O Governo Da Igreja Local
O Governo Da Igreja Local
O Governo Da Igreja Local
Visão Inicial
I- TEOCRACIA COMUNITÁRIA
Preliminarmente, admitimos o princípio de que o governo da Igreja é uma
teocracia comunitária. O povo eleito é espiritual e diretamente dirigido pelo seu Senhor e
Cabeça, Jesus Cristo, mediante o Espírito Santo, que habita a Igreja e reside em cada
crente. Para os ministérios globais da administração, do ensino, da proclamação, da
edificação e do pastoreio Deus elege e chama ministros e os coloca nos respectivos
ofícios de suas vocações. Ninguém, portanto, administra a Igreja de si mesmo e para si
mesmo, pois ela não nos pertence: é rebanho do Pai entregue ao pastoreio do Filho( Jo
17.6-8).
No governo de uma comunidade eclesiástica(diferentemente da administração
secular), o espiritual, o moral, o social interligam-se, fundem-se; o físico, de certa
maneira, sacraliza-se, pois é retirado do uso comum para ser colocado a serviço de Deus
no complexo templário. A Igreja de Cristo, embora definida como a “união universal dos
santos”, é inimaginável sem um lugar específico e característico de reunião, o templo e
seus anexos com móveis e utensílios. Em decorrência de sua natureza teocrática, seu
governo inclui num só conjunto: O rebanho, a doutrinação, o patrimônio, a ação social, o
comportamento comunitário e individual, as relações civis com o Estado. Tudo se
enquadra na serviçalidade ao Salvador de quem a Igreja é serva com tudo que representa e
com todos os bens patrimoniais e culturais que Deus lhe confiou.
Cristo governa a sua Igreja:
I.a- Diretamente, sem mediadores, sem intermediários, sem sucessores, sem
pontífices.
I.b- Por meio de seus ministros, homens vocacionados, eleitos, chamados e
colocados no ministério. Os estatutos do ministro são as Escrituras Sagradas. Deus indica
os seus ministros por meio da Assembléia dos Santos. Os predestinados ao serviço
ministerial Deus os escolhe pelo voto de seus escolhidos em Cristo.
V- FINALIDADE DA IGREJA
A Igreja tem por fim:
V.1- Prestar culto a Deus em espírito e verdade.
Entendemos por “culto em espírito”:
V.1.a- Um culto sem materializações de nenhuma espécie: Imagens de santos ou
santas, representações icônicas da divindade, ídolos reais ou imaginários, relíquias de
qualquer origem ou natureza, objetos mânticos por tradição pagã ou por “consagração” de
“santos” ou “profetas” de dentro ou de fora de nossos arraiais.
V.1.b- Um culto sem objetivos materiais ou interesses pessoais. Uma reunião
religiosa cujo propósito final é a satisfação dos desejos do adorador, no nosso
entendimento, não é culto a um Deus soberano, mas invocação de uma divindade
submissa, serva do homem insubmisso, daquele que não se dispõe a ser escravo de seu
Senhor.
V.2- Culto verdadeiro.
Entendemos por “culto em verdade”:
V.2.a- Um culto exclusivo e radicalmente cristocêntrico, sem nenhuma concessão
a elementos estranhos às Escrituras Sagradas e à genuína obediência ao Filho de Deus,
nosso Redentor, na liturgia comunitária e na devoção pessoal.
V.2.b- Um culto firmado nos textos sagrados e fiel à adoração instituída por
Deus. A biblicidade do culto deve expressar-se: na leitura dos textos escriturísticos; nas
orações; na hinologia; na pregação; nas antífonas; nas litanias; nas declarações credais;
nos sacramentos estritamente bíblicos.
V.3- Pregar o Evangelho.
A Igreja, rigorosamente falando, não é apenas uma instituição “criada” para pregar
o Evangelho; ele é filha do Evangelho, gerada da pregação da Palavra de Deus( Rm 14.8-
17), alimentada pelas Escrituras e por elas purificada(Mt 4.4; Jo 15.3). O Evangelho é a
essência de sua natureza, a razão de sua existência, brilha nela e por meio dela como a luz
se irradia do sol. Portanto, a sua vida, o seu corpo, o seu culto, as suas expressões e as
suas proclamações são manifestações permanentes e convincentes do Evangelho. Ela não
credencia exclusivamente alguns pregadores especializados de sua membresia, deixando
os demais como ouvintes; ela é um corpo de ministros, de evangelistas, com a missão de
fermentar, salgar e iluminar a sociedade de que faz parte.
V.4- Ministrar os sacramentos.
V.4.1- Batismo. Pelo batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
usando como elemento físico simbólico apenas a água, introduz na fraternidade e na
militância cristã os adultos que professam a fé em Jesus Cristo e os menores, filhos de
membros da Igreja, fazendo com que o novo Israel seja o retrato do Velho, ambos
escolhidos por eleição divina, não por opções humanas.
V.4.2- Santa Ceia. Pela Santa Ceia, ministrando o pão e o vinho a todos os
comungantes, exatamente como procedeu o Senhor Jesus no ato da instituição, procura
manter e avivar na mente da Igreja:
A morte vicária do Cordeiro de Deus para expiação de nossos pecados.
A memorização e renovação do pacto da graça sem o qual não seríamos admitidos
na presença de Deus como filhos eleitos.
A esperança, certeza da fé, que mantém os frágeis peregrinos na rota perigosa e
acidentada do êxodo em direção à possessão eterna.
V.5- Doutrinar e catequizar.
A Igreja é uma escola permanente de doutrinação e catequese, função que cumpre
pelos seguintes meios ordinários entre outros: Escola Dominical, pregação, estudos
bíblicos, leituras comunitárias uníssonas e responsivas, hinos, textos confessionais,
pastorais, liturgia bem organizada e bem dirigida, reuniões departamentais reflexivas e
meditativas, classe especial de doutrina para os neófitos.
V.6- Confraternizar e edificar.
Compete à liderança da Igreja, composta de ministros de Cristo, viver e promover
a fraternidade, a igualdade, a tolerância, a compreensão e o perdão. A Igreja mantém a
diversidade ministerial, segundo o dom de cada um, mas todos se igualam espiritual e
socialmente, eliminando os desníveis e os contrastes econômicos, intelectuais,
profissionais, sociais, raciais, etários e sexuais. Todos são um em Cristo Jesus,
igualmente necessários, niveladamente considerados e amados pelo Cabeça do corpo,
Jesus Cristo( Cap. I, art. 2º da C/IPB)
X.2- PRESBÍTEROS.
O ofício de presbítero( e também o de diácono) é perpétuo, mas o exercício é
temporário( C/IPB, cap. IV, seção 1ª, art. 25, § 1º) e se fará por mandato de cinco anos(
C/IPB, cap. IV, seção 3ª, art. 54), repetíveis por reeleições. A ordenação dará início ao
ofício, que é permanente; a investidura e a posse o introduzirão no mandato qüinqüenal.
Sendo ministérios distintos, a ordenação também será distinta. A de diácono não vale para
presbítero.
Na Igreja, o presbítero ocupa a posição regencial, deixando a de natureza
profética e didática para o pastor. Ele ministra os sacramentos( função de herança
sacerdotal), e exerce a docência religiosa na comunidade( função rabínica e profética).
Compete ao presbítero, individualmente:
X.2.a- Levar ao conhecimento do Conselho as faltas que não puder corrigir por
meio de admoestações particulares.
O presbítero, como pastor regente, não deve ter e nem manter a negativa imagem
de “detetive” do Conselho. Tendo conhecimento de alguma falta do irmão, sua obrigação
é procurar o faltoso, tratá-lo com respeito, amor cristão e carinho, procurando recuperá-lo
e reconduzi-lo à plenitude da comunhão da Igreja, e isto no espírito de Mateus 18.15-20.
Se somente ele conhece o erro do irmão, terá de guardar segredo a respeito do assunto,
para que seu aconselhamento pastoral não caia em descrédito. A confiança do crente no
presbítero é fundamental para o seu ministério. Ele precisa lembrar-se de que, como
ancião e pastor regente, é “um pai espiritual” de todos os membros da Igreja e de cada um
em particular; e, prioritariamente, não é um levador de recados, denúncias, queixas e
reclamações ao Conselho; é, antes de tudo, um conselheiro amigo, um irmão mais velho,
mais vivido na fé, mais experiente. A ordenação ministerial ao presbiterato não lhe
confere, necessariamente, “autoridade judicial” ou “poder impositivo”, mas um ministério
pastoral na área regencial da Igreja. Tal pastorado deverá ser exercido com: submissão a
Cristo, subordinação às Escrituras, respeito à doutrina, ao governo e à disciplina da Igreja
Presbiteriana do Brasil, humildade, sinceridade, amor e espírito fraternal. A figura do
presbítero denunciador deprecia sua imagem, prejudica seu ministério, coloca mal o
conselho diante da comunidade. A empáfia de: “eu sou presbítero”, “eu lhe falo como
autoridade da Igreja”, “respeite-me como presbítero”, somente se encontra nos
despreparados para o presbiterato, nos personalistas, nos que, não tendo o “múnus”
natural, moral e espiritual, valem-se da suposta autoridade institucional para se imporem
aos liderados.
X.2.b- Auxiliar o pastor no trabalho de visitas.
O presbítero tem o dever de visitar os membros de sua Igreja, acompanhando o
pastor, indo só ou com outros presbíteros. Visitação, eis a melhor maneira de se interagir
com seus irmãos, reagir com eles nas várias circunstâncias, ajudar o pastor no pastoreio
do rebanho. Pouco pode fazer o presbítero a um aprisco de ovelhas congregadas, em
reunião, mas muito fará na dispersão, conhecendo o ninho diário e a domesticidade de
cada uma.
X.2.c- Instruir os neófitos, consolar os aflitos e cuidar da infância e da juventude.
Instruir, consolar e educar são funções presbiterais exercidas individualmente. Poucos
presbíteros, no entanto, se dão conta de tais ministérios. A maioria entende que estas são
atribuições do ministro docente, e somente dele. Este quadro precisa mudar! Os
presbíteros, dentro da eclesiologia presbiteriana, são pastores regentes, isto é, sobre os
quais recai o governo integral da Igreja: patrimonial, financeiro, moral, social e espiritual.
X.2.d- Orar com os crentes e por eles.
Se um ancião na Igreja não é um homem de oração, não deve ser eleito presbítero.
A oração comunitária e a devoção pessoal são necessárias à santificação e à unidade da
Igreja.
X.2.e- Informar o pastor dos casos de doenças e aflições.
Este item, como o da letra “c”, pressupõe uma comunidade, certamente rural,
cujas visitas pastorais efetuam-se de tempos em tempos, com espaçamento longo entre
elas. Nesses casos, a Igreja fica entregue ao ministério presbiteral. Conheço
experiencialmente o problema. Visitava, como pastor evangelista, as Igrejas rurais de mês
em mês. E, em lá chegando, encontrava-as pastoreadas, e bem, pelos presbíteros. Eles me
informavam sobre doenças e doentes, aflições e aflitos, problemas morais, conjugais,
doutrinários; sobre recém-convertidos, nascimentos, casamentos e batizados. Os
presbíteros de tais igrejas realmente as pastoreiam. Os presbíteros de igrejas com pastores
efetivos acomodam-se. E o pastor vira “o faz tudo”.
X.2.f- Distribuir os elementos da Santa Ceia.
A cerimônia eucarística celebrativa cabe ao pastor privativamente. A distribuição
dos elementos, aos presbíteros. Em respeito à comunidade, em consideração ao Senhor da
Igreja, e para contribuir com a solenidade do feito, o presbítero precisa vestir-se
adequadamente com terno e gravata. Isto só, porém, não basta; requer-se dele bom
testemunho e consagração diante dos comungantes.
X.2.g- Tomar parte na ordenação de ministros e oficiais.
De ministros docentes, quando representante da Igreja ao presbitério ou a convite.
De oficiais de sua comunidade a que serve por dever de ofício.
X.2.h- Representar o Conselho no Presbitério, este no Sínodo e no Supremo
Concílio. Não há nenhuma diferença de direito representativo e institucional entre
pastor e presbítero nos concílios superiores. Ele só não pode realizar atos pastorais
privativos do ministro docente. Tudo mais lhe é permitido por direito, podendo lhe ser
outorgado por nomeação, por comissão ou por eleição.
Os conselhos, com seus presbíteros, têm sustentado e mantido a tradição
reformada da Igreja Presbiteriana do Brasil. Os cismas e os desvios doutrinários são,
geralmente, e quando acontecem, liderados por pastores. A Igreja deve a sua identidade
nacional e a sua unidade especialmente aos conselhos e aos presbíteros.
X.3- DIÁCONOS.
“Diakonos”, “diakoneo”, servo humilde, servo da corte, escravo(doulos), servir,
ajudar, colaborar, prestar serviço não remunerado, ser útil, servir a mesa, garçom, cuidar
das necessidades normais e rotineiras do lar, ser operário, trabalhador dirigido ou
comandado. As funções exercidas pelo “diakonos” ocupavam o último lugar na escala
social e eram consideradas indignas de um homem livre e socialmente honrado. Jesus,
porém, a si mesmo se designou “diakonos”, o Servo dos servos( Lc 22.27) e, na parábola
do Servo Vigilante, diz que o servo, que for encontrado no seu posto de serviço, será por
ele servido: “Bem-aventurados aqueles servos(douloi) a quem o Senhor, quando vier, os
encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa
e, aproximando-se, os servirá(diakonêsei)”. O contexto mostra que “doulos” é sinônimo
de “diakonos”. Ser diácono, portanto, é uma bênção, um privilégio, uma grande
oportunidade de servir. Num sentido amplo, mas real, e sendo todos os redimidos servos
de Cristo, a Igreja se destina a ser uma diaconia do Salvador nas ações comunitárias e nos
ministérios individuais de cada membro. Na comunidade de Jerusalém, mãe de todas
comunidades cristãs, judaicas e gentias, os diáconos se encarregavam do cuidado das
viúvas gregas, como faziam com as judias, serviam as mesas nas refeições comunitárias e
distribuíam alimentos aos necessitados da Igreja( At 6.1-3). Este serviço de apoio, similar
ao ministério levítico, com paralelos na comunidade essênia de Cunrã, e por causa de sua
natureza doméstica, veio a ser um ministério ordenado da Igreja local( I Tm 3. 8-10,
12,13) destinado a dar suporte social, benemerente e estrutural ao ministério apostólico e
presbiteral da proclamação e do ensino(At 6.3,4).
Como o presbiterato, o diaconato passou a ser mal compreendido na Igreja
Presbiteriana do Brasil. O presbítero era apelidado de “delegado da Igreja” ou “espião do
Conselho”. Do diácono se dizia que “só servia para tocar cachorro da Igreja”. São
lamentáveis tais conceitos pejorativos de tão nobres e necessários ministérios.
Embora a nossa constituição seja omissa a respeito, o diácono, em virtude de seu
ofício perpétuo( C/IPB, Cap. IV, seção 1ª, art 25, § 1º), quando não reeleito, fica em
disponibilidade na sua comunidade onde serviu e onde permanece. Cremos, em
decorrência de seu ministério restrito à Igreja local, que ele não poderá gozar de
disponibilidade fora de sua comunidade de origem.
Um conselho funciona bem com poucos presbíteros, mas a Igreja precisa de
muitos diáconos para funcionar a contento. A importância e a necessidade do ministério
diaconal são inegáveis.
XII.4- O LÍDER
A liderança pode ser classificada em cinco modos operacionais: Imperativa,
impositiva, coercitiva, diretiva e estimulativa. Dentro de tais conceituações, os líderes,
conforme a instituição ou grupo que lideram, podem ser:
XII.4.a- Líder militar. Liderança imperativa. Lidera pelo poder da patente. Os
liderados não podem discutir e nem questionar as ordens; obedecem cegamente ao comando
do líder.
XII.4.b- Líder patronal. Pode ser, conforme sua formação e princípios: impositivo,
estimulativo, coercitivo. Lidera, freqüentemente, com a promessa de promoção, com a
ameaça de desemprego, com o estímulo da produção.
XII.4.c- Líder sindical. Liderança diretiva. Lidera pela habilidade de manutenção
do conflito entre trabalho e capital, entre patrão e empregado, entre salário e lucro. Usa o
interesse classista para manobrar a categoria e obter resultados.
XII.4.d- Líder social. Liderança diretiva. Lidera as pessoas afins ou aquelas
reunidas em torno de um mesmo objetivo de natureza moral, lúdica, econômica, recreativa,
esportiva.
XII.4.e- Líder magisterial. Liderança diretiva e estimulativa. Lidera discípulos
com base na comunicação e na competência ou domínio da matéria lecionada. A
liderança magisterial pode ser apenas por força de ofício. Se assim for, é desgastante e
traumatizante.
XII.4.f- Líder natural. Liderança espontânea, capacidade de agregação. É o líder
nato, portador do dom de liderança, capaz de atrair pessoas e envolvê-las em suas causas
próprias e objetivos pessoais bem como para causas sociais e fins humanitários. O líder
natural é anti-segregador por natureza.
XII.4.g- Líder eletivo. É o que a comunidade elege. Este líder pode não ter
nenhuma capacidade liderante ou governamental, pois eleição depende:
Das circunstâncias sociais.
Dos candidatos disputantes no pleito.
Da mídia colocada a seu serviço.
Da campanha eleitoral e eficiência dos cabos eleitorais. Por ser eleito, não
significa que seja líder, e freqüentemente não é. Nem sempre o presidente é um líder, e os
presididos logo percebem isso. Uma campanha eleitoral “bem feita” pode reeleger um
presidente sem liderança; são fatos corriqueiros na democracia secular, mas verificáveis
também, em alguns casos, lamentavelmente, até dentro de nossa amada Igreja.
XII.4.h- Liderança colegiada. Diretiva por excelência. É o caso da Igreja
Presbiteriana local, que é liderada por um Conselho de Ministros, docentes e regentes.
Todas as decisões, resoluções, recomendações, medidas e providências nas três áreas,
administrativa, social e espiritual, são produzidas e implementadas pelo Conselho.
A ação presbiteral individual subordina-se:
Ao que estabelece a Constituição da Igreja, conforme a sua competência legal(
C/PIB, cap. IV, seção 3ª, art. 51).
Ao Conselho por meio de delegação, mandato e comissão. Legalmente não existe
a figura do “presbítero mandão” ou “dono da Igreja”.
XII.4.i- Liderança pastoral.
O pastor é um líder eminentemente estimulativo e pastoral, um supervisor ético,
um estimulador da consagração, um mestre da doutrinação. O seu papel é mais de
paternidade espiritual que de liderança institucional. O rebanho, espiritualmente, pertence
a Jesus Cristo e, institucionalmente, está sob o poder governamental do Conselho, que
também possui o “múnus das chaves”. O pastor, individualmente, no sistema
presbiteriano de governo, é, apenas e exclusivamente, um líder espiritual, docente e
litúrgico. Seu papel governamental se restringe ao colegiado de ministros, o Conselho.
Dentre as suas atribuições constitucionais está a de co-regente: “Exercer, juntamente com
os outros presbíteros, o poder coletivo de governo”( C/IPB, cap. IV, seção 2ª, art. 36, letra
g). Como agente dos valores pios, ele atua no aconselhamento e no consolo das ovelhas.
Como estimulador das virtudes cristãs morais e espirituais, ocupa a posição de
harmonizador e equilibrador da comunidade. Da presença estimuladora, supervisora e
conselheira do pastor dependem, em considerável medida: a- A fraternidade, a unidade e
a santidade da Igreja. b- A firmeza doutrinária e o bom senso litúrgico, especialmente o
gosto pelas artes musicais, instrumental e vocálica. c- O bom e consciente desempenho do
Conselho, bem como seu engajamento no sistema presbiteriano de governo. d- A
consciência de presbiterianidade de todos os líderes comunitários, clérigos e leigos. e- A
convicção, externada na prática comportamental, de que a Igreja é um rebanho, e não
soma de apriscos etários, sexuais ou classistas.
A nutrição pastoral é como o alimento físico: Nem sempre o mais necessário é o
mais desejado; nem sempre o mais saboroso é o mais nutritivo. Na ingestão do que
realmente carece o organismo constam, de forma equilibrada: O doce e o amargo, o
insosso e o salgado, o de fácil e o de difícil digestão, o agradável e o desagradável ao
paladar. Comparar-se-á também o ministro da palavra e do pastoreio a um técnico de
futebol: Se a equipe vence: aplausos para os jogadores. Se perde: o culpado é o técnico.
Quando os atletas atuam mal, não se lhes cobra a ineficiência; pede-se a substituição do
treinador. Notem bem, ele não é o líder do clube, trabalha sob liderança, mas a ele
compete preparar tecnicamente cada jogador e criar um conjunto solidário, de tal modo a
eliminar os individualismos sem prejudicar as qualidades e as habilidades individuais de
seus pupilos. Mais ou menos assim é o pastorado. Quem lidera a Igreja é o Conselho;
quem a habilita é o pastor. Se o rebanho não vai bem, o culpa não recai sobre o
Conselho, mas sobre o presbítero docente, Ministro da Palavra.
O líder ministerial, no sistema presbiteriano, por realizar uma liderança emulativa e
pastoral, tem sido pouco compreendido por alguns ministros e por muitos conselhos. Há
mesmo certos presbíteros que acham que o pastor é “aquele que a Igreja paga para pregar”.
Ouvi um dia um presbítero dizer: “Cada sermão do pastor está custando “X” para a Igreja.
Eu diria que um presbítero deste tipo “não vale nada”, pois não tem consciência de seu real
papel e não sabe qual a verdadeira função do Conselho na administração da Igreja, e o que
significa o ministério pastoral, uma ordenação divina. O Conselho é o poder determinante,
não há dúvida sobre isso, mas é, acima de tudo, o viabilizador das ordens constitucionais e
o realizador de suas próprias determinações, pois nas suas mãos está, prioritária e
essencialmente, o múnus regencial e o pastoreio do rebanho. O pastor “faz tudo”:
centralista, ativista, determinista, autoritário, prepotente, mandante, imperativo, auto-
estimativo, longe está da democracia de nossa Igreja e, assim sendo, desfigura a imagem do
ministro reformado presbiteriano, desorienta a Igreja e desvia a autoridade do Conselho
para a sua pessoa, praticando episcopalismo dentro de um regime eclesial democrático-
representativo. Um conselho genuinamente presbiteriano não permite semelhante
pastorado.
No sistema episcopal de governo, o sacerdote é o “ser maior” da comunidade, a voz
autoritativa da Igreja. No presbiterianismo, o pastor é o “ser necessário”, a voz docente e
didática do rebanho, mas, regencialmente, a autoridade final é a do Conselho.
Resumindo: o pastor, especialmente o presbiteriano, não é o que:
a- “Pasta em lugar das ovelhas”.
b- “Produz lã e leite” por elas.
c- Reproduz novas ovelhinhas para o aprisco.
Ele leva o rebanho às pastagens verdes, sadias e frescas; coloca sua lã e leite nas
mãos de seu legítimo Senhor, Jesus Cristo; prepara o ambiente e viabiliza os meios de
reprodução, alimentando as matrizes, afofando o leito maternal, cuidando das ovelhinhas
recém-nascidas, protegendo as debilitadas e frágeis, curando as enfermas. A
responsabilidade de evangelizar, em síntese, é da Igreja total e de cada membro em
particular. O pastor apascenta; o rebanho reproduz.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA