Ioseph Ratzinger - Introdução Ao Cristianismo
Ioseph Ratzinger - Introdução Ao Cristianismo
Ioseph Ratzinger - Introdução Ao Cristianismo
INTRODUÇÃO AO
CRISTIANISMO
Preleções sobre o Símbolo Apostólico
HERDER
SÃO PAULO
1970
Os números entre colchetes [n] indicam o início da página na edição portuguesa de Herder –
São Paulo, 1970. Foram acrescentados a esta edição eletrônica para possibilitar a citação
acadêmica da obra. Os títulos que precedem imediatamente ao número pertencem à página
em questão. As palavras hifenizadas entre páginas diferentes foram consideradas da página
anterior. A numeração das páginas do original tem início com o prefácio. Os números do
índice correspondem ao original.
Nihil obstat:
Imprimatur
ÍNDICE
Prefácio 1
INTRODUÇÃO
CAP. I – Fé no Mundo Hodierno 7
1. Dúvida e Fé – Situação do
homem frente ao problema 7
"Deus"
2. O salto da Fé – Ensaio
provisório de uma definição da 15
essência da Fé.
3. O dilema da Fé no mundo
19
de hoje
4. Limite da moderna
compreensão da realidade e 25
topografia da Fé
5. Fé como "estar" e
35
"compreender"
6. Razão e fé 40
7. "Creio em Ti" 44
CAP. II – Forma eclesial da Fé 47
1. Preliminares à história e à
estrutura do Símbolo 47
Apostólico da Fé
2. Limite e importância do
50
texto
3. Fé e Dogma 51
4. O Símbolo como expressão
54
da estrutura da Fé
I PARTE
DEUS 63
CAP I - Prolegômenos ao Tema
65
"Deus"
1. Âmbito da questão 65
2. O reconhecimento de um
71
Deus
CAP II - A Fé em Deus na Bíblia 77
1. O problema histórico da
77
sarça ardente
2. Pressuposto intrínseco da
82
Fé em "Iahvé": o Deus dos
pais
3. Iahvé, Deus dos patriarcas e
86
de Jesus Cristo
4. A idéia do nome 93
5. As duas faces da idéia
94
bíblica de Deus
CAP III - O Deus da Fé e o Deus dos
97
Filósofos
1. Opção da Igreja antiga pela
97
filosofia
2. Metamorfose do Deus dos
102
filósofos
3. Reflexo da questão no texto
107
do "Símbolo"
CAP IV - "Creio em Deus" – Hoje 111
1. O primado do Logos 111
2. O Deus pessoal 118
CAP V – Fé no Deus Trino 121
1. Introduzindo na
122
compreensão
2. Interpretação positiva 136
II PARTE
JESUS CRISTO 149
CAP I - "Creio em Jesus Cristo seu
151
Filho Unigênito, Nosso Senhor".
I. O problema da Fé em Jesus Cristo
hoje
II. Jesus, o Cristo: Forma
fundamental da Fé cristológica.
1. O dilema da Teologia nova:
154
Jesus ou Cristo?
2. Imagem do Cristo do
159
Símbolo
3. Ponto de partida da Fé: a
163
cruz.
4. Jesus, o Cristo 165
III. Jesus Cristo – verdadeiro Deus e
verdadeiro Homem
1. Introdução ao problema 167
1
2. Clichê moderno do "Jesus
6
histórico"
9
1
3. O direito do dogma
7
cristológico
2
IV. Caminhos da Cristologia
1. Teologia da Encarnação e
da Cruz
2. Cristologia e Soteriologia
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1. O individual e o todo
2. O princípio do "para"
3. A lei do incógnito
4. A lei do supérfluo
5. O definitivo e a esperança
6. O primado da aceitação e a
positividade cristã
1. "Concebido do Espírito
Santo, nascido da Virgem
Maria".
2. Padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e
sepultado.
2. "Ressurreição da carne".
PREFÁCIO
1
H. COX, The Secular City. Trad. port. A cidade do Homem, Paz e Terra, Rio de Janeiro,
1968, 270.
2
Confira-se a síntese informativa da Herderkorrespondenz 7 (1962/3, 561-565 sob o título "Die
echten Texte der kleinen heiligen Thérese" (Textos autênticos de Sta. Teresinha). As nossas
citações encontram-se à pág. 564. Sua fonte principal é o artigo de M. MORÉE, "La table des
pécheurs," em Dieu vivant No. 24,13-104. MORÉE refere-se sobretudo às pesquisas e edições
de A. COMBES, principalmente Le probleme de I' "Histoire d'une âme et des oeuvres
completes de Ste. Thérese de Lisieux, Paris, 1950. Outras fontes: A. COMBES, "Theresia von
Lisieux", em Lexikon für Theologie und Kirche (LthK) X,102-104. – De A. COMBES foi traduzido
por mim Sainte Thérese de Lisieux et sa Mission, publicado pela editora "Lar Católico" sob o
título "Uma Santa na era atômica" (1961), onde se podem conferir os conceitos aqui
abordados, sobretudo à pág. 125; 138 e seguintes e 174 (Nota do tradutor).
3
O que evoca impressionantemente o texto de Sab 10,4 tão importante para a teologia da
cruz da Igreja antiga: "à terra inundada, salvou-a a Sabedoria, dirigindo o justo num lenho
desprezível". Sobre este texto na teologia patrística confira-se H. RAHNER, Symbole der
Kirche, Salzburgo, 1964, 502-547.
4
Conforme o texto alemão de H. U. VON BALTHASAR, Salzburgo, 1953, 16.
5
M. BUBER, Werke III, Munique-Heidelberg, 1963, 348.
6
Típica ilustração para essa mentalidade encontra-se, ao meu ver, em um anúncio visto há
pouco: "Você não quer comprar tradição mas progresso racional". No mesmo contexto cumpre
apontar para a realidade característica de a teologia católica, em sua reflexão sobre a
tradição, nos últimos cem anos, tender sempre mais a equiparar tradição e progresso, de
reinterpretar a idéia de tradição pelo conceito de progresso, não entendendo mais tradição
como o cabedal fixo transmitido desde a origem, mas como a força propulsora do sentido da
fé; Cfr. J. RATZINGER, "Tradition", em: LThK X, 293-299; IDEM, "Kommentar zur
Offenbarungskonstitution" em: L ThK supl. II, 498 ss e 515-528.
7
Theou oudeis eoraken popote; monogenes theos... exegesato. O verbo exegeomai significa:
ser chefe, servir de guia, de conselheiro, dar exemplo e, em sentido derivado (no texto
presente): explicar, interpretar, expor. Cristo seria, então, quem explica, interpreta, expõe
aos homens o segredo de Deus. (A. CHASSANG, Nouveau Dictionnaire Grec-Français) (Nota do
Tradutor).
8
1Jo 1,1-3.
9
Declaração que, aliás, tem valor em todo o seu sentido somente dentro do pensamento
cristão que, com o conceito de creatio ex nihilo, reduz a Deus também a matéria a qual, para
a filosofia antiga, permanece como o alógico, o elemento cósmico estranho à divindade,
marcando assim, ao mesmo tempo, o limite da inteligibilidade do real.
10
Relativamente ao material histórico veja-se a síntese em K. LÖWITH, Weltgeschichte und
Heilsgeschichte, Stuttgart 31953, 109-128, assim como a obra de N. SCHIFFERS, Anfragen der
Physik an die Theologie, Düsseldorf, 1968.
11
N. SCHIFFERS, obra citada.
12
K. LÖWlTH, obra cit., 38. Sobre a virada nos meados do século XIX, veja-se a instrutiva
pesquisa de J. DÖRMANN, "War J. B. Bachofen Evolutionist?" em: Anthropos 60 (1965) 1-48.
13
Cfr. H. FREYER, Theorie des gegenwärtigen Zeitalters, Stuttgart, 1958, sobretudo 15-78.
14
Sintomática, neste sentido, é a obra de H. Cox, já citada, bem como a "teologia da
revolução" hoje em moda; cfr. T. RENDORFF – H E. TÖDT, Theologie der Revolution. Analysen
und Materialien, Frankfurt 1968. Tendência igual também em J. MOLTMANN, Theologie der
Hoffnung, Munique 1964, 51966 e em J. B. METZ, Zur Theologie der Welt, Mogúncia-Munique,
1968.
15
O sentido do vocábulo grego Logos corresponde, de algum modo, à raiz hebraica 'mn
(amém): palavra, sentido, razão, verdade estão nele incluídos.
16
Neste contexto pode-se apontar para a importante perícope dos At 16,6-10 (O Espírito Santo
impede a Paulo de pregar na Ásia; o Espírito de Jesus não lhe permite viajar à Bitínia; e ainda
a visão com o chamado da Macedônia: "Vem e ajuda-nos!"). Este misterioso texto deveria
representar algo assim como uma primeira tentativa "teológico-histórica" para sublinhar a
passagem da mensagem para a Europa, "aos gregos", como obrigação divinamente
determinada; Confira-se a respeito E. PETERSON, "Die Kirche", em: Theologische Traktate,
Munique, 1951, 409-429.
17
Cfr. H. FRIES, Glauben-Wissen, Berlin, 1960, sobretudo 89-95; J. MOUROUX, lch glaube an
Dich Einsiedeln 1951; C. CIRNE-LIMA, Der personale Glaube, Innsbruck, 1959.
1
Obra decisiva e clássica a respeito é: Das apostolische SymboI de F. KATTENBUSCH, I, 1894;
II, 1900 (reeditada sem alterações em 1962, Darmstadt; será citada sempre: KATTENBUSCH).
Além disto, é importante J. DE GHELLINCK, Patristique et Moyen-âge I, Paris, 21949; e ainda a
visão de conjunto de J. N. D. KELLY, Early Christian Creeds, Londres, 1950; e W. TRILLHAAS,
Das apostolische Glaubensbekenntnis, Geschichte, Text, Auslegung, Witten, 1953. Breves
resumos e bibliografias ulteriores encontram-se nas patrologias, por exemplo: B. ALTANER –
A. STUIBER, Patrologie, Friburgo, 71966, 85 e ss; J. QUASTEN, Patrology I, Utrecht, 1962, 23-
29; veja-se também J. N. D. KELLY, "Apostolisches Glaubensbekenntnis" em: LThK I, 760 e ss.
2
Confira-se, por exemplo, o texto do Sacramentarium Gelasianum (Edição WILSON), 86,
citado em KATTENBUSCH II, 485, assim como, sobretudo, o texto da Traditio apostolica de
HIPÓLITO (Edição BOTTE) Münster, 21963, 48 e ss.
3
HIPÓLlTO, obr. cit. 46: Renuntio tibi, Satana, et omni servitio tuo et omnibus operibus tuis.
4
KATTENBUSCH n. 503.
5
Confira-se A. HAHN, Bibliothek der Symbole und Glaubensregeln der Alten Kirche, 31897;
nova edição, Hildesheim 1962; G. L. DOSETTI, Il simbolo di Nicea e di Costantinopoli, Roma,
1967.
6
Confira-se F. G. JÜNGER, "Sprache und Kalkül", em: Die Künste im technischen Zeitalter,
editado pela Academia Bávara de Belas Artes, Darmstadt, 1956, 86-104.
7
Confira-se J. H. EMMINGHAUS, "Symbol III", em: LThK IX, 1208 e ss.
8
Em PLATÃO a idéia de símbolo evoluiu abrangendo o ser humano: no Simpósio 191 d, anexo
ao mito andrógino, o homem é interpretado como "símbolo", como uma metade que remete
ao seu correlativo no outro: "Cada um de nós é symbolon (símbolo, metade) de um homem,
porque, como a gleba (pelo arado) fomos cortados, tornando-nos, de um, dois. Sem cessar
cada um procura o symbolon (= a sua outra metade) que lhe pertence".
9
K. RAHNER, "Was ist eine dogmatische Aussage"?, em: Schriften zur Theologie V, Einsiedeln,
1962, 54-81, sobretudo 67-72. O presente capítulo muito deve a este importante trabalho de
Rahner.
10
Veja-se o relatório da conversão de Mário Vitorino e a impressão de Agostinho nas
Confessiones VIII 2, 3-5; além disto: A. SOLIGNAC, "Le cercle milanais", em: Les Confessions
(Oeuvres de St. Augustin 14), Desclée 1962, 529-536.
1
A palavra "Criador" não figura no texto romano original. Contudo, a idéia de "criação" está
implícita na expressão "todo-poderoso" (Pantokrator).
2
G. VAN DER LEEUW, Phänomenologie der Religion, Tübingen, 21956, 103.
3
Cfr. R. MARLÉ, "Die fordernde Botschaft Dietrich Bonhoeffers", em Orientierung 31 (1967),
42-46, principalmente o texto clássico de Widerstand und Ergebund (ed. Betge), Munique,
12
1964, 182: "Gostaria de falar de Deus não nos limites, mas no meio, não nas debilidades, mas
na força, não na morte e culpa, mas na vida e na bondade do homem" .
4
P. CLAUDEL, Le soulier de Satin (ed. alemã, Salzburg, 1953, 288 e ss.), o grande diálogo
final entre Proeza e Rodrigo; veja-se também 181 e a cena antecedente com a dupla sombra.
5
Confira-se A. BRUNNER, Die Religion, Friburgo, 1956, sobretudo 21-94; R. GUARDINI, Religion
und Offenbarung I, Würzburg, 1958.
6
Cfr. J. A. CUTTAT, Begegnung der Religionen, Einsiedeln, 1956; J. RATZINGER, "Der
christliche Glaube und die Weltreligionen", em: Gott in Welt (Ed. festiva para K. Rahner) II,
Friburgo, 1964, 287-305; bem como o material em P. HACKER, Prahlada, Werden und
Handlungen einer Idealgestalt I e II, Mogúncia, 1958.
7
É suficiente mencionar a coexistência de filósofos ateus (Epicuro, Lucrécio, etc.) ao lado de
monoteístas (Platão, Aristóteles, Plotino) na antiga filosofia, uns e outros declarando-se
politeístas religiosos – realidade à qual raramente se deu o devido apreço em um sistema
unilateral de história da filosofia. Só com este pano de fundo torna-se compreensível a
atitude cristã no que ela tinha de revolucionário, identificando as orientações filosófica e
religiosa. Confira-se J. RATZINGER, Volk und Haus Gottes in Augustinus Lehre von der Kirche,
Munique, 1954, 2-12 e 218-234.
8
Texto do Sch'ma (nome dessa prece, tirado da palavra inicial: “ouve, ó Israel...”) em R. R.
GEIS, Vom unbekannten Judentum, Friburgo, 1961, 22 e s.
9
E. BRUNNER, Die christliche Lehre von Gott. Dogmatik I, Zurique, 1960, 124-135; Cfr. J.
RATZINGER, Der Gott des Glaubens lmd der Gott der Philosophen, Munique, 1960.
10
Assim há de exprimir-se o evento sob o ponto de vista do historiador. O que não fere a
convicção do crente de que esse "refundir criativo" somente era possível na forma de uma
aceitação da Revelação. O processo criativo, de resto, sempre é um processo de aceitação.
Quanto à feição histórica, veja-se H. CAZELLES, "Der Gott der Patriarchen", em: Bibel und
Leben 2 (1961), 39-49. O. EISSFELDT, "Jahwe, der Gott der Vater", em: Theologische
Literaturzeitung 88 (1963), 481-490; G. VON RAD, Theologie des AT I, Munique, 1958, 181-
188.
11
Cazelles. O. cito
12
Aqui conviria lembrar (como na nota 10) que "opção" inclui '''dádiva, recepção" e, por
conseguinte "revelação".
13
Confira-se MÁXIMO CONFESSOR, Expositio Orationis Dominicae, em: Patrologia Graeca (PG)
90,892. Para Máximo reconciliam-se no Evangelho o politeísmo pagão e o monoteísmo
judaico. "Aquele é multiplicidade contraditória sem liame; este é unidade sem riqueza
interna". Máximo considera a ambos igualmente imperfeitos e carentes de complementação. E
então ambos abrem caminho para a idéia de Deus uno e trino, que completa, pela
"multiplicidade viva e engenhosa dos gregos", a idéia monoteísta dos judeus "estreita,
imperfeita e quase sem valor em si" e "inclinada" ao perigo do "ateísmo". Assim, conforme H.
U. VON BALTHASAR, Kosmische Liturgie, Das Weltbild Maximus' des Bekenners, Einsiedeln,
2
1961, 312; cfr. também A. ADAM, Lehrbuch der Dogmengeschichte I, Gütersloh, 1965, 368.
Confira-se W. EICHRODT, Theologie des A. T., Leipzig, 21939, 92 s.; G. VON RAD, o. cito (ver
14
Sobre origem e significado desta fórmula confira-se, sobretudo, E. SCHWEIZER, EGO EIMI...,
15
16
Dominus noster Christus veritatem se, non consuetudinem cognominavit. De virginibus
velandis I, 1, in: Corpus Christianorum seu nova Patrum collectio (CChr), II, 1209.
17
Texto do "Mémorial", como se denomina essa cédula, em ROMANO GUARDINI, Christliches
Bewusstsein, Munique, 21950, 47 s, ibd, 23, reprodução reduzida do original; confira-se a
análise de GUARDINI, 27-61. Para completar e corrigir H. VORGRIMLER, "Marginalien zur
Kirchenfrommigkeit Pascals", em : J. Daniélou-H. Vorgrimler, sentire ecclesiam, Priburgo
1961, 371 a 406.
18
H. RAHNER esclareceu a origem do "epitáfio de Loiola" citado por HÖLDERLIN: "O epitáfio de
Loiola" em: Stimmen der Zeit, ano 72, vol. 139 (Fevereiro de 1947), 321-337: a frase origina-
se da grande obra Imago primi saeculi Societatis Iesu a Provincia Flandro-Belgica eiusdem
Societatis repraesentata, Antuérpia, 1640. À pág. 280-282 encontra-se um elogium sepulcrale
Sancti Ignatii, do qual se emprestou o lema; cfr. também HÖLDERLIN, Werke III (ed. F.
Beissner. Sonderausgabe für die Wissenschaftliche Buchgesellschaft Darmstadt), Stuttgart
1965, 346 s. O mesmo pensamento encontra-se em inúmeros textos rabínicos; cfr. P. KUHN,
Gottes Selbsterniedrigung in der Theologie der Robbinen, Munique, 1968, sobretudo 13-22.
19
KATTENBUSCH II, 526; P. VAN IMSCHOOT, "Heerscharen", em: H. HAAG, Bibellexikon,
Einsiedeln, 1951, 667-669; na 2.a edição (1968), 684, o artigo está bastante abreviado.
20
A. EINSTEIN, Mein Weltbild, editado por C. SEELIG, Zurique-Stuttgart-Viena, 1953, 21.
21
Ob. cit., 18-22. No capítulo Necessidade da cultura ética (22-24) mostra-se, aliás, um
abrandamento da ligação íntima de antes, entre conhecimento científico-natural e admiração
religiosa; a visão sobre o religioso propriamente dito parece um tanto aguçada através das
trágicas experiências passadas.
22
Citado por W. VON HARTLIEB. Das Christenturn und die Gegenwart, Salzburgo, 1953
(Stifterbibliothek, vol. 21), 18 s.
23
E. PETERSON, Theologische Traktate, Munique, 1951, 45-147: Der Monotheismus als
politisches Problem, sobretudo 52 e s.
24
L. c. 102 e ss. Igualmente importante é a observação de PETERSON, 147, nota 168: "O
conceito de "teologia política" foi introduzido na literatura por W. CARL SCHMITT, Politische
Theologie, Munique, 1922... Tentamos comprovar, com um exemplo concreto, a
impossibilidade de uma "teologia política".
GRILLMEIER, em: LThK V, 467 s.; além disto, o resumo da história do dogma trinitário em A.
ADAM, o. cito 115-254 (veja-se à pág. 86 nota 13). Sobre o tema "Balbuciar do homem diante
de Deus" cfr. a bela estória "O balbuciar" das narrações cassídicas em: M. BUBER, Werke III,
Munique, 1963, 334.
Citado por H. DOMBOIS, "Der Kampf um das Kirchenrecht", em: H. ASSMUSSEN – W. STÄHLIN,
26
27
H. DOMBOIS (o. cit.) chama a atenção para o fato de N. BOHR, introdutor da
complementaridade na Física, por sua vez, ter aludido à Teologia: à complementaridade da
justiça e misericórdia de Deus; Confira-se N. BOHR, Atomtheorie und Naturbeschreibung,
Berlin, 1931; do mesmo: Atomphysik und Menschliche Erkenntnis, Braunschweig, 1958. Outras
indicações e bibliografia oferece C. F. VON WEIZSACKER em seu artigo "Komplementarität",
em: Die Religion in Geschichte und Gegenwart (RGG) III, 1744 e s.
*
"Ondas", bem entendido aqui: o autor joga com a antítese de substância e relações (Nota do
tradutor).
28
B. PASCAL, Pensées, Fragment 233 (ed. Brunschvicg 137 s); tradução de M. LAROS, Pascals
Pensées, Munique, 1913, 96 s; cfr ainda BRUNSCHVICG pág. 333, nota 53, que mostra, contra
V. COUSIN (ver também LAROS pág 97, nota 1) que "s'abetir" (embrutecer-se, atoleimar-se)
significa para Pascal: "retourner à l'enfance, pour atteindre les vérités supérieures qui sont
inaccessibles à la courte sagesse des demi-savants". Com base nisto, BRUNSCHVICG pode
dizer, dentro do pensamento de PASCAL: "Rien n'est plus conforme à la raison que le desaveu
de la raison" (nada é mais racional do que a negação da razão): Pascal não fala como cético
(opinião de COUSIN) mas como crente dentro de sua convicção e certeza; cfr. ainda
VORGRIMLER l. c. 383 (ver pág. 103 nota 17 do presente livro).
29
Confira-se a respeito W. KERN, "Einheit-in-Mannigfaltigkeit", em: Gott in Welt (Festschrift
für K. Rahner) I, Friburgo, 1964, 207-239; veja-se também o que escrevi à página 85, nota 13
sobre MÁXIMO CONFESSOR.
30
Confira-se o artigo de K. RAHNER, citado à pág. 60, nota 26.
32
AGOSTINHO, Enarrationes in Psalmos 68 s I, 5, em: CChr 39,905 (Patrologia Latina (PL) 36,
845).
33
Confira-se De Trinitate V 5,6 (PL 42, 913 s): "... In Deo autem nihil quidem secundum
accidens dicitur, quia nihil in eo mutabile est; nec tamen omne quod dicitur, secundum
substantiam dicitur... quod tamen relativum non est accidens, quia non est mutabile". Veja-
se também M. SCHMAUS, Katholische Dogmatik I, Munique, 31948, 425-432 (§ 58).
35
Citado por K. H. SCHELKLE, Jüngerschaft und Apostelamt, Friburgo, 1957, 30.
36
AUGUSTINUS, In Joannis Evangelium tractatus 29, 3 (relativo a Jo 7,16), in: CChr 36, 285.
*
Sarx: vocábulo grego = carne (nota do tradutor).
1
Paradiso, XXXIII, 127 até o fim. O texto que interessa, no verso 130 e ss: Dentro da sè del
suo colore istesso / Mi parve pinta della nostra effige / Per che il mio viso in lei tutto era
messo.
2
Assim o grupo de W. PANNENBERG; confira-se W. PANNENBERG, Grundzüge der Christologie,
Gütersloh, 21966, sobretudo a definição 23: "A tarefa da Cristologia, portanto, consiste em
fundamentar o verdadeiro conhecimento da importância de Cristo a partir de sua história...".
3
Assim na antiga Teologia liberal; cfr. sua expressão clássica em A. V. HARNACK, Das Wesen
des Christentums (nova edição de R. BULTMANN), Stuttgart, 1950.
4
Foi o que sublinhou com muita insistência A. SCHWEITZER, em sua História da Pesquisa da
Vida de Jesus, publicada em Tübingen em 1906, com o que se colocou um provisório ponto
final àqueles esforços. Seja-me permitido lembrar apenas a seguinte passagem clássica dessa
obra: "Nada há de mais negativo do que o resultado da pesquisa da vida de Jesus. Não existiu
o Jesus de Nazaré que se apresentou como Messias, que anunciou a ética do reino de Deus,
que fundou o reino dos céus na terra e que morreu para consagrar a sua obra. Trata-se de
uma figura planejada pelo Racionalismo, vivificada pelo Liberalismo e revestida de ciência
histórica pela Teologia moderna. Essa imagem não foi destruída de fora, mas ruiu por si
mesma, soterrada pelos problemas históricos reais..." (Citado conforme W. G. KÜMMEL, Das
Neue Testament, Geschichte der Erforschung seiner Probleme, Friburgo-Munique, 1958, 305).
5
Isto torna-se muito mais claro na última declaração mais detalhada de BULTMANN sobre o
problema "Jesus" : Das Verhältnis der urchristlichen Christusbotschaft zum historischen
Jesus, Heidelberg, 1960, e mais ainda nos trabalhos do seu discípulo H. BRAUN, do qual ele
bastante se aproxima na obra citada.
6
Nova edição 1950, 86. No 56-60.° milheiros (1908) em uma nota (183) HARNACK confirmou
expressamente essa frase ("nada tenho a mudar nela"), acentuando ao mesmo tempo ser
evidente que vale isto apenas para o Evangelho "como Jesus o anunciou", não "como Paulo e
os Evangelistas o pregaram".
7
Cfr. a respeito a síntese de G. HASENHÜTTL, "Die Wandlung des Gottesbildes", em: Theologie
im Wandel (Tübinger Festschrift. Schriftleitung J. RATZINGER – J. NEUMANN), Munique, 1967,
228-253; W. H. VAN DE POL, Das Ende des Konventionellen Christentums, Viena, 1967, 438-
443, trad. port. O fim do cristianismo convencional. Herder. São Paulo, 1969.
8
KATIENBUSCH II, 491, cfr. 541-562.
9
K. BARTH, Kirchliche Dogmatik III, 2, Zurique 1948, 66-69; citado conforme H. U. VON
BALTHASAR, "Zwei Glaubensweisen", em: Spiritus Creator, Einsiedeln, 1967, 76-91, citação:
89 s. Deve-se cotejar o trabalho de BALTHASAR.
10
H. U. VON BALTHASAR, o. cit. sobretudo 90. O MESMO, Verbum Caro, Einsiedeln, 1960, 11-
72, sobretudo 32 e s, 54 e ss.
11
Cfr. a observação esc1arecedora de E. KÄSEMANN, em. Exegetische Versuche und
Besinnungen II, Göttingen, 1964, 47, que chama a atenção para o seguinte: o simples fato de
João apresentar o seu Kerygma em forma de um Evangelho, tem ponderável força
comprovante.
12
Cfr. P. HACKER, Das Ich im Glauben bei Martin Luther, Graz 1966, sobretudo o capítulo
"Säkularisierung der Liebe", 166-174. Recorrendo a numerosos textos, HACKER demonstra que
o Lutero da Reforma (mais ou menos do ano de 1520) destina o amor à "vida exterior", ao uso
"com os homens", portanto ao reino profano, à hoje chamada mundanidade, ou seja à "justiça
da lei", excluindo-o, assim secularizado, da esfera da graça e da salvação. HACKER torna claro
que o plano de secularização de GOGARTEN pode com todo o direito apelar para Lutero. Está
claro que Trento devia traçar aqui uma clara linha provisória que continua valendo ali onde se
defende a secularização do amor; Sobre GOGARTEN consulte-se a apresentação e avaliação de
sua obra por A. V. BAUER, Freiheit zur Welt (Säkularisation), Paderborn, 1967.
13
Com o que, naturalmente, não quero aceitar a posteriori a tentativa já repudiada como
impossível, de uma construção histórica da fé. Trata-se aqui de comprovar a legitimidade
histórica da fé.
14
Falando-se de uma "forma de vulgarização da Teologia moderna" já está dito,
implicitamente, que os fatos são vistos diferençadamente nas pesquisas teológicas e também
de múltiplos modos, se tomados isoladamente. Contudo, as aporias são as mesmas, não tendo
valor a desculpa preferida de que não é exatamente assim.
*
Schibboleth, termo hebreu (= espiga), usado pelos galaaditas para descobrir os efraimitas (Jz
12,6). Em sentido figurado, é o mesmo que senha, distintivo de um partido ou, em nosso caso,
de uma religião. (Cfr. Der Grosse Herder: "Schibboleth"). (Nota do Tradutor).
15
W. V. MARTITZ, "yios im Griechischen", em: Theologisches Wörterbuch zum NT (ed. Kittel-
Friedrich) VIII, 335-340.
16
Cfr. H. J. KRAUS, Psalmen I, Neukirchen, 1960, 18 ss (salmo 2,7).
Cfr. o importante artigo de J. JEREMIAS, "pais theou", em: Theologisches Wörterbuch zum
17
18
Cfr. W. V. MARTITZ, l. c. 330 55, 336.
20
Cfr. a respeito o importante material em A. A. T. EHRHARDT, Politische Metaphysik von
Solon bis Augustin, 2 vols, Tübingen, 1959; E. PETERSON, "Zeuge der Wahrheit", em:
Theologische Traktate, Munique, 1951, 165-224; N. BROX, Zeuge und Märtyrer, Munique,
1961.
21
Isto foi esclarecido de modo convincente por F. HAHN, Christo1ogische Hoheitstitel,
Gõttingen, 31966, 319-333; além disto, as importantes considerações de J. JEREMIAS, Abba,
Studien zur neutestamentlichen Theologie und Zeitgeschichte, Göttingen, 1966, 15-67.
22
J. JEREMIAS, l.c. 58-67 em que ele corrige a sua opinião anterior segundo a qual Abba seria
o simples balbuciar de criança, em: Theologisches Wörterbuch zum NT V, 984 s; sua hipótese
básica continua: para o sentimento judaico, seria irreverente e por isto impossível, chamar a
Deus com esse nome familiar. Foi algo de novo e inaudito o ter Jesus ousado dar tal passo... O
Abba com que se dirige a Deus revela o âmago da sua relação com Deus".
23
Glauben und Verstehen II, Tübingen 1952, 258. Cfr. G. HASENHÜTTL, Der Glaubensvollzug.
Eine Begegnung mit R. Bultmann aus katholischem Glaubensvertändnis, Essen, 1963, 127.
24
Quanto a esta tentativa cfr. B. WELTE, "Homousios Hemin. Gedanken zum Verständnis und
zur theologischen Problematik der Kategorien von Chalkedon", em: A. GRILLMEIER – H.
BACHT, Das Konzil von Chalkedon III, Würzburgo 1954, 51-80; K. RAHNER, "Zur Theologie der
Menschwerdung", em: Schriften zur Theologie IV, Einsiedeln, 1960, 137-155; O MESMO, "Die
Christologie innerhalb einer evolutiven Weltanschauung", em: Schriften V, Einsiede1n, 1962,
183-221.
25
Cfr. J. PEDERSON, Israel, Its Life and Culture, 2 vls. Londres, 1926 e 1940; H. W. ROBINSON,
"The Hebrew Conception of Corporate Persona1ity", em: Beihefte zur Zeitschrift für die
alttestamentliche Wissenschaft 66 (Berlin 1966), 49-62; J. DE FRAINE, Adam und seine
Nachkommen, Colônia, 1962.
26
Citado por C. TRESMONTANT, Einführung in das Denken Teilhard de Chardin's, Friburgo,
1961, 77.
27
Ibd., 41.
28
Ibd., 40.
29
Ibd., 77.
30
Ibd., 82.
31
Ibd., 82.
32
Ibd., 90
33
Ibd., 78.
34
Cfr. O. CULLMANN, Urchristentum und Gottesdienst, Zurique, 1950, 110 ss: J. BETZ, Die
Eucharistie in der Zeit der griechischen Vater II, 1: Die Realpräsenz des Leibes und Blutes
Jesu im Abendmahl nach dem NT, Friburgo, 1961, 189-200.
Recorro a seguir a pensamentos desenvolvidos em meu livrinho "Vom Sinn des Christseins",
35
Munique, 21966 e tentarei sistematizar o que foi dito lá, subordinando-o ao contexto mais
amplo da presente obra.
36
Assim resume J. R. GEISELMANN os pensamentos desenvolvidos por MÖHLER em:
Theologische Quartalschrift 1830, 582 s: J. R. GEISELMANN, Die Heilige Schrift und die
Tradition, Friburgo, 1962, 56.
37
Conforme J. R. GEISELMANN, ibd., 56; F. VON BAADER, Vorlesungen über spekulative
Dogmatik (1830), 7. Vorl., em: Werke VIII, 231, cfr. MÖHLER.
38
Cfr., a respeito, a observação de E. MOUNIER, em: L'Esprit, janeiro 1947: Certo repórter de
rádio teve a infeliz idéia de descrever o panorama do fim do mundo. Ponto culminante da
loucura: pessoas se suicidavam para não morrer. Este reflexo manifestamente irracional prova
que vivemos muito mais do futuro do que do presente. Um homem repentinamente privado do
futuro é um ser privado da vida. – Sobre o Sein des Daseins als Sorge M. HEIDEGGER, Sein und
Zeit, Tübingen, 111967, 191-196.
39
Cfr. J. RATZINGER, "Menschheit und Sttatenbau in der Sicht der Frühen Kirche", em:
Studium generale 14 (1961), 664-682, sobretudo 666-674; H. SCHLIER, Mächte und Gewalten
im N. T., Friburgo, 1958, sobretudo 23 s, 27,29. Sobre o impessoal "se": HEIDEGGER, Sein und
Zeit, Tübingen, 111967, 126-130.
40
Cfr. a instrutiva pesquisa de J. NEUNER, "Religion und Riten. Die Opferlehre der
Bhagavadgita", em: Zeitschrift für Katholische Theologie 73 (1951), 170-213.
41
No Cânon da missa, de acordo com o relato da instituição (Mc 14,24 e par.).
42
Cfr. o mito de Purusha da religião védica; veja a respeito P. REGAMEY, em: F. KÖNIG,
Christus und die Religionen der Erde. Handbuch der Religionsgeschichte, 3 vols, Friburgo,
1951, III, 172 s; Id. em: F. KÖNIG, Religionswissenschaftliches Wörterbuch, Friburgo, 1956,
470 s; J. GONDA, Die Religionen Indiens I, Stuttgart, 1960, 186. O texto principal em Rigveda
10,90.
43
Conforme H. MEYER, Geschichte der abendländlichen Weltanschauung I, Würzburgo, 1947,
231 (= ed. Bekker 993 b 9 ss).
Cfr. PH. DESSAUER, "Geschöpfe von fremden Welten", em: Wort und Wahrheit 9 (1954), 569-
44
O tema "Lei e Evangelho" deveria ser abordado sobretudo a partir daqui; cfr. G. SÖHNGEN,
45
46
K. RAHNER, Schriften zur Theologie I, Einsiedeln, 1954, 60; cfr. J. RATZINGER, "Kommentar
zur Offenbarungskonstitution", em: LThK, Ergänzungsband II, 510.
Cfr. A. DEMPF, Sacrum Imperium, Darmstadt, 1954 (reprodução não modificada da primeira
47
edição de 1929), 269-398;. E. BENZ, Ecclesia spiritualis, Stuttgart 1934; J. RATZINGER, Die
Geschichtstheologie des hl. Bonaventura, Munique 1959.
48
L. EVELY, Manifest der Liebe. Das Vaterunser, Friburgo, 31961, 26; cfr. Y. CONGAR, Wege
des lebendigen Gottes, Friburgo, 1964, 93.
49
Cfr. R. LAURENTIN, Struktur und Theologie der lukanischen Kindheitsgeschichte, Stuttgart,
1967; L. DEISS, Maria, Tochter Sion, Mogúncia, 1961; A. STÖGER, Das Evangelium nach Lukas
I, Düsseldorf, 1964, 38-42; G. VOSS, Die Christologie der lukanischen Schriften in
Grundzügen. Studia Neotestamentica II, Paris-Brüges 1965.
50
Cfr. W. EICHRODT, Theologie des AT I, Leipzig, 1939, 257: "Esses traços... em seu conjunto,
permitem concluir sobre uma imagem familiar do Salvador, na qual o povo via refletida a sua
unidade ideal. Isto confirma-se pela descoberta de uma série de declarações convergentes
sobre o rei-salvador em todo o âmbito do Oriente Médio, declarações passíveis de serem
reunidas em cenas de uma biografia sagrada, indicando ter Israel participado de um fundo
comum oriental" .
51
E. SCHWEIZER, "yios", em: Theologisches Wörterbuch zum NT VIII, 384.
52
É o que se deve objetar contra as especulações com que P. SCHOONENBERG tenta justificar
a reserva do catecismo holandês neste ponto, em seu artigo "De nieuwe Katechismus und die
Dogmen", trad. alemã em: Dokumentation des Holländischen Katechismus, Freiburg 1967
(XIV-XXXIX, sobre o nosso assunto XXXVII-XXXVIII). Fatal neste ensaio é sobretudo o equívoco
fundamental sobre o conceito de dogma, em que se baseia. SCHOONENBERG entende o
"dogma" totalmente na perspectiva dogmática jesuíta do século XIX e naturalmente em vão
procura um ato dogmatizante do magistério sobre o nascimento virginal, que seja análogo às
promulgações do dogma da Imaculada Conceição (isenção do pecado original) ou da Assunção
corporal de Maria ao céu. Deste modo chega ele ao resultado de que, quanto ao nascimento
de Jesus da Virgem, em contraposição às duas outras promulgações, não existe nenhuma
doutrina firme da Igreja. Na verdade, com semelhante afirmação a história dos dogmas sofre
total inversão, e a forma do magistério eclesiástico definitivamente firmada desde o Vaticano
I é de tal forma absolutizada, que se torna insustentável não só com respeito ao diálogo com
as igrejas orientais, mas simplesmente em si mesmo e que nem o próprio SCHOONENBERG
está em condições de sustentar. De fato, o dogma como promulgação individual e definida ex
cathedra pelo Papa é a última e a mais baixa forma de formular dogmas. A forma primitiva
com que a Igreja exprime obrigatoriamente a sua fé é o símbolo; o reconhecimento unívoco,
quanto ao sentido, do nascimento de Jesus, da Virgem, pertence, desde o início, firmemente
a todos os símbolos, sendo, assim, parte integrante do protodogma eclesiástico. Perguntar
pela obrigatoriedade do Lateranense I ou da bula de Paulo V (1555), como SCHOONENBERG o
faz, torna-se um esforço sem objetivo; a tentativa de reduzir também os símbolos a mera
interpretação "espiritual" não passaria, por conseguinte, de cortina de fumaça da história do
dogma.
*
A respeito veja-se REB XXVIII, dez 1968, o importante trabalho de G. BARAÚNA,
"Transcendência-Imanência, a difícil dialética da hora presente", págs. 810-858, sobretudo o
capitulo: "Um novo fantasma à vista?", 820 e ss.; PAULO VI, ibd. 935-937, alocução de 10 de
julho de 1968 sobre: Religião vertical e religião horizontal (nota do tradutor).
53
J. DANIÉLOU, Vom Geheimnis der Geschichte, Stuttgart, 1955, 388 s.
Politeia II, 361 e-36 a. Conforme a versão de S. TEUFFEL, em: PLATON, Sämtliche Werke II,
54
Colônia-Olten, 51967, 51; cfr ainda H. U. VON BALTHASAR, Herrlichkeit 1II/1, Einsiedeln,
1965, 156-161; E. BENZ, "Der gekreuzigte Gerechte bei Plato, im NT und in der alten Kirche",
Abhandlungen der Mainzer Akademie 1950, Heft 12.
*
Paul Claudel em seu "Chemin de Ia Croix" (Librairie de l'Art Catholique, Paris, 5) tem palavras
admiráveis na descrição desta faceta humana: "Nous ne voulons plus de Jésus-Christ avec
nous, car il nous gene... Crucifiez-le, si vous le voulez, mais débarrassez-nous de lui! Qu'on
l'emmène!" (Nota do Tradutor).
55
Cfr H. DE LUBAC, Die Tragödie des Humanismus ohne Gott, Salzburgo, 1950, 21-31.
56
Cfr. a importância do silêncio nos escritos de INÁCIO DE ANTIOQUIA: Epistola ad Ephesios
19,1: "E ao príncipe deste mundo permaneceu oculta a virgindade de Maria e o seu parto,
bem como também a morte do Senhor – três mistérios a clamar em alta voz, realizados no
silêncio de Deus"; cfr. Epistola ad Magnesios 8,2 onde se fala do logos apo siges proelton (da
palavra nascida do silêncio) e a meditação sobre o falar e o calar na Epistola ad Ephesios
15,1. H. SCHLIER oferece o fundo histórico, Religionsgeschichtliche Untersuchungen zu den
Ignatiusbriefen, Berlin, 1929.
*
Cfr a interessante e impressionante obra de ficção de C. S. LEWIS, The great Divorce em que
o poeta anglicano, recentemente falecido, descreve com mão de mestre a situação dos que
se fecharam optando pelo reino das puras impossibilidades. Lástima que ainda não existam
em português versões das obras de C. S. Lewis (Nota do Tradutor).
58
L. BAECK, Das Wesen des Judentums, Colônia 61960, 69.
59
2 Clem I, I s; cfr. KATTENBUSCH II, 660.
1
Cfr. J. RATZINGER, "Heilsgeschichte und Eschatologie", em: Theologie im Wandel (Tübinger-
Festschrift), Munique, 1967, 68-89.
2
Cfr. o grande trabalho de H. U. VON BALTHASAR, "Casta meretrix", no seu volume Sponsa
Verbi, Einsiedeln, 1961, 203-305; os textos citados 204-207; além disto, H. RIEDLINGER, Die
Makellosigkeit der Kirche in den lateinischen Hoheliedkommentaren des Mittelalters,
Münster, 1958.
3
Cfr. H. DE LUBAC, Die Kirche, Einsiedeln, 1968 (frances 31954), 251-282.
4
KATTENDUSCH II, 919.917-927 sobre a história da recepção do termo "católico" no
"apostolicum" e sobre a história da palavra em geral; cfr. também W. BEINERT, Um das dritte
Kirchenattribut, 2 vols, Essen 1964.
5
Sobre o problema "Igreja e Igrejas" que aqui aflora, expus meu ponto de vista em: J.
RATZINGER, Das Konzil auf dem Weg, Colônia, 1964, 48-71.
6
As considerações seguintes foram feitas em nexo estreito com meu artigo "Auferstehung" em:
Sacramentum mundi I, editado por RAHNER – DAILAP, Friburgo, 1967, 397, 402, onde há
ulterior bibliografia.
Joseph Ratzinger
INTRODUÇÃO
“CREIO – AMÉM”
CAPÍTULO PRIMEIRO
Fé no Mundo Hodierno
6. Razão da Fé
7. "Creio em Ti"
Forma Eclesial da Fé
3. Fé e Dogma
DEUS
1. Âmbito da questão
2. O reconhecimento de um Deus
A Fé em Deus na Bíblia
4. A idéia do nome
1. O primado do Logos
A fé cristã não coincide, sem mais, nem com uma nem com
outra das duas soluções. Certamente, também a fé dirá: ser é um
"ser-pensado". Até a matéria aponta para além de si, [117] para o
pensar como o elemento anterior e mais original. Mas, em oposição
ao idealismo que descreve todo ser como momentos de uma
consciência única e envolvente, a fé cristã dirá: o ser é um "ser-
pensado" – contudo, não de forma tal que permaneça
exclusivamente como pensamento e o halo da independência se
traia ao observador atento como simples aparência. A fé cristã
conota, antes, que as coisas são "ser-pensado", originado de uma
consciência criadora, de uma criativa liberdade e que aquela
consciência criadora, a sustentar tudo, colocou o pensado dentro
da liberdade do ser próprio e independente. Nisto a fé cristã
ultrapassa qualquer idealismo puro. Enquanto este declara – como
há pouco o constatamos – todo o real como conteúdo de uma única
consciência, para a doutrina cristã o sustentador é uma liberdade
criadora, que coloca o pensado, sempre de novo, na corrente da
liberdade do próprio ser, de modo que, por um lado, ele é um "ser-
pensado" de uma consciência e, contudo, por outro lado, é
verdadeira ipseidade (é ele mesmo).
2. O Deus pessoal
Fé no Deus Trino
1. Introduzindo na compreensão
2. Interpretação positiva
SEGUNDA PARTE
JESUS CRISTO
CAPÍTULO PRIMEIRO
"Creio em Jesus Cristo seu Filho Unigênito, Nosso Senhor".
4. Jesus, – o Cristo
[165] Com tudo o que foi dito, deve ter ficado esclarecido em
que sentido e até que ponto se pode acompanhar o movimento de
Bultmann. Existe algo como uma concentração sobre o fato da
existência de Jesus, uma fusão da realidade "Jesus" na fé em Cristo
– realmente, sua palavra mais autêntica é ele mesmo. Mas, não nos
teremos lançado com excessiva precipitação para além da questão
que Harnack fizera? Que aconteceu com a mensagem do Deus Pai,
oposta à cristologia, com o amor de todos os homens que
ultrapassa e vence as balizas da fé? Teria sido absorvida em um
dogmatismo cristológico? Nesta tentativa de descrever a fé da
antiga cristandade e da Igreja de todos os tempos, não teria sido
afastado e encoberto através de uma fé que esqueceu o amor,
importante elemento que se manifesta na teologia liberal?
Sabemos que se pode chegar a tal extremo e que na história, mais
de uma vez, se chegou a tal ponto. Contudo, deve-se negar
peremptoriamente que isto corresponda ao sentido daquela
profissão da fé.
1. Introdução ao problema
2. Cristologia e Soteriologia
Viver é solidão;
O só está só..."
De fato, uma coisa é certa: existe uma noite, em cujo ermo voz
alguma ecoa; há uma porta pela qual só podemos passar sozinhos:
a porta da morte. Todo o medo do mundo finalmente nada mais é
do que medo diante desta solidão. Daqui compreende-se porque o
Antigo Testamento conhece uma palavra apenas para conotar
inferno e morte, a palavra scheol: porque ambas as coisas são
idênticas para o Antigo Testamento. A morte é a solidão
simplesmente. Mas, a solidão à qual não pode chegar o amor é o
inferno.
Somente tomando isto tudo tão a sério como o que fora dito
anteriormente é que se conservará a fidelidade ao testemunho do
Novo Testamento; só assim se salvará a sua seriedade cosmo-
histórica. A tentativa mais que cômoda de, por um lado, dispensar
a fé no mistério da potente atuação de Deus neste mundo, e no
entanto simultaneamente querer ter a satisfação de conservar-se
no terreno da mensagem bíblica esta tentativa conduz ao vácuo:
não satisfaz nem à honestidade da razão nem às razões da fé. Não
é possível conservar juntas a fé cristã e a "religião nos limites da
razão pura"; a opção é inevitável. Naturalmente, o crente verá
com clareza crescente quão repleta de razão está a adesão àquele
amor que venceu a morte.
5. "Subiu ao céu, onde está sentado à direita de Deus Pai, todo-
poderoso".
O ESPÍRITO E A IGREJA
CAPÍTULO PRIMEIRO
Isto não significa que se deva deixar tudo correr como sempre
foi, aceitando-o como inevitável. O suportar pode ser um processo
altamente ativo, uma luta para tornar a Igreja sempre mais
suportadora e portadora. A Igreja não vive de outro modo senão
em nós, vive da luta dos pecadores pela santidade, como,
logicamente, esta luta vive da dádiva divina sem a qual seria
irrealizável. Mas esta luta frutificará e edificará somente quando
animada pelo espírito do suportar, pelo verdadeiro amor.
Simultaneamente tocamos aqui no critério a ser aplicado sempre a
qualquer luta crítica por uma santidade melhor, critério que não só
não se opõe ao suportar, mas que é por ele exigido. Esse critério é
a edificação. Um amargor que só destrói, já se julga a si mesmo.
Uma porta fechada, sem dúvida, pode servir de lembrete a sacudir
os que ficaram do lado de dentro. Mas a ilusão de que na solidão se
possa edificar mais do que no convívio não passa de ilusão,
exatamente como a utopia de uma Igreja dos "santos" em invés de
uma "santa Igreja", que é santa porque o Senhor oferece nela a
dádiva da santidade sem merecimento 3 .
[299] Uma coisa é clara: a Igreja não deve ser pensada a partir
de sua organização, mas a organização a partir da Igreja. Ao
mesmo tempo, porém, é claro que, para a Igreja visível, a unidade
visível é algo mais do que "organização". A unidade concreta da fé
comum a testemunhar-se na palavra e na mesa comum de Jesus
Cristo pertence essencialmente ao sinal a ser erguido pela Igreja
no meio do mundo. Só como "católica", isto é, visivelmente una,
apesar da multiplicidade, a Igreja corresponde ao postulado do
Credo 5 . Cumpre-lhe ser sinal e instrumento de unidade em meio
ao mundo dilacerado, superando e unindo nações, raças e classes.
Por mais que ela sempre tenha fracassado, saibamos: já na
antiguidade foi-lhe infinitamente pesado ser ao mesmo tempo
Igreja dos bárbaros e dos romanos; na época moderna ela não
conseguiu evitar a luta entre nações cristãs e hoje continua não
logrando unir ricos e pobres em modo tal que o excesso de uns se
torne a saciação dos outros – continua irrealizado o sinal da
comunidade de mesa. Apesar disto, não se podem negar todos os
imperativos que a pretensão de catolicidade sem cessar fez e faz
soar aos ouvidos dos homens; sobretudo, porém, em vez de ajustar
contas com o passado, cumpriria colocar-nos à disposição do
presente, tentando não só professar catolicidade no Credo, mas
realizá-la pela vida em nosso mundo conturbado.
2. "Ressurreição da carne"
Pergunte e Responderemos