neurofisiológicos, campo desenvolvido
pela reflexologia pavloviana, na qual Watson fundamentou sua base.
A propósito, a crítica de Vigotski (1927/2004) à reflexologia pavloviana é pontual e ressalta
sua oposição à utilização de uma ciência positivista e mecanicista para o conhecimento do ser
humano. Segundo o psicólogo russo, a tentativa dos funcionalistas de realizar uma análise
objetiva do psiquismo reduziu a complexidade humana a processos de condicionamento baseados
e equiparados à psicologia animal. Nesse sentido, Vigotski não concorda que a psicologia deve
compreender o “simples”, ou seja, o funcionamento animal, para, posteriormente, assimilar
processos complexos do ser humano, pois, sobre a reflexologia, considera que
esse é um dos possíveis caminhos metodológicos, e há uma série de ciências em que ele
é suficientemente justificado. É aplicável à psicologia? Pávlov, partindo precisamente
de um ponto de vista metodológico, nega o caminho do homem ao animal; não se trata
de que os fenômenos humanos sejam essencialmente diferentes dos animais, mas de
que não se pode aplicar aos animais as categorias e conceitos psicológicos humanos.
Seria estéril, do ponto de vista cognitivo, fazê-lo. (VIGOTSKI, 1927/2004, p. 208)
fundamentais incompatíveis e tenta escapar dos erros que vários psicólogos cometeram na sua
época e ainda cometem na psicologia contemporânea.
Ao mesmo tempo em que o funcionalismo fincava seus conceitos nos EUA e na Europa, a
psicanálise de Freud (1856-1939) e a gestalt de Wertheimer (1880-1943), Koffka (1871-1946) e
Kohler (1887-1946) também já se consolidavam como teorias reconhecidas no campo da
psicologia. Sendo assim, a crítica de Vigotski não se reduziu à linha materialista mecanicista da
reflexologia e do funcionalismo. Na verdade, a cada teoria e conceito defendido, Vigotski
pontuava suas contribuições e esclarecia possíveis reduções sobre a compreensão do ser humano.
As diversas pontuações do psicólogo russo a essas teorias da psicologia podem ser
resumidas da seguinte forma: todas elas possuem um conteúdo cheio de valor, significado e
sentido, mas quando seus autores tentam elevar conceitos e idéias à categoria de leis universais,
passam a ser iguais entre si e sem valor nenhum. Como princípios universais, essas teorias não
resistem à crítica e a tentativa de situá-las como tais, revela a necessidade que os psicólogos têm
de formular e defender explicações gerais, mesmo que sejam consideradas falsas.
Por isso, em relação à psicanálise, Vigotski (1927/2004) afirma que o princípio da
sexualidade é adequado para explicar neuroses, mas não suficiente para compreender toda a
natureza e a produção humana que são, antes de tudo, históricas e sociais. À reflexologia,
adverte-se que o comportamento reflexo é também simples parte dos estudos em psicologia e à
Gestalt afirma-se que o mundo não se resume à fórmula gestáltica e que, pelo contrário, ele tem
se revelado bem mais complexo que isso.
Sirgado (1990), em seu estudo sobre os fundamentos epistemológicos da corrente sócio-
histórica afirma que a situação fragmentada da psicologia, não era diferente na Rússia, pois duas
influências constituíram a psicologia daquele tempo: uma no contexto da biologia evolucionista
representada por Vagner (1849-1934) e Severtsov (1866-1936) e uma no contexto da
Neurofisiologia na qual se originou a linha reflexológica em que se destacam Sechenov (1829-
1905) e os sucessores Beckterev e Pávlov.
O autor acentua ainda que, apesar das críticas, várias idéias de Vigotski, Luria e Leontiev
originaram-se dessa dupla tradição que contribuiu com alguns pressupostos da psicologia sócio-
histórica, tais como, por exemplo, os aspectos naturais e culturais no processo de
desenvolvimento humano, o papel dos instrumentos na atividade transformadora do homem, o
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não quero descobrir a natureza da mente fazendo uma colcha de retalhos de inúmeras
citações. O que eu quero é, uma vez tendo apreendido a totalidade do método de Marx,
saber de que modo a ciência tem que ser elaborada para abordar o estudo da mente.
Para criar essa teoria-método de uma maneira científica de aceitação geral, é necessário
descobrir a essência desta determinada área de fenômenos, as leis que regulam as suas
mudanças, suas características qualitativas e quantitativas, além de suas causas. É
necessário, ainda, formular as categorias e os conceitos que lhes são especificamente
relevantes, ou seja, em outras palavras, criar seu próprio Capital.
O Capital está escrito de acordo com o seguinte método: Marx analisa uma única
“célula” viva da sociedade capitalista – por exemplo, a natureza do valor. Dentro dessa
célula ele descobre a estrutura de todo o sistema e de todas as instituições econômicas...
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Por isso, a intenção de Vigotski não era aplicar as idéias de Marx na psicologia. Na
verdade, ele pretendia elaborar uma psicologia que se fundamentasse na dialética por considerá-la
uma ciência em geral, universal ao máximo. A teoria do marxismo psicológico ou a dialética da
psicologia é o que Vigotski considerava a psicologia geral. Nesse sentido, a orientação filosófica
materialista dialética possibilitou a criação de uma psicologia capaz de apresentar uma
metodologia e uma epistemologia que buscam a integração das visões psicológicas sobre o
homem, abordadas em uma nova perspectiva.
Este é o contexto em que surge a corrente sócio-histórica, que para superar a crise detectada
no conhecimento produzido pela psicologia, pretende-se uma ciência geral fundamentada nos
pressupostos do materialismo dialético. Assim, Molon (2003) explica que, para Vigotski, a
essência do problema da psicologia é a divergência entre teorias idealistas e materialistas e, ao
criticar o pensamento idealista, o psicólogo russo ressalta a importância de distinguir sujeito e
objeto, realidade e pensamento, sensação e conhecimento.
É nesta distinção que se configura o campo de investigação da psicologia. Porém, a autora
enfatiza que essa exigência não relega a importância de se estudar a subjetividade e aponta para a
necessidade de abordar as questões subjetivas a partir das relações que o homem estabelece com
aspectos objetivos e concretos da realidade, alertando todo pesquisador e profissional da
psicologia para a superficialidade deste conceito nas teorias idealistas.
Por isso, este capítulo pretendeu elaborar uma breve retrospectiva do pensamento
vigotskiano acerca da psicologia científica, suas críticas à metodologia aplicada pelas diversas
abordagens e, principalmente, suas contribuições para a construção de uma ciência mais bem
fundamentada em sua teoria e prática. Esse panorama geral é de fundamental importância a todo
estudioso interessado na psicologia sócio-histórica, especialmente àqueles que querem conhecer a
concepção dessa corrente teórica sobre a subjetividade, sem perder de vista os cuidados
epistemológicos, filosóficos e metodológicos pontuados com eloqüência nos textos de Vigotski.
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Identificar a psicologia sócio-histórica como uma teoria que se fundamenta nas idéias
marxistas significa apresentar uma nova concepção sobre o processo de desenvolvimento
humano, baseado nas relações que o homem estabelece com a sociedade. Significa, ainda,
ressaltar a influência da cultura e da ordem social na construção do sujeito e da subjetividade.
Isso porque, em seus estudos, Marx e Engels (1932/2006) apontaram para a importância de se
combater o idealismo difundido por Hegel e de se enfatizar a base materialista como forma de
investigação e conhecimento do homem.
Ao contrário do que sucede na filosofia alemã, que desce do céu para terra, aqui se
ascende da terra ao céu. Ou, dito de outro modo, não se parte daquilo que os homens
dizem, imaginam ou representam, nem do que são nas palavras, no pensamento,
imaginação e representação dos outros para, a partir daí, chegar aos homens de carne e
osso; parte-se, sim, dos homens em sua atividade real, e, a partir do seu processo na
vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos
desse processo vital. (MARX; ENGELS, 1932/2006, p. 51-52)
A atividade humana foi estudada por Engels, Marx e, mais tarde, em consenso com estes
autores da Sociologia, enfatizada na obra de Leontiev (1954) como uma característica
especificamente humana, responsável pelo desenvolvimento do psiquismo.
Mas no que consiste, objetivamente, essa atividade a que, por vezes, denomina-se
trabalho? Leontiev (1954) afirma que o trabalho é o processo que liga o homem à natureza,
estabelecendo uma relação em que o homem transforma a realidade exterior e que, ao transformá-
la, transforma a si próprio e desenvolve as habilidades que nele estão adormecidas, constituindo-
se verdadeiramente humano.
Essa atividade em muito se difere da ação animal, pois, apesar de inegável a importância
da transformação humana sobre a natureza, a compreensão mais fundamental apontada por
Leontiev (1954) é a de que não há apenas a relação homem – natureza, mas há, principalmente, a
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relação que o homem estabelece com os outros homens, dando à atividade humana, um caráter
primariamente social e coletivo, baseado nas relações de comunicação entre os seres que a
efetuam.
O animal, ao contrário, é movido por necessidades estritamente biológicas e instintivas e
não há atividade animal que não responda ou satisfaça unicamente a essas necessidades, fazendo
com que seu objetivo sempre se confunda com a satisfação da necessidade biológica. De um
modo diferente, percebe-se que a inserção do homem na coletividade conduz a uma atividade que
não se coincide com sua necessidade biológica, mas que parte dela e a supera em conjunto com
outros humanos.
Dessa forma, a atividade humana possibilita o encadeamento de ações realizadas por um
grupo que busca a satisfação de necessidades comuns. O uso da linguagem e do pensamento
permite a comunicação entre os indivíduos e a construção de um plano de ação para as tarefas
que devem ser executadas por cada membro deste grupo. Neste ponto da evolução humana,
encontra-se o que se denomina a divisão social do trabalho, característica peculiar ao
funcionamento humano em que cada indivíduo é responsável por uma ação que encontra seu
sentido no processo global do trabalho coletivo. Sobre esta divisão social do trabalho, Leontiev
(1954) afirma que
bater a caça conduz à satisfação de uma necessidade, mas de modo algum porque sejam
essas as relações naturais da situação material dada; é antes ao contrário; normalmente
estas relações naturais são tais que amedrontar a caça retira toda a possibilidade de a
apanhar. O que então, neste caso religa o resultado imediato desta atividade ao seu
resultado final? Evidentemente não é outra coisa senão a relação do indivíduo aos
outros membros da coletividade, graças ao qual ele recebe a sua parte da presa, parte do
produto da atividade do trabalho coletivo. Esta relação, esta ligação, realiza-se graças às
atividades dos outros indivíduos. Isso significa que é precisamente a atividade dos
outros homens que constitui a base material objetiva da estrutura específica da atividade
do indivíduo humano; historicamente, pelo seu modo de aparição, a ligação entre o
motivo e o objeto de uma ação não reflete relações e ligações naturais, mas ligações e
relações objetivas sociais. (LEONTIEV, 1954, p. 84).
Desse modo, há uma relação que surge “no seio de uma atividade coletiva e não poderia existir
fora dela... Por exemplo, assustar a caça é em si desprovido de sentido biológico. Isso só toma um
significado nas condições do trabalho coletivo” (Leontiev, 1954, p. 85) e, pode-se dizer, da
relação humana.
Autora brasileira contemporânea e estudiosa do processo de construção da subjetividade
na perspectiva vigotskiana, Susana Molon (2003) também ressalta a importância do trabalho no
desenvolvimento humano que determinou as diferenças qualitativas entre o homem e o animal,
tais como a gênese e a natureza social da consciência e das funções psicológicas superiores.
Assim, como idéia conclusiva de seu estudo aprofundado sobre a psicologia sócio-histórica,
Molon (2003) afirma que
na medida em que o processo é grupal, ou seja, ocorre com todos os membros, ele tende
a caracterizar o desenvolvimento de uma consciência de classe, quando o grupo se
percebe inserido no processo de produção material de sua vida e percebe as
contradições geradas historicamente, levando-o a atividades que visam a superação das
contradições presentes no seu cotidiano, torna-se um grupo-sujeito da transformação
histórico-social. (LANE, 1984, p. 17)
a significação, enquanto fato da consciência individual não perde por isso o seu
conteúdo objetivo; não se torna de modo algum uma coisa puramente “psicológica” [...]
As significações não têm existência fora dos cérebros humanos concretos; não existe
qualquer reino de significações independente e comparável ao mundo platônico das
idéias [...] O principal problema psicológico que a significação põe é o do lugar e do
papel reais que ela tem na vida psíquica do homem. A realidade aparece ao homem na
sua significação, mas de maneira particular. A significação mediatiza o reflexo do
mundo pelo homem na medida em que ele tem consciência deste, isto é, na medida em
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Dessa forma, pode-se afirmar que, nesta perspectiva sobre o processo de construção do
psiquismo humano, conhecer o ser humano implica em questionar sobre sua realidade e,
principalmente, sobre as significações produzidas pelo sujeito acerca dessa realidade. Implica,
ainda, em tentar entender as relações sociais concretas estabelecidas pelo sujeito através do relato
histórico de seu trabalho, de sua atividade, tendo sempre em vista que a história individual revela
a história coletiva. Nesse sentido, Molon (2003) aponta que
Implantados estes estágios, foi elaborado um projeto de extensão que tem por objetivo
integrar ações comunitárias e Pastorais Católicas. Para tanto, a psicóloga e professora Lucimar
Magalhães de Albuquerque conduziu a construção da Rede Integração em que participavam
professores e estudantes da PUC/MG, moradores do bairro, representantes das Ongs e das
Pastorais Católicas e membros da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH). Nestas
reuniões abertas à população, discutiam-se as principais necessidades do bairro e planejavam-se
ações comuns a todos os participantes do grupo. O trabalho era executado através da metodologia
de Oficinas em Dinâmicas de Grupo, envolvendo os sujeitos de maneira integral, formas de
pensar, sentir e agir na comunidade e nas relações interpessoais. 1
Além disso, a Professora Dinéia Domingues, supervisora do estágio de pesquisa do 3º e
4º períodos de psicologia conduziu a realização de uma pesquisa diagnóstica sobre as relações
estabelecidas entre as Ações Comunitárias e as Pastorais Católicas. Foi como monitora de uma
turma de dez estudantes dispostos a fazer pesquisa, que estabeleci o primeiro contato com o
bairro Lindéia, momento marcante durante a formação em psicologia.
A partir deste momento, a participação nas reuniões da Rede Integração tornou-se uma
atividade constante na vida acadêmica. A construção produtiva possibilitada pela metodologia
aplicada e a forma de inserção do psicólogo na comunidade foram decisivas para a escolha pela
psicologia social. O diálogo construído a cada reunião viabilizava ações concretas na
comunidade. Foi assim que a aprovação do projeto Entrando no Ritmo, no início de 2007, tornou
possível a construção efetiva de alternativas para a formação profissional e pessoal de 120 jovens
com idade entre 12 e 17 anos e 11 meses. O projeto oferece, atualmente, oficinas de Futebol,
Cabeleireiro, Música e Psicodrama, em parceria com a Creche Maria Floripes, PBH, Instituto
Mineiro de Psicodrama (IMPSI), Pastoral da Juventude e Casa dos Meninos e tem possibilitado a
minimização da vulnerabilidade social e a potencialização do desenvolvimento afetivo desses
adolescentes.
Na integração de seus membros e realização de um trabalho coletivo, o grupo definiu,
recentemente, a realização de uma pesquisa para a composição do Centro Cultural Lindéia-
1
As oficinas em dinâmica de grupo são comumente utilizadas em intervenções psicossociais comunitárias. Esta
metodologia possibilita a vivência reflexiva e afetiva através do uso de teorias e técnicas sobre Grupo, que
possibilitam a caracterização da demanda grupal e a construção coletiva de soluções e superações possíveis. Nesta
intervenção, especificamente, identificamos, junto à comunidade local, as dificuldades e potencialidades do Bairro
Lindéia, planejando formas de ação que minimizassem essas dificuldades e reforçassem essas potencialidades. Sobre
Oficinas em Dinâmicas de Grupo, ver Afonso (2002).
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Foi colocado, eu coloquei essa idéia, porque nós estávamos lutando muito lá no Regina
para que mantivesse o posto policial lá que tiraram, então pra voltar, porque aumentou
muito a violência, né? depois que saiu. E então, eu falei assim: olha, eu acho então que
além dessa luta, nós temos que lutar pra prevenir. Como é que nós vamos evoluir
juventude, pessoas, com tanto potencial que tem aí, mas que não tem um espaço pra
poder desenvolver. Por que nós não reivindicamos na OP um Centro Cultural? Porque o
Centro Cultural vai ser o canal pra desenvolver essa juventude e mesmo os adultos, né?
A arte, a cultura e isso pode apontar e recuperar as raízes, porque o pessoal, os jovens
não conhecem essas lutas que teve no bairro. Então o Centro Cultural vai voltar as
raízes, raízes da família, raízes do bairro, raízes... então isso vai dar muito sentido. Aí o
pessoal concordou lá, aí saiu a idéia então de aprovar isso... e aí eu conversei também
com... enfim, decidimos lá de ver com a Associação do Lindéia também para dar apoio,
aí a gente conversou, aí eu já estava fazendo trabalho com as escolas pra área cultural...
Aí pronto. Quando isso aconteceu, comecei a mobilizar as pessoas das organizações
para participar desse Centro Cultural e comecei a chamar pessoas que tocavam
instrumentos e tal, não foi? E... desde lá nós viemos fazer reuniões, aí eu falei: bom,
agora tem que ser a prefeitura pra assumir isso também. Chamei a prefeitura e eles
começaram a vir nas reuniões, também com as lideranças das Associações do Lindéia,
Regina...3 (CARMEM, liderança comunitária do Bairro Regina).
Foi assim que, garantido o Centro Cultural, a Fundação de Cultura da PBH e as lideranças
comunitárias dos bairros solicitaram à PUC/MG uma pesquisa que realizasse o mapeamento da
produção cultural desta população. Encaminhado o projeto de pesquisa, Pedro Paulo e Sílvia
compuseram um grupo multidisciplinar, com a participação de estudantes da Psicologia, Letras,
Administração e das Ciências Sociais e Econômicas. Os objetivos do projeto foram construídos
de acordo com a experiência adquirida no bairro ao longo de dois anos. Nesta experiência,
2
Orçamento Participativo (OP) é o processo de participação popular que a Prefeitura de Belo Horizonte implantou
em 1993. Até hoje ele foi o responsável pela aprovação de 1.193 obras em todas as regiões da cidade. Desse total,
808 já foram concluídas. O OP é convocado a cada dois anos, quando a população de BH decide que obras serão
feitas na cidade. Para fazer essa escolha, os moradores reúnem-se em assembléias, visitam os locais onde as obras
serão feitas e discutem o seu orçamento. Atualmente, o OP está subdividido em três modalidades: OP Regional, que
existe desde 1993, com obras em toda a cidade; o OP Habitação, criado em 1996 para atender às crescentes
necessidades de moradia; o OP Digital, criado pela Prefeitura de Belo Horizonte em 2006. Fonte:
http://opdigital.pbh.gov.br/duvidas.htm
3
Entrevista concedida ao Primeiro Grupo Focal com as lideranças comunitárias: Roberto Léles, Valdivino, Zélio e
Carmem. Pesquisa para o mapeamento cultural do bairro.
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evidenciava-se a constatação do fato de que os bairros Lindéia e Regina eram marcados por uma
importante história de movimentos sociais. Considerou-se, portanto, que esta história deveria
compor o Centro Cultural e ser mostrada para os jovens dos bairros. O uso da metodologia de
grupo-focal aplicada a lideranças comunitárias e figuras importantes dessa história de lutas e
reivindicações marcou o início da pesquisa e o envolvimento cada vez maior dos estudantes com
a comunidade.
Durante todo o trabalho da PUC/MG junto à população da grande Lindéia, que envolve as
comunidades Lindéia, Regina e Nossa Senhora da Conceição, percebe-se um procedimento de
troca de experiências e conhecimentos entre pessoas e instituições dispostas à promoção do
desenvolvimento local, seja ele econômico, cultural e/ou social. Nessa perspectiva, a formação
humana é dupla e fincada na base dialética - ensinamos e aprendemos com esta população que
tem muita história pra contar.
Envolvida com a comunidade em trabalhos de intervenção psicossocial e pesquisa, tive a
oportunidade de escolher um dos líderes comunitários, cujo relato compõe, então, o estudo desta
monografia.
Pelo tempo hábil para a realização da pesquisa, optou-se, neste estudo, pelo relato de vida,
uma forma que, quando se solicita ao narrador que aborde de maneira mais específica alguns
aspectos de sua vida e de sua história, revela-se menos ampla e livre. Entretanto, a postura de
uma pesquisa que valoriza e não limita a qualidade do relato do narrador manteve-se durante todo
o seu processo de construção. Durante a entrevista, Zélio pôde construir os sentidos de sua
própria vida e se reconhecer em sua própria história.
A escolha do líder comunitário foi realizada durante o primeiro grupo-focal para a
pesquisa de mapeamento cultural. Pela forma de relatar a sua história, Zélio demonstrou-se um
representante que revela, em sua vida pessoal, toda a história de construção do bairro Lindéia.
Por isso, em entrevista semi-estruturada, tentou-se conhecer a história de Zélio sobre o seu
envolvimento com a comunidade e as influências exercidas sobre a sua construção como sujeito.
A análise dos dados foi realizada a partir das categorias da psicologia Sócio-histórica:
Atividade, Consciência e Subjetividade, que, segundo Lane (1984), permitem o acesso e o
conhecimento do fato psicológico. As categorias história familiar, inserção como líder na
comunidade e influências na construção como sujeito referem-se à vida de Zélio, seu percurso
estabelecido ao longo do tempo e dos acontecimentos, a partir do contexto vivido e das relações
sociais.
4
Fonte: http://www.alegre.es.gov.br/hist_hist.php.
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é sempre essa busca que, eu já diria assim, do povo brasileiro, sabe? Que a gente... do
sonho! Sabe... você vive numa região, aí de repente fala assim: ah, tal estado, tal região,
lá se produz mais, se vende mais, as coisas lá é mais fácil, sabe? Então, acredito eu,
assim que essa busca deles, foi em busca desse sonho: “Ah, vamos pra lá, pra Alegre,
né? Lá nós vamos conseguir... construir a vida de uma forma melhor...Aí foram pra
Alegre... depois de lá, viemos pra Barra do São Francisco e também... principalmente
nesse período, eu já lembro um pouquinho a partir dele, do que eles contavam que lá em
Barra do São Francisco estava bem... é... no começo, né? As plantas de terra fechada,
se produzia muito... era arroz, café e, então, as coisas lá parecem que era mais fácil,
sabe? Então, acredito eu, que eles tinham um sonho, né? De uma vida melhor. Então
isso foi a alternativa de sair daqui de Minas Gerais, pro Estado do Espírito Santo
(ZÉLIO).
Para Zélio, o sonho de uma vida mais digna mobilizava as constantes mudanças da
família composta por quatorze pessoas. Assim, quando Zélio ainda era criança, a família toda se
migrou para Barra do São Francisco, cidade ao noroeste do Espírito Santo com população atual
estimada em torno dos 38.000 habitantes que vivem da extração de granito e da agricultura.5 Pela
distância entre as duas cidades, a mudança não deve ter sido fácil para a família, mas Zélio não se
lembra dessas dificuldades. Em sua memória estão marcados o córrego de São Pedro e a
juventude que se passava entre a escola, o trabalho no campo e a Igreja local – início de uma vida
ativa na comunidade.
A inserção de Zélio na Igreja foi um marco interessante em seu percurso histórico,
caracterizando-se como um local onde as relações estabelecidas vieram a definir as atividades
exercidas e os desenvolvimentos de sua consciência e subjetividade. Este líder comunitário do
bairro Lindéia que participou, na década de 70, de lutas e reivindicações políticas iniciou a sua
formação como líder quando ainda morava no interior, no início de seu envolvimento com a
Igreja. Este momento, Zélio recorda com carinho.
Eu estava com dez anos quando eu comecei a ir pra escola, eu fui pra escola.
Interessante... o primeiro dia que eu cheguei na escola lá, a professora: “Oh, vamos
rezar pra poder começar a escola!”. Tudo bem, vamos lá! Aí fez lá o sinal da cruz,
rezou lá o Pai Nosso lá e aí tudo bem. Mas quando foi lá pro final da semana, sexta-
feira, a professora falou assim: “Olha, domingo todos os alunos vão ter que ir no
catecismo!” Eu falei: “que isso, meu Deus do Céu, como é que vai ficar isso, né?”. Tá.
Tudo bem. Mas lá em casa, o meu pessoal era católico, mas não tinha assim aquela
motivação de ir à Igreja e tal, participar de culto, de terço, aquela coisa, não... Aí
quando foi domingo, nós fomos à Igreja. E era um período que nós tinha que caminhar
mais ou menos uma hora e vinte minutos, caminhando! Pra chegar nessa bendita Igreja
lá. E pra começar, sítio antes só fazia cerca na divisa, porém a estrada passava dentro do
5
Fonte: http://www.cidades.com.br/cidade/barra_de_sao_francisco/000812.html.
30
pasto, o gado ficava distribuído pela estrada afora ali. Aí nós fomos domingo, nós dois,
aí meu irmão falou assim: “ah, eu não vou lá mais não!” E eu já tinha começado a
minha caminhada, eu até senti bem, porque o primeiro dia que eu fui, cheguei lá,
rezamos um terço, acabou ali, uma catequista me ajuntou, levou pra turma dela e a
gente começou... deu o catecismo pra nós e no final assim, ela falou assim: “Como é
que você chama?” E falei: “eu me chamo Zélio”. Ela falou assim: “Zélio, eu posso pôr
seu nome no catecismo?” Eu respondi assim: “Pode pôr”. E hoje, eu me pergunto: Por
que eu não falei assim: “Não, eu vou conversar com minha mãe, se ela permitir, quando
for domingo eu volto e coloco”. E eu já tinha minha decisão, falei: “pode, pode
colocar!” Aí no domingo eu voltei, nós fomos... e a partir desse domingo ele não quis ir
mais (o irmão). Ele não queria ir, sabe? Aí eu fui sozinho. Minha mãe me arrumou e
tal... aí eu fui. Quando chegava na estrada, quando tinha gado deitado na estrada, eu
dava a volta lá por cima no meio do mato e ia... tudo bem (ZÉLIO).
Mobilizado inicialmente pelo catecismo e pelo que encontrou na Igreja, Zélio compôs a
comunidade católica local até os 23 anos, idade em que se casou e se mudou para Belo Horizonte.
Este período foi significativo na vida de Zélio, que incentivou familiares e vizinhos para o
envolvimento comunitário.
eu comecei a juntar gente, aí tinha uma sobrinha, uma tia que morava com a gente, aí
comecei a levar ela, depois era... essa que é a minha esposa, a Oriene, morava de
vizinha, era muito amiga dessa sobrinha minha... aí comecei a levar ela também, aí
levava os primo dela... aí, a partir daí, de um determinado tempo, não só a minha
família, mas uma faixa de 15 a 20 famílias fazia esse corredor todo domingo pra ir na
Igreja... aí antes não tinha, então eu comecei a levar os primos dessa minha esposa, de
maneira que, a partir de um período, mais de 15 famílias... é claro que não toda a
família, mas 2, 3, 4 pessoas... Aí, domingo juntava e fazia aquela caminhada e era muito
bonito. De manhã ia pro culto que era mais ou menos 10 horas da manhã, depois nas
festas de maio, nós ia à noite, sabe? Era muito bonito, essa caminhada lá. A gente não
percebia essa caminhada de 1 hora e 20 minutos, 1 hora e meia, mais ou menos. Ia todo
mundo, brincando, conversando, sabe? Namorando... (ZÉLIO).
eu acho que com uns 8 anos por aí, eu já fazia alguma coisa. Trabalhava mesmo. Eu ia
pra escola, caminhava uma hora e meia, aí já era uma outra região. Não era esse setor
da Igreja. Caminhava mesmo, 1h e meia, ia pra estudar, todo dia mesmo. Agora, eu ia e
voltava correndo, porque eu achava que eu tinha que ajudar meu pai a trabalhar. Não é
que ele me forçava, sabe? Eu tinha sim uma independência, mas eu na minha cultura, na
minha personalidade eu achava que eu tinha que trabalhar, eu precisava ajuda-lo. Aí ia,
voltava correndo, chegava. Às vezes eu até conto pro’s meus amigos assim: às vezes
tinha dia que eu chegava tão cansado! Aí eu passava pela cozinha, pegava meu prato de
almoço, ia pro meu quarto, chegava lá eu punha o prato em cima da cama, tirava meu
“bonalzinho” pendurava lá atrás da porta... não existia bolsa, essa coisa que hoje. Não,
não tinha... tinha um bonal de brim bem costurado, bonitinho, né? Aquilo que a gente
carregava, de alça, pra gente pendurar, né? Isso aí que a gente carregava nossos livros,
meu livro, né? Aí pendurava lá e... Bom, trocava de roupa e almoçava ajoelhado. Por
que isso? Porque eu punha o prato na cama e debruçava lá. Às vezes tinha dia que eu
estava cansado, aquele sol quente, saía cedo, né? Isso era uma faixa de 11 horas, meio
dia, por aí... aí dava um cochilo ali do lado, de uns cinco, dez minutos. Acordava assim:
“Nossa senhora, hora de ir pra roça”. Aí levantava, pegava a minha vasilha, ia pro
córrego, um ribeirão lá, né? Que atravessava no sítio... lavava deixava pra minha irmã
levar lá pra dentro e de lá mesmo, eu ia embora pra roça e voltava depois que o sol
despontava na ponta das árvores mais altas, porque lá não tinha, nesse período meu lá
não tinha relógio não. O relógio era na hora que o dia clareava, aí nós tava saindo, né?
E na hora de voltar da roça pra casa, era na hora que o sol acabava de cobrir as sombras
das pontas das árvores mais altas é que era hora de vim embora pra casa, então esse era
meu jeito... mas eu gostava disso, eu gostava desse trabalho (ZÉLIO).
De acordo com Zélio, sua vida no campo era gratificante, mas, após o casamento, o sonho
herdado dos pais e a vontade de obter seu próprio patrimônio e independência, o incitaram para
mais uma mudança em 1973. Desta vez, porém, esta mudança foi para a cidade grande, onde teria
que conseguir outros tipos de trabalho, bem diferentes daqueles que aprendeu no campo. A
adaptação a um novo ritmo e a um novo lugar marcou, de vez, a construção de uma nova vida.
Planejada em 1893 para ser a nova capital do Estado, a cidade de Belo Horizonte foi
projetada para comportar uma grande população, proporcionando a ela todo o conforto e beleza
dignos da primeira cidade brasileira moderna. 6De fato, urbanização e natureza equilibram-se e
parecem dialogar nos limites da cidade planejada: belos prédios modernos e belas árvores
seculares decoram a vida urbana na área circulada pela Avenida do Contorno.
Mas esse tipo de perfeição sempre é proporcionado, na era do capitalismo, àqueles que
têm o poder do capital. A partir de 1920, o crescimento da cidade de Belo Horizonte extrapolou
todo o planejamento e prescrição modernos de ordem e padronização. As indústrias mobilizaram
milhares de pessoas que, como Zélio, vinham do interior e da zona rural em busca de melhores
6
Dados históricos e estatísticos sobre a cidade de Belo Horizonte podem ser encontrados no endereço eletrônico:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Belo_Horizonte#Hist.C3.B3ria.
32
condições oferecidas pela cidade moderna. Ironia do destino: simples operários que não tinham
condições de morar na cidade planejada, encontraram aqui a exploração do trabalho, maus
salários pagos e bairros periféricos que cresciam sem qualquer estrutura para a habitação humana.
Situados na região do Barreiro e próximos à Cidade Industrial, o Lindéia, o Regina e o
Durval de Barros eram os novos bairros da região metropolitana onde lotes mais baratos eram
vendidos. Zélio, que estava morando há mais de 6 meses de aluguel, logo se interessou por esta
promissora compra.
Interessante é que quando eu vim pra aqui, a minha busca seria d’um espaço pra morar,
mas só que naquele período havia muita propaganda é, venda de imóveis, aquela coisa
toda, né? e eles falavam muito é no Durval de Barros. Eu saí pra poder, de uma
folgazinha do meu serviço lá, aí saí e fui em busca pra ver se conseguia achar esse...
como é que chama? Aí o carro que tinha pra região aqui era o bendito do tal Lagoa
Seca, ele tocava lá do centro e vinha aqui pro Durval de Barros e nesse carro eu vinha e
comecei a pegar informações e eu tava sentado perto do moço que vendia lote lá, sabe?
Vendia lá e vendia no bairro aqui Lindéia, aí pegano informação, pedino informação,
ele falou assim: ah, eu te levo lá, eu sei onde que é e tal. Mas aí quando foi chegando
mais próximo, ele falou assim: Vamo fazer o seguinte, eu tenho mais lote aqui também
pra vender, você desce comigo aqui, eu vou te mostrar o lote que tem aqui, se você não
gostar, depois eu te levo ocê lá no Durval de Barros, te mostro os lote que tem lá
também. Eu falei: Tudo bem. Vamo lá. Aí nós descemo aí foi, gostou, tinha um lote
vago aqui, aí ele falou: olha, eu tenho uns barraco aqui também... você podia comprar
barracão de dois, três cômodos, tudo na mesma faixa. Aí eu falei: Tudo bem. Vamo ver
os barracão aí, é o que eu quero é sair do aluguel. Essa era a minha intenção. Se der pra
vim, tudo bem. Aí ele foi e me mostrou os barracão, nesse primeiro “praino” aí tinha
dois barracão, dois cômodos, mais banheiro, mais padrão de luz, etc. Aí olhei um deles
e gostei. E... vamo fazer o seguinte: você me dá o endereço aí tudo direitinho e eu vou
vim aqui com mais a minha esposa, a gente dá uma olhadinha, direitinho com ela, quero
mostrar pra ela também, se ela agradar, nós dá um jeito de comprar. Ele falou: vamo
fazer o seguinte: vou fazer seu contrato já de uma vez e se você não agradar, aí não tem
problema não, eu posso rasgar ele... nós... nós... vendo outro. Ma s se você interessar
nesse daí nós pode fechar. Já combinamo o dia pra gente voltar, aí fez tudo direitinho e
a gente fez isso e a partir daí, eu fechei negócio, né? E... aí acho que foi minha vinda
aqui pro bairro Lindéia. Era um pouco difícil, porque no começo era... era... era um
pouco longe, né? Eu diria longe, porque quem saía de Belo Horizonte pra chegar aqui,
parece que era uma viagem... a condução era difícil, primeiro tinha que usar esse Lagoa
Seca, que subia por aqui (ZÉLIO).
Zélio resolveu, então, comprar um barracão no Lindéia, mas viver neste bairro era difícil
por uma série de motivos: o local era, antigamente, uma fazenda; então, a distância em relação ao
centro comercial de Belo Horizonte era agravada pela falta de estrutura urbana. Precárias estradas
de terra, transporte insuficiente, falta de postos para atendimento médico e para a compra de
alimentos para a família e a ausência de rede de esgoto e água encanada para as casas começaram
a se tornar dificuldades e problemas cotidianos na vida dos novos moradores da região. Não
havia também instituições de educação ou locais para o desenvolvimento da cultura e encontros
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entre a comunidade. Destacava-se, então, a negligência do poder público em relação aos que
estavam sofrendo com as mazelas proporcionadas pelo crescimento e enriquecimento da bela
cidade moderna e daqueles que podiam dela usufruir.
A desigualdade social é teoricamente compreendida como o impacto do capitalismo sobre
as condições humanas de vida, marcadas pela exploração da força de trabalho e pelo predomínio
do capital (Carone, 1995). Nesse sistema econômico, o capital e o mercado ditam as regras de
convivência humana baseadas na competitividade, no individualismo e na valorização de bens
materiais em detrimento dos valores humanos e éticos. Na vida prática dos operários do Lindéia,
o modelo vigente provocou desigualdade de oportunidades e de acesso à educação, à saúde e à
cultura: eles, que não possuíam bens materiais o suficiente para suprir suas necessidades, eram
impedidos de participar dignamente da sociedade e passaram a sofrer com a submissão e a
precariedade das condições de vida.
Para a psicologia sócio-histórica, as condições materiais de vida, sejam elas precárias ou
abastadas, determinam o processo de construção do sujeito. Determinam e, nos casos de extrema
precariedade, limitam o desenvolvimento do psiquismo e das funções psicológicas superiores:
pensamento, linguagem e consciência. Este processo de desumanização, Graciliano Ramos
(1938/2002) mostra de forma genial em sua obra Vidas Secas, em que narra a história de uma
família de retirantes vítimas dos problemas da seca tão comuns no nordeste brasileiro. No
decorrer da história, deparamo-nos com um percurso marcado pela fome, sede e miséria tais que
provocam efeitos na subjetividade desses retirantes reduzidos à forma animal de vida, impedidos,
pelas circunstâncias, de refletir, pensar ou falar – de serem humanos.
Assim, para a psicologia sócio-histórica, não é a consciência ou o pensamento que
determinam a realidade, mas a realidade que determina o surgimento de todas essas funções
psicológicas superiores. É a partir de mínimas condições materiais dadas pela realidade social
que podem ser construídas, nas relações humanas, as capacidades de agir e transformar,
propulsoras do desenvolvimento do pensamento, da linguagem e da consciência.
A história de envolvimento comunitário que Zélio construiu quando morava na zona rural
já havia marcado, significativamente, a sua forma de ser e de se relacionar. Diante das precárias
condições do novo bairro e do trabalho explorado e mal pago, Zélio buscou soluções para
melhorar as condições vividas. Demitiu-se do emprego na fábrica de papel e procurou a Igreja
como uma forma de retomar uma vida em relação baseada nas trocas humanas de experiência.
34
O trabalho na construção civil foi possibilitado pela convivência com Padre Miguel que
estava construindo a Igreja do bairro e envolvendo a população para a conquista de seus direitos
básicos. Com o tempo, a Igreja tornou-se o espaço para reuniões e construção de estratégias para
a mobilização social. Sobre o início de sua participação na Igreja, Zélio relata:
inclusive eu esbarrei com uma dificuldade muito grande com relação a questão da
participação, porque... Isso por que? Já a partir do meu interior eu já tinha aquele jeito
de gostar de participar das coisas e quando eu cheguei aqui, principalmente quando eu
fui pra fábrica de papel cruzeiro, eu me esbarrei, porque eu tinha que trabalhar lá era
semana, era sábado, era domingo, feriado, sabe? Aquilo assim... quando eles acham
assim é bonzinho, vai empurrando ele e às vezes eu tinha dificuldade de dizer não e
quando que eu poderia dizer sim e no momento eu precisava, tava precisando criar,
assim, uma base e às vezes eu ia... “Ah, tem que fazer manutenção da máquina”, aí eu
ia e a essas altura, eu perdia o meu campo religioso, sabe? De participar d’uma missa.
Tinha dificuldade, às vezes uma parte da noite, domingo à tarde, às vezes eu ia lá na
Igreja, assim... Aí quando eu mudei pro Lindéia, então cada domingo eu ia num lugar,
às vezes eu ia na Igreja São Vicente que tem aqui no bairro Industrial, outras vezes eu ia
no CEARA, aqui no Tirol, às vezes eu ia lá no bairro Amazonas... eu não tinha lugar
fixo pra ir não e... aí depois é que eu descobri a Igreja aqui do Lindéia. Estava
construindo, né? Tinha feito aqui a parte de baixo, e o padre Miguel celebrava,
inclusive lá onde é o setor da catequese, lá no cantinho, em baixo, tava tudo na terra só
batido na laje, tudo aberto. Aí que tava... as primeira missa comecei a participar lá e... e
eu gostei daquele jeito assim d’ele pregar o evangelho e a partir daí, eu comecei a
atualizar. Aí comecei a vim mais freqüente aqui, né? E aí partir daí o Padre Miguel
comecei assim... a criar um tipo de evangelização, sabe? Ele fazia umas folhas e
também criava nelas o fato da vida. E ele conversava muito com a gente assim: “Como
é que foi lá no trabalho?” Aí pra gente contar, assim, como é que foi o decorrer da
semana, o que que foi bem, ou de repente teve algum problema... o encarregado
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no sindicato, o meu início, inclusive tá bem nessa raiz aí que quando eu falei da ACO, a
gente discutia pouco, mas já discutia um pouquinho as questões do sindicato. A
importância , que a gente fazia parte, aí na fábrica foi assim: o salário tá difícil e tal e aí
começou a ouvir a importância do sindicato e a organização dos trabalhadores, né?
Perguntar pelos seus direitos, etc. E aí partir daí, eu só não fiquei mais na igreja e
comecei a participar do movimento dos sindicatos, das reuniões, etc, discutindo.
Quando vinha o plano salarial, aí participava da campanha ia levar... às vezes dava pra
fazer propostas nas assembléias, a discussão por causa do salário, né? E aí a minha
participação no sindicato foi a partir daí, sabe? dessa discussão aqui mesmo na igreja,
na ACO, aí me levou a atuar a participação no sindicato também... que aí a gente
começou a discutir e começou a participar das reuniões do sindicato e aí veio época de
campanha, até lembro que eu falei assim que a greve da construção civil de 79, o pivô
da greve nasceu aqui dessa sala. Nessa sala justamente, por que? Eu participava da
campanha e me lembro que um dos toques que eu dei foi que as propostas que estavam
sendo colocadas aqui pelo presidente, então que deveria ser discutido não só lá no
sindicato, mas que deveria ser levado para os bairros, discutir com os trabalhadores, que
a maioria, talvez porque tinha dificuldades de deslocar e domingo pra ir lá no sindicato,
porque tinha, tava fazendo seu trabalho, tava construindo o seu barracão, etc, etc.
Então se, que se constituísse a Assembléia nos bairros, conseguiria somar o número
maior de trabalhadores. E essa proposta foi aceita, foi aceita pelo presidente, pela
assembléia e aí o presidente propôs que os trabalhadores que estavam presentes na
assembléia lá, que se organizasse grupo de trabalhadores nos bairros, poderia convida-
lo, que ele viria pra discutir com os trabalhadores. E então isso eu fiz. Eu, Valdivino,
Robe, aí colocamos uma assembléia aqui, justamente nessa sala e marcamos data,
horário e convidamos o presidente para discutir conosco, mas antes de trazer o
presidente, nós discutimos aqui, já criamos propostas diferente da proposta dele... Então
a gente discutiu antes, criou, principalmente a proposta de salário e aí convidamos... e
quando ele chegou aqui, bom aí nós, antes d’ele falar, nós que falamos primeiro: ‘nós,
trabalhadores, viemos...’ aí cada um fez sua colocação, por último é que ele foi falar e
então a gente já sentiu que ele já sentiu meio suspenso que a coisa tava esquentando,
mas ele não podia dizer não, mas ele tinha abrido o campo pra discussão, né? E aí se
propôs que a gente continuasse o trabalho e a partir daqui a gente tirou outros aqui na
vila da CEMIG, independente de ser é... a gente foi lá pro outro lado lá é... Vila
Cafezal, do outro lado. Pegamos a região do Jardim América essa... antigo morro do
lixão, são 6 vilas que tinha li, além de casas da associação lá. Através das associação, a
gente fazia contato, abria espaço, convidava os trabalhadores e a gente ia pra discussão
com eles, e a partir daí a coisa esquentou, aí foi pra greve, tá? E... além disso, a gente
pegava folheto, ia pro setor de obra, distribuir pros companheiro, discutir e aí chegou
um ponto que ele... apesar que o presidente não estava muito a fim da greve nada , mas
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ele não teve como segurar, os próprios trabalhadores articularam a luta e conseguiram a
greve (ZÉLIO).
Muito trabalho, mas era gostoso. Eu sei que chegava domingo a gente saía cedo. Às
vezes eu chegava em casa lá pras 6, 8 horas da noite, mas eu chegava tranqüilo assim,
minha tarefa ali foi cumprida... refiro quando eu chegava assim, a gente tinha a alegria
de... poxa vida, tive lá, a gente conversou, né? Sobre trabalho, sobre política, sobre
organização, então, sabe? A gente sentia assim que os companheiros se sentia
interessado, saber algo, tá informado de algo que às vezes a gente tinha para passar, aí
nesse momento sabe? Então eu sentia feliz, sim, meu sentimento é que graças a deus eu
tinha algo que eu consegui passsar, não ficou guardado só pra mim e que aquilo... a
gente tinha esperança que aquilo... o amanhã poderia estar surgindo frutos, né? A partir
de cada companheiro daquele que descobriu que ele também era capaz de fazer que as
coisas movimentasse e acontecesse a partir das suas ações, sabe? Então eu acho que
esse foi meu sentimento assim, ver a coisa andar (ZÉLIO).
... eu comecei a perceber assim que a minha religiosidade me levaria a entrar num
contexto político, que de repente eu já vivi um pouquinho disso lá, mas que eu não
entendia a questão, a cultura, sabe? Falar, expressar, coordenar uma coisa, criar algo,
cantar, tocar. Eu acho que isso pra mim é interessante. Eu já falei um pouquinho, lá no
interior, eu gostava às vezes tinha alto, bem alto lá, às vezes uma hora dessa tinha uma
lua clara lá, tocando violão, cantando. Gostoso, sabe assim? Jogar no ar algo que você
tem assim, que expressar. Hoje eu acho que isso assim me leva a se sentir assim bem
presente do que eu gostaria de ser, gostaria de fazer. Espero assim que eu tenha mais
condição de caminhar muito mais do que aonde do que estou atualizando. Então eu
acho que isso faz muito bem pra minha vida, até eu falo assim que se chegar o dia que
eu não tiver nada pra fazer, vou falar assim: ‘ah... pode preparar meu cantinho lá que eu
vou descer’. Eu vou descer, uai! Porque eu gosto de ficar em movimento, tem que ter
movimento: pensando, falando, vivendo. Agora, quando não tem nada pra fazer vou
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pensar em alguma coisa. Então eu acho que faz muita parte da minha vida. E eu me
sinto bem assim, me sinto muito bem. Antes de ontem eu cheguei aqui, a Miriam falou
assim: ‘olha, você tem que ir lá em casa, porque... pra cantar parabéns pra minha mãe,
ela vai fazer 90 anos’. Então... nossa eu adoro as pessoas, indiferente de pessoa, de
classe, de idade, principalmente as pessoas mais idosas, sabe? Eu dedicar um pouco de
mim pra ela. Falei: ‘não, nós vamos sim, nós vamos lá cantar pra ela’. E eu tirei um
tempo e fiz uma música, sabe? Pra comemoração do aniversário dela. Criei... tentei
criar algo referente à data dela... Eu gosto de fazer, de usar a minha própria melodia,
criar a minha própria melodia pras minhas composição (ZÉLIO).
... eu acho que a conquista é a soma de muitas e é justamente essas daí que é o ser
igreja, né? O ser igreja e também e... as atuação... Então eu acho que isso é aquilo que
eu gostaria de ser sabe? Tô me lembrando aqui, falando desse negócio aí, que os meus
companheiros de trabalho questionava, eu já trabalhando com construção civil, às vezes
questionava, né? Perguntava assim, uai, na construção civil, o que é que você mais
gosta de fazer? Eu falava assim que gosto daquele trabalho mais difícil que tem na
construção, porque os outros mais fácil eu já sei. É... eu gosto daquele mais difícil,
porque aí eu tenho que buscar, criar alternativas, ver o que que eu vou ter que usar de
forma para que eu possa realiza-lo e ele ter que sair em condição certa, perfeita e não ter
desperdício. Esse é meu ser Zélio (ZÉLIO).
39
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
sobre o processo de formação humana. Os sentidos e significados atribuídos pelo sujeito à sua
própria vida indicam quem ele foi, quem é e quem pode vir a ser – é o homem em formação, em
movimento, permanentemente construído pela história.
O relato de Zélio revelou o seu movimento, seu percurso e sua história. Revelou também
a sua subjetividade e, de forma especial, o modo como conseguiu transformar as más condições
de vida favoráveis ao processo de adoecimento e alienação. As relações sociais estabelecidas na
Igreja, e posteriormente no Sindicato, foram fundamentais para a sua formação como líder
comunitário consciente das subordinações de sua comunidade e dedicado ao aprendizado e
ensinamento de uma vida em criação e ação social.
Conhecer o processo de hominização de Zélio foi o primeiro passo para o desafio que a
corrente sócio-histórica impõe ao psicólogo. A intenção emergente é, ainda, contribuir para o
desenvolvimento humano de indivíduos que sofrem com precárias condições materiais e sociais
de vida. Infelizmente, já se sabe que a resposta para esta necessidade não será encontrada em
escritos tradicionais da psicologia, mas nos novos olhares, práticas e nos próprios campos de
atuação.
Sem dúvida, intenções como essas não são em vão; afinal de contas, o potencial humano
só se revela quando somos capazes de tornar humanas as condições da realidade social. Ainda há
muito que caminhar, aprender e, principalmente, criar.
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6. REFERÊNCIAS
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tentativa de sistematização epistemológica e metodológica. In: KAHHALE, Edna M. Peters
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Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
VIGOTSKI, L. S. (1896-1934). A formação social da mente. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998, 191 p.