1.

(ENEM – 2022) por todo o mundo, e não para um livro, que só é

aberto por quem realmente quer, para que, sem
Papos
mesmo sentir, o modo de escrever se transforme.
Não é que me desagrade mudar, pelo contrário.
— Me disseram...
Mas queria que fossem mudanças mais
— Disseram-me.
profundas e interiores que não viessem a se
— Hein?
refletir no escrever. Mas mudar só porque isso é
— O correto é “disseram-me”. Não “me
uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só
disseram”.
porque o leitor assim o quer? Divertir? Fazer
— Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é
passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos
“digo-te”?
meus livros quero profundamente a comunicação
— O quê?
profunda comigo e com o leitor. Aqui no jornal
— Digo-te que você...
apenas falo com o leitor e agrada-me que ele
— O “te” e o “você” não combinam.
fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou
— Lhe digo?
contente.
— Também não. O que você ia me dizer? LISPECTOR, C. In: A descoberta do mundo. Rio
— Que você está sendo grosseiro, pedante e de Janeiro: Rocco, 1999.
chato. [...]
— Dispenso as suas correções. Vê se esquece- No texto, ao refletir sobre a atividade de cronista,
me. Falo como bem entender. Mais uma correção a autora questiona características do gênero
e eu... crônica, como
— O quê?
— O mato. (A) relação distanciada entre os interlocutores.
— Que mato? (B) articulação de vários núcleos narrativos.
— Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. (C) brevidade no tratamento da temática.
Ouviu bem? Pois esqueça-o e para-te. Pronome (D) descrição minuciosa dos personagens.
no lugar certo é elitismo! (E) público leitor exclusivo.
— Se você prefere falar errado...
— Falo como todo mundo fala. O importante é 3. (ENEM – 2022)
me entenderem. Ou entenderem-me?
VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. O complexo de falar difícil
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (adaptado).
O que importa realmente é que o(a) detentor(a)
do notável saber jurídico saiba quando e como
Nesse texto, o uso da norma-padrão defendido
deve fazer uso desse português versão 2.0, até
por um dos personagens torna-se inadequado
porque não tem necessidade de alguém entrar
em razão do(a)
numa padaria de manhã com aquela cara de
sono falando o seguinte: “Por obséquio, Vossa
(A) falta de compreensão causada pelo choque
Senhoria teria a hipotética possibilidade de
entre gerações.
estabelecer com minha pessoa uma relação de
(B) contexto de comunicação em que a conversa
compra e venda, mediante as imposições dos
se dá.
códigos Civil e do Consumidor, para que seja
(C) grau de polidez distinto entre os
possível a obtenção de 10 pãezinhos em
interlocutores.
temperatura estável para que a relação
(D) diferença de escolaridade entre os falantes.
pecuniária no valor de R$ 5,00 seja plenamente
(E) nível social dos participantes da situação.
legítima e capaz de saciar minha fome matinal?”.
O problema é que temos uma cultura de
2. (ENEM – 2022)
valorizar quem demonstra ser inteligente ao invés
Ser cronista de valorizar quem é. Pela nossa lógica, todo
mundo que fala difícil tende a ser mais inteligente
Sei que não sou, mas tenho meditado
do que quem valoriza o simples, e 99,9% das
ligeiramente no assunto.
pessoas que estivessem na padaria iriam ficar
Crônica é um relato? É uma conversa? É um
boquiabertas se alguém fizesse uso das palavras
resumo de um estado de espírito? Não sei, pois
que eu disse acima em plenas 7 da manhã em
antes de começar a escrever para o Jornal do
vez de dizer: “Bom dia! O senhor poderia me
Brasil, eu só tinha escrito romances e contos.
vender cinco reais de pão francês?”.
E também sem perceber, à medida que escrevia
Agora entramos na parte interessante: o que
para aqui, ia me tornando pessoal demais,
realmente é falar difícil? Simplesmente fazer uso
correndo o risco de em breve publicar minha vida
de palavras que a maioria não faz ideia do que
passada e presente, o que não pretendo. Outra
seja é um ato de falar difícil? Eu penso que não,
coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo
mas é assim que muita gente age. Falar difícil é
para o jornal, isto é, para algo aberto facilmente
fazer uso do simples, mas com coerência e
coesão, deixar tudo amarradinho Fui na delegacia e falei com o tenente. Que
gramaticalmente falando. Falar difícil pode fazer homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão
alguém parecer inteligente, mas não por muito amavel, eu teria ido na delegacia na primeira
tempo. É claro que em alguns momentos não intimação. [...] O tenente interessou-se pela
temos como fugir do português rebuscado, do educação dos meus filhos. Disse-me que a favela
juridiquês propriamente dito, como no caso de é um ambiente propenso, que as pessoas tem
documentos jurídicos, entre outros. mais possibilidade de delinquir do que tornar-se
ARAÚJO, H. Disponível em: www.diariojurista.com. util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disto,
Acesso em: 20 nov. 2021 (adaptado). porque não faz um relatorio e envia para os
politicos? O senhor Janio Quadros, o Kubstchek
Nesse artigo de opinião, ao fazer uso de uma fala e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para
rebuscada no exemplo da compra do pão, o autor mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso
evidencia a importância de(a) resolver nem as minhas dificuldades.
... O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa
(A) se ter um notável saber jurídico. que já passou fome. A fome tambem é
(B) valorização da inteligência do falante. professora.
(C) falar difícil para demonstrar inteligência. Quem passa fome aprende a pensar no próximo,
(D) coesão e da coerência em documentos e nas crianças.
jurídicos. JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de
(E) adequação da linguagem à situação de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
comunicação.
A partir da intimação recebida pelo filho de 9
4. (ENEM – 2022) anos, a autora faz uma reflexão em que
Notas transparece a

Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto (A) lição de vida comunicada pelo tenente.
nos portais, um homem que veio vestir o cadáver, (B) predisposição materna para se emocionar.
outro que tomou a medida do caixão, caixão, (C) atividade política marcante da comunidade.
essa, tocheiros, convites, convidados que (D) resposta irônica ante o discurso da
entravam, lentamente, a passo surdo, e autoridade.
apertavam a mão à família, alguns tristes, todos (E) necessidade de revelar seus anseios mais
sérios e calados, padre e sacristão, rezas, íntimos.
aspersões d’água benta,
o fechar do caixão, a prego e martelo, seis 6. (ENEM – 2022)
pessoas que o tomam da essa, e o levantam, e o
descem a custo pela escada, não obstante os Sempre que a relevância do discurso entra em
gritos, soluços e novas lágrimas da família, e vão jogo, a questão torna-se política por definição,
até o coche fúnebre, e o colocam em cima e pois é o discurso que faz do homem um ser
traspassam e apertam as correias, o rodar do político. E tudo que os homens fazem, sabem ou
coche, o rodar dos carros, um a um... Isto que experimentam só tem sentido na medida em que
parece um simples inventário eram notas que eu pode ser discutido. Haverá, talvez, verdades que
havia tomado para um capítulo triste e vulgar que ficam além da linguagem e que podem ser de
não escrevo. grande relevância para o homem no singular, isto
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. é, para o homem que, seja o que for, não é um
Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. ser político. Mas homens no plural, isto é, os
Acesso em: 25 jul. 2022. homens que vivem e se movem e agem neste
mundo, só podem experimentar o significado das
O recurso linguístico que permite a Machado de coisas por poderem falar e ser inteligíveis entre si
Assis considerar um capítulo de Memórias e consigo mesmos.
póstumas de Brás Cubas como inventário é a ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2004.
(A) enumeração de objetos e fatos.
(B) predominância de linguagem objetiva. No trecho, a filósofa Hannah Arendt mostra a
(C) ocorrência de período longo no trecho. importância da linguagem no processo de
(D) combinação de verbos no presente e no
pretérito. (A) entendimento da cultura.
(E) presença de léxico do campo semântico de (B) aumento da criatividade.
funerais. (C) percepção da individualidade.
(D) melhoria da técnica.
5. (ENEM – 2022) (E) construção da sociabilidade.
10 de maio 7. (ENEM – 2022)
 (E) Desterritorialização da produção.
Quando os espanhóis chegaram à América,
estava em seu apogeu o império teocrático dos 9. (ENEM – 2022)
Incas, que estendia seu poder sobre o que hoje
O leproso é visto dentro de uma prática da
chamamos Peru, Bolívia e Equador, abarcava
rejeição, do exílio-cerca; deixa-se que se perca lá
parte da Colômbia e do Chile e alcançava até o
dentro como numa massa que não tem muita
norte argentino e a selva brasileira; a
importância diferenciar; os pestilentos são
confederação dos Astecas tinha conquistado um
considerados num policiamento tático meticuloso
alto nível de eficiência no vale do México, e no
onde as diferenciações individuais são os efeitos
Yucatán, na América Central, a esplêndida
limitantes de um poder que se multiplica, se
civilização dos Maias persistia nos povos
articula e se subdivide. O grande fechamento por
herdeiros, organizados para o trabalho e para a
um lado; o bom treinamento por outro. A lepra e
guerra. Os Maias tinham sido grandes
sua divisão; a peste e seus recortes. Uma é
astrônomos, mediram o tempo e o espaço com
marcada; a outra, analisada e repartida. O exílio
assombrosa precisão, e tinham descoberto o
do leproso e a prisão da peste não trazem
valor do número zero antes de qualquer povo da
consigo o mesmo sonho político.
história. No museu de Lima, podem ser vistos FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da
centenas de crânios que receberam placas de prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
ouro e prata por parte dos cirurgiões Incas.
GALEANO, E. As veias abertas da América Os modelos autoritários descritos no texto
Latina. Porto Alegre: L&PM, 2012.
apontam para um sistema de controle que se
As sociedades mencionadas deixaram como baseia no(a):
legado uma diversidade de
(A) Formação de sociedade disciplinar.
(A) bens religiosos inspirados na matriz cristã. (B) Flexibilização do regramento social.
(B) materiais bélicos pilhados em batalhas (C) Banimento da autoridade repressora.
coloniais. (D) Condenação da degradação humana.
(C) heranças culturais constituídas em saberes (E) Hierarquização da burocracia estatal.
próprios.
(D) costumes laborais moldados em estilos 10. (ENEM – 2022)
estrangeiros.
(E) práticas medicinais alicerçadas no
conhecimento científico.

8. (ENEM – 2022)
Uma nova economia surgiu em escala global no
último quartel do século XX. Chamo-a de
informacional, global e em rede para identificar
suas características fundamentais e
diferenciadas e enfatizar sua interligação. É
informacional porque depende basicamente de
sua capacidade de gerar, processar e aplicar de
forma eficiente a informação baseada em
conhecimentos. É global porque seus
componentes estão organizados em escala
global, diretamente ou mediante uma rede
de conexões entre agentes econômicos. É rede
porque é feita em uma rede global de interação
entre redes empresariais.
CASTELLS, M. A sociedade em rede — a era da
informação: economia, sociedade e cultura. São
Paulo: Paz e Terra, 1999 (adaptado).

Qual mudança estrutural é resultado da forma de Disponível em: https://ndmais.com.br. Acesso em: 8
organização econômica descrita no texto? out. 2021.

(A) Fabricação em série. O ápice da ilustração se traduz por uma conduta

(B) Ampliação de estoques. social caracterizada pela
(C) Fragilização dos cartéis.
(D) Padronização de mercadorias. (A) cultura do cancelamento.
(B) prática do feminicídio.
(C) postura negacionista.
(D) ação involuntária.
(E) defesa da honra.