Libras - Estudos Linguísticos 2015

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 24

Texto disponível em: Apostila de Libras. UFRGS, 2014.

1. LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA: ASPECTOS LINGUÍSTICOS


Lodenir Becker Karnopp

(...) pessoas surdas definem-se em termos culturais e


linguísticos. (WRIGLEY 1996, p. 13)

As línguas de sinais existem em comunidades de pessoas surdas. Entretanto, o


reconhecimento do status linguístico das línguas de sinais é bastante recente.
Encontramos declarações da UNESCO, da Organização Mundial da Saúde, da Federação
Mundial dos Surdos e do Encontro Global de Especialistas sobre o status das línguas de
sinais. A UNESCO, em 1984, declarou que “a língua de sinais deveria ser reconhecida
como um sistema linguístico legítimo” e Federação Mundial do Surdo, em 1987, adotou
sua primeira Resolução sobre Línguas de Sinais, rompendo com uma tradição oralista. O
Encontro Global de Especialistas, em 1987, recomenda seguinte:

Pessoas surdas e com grave impedimento auditivo [devem] ser


reconhecidas como uma minoria linguística, com o direito
específico de ter sua língua de sinais nativa aceita como sua
primeira língua oficial e como o meio de comunicação e
instrução, tendo serviços de intérpretes para a língua de sinais
(WRIGLEY, 1996, p. xiv).

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
sublinha que os fatores fundamentais para os direitos humanos das pessoas surdas são o
acesso e o reconhecimento da língua de sinais, incluindo aceitação e respeito pela
identidade de pessoas surdas linguística e culturalmente, acesso à educação bilíngue,
intérpretes de línguas de sinais e recursos de acessibilidade.
O relatório "As pessoas surdas e os Direitos Humanos" constitui, até agora, o
maior banco de dados que permite conhecer a situação das pessoas surdas no mundo. Esse
relatório descreve vidas de pessoas surdas de noventa e três países 1 apresentando dados e
análises sobre o reconhecimento da língua de sinais na legislação, situação educacional e

1
A Associação Nacional Sueca de Surdos (Swedish National Association of the Deaf) e a Federação
Mundial de Surdos (World Federation of the Deaf - WFD) realizaram a pesquisa e apresentaram o relatório
sobre a situação de pessoas surdas no mundo.
profissional de surdos, utilização de recursos de acessibilidade, formação e atuação de
intérpretes de línguas de sinais etc. Cento e vinte e três (123) países receberam o
questionário e 93 responderam (em geral, associações de surdos), dando uma taxa de
resposta de 76%. Conforme esse relatório, relativamente poucos países negam aos surdos
o acesso à educação, serviços públicos ou exercício da cidadania, tendo como base apenas
a surdez. Mas a falta de reconhecimento da língua de sinais, a carência de educação
bilíngue, a disponibilidade limitada de serviços de interpretação e a generalizada
desinformação sobre a situação das pessoas surdas, mantêm os surdos privados do acesso
a amplos setores da sociedade. Assim, os surdos não são capazes de desfrutar plenamente
dos mais básicos direitos humanos. (HAUALAND & ALLEN, 2009)
Podemos verificar que, no Brasil, ocorreram importantes conquistas das
comunidades surdas, em diferentes espaços, especialmente o reconhecimento da cultura
surda e a oficialização da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A partir da luta das
comunidades de surdos, que se organizam em associações, instituições e através da
Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), ocorreu a
oficialização da Libras, conforme consta na Lei Federal 10.436, de 24 de abril de 2002.
No entanto, permanece a situação de carência de educação bilíngue, disponibilidade
limitada de serviços de interpretação e falta de acesso a amplos setores da sociedade.

LEI FEDERAL Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002

Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências.


O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:


Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira
de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de


comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias
e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão
da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de
utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.
Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de
assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores
de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e


do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação
Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino
da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.
Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a
modalidade escrita da língua portuguesa.

Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 24 de abril de 2002; 181º da Independência e 114º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Paulo Renato Souza

Apesar de mudanças significativas na legislação e de iniciativas de algumas


instituições, o fato é que, há muito tempo, temos por parte dos surdos uma luta histórica
tentando fazer valer a diferença linguística e cultural que lhes é devida, não somente nos
espaços escolares, mas também na mídia e nos diferentes artefatos culturais. Pode-se
dizer que a tradicional concepção de cultura em oposição a natureza repercutiu na forma
como os surdos foram narrados e tratados pelas instituições ao longo da história. A ênfase
no suposto dado da natureza — o ouvido anormal — negou qualquer possibilidade de
narrativas que inscrevessem os surdos como grupo cultural, capazes de produzir
significados a partir de suas experiências compartilhadas.
Em pesquisa sobre as produções culturais em comunidades surdas2 Karnopp,
Klein e Lunardi-Lazzarin (2011) argumentam que através de narrativas produzidas em
Libras, a comunidade surda vem imprimindo significados na constituição de identidades
e diferenças. Tais narrativas convergem para o entendimento dessa comunidade como um
grupo cultural e como uma minoria linguística.3 A partir da contextualização da língua e
da situação de pessoas surdas, neste capítulo objetivamos introduzir alguns estudos
realizados na área da linguística das línguas de sinais, considerando que a descrição

2
Auxílio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e do Ministério da
Cultura, através do Edital 07/2008 (Capes/MinC – Pró-cultura).
3
KARNOPP, L. B.; KLEIN, M.; LUNARDI-LAZZARIN, M. Cultura Surda na Contemporaneidade:
negociações, intercorrências e provocações. Canoas: Editora da ULBRA, 2011.
gramatical dessa língua contribuiu fortemente para o reconhecimento dessa língua como
a língua nativa das pessoas surdas e da identificação da comunidade surda como minoria
linguística. Inicialmente são apresentados aspectos compartilhados entre línguas orais e
línguas de sinais. Em seguida, são descritos aspectos linguísticos envolvidos na produção
dos sinais.

ESTUDOS LINGUÍSTICOS NAS LÍNGUAS DE SINAIS4

Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se movimentam


no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas locações nesse espaço.
Alguns sinais são articulados com uma única mão, enquanto outros são articulados com
as duas mãos. Um sinal pode ser articulado com a mão direita ou com a mão esquerda;
tal mudança, portanto, não é distintiva. Sinais articulados com uma mão são produzidos
pela mão dominante (tipicamente a direita para destros e a esquerda para canhotos), sendo
que sinais articulados com as duas mãos também ocorrem e apresentam restrições em
relação ao tipo de interação entre ambas.
A linguística estuda as línguas naturais e humanas e as pesquisas realizadas nesta
área incluem tanto as línguas orais quanto as línguas de sinais. A linguística está voltada
para a descrição e explicação da estrutura, do uso e do funcionamento das línguas. Muitas
pessoas simplesmente relacionam a linguística com o uso de diferentes línguas ou
gramáticas normativas. No entanto, essa é uma área do conhecimento que se preocupa
com temas como a linguagem e a comunicação humana, procurando desvendar a
complexidade das línguas e as diferentes formas de comunicação, a fim de elaborar
teorias da língua(gem) e teorias da comunicação. (QUADROS; KARNOPP 2004)
O trabalho de um pesquisador é explicar, e não determinar, os usos e as regras de
funcionamento de uma língua. É precisamente isto que os linguistas tentam fazer –
descobrir as leis de uma língua, assim como as leis que dizem respeito a (quase) todas as
línguas. Neste sentido, podemos perceber que há diferenças entre as línguas orais e as
línguas de sinais, mas também encontramos aspectos comuns entre elas, aspectos que são
compartilhados entre essas diferentes línguas.

4
Esta seção tem como base o capítulo 1 de QUADROS E KARNOPP (2004). Sugere-se a leitura desse
livro para um aprofundamento na temática.
As línguas de sinais começaram a ser pesquisadas pela linguística a partir de
1960. Uma das primeiras descrições sobre a estrutura, uso e funcionamento das línguas
de sinais foi feita por W. Stokoe na Língua de Sinais Americana.
Stokoe propôs um esquema linguístico estrutural para analisar a formação dos
sinais na American Sign Language (ASL). Estava preocupado em identificar as
unidades que formam os sinais. A partir disso, propôs a decomposição de sinais em três
unidades ou parâmetros que não carregam significados isoladamente, a saber:

(a) configuração de mão (CM)


(b) locação da mão (L)
(c) movimento da mão (M)
Análises posteriores sugeriram a adição de outras unidades ou parâmetros, a
saber:
(d) orientação da mão (OM)
(e) expressões não-manuais: expressões faciais (EF) e corporais (EC).

Todas essas unidades – CM, L, M, OM, EF e EC – formam os sinais nas línguas


de sinais e isso foi aceito por muitos pesquisadores e identificado em muitas línguas de
sinais. O estudo dessas unidades isoladamente é realizado por uma das áreas da
linguística, denominada de Fonética e Fonologia das línguas de sinais.
Estudos realizados pela linguística das línguas de sinais descrevem e/ou explicam
alguns dos aspectos de diferentes línguas de sinais, incluindo outras áreas além da
fonética e fonologia, tais como morfologia (estudo das palavras/sinais), sintaxe (estudo
das sentenças/frases), semântica (estudo do significado) e pragmática (estudo dos usos da
língua), por exemplo.
A seguir serão apresentadas as propriedades de cada unidade/parâmetro em
Libras, isto é, propriedades de configurações de mão, movimentos, locações, orientação
de mão, bem como dos aspectos não-manuais dessa língua, conforme descrição feita por
Ferreira Brito (1990, 1995) e Quadros e Karnopp (2004).

Língua de Sinais Brasileira: uma introdução

Uma das principais diferenças a considerar entre as línguas de sinais e as línguas


orais é em função do modo como essas línguas são produzidas e percebidas. Utilizamos
para as línguas orais o termo oral-auditivo e para as línguas de sinais o termo gestual-
visual. Gestual-visual significa aqui o conjunto de elementos linguísticos manuais,
corporais e faciais necessários para a articulação do sinal em um determinado espaço de
enunciação5, oposto a oral-auditivo que representa a produção da informação linguística
através do aparelho fonador. Quanto à percepção, nas línguas de sinais a construção das
sentenças e dos significados ocorre através da visão e nas línguas orais através da audição.
Desta forma, nas línguas de sinais, já que a informação linguística é recebida pelos olhos,
os sinais são construídos de acordo com as possibilidades perceptuais do sistema visual
humano. A Libras, assim como outras línguas de sinais, é basicamente produzida pelas
mãos, embora movimentos do corpo e da face também desempenhem funções.
Uma das tarefas de um investigador de uma língua de sinais particular é identificar
configurações de mão, locações, movimentos, orientações de mão e expressões não-
manuais que compõem um sistema linguístico e têm uma função distintiva 6. Isso pode
ser feito comparando-se pares de sinais que contrastam minimamente, um método
utilizado na análise tradicional de fones distintivos das línguas orais. Nas línguas orais,
podemos exemplificar o caráter distintivo com as palavras: bala, fala, cala, mala, rala,
gala). O valor distintivo dos parâmetros fonológicos nas línguas de sinais é ilustrado a
seguir, em que se observa que o contraste de apenas um dos parâmetros provoca diferença
no significado dos sinais.

5
O espaço de enunciação dos sinais é o local onde os sinais são realizados, ou seja, sinais são produzidos
no corpo e no espaço em frente ao corpo (denominado espaço neutro).
6
Pequenas diferenças na forma como os sinais são produzidos, mas que acarretam mudanças de significado,
por exemplo, os sinais ilustrados na figura 2.
Sinais que se opõem quanto à
Configuração de mão

PEDRA QUEIJO

Sinais que se opõem quanto ao Movimento

TRABALHAR VÍDEO

Sinais que se opõem quanto à Locação

APRENDER SÁBADO

Figura 1: Pares mínimos na Libras7

Esses exemplos mostram a complexidade das línguas de sinais. No entanto, como


os sinais são produzidos em contextos discursivos e não isoladamente, podemos abstrair
o significado dos sinais a partir dos contextos em que são produzidos.

(a) Configuração de Mão


As configurações de mão da Libras foram descritas a partir de dados coletados
nas principais capitais brasileiras, sendo agrupadas verticalmente segundo a semelhança
entre elas, mas ainda sem uma identificação enquanto básicas ou variantes. Dessa forma,
o conjunto de configurações de mão refere-se apenas às manifestações de superfície, isto
é, de nível fonético, encontradas na Libras.

7
1Retirado de Quadros & Karnopp (2004, p.52).
Quadro 1: Configurações de Mão na Libras8

Um sinal pode ser produzido com uma única configuração de mão, por exemplo,
MÃE, que pode ser articulado com a mão esquerda ou com a mão direita.

MÃE com a mão esquerda


MÃE com a mão direita

A configuração de mão pode permanecer a mesma durante a articulação de um


sinal (PAI), ou pode passar de uma configuração para outra, por exemplo, SOL. Além
disso, os sinais podem ser produzidos com as duas mãos, por exemplo, TELEVISÃO e
VOTAR.

8
Retirado de Ferreira Brito e Langevin, 1995.
PAI (sinal articulado com uma mão)

TELEVISÃO (sinal articulado com as duas mãos: condição de


simetria)

VOTAR (sinal articulado com as duas mãos: condição de


dominância)

O alfabeto manual (abecedário), utilizado também na Libras, é usado na


soletração manual de palavras da língua portuguesa (ou de outras línguas), em especial,
nomes próprios que ainda não têm um sinal correspondente. Mas, configuração de mão é
uma das unidades que formam os sinais.
(b) Movimento
Nas línguas de sinais, a(s) mão(s) do enunciador realiza(m) o movimento no
espaço de enunciação. O movimento é definido como uma unidade complexa que pode
envolver uma vasta rede de formas e direções, desde os movimentos internos da mão, os
movimentos do pulso e os movimentos direcionais no espaço (KLIMA; BELLUGI,
1979).
As variações no movimento são significativas na gramática da língua de sinais.
Um exemplo disso são as cores na Língua de Sinais Americana (BLE, GREEN,
YELLOW e PURPLE) articuladas no espaço neutro. O movimento básico do sinal BLUE
(AZUL) envolve um pequeno contorno na mão. Todavia, se esse movimento é alterado
ocorre mudança no significado do sinal.

Figura 2: Exemplos de sinais na American Sign Language9

O exemplo acima mostra que o movimento pode variar (de certo modo previsto
pelas regras da língua), do que resulta um significado diferente, mas relacionado à forma
base (BAKER; PADDEN 1978, p. 11-12).
Mudanças no movimento servem também para distinguir verbos. Na Língua de
Sinais Americana, cem pares de nomes/verbos foram investigados, já que esses
nomes/verbos possuíam significados associados e supostamente não diferiam no modo
de fazer o sinal. Eles tentaram descobrir, por exemplo, como o sinal CADEIRA

9
Retirado de Baker e Padden (1978, p.12).
(substantivo) poderia ser diferente do sinal SENTAR (verbo). Concluíram que os verbos,
em geral, apresentam movimentos variados. Alguns verbos são produzidos com um
movimento simples; outros, com movimento repetido. Mas, os nomes têm uma
característica comum: tendem a ter movimentos mais curtos, são sempre repetidos e
tensos (SUPALLA; NEWPORT, 1978). Essa distinção também foi encontrada na Libras,
conforme investigações de Quadros e Karnopp (2004).
As variações no movimento podem estar também ligadas à direcionalidade do
verbo. A forma básica do verbo OLHAR, por exemplo, tem um movimento para fora (do
emissor em direção ao receptor), e significa “eu olho para você”. Se o movimento dá-se
na direção oposta, isto é, se o sinal move-se do receptor em direção ao emissor, então o
significado é “você olha para mim”. Assim, o significado de um sinal está relacionado
com a direção do movimento. Estudos na Libras sobre a sintaxe espacial e sobre verbos
direcionais podem ser conferidos em Quadros e Karnopp (2004).
O movimento pode estar nas mãos, pulsos e antebraço. Os movimentos
identificados na Libras e em outras línguas de sinais estão relacionados ao tipo de
movimento (reto, circular, alternado, simultâneo...), direção do movimento
(unidirecional/ bidirecional/ multidirecional), maneira (categoria que descreve a
qualidade, a tensão e a velocidade do movimento) e frequência do movimento (número
de repetições de um movimento).

(c) Locação ou Pontos de Articulação


Locação ou ponto de articulação é aquela área no corpo em que o sinal é realizado.
Na Libras, assim como em outras línguas de sinais até o momento investigadas, o espaço
de enunciação é uma área que contém todos os pontos dentro do raio de alcance das mãos
em que os sinais são produzidos.
Figura 3: Espaço de realização dos sinais10

Dentro desse espaço de enunciação, pode-se determinar um número finito


(limitado) de pontos, que são denominados ‘pontos de articulação’. Alguns pontos são
mais precisos, tais como a ponta do nariz, e outros são mais abrangentes, como a frente
do tórax. O espaço de enunciação é um espaço ideal, no sentido de que se considera que
os interlocutores estejam interagindo face a face. Pode haver situações em que o espaço
de enunciação seja totalmente reposicionado e/ou reduzido; por exemplo, se um
enunciador A faz sinal para B, que está à janela de um edifício, o espaço de enunciação
será alterado. O importante é que, nessas situações, os pontos de articulação têm posições
relativas àquelas da enunciação ideal.
Os pontos de articulação dividem-se em quatro regiões principais: cabeça (testa,
rosto, orelha, nariz, boca, queixo, bochechas...), mão (palma, dedos, juntas, costas das
mãos...), tronco (pescoço, ombro, busto, estômago, cintura, braços, antebraço, cotovelo,
pulso...) e espaço neutro. (FERREIRA BRITO; LANGEVIN, 1995)

(d) Orientação da Mão


Orientação é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal.
Ferreira Brito (1995, p. 41) enumera seis tipos de orientações da palma da mão na Libras:
para cima, para baixo, para o corpo, para a frente, para a direita ou para a esquerda.

10
Retirado de Ferreira Brito (1990, p. 33).
Figura 4: Orientações de Mão11

(e) Expressões não-manuais (ENM)


As expressões não-manuais (movimento da face, dos olhos, da cabeça ou do
tronco) prestam-se a dois papéis nas línguas de sinais: marcação de construções sintáticas
e produção de sinais específicos. As expressões não-manuais que têm função sintática
marcam sentenças interrogativas sim-não, interrogativas, topicalizações etc. As
expressões não-manuais podem também marcar referência específica, referência
pronominal, partícula negativa, advérbio ou aspecto. Expressões não-manuais da Libras

11
Retirado de Marentette (1995, p. 204).
podem ser encontradas no rosto, na cabeça e no tronco. Deve-se salientar que duas
expressões não-manuais podem ocorrer simultaneamente, por exemplo, as marcas de
interrogação e negação.

LÍNGUAS ORAIS E LÍNGUAS DE SINAIS: APROXIMAÇÕES

Nas investigações sobre os universais linguísticos compartilhados entre línguas


orais e línguas de sinais, encontramos uma sistematização proposta em Fromkin &
Rodman (1993, p. 24-6) e abordada em Salles et al. (2003). Devemos salientar que, em
muitos casos, a comparação entre línguas de modalidades diferentes não é imediata nem
muito adequada, mas o objetivo é apresentar através disso uma breve descrição da língua
a partir de um contraste com as línguas orais, mais frequentemente estudadas.

Onde houver seres humanos, haverá língua(s)!

Todas as comunidades utilizam uma (ou mais) língua(s) – língua é um fato social!
A língua é a marca de uma cultura. Curiosamente apesar do grande número de línguas
existentes, metade da população mundial fala apenas quinze línguas. Assim, se falarmos
chinês mandarim, inglês, hindi e russo, poderemos nos comunicar com mais de um bilhão
de pessoas. (FROMKIN & RODMAN 1993, p. 337-341)
No Brasil, encontramos muitas línguas aqui existentes. Além da língua
portuguesa, temos as línguas indígenas, as línguas de sinais, as línguas de migração e
quilombolas. Se considerarmos as línguas indígenas veremos que, ao final do século XV,
havia em torno de 1.175 línguas indígenas faladas no Brasil. Atualmente restam somente
180 línguas indígenas diferentes faladas no Brasil, as quais pertencem a mais de 20
famílias linguísticas. (RODRIGUES, 1993).
Além da Libras, conhecida também como LSB (Língua de Sinais Brasileira) há
registros da existência, no Brasil, de uma outra língua de sinais entre índios Urubu-
Kaapor, habitantes da floresta amazônica (FERREIRA BRITO, 1990). Os índios Urubu-
Kaapor utilizam a denominada LSKB (Língua dos Sinais Kaapor Brasileira), que não
apresenta relação estrutural ou lexical com a Libras, devido à inexistência de contato entre
ambas.
Qualquer criança, nascida em qualquer lugar do mundo, de qualquer origem racial,
geográfica, social ou econômica, é capaz de adquirir qualquer língua à qual está
exposta!

Obviamente que crianças surdas expostas a uma língua de sinais irão adquirir essa
língua, visto que essa é uma língua que podem perceber/ compreender e produzir de forma
espontânea, da mesma forma que crianças ouvintes adquirem a língua oral à qual estão
expostas.

Não há línguas primitivas!

As línguas são igualmente complexas e igualmente capazes de expressar qualquer


ideia: servem para dar vazão às emoções e sentimentos; para solicitar, para ameaçar ou
prometer; para dar ordens, fazer perguntas ou afirmações; para referir o passado, presente
e futuro; a realidades remotas em relação à situação de enunciação... Nenhum outro
sistema de comunicação humana parece ter sequer de longe o mesmo grau de flexibilidade
e versatilidade. Por exemplo, o vocabulário de qualquer língua pode ser expandido a fim
de incluir novas palavras (ou sinais) para expressar novos conceitos. Na Libras, o sinal
de CELULAR foi criado no contexto de surgimento dessa tecnologia. Podemos citar
muitos outros: internet, deletar, youtube, email, facebook...12

Figura 5: CELULAR

Na criação desses novos sinais, observamos também arbitrariedade da língua, ou


seja, as palavras e os sinais apresentam uma conexão arbitrária entre forma e significado.
A arbitrariedade, no que diz respeito à língua, não se restringe à ligação entre forma e

12
Agradeço aos surdos que contribuíram com as ilustrações de sinais.
significado. Aplica-se também, consideravelmente, a grande parte da estrutura gramatical
das línguas, na medida em que as línguas diferem gramaticalmente umas das outras.

As línguas mudam ao longo do tempo: as novas gerações não utilizam a mesma


língua de sinais de gerações passadas. Mudança e variação linguística ocorrem em todas
as línguas. Na Libras, observamos mudança no uso dos sinais conforme a época: na figura
a seguir, o primeiro sinal refere controle remoto (utilizado atualmente); o segundo,
expressa a mudança de canal de televisão, girando o botão (utilizado no passado).

Figura 6: sinais para referir “canal de televisão”.

Para exemplificar a variação linguística, podemos citar a pesquisa de Diniz


(2010), que realizou uma análise de três documentos históricos da Libras, para identificar
mudança fonológica e lexical. A autora investigou o primeiro documento ao fazer
referência à Libras – Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos, de 1875, sendo uma
reprodução fiel do dicionário de sinais francês; o dicionário Linguagem das Mãos,
produzido pelo padre Eugênio Oates, em 1969; e o terceiro, Dicionário Digital da Libras
do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), produzido por profissionais do
INES, em 2006. A partir da análise desses três dicionários, a autora classificou a mudança
dos sinais em categorias (a) os que permanecem idênticos, não sofrendo alterações em
sua articulação; (b) os que sofreram alterações, mudando completamente o modo de
realização dos sinais. Dentre os fatores internos, identificados na pesquisa, que
contribuíram para a ocorrência de variações, destacam-se: facilidade de articulação e
acuidade visual no espaço de sinalização. Os fatores socioculturais que contribuíram para
mudança de sinais são: influência de outras línguas de sinais, empréstimos linguísticos,
influência da língua portuguesa e de situações de bilinguismo. (DINIZ, 2010)13
Tais mudanças nas línguas estão relacionadas com a produtividade ou criatividade
de um sistema linguístico, que possibilita a construção e interpretação de novos
enunciados. Os sistemas linguísticos possibilitam a seus usuários construir e compreender
um número infinito de enunciados que jamais viram antes. O que é impressionante na
produtividade das línguas, na medida em que é manifesta na estrutura gramatical, é a
extrema complexidade e heterogeneidade dos princípios que a mantêm e constituem. Para
Chomsky (1986)14, essa complexidade e heterogeneidade, entretanto, são regidas por
regras; isto é, dentro dos limites estabelecidos pelas regras da gramática, que são em parte
universais e em parte específicos de determinadas línguas; assim, os falantes nativos de
uma língua têm a liberdade de agir criativamente, construindo um número infinito de
enunciados. O conceito de criatividade regida por regras é muito próximo do de
produtividade e teve grande importância para o desenvolvimento da teoria gerativa.

As relações significado e significante são arbitrárias

Nas línguas de sinais, os sinais são arbitrários e imotivados, apesar da aparente


semelhança entre sinal e referente. Nas línguas orais e de sinais temos, portanto, a
arbitrariedade do signo, pois o significante é arbitrário em relação ao significado.
Algumas pessoas consideram a língua de sinais uma língua icônica ao considerar
sinais como CASA, ÁRVORE e CARRO.

13
DINIZ, Heloise Gripp. A história da língua de sinais brasileira (LIBRAS): um estudo descritivo de
mudanças fonológicas e lexicais. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: CCE/UFSC, 2010.
14
CHOMSKY, Noam. Knowledge of Language. Its nature, origin and use. New York: Praeger Publishers,
1986.
Figura 7: CASA

Figura 8: ÁRVORE

Muitos exemplos como esses são considerados como sinais icônicos


(pictográficos). No entanto, pode-se dizer que um sinal não é imediatamente ou
naturalmente identificado, já que cada língua pode abordar um aspecto visual diferente
em relação, por exemplo, ao mesmo objeto, diferenciando os sinais de língua para língua.
O que pode ocorrer é uma exploração do espaço de enunciação na realização de alguns
sinais, relacionando a questões culturais (por exemplo, o sinal AMAR pode ter o coração/
tórax como ponto de articulação).
Acrescente-se a isto o fato de que toda arbitrariedade é uma convencionalidade,
pois quando um grupo de pessoas seleciona um traço visual como uma característica do
sinal, outro grupo pode selecionar outro traço para identificá-lo. Assim, pode-se dizer
que a aparência exterior de um sinal é enganosa, já que cada língua pode abordar um
aspecto visual diferente em relação, por exemplo, ao mesmo objeto, diferenciando a
representação lexical de língua para língua. (KARNOPP, 1994)

As línguas incluem segmentos (partes que a compõem)

Nas línguas faladas encontramos o conjunto das vogais e das consoantes. Elas
são combinadas para formar morfemas e palavras, por exemplo, se juntarmos os
segmentos sonoros /m/, /a/, /p/ podemos formar a palavra /mapa/. Elementos como /a/,
/m/, /p/ podem ser definidos através de um conjunto de propriedades ou traços,
pertencentes às línguas faladas. Assim, podemos encontrar uma classe de vogais e uma
classe de consoantes.
Nas línguas de sinais encontramos os seguintes segmentos que compõem os
sinais: configuração de mão, locação, movimento, orientação de mão e expressões não-
manuais. Se juntarmos alguns desses elementos podemos formar morfemas e sinais,
conforme exemplo a seguir:

Figura 9: TOMAR (com copo)15

Essas unidades são combinadas para formar elementos significativos ou palavras,


os quais por sua vez formam um conjunto infinito de sentenças possíveis. Todas as
gramáticas contêm regras para formação de palavras e sentenças.
Um processo recorrente de formação de palavras na Libras é a derivação e a
composição. Um dos exemplos de derivação é a incorporação de numeral, nos sinais,
ONTEM, ANTEONTEM, 1HORA, 2HORAS, 3HORAS, 4HORAS, UM-MÊS, DOIS-
MESES, TRÊS-MESES, QUATRO-MESES...

15
Exemplo retirado de Quadros e Karnopp (2004, p. 51).
UM-MÊS DOIS-MESES

TRÊS-MESES QUATRO-MESES

Figura 10: Sinais para um, dois, três e quatro meses16

As línguas apresentam categorias gramaticais (ex.: nome, verbo)

Uma das principais funções da morfologia é a mudança de


classe, isto é, a utilização da ideia de uma palavra em uma
outra classe gramatical. Forma-se um novo sinal para poder
utilizar o significado de um sinal já existente num contexto
que requer uma classe gramatical diferente. (QUADROS;
KARNOPP 2004, p. 96)

16
Figura retirada de Quadros e Karnopp (2004, p. 107).
TELEFONAR TELEFONE

SENTAR CADEIRA

Figura 11: Sinais para nomes e verbos17

Categorias semânticas encontradas nas línguas: fêmea ou macho, animado ou


humano, etc.

Segundo Ilari (2002, p. 39-40), para entendermos o significado das palavras,


dispomos de dois recursos: através da análise componencial ou por protótipos.
A análise componencial parte do princípio de que a significação das palavras pode
ser identificada em unidades menores (chamados de “componentes” ou “traços
semânticos”) e que as unidades encontradas na análise de uma determinada palavra
reaparecem em outras palavras. Seria possível, assim, verificar o que duas ou mais
palavras têm em comum, por exemplo: Quadrado = [+ figura geométrica], [+ plana], [+
côncava], [+ com quatro lados], [+ lados iguais], [+ ângulos iguais]. Alguns desses traços
podem ser utilizados na caracterização de outras palavras como o triângulo, losango,
retângulo, etc.
Na análise por protótipos, identificamos indivíduos que representam melhor
toda uma categoria e procuramos entender os demais a partir desse protótipo. Por

17
Retirado de Quadros e Karnopp (2004, p. 97).
exemplo, para organizar a categoria dos pássaros, podemos tomar como referência o
pardal e comparar os demais animais a partir desse protótipo.
Tanto nas línguas orais quanto nas línguas de sinais observamos que ocorre a
utilização tanto da análise componencial quanto da análise por protótipos para a
identificação de aspectos nocionais do significado das palavras ou dos sinais. Podemos
exemplificar a análise componencial, na Libras, com os sinais para QUADRADO e
RETÂNGULO; e o sinal de MESA para exemplificar uma potencial análise por
protótipos.

As línguas possuem formas para indicar tempo passado, negação, pergunta, ordem,
etc.

Quadros e Karnopp (2004) afirmam que a negação, por exemplo, é um processo


produtivo na língua de sinais brasileira. Há alguns sinais que podem incorporar a negação
através da alteração de um dos parâmetros. Nos exemplos a seguir, o movimento é
alterado, acarretando, assim, o aparecimento da incorporação da negação ao sinal.

TER NÃO-TER

GOSTAR NÃO-GOSTAR

Figura 12: Exemplos de incorporação de negação18

18
Retirado de Quadros e Karnopp (2004, p. 110).
As pessoas são capazes de produzir e compreender um conjunto infinito de
sentenças

Nas línguas de sinais, o estudo da estrutura da frase tem evidenciado que os


aspectos espaciais determinam as relações gramaticais. Segundo Quadros e Karnopp
(2004), no espaço em que são realizados os sinais, o estabelecimento nominal e o uso do
sistema pronominal são fundamentais para as relações sintáticas. Qualquer referência
usada no discurso requer o estabelecimento de um local no espaço de sinalização (espaço
definido na frente do corpo do sinalizador) observando várias restrições. Esse local pode
ser referido através de vários mecanismos espaciais, por exemplo 19:
· Sinal produzido em um determinado local. Exemplo: CASA (de João) e CASA
(de Pedro); Sinal produzido simultaneamente com direcionamento da cabeça e dos olhos
(e talvez do corpo) para uma locação particular. Exemplo: CASA; IX(casa); Uso de um
verbo direcional (com concordância) incorporando os referentes previamente
introduzidos no espaço. Exemplos:
CARRO CL(carro passou um pelo outro);
(eu)IR(casa);
(el@)<aOLHARb>(el@);
(el@<aENTREGARb>do(el@)

PARA FINALIZAR...

Com essa introdução aos estudos da linguística das línguas de sinais, procuramos
descrever aspectos gramaticais da Libras e introduzir uma comparação entre as línguas
orais e as línguas de sinais, com o objetivo de refletirmos sobre as aproximações entre
línguas de modalidades diferentes.

19
Ilustrações para os exemplos apresentados podem ser encontradas em Quadros e Karnopp (2004), no
capítulo 4.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de


abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, e o art. nº 10.098, de 19
de dezembro de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 10 de jul de 2011.
BRASIL. Lei n.º 10.436 de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
Libras e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10436.htm. Acesso em 10 de jul de 2014.
BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro; UFRJ, Departamento de Lingüística e Filologia, 1995.
FROMKIN, V. & RODMAN, R. An Introduction to Language. Forth Worth: 5ª ed., Harcourt
Brace Jovanovich College, 1993.
HALL, Stuart. The Work of Representation. In: HALL, Stuart.(Org.) Representation. Cultural
Representations and Signifying Practices. Sage/Open University: London/Thousand Oaks/New
Delhi, 1997
KARNOPP, L. B. Aquisição do parâmetro configuração de mão na Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS): estudo sobre quatro crianças surdas, filhas de pais surdos. Porto Alegre, PUC:
Dissertação de Mestrado, 1994.
PERLIN, Gladis. Identidades Surdas. In: SKLIAR, Carlos. A surdez: um olhar sobre as
diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2012.Ed 6
QUADROS, Ronice Muller; KARNOPP, Lodenir. Língua de Sinais Brasileira: Estudos
Lingüísticos. Porto Alegre: Editora Artmed, 2004.
RODRIGUES, Aryon D. (1993). Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas.
D.E.L.T.A 9, 1, 83-103.
ROSA, Emiliana Faria. Olhares sobre si: a busca pelo fortalecimento das identidades surdas.
Dissertação de Mestrado. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2009.
SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma jornada pelo mundo dos surdos. Tradução de Alfredo de
Lemos. Rio de janeiro: Imago Editora, 1990.
SALLES, Heloisa M. M. Lima, FAULSTICH, Enilde, CARVALHO, Orlene L., RAMOS, Ana
A. L. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2003.

Você também pode gostar