Meirelles 1984 TribosExtintas MigracoesRondonia

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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai

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Tribos extintas
e migrações indígenas
em Rondônia
(Do século XVII até os primeiros
decênios do século XX).
Denise Maldi Meirelles
Apoena Meirelles
---

Pode parecer realmente impressionante que urna regi!'o como Rondônia - onde
existem ainda hoje grupos indígenas arredios, travando raros e esporádicos contatos
com populações não - índias - tenha sido a mesma paisagem onde, nos séculos
XVIII e XIX desapareceram e se extinguiram completamente inúmeras e numerosas
populações indígenas.
Hoje, ao estabelecermos o primeiro contato pacífico com os Uru-eu-wau-wau,
emergindo da mata em toda a plenitude de sua potencialidade física, com toda a·n-
queza e o orgulho da sua cultura mtegra, lutando tenazmente para manter inviolado
o seu habitat, que, à força do processo colonizador começa a ser ocupado, angustia-
mo-nos e nos colocamos como espectadores de uma história cujo fim tem sido, inva-
riavalmente, muito denso e triste.
Pouco ou nada se sabe sobre a cultura e a língua desse grupo. E é exatamente
refletindo sobre a obscuridade que envolve esse e outros grupos indígenas, que nos
reportamos aos séculos anteriores, refletindo precisamente sobre culturas inteiras que
sucumbiram sem que ao menos delas se soubesse coisa alguma.
Nomes como Jaru, Ariquemes, Urupá, Mequéns, Cabixi, hoje denominações de
rios, serviram nos séculos passados para nominar populações indígenas, algumas mui-
to numerosas.
~ ainda mais impressionante que o processo civilizatório tenha exterminado
alguns grupos ainda no princípio do século XVIII, sobretudo se considerarmos que
datam deste século as primeiras penetraçaes significativas do elemento colonizador.
A região sempre esteve sujeita aos anseios do mercado externo, no caso, a Europa
Assim é que passou a despertar interesse quando os produtores tropicais (cacau,
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salsaparilha, ervas) passaram a ter mercado certo. Posterionnente, fatores políticos
motivariam a sua ocupaçl'o efetiva, no caso, o desejo de que a área fosse habitada
por cristãos, a fun de que fizessem reconhecer os limites da América Portuguesa, sem-
pre condicionados aos interesses da procura do ouro. Nesse ponto, a Igreja teve papel
fundamental, e precedia sempre a entrada do portugttts. A 9uantidade de missões
estabelecidas no Madeira e no Guaporé foi imensa. Cada uma delas tentava aldear o
maior número de comunidades indígenas possível e para isso os missionários não hesi-
tavam em penetrar em regiões cada vez mais reconditas. A exploração da mão~e-obra
indígena era fundamental numa área tão hostil ao homem: as pragas de mosquitos,
a insalubridade e as febres já eram conhecidas dos aventureiros que ousavam chegar
ao Madeira, desde o começo do século XVIIl.
Mesmo assim o colonizador avançava - e encontrava oposições heróicas de gru.
pos guerreiros e oiganizados. uvou séculos até que a colonização se efetivasse - e
nesses anos sucumbiram nações inteiras. Mas nã"o foi somente o colonizador que as
.exterminou. Algumas delas, que atingiram altos índices demográficos, começaram
a se expandir e,. ao ocuparem outros territórios, desencadeavam sangrentas guerras
tribais. Algumas ligavam-se ao colonizador para fugir às pressões de tribos mais guer-
reiras, outras uniam-se contra o colonizador, o qual, por sua vez, redobrava a sua
pressão com expedições punitivas organizadas para o extermmio.
Quantas teriam sido essas tribos? ~ impossível precisar. Cronistas, viajantes,
expedicionários, aventureiros, ao relatarem suas viagens e passagens pela região sem-
pre dão notícia de grupos vivendo às margens dos rios e igarapés que atravessavam.
E há ainda a época pré~olonial, completamente desconhecida, mas que pro-
mete surpresas muito grandes: nf'o há dúvida de que a área hoje delimitada por Ron·
dônia abrigou culturas elaboradas.
Ainda que as infonnaçaes pennaneçam nebulosas, a leitura sobre o assunto
nos permite compilar aJguns dados que elucidam a trajetória das migrações indígenas
em Rondônia nos séculos XVIII e XIX, e dão notícias de tribos extintas. Relembrá-las
é prestar homenagem à sua memória. Pode parecer prosaico dizer que o conhecimento
do passado nos leva a uma melhor atuaçro no futuro. Uma liçl'o aparentemente sim-
ples, mas que o homem dificilmente toma ao pé da letra.
Sob esse ponto de vista, apresentamos uma smtese sobre as tribos extintas e as
migrações indígenas em Rondt>nia.
A arqueologia da bacia amazônica, a sua pré-história e o seu povoamento são
temas que tem sido amplamente debatidos, mas que, entretanto, estão longe de ser
e&gotados.
As pesquisas arqueológicas nessa região são praticamente inexistentes ou não
foram conduzidas de maneira sistemática.
Através de levantamentos realizados na bacia amazbnica, sabe-se que não se pode
confirmar a presença de habitantes sem cerâmica nessa área, devido à dificuldade dos
artefatos de osso e madeira de resistirem ao clima da região.
Desse modo, é a cerâmica que evidencia a ocupaçã'o humana na bacia amazônica,
cuja introdução se teria dado por volta de 500 A.C. Esses povos fabricantes de cedmi-
ca teriam ocupado a Amazônia, através de sucessivas levas migratórias a partir do oeste
e noroeste. Uma dessas levas teria sido responsável pela ~stalaçfo da fase Marajoara,
que ocupou o baixo Amazonas por volta de 1000 D.C. A fase Marajoara sugere uma
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cultura amplamente complexa. Quando os europeus chegaram à região, essa cultura
,P havia decaído e nf'Q mais florescia. 1
Através dos levantamentos arqueológicos realizados na bacia arnaronica, foram
feitas algumas tentativas de se relacionar os achados arqueológicos com os grupos in·
dígenas conhecidos. A tendtncia dos escritores mais recentes tem sido a de favorecer
os Aroak, cujo alto nível cultural e difundidas migraçGes são oferecidas como uma
explicação para as similaridades observadas entre o sul do Brasil e as Antilhas. A
questão, entretanto, ainda permanece duvidosa.2
A tarefa de precisar as migrações na área que hoje delimita Rondt>nia é pratica·
mente impossível. Existe em Rondc>nia uma vasta área arqueológica completamente
inexplorada, situada na região de Pedras Negras (Vale do Guaporé).
Os grupos indígenas que habitavam a região do Guaporé e seus tributários esti·
veram sujeitos, desde o século XVIII, k exploraç~o de expedicionários, viajantes,
comerciantes e missionários e, posterionnente, aos exploradores de borracha, chegan·
do, a maioria deles, à extinçro completa.
Desse modo, toma-se extremamente difícil precisar a época das povoaçOes nessa
área, bem como identiftear definitivamente os primeiros grupos a ocupá-la. Ainda
assim, a análise da literatura sobre o assunto nos permite concluir que: os primeiros
grupos que, no período colonial, chegaram a atingir o vale do Madeira foram Tupi·
Guarani, descendentes das remotas povoações que no século XVI dominavam o Brasil
desde a foz do Amazonas até Cananéia ao sul do Estado de São Paulo.
Os Tupinambarana, descobertos por Acuiia em 1891, na ilha do mesmo nome,
eram Tupinambas de Pernambuco, que migraram fugindo do domfuio português.
Esses Tupinambás alcançaram o Amazonas e chegaram até o Madeira, atingindo os
estabelecimentos colonizadores espanhóis na parte oriental da Bolívia. Acuados pelos
colonizadores espanhóis, retomaram pelo Madeira até a sua foz e se estabeleceram
na ilha de Tupinambarana. Já em 1690 entraram em processo de extinçlo. 3
Outros grupos que são mencionados como habitantes muito antigos da regiro
do Madeira são os Mura, os Toní e os Matanawi. Referoocias aos Mura foram feitas
pela primeira
.
vez em 1714. por Bartolomeu Rodrigues, que os localizou na margem
direita do rio Madeira, entre os Torá e os Unicoré.
Os Mura foram uma tenaz ameaça à penetração branca até o começo do século
XIX. Tudo indica que o seu habitat original tenha sido o rio Madeira, próximo à foz
do Jamari. Depois de terem se tornado uma tribo hostil e guerreira, se estenderam
rumo à jusante do Madeira e - provavelmente - até o rio Purus. A expansão dos Mura
foi facilitada pelo fato de que eles encontraram o território apenas parcialmente ocu-
pado, uma vez que numerosas tribos sedentCrias que ali habitavam haviam sucumbido
ao sistema de missões ou aos expioradores.
Existem pr9vas arqueológicas de que os Mura tenham sido precedidos, nessa

(1) MELATTI, Julio Cezar, 1970 : p. 23


(2) MEGGERS, 1948:p.149
(3) M~TRAUX, Alfredo, 1948 a: p . 96
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região, por grupos de cultura muito elaborada Entre essas provas existiriam até mesmo
- segundo Curt Nimuendaju - urnas antropomorfas e o~tos de jade. 4
Por volta de 1774, a expansão guerreira dos Mura atingiu seu cl únax. Passaram
então a ser sistematicamente perseguidos, através de expedições punitivas especial-
mente organizadas para esse fun. Essas expedições, entretanto, apesar de sangrentas,
não deram resultado, e os Mura continuaram hostis.
Em 1784, inesperadamente, os Mura estabeleceram a paz com os brancos. A
razio para essa mudança de atitude parece ter sido o enfraquecimento gradual da tribo ·
por epidemias e a implacável guerra que os Munduruku moviam contra eles.
Já no começo do século XIX, as relações com os brancos pareciam boas. A hos-
tilidade, contudo, seria reassumida posteriormente pelos Mura do Madeira: Curt Ni-
muendaju afirma que durante a Cabanagem, revolta que evoluiu para uma sublevaçro
geral de escravos coritra os brancos, os rebeldes ganharam a ade~ncia, dos Mura,
os quais, ao lado dos revoltosos, roubaram, mataram e saquearam. Junto com os insur-
retos foram massacrados em 1834-36. 5
As relações hostis entre os Mura e os brancos continuaram por um longo perío-
do. Os Mura nunca se fixaram por uma faixa de terra muito ampla. Mesmo na época
de seu maior difusi.onismo, fixavam-se somente onde podiam se mover em canoas,
escolhendo sítios nos quais podiam construir suas aldeias, plantar roças e caçar.
Depois de estabelecerem a paz defmitiva com os colonizadores, entraram em de-
cadência, de tal forma que, j~ no segundo decenio do século XX, quando Curt Nimuen-
dajú esteve entre eles, muitos já estavam mesclados as populaçoes ribeirinhas. A lfugua
Mura foi considerada, por grande número de linguistas, como uma lmgua isolada.
O autor de "Ilustração", documento anônimo, estimou-se em 60.000 pessoas
na época da pacificaçfó. Martius, em 1820, avaliou-os entre 30.000 a .40.000 pessoas.
Para Albuquerque Lacerda os Mura nf'o excediam 3.000 pessoas em 1864. As duas
primeiras cifras pareceram exageradas a Curt Nimuendajú, que recenseou 1.390 pes-
soas em 1926.6
Por volta de 1769 - época próxima do clímax da expansSo guerreira dos Mura
- os Munduruku começaram a se expandir ao longo do Tapajós, chegando a alcançar
o Madeira, onde passaram a atacar sistematicamente os Mura.
A primeira referência aos Mundurulm foi publicada em 1786, quando Monteiro
Noronha incluiu os "Matucuru" entre as tribos do rio Maués. Em 1769, de acordo
com Manoel Baena ( 1885) os Munduruku começaram a se mover na direção norte,
ao longo do Tapajós.
Ainda no século XVW, os Munduruku atacaram os Mura e dispersaram seus vi-
zinhos do sul, os Pminândn.
A expedição seguinte, de acordo com a tradiçl'o, teria envolvido 2.000 guerrei-
ros e cruzado os rios Xingu e Tocantins até atingir os limites ocidentais da Provfucia
do Maranhf'o, onde encontrariam a resistência dos Apinajés. Curt Nimuendajú, entre-
tanto, nfo acredita que os Munduruku tenham ido tio longe.

(4) NIMUENDAiú, Curt, 1948 a: p. 256


(5) NIMUENDAJÚ, Curt, 1948 a: p. 256
(6) NIMUENDAJÚ, Curt, 1948 a : 256-258.
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Em 1795 ou 1796, uma expediçab punitiva forçaria a paz, após urna batalha
de três dias.
Excetuando alguns conflitos menores com tribos vizinhas, os Munduruku aban -
donaram paulatinamente a guerra e os territórios que haviam ocupado.
Em 1885, os Munduruku que ainda viviam no Madeira já estavam em processo
adiantado de aculturação. Algumas poucas aldeias na região do Tapajós preservaram
um pouco da sua cultura tradicional, na medida em que esta podia sobreviver sem
organização militar e sem caça de cabeças.
Os habitat original dos Munduruku antes do seu expansionismo n!o é defini-
tivamente conhecido. Há controvérsias: Kruse (1934) acreditava que eles viveram numa
área adjacente aoJ Apiac' em Mato Grosso; na opinião de Curt Nimuendajt1, os Mun-
duruku se localizavam originahnente no rio de Tropas, onde a expedição punitiva de
1794 encontrou o seu principal reduto de resist!ncia militar.
Os dados sobre a população Mnnduruku também sro controvertidos: Martins
estimou-os entre 18.000 a 40.000 pessoas; Stromer acreditava que o máximo da popu-
lação chegava a 10.000 na época do contato; Tocantins (1877) relacionou 21 aldeias
com populações variando de 100 a 2.600 pessoas, atingindo o montante de 18.91 O
pessoas. De acordo com Campana, no fmal do século XIX, a populaçãt> chegava a
1.400 indivíduos distribuídos em 37 comunidades na área do Tapajós. A maior aldeia
somava 700 habitantes, e a menor, nf'o mais que 12. Stromer (1932) encontrou 19
grupamentos com o total de 1.200 a 1.400 habitantes em 1931. Tanto Campana
quanto Stromer se referem somente à populaça-o nas principais áreas de concentração. 7
A língua Munduruku foi classificada como Tupi.
Kruse (1 934) distinguiu quatro grupos regionais dos Munduruku: o grupo do
rio Tapajós, vivendo em ambas as margens desse rio, entre o rio de Tropas e o Cururu;
o grupo do Madeira; o do Xingu e o do Juruena. Ninuendajt1, entretanto, julgava im-
procedente considerar o grupo Munduruku do Madeira, uma vez que, na realidade
localidade localizavam-se num tributário do Canumá.
Contudo, sem dúvida, os Munduruku atingiram o Madeira. O nome Munduruku
foi dado a esse grupo pelos Parintintin.
Depois que passaram a ser bloqueados pelos colonizadores, seu território foi
reduzido e os grupamentos remanescentes se localizaram no Canumá e seus tributários,
nos municípios de Maués, Parintins e Juriti, no rio Cururu (tributário do Tapajós). 8
No século XVIII, uma tribo denominada Cabahiba vivia na parte superior do rio
Tapajós, entre a confluência dos rios Arinos e Juruena e na foz do ·São Manoel. Are-
ferência mais antiga a esses mdi:os aparece num manuscrito ant>nimo de 1857, situan-
do-os abaixo dos índios Apiaká.
Em 1819, a)guns Apialaf teriam informado a Canon Guimarães que os Cawahíb
viviam num tributário do Juruena. Melgaço, em 1884, localiza-os no campo dos Pa-
reeis, entre os rios Arinos e Juruena.
Não há nenhuma outra menção ao nome Cabahiba na literatura dos exploradores,

(7) Domenico dei Campana (2902, 1904~) ; Stromer (1932, 1937) et alliii, apud HORTON, Do-
nald, 1948: pp. 272-273.
(8) HORTON , Donald, 1948: p. 271.
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embora a expedição de Vasconcelos no rio Sangue, em 1915, tenha encontrado índios
desconhecidos e arredios. O comportamento desse grupo sugere. que fosse Tupi, na
opinião de Curt Nimuendaj\l, e não Nambikuára como pensou Vasconcelos.
À medida que o nome CAwahib desapareçia n~ escriJos sobre Mato Grosso,
o nome Parintintin c'ôme~-ava a aparecer no Par' no começo do século XIX. Segundo
. _ Curt Nimuendaj\l, Parintintin (pari "nl"o Munduruku"; iign - rign, '1étido") era o
nome qu~ OS_ Mundilruku davam aos Cawmib, seus inimigos mortais.
Os Muncluruk.u teriam expulsado os Parintintin da bacia do Cururu. Continua·
ram a persegui~os ãté- o~omeço~o~ulo XX e levaram-nos a se dividir em 6 grupos
_isolados, espalhando-se entre os rios Sl'o Manoel e Madeira. Dois dos mais importantes
desses grupos, os Parintintin do Madeira e os Tupi do li.Paraná se auto-Oenominavam
Cawahib. ---
A primeira mençfo dos Parintintin como uma tribo canibal no Madeira foi feita
por Castelne1itl ,em-1850. Ocuparam o território que pertencia aos Tom, aos Mura
e aos Pirabí. A notícia mais antiga que se teve a respeito das hostilidades envolvendo
. os Pariiiiintin, segundo Curt-Nimuen~, data de 1852; Desde-en-tfo, os Par!i~tin
fizeram pelo menos um ataque por ano aos coloniza dores do Madeira. Passaram a ser
o terror da região, e por muitas décadas foram perseguidos por expediçõ"es punitivas.
Somente em 1922 travariam contato pacífico com os brancos, através da açlo
de Curt Nimuendaj\l. Nessa ocasiã'o, foram avaliados em 250 pessoas. A partir daí,
diminuíram consideravelmente a populaçl'o, e os sobreviventes se engajaram, na sua
maioria, no trabalho dos seringais.
Até 1922, os Parintintin ocuparam a região entre o rio Madeira_Ll>.artes ~ rios
e
li.Paraná e Marmelos~ o tributúio direito deste último, o rio Branco.
A língua Parintintin é puro Tupi.9 :
De acordo com os dados históricos e linguísticos fornecidos por Curt Ninuen-
dajd, os Tupi..Cawahib e os Parintintin slo remanescentes dos antigos Tupi, os Caba-
hiba, que teriam vivido na parte superioréfa bacia do Tapajós. Depois da destruição
dos Cabahiba pelos Munduruku, os Tupialeawahib 9e estabeleceram no rio Branco,
tributúio esquerdo do rio Roosevelt. Depois se expandiram rumo a ambas as margens
do li.Paraná e seus tributários.
Quando Rondon chegou a essa regilo, travou contato com várias tribos Túpi-
Cawahib.
Nimuendaj11 e Uvi-Strauss fazem mençro às tribos W'araféd e , Pamawat~ esta-
belecidas num tributário da margem direita do rio Riozinho. Os Takwatip, que outro-
ra viveram num tributário do Ji..Paraná, prdximo aos rios Riozinho e Muqui, fQram
levados por Rondon para o Ji-Pararuí, onde passaram a viver até se extinguirem.
Os Ipotent, segundo informaç6es colhidas em 1938, viviam próximos ao rio
Riozinho. Também por volta dessa ~poca, os Parnawdt habitavam um local próximo
ao rio Muqui.
Uvi-Strauss menciona ainda duas tribos vivendo próximas ao rio Riozinho e
que se extinguiram completamente ainda no princípio do século: os Tucumanfét ·

(9) NIMUENDAJO, Curt, 1948 b: pp. 283-285.


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e os Jabotif~d. Outra tribo Tupi~wahib', completamente extinta e mencionada
por Lévi-Strauss é a tribo dos Mi•lat, que viviam no rio Leitão, em 1938. 10
Enquanto esses movimentos migratórios aconteciam, no .aéculo XVIII, a nor-
deste, sudçSte e sul de Ron<k>nia,-outros importanw1-m6vimentos tinham lugar na
região do alto e médio Guapon!: foram os movimentos migratórios dos Txapakura.
Em 1794, o governador da Província dos Moxos (Bolívia), Miguel Zamora,
formou a nova missão de Nuestra Seffora dei Cannen, com índios Baud...e_col!!__~ ~
--
grupo de 185 úidios hostis, recrutados das florestas do alto ~o Branco. Os Bauré
convertidos chamavam '4Guarayos" aos mdios hostis. E'SSes Guarayos foram poste-
riormente designados como Chapacura pelos habitantes locais.
Uma poderosa naçlo 'Tapacura", yiv~u-nessa regif"o no século XVII.
Quando em 1630, Gonzalo de Solís Holguín penetrou na província do Ta-
pacura, fez-se acompanhar de um padre que ali pretendia desenvolver um traba-
lho missionário. Por essa época, a)guns Tapacura já eram servos (los espiiil1ídi~
Seu Habitat original teria sido o curso médio e alto ~o...fiif1'lanco (Baurés), a .
área em-volta do lago Chitiopa e a parte-de eoncepcióíf e Chiquitos. 11
Esses grupos viveram algum tempo oscilando entre a parte boliviana e a brasi-
leira.
Uvi-Strau~ distingue duas áreas etnológicas na margem direita do Guaporé.
Uma é a margem direita do Guaporé entre o rio Branco e o Mamoré, que era ocupada
pelas tribos Txapakura. A outra, fonnada pelas bacias dos rios Branco, Mequéns e
Corumbiara, onde há indícios de que ali vivessem algumas tribos Tupi. 12
Alfred Métraux 13 inclui as seguintes tribos na família lingüística Chapacura: os
Chapacura propriamente ditos; os Quitemoea; os Rocorona; os. . M• (Iene); os
Huanyam; os Matama (Mataua); os Cujuna; os Urunamacm; os Cumana; os UruP'; os
Jaru e os Tom. A maioria vivia no baixo e médio Guaporé, tanto do lado brasileiro
quanto do lado boliviano.
O habitat original dos Tom parece ter sido o rio Capan~ e posteriormente o
rio Maici, pouco abaixo da foz do Ji~araná. Por volta de 1716, os Tod passaram
a atacar os barcos que trafegavam no Madeira até que, em 1719, uma expedição co-
mandada por João de Barros Guerra exterminou grande parte do grupo. Sujeitos às
pressões dos missionários e, posteriormente, dos seringueiros, os Tom extinguiram-se
nos primeiros decênios do 16culo XX.
Os Urupá do Madeira viveram nas cabeceiras do Canal', tributário do Jamari:
pressionados pelos colonizadores, moveram-se para várias localidades, até se extingui-
rem por completo.
Os Jsu habitaram originalmente a regifo entre os tributários do li.Paraná, rios
Jaru e Anui. Nos primeiros decênios do século XX estavam extintos. 14

(10) ÜVI-STRAUSS, Oaude, 1948 ~: pp. 299-300.


(11) MtTRAUX. Alfred, 1948 b: p. 398.
(12) UVIS-S~AUSS, Oaude, 1948 b:p. 371.
(13) M.tTRAux. ~d.1948 b : p. 397.
(14) M~)'RAUX. Alfred, 1948 b: p. 399.

140
Os maiores grupos de índios Txapakura remanescentes são os Pakaas-Novos.
Na segunda área etnológica do Guaporé defmida por Lévi-Strauss (bacias dos
rios Branco, Mequéns e Corumbiara) teriam vivido: os Arwí e os Makurap, ao longo do
rio Branco; os Guawayoro, no Colorado; os Amniapa,os Guaratagaja (citados por
Heinrich Snethlage em 1937)~ os Cabishinana, no Mequéns; os Tuparí e Kepikiriwát,
nas cabeceiras dos tributários meridionais do Ji.Paraná.
Ainda segundo Lévi - Strauss, linguísticamente distintos tanto dos Txapakura
quanto dos Tupi, eram: os Yabuti (Japuti) e Aricapu, nas cabeceiras do rio Branco,
cujas línguas, conforme Heinrich Snethlage, apresentaram afinidades com os dialetos
jê, mas foram fortemente influenciadas por seus vizinhos: os Huari (Massacã), do rio
Corumbiara, que se ligavam linguísticamente aos Puruboní* das cabeceiras do São
Miguel, mas que, culturalmente, apresentavam similaridades com os vizinhos do norte
e nordeste, os Kepikiriwát, Anmiapa, Guaratagaja e Tupari, e o Paimelas, na margem
direita do rio Guaporé, entre a foz do rio Branco e o Mequéns, os quais foram consi-
derados, até o século passado, os maiores representantes da familia lingüística Karib
na América do Sul.
Os fudios que viviam na parte superior do Guaporé eram provavelmente Nambi-
kuára.15.
Os Arikêm (conhecidos como Ariquemes) foram os senhores das cabeceiras do
Jamari e do Candeias. Quando Rondon os encontrou, já estavam em extinção. Foram
erroneamente classificados como Txapakura. Curt Nimuendajú, entretanto, provou
que pertenciam à famflia lingüística Tupi-Guarani.
Os ltogapuk viveram no alto rio Madeirinha, tributário do Roosevelt. Estavam
intimamente ligados aos Rama - Rama, do rio Machadinha, tributário esquerdo do
Ji-Paraná. Ambos eram Tupi-Guarani e no princípio do século XX, estavam comple-
tamente extintos. Os Matanawí foram mencionados pela primeira vez em 1768,
no rio São Tomé.
Em 1814 foram localizados nos rios Mannelos e Aripuanã".
No começo do século XIX os Matanawí foram atacados pelos Mundmuku e
migraram para oeste, onde se juntaram aos Tom do Mannelos.
Em 1922 estavam completamente extintos. Sua língua foi considerada isola-
da.16 -
Se analisarmos os dados do historiador Victor Hugo 17 veremos que inumeras
outras tribos teriam vivido na área hoje delimitada por Rondônia, algumas delas
pertencentes a outras famliias lingüísticas, além das já citadas.O historiador concen-
trou sua análise na açl'o da Igreja em Rondonia, fornecendo vários dados sobre fudios
aldeados em missões, ou que tiveram contato com missionários.
O primeiros desses grupos que cabe citar, sem dúvida é o dos mdios Iruris, que

"' t provável que os grupos tivessem outras denominações bem diferentes das que foram citadas
pelo etn61ogo.
Victor Hugo, v. 2).
(15) Ll!VIS-STRAUSS, Claude, 1948 b:pp. 371 - 372.
(16) Ml!TRAUX, Alfred, 1948 b: pp. 406-7.
(17) VICTOR HUGO, 1959. v. 2.
141
no século XVII, emprestavam seu nome ao Madeira. * Os lruris foram aldeados numa
localidade próxima a atual cidade de Manicoré. Antes do século XVIII já estavam
extintos.
Dois grupos que mantiveram contato com os primeiros expedicionários do Ma-
deira foram os Juma e os Paina. Dos primeiros, não se sabe a filiação lingüística; os
segundos seriam sub.grupos Caripuna, famJlia lingüística Pano.
Na missão de Santa Rosa (1742) teriam vivido os índios Ariconi, que falavam a
língua Rokotona ou Rokorona, fami1ia lingüística Pano.
Na missão denominada Casa Redonda (por volta de 1750) teriam .vivido os
índios Mequéns e Guajaratas, cujo habitat original parece ter sido as margens do
rio Guapo ré.
A missão de S. Pedro de Alcântara, instituída em 1852, cujo território se es-
tendia desde o Aripuanã°até o Ji-Paraná, tentou aldear, sem êxito, índios Arara e Mura.
Segundo o depoimento do missionário italiano Frei Jesualdo Macchetti (1869), os
Arara, com os quais travou contato no rio Abunã, ter-lhe-iam dito que eram muito
numerosos e se espalhavam por uma região que ia muito além do Abunã. O missioná-
rio, entretanto, tinha interesse em trabalhar com os IÇaripuna, que já eram conhecidos
pelos assaltos aos colonizadores, desde o século anterior, numa localidade próxima
a Cachoeira Caldeirão do Inferno, no rio Madeira. Os Karipuna tiveram sua lfugua
classificada como Pano, por vários etnólogos. ' Estudos recentes, entretanto, provam
que a língua Karipuna classifica-se dentro do tronco Tupi, e apresenta l)Otáveis seme-
lhanças com a líng_ua dos índios Tenharim, do Amazonas.
Outras tribos, ao londo do li-Paraná, iam sendo conhecidas pelos missionários:
os Jaru, tribo visitada em 1876, pelo missionário Frei Teodoro, que já àquela época,
estava em proc_e~so de extinç!o e os Parintintin. Ao longo do Jamari, os Urutique;
os Urupá; os Ma~cá; os Uruturucú e os Nhacanga-Piranga. O nome "Nhacanga-
Piranga" significaria '4cabeça vermelha", porque gostavam de pintar a cabeça de ver-
melho. O grupo foi localizado pela primeira vez ao sul e a leste da cachoeira de Santo
Antônio 18 • Os Nhacanga Piranga são mencionados por Teofhilo da Costa Pinheiro, da
Comissão Rondon, que os localizou no rio Jaci~araná, ~om outra grafia: Acanga-
Piranga.19
O historiador Victor Hugo faz ainda referências aos fudios Anicoré ou Onicoré
que teriam massacrado um certo Pe. Pizzote, por volta de 1860. Na missão de São
Francisco, em meados de 1882, teria vivido um grupo de. índios denominados Ariti·
kés.
Um certo Fancisco Portilho, que desceu o rio Ji-Paraná no ano de 1853,, dá no-
tícia de um grupo de índios Aurupá.
O missionário Pe. João de Sampaio fez menção de um grupo de fudios denomi-
nados Ferreinishabitantes do Abunãe do rio dos Ferreiros, por volta de 1749.
No século XVIII, os mdios Guarinamã formavam uma aldeia "domesticada"
na atual fronteira de Rond6nia com o Amazonas.
* Os Massacá foram considerados, por outros autores, como urna tribo distinta dos Huari. Os
Massacá seriam Tupi, os Hilari, provavelmente, de filiação linguística independente. (cf.
* O rio Madeira foi chamado Iruri, Caiari e finalmente, Madeira.
(18) CRAIG, Neville B. apud Victor Hugo,op. cit: p. 161.
(19) PINHEIRO, Teophilo da Costa. 1949.
142
Mauricio Heriarte in Descripção do Maranhão, Pará, etc. (1614), segundo Vic-
tor Hugo,2° escreveu que na parte superior do rio Aripuanã havia índios Arara, algu-
mas tribos Hiauereté-tupui, Anerá-tapui e Matanaús, no século XVII.
Alguns grupos Tupi receberam a denominação de Bbca.Negra e são apontados
em distintos lugares: Curt Nimuendajú os coloca como tribo extinta não longe das ca-
beceiras do rio Machadinho; a Comissão Rondon, em 1916, dá notícia de um grupo
de índios Bôca-Negra,além do igarapé Mutum,próximos a Jatuarana. 21
Os Karitiana habitavam o médio Candeias, quando dos primeiros contatos
com os missionários. Esse grupo indigena, de ftliaça-o lingüística Tupi, famúia Arikêm,
é erroneamente dado como extinto por vários etnólogos, e por alguns autores cita-
dos pelo próprio Victor Hugo.
Os índios Gavião são localizados pela primeira vez nas proximidades de San ta
Maria, no rio Ji-Paraná.
No documento "Excerpto da Descripçã'o das Diversas N;tÇões de IÍldios ql!e Resi-
dem em Diversos Lugares da Província de Mato ·Grosso" (1843) citado por Victor
1-Iugo, silo feitas referências a vários outros grupos, não mencionados até agora. Sao
eles (sic ):
..Puxacaz - Ababá - Guaguejú - Nações numerosas, que vivem no centro das
matas, onde se formam os três braços superiores do rio Corumbyara".
·~eque - Urucuran( - Paleté - nações que re sidem hum pouco distante d'outra
na margem do rio Corumby ara ( ... )".
"Lamb< - Aricoroní - nações numerosas, que re sidem na margem do rio S.
Simão".
''Tamararí - nação que reside no rio do mesmo nome, e no de S. Simão ( ... )'~
"Cautário - nação numerosa e valente, que reside na margem dos três Rios
d'este nome ( ... )".
'1cariá - nação mui numerosa e mansa, e trabalhadora, reside junto ao rio
Abunan ( ... )".
''Sanabó - nação mui valente que reside nas margens dos rios Mamoré e Madei-
ra, desde as Cachoeiras de Guajará-Mirim the o Salto do Ribeirão, he rival da dita
Caripuna".
''Guacia - Pam a-
nações, que re sidirão na margem do Rio Madeira the ao
Salto Theotonio" . 22
O historiador apresenta ainda, uma outra lista, da qual constam alguns grupos
não citados até agora, e outros já citados, com informações· sobre a filiação lingüísti-
ca, fornecida pela Prelazia de Porto Velho e Guajará-Mirim , em 1956. Dentre eles, ci-
tamos ( sic ):
Os Amniapé (Tupi). Viviam no Me quén s.
Estão extintos".
"Os Apiacá (Tupi), viviam no médio Madeira. Estão extintos'•. .
..Aricapú ou Maxubí - (de 50 a 100). Encontram-se nas cabeceiras do Rio Bran-
co, afluente da margem direita do Rio Guaporé. Contato permanente".

(20) op. cit.: p. 261.


(21) VICTOR HUGO, v. 2: p . 232.
(22) VICTOR HUGO, v. 2.: p. 343.

143
"Aruá(Tupi) - ao longo do rio Branco, afluente do Guaporé. Extintos".
"Bôca.Negra (Tupi). São Cabwaibw da margem esquerda do Rio Machadinho
(afluente do Ji-Paraná). São poucas dezenas".
"Guarategaja (Tupi) - Rio Mequéns, afluente da margem direita do Guapo ré.
Extintos.
'Huarí (Huari) - Viviam no Corumbiara, afluente da margem direita do Guapo-
ré. Extintos.
"Itogapuk (Tupi) - Sub-grupo Tupi - Cabwaibw do Alto Madeirinha, afluen-
te do l{.io Roosevelt".
"Iabuti (?) - cabeceiras do Rio Branco. Extintos".
"Cabixi (?) - nas vertentes do Panal to dos Pareeis à margem . direita do
Guaporé".
"Cabixiana (Tu pi) - nascentes do R.io Corumbiara, afluente de. direita do Rio
Guapo ré".
"Caxarari (Aruaque) - no rio Abunã. Extintos".
"Quepquiriwat (Tupi) - no rio Pimenta Bueno, afluente do Gi-Paraná. Ex-
tintos".
"Macuráp (Tupi) - ao longo do rio Branco ( ... ). Extintos".
"Mondé (Tu pi) - nas matas, da margem direita do rio Pimenta Bueno ." Extintos.
"Paranawat (Pawaté, Majubin). (Tupi). Grupo Cabwaibw dos igarapés Muqui ,
Leitão e Riozinho, afluente do Gi-Paraná. ( . . . ) Contato pennanente".,.
''Puruborá (Tupi) - nas cabeceiras do Rio S. Miguel , aflue,n te da margem direi-
ta do Rio Guaporé. Contato intennitente". I
"Sanamaica - Nos afluentes da margem esquerda do Rio Pimenta Bueno, tri-
butário do Gi-Paraná. Talvez sejam uma subdivisão dos Mondé. Extintos" .
'iuparí (Tupi) - nas matas da margem direita do Rio Branco ( . . . ). Contato
Pennanen te."
"Urumí (Tu pi) -· entre o Rio Turumã, afluente de direita do Gi.Paraná, e o
Madeirinha, afluente de esquerda do Roosevelt. Extintos."
"Wayoró (?) - nas matas desde as nascentes dos rios Branco e Colorado, afluen~
tes da margem direita do Guapo ré. Ex tiri tos. " 23
Dessa lista, com exceção dos Tupari, grupo que ainda tem alguns remanescentes,
os outros grupos citados na categoria de contato permanente, extinguiram-se comple-
tamente. Já os Macuráp não estão ex~intos: existem pequenos grupos dessa tribo no
município d~ Guajará·Mirim. · .
Por outro lado, se estendennos a análise da literatura sobre a ocupação histó-
rica de Rondônia a documentos e relatórios de cronistas da época colonial, tais como
os depoimentos de Manoel Felix de Lima (1742); o relato da expedição de Luiz Fagun-
des Machado (1749); o relato de José de Lacerda e Almeida da Comissão de Limites
de l 781/S2, para citar apenas os mais importantes24 , veremos que o número de
grupos indígenas conhecidos pelos viajantes e expedicionários era ainda maior. Os cro-
nis.tas relatam encontros com vários d.eles, coincidindo seus nomes com as denomi-

(23) VICTOR HUGO, v. 2. pp. 337-9.


(24) CABRAL, Octaviano, 1963.
1.44
nações dos rios onde eram encontrados: é o caso. dos fudios Sotérios (rio Sotério) e
Cautírios (rio Cautário).
Grande parte desses grupos ~stava extinta já no século XIX. A intensificaçlo da
colonização no princípio do século XX, através da ocupação dos seringais, sobretu-
do no vale-do Guapore, seria a responsdvel pela extinçlO de outros numerosos grupos,
principalmente os habitantes do Rio Branco.
A análise de8$8 documentação nos pennite concluir que:
( 1) a penetração do colonizador desencadeou uma série de movimentos mi-
gratórios de grupos indigenas que fugiam da ocupaçl'o do português e da sua pressão
visando a eseravizaçlo da mão-de.obra indigena :e
o caso da migração de alguns
grupos Tupi, como os Tupin•harana, cujo movimento para o interior data do sécu-
lo XVII;
(2) as migrações indigenas em Rondônia configuraram-se dentrode 4 roteiros bá-
sicos:
(a) da costa para a foz do Madeira, caso dos Tupinambarana, século XVII;
(b) do Tapajós para o Madeira e seus tributários, caso dos Munduruku e Parin-
tintin século XVIII;
(c) do Tapajós para o _li.Paraná, e seus tributários, caso dos Tupi-Kawàib,
século XVIII;
(d) do alto e médio rio Branco (Bolívia) para o Guaporé e seus tributários, ca-
so dos Txapakura, século XVII.

No caso dos movimentos da costa para a bacia d.o Madeira e dos movimentos
do alto e médio rio Blanco para o Guaporé, as migrações se configuram a partir da
pressão do colonizador, ocasionando fluxos de população que fugiam ao seu domí-
nio. No caso dos movimentos do Tapajós para a bacia do Madeira e do Tapajós para a
bacia do li.Paraná, as migraç&s se configuram a partir da pressã'o exercida, inicial-
mente, pelo grande expansionismo Mundunaku e depois pelas guerras inter-tribais, as
quais estavam em plena efervesc~ncia no século XVIII, época da chegada dos primei-
ros colonizadores naquelas regiões. O alto mdice demográfico de alguns desses grupos
pode ser apontado como causa das suas incurslfes guerreiras: a média da população
Mura no século XIX era de 40.000 pessoas; a da população Munduruku, no mesmo sé-
culo, de 30.000 pessoas.
Já no fmal do século XIX, a maior parte desses grupos havia decrescido comple-
tamente de população, quando nlb se extinguido.
O destino das populaç~s restantes não escaparia ao que tem sido, basicamente
o curso histórico de todas as populaç(Jes indigenas no Brasil. As ultimas décadas do sé-
culo XIX e as primeiras décadas do século XX se caracterizam por um novo interesse
econônúco impulsionando o colonizador: a industria de borracha, que embora basea-
da no único tipo de exploração ecortt>mica que até enta'b se desenvolvera no vale ama-
zônico - a coleta - iria condicionar um outro tipo de desenvolvimento, muito mais
pernicioso para as populações indígenas.

Porto Velho, maio de 1981


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