Comentário Sobre Queiruga

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04. RevHumTeolog_6 4 [266.289].

qxp 12/10/16 22:24 Page 283

BIBLIOGRAFIA 283

QUEIRUGA, Andrés Torres – Repensar a Revelação, Revelação divina na realização


humana (S. Paulo, Paulinas, 2010) 495 p.

Estamos diante da tradução em português editada no Brasil, dum livro cuja primeira
edição já tem vinte anos. A tradução actual é feita sobre a edição revista publicada pelas
edições Trota (Madrid) em 2008.
A obra dá uma grande importância à diferença entre a apresentação tradicional da
Revelação, de que muitos de facto já não se lembram e a apresentação actual do
problema. De facto a apresentação tradicional da Revelação ocultava a dimensão
subjectiva e histórica optando por uma dimensão abstracta, argumentativa e preferindo
uma silogística, segundo o método escolástico, que foi posta em causa pelo Iluminismo.
A luta entre racionalismo e a apologética no século XIX, com as consequências que se
conhecem no domínio do Magistério foram a triste consequência do uso e abuso dessas
alternativas abstractas entre o racionalismo e a apologética. O autor mostra-o bem e é
importante insistir neste tema, senão para o ensino de hoje, ao menos para a compreensão
dos dislates da apologética e do racionalismo no século XIX.
O capítulo IV detém-se abundantemente, na questão do processo histórico da
Revelação sendo a nosso ver o capítulo mais original da obra. Estende-se da página 105
a 162.
O autor começa com a citação de M. Seckler um dos autores mais respeitados
actualmente em Teologia Fundamental, quando escreve que “na história do Cristianismo
a crítica do Cristianismo limita-se, essencialmente, à época do Iluminismo, e desde então
continua permanentemente vinculada ao conceito de Iluminismo.”
Esta citação dá o tom a todo o capítulo e com inteira razão. Efectivamente a maioria
das teologias fundamentais surgidas recentemente em países latinos – Itália e Espanha,
principalmente - ignorando este ponto de partida ou melhor este contexto, resultam muito
suaves mas pouco convincentes. Pois foi durante o Iluminismo que apareceu a questão
do estatuto actual da fé diante da razão e este é o projecto da Teologia Fundamental.
Na linha dum bom ponto de partida para a resolução do problema fé - razão, cita o
autor o contributo da Escola Católica de Tübingen, de Newman e Blondel, para se
fixar no problema da apropriação subjectiva e da maiêutica histórica da revelação
percorrendo, com esta categoria, soluções propostas por vários autores.
O capítulo V trata dos lugares onde a revelação acontece de modo originário: na
natureza, na história, na existência individual, para depois passar ao acolhimento e
realização humana da revelação. Trata-se dum capítulo importante porque lida com as
categorias da revelação, completado pelo capítulo VI, sobre a perspectiva escatológica.
O capítulo VII e VIII tratam da universalidade da revelação cristã e da relação desta
com as culturas, dois temas afinal afins.
São a nosso ver, os capítulos menos elaborados do tratado, pois são ainda talvez muito
devedores à primeira edição. Ora se há matéria em que se avançou muito depois do
Concílio, foi, justamente no diálogo inter-religioso e mais ainda nos aspectos relacionados
com a Revelação nas grandes religiões, ou seja a questão da inculturação.
Estamos diante duma obra sistemática que nos dias de hoje talvez já não se devesse
chamar repensar, mas apenas pensar a revelação. Que para o fazer se serve duma ampla
bibliografia e do percurso de reflexão que desde o Iluminismo percorreu a Teologia.

Arnaldo de Pinho

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