Funções de Variação Limitada
Funções de Variação Limitada
Funções de Variação Limitada
Guilherme Franco
Universidade Federal de Minas Gerais - Projeto de Iniciação Cientı́fica
Maio de 2022
Capı́tulo 1
O Teste de Jordan
De todas as constantes M que podem ser usadas para verificar a propriedade acima, a menor destas constantes
é chamada de variação de f em [a, b], denotada por V [a, b]
1 Se f é uma função complexa definida em um aberto Ω, isto é, f : Ω ⊂ Rn → C, ela é dita localmente integrável se qualquer
1
Podemos ainda definir, mais rigorosamente, a variação total de f em um intervalo de um conjunto T da
seguinte maneira:
Definição 2. Seja f uma função definida em um conjunto totalmente ordenado T e com valores em um
espaço métrico (E, d). Para qualquer subdivisão σ = (x0 , x1 , · · · , xn ) de qualquer intervalo de T , define-se
n
X
V (f, σ) = d(f (xi−1 ), f (xi ))
i=1
VT (f ) = sup V (f, σ)
σ
Neste caso, f será de variação limitada se VT (f ) for finito, isto é, se o arco definido por f , não necessari-
amente contı́nuo, for retificável (tem comprimento finito e pode ser aproximado por poligonais). [1]
Veremos que nem toda função contı́nua é de variação limitada, assim como funções que apresentam descon-
tinuidades que são de variação limitada. Em geral, dizemos que qualquer função monotônica2 f : [a, b] → R
é de variação limitada e vale que
V [a, b] = |f (b) − f (a)|
Se f é de variação limitada, então pode ser obtida a partir da diferença de duas funções monotônicas f1 (x)
e f2 (x) definidas por
V [a, x] + f (x) V [a, x] − f (x)
f1 (x) = , f2 (x) =
2 2
Mas é possı́vel encontrar exemplos de funções monotônicas cuja a soma não é uma função de variação limi-
tada, portanto não inclui-se a soma de funções monotônicas nesta definição.
Esta é uma definição precisa, pois implica que f tenha no máximo um número contável de descontinui-
dades, tais quais são descontinuidades de primeira espécie. Consequentemente, f admite limites laterais à
esquerda e à direita e são finitos em cada ponto x.
Nota-se que, nas hipóteses do teorema acima, não é feita nenhuma restrição aos limites laterais de f , por
isso a função g não é a mesma utilizada anteriormente no Teste de Dini.
2 Uma função f é monotônica em um intervalo I quando preserva ou inverte a relação de ordem dos elementos de I. Definem-se
como funções monotônicas aquelas que são estritamente crescentes ou decrescentes e ainda as não-crescentes e não-decrescentes.
2
Demonstração 1. No inı́cio do capı́tulo 3, quando se foi discutido sobre a convergência pontual da Série
de Fourier, definiu-se uma expressão para a n-ésima soma parcial da série, dada por
Z L
sn (x) = Dn (t) · [f (x + t) + f (x − t)] dt
0
Então dizemos que a Série de Fourier de f converge para s(x) se, e somente se
Z L
lim Dn (t) · g(x, t) dt = 0
n→∞ 0
Aplicando o Lema de Riemann-Lebesgue visto anteriormente para qualquer λ ∈ (0, L), temos
Z L Z L
1 1 πt g(x, t)
lim Dn (t) · g(x, t) dt = lim sin n + · dt = 0
n→∞ λ n→∞ 2L λ 2 L πt
sin
2L
O que significa que convergência da Série de Fourier para s(x), para algum λ ∈ (0, L), é equivalente a
Z λ
lim Dn (t) · g(x, t) dt = 0
n→∞ 0
Consideremos a função
1 1
h(t) = −
πt πt
sin
2L 2L
cuja continuidade para 0 < t ≤ λ ≤ L e tendência a zero quando t → 0+ são propriedades mais interessantes,
podemos utilizar novamente o Lema de Riemann-Lebesgue para mostrar que
Z λ
1 1 πt
lim sin n + · h(t) g(x, t) dt = 0
n→∞ 2L 0 2 2L
Note que pela definição de h(t), ao final teremos exatamente a expressão que buscávamos demonstrar. □
Se tomamos g(a + 0) = 0 e aplicamos o teorema para a função g(x) − g(a + 0), isto é suficiente para a
demonstração do teorema, como se segue
Demonstração 2. Considere a função
Z b
F (t) = f (s) ds
t
contı́nua em [a, b] e sejam M e m o máximo e mı́nimo de F em [a, b], respectivamente.
Multiplicando F por g(b − 0), esta expressão é contı́nua em [a, b] e se mostrarmos que
Z b
m · g(b − 0) ≤ g(x) · f (x) dx ≤ M · g(b − 0)
a
isto seguirá diretamente do teorema do valor intermediário. Vamos tomar a seguinte partição do intervalo
[a, b] com n > 0:
j · g(b − 0)
a = x0 < x1 < · · · < xn = b, xj = sup t ∈ [a, b] : g(t) <
n
3
Note que para algum x ∈ (xj−1 , xj ), pela definição anterior, teremos
(j − 1) · g(b − 0) j · g(b − 0)
≤ g(x) ≤
n n
Definimos a seguinte função para x ∈ (xj−1 , xj ):
j · g(b − 0)
φ(x) =
n
Multiplicando a primeira desigualdade por um fator (−1) e somando φ(x) em todos os lados, teremos
g(b − 0)
0 ≤ φ(x) − g(x) ≤
n
Z b
o que vale exceto nos pontos da partição. Sabendo que f (x) dx é um número, multiplicamos ambos os
a
lados da desigualdade tal que
Z b b b
g(b − 0)
Z Z
0≤ φ(x) · f (x) dx − g(x) · f (x) dx ≤ · f (x) dx
a a n a
Z b Z b
Em que vale a seguinte propriedade: f (x) dx ≤ |f (x)| dx, logo
a a
b b b b
g(b − 0)
Z Z Z Z
0≤ φ(x) · f (x) dx − g(x) · f (x) dx ≤ |g(x) − φ(x)| · |f (x)| dx ≤ · |f (x)| dx
a a a n a
Mas note que φ(x) é definido como valores discretos e a integral de f é uma soma infinita, portanto
Z b n Z xj n Z xj
X j · g(b − 0) g(b − 0) X
φ(x) · f (x) dx = · f (x) dx = · j f (x) dx
a j=1 xj−1
n n j=1 xj−1
4
Vale notar que a hipótese para g ser não-decrescente para a validade do teorema pode ser convertida para
a de g ser não-crescente, fazendo x → −x.
Com este lema, é possı́vel demonstrar que a seguinte integral é limitada (isto é, existe M ∈ R tal que):
Z b
sin(x)
dx ≤ M
a x
sin(x)
lim =1
x→0 x
(vale notar que ambos os limites laterais existem). Então o integrando é contı́nuo e impondo b > a ≥ 1, é
condição suficiente para demonstrar o resultado.
Pelo segundo teorema do valor médio, demonstrado há pouco, existe δ > a tal que
Z b Z δ Z b
sin(x) 1 1
dx = · sin(x) dx + · sin(x) dx ≤ 4
a x a a b δ
Por isso a escolha do 4 para majorar a desigualdade anterior (grande Djairo!). De volta à demonstração do
Teste de Jordan, devemos usar o Princı́pio da Localização de Riemann com
g(x, t) = f (x + t) + f (x − t) − f (x + 0) − f (x − 0)
Observa-se que, para cada x fixado, g é de variação limitada em t (por hipótese, f é de variação limi-
tada) e, consequentemente, existem funções não-negativas monótonas não-decrescentes g1 (t) e g2 (t) tais que
g(x, t) = g1 (t) − g2 (t) e g1 (0 + 0) = g2 (0 + 0) = 0.
Dado ε > 0, tomamos 0 < λ < L tal que |gi (t)| ≤ ε, para 0 < t < λ, então (1.1) se torna
1 πt 1 πt
Z λ sin n + Z L sin n +
2 L 2 L
lim · gi (t) dt + · gi (t) dt
n→∞ 0 t λ t
5
1 πt
Então pela mudança de variáveis y = n+ , obtemos
2 L
Z (n+ 12 )πλ/L
sin(y)
lim gi (λ − 0) · dy
n→∞ (n+ 21 )πδ/L y
E por hipótese, temos que este resultado é menor ou igual a εM , o que conclui a demonstração □
Abaixo, temos um exemplo de função para a qual o Teste de Jordan se aplica mas não o Teste de Dini:
1 1
− log |x| , 0 < x < 2
f (x) =
0, x = 0
e periódica
de perı́odo 1, isto é, f (x + 1) = f (x). Podemos ver que f é contı́nua e monótona em cada
1 1
intervalo 0, e − , 0 , portanto f é dita de variação limitada. Neste caso, o teste de Dini não é aplicável
2 2
porque
Z δ
1
dx diverge
0 x log(x)
Uma outra função para a qual o teste de Dini se aplica mas não o de Jordan:
1
|x| sin |x| , 0 < |x| < 1
f (x) =
0, x = 0
e perı́odica de perı́odo 2.
6
Historicamente, Dirichlet foi o primeiro a propor um teste de convergência pontual da Série de Fourier e
é possı́vel notar que ele é um caso particular do Teste de Jordan. As condições que a função deve satisfazer
são conhecidas como condições de Dirichlet:
7
Referências Bibliográficas
[1] Função de variação limitada. Disponı́vel em: https://bit.ly/3MBhaA1. Acesso em 20 de maio de 2022.
[2] Djairo Guedes de Figueiredo. Análise de Fourier e Equações Diferenciais Parciais. Projeto Euclides,
IMPA, Rio de Janeiro, 1987.