VARIANCAS Regina Peixoto

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Regina Peixoto

V a r i a nç s

A
Poesias
Revisão: Sergio Cohn e Daniela Albrecht
Produção editorial: Roberto Raphael
Diagramação: Roberto Raphael

Capa: Roberto Raphael


Foto da capa: Pamela Perez
Pintura da capa: Neusa Campagnolo
Concepção da capa: Daniela, Lula e Roberto

INSERIR FICHA CATALOGRÁFICA


Louvação

‘‘ Vou fazer a louvação...


Ao que deve ser louvado...

Louvando o que bem merece


Deixo o que é ruim de lado’’
Gilberto Gil

Lula

Rita
la
iel
br
Ga
ho
val e
Rod

‘‘Toda pessoa sempre é as marcas


das lições diárias
de outras tantas pessoas’’
Gonzaguinha

3
4
Nota da edição - Varianças

Todo livro tem a sua história e com este não poderia ser diferente. Algumas
passadas deste percurso podem ser lidos no texto “Maravilhamento – De-
senredo a duas vozes”, que habita as suas últimas páginas. Mas algumas
informações a mais devem ser brevemente mencionadas, parte relevante
de um processo de produção longo e, por vezes, sinuoso, que agora,
enfim, pode ser concluído.
Uma primeira versão do produto final que o leitor e a leitora têm agora nas
suas mãos foi produzido ainda no ano de 2010, em parceria com a Edito-
ra Azougue. Naquela ocasião, foi possível contar com o olhar experiente
de um editor de peso no mercado editorial de poesia, o que certamente
enriqueceu as escolhas relacionadas à organização dos poemas, assim
como ao projeto gráfico. Infelizmente a parceria não se concretizou no seu
objetivo primordial – a publicação do livro. O projeto foi retomado em
alguns momentos ao longo destes anos, sendo, por fim, concluído pela
Encantarte Editora em setembro de 2021. Julgamos pertinente e justo
definir conjuntamente com a Editora Azougue a organização dos créditos
da publicação, mas, infelizmente, não obtivemos êxito neste contato. Deste
modo, deixamos sinalizada aqui nesta nota esta participação, reiterando
o agradecimento pelas contribuições nos momentos em que esta parceria
marcou os passos desse caminho.
7 Bagunça
9 Quantas eu sou?
11 Olhar
13 Raiva
15 Casa de cotia
17 Revelação
19 Estrangeira
21 Vida
23 Chuva
25 Quem acendeu a luz?
27 Grão
29 Esboço
31 Construção
33 Somos
35 Pêlos
37 Cabelos
39 Memória
41 Porta
43 Não lembro
45 Um lugar
47 Temporais e Brisas
49 A praia
51 O Mar em mim
53 Rio de Pedras
55 Uma história
57 Esquizo
59 Tolices
61 O essencial
63 Colo
65 Demoro
67 Amigos
69 Bom
71 Um lugar
73 Maravilhamento, uma apresentação em duas vozes
Bagunça

Roupas, caixas
livros, papéis, coisas.

por fora
e
por dentro

muitas coisas fora do lugar


muitas coisas fora de mim
muitas coisas dentro de mim

saber o que é lixo


é uma arte

jogar fora o que pesa e não presta


exige força e coragem

saber o que tem valor


é um luxo

casa de sapato pra passarinho machucado


casa de gente pra coração
casa-coração para amizade
casa-solidão para o vazio.

Agora que está tudo arrumado


é só bagunçar e pronto:
tudo fora do lugar.

9
Quantas eu sou?
E se eu for mais de uma em mim mesma
ocupando o mesmo espaço
num doido descompasso.

11
Olhar

Eu tenho olhar de criança.


Desse tipo de olhar que se perde nas novidades do ver.

Essa mania maníaca que tenho de xeretar com os olhos o que está à
vista, mas não para ser visto.

E é, às vezes, tanta coisa que me perco nesse mundo.

13
Revelação

Eu me revelo

no que faço

e não faço

e quando me desfaço.

Não uso disfarce,

por isso sou confundida.

15
Estrangeira

Estranha.
Estrangeira em mim mesma.

Sensações,
virações,
varianças,
mudanças.

Mentira,
no fundo (e no raso também)
nada muda.

Fico muda, calada.


Minhas vozes silenciam.
Minhas vozes.
Minha voz.

Minha voz varia.

E então? Afinal há ou não mudanças?

Ora, há e não há.


Do mesmo jeito que sou e não sou.

17
Raiva

Quero rolar minha raiva na relva


Deixar que a seiva que brota do ventre da terra
Desenterre em mim a pintura de guerra

O inimigo sou eu
O amigo sou eu
A amizade é o nós

Amizade é tecido que se constrói


Desatando nós
Fiando, tecendo, costurando, construindo

A trama desarma minh'alma


Confunde minha mente
Altera minha bússola
Aderna minha embarcação

Então pareço só solidão


Pareço só
Só aparição

Mentira
A raiva me lembra
Tanto Eu é mentira
Tanto Eu é fantasma
Mentira: sou mistura.

19
Vida

Uma pessoa

Duas pessoas

Três pessoas

Quatro pessoas

Muitas pessoas

pessoas personas personagens imagens

uma pena uma penugem uma nuvem

o zero o vazio o cheio o ápice o desenlace

a lua o girassol o cabelo o milho

a terra a mãe a vida a comida

a alma a palma a pedra a mão

a construção o homem a mulher os irmãos

o coração

21
Chuva

Tô triste e choro!

O céu também chora


nesta chuva fina que cai
e me molha.

Sou assim: pessoa aguada.


Não sei donde vem tanta água
pra tanta lágrima.

O cheiro é bom
da terra molhada
regada à lágrima do céu.

23
Quem acendeu a luz?

Está claro
Estava escuro.
Quem acendeu a luz?

E se a luz se acende sozinha?

Ela parece ter vida própria.

Vida intermitente.

Vida pisca-pisca.

Claro-luz, Escuro-noite.

Claro-Escuro

Dia-Noite

Noite-Dia

É isso que acontece:


Minha noite vem de dia
e meu dia vem à noite.

25
Grão

É Noite.
Não vi o céu.
O céu não me viu.
Ou será que viu?
Com tantos olhos que tem.

Céu de noite é céu sem Sol.


Céu de noite é céu de Lua,
que vive nua,
mas se veste de nuvens
quando o tempo nubla.
Céu de noite é céu de estrelas.

Céu é céu, ora.


Sol é sol.
Lua é lua.

E gente?
Gente é grão.
Gente é o grão,
que dá sentido a amplidão.

27
Esboço

Paciência
Pacífica ciência de quem mente que não sente o que sente
ou
d’aquele que compreende que nem tudo na vida se empreende

pois, ela, a vida


já vem prenhe e decidida

quando pulsa não se conforma com a não-vida

Nasce a tensão, a distensão


e não adianta a intensão
pois ela se autogoverna

Mas, em mim,
parece,
me cega.

E por mais que eu busque, parece nunca encontro.


Quando chego perto ela me escapole.

É como o horizonte:
belo porque ao longe.

Me vem a idéia de que só me encontro no outro

E isso me é tão desesperador


esta sensação de que só enxergo o meu contorno como um

29
Construção

Terra, pedra, areia, água ...


E o que mais?

Suor, criatividade, originalidade, sentimentos ...


E para que?

Pra construir ...


O que?

Um palácio, uma casa, um armário ...


E para quem?

Para João, para Antonio, para Vera ...


E esses, quem são?

Não sei, não os conheço,


só sei construir,
uma obra que não é arte,
que está aberta
ao debate,
não se cala
e nem se abate.

31
32
Somos

O sumo do suprassumo
Quando somamo-nos à semente
Que amanhece
A cada manhã

Transcende no rio voador


Que cai sobre nós,
Nos banha,
Amamenta,
Alimenta

Desde a alma
Todo nosso ser

Somos
Somos soma que soma
Emana, irmana
Com toda Criatura
Toda Criação

Somos
Canção que eclode
No dia após dia
De labuta e Alegria
Folia e Amor

33
Pêlos

Cabelos são pêlos que crescem na cabeça.


Mais que os outros do corpo.
São pêlos contra os quais pelejo.

Os meus são finos demais,


vivem em constante briga,
uns contra os outros e,
mais ainda conta o pente.

Então, os ameaço:
vou cortá-los.

Eles me respondem:
Não estamos brigando, só nos abraçando.

35
36
Cabelos

?
nas
?
nte
das
on
oa

ão

ss
elo
os

b
bel

Ca
Ca

Cabelos propagam ondas?


servem para mergulhar
Se cabelos forem ondas-mar

Cab
elos
tem
vida
próp
ria?
mesm
o qu
Se e im
próp
afo cab ria?
fam elo
ss
a
ter ão m
ra
do inho
pe cas
ns
ar

37
Memória

Meu corpo tem memória


de tempos imemoriais,
quando não havia sido gestado
mas já existia.

39
Porta

E quem disse
que isto é ruim?
E quem disse
que isto é bom?
E quem disse
alguma coisa?

Haverá escolha?

41
Não lembro

Não lembro de mim criança

Não lembro de mim brincando

Lembro de alguns brinquedos

O camelo laranja-abóbora de plástico

Da Carolina que era minha

Da Gigi que era da Vu e eu lembrei-pensei que era minha até pensei-


-fingi que era eu

Lembro da fome
da seca
do estio
da dureza de não ter
da dureza de ser

Lembro da pata que eu lavei com sabão em pó e que ganhou o nome


de Gertrudes por causa de Júlio Verne que assisti na sessão da tarde.

43
Minha dor

Minha dor é universal.


Minha dor não se circunscreve a limites
geográficos, dogmáticos, científicos, burocráticos.

Minha dor não tem limites.


Minha cura também não.

45
Um lugar

Um espaço onde minha dor encontrou caminho para se transformar


em flor

Com certeza é lugar de doido

Espaço aberto ao tempo

47
Casa de Cotia

Saí de casa
voltei para cá
por falta de espaço
pro meu orixá
pra minha alma

Fiquei penada
doída
moída
Vim aqui
saí por aí
pra bem me energizar

Cheguei aqui
disse que não vinha
que não me convinha
que não lhes convinha

Mas por falta de via


vim nesta velha casa de cotia
que bem podia
ser da minha tia
que não conheço
e tenho saudades
apesar das idades

Tenho saudade
de toda minha gente

Tenho saudade.

49
Temporais e Brisas

Algumas pessoas se descobriram tarde e,


nem sequer tiveram chance de ser.
Foram assim mesmo.

Não souberam lançar suas velas ao vento,


com medo do tempo.

Tolas. O tempo que faz temporais,


é o mesmo tempo que nos apraz
com doces e calientes brisas.

51
A praia

lembra a renda da saia daquela moça,


tão triste que chora
tão alegre que dança
tão feliz que canta.

53
O Mar em mim

Um pouco o mar me causa medo. Assim se o penso à noite, em noite


escura, ou violento. Sei que ele pode me engolir.
No profundo dele também habita a escuridão.

55
Rio de Pedras

Hoje vi um rio de pedras.

O trem passou e vi pela janela.

Lindo.

Ao longe.

Perpétuo.

Pedras que ficaram ali


num momento qualquer da eternidade
recortando o verde da montanha.
Imponentes.

Um rio como que congelado,


mas vivo.

Um rio de tempos atrás,


de tempos à frente.

Um rio de pedras e tempo.

57
Uma história

Me falaram para eu não esquecer meu nome.


E isso foi importante.

Minha história começa no descomeço da minha existência.


E o que vem a ser isso?

- É quando nasço pra dentro por falta de espaço do lado de fora.

59
Esquizo

Sou assim mesmo:


esquizo,
partida.

Mas minh’alma paira sobre mim


e me fala de minhas partes,
reconecta minhas unidades.

Quando muito em fragmento


minh’alma se lança em vôo
e do alto
me vê
e faz entender que eu sou.

Então me realinho
em frágil equilíbrio
e ela volta a mim.

Assim sou de novo


eu mesma.

Assim sou.

61
Tolices

alguma Doralice
nem Dora
nem Alice.

63
O essencial eu tenho,
me falta o superficial.

65
Colo

Sono.
Coisa chata.
Coisa muito chata,
quando assim fora de hora,
quando querendo me levar embora.

Eu luto.
Não muito,
devo confessar.

67
Demoro

Demoro para acordar.


Demoro para dormir.
Demoro tanto.
Tomara que a vida também demore em mim.

69
Amigos

São tantos que até me admiro.


São aqueles com quem converso
e me fazem sentir melhor
por partilharmos um momento qualquer de nossas vidas, sobretudo, para
mim, com sinceridade.
Alguns são velhos conhecidos.
Outros o são por um momento,
duram um encontro que não sei se voltará a se dar,
mas há pelo menos um desejo sincero de Bom Dia!
E isto basta por um Dia.

71
Bom

Ouvir música é bom quando a música é boa.


Dançar é bom quando o corpo voa.
A vida é assim: uma coisa à toa.
Mas, não qualquer coisa.
Mas, qualquer coisa.
Nunca, uma coisa qualquer.
Bom mesmo é quando a vida é boa.
Bom mesmo é quando a gente é.

73
Um lugar
Um lagar
Um lagarto, um ato

Dor atroz
Uma tez
Atitude, talvez

Uma veia
Outra verve
Um verão
Uma voz

Vicissitude
Ilusão
Ação na contramão

Um amor
Uma noz
Olha nóiz otra vez

Um amor
Uma mão
Decisão: dar as mãos

Um abraço
Em Abrolhos
Vejo a cor em seus olhos

Há amor

Haja amor

75
76
Maravilhamento

Desenredo a duas vozes

Lula Wanderley:
Um breve telefonema é o tempo que separa o instante em que cheguei em
casa do momento em que me sentei ao computador. Estava com Daniela
Albrecht e Regina escolhendo as poesias para compor esse livro. Escolho
escrever sobre essa artista reagindo, o mais depressa possível, à marca
que sua poesia me imprime: a sensação física de maravilhamento que
me traz o desejo de relê-la até retê-la como se fosse minha.
Conheci Regina no final dos anos 1990, quando me procurou buscando
apoio. Vivera, na infância, em orfanatos públicos e, hoje, pressionada
pelas responsabilidades de sobrevivência, tentava adaptar-se ao mun-
do: iniciara um curso que a levaria a formar-se como Assistente Social;
abandonando-o para voltar-se ao estudo da informática que a levou, por
sua vez, a desenvolver aptidão para ensino. Ora precipitando-se sobre
horizontes para em seguida recolher-se, sua busca revelava uma dimen-
são ética/estética da existência, o que me levou a pedir que escrevesse
sobre ela mesma a fim de compreendê-la.
Já nos primeiros textos, para falar sobre si, Regina parece querer escapar
de uma linguagem simbólica/cósmica; busca nas emoções cotidianas
uma poética onde caiba por inteira: com intensidade/presença diante
do mundo; com seus desejos, fantasias, sonhos e utopia; embora, algu-
mas vezes, frágil, instável e ambivalente. Em sua busca literária, Regina
transita entre um subjetivismo poético e um cotidiano revisitado, e o faz
por um jogo de imagens/palavras de construção tão poderosa que, ao
narrar, por exemplo, uma insônia ( Quem acendeu a luz), é capaz de nos
arrancar da mesmice cotidiana. Enquanto procuramos ajudar Regina a
adaptar-se ao mundo, sua poesia nos resgata dele.
Aos poucos nossa comunicação oral, composta por elementos da língua
natural, sofre a intervenção de outra forma comunicação: a linguagem

77
da arte, entre um criador e um leitor. Cabe agora trazê-la a público, por
isso chamei Daniela Albrecht para lermos as poesias com Regina e dar-
-lhe um destino editorial.

Daniela Albrecht:
O convite para reler com Regina as suas poesias veio pra mim como
um presente. Mergulhar naquela bagunça e desvelar com ela o luxo e o
lixo foi para mim, desde o início, tão agradável quanto difícil, tamanha
a vastidão e densidade poética com que me deparei.
A cada encontro, imersas em seus poemas, conversávamos sobre o belo,
o intenso, o comum, as surpresas, as delicadezas... Uma conversa que
por vezes chegava a parecer tola. Um prosear que nos arrancava identi-
dades fixadas e me surpreendia num modo singular de experimentar os
encontros. Era inegável: sua escrita invadia meu corpo e o único frio do
encontro era o que percorreria minha espinha dorsal.
Impressionavam-me os modos como Regina se revelava na sua escrita, a
beleza com que falava das suas vivências, das suas alegrias, dos medos.
Simples e sofisticados. Superficiais e densos. Tolos e complexos. Sempre
belos. Regina conseguia capturar na sua poesia não somente o “seu”, mas
o de muitas sensibilidades. Seus poemas já afetavam os meus modos de
olhar e de sentir – levavam-me não apenas a enxergá-la, mas a enxergar
também o mundo de outros jeitos, com outras lentes. Estava, não havia
dúvida, diante de uma poeta e de sua poesia, diante do sentimento do
mundo. Os movimentos que Regina vibra na sua poesia e por onde nos
leva são os movimentos da vida, intensa e delicadamente capturados.
Onde se encontrava então a dificuldade mencionada? Bom, estava preci-
samente na tarefa que nos cabia. De um punhado de dez ou doze poemas
de cada dia, conseguíamos abdicar de dois, quando muito, três escritos.
Tentávamos ser mais rigorosas, mas logo retro- cedíamos – ah, mas esse
também é tão bonito! Deve ficar... O projeto não parecia ter fim...

78
Lula e Daniela:
As palavras/imagens de Regina fluem em busca de sentido como água que
escapa de um guardado, construindo um veio para fincar-se no chão de
um solo poético. No entanto, seu movimento é leve e displicente, como
os gestos simples da vida cotidiana. Sugere-nos que Regina pertence
ao grupo daquelas pessoas que construíram um mundo muito amplo
dentro de si a ponto de, um dia, sentir fluí-lo através da pele. Com Re-
gina acontece principalmente pelas mãos, indo percorrer as pontas dos
dedos, transformando-se em poesia. Fala com as mãos e nós ouvimos
com os olhos a sua entrega de uma das mais belas poesias que tivemos
em mãos nos últimos anos.

79
Este livro foi composto pela EncantArte Editora
e impresso pela Letras e Versos em xxxxxxxx.

A Encantarte Editora é uma oficina de geração de trabalho e renda do Ponto de


Cultura Loucura Suburbana: Engenho,Arte e Folia, que funciona no Instituto Municipal
Nise da Silveira. É composta por usuários de saúde mental que se descobriram na
linguagem da informática e tem o objetivo de dar forma às produções literárias de
autores, prioritariamente da área de saúde mental, oferecendo também serviços gráficos
e de editoração ao público em geral.

Nossos contatos
(21) 3111-7502 / 3111-7110 / 3111-7005
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