IPhO 2023 Portugues

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Q1-1

Theory

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Caracterização de Coloides do Solo (10 pontos)


A ciência coloidal é útil para caracterizar as partículas do solo porque muitas delas podem ser consi-
deradas como partículas coloidais de tamanho micrométrico. Por exemplo, o movimento browniano
(movimento aleatório de partículas coloidais) pode ser utilizado para medir o tamanho das partículas.

Parte A. Movimentos de partículas coloidais (1,6 pontos)


Analisamos o movimento browniano unidimensional de uma partícula coloidal com massa 𝑀 . A equação
de movimento para a sua velocidade 𝑣(𝑡) é a seguinte:

𝑀 𝑣 ̇ = −𝛾𝑣(𝑡) + 𝐹 (𝑡) + 𝐹ext (𝑡), (1)

em que 𝛾 é o coeficiente de atrito, 𝐹 (𝑡) é uma força devida a colisões aleatórias com moléculas de água,
e 𝐹ext (𝑡) é uma força externa. Na Parte A, assumimos que 𝐹ext (𝑡) = 0.

A.1 Considere que uma molécula de água colide com a partícula em 𝑡 = 𝑡0 , dando 0.8pt
impulso 𝐼0 , e, a partir de então, 𝐹 (𝑡) = 0. Se 𝑣(𝑡) = 0 antes da colisão,
𝑣(𝑡) = 𝑣0 𝑒−(𝑡−𝑡0 )/𝜏 para 𝑡 > 𝑡0 . Determine 𝑣0 e 𝜏 , utilizando 𝐼0 e os parâmetros
necessários na Eq. (1).

A seguir, você pode utilizar 𝜏 nas suas respostas.

A.2 Na verdade, as moléculas de água, uma após a outra, colidem sucessivamente 0.8pt
com a partícula. Suponha que a 𝑖-ésima colisão dá um impulso 𝐼𝑖 no instante
𝑡𝑖 e determine 𝑣(𝑡) na condição em que 𝑡 > 0 e 𝑣(0) = 0. Apresente também
a desigualdade que especifica o intervalo de 𝑡𝑖 que deve ser considerado para
um dado 𝑡. Na folha de respostas, não é necessário especificar este intervalo
na expressão para 𝑣(𝑡).

Parte B. Equação de movimento efetiva (1,8 pontos)


Os resultados obtidos até agora implicam que as velocidades das partículas 𝑣(𝑡) e 𝑣(𝑡′ ) podem ser con-
sideradas como quantidades aleatórias não correlacionadas se |𝑡 − 𝑡′ | ≫ 𝜏 . Sendo assim, introduzimos
um modelo teórico para descrever aproximadamente o movimento browniano unidimensional, onde a
velocidade muda aleatoriamente em cada intervalo de tempo 𝛿 (≫ 𝜏 ), ou seja,

𝑣(𝑡) = 𝑣𝑛 (𝑡𝑛−1 < 𝑡 ≤ 𝑡𝑛 ), (2)

com 𝑡𝑛 = 𝑛𝛿 (𝑛 = 0, 1, 2, ⋯) e uma quantidade aleatória 𝑣𝑛 , que satisfaz

𝐶 (𝑛 = 𝑚),
⟨𝑣𝑛 ⟩ = 0, ⟨𝑣𝑛 𝑣𝑚 ⟩ = { (3)
0 (𝑛 ≠ 𝑚),

com um parâmetro 𝐶 que depende de 𝛿. Aqui ⟨𝑋⟩ indica o valor esperado de 𝑋. Ou seja, se sortear
números aleatórios 𝑋 infinitas vezes, a média será ⟨𝑋⟩.
Consideramos agora o deslocamento da partícula Δ𝑥(𝑡) = 𝑥(𝑡) − 𝑥(0) para 𝑡 = 𝑁 𝛿, com um número
inteiro 𝑁 .

B.1 Determinar ⟨Δ𝑥(𝑡)⟩ e ⟨Δ𝑥(𝑡)2 ⟩ utilizando 𝐶, 𝛿, e 𝑡. 1.0pt


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Theory

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B.2 A quantidade ⟨Δ𝑥(𝑡)2 ⟩ é designada por deslocamento quadrático médio (MSD). 0.8pt
Ela é uma grandeza observável caraterística do movimento Browniano, que cor-
responde ao caso limite 𝛿 → 0. A partir daí, podemos mostrar que 𝐶 ∝ 𝛿 𝛼 e
⟨Δ𝑥(𝑡)2 ⟩ ∝ 𝑡𝛽 . Determine os valores de 𝛼 e 𝛽.

Parte C. Eletroforese (2,7 pontos)


Agora discutiremos a eletroforese, ou seja, o transporte de partículas carregadas por um campo elétrico.
Uma suspensão de partículas coloidais com massa 𝑀 e carga 𝑄 (> 0) é colocada num canal estreito com
uma secção transversal 𝐴 (Fig. 1(a)). Ignoramos a interação entre as partículas, os efeitos da parede, do
fluido, dos íons nele contidos e da gravidade.

Fig. 1: Configuração para a Parte C.

Ao aplicar um campo elétrico uniforme 𝐸 na direção 𝑥, as partículas são transportadas e a sua concen-
tração 𝑛(𝑥) (número de partículas por unidade de volume) torna-se não uniforme (Fig. 1(b)). Quando 𝐸
é removido, esta não uniformidade desaparece gradualmente. Este fato deve-se ao movimento browni-
ano das partículas. Se 𝑛(𝑥) não for uniforme, os números de partículas que vão para a direita e para a
esquerda podem diferir (Fig. 1(c)). Isto gera um fluxo de partículas 𝐽𝐷 (𝑥), o número médio de partículas
que fluem ao longo do eixo 𝑥 na posição 𝑥 por unidade de área de seção transversal e unidade de tempo.
Sabe-se que este fluxo satisfaz

𝑑𝑛
𝐽𝐷 (𝑥) = −𝐷 (𝑥), (4)
𝑑𝑥

onde 𝐷 é o coeficiente de difusão.


Agora vamos supor, por simplicidade, que metade das partículas tem velocidade +𝑣 e a outra metade
tem velocidade −𝑣. Seja 𝑁+ (𝑥0 ) o número de partículas com velocidade +𝑣 que atravessam 𝑥0 da es-
querda para a direita por unidade de área de seção transversal e unidade de tempo. Para que as partí-
culas com velocidade +𝑣 atravessem 𝑥0 no intervalo de tempo 𝛿 elas devem estar na região sombreada
𝑑𝑥 (𝑥0 ) nesta região.
da Fig. 1(c). Como 𝛿 é pequeno, temos que 𝑛(𝑥) ≃ 𝑛(𝑥0 ) + (𝑥 − 𝑥0 ) 𝑑𝑛

C.1 Determine 𝑁+ (𝑥0 ) utilizando os parâmetros necessárias entre𝑣, 𝛿, 𝑛(𝑥0 ), e 0.5pt


𝑑𝑛
𝑑𝑥 (𝑥0 ).

Definimos 𝑁− (𝑥0 ) como a contrapartida de 𝑁+ (𝑥0 ) para a velocidade −𝑣. Com isso, temos 𝐽𝐷 (𝑥0 ) =
⟨𝑁+ (𝑥0 ) − 𝑁− (𝑥0 )⟩. De acordo com a Eq. (3), temos ⟨𝑣2 ⟩ = 𝐶.
Q1-3
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C.2 Determine 𝐽𝐷 (𝑥0 ) utilizando os parâmetros necessários entre 𝐶, 𝛿, 𝑛(𝑥0 ), e 0.7pt


𝑑𝑥 (𝑥0 ). Utilizando isto e a Eq. (4), determine 𝐷 em termos de 𝐶 e 𝛿, e ⟨Δ𝑥(𝑡) ⟩
𝑑𝑛 2

em termos de 𝐷 e 𝑡.

Discutimos agora o efeito da pressão osmótica Π. Esta é dada por Π = 𝑁𝑛 𝑅𝑇 = 𝑛𝑘𝑇 com a constante de
𝐴
Avogadro 𝑁𝐴 , a constante dos gases 𝑅, a temperatura 𝑇 , e a constante de Boltzmann 𝑘 = 𝑁𝑅 . Conside-
𝐴
remos a concentração não uniforme formada sob o campo elétrico 𝐸 (Fig. 1(b)). Como 𝑛(𝑥) depende de
𝑥, o mesmo acontece com Π(𝑥). Assim, as forças devidas a Π(𝑥) e Π(𝑥 + Δ𝑥) devem ser equilibradas com
a força total do campo 𝐸 que atua sobre as partículas (Fig. 2). Neste caso, consideramos Δ𝑥 pequeno, de
modo que 𝑛(𝑥) pode ser considerado constante neste intervalo, enquanto 𝑛(𝑥 + Δ𝑥) − 𝑛(𝑥) ≃ Δ𝑥 𝑑𝑛 𝑑𝑥 (𝑥).

Fig. 2: Equilíbrio de forças.

C.3 Determine 𝑑𝑛
𝑑𝑥 (𝑥) utilizando 𝑛(𝑥), 𝑇 , 𝑄, 𝐸, e 𝑘. 0.5pt

Vamos agora discutir o equilíbrio do fluxo. Para além do fluxo 𝐽𝐷 (𝑥) devido ao movimento browniano,
existe também um fluxo devido ao campo elétrico, 𝐽𝑄 (𝑥). Este fluxo é dado por

𝐽𝑄 (𝑥) = 𝑛(𝑥)𝑢, (5)

onde 𝑢 é a velocidade terminal das partículas movidas pelo campo.

C.4 Para determinar 𝑢, utilizamos a Eq. (1) com 𝐹ext (𝑡) = 𝑄𝐸. Como 𝑣(𝑡) é flutuante, 0.5pt
consideramos ⟨𝑣(𝑡)⟩. Assumindo ⟨𝑣(0)⟩ = 0 e utilizando ⟨𝐹 (𝑡)⟩ = 0, avaliamos
⟨𝑣(𝑡)⟩ e obtemos 𝑢 = lim𝑡→∞ ⟨𝑣(𝑡)⟩.

C.5 O equilíbrio do fluxo lê-se em 𝐽𝐷 (𝑥) + 𝐽𝑄 (𝑥) = 0. Exprima o coeficiente de 0.5pt


difusão 𝐷 em termos de 𝑘, 𝛾 e 𝑇 .

Parte D. Deslocamento quadrático médio (2,4 pontos)


Suponhamos que observamos o movimento browniano de uma partícula coloidal esférica isolada, de
raio 𝑎 = 5.0 𝜇m, em água. A figura 3 mostra o histograma dos deslocamentos Δ𝑥 medidos na direção
𝑥 em cada intervalo Δ𝑡 = 60 s. O coeficiente de atrito é dado por 𝛾 = 6𝜋𝑎𝜂 com a viscosidade da água
𝜂 = 8.9 × 10−4 Pa ⋅ s e a temperatura 𝑇 = 25 ∘ C.
Q1-4
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Fig. 3: Histograma de deslocamentos.

D.1 Estimar o valor de 𝑁𝐴 sem utilizar o fato de ser a constante de Avogadro, até 1.0pt
dois algarismos significativos, a partir dos dados da Fig. 3. A constante dos
gases é 𝑅 = 8.31 J/K ⋅ mol. Não utilizar o valor da constante de Boltzmann 𝑘
indicado nas Instruções Gerais. Quanto à constante de Avogadro, poderá obter
um valor diferente do indicado nas Instruções Gerais.

Agora estendemos o modelo da Parte B para descrever o movimento de uma partícula com carga 𝑄
sob um campo elétrico 𝐸. A velocidade da partícula 𝑣(𝑡) considerada na Eq. (2) deve ser substituída por
𝑣(𝑡) = 𝑢 + 𝑣𝑛 (𝑡𝑛−1 < 𝑡 ≤ 𝑡𝑛 ) com 𝑣𝑛 satisfazendo a Eq. (3) e 𝑢 sendo a velocidade terminal considerada
na Eq. (5).

D.2 Determine o MSD ⟨Δ𝑥(𝑡)2 ⟩ em termos de 𝑢, 𝐷, e 𝑡. Obtenha leis de potência 0.8pt


aproximadas para 𝑡 pequeno e 𝑡 grande, bem como o tempo caraterístico 𝑡∗ em
que esta mudança ocorre. Esboce um gráfico aproximado do MSD numa escala
log-log, indicando a localização aproximada de 𝑡∗ .

Em seguida, consideramos micróbios nadadores (Fig. 4(a)), em uma dimensão, para simplificar (Fig.
4(b)). Trata-se de partículas esféricas com raio 𝑎. Elas nadam com velocidade +𝑢0 ou−𝑢0 , sendo o sinal
escolhido aleatoriamente, sem correlação, em cada intervalo de tempo 𝛿0 . O movimento observado é
uma combinação de deslocamentos devidos ao nado e de deslocamentos devidos ao movimento brow-
niano de uma partícula esférica.
Q1-5
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Fig. 4: (a) Movimento dos micróbios. (b) A sua versão unidimensional.

D.3 A Figura 5 apresenta o MSD ⟨Δ𝑥(𝑡)2 ⟩ desses micróbios, mostrando diferentes 0.6pt
leis de potência para valores de 𝑡 pequenos, grandes e intermediários, con-
forme indicado pelas linhas tracejadas. Obtenha a lei de potência para cada
intervalo de tempo e expresse-a utilizando os parâmetros necessárias entre
𝐷, 𝑢0 , 𝛿0 , e 𝑡.

Fig. 5: Deslocamento quadrático médio dos micróbios.

Parte E. Purificação da água (1,5 pontos)


Agora discutiremos a purificação da água, incluindo partículas de solo semelhantes a coloides, através
da adição de eletrólitos para que se coagulem. As partículas interagem através da força de Van der Waals
e da força eletrostática, esta última incluindo os efeitos das cargas superficiais e da camada circundante
de íons de carga oposta (estes íons e a sua camada são designados por contra-íons e dupla camada
elétrica, respetivamente; ver Fig. 6(a)). Como resultado, o potencial de interação para a distância da
Q1-6
Theory

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partícula 𝑑 (Fig. 6(b)) é dado por

𝐴 𝐵𝜖(𝑘𝑇 )2 −𝑑/𝜆
𝑈 (𝑑) = − + 𝑒 , (6)
𝑑 𝑞2

em que 𝐴 e 𝐵 são constantes positivas, 𝜖 é a constante dielétrica da água e 𝜆 é a espessura da dupla


camada elétrica. Assumindo que as cargas dos íons são ±𝑞, temos

𝜖𝑘𝑇
𝜆=√ (7)
2𝑁𝐴 𝑞 2 𝑐

em que 𝑐 é a concentração molar do íon, 𝑐.

Fig. 6: (a) Cargas superficiais das partículas coloidais e dos contra-íons. (b) Definição da dis-
tância 𝑑.

E.1 A adição de cloreto de sódio (NaCl) à suspensão provoca a coagulação das par- 1.5pt
tículas coloidais. Determine a menor concentração 𝑐 de NaCl necessária para
a coagulação. É suficiente considerar duas partículas sem flutuações térmicas,
ou seja, 𝐹 (𝑡) = 0 na Eq. (1), e assumir que a velocidade terminal para uma dada
força conservativa é atingida instantaneamente.
Q2-1
Theory

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Estrelas de Nêutrons (10 pontos)


Discutiremos a estabilidade dos núcleos grandes e estimaremos, teórica e experimentalmente, a massa
das estrelas de nêutrons.

Parte A. Massa e estabilidade dos núcleos (2,5 pontos)


A energia de repouso 𝑚(𝑍, 𝑁 )𝑐2 de um núcleo constituído por 𝑍 prótons e 𝑁 nêutrons é menor do que a
soma das energias de repouso dos prótons e nêutrons, a seguir designados por núcleons, pela energia
de ligação 𝐵(𝑍, 𝑁 ), em que 𝑐 é a velocidade da luz no vácuo. Ignorando pequenas correções, podemos
aproximar a energia de ligação que contém os seguintes termos: de volume, com 𝑎𝑉 , de superfície, com
𝑎𝑆 , de energia de Coulomb, com 𝑎𝐶 , e de energia de simetria, com 𝑎sym , da seguinte forma.

𝑍2 (𝑁 − 𝑍)2
𝑚(𝑍, 𝑁 )𝑐2 = 𝐴𝑚𝑁 𝑐2 − 𝐵(𝑍, 𝑁 ), 𝐵(𝑍, 𝑁 ) = 𝑎𝑉 𝐴 − 𝑎𝑆 𝐴2/3 − 𝑎𝐶 − 𝑎 sym , (1)
𝐴1/3 𝐴

em que 𝐴 = 𝑍 + 𝑁 é o número de massa e 𝑚𝑁 é a massa do núcleon. No cálculo, utilize 𝑎𝑉 ≈ 15.8 MeV,


𝑎𝑆 ≈ 17.8 MeV, 𝑎𝐶 ≈ 0.711 MeV, e 𝑎sym ≈ 23.7 MeV (MeV = 106 elétrons-volt).

A.1 Sob a condição de 𝑍 = 𝑁 , determine 𝐴 para maximizar a energia de ligação 0.9pt


por núcleon, 𝐵/𝐴.

A.2 Sob a condição de 𝐴 fixo, o número atômico 𝑍 ∗ do núcleo mais estável é deter- 0.9pt
minado pela maximização de 𝐵(𝑍, 𝐴 − 𝑍). Para 𝐴 = 197, calcule 𝑍 ∗ usando a
Eq. (1).

A.3 Um núcleo com grande 𝐴 quebra-se em núcleos mais leves através da fissão, 0.7pt
de modo a minimizar a energia total da massa de repouso. Para simplificar,
consideramos uma das múltiplas maneiras de partir um núcleo com (𝑍, 𝑁 ) em
dois núcleos iguais, o que ocorre quando a seguinte relação de energia é válida,

𝑚(𝑍, 𝑁 )𝑐2 > 2𝑚(𝑍/2, 𝑁 /2)𝑐2 ,


Quando esta relação é escrita como
𝑎𝑆
𝑍 2 /𝐴 > 𝐶fission ,
𝑎𝐶
obtenha 𝐶fission com até dois algarismos significativos.

Parte B. A estrela de nêutrons como um núcleo gigantesco (1,5 ponto)


Para núcleos grandes com um número de massa suficientemente grande 𝐴 > 𝐴𝑐 com um limiar 𝐴𝑐 ,
estes núcleos permanecem estáveis contra a fissão nuclear devido à energia de ligação suficientemente
grande devido à gravidade.
Q2-2
Theory

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B.1 Assumimos que 𝑁 = 𝐴 e 𝑍 = 0 é possível para 𝐴 suficientemente grande e a 1.5pt


Eq. (1) permanece válida com a adição da energia de ligação gravitacional. A
energia de ligação devido à gravidade é

3 𝐺𝑀 2
𝐵grav = ,
5 𝑅
em que 𝑀 = 𝑚𝑁 𝐴 e 𝑅 = 𝑅0 𝐴1/3 com 𝑅0 ≃ 1.1 × 10−15 m = 1.1 fm correspondem
a massa e o raio do núcleo, respectivamente.
Para 𝐵grav = 𝑎grav 𝐴5/3 , obter 𝑎grav , em MeV, até o primeiro algarismo signifi-
cativo. Em seguida, ignorando o termo de superfície, estime 𝐴𝑐 até o primeiro
algarismo significativo. No cálculo, utilize 𝑚𝑁 𝑐2 ≃ 939 MeV e 𝐺 = ħ𝑐/𝑀𝑃2 , em
que 𝑀𝑃 𝑐2 ≃ 1.22 × 1022 MeV e ħ𝑐 ≃ 197 MeV ⋅ fm.

Parte C. Estrela de nêutrons em um sistema binário (6,0 pontos)


Algumas estrelas de nêutrons são pulsares que emitem regularmente, a um período constante, ondas
eletromagnéticas que chamamos ”luz”, para simplificar. As estrelas de nêutrons formam frequente-
mente sistemas binários com anãs brancas. Consideremos a configuração estelar mostrada na Fig. 1,
em que um pulso de luz emitido por uma estrela de nêutrons N para a Terra E passa perto de uma anã
branca W do sistema binário. A medição destes pulsos influenciados pela gravidade da estrela permite
estimar com exatidão a massa de W, como se explica a seguir, o que resulta na estimativa da massa de
N.

Fig. 1: Configurações com o eixo 𝑥 ao longo da linha que liga N e E. (a) para 𝑥𝑁 < 0 e (b) para
𝑥𝑁 > 0.
Q2-3
Theory

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C.1 Como mostra a figura abaixo, sob a aceleração gravitacional constante 𝑔 , co- 1.0pt
locamos dois níveis I e II com a diferença de altura Δℎ(> 0). Coloque reló-
gios idênticos em I, II e 𝐹 , o sistema em queda livre, designados por relógio-I,
relógio-II e relógio-𝐹 , respetivamente.

Montagem do experimento mental.

Assumimos que um observador se senta com o relógio-𝐹 , e inicialmente 𝐹 , com


velocidade nula, é colocado à mesma altura que o relógio-I. Como os relógios
são idênticos, registram intervalos de tempo iguais, Δ𝜏𝐹 = Δ𝜏I . Em seguida,
deixamos 𝐹 cair livremente e trabalhamos no referencial de 𝐹 , que é conside-
rado inercial. Neste referencial, o relógio-II passa pelo relógio-𝐹 com veloci-
dade 𝑣, de modo que a dilatação do tempo do relógio-II pode ser determinada
pela transformação de Lorentz. Quando o tempo Δ𝜏I passa no relógio-𝐹 , o
tempo Δ𝜏II passa no relógio-II.
Determine Δ𝜏II em termos de Δ𝜏I até a primeira ordem em Δ𝜙/𝑐2 , em que
Δ𝜙 = 𝑔Δℎ é uma diferença de potencial gravitacional, isto é, a energia potencial
gravitacional por unidade de massa.

C.2 Sob o potencial gravitacional 𝜙, os atrasos temporais alteram a velocidade efe- 1.8pt
tiva da luz, 𝑐eff , observada no infinito, embora a velocidade local da luz seja 𝑐.
Quando 𝜙(𝑟 = ∞) = 0, 𝑐eff pode ser dado até a primeira ordem em 𝜙/𝑐2 como
2𝜙
𝑐eff ≈ (1 + )𝑐
𝑐2
incluindo o efeito de distorção do espaço, que não foi apresentado em C.1. Note
que a trajetória da luz pode ser aproximada como uma linha reta.
Como mostrado na Fig. 1(a), tomamos o eixo 𝑥 ao longo da trajetória da luz
desde a estrela de nêutrons N até à Terra E e colocamos 𝑥 = 0 no ponto em
que a anã branca W está mais próxima da trajetória da luz. Seja 𝑥𝑁 (< 0) a
coordenada 𝑥 de N, 𝑥𝐸 (> 0) a de E e 𝑑 a distância entre W e a trajetória da luz.
Estime as alterações do tempo de chegada Δ𝑡 da luz de N para E causadas pela
anã branca com massa 𝑀WD e avalie a resposta de forma simples, desprezando
termos de ordem superior das seguintes pequenas quantidades: 𝑑/|𝑥𝑁 | ≪ 1,
𝑑/𝑥𝐸 ≪ 1, e 𝐺𝑀WD /(𝑐2 𝑑) ≪ 1. Se necessário, use a seguinte fórmula.


𝑑𝑥 1 𝑥2 + 𝑑2 + 𝑥
∫√ = log( √ ) + 𝐶. ( log é o logaritmo natural)
𝑥2 + 𝑑 2 2 𝑥2 + 𝑑2 − 𝑥
Q2-4
Theory

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C.3 Como mostrado abaixo, em um sistema estelar binário, supõe-se que N e W 1.8pt
se movem em órbitas circulares com excentricidade zero em torno do centro
de massa 𝐺 no plano de órbita. Sejam 𝜀 o ângulo de inclinação orbital medido
desde o plano de órbita até a linha dirigida de 𝐺 para E , 𝐿 o comprimento entre
N e W, e 𝑀WD a massa da anã branca. No que se segue, assumimos 𝜀 ≪ 1.

Sistema estelar binário.

Observamos pulsos luminosos emitidos por N em E, longe de N. O percurso da


luz até E varia com o tempo, dependendo da configuração de N e W. O atraso no
intervalo de tempo de chegada dos pulsos a E tem o valor máximo Δ𝑡max para
𝑥𝑁 ≃ −𝐿 e o valor mínimo Δ𝑡min para 𝑥𝑁 ≃ 𝐿 (ver Fig. 1(b) para a configuração).
Calcule Δ𝑡max − Δ𝑡min de uma forma simples, desprezando os termos de ordem
superior de pequenas quantidades, como se fez em C.2. Note que se supõe
que os atrasos devidos à gravidade de objetos estelares que não W se anulam
em Δ𝑡max − Δ𝑡min .

C.4 A figura abaixo mostra os atrasos observados em função da fase orbital 𝜑 para 0.8pt
o sistema estelar binário com 𝐿 ≈ 6 × 106 km e cos 𝜀 ≈ 0.99989. Estime 𝑀WD
em termos da massa solar 𝑀⊙ e apresente os resultados para 𝑀WD /𝑀⊙ até
o primeiro algarismo significativo. Aqui a relação aproximada 𝐺𝑀⊙ /𝑐3 ≈ 5 𝜇s
pode ser usada.

Atrasos de tempo observados Δ𝑡 em função da fase orbital 𝜑 (veja a


figura em C.3) para localizar N e W nas órbitas.
Q2-5
Theory

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C.5 No sistema binário de estrelas de nêutrons, duas estrelas liberam energia e mo- 0.4pt
mento angular através da emissão de ondas gravitacionais e eventualmente se
fundem após uma colisão. Por simplicidade, considere apenas um movimento
circular com o raio 𝑅 e a velocidade angular 𝜔 e, com isso, 𝜔 = 𝜒𝑅𝑝 é respei-
tada com a constante 𝜒 que não depende nem de 𝜔 nem de 𝑅 , se os efeitos
relativísticos forem ignorados. Determine o valor de 𝑝.

C.6 A amplitude da onda gravitacional emitida pelo sistema binário em C.5 é pro- 0.2pt
porcional a 𝑅2 𝜔2 . A figura abaixo mostra qualitativamente quatro perfis tem-
porais diferentes das ondas gravitacionais observadas antes da colisão de duas
estrelas. Identifique o perfil mais adequado de (a) a (d).

Perfis de dados observados de ondas gravitacionais.


Q3-1
Theory

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Água e Objetos (10 pt)


Neste problema, nós consideraremos os fenômenos causados pela interação entre água e objetos, rela-
cionados à tensão superficial. A parte A trata de dinâmica, enquanto as partes B e C tratam de estática.
Se necessário, você pode utilizar o fato de que se a função 𝑦(𝑥) satisfaz a equação
√ diferencial
√ 𝑦″ (𝑥) =
𝑎𝑦(𝑥) (sendo 𝑎 uma constante positiva), então a sua solução geral é 𝑦(𝑥) = 𝐴𝑒 𝑎𝑥
+ 𝐵𝑒 − 𝑎𝑥
, onde 𝐴 e 𝐵
são constantes arbitrárias.

Parte A. Aglutinação de gotas de água (2,0 pontos)


Como ilustrado na Fig. 1, considere duas gotas de água esféricas e estacionárias na superfície de um
material superhidrofóbico, isto é, há intensas forças repulsivas entre a água e o material.
Inicialmente, duas gotas idênticas de água esféricas são colocadas na superfície. Em seguida, após se to-
carem, estas duas gotas se aglutinam e formam uma gota de água esférica maior, que salta subitamente
para cima.

A.1 O raio 𝑎 de ambas as gotas de água antes de se aglutinarem é igual a 100 𝜇m. 2.0pt
A densidade da água 𝜌 é igual a 1.00 × 103 kg/m3 . A tensão superficial 𝛾 é igual
a 7.27 × 10−2 J/m2 .
Uma porção 𝑘 da diferença entre as energias de superfície antes e depois da
aglutinação, ΔE, é transformada em energia cinética da gota de água que sal-
tou. Determine a velocidade inicial de salto, 𝑣, da gota de água resultante, com
dois algarismos significativos, sob as seguintes hipóteses:
• 𝑘 = 0.06
• Antes e depois de se aglutinarem, o volume total de água é conservado.

Fig. 1: Aglutinação de duas gotas de água e salto da gota de água resultante.

Parte B. Uma placa imersa verticalmente (4,5 pontos)


Uma placa plana é imersa verticalmente em água. As figuras 2(a) e 2(b) mostram, respetivamente, as
formas que a superfície da água assume para placas de materiais hidrofílicos (atrativos) e hidrofóbicos.
Desconsidere a espessura da placa.
A superfície da placa está no plano 𝑦𝑧 e a superfície horizontal da água, longe da placa, está no plano
𝑥𝑦, com 𝑧 = 0. A forma da superfície da água não depende da coordenada 𝑦. Seja 𝜃(𝑥) o ângulo entre
a superfície da água e o plano horizontal num ponto (𝑥, 𝑧) da superfície da água no plano 𝑥𝑧. Aqui 𝜃(𝑥)
é medido em relação ao eixo positivo 𝑥 e a rotação no sentido anti-horário é considerada positiva. Seja
𝜃0 o valor de 𝜃(𝑥) no ponto de contato entre a placa e a superfície da água (𝑥 = 0). A seguir, 𝜃0 é fixado
pelas propriedades do material da placa.
Q3-2
Theory

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A densidade da água 𝜌 é constante e a tensão superficial da água 𝛾 é uniforme. A constante de acele-


ração gravitacional é dada por 𝑔. A pressão atmosférica, 𝑃0 , é assumida como sendo sempre uniforme.
Determinaremos a forma da superfície da água nos passos seguintes. Note que a unidade de tensão
superficial é J/m2 ou, também, N/m.

Fig. 2: Placas imersas verticalmente na água. (a) Placa hidrofílica;


(b) Placa hidrofóbica.

B.1 Vamos considerar o caso de placa hidrofílica, como mostra a Fig. 2(a). Observa- 0.6pt
mos que a pressão da água, 𝑃 , satisfaz as condições 𝑃 < 𝑃0 para 𝑧 > 0 e 𝑃 = 𝑃0
para 𝑧 = 0. Então, determine a pressão 𝑃 na coordenada 𝑧 em termos de 𝜌, 𝑔,
𝑧, e 𝑃0 .

B.2 Vamos considerar um bloco de água cujo recorte é apresentado hachurado na 0.8pt
Fig. 3(a). A sua secção transversal no plano 𝑥𝑧 é mostrada na área hachurada
na Fig. 3(b). Sejam 𝑧1 e 𝑧2 , respectivamente, as coordenadas do lado esquerdo
e direito da fronteira entre o bloco de água e o ar (superfície da água).
Obtenha 𝑓𝑥 , a componente horizontal (componente 𝑥) da força resultante por
unidade de comprimento ao longo do eixo 𝑦 que é exercida no bloco de água
devido à pressão, em termos de 𝜌, 𝑔, 𝑧1 , e 𝑧2 . Note que 𝑃0 não resulta em força
horizontal resultante sobre o bloco de água.
Q3-3
Theory

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Fig. 3: Recorte de um bloco de água a partir da superfície da água. (a) Vista aérea e (b) vista
da secção transversal.

B.3 A tensão superficial que atua sobre o bloco de água é equilibrada com a força 0.8pt
𝑓𝑥 discutida no item B.2. Definimos, respetivamente, 𝜃1 e 𝜃2 como os ângulos
entre a superfície da água e o plano horizontal nas extremidades esquerda e
direita. Expresse 𝑓𝑥 em termos de 𝛾, 𝜃1 , e 𝜃2 .

B.4 A seguinte equação é válida num ponto arbitrário (𝑥, 𝑧) na superfície da água, 0.8pt
1 𝑧 𝑎
( ) + cos 𝜃(𝑥) = constant. (1)
2 ℓ
Determine o expoente 𝑎 e expresse a constante ℓ em termos de 𝛾 e 𝜌. Note que
esta equação é válida independentemente da placa ser hidrofílica ou hidrofó-
bica.

B.5 Na Eq. (1) em B.4, podemos assumir que a variação da superfície da água é 1.5pt
lenta, isto é, |𝑧′ (𝑥)| ≪ 1, de tal forma que podemos expandir cos 𝜃(𝑥) em relação
à 𝑧′ (𝑥) até à segunda ordem. Depois, diferenciando a equação resultante em
relação a 𝑥, obtemos a equação diferencial que 𝑧(𝑥) deve satisfazer. Resolva
esta equação diferencial e determine 𝑧(𝑥) para 𝑥 ≥ 0 em termos de tan 𝜃0 e ℓ.
Note que as direções verticais nas Figs. 2 e 3 são exageradas para uma melhor
visualização e elas não satisfazem a condição |𝑧 ′ (𝑥)| ≪ 1.

Parte C. Interação entre duas hastes (3,5 pontos)


As hastes idênticas A e B, feitas do mesmo material, flutuando paralelamente na superfície da água, são
colocadas à mesma distância do eixo 𝑦 (Fig. 4).
Q3-4
Theory

Brazilian Portuguese (Brazil)

Fig. 4: Duas hastes A e B flutuando na superfície da água.

C.1 Nos pontos de contato entre a haste B e a superfície da água, definimos as 1.0pt
coordenadas no eixo 𝑧, 𝑧a e 𝑧b , e os ângulos 𝜃a e 𝜃b , como mostra a Fig. 5.
Determine 𝐹𝑥 , a componente horizontal da força por unidade de comprimento
ao longo do eixo 𝑦, na haste B, em termos de 𝜃a , 𝜃b , 𝑧a , 𝑧b , 𝜌, 𝑔, e 𝛾.

Fig. 5: Secção transversal vertical de duas hastes flutuando na superfície da água.

C.2 Definimos a coordenada 𝑧 da superfície da água, 𝑧0 , no ponto médio de duas 1.5pt


hastes no plano 𝑥𝑧. Expresse a força 𝐹𝑥 obtida em C.1 sem usar 𝜃a , 𝜃b , 𝑧a e 𝑧b .

C.3 Seja 𝑥a a coordenada 𝑥 do ponto de contato entre a superfície da água e o lado 1.0pt
esquerdo da haste B. Utilizando a equação diferencial obtida em B.4, expresse
a coordenada do nível da água 𝑧0 do ponto médio destas duas hastes A e B em
termos de 𝑥a e 𝑧a . Você pode utilizar a constante ℓ introduzida em B.4.

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