70 Anos Coloridos em Gis
70 Anos Coloridos em Gis
70 Anos Coloridos em Gis
Gislene Ottoni
SETENTA ANOS COLORIDOS EM GIS
Quando íamos passar férias com eles, ele pegava nossas bolas e
dava para o cachorro brincar.
Ele comprava duas latas grandes de goiabada, comia uma inteira
e a outra dividia com a família. Adorava uma mesa farta. Como
não sabia que tinha diabetes, nunca fez controle, partiu dessa
vida com a idade de 57 anos. Foi muito triste, a funerária não
encontrava um caixão que coubesse o corpo dele. Era uma sexta-
feira e somente na segunda-feira conseguiram o caixão. Meu avô
tinha um coração de ouro.
Quando recebia seu salário, sempre comprava coisas para doar
para os mais necessitados, dessa forma o velório foi muito
movimentado.
Ele tinha muita compaixão das pessoas que não tinham moradia
e ficavam na rua. Assim, comprava cobertores, agasalhos. Ele
deixava que muitas delas montassem acampamento em frente à
sua casa, existia um grande muro feito de metal, que dividia a
rede ferroviária da rua. E lá, esses sem teto ficavam por dias e
dias, ele ajudando na alimentação e o que mais precisassem.
Certa feita ele colocou fogo no quintal do vizinho, porque ele não
havia votado no Getulio Vargas, de quem meu avô era fã. De
outra vez, minha avó o encontrou rindo bastante sozinho, e ao
indagar o motivo, ele explicou que outro vizinho queria bater no
seu cachorro e ele havia jogado pedras no telhado do mesmo.
Parecia uma criança grande.
Minha avó materna, Alice Gonçalves Giammarino, era uma
senhora também de descendência simples, e viera ainda nova de
Bom Despacho.
Tinham cinco filhos, sendo quatro mulheres e um homem. Nessa
época, um primo do meu avô que era mais abastado, e tinha
uma fábrica de sapatos, precisava de uma babá para a filha
recém-nascida, e vovô tirou minha mãe da escola com treze anos
para cuidar dessa menina. Mãe cuidou dela até completar
dezoito anos e depois foi trabalhar na fábrica de sapatos. Lá ela
aprendeu a fumar, vício que só deixou aos 80 anos. Mesmo a
contra gosto do meu pai, que proibia e ela fumava escondida.
Assim, aconteceu que meu pai e seu irmão vieram a Belo
Horizonte para conhecer a casa onde meus outros avós já
estavam instalados. Pai conheceu minha mãe e o irmão dele, Tio
Bieco, conheceu uma prima de mãe.
Eles se apaixonaram e tanto meu pai como meu tio passaram a
ir e vir de São Paulo com mais frequência, e se correspondiam
com as meninas através de cartas apaixonadas.
Depois resolveu se estabelecer de vez em Belo Horizonte. Pediu
a mão de minha mãe em casamento, e meu avô consentiu com a
condição de que meu pai não a levasse para o Serro, promessa
essa que não foi cumprida. Meu pai passou a morar em uma
pensão até o dia do casamento, porque seus pais haviam
retornado para o Serro.
Os dois irmãos se casaram no mesmo dia.
Pai havia alugado um pequeno barracão com piso de tijolos
vermelhos, e no dia do casamento ele entrou com minha mãe no
colo. Um Mês após, minha mãe engravidou.