Série Hard Rock Roots - 08 - Heart Broke - C.M.Stunich

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~1~

C.M. Stunich
#8 Heart Broke

Série Hard Rock Roots

Tradução: Ana Carolina

Revisão e Leitura Final: Anne Pimenta

Data: 10/2016

Heart Broke Copyright © 2016 C.M. Stunich

~2~
SINOPSE
‘Maldição. Eu quero salvá-lo de si mesmo tanto que dói’.

Sydney Charell me confunde pra caralho.

Ela é uma stripper, ela gosta de música dos anos oitenta, e ela é a
irmã do guitarrista fodido da Indecency.

Mas eu gosto dela pra caralho. Eu a amo. Talvez.

Ela não deve se envolver na nossa merda, no nosso drama.

Se eu pudesse, eu iria mandá-la embora, protegê-la de tudo isso,


mas eu não posso. Ela é um alvo agora, assim como eu. Se nós vamos
sair dessa vivos, nós vamos ter que fazer isso juntos. Cadáveres, shows,
e... uma nova turnê. Pode vir.

Dax McCann é um deus da bateria.

A coisa é, eu não saio com músicos. Eu realmente não saio com


ninguém.

Mas temos essa química por dias. E eu quero me apaixonar.


Talvez.

Ele pensa e ele sente muito, mas ele tem corpo e coração enorme,
baby.

Se eu pudesse, eu me afastaria de tudo isso, focaria na minha


carreira como modelo e esqueceria tudo sobre o homem com os olhos
cinzentos e o olhar penetrante. Mas eu já estou ferrada, deprimida e
tatuada. Poderia muito bem agarrar esses limões e fazer limonada. Ou
pequenos bebês bateristas. Isso funciona também.

~3~
A SÉRIE

Série Hard Rock Roots – C.M. Stunich

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~5~
Bem, merda.

Há um corpo. Em uma banheira.

Eu fecho meus olhos por um momento e pressiono os dedos


contra a testa.

— Ronnie, por que há uma estrela do rock morto em sua


banheira?

— Não há, — diz ele, com um cigarro pendurado em sua boca,


seus dedos empurrados nos bolsos da frente. — Há um pequeno poser
morto na merda da minha banheira.

— Não está ajudando, — eu digo, baixando minhas mãos e


abrindo os olhos para olhar para ele. — Nem um pouco.

— Sim, bem, neste momento, — Ronnie diz, dando uma tragada


em seu cigarro, a boca torcida para o lado em uma imitação irônica de
um sorriso, — é tudo o que tenho. Se eu não começar a rir desta merda,
eu vou abrir minha boca e tudo o que vai sair é um grito.

Eu olho para baixo na forma para de Cohen Rose, respingos de


sangue artisticamente salpicado em todo seu rosto mal barbeado. Eu
nunca pensei que eu realmente sentiria falta de fazer strip. Quer dizer,
tirar a roupa para estranhos? Não soa tão atraente em circunstâncias
normais.

Nestas circunstâncias, parece francamente perfeito.

Marque esta lista mental: mansões de Beverly Hills, tiroteios,


segredos suficientes para sufocar um cavalo... e um cara morto. Em
uma banheira. Soa como uma bagunça e tanto, não é?

— Eu não posso acreditar nessa porra, — Lola diz, parando atrás


de nós. O maldito banheiro é grande o suficiente para uma orgia, então
não é como nós estivéssemos brigando por quarto, mas sua energia
nervosa está começando a passar para mim. De repente, parece que o

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espaço é muito menor do que é. — Eu queria vê-lo
morto. Tipo, realmente, realmente queria vê-lo morto, mas...

Ela para de andar e pausa entre Ronnie e eu.

— Mas agora há um cara morto em sua banheira, — repito


novamente, porque, bem, eu não consigo dizer o suficiente. — Um cara
morto que muito provavelmente foi assassinado...

— Quem definitivamente foi assassinado, — Ronnie acrescenta,


soprando fumaça no ar calmo de início da manhã. É tão tarde que é
cedo e eu estou cansada pra caralho. Minha noite foi uma
bagunça. Apesar dos meus melhores esforços para me embebedar, eu
mal consegui ficar tonta antes de voltar a ficar sóbria novamente. Você
pode me culpar? Turner estava se mostrando no palco enquanto Ronnie
fazia a dança suja de casal para trás e Dax... Dax fumava e bebia em
um frenesi pouco coerente.

Vamos apenas dizer que, esta noite foi um fracasso e vamos


deixar por isso mesmo.

Minha manhã... eh, não estava sendo a melhor também.

— Eu sei que não deveria ter arrastado você para isso, — Ronnie
começa, mas eu o corto com um aceno de mão. Meus meninos - Trey,
Turner, Ronnie, Jesse, e era uma vez Travis - eles olham para mim em
algum tipo de forma maternal. Eu poderia muito bem abraçar o papel. Ir
ver Trey no hospital, me enturmar com os caras, tudo isso era suposto
ser temporário. Em vez disso, parece como um pesadelo que nunca
termina. Minha sessão de fotos? Cancelada. Meu
coração? Quebrado. Está certo. Quebrou mesmo. Eu continuo seguindo
Dax como um cachorrinho, acariciando seu cabelo para trás e dizendo a
ele que tudo vai ficar bem. Eu mal conheço o cara e eu de alguma forma
fui sugada em sua porcaria? Eu sabia que me envolver com ele foi uma
má ideia. Sabia disso sabia, sabia disso. E fiz isso de qualquer
maneira. Porque eu, eu sou a Sydney Louca.

Eu cruzo meus braços em meus seios e inclino a cabeça para o


lado, meu cabelo loiro caindo por cima do meu ombro em ondas. Cohen
parece... pacífico. Apesar do sangue e os hematomas no rosto e braços,
ele parece estar sorrindo. Para dizer o mínimo, a expressão é...
assustadora pra caralho.

~7~
— Quem você acha que fez isso? — pergunto, não que eu espere
que Ronnie ou Lola saibam a resposta para essa pergunta.

— Bem, considerando que Brayden Ryker estava sentado na


minha cama quando chegamos, o meu palpite é que ele, pelo menos,
colocou o corpo aqui. Quanto a quem realmente matou o cara? Eu
mencionei que eu me esbarrei em Paulette Washington no clube.

— A produtora de TV? — pergunto, franzindo o meu nariz


enquanto eu estudo a jaqueta jeans esfarrapada de Cohen, calça jeans
cheio de buracos, suas botas pretas arranhadas. Olhando para ele
assim, eu quase me sinto pena do cara. Mas então eu me lembro como
Lola mencionou que ele costumava bater nela. Karma? — Que diabos
ela estava fazendo no clube? Coincidência?

— Ela tinha sangue em suas mãos, — Ronnie diz e minhas


sobrancelhas sobem. Opa. — Literalmente, quero dizer, assim como
figurativamente.

— Como... o sangue de Cohen Rose talvez?

— Talvez ela esteja apenas naqueles dias? — Lola brinca, em um


clima surpreendentemente brincalhão para alguém que acabou de
encontrar seu namorado morto no banheiro. Seu novo banheiro de
milhões de dólares em Beverly Hills.

Hah.

O universo realmente funciona de maneiras misteriosas.

— Então... Paulette Washington, a super rica e famosa produtora


de TV, a mulher que lhe vendeu esta casa, ela matou Cohen Rose? E
isso faz sentido como?

— Ela também é irmã de America, — Ronnie acrescenta ao


assunto com naturalidade, soprando uma nuvem de fumaça com um
sorriso. E então ele se vira e vai embora.

Eu deveria estar chocada com a sua declaração.

Mas eu não estou.

Nem um pouco.

~8~
— Alguém deveria escrever sobre essa porra, — eu resmungo ao
ajudar Ronnie, Jesse, e Lola transportar Cohen Rose para fora da
banheira e para a lona esperando. Caramba, este filho da puta é
pesado. Soltamos grunhidos e maldições sob nossas respirações
quando nós deixamos cair o cadáver duro sobre o plástico azul e
olhamos para ele com narizes enrugados e lábios tensos. — Sei lá, fazer
um livro ou algo assim.

— Como se alguém fosse acreditar nessa merda. Eu vi episódios


de Buffy Caça Vampiros1 que eram mais verdadeiros, — Lola diz,
enxugando as mãos enluvadas sobre seu jeans e enrolando o lábio
enquanto ela olha para baixo, para seu ex-namorado. — Confie em
mim, ninguém gostaria de ler a nossa história. É muito fodida.

— Eh, provavelmente você está certa, — eu digo com um suspiro,


correndo os dedos pelo meu cabelo e depois me encolhendo quando eu
percebo que há um pouco de sangue seco e buraco na minha luva. —
Mesmo se alguém escrevesse essa porcaria, ninguém iria comprar a
nossa história, nem por um segundo.

— Hum, e agora? — Jesse interrompe bruscamente, cruzando os


braços sobre o peito, o rosto cauteloso. A última coisa que alguém quer
após uma noite na cidade é... bem, ajudar a enterrar um
corpo. Entendi. — Não deveríamos estar chamando Brayden Ryker ou
algo assim?

— Não, — Ronnie diz, curto e afiado. Seus olhos castanhos se


estreitaram, o foco firmemente sobre o corpo esparramado no chão na
nossa frente. — Isso é exatamente o que ele quer que façamos. Ele está
nos atraindo e eu estou cansado pra caralho de jogar jogos. Não. Nós já
passamos por merda pior do que isso antes. — ele puxa um maço de
cigarros do bolso e os oferece ao grupo; ninguém recusa. — Se nós
podemos lidar em perder pessoas que amamos, — Ronnie faz uma
pausa para tomar fôlego e eu sei que estamos todos pensando em
pessoas diferentes - Travis, Asuka, Poppet, - então podemos lidar em
enterrar alguém que odiamos.

1 Se refere a uma série criada em 1997, por Joss Whendon, onde a personagem Buff
fazia parte de uma linhagem, para combater vampiros e outras forças das trevas.

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— E se os policiais vierem à procura de Cohen? — eu pergunto,
porque alguém tem que colocar isso lá fora.

— Por que diabos ele estaria aqui? Não sabemos nada; nós não
fizemos nada. — Ronnie faz uma pausa quando um estrondo ecoa da
direção do quarto. Eu levanto minhas sobrancelhas e todos nós
trocamos olhares nervosos.

— Quer que eu vá? — ninguém responde, então eu me viro e faço


o meu caminho para o quarto, me apressando para a porta quando eu
escuto a voz de Turner aumentando através do lado oposto.

— ABRAM ESSA PORRA! — ele grita da maneira que só ele pode,


como um deus mau que acabou de encontrar o seu caminho para a
terra, dividindo o chão e subindo das profundezas do fogo do inferno.

— Por que é que você está gritando? — pergunto quando eu o


deixo entrar e ele vem tropeçando em toda a área da sala de estar,
parando e lançando uma expressão muito estranha em minha direção.

— Que porra você está fazendo aqui? — pergunta ele, a cabeça


girando quando Ronnie aparece na porta do banheiro. — Que... porra é
essa? Vocês dois estão... fazendo isso? — Turner levanta as mãos antes
que Ronnie ou eu possamos responder. — Não importa. Eu não me
importo. Eu não me importo. — um sorriso de satisfação enrola seus
lábios. — Minha mulher acordou. Ela está acordada.

— Naomi... o quê? — eu pergunto, piscando a minha surpresa


quando Turner assente e levanta as mãos entrelaçando-as atrás da
cabeça. Menos de uma hora atrás, ele estava cambaleando de bêbado e
balbuciando as palavras. Agora ele está de olhos brilhantes. — O
hospital te ligou?

— Com certeza sim, — Turner responde, agindo como sua


arrogância habitual de bad boy. Eu posso ver através dele, porém, a
rápida ascensão e queda do seu peito, as batidas de seu pulso em sua
garganta. Ele está com medo, apavorado talvez. Nervoso como o inferno
também. — Ela abriu os olhos e tudo. Eu preciso chegar até o hospital
tipo ontem.

Lola e Jesse aparecem atrás de Ronnie, delineados na luz


dourada do banheiro, enquanto as sobrancelhas de Turner sobem até a
linha do cabelo.

~ 10 ~
— Ei, ei, ei. Vocês estão tendo uma orgia aqui? — ele pergunta,
antes de seu olhar finalmente pegar as luvas azuis que todos nós
estamos usando.

— Turner, — Ronnie começa, mas seu amigo já está se apoiando


na porta e balançando a cabeça.

— Não. Não. Não me diga. Eu não quero saber. E eu não dou a


mínima para nenhum dos dois. Minha mulher acordou e eu preciso
chegar ao maldito hospital. — Turner faz uma pausa, parecendo
rapidamente inseguro, como se ele ainda fosse aquele menino
desdentado do parque de trailer. Isso desaparece em um instante, mas
tudo bem. Eu vi, e eu sei aonde ele está querendo chegar sem ele ter
que dizer isso.

— Está tudo bem se eu for com você? — eu pergunto, sabendo


que há uma razão não dita para ele aparecer aqui em primeiro
lugar. Alguém pode vir comigo? Mas... bem, ele é um cara e um idiota,
de modo que ele não vai pedir as coisas que ele precisa. Ainda bem que
eu sou uma cadela perceptiva.

Eu tiro uma das minhas luvas azuis e olho para Ronnie. Ele
balança a cabeça imperceptivelmente trocando um entendimento sem
palavras. Essa coisa de Cohen Rose é um grande negócio. Nossa amiga
da alma acordar de um coma... mais negócio ainda.

— Sim, uh claro, que seja, mas depressa, — diz ele, salientando


essa última palavra com um encolher de ombros e outro olhar cauteloso
em Ronnie, Lola e Jesse. — Só... se apresse.

Turner se vira para o corredor quando eu atiro minhas luvas na


mesa de cabeceira e tomo uma respiração profunda.

— Vocês podem lidar com isso sem mim? — eu pergunto,


lançando outro olhar para a porta do banheiro. A partir daqui, tudo
parece normal. Bem, tão normal quanto um banheiro em Beverly Hills
nunca vai parecer para mim - como um palácio, como um sonho
nascido de pesadelos. Eu realmente não estou certa de que eu esteja
confortável aqui. Apartamentos de baixa qualidade com o piso saindo,
trailers cheios de lixo, covis de crack. Isso é o que eu conheço. Tudo isso
aqui? É sofisticado demais.

Eu gosto, mas eu não dou muito valor a isso.

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— Podemos fazer uma tentativa, — Ronnie diz com um leve
sorriso, acenando para eu ir. — Agora dê o fora daqui e se certifique de
que Turner não faça um escândalo. Eu não estou cem por cento certo
de que Naomi Knox sabe que eles ainda estão envolvidos.

Eu ri, mas o som é um pouco seco, um pouco amargo.

Mesmo com um corpo morto e uma vítima em coma em minha


mente, tudo o que posso pensar é uma coisa.

Há uma chance de que eu poder ver Dax no hospital.

Eu odeio que essa é a única coisa que me estimula a descer as


escadas e esperar a van.

— Oh, oh, oh porra, — Turner murmura, suas palavras


atropelando umas as outras quando ele tropeça na borda da cama de
hospital e praticamente entra em colapso, curvando seus dedos com
tatuagens em torno dos dedos pálidos de Naomi. — Merda, merda,
merda. — se eu não o conhecesse melhor, eu poderia dizer que ele
estava chorando.

Eu inclino minha cabeça para o lado para vê-lo. Espere. Não,


espere, talvez ele esteja chorando?

— Eu sabia que você ia acordar, — ele murmura, escovando o


cabelo de Naomi do rosto. O médico tenta conseguir a sua atenção e o
rosto de Turner se vira com os dentes cerrados e um pequeno grunhido
rançoso. O homem faz uma pausa e dá um pequeno, mas respeitoso
passo para trás. — Eu sabia que você ia voltar para mim, baby, — ele
continua enquanto eu fico no canto do quarto o mais discretamente que
eu posso. Eu me sinto como uma babaca por estando aqui. Este
momento deveria ser privado ou algo assim, não é? — Por que ela não
está falando? — ele rosna, olhando para o médico com uma raiva
brilhando em seu olhar.

Aqui vamos nós.

~ 12 ~
— Turner, querido, você está assustando o pobre homem, — eu
digo, indo para ele e colocando a mão em seu ombro. Ele salta, mas pelo
menos ele não me empurra. Não o culparia se o fizesse. A pobre criança
teve seus instintos posto nele. Mesmo todos estes anos mais tarde, suas
reações são um pouco instintivas.

— Senhorita Knox, — o médico começa quando Naomi geme, as


pálpebras piscando e os dedos enrolando apertado em torno dos de
Turner. Eu olho para seu rosto bonito, os lábios levemente entreabertos,
o nariz ligeiramente torto dela. Ela parece estar bem - para alguém em
coma, eu quero dizer. Mas mesmo assim. Bem. Como uma estrela do
rock, baby. — Senhorita Knox, — o médico começa novamente, mas
Turner o corta com um aceno.

— Você pode chamá-la de Senhora Campbell, — ele diz e eu juro


por Deus, eu quase bato na parte de trás da cabeça dele.

— Naomi Campbell, Turner? — ele lança um olhar desagradável


sobre seu ombro e eu pego o ligeiro brilho de umidade em suas
bochechas. Eu ia tirar sarro dele por chorar se isso não fosse tão
precioso.

— O que há de errado com isso?

— É apenas o nome de uma das supermodelos mais famosas do


mundo. Seria como eu me chamar de Kate Moss ou Tyra Banks.

— Você sabe o que, Sydney, — ele começa a rosnar, mas Naomi


geme novamente e sua atenção se volta para o rosto dela. — Baby? Você
está bem, baby?

— Senhorita Knox sofreu alguns ferimentos graves, Sr.


Campbell. Não podemos esperar que ela recupere a plena capacidade
em um instante. O processo de recuperação pode ser longo e difícil,
especialmente quando estamos- — Turner corta o pobre médico
novamente com um aceno. Encolho os ombros quando o homem me
lança um olhar suplicante. Ei, o que você pode fazer? O cara é um astro
do rock.

— Ela vai ficar bem, não é, Knox?

Os olhos de Naomi piscam novamente, essa cor laranja-


acastanhado hipnotizante de sua íris, um respingo vibrante contra sua
pele pálida e os lençóis brancos. Eu vejo como Turner enrola suas mãos
e pressiona um beijo suave nos nós dos dedos dela.

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Uau. De playboy à amante. Eu nunca teria acreditado se não
tivesse visto com meus próprios olhos.

Eu quero me apaixonar também.

O pensamento é como um tiro no estômago, me fazendo apertar a


mão sobre minha boca e sapatear meus pés contra o piso de cerâmica
estéril. É só uma sensação, ok? Às vezes... às vezes, eu me sinto uma
merda e eu quero que isso vá embora.

Este sentimento não vai a qualquer lugar.

— Me deem licença por um segundo, — eu digo, dando ao ombro


de Turner um aperto e corro para fora do quarto, passando por um cara
da segurança de Brayden plantado e sigo diretamente até uma fonte de
água prata aparafusada à parede branca.

Eu quero me apaixonar.

Estou com quase trinta anos e eu nunca - nunca - tive esse


pensamento antes. Nem uma única vez. Juro por Deus.

Tomo um gole da fonte e levanto, colocando um pouco de cabelo


loiro atrás da minha orelha, lançando um olhar em qualquer
direção. Nenhum sinal de Dax ainda, mas... por que diabos eu penso
nessa palavra amor e, em seguida, começo imediatamente a pensar no
baterista do Amatory Riot?

— Oh Deus, — eu digo quando me viro e coloco as costas contra a


parede. Eu não quero me apaixonar por Dax. Eu quero? — Fodida turnê
do inferno, — murmuro sob a minha respiração, deslizando o telefone
de Turner do meu bolso. Ele me deu na van no caminho até aqui para
que eu pudesse ligar para o resto da banda de Naomi e dar a eles a boa
notícia. O único número que eu olho é o de Dax. — Deve haver alguns
hormônios loucos na água ou algo assim. Primeiro Turner, então,
Ronnie, e agora...

Eu balanço minha cabeça, porque isso é apenas ridículo. Eu não


dou a mínima para Dax.

Meu polegar paira sobre o botão de chamada por uma fração de


segundo antes de eu tomar minha decisão.

Hoje, eu vou ser a amiga que o meu irmão e seus amigos


precisam, ajudá-los a enterrar o corpo (literalmente) e tudo isso, mas
amanhã, eu vou dar espaço para Sydney Charell. Eu vou por

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minha vida de volta nos trilhos. Eu poderia ser presa com esses idiotas,
mas isso não significa que eu não posso ajudá-los e fazer minha própria
coisa.

Dax, bem, eu só vou ter que esquecer tudo sobre ele. Isso é o
melhor, certo? Eu vou esquecê-lo e seus dedos gelados, seus
lábios. Sim. É só limpar tudo isso da minha mente. Quero dizer, o que
nós realmente compartilhamos? Uma foda embriagada na parte traseira
de um clube de strip? Hah.

Eu disco para Dax e espero, confiante de que eu estou fazendo a


escolha certa.

Nós dois estamos melhor assim.

Além disso, quem tem tempo para pensar sobre o amor quando
há uma estrela de rock morta na sua casa?

Não esta menina aqui. Não. Eu não dou a mínima para o amor -
ou Dax - não mesmo.

Então, por que eu me sinto chateada quando escuto seu correio


de voz?

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Puta que pariu.

Eu acordo algumas horas mais tarde, sem uma única memória da


noite anterior. Honestamente, eu não estou surpreso. Eu estive bebendo
e fumando e me drogando todos os momentos desde que Hayden - e
Tara - morreram. Neste ponto, por que se preocupar? Por que continuar
tentando me arrastar para fora deste buraco negro quando a gravidade
continua me chupando de volta?

— Porra.

Eu lanço um braço sobre meus olhos, como um escudo contra a


minha dor de cabeça e faço o meu melhor para voltar a dormir. Tá
vendo, o sono é assim... esse universo alternativo onde todos os males
do mundo desaparecem. Até mesmo os pesadelos são como sonhos
neste momento.

— Ei cara. — um dedo cutuca meu braço e eu ignoro. Kash nunca


deu a mínima para mim antes, então por que ele deveria começar
agora? Eu rolo para longe dele e enterro meu rosto em um
travesseiro. Infantil, com certeza, mas que seja. Estou tão além do limite
para dando a mínima para qualquer coisa neste momento. Hayden,
morto. Tara, morta. America, morta. Naomi e Blair, quase mortas. Eu só
posso rezar para ser o próximo. — Eu sei que você não quer falar
comigo agora. Inferno, eu sei que você não quer falar com ninguém
agora, mas eu apenas pensei que você deveria saber, Naomi acordou.

Eu estalo como se tivesse levado um tapa, me sentando tão rápido


que minha cabeça gira e dá voltas e minha visão treme como se eu
estivesse a dois segundos de desmaiar. Eu pisco as teias de aranha e
olho para Kash, exigindo respostas sem uma única palavra de meus
lábios. Ele sabe que é melhor não brincar com esse tipo de coisa.

— Ela, uh, acordou tipo uma hora atrás? — ele fala como uma
pergunta, seu cabelo loiro espetado em todas as direções. No sofá na
minha frente, sua namorada - bem, uma delas de qualquer maneira -

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está dormindo. No começo eu me pergunto por que diabos ela está no
meu quarto, e então eu percebo que eu sou realmente o único no quarto
de Kash. — Turner Campbell ligou para o seu telefone umas dez
vezes. Mandei uma mensagem para você, também. Eu não quis te
importunar, mas desde que não parecia que você iria acordar tão cedo...
— Kash fala enquanto eu jogo meus pés sobre a borda da cama e me
forço para cima. O quarto gira em torno de mim por um segundo, mas
consigo manter meu equilíbrio. Minha amiga, a nossa guitarrista, o
nosso novo vocalista, ela não está apenas viva, mas acordada. Para mim
isso é um fodido milagre.

— Você pode... — eu quase disse ligar para America. Quase. E


então eu percebo que ela está mortinha da silva. Amatory Riot é como
um barco sem vela agora, e eu não sei o que fazer sobre isso. Eu não sei
o que fazer sobre qualquer coisa na minha vida e esse é o
problema. Tente usar o Google ‗o que eu faço quando o empresário da
minha banda falece em um tiroteio trágico‘ e veja o que aparece. Está
certo. Nada. Porra nenhuma. — Você pode chamar um táxi para mim?

— Um táxi? — Kash pergunta, e eu sei que ele está


pensando: você nunca vai sair daqui vivo. A multidão lá fora está
espumando pela boca pra ver qualquer um de nós - até mesmo eu. Mas
isso é bom. Eu não dou dois a mínima neste momento.

Eu corro a mão pelo meu cabelo e me assusto com o pegajoso


estado dele. Eu não tenho a mínima ideia do que exatamente
é. Vômito? Sêmen? Definitivamente não gel de cabelo. Definitivamente
vale um banho antes de ir.

— Sim, se você não se importa. Peça a ele para me encontrar a


uma quadra daqui. Eu vou descobrir uma maneira de chegar lá. — eu
me afasto de Kash antes que ele tenha a chance de responder. Eu sei
que ele vai fazer isso por mim; Kash e Wren, eles tem me tratado com
luvas de pelica por dias. Eu mesmo chamaria, mas eu não quero perder
um único segundo.

Na parte de trás da minha mente, eu me pergunto se eu deveria


ligar para Sydney. Mas então eu me pergunto por que eu estou me
perguntando isso. Ela não é nada para mim na verdade. Nós transamos
uma vez, e em um estado meio bêbado também. Ela não é a minha
parceira ou a minha namorada ou qualquer coisa assim.

~ 17 ~
A questão que paira no limite dos meus pensamentos, porém, é
saber se eu gostaria que ela fosse.

Naomi Knox está acordada, já não está em coma, mas desde que
cheguei ao hospital, ela está dormindo. É temporário, pelo menos isso.

— Você pensaria que estávamos mostrando nosso pinto pela


forma como estas pessoas nos encaram. Ei, idiota, você quer ver meu
pau, também? Porque eu poderia arranjar isso. — eu me assusto com o
grito de Turner e finjo que o homem andando ao nosso lado não está
torcendo o nariz e tossindo teatralmente pela nossa fumaça de
cigarro. Ah, Califórnia. É um lugar especial.

— Você pode manter a sua voz baixa? — Ronnie McGuire pede,


suas palavras são para Turner, mas seus olhos estão focados em
mim. Eu não sei por que ele continua olhando para mim, como se ele
sentisse pena de mim ou algo assim. Eu não preciso de ninguém
sentindo nada por mim agora. Eu gostaria de fazer o papel do emo
cadela que todo mundo me critica por ser mesmo e apenas odiar a vida
por um tempo. Pelo menos Naomi está bem. Mas
Blair? Porra. Porra. Porra. Minha amiga de infância ainda está deitada
como se ela tivesse sido atropelada por um tanque, e não há nada que
eu possa fazer sobre isso. Meu breve momento de alegria sobre Naomi
foi esmagado novamente. Atualmente, eu tenho um sherm2 entre os
dedos, enviando fumaça em meus pulmões. Não é que
eu queira continuar ficando doidão; eu preciso disso. — Se você quer ser
estuprada por fãs, é você quem decide, mas não traga isso pra cá.

— Jesus, Ronnie, me dando sermão tão cedo de manhã? Leve o


seu sermão e enfie na sua bunda. — Turner infla o peito como um
maldito pavão, quase incapaz de conter a alegria que ele deve estar
sentindo agora. Eu o odeio. Juro por Cristo, eu não suporto esse cara. Eu
quase deixo escapar algo sobre Blair, mas pra quê? Turner não deu a

2Tabaco misturado com maconha e mergulhado no PCP, o pó de anjo aqui no Brasil.


Acho que aqui no Brasil o sherm não tem nome.

~ 18 ~
mínima. Ele tem Naomi Knox, milhões de dólares no banco, e uma
mansão em Beverly Hills.

Eu me viro com uma carranca, varrendo minha mão pelo meu


rosto barbeado. Nem mesmo certo porque me preocupei em me
vestir; Naomi não está realmente em estado de ver ou se preocupar
sobre qualquer coisa assim. Além disso, mesmo se ela estivesse, ele não
se importa. Eu seriamente seria saído do trem de Naomi e
propositadamente perdido o meu bilhete. Eu me pergunto se Sydney vai
aparecer... Turner disse que está aqui em algum lugar, mas eu não a vi
ainda.

Meu coração começa a correr, mas eu ignoro. De que me importa


se Sydney está aqui ou não?

Balanço a cabeça e olho para cima para encontrar Turner e


Ronnie me encarando. Ambos parecem bem demais, como estrelas de
rock. Eu? Eu pareço como um maldito vagabundo, como um daqueles
caras com hepatite C que costumavam ficar do lado de fora do centro de
reciclagem, enquanto Tara e eu jogávamos latinhas. Sério. Eu realmente
preciso me recompor.

— Você está bem, mano? — Turner pergunta, deslizando os dedos


pelo cabelo desarrumado, cabelo que ele provavelmente nem sequer
escovou em sua corrida para chegar até aqui. Ainda parece
perfeito. Filho da puta estúpido de merda.

— Eu não sou seu mano, — eu estalo, me abaixando para apagar


o cigarro antes de colocá-lo em um saco plástico. Normalmente não me
incomodaria, mas este não é um cigarro comum. E eu preciso dele. E
hoje o dia parece que estar se preparando para ser quase tão ruim como
ontem, senão mais. Tanto faz. — Me ligue quando Naomi acordar, — eu
falo, colocando minhas mãos enluvadas em meus bolsos da
frente. Meus dedos estão coçando para pegar algumas baquetas, tocar
na minha bateria e sentir a frustração e o medo e a confusão das
últimas semanas vazar de dentro de mim, ser drenado do meu corpo
como sangue para um vampiro. Olho para as tatuagens no meu braço
esquerdo, uma cena de horror se esticando para cima dos meus dedos
até meu ombro. Porra. Eu ficaria feliz em entregar minha garganta para
um vampiro se isso significasse apagar toda essa merda e deixá-lo atrás
de mim para sempre. — Estou farto.

— Farto com o quê?

~ 19 ~
Uma voz me tira do meu devaneio, para fora das minhas ideias de
pegar o meu cartão de débito e meu passaporte e vazar para outra
cidade pra sempre. Eu poderia ir para qualquer lugar do
mundo. Qualquer lugar. Qualquer lugar exceto aqui.

— Sydney, — eu sussurro, tendo esse sentimento de um soco no


estômago sempre que eu a vejo. Faço uma pausa na calçada, a luz do
sol fluindo em torno de mim, puxando longas sombras das palmeiras à
minha esquerda. Quando ela atinge o cabelo de Sydney, a luz quebra
em um milhão de belas partes, como cacos de vidro quebrando aos seus
pés. Ou talvez seja as drogas falando, eu não sei.

Eu olho para longe.

Realmente, eu devo a Sydney um pedido de desculpas - e um


obrigado. Na verdade, eu não posso olhar para ela. Estou tão
envergonhado, cm nojo de mim mesmo, mais do que eu já estive
antes. Nem o meu pai me trouxe tão para baixo antes. Você quer dizer o
homem que você acreditava ser o seu pai, eu penso antes que eu possa
desligar a máquina de auto piedade.

— Só... farto, — eu sussurro, odiando quão seco meus lábios


parece, quão instáveis minhas mãos estão, mesmo enfiadas nos bolsos
como elas estão. — Naomi acordou, — eu acrescento, porque eu não
tenho certeza do que mais há a dizer. Tantas coisas passam pela minha
mente e, então são descartadas naqueles poucos segundos que levo
para levar o meu olhar para o dela, para o azul brilhante de seus olhos,
como fodidos doces. Eu quero lamber, sim. Mas eu não posso. Eu não
vou arrastar esta menina para baixo comigo.

— Eu sei, — diz ela, chegando em seu bolso de trás e arqueando


as coisas de um jeito que me faz correr a língua pelo meu lábio
inferior. Tudo o que ela está fazendo é ir fumar um cigarro, mas porra,
eu mal posso me conter. Dou um passo para trás quando ela acende, a
franja caindo em seus olhos enquanto ela olha para mim, seus lábios
rosa brilhantes enrolados em seu cigarro das mais tentadoras
maneiras. Merda. Além da nossa rapidinha na parte de trás do clube de
strip, nós não fizemos muito além de carinhos. Sim. Abraços. Sydney e
eu passamos algumas noites na cama sem fazer absolutamente nada,
além de ficar deitada ao meu lado e me manter são.

Abro a boca, levanto a mão, levado por um súbito impulso de


dizer algo significativo quando Turner aparece do nada, balançando um
braço em volta dos meus ombros e me puxando para ele como se

~ 20 ~
fôssemos realmente amigos ou algo assim, como se tudo estivesse bem
pra caralho.

— Agora entendi por que você estava tão ansioso para ficar longe
de nós. Tem planos, pequeno baterista?

— Dê o fora, — eu rosno, me afastando do alcance de Turner e


tropeçando um pouco antes de me ajeitar. Quando eu olho para cima,
Sydney está olhando para mim com perguntas em seus olhos,
arrependimento, como se ela não tivesse certeza por que ela se permitiu
dar a mínima para mim.

Eu me afasto.

— Demorou demais. O que diabos você estava fazendo


lá? Espionando a UTI? — Turner pergunta, acendendo outro cigarro.

— Eu estava dando meus respeitos a Blair. Eu espero que você


esteja se comportando e mantendo seu alvoroço no nível mínimo. As
pessoas ainda estão sofrendo, Turner. Pessoas morreram, — Sydney
enfatiza com os dentes cerrados. Ela está linda, como de costume, mas
exausta também. Estressada. Cansada. Quanto dessa expressão é por
minha causa?

— Que seja, — murmura Turner, mas eu ouvi um peso em sua


voz que eu não percebi antes. Ele sabe quão ruim toda esta situação é,
mesmo que ele finja que não se importa. Ótimo. Não só ele pode cantar,
foder, tocar guitarra, fazer o mundo se apaixonar pelo seu pau, mas ele
também é profundo. Um grunhido escapa dos meus lábios, e levo a
força que eu tenho para não dar um soco na cara bonita de Turner. Não
é culpa dele - não desta vez - mas estou tão revoltado comigo mesmo
que eu sinto que preciso de alguém para descontar a minha raiva.

— Eu tenho que ir, — digo antes que as coisas possam ficar


estranhas. Sydney não quer me ver agora... não depois de ontem à
noite, tenho certeza. Me fiz completamente de bobo. Quer dizer, eu acho
que eu fiz. Eu não me lembro, mas eu lembro de me sentir triste, com
vontade de vomitar e desesperado. Não pode ter sido coisa boa. Dou a
ela um último olhar antes de me afastar, mas seu rosto não diz nada,
absolutamente nada.

E não há sentimento pior para mim do que isso.

~ 21 ~
Poser desgraçado com certeza. Que merda são aquelas tatuagens de
notas de dólar no braço de Cohen? Que idiota.

Eu me inclino para baixo para ver melhor e uso meu salto alto
roxo para cutucar o braço do cadáver que está saindo do saco, o resto
está embrulhado e escondido. Graças a Deus. Eu não consigo tirar o
rosto de Dax da minha mente, e a última coisa que eu preciso adicionar
ao meu estado mental ferrado é outra imagem de sorriso do homem
morto.

Me levanto, cruzando os braços sob meus seios, meu sapato


batendo em um ritmo suave contra o chão. O que era aquele olhar que
Dax me deu antes dele sair? Meus dedos coçam para pegar o meu
celular e ligar pra ele. Quero dizer, não que ele fosse atender de
qualquer maneira. Eu liguei e mandei uma mensagem para ele uma
dúzia de vezes esta manhã e ele bem atendeu. Ao contrário, ele
estava lá, do lado de fora com Ronnie e Turner.

Porra.

Por que eu me importo? O que Dax faz não é da minha conta. Eu


preciso me concentrar na minha própria merda, como por exemplo levar
este corpo daqui sem a multidão gigantesca de fãs ver. Se eles vissem o
corpo de Cohen... provavelmente iriam tirar fotos e postar no Instagram.

— Tem certeza de que não quer chamar Brayden? — Jesse


perguntou, mas se calou bem rápido quando Ronnie lançou um olhar
escaldante em sua direção. — Quero dizer, depois do que aconteceu
esta manhã, você não acha que seria uma boa ideia?

— Como diabos eu deveria saber que Milo estava tendo uma


reunião de equipe aqui? — Ronnie resmunga, o braço em volta da
cintura de Lola enquanto todos nós ficamos ali olhando estupidamente
para o corpo. Uma parte de mim compreende que devemos estar mais
assustados por toda a situação, mas não adianta chorar sobre o leite
derramado, certo?

~ 22 ~
Atualmente, o Sr. Rose está deitado no armário debaixo de uma
fileira de vestidos de festa que algum personal shopper selecionou para
Lola. Jesus Cristo. Comprador pessoal. Uau. Fale de um emprego
confortável. Oh, e quando digo armário, eu quero dizer realmente uma
grande sala que se diz ser um armário. Este é um luxo que eu não posso
ter. Que menina não quer um closet?

— Precisamos tirá-lo daqui, — digo, porque enterrar esse cara no


local soa como uma muito, muito má ideia. — Mas como? Milo ainda
está aqui, sem mencionar o pessoal da segurança. Não tem como tirar
ele daqui sem sermos vistos. Como é que vamos levá-lo para fora da
casa?

Ninguém me responde e eu tenho este doente sentimento


afundando no meu estômago de que ninguém vai.

— Merda, merda, e puta que pariu, — murmuro, passando os


dedos pelo meu cabelo. Deveria ter reconhecido que os meninos não
poderiam fazer nada sem mim. Eu poderia culpar Lola por tudo isso,
uma vez que, você sabe, ela é a mulher e, portanto, literalmente, todo o
cérebro, mas este é o seu namorado morto e está tudo confuso
agora. Eu sou a estranha, uma menina de fora. Eu acho que está nas
minhas costas resolver essa porcaria toda. Eu poderia muito bem ser a
única com a cabeça limpa. — Claramente, arrastar um grande homem
numa lona agora é uma ideia muito terrível.

— Anotado, — Ronnie murmura, fumando um cigarro enquanto


ele olha para mim. — Então o que diabos vamos fazer? Eu ia arrastar
ele até uma das vans enquanto ainda estava escuro lá fora esta manhã,
mas se não queremos deixá-lo aqui durante todo o dia, isso não é
realmente uma opção.

Eu fico parada por vários momentos, batendo uma unha laranja


brilhante contra os meus lábios.

E então eu ouço o barulho da cadeira de rodas de Trey...

Bingo.

— Alguém pode me ajudar a descer essas escadas, porra? — ele


grita a partir do corredor, fazendo sua melhor personificação de
Turner. Eu olho para cima de forma acentuada para Ronnie e ele pega o
meu olhar.

— Oh, o inferno não, — ele murmura, mas já estou sorrindo.

~ 23 ~
— Claro que não o quê? — Lola pergunta, olhando entre nós dois.

— É perfeito, Ronnie. A menos que você tenha uma ideia melhor?


— ele olha de volta para mim com seus olhos castanhos e, em seguida,
suspira, puxando o cigarro de seus lábios com dois dedos. Eu posso ver
a renúncia em seu olhar, à fadiga puxando a pele do seu rosto. Ronnie
está cansado e ele só quer que essa merda acabe, como todos nós
queremos.

— Trey, querido, venha aqui por um segundo, — eu chamo,


dando um passo para trás, me movendo através da sala para a
porta. Eu abro e encontro meu irmão olhando para mim de sua cadeira,
com uma expressão suspeita rastejando sobre suas características.

— Que diabos você está fazendo no quarto de Ronnie? Vocês não


estão fodendo ou qualquer outra coisa, certo? — eu rolo meus olhos e
envio uma oração a qualquer deus que vá ouvir. Por favor, ajude meu
irmão para ser menos um clone do maldito Turne. Não tenho certeza se
posso aguentar mais disso.

— Apenas traga seu traseiro aqui por um segundo, ok? — dou um


passo para trás e levanto a minha mão. Felizmente, o idiota mexe em
suas rodas sem reclamar e, em seguida, fica lá olhando para mim. Seu
cabelo castanho está todo bagunçado e sua pele está pálida, mas pela
primeira vez em semanas, ele parece que vai ficar bem, que ele vai
levantar desta cadeira e colocar as mãos em uma guitarra novamente.

— O que você quer, Sydney? — ele resmunga, olhando ao redor


da sala com uma expressão cautelosa que mal posso culpá-lo.

— Bem, — eu falo lentamente, inclinando para trás e deslizo os


dedos nos bolsos de trás da minha calça jeans. Ronnie, Lola, e Jesse
escolheram aquele momento para fazer uma aparição, enchendo a porta
entre a área da sala de estar e a sala. Trey olha para eles por um
momento e, em seguida, passa rapidamente os olhos de volta para mim.

— Que diabos está acontecendo aqui?

Um sorriso abre meus lábios, mas eu não acho que deva ser
muito bonito.

— Trey, precisamos pedir a sua cadeira de rodas emprestada por


um tempo.

~ 24 ~
Moletom do Indecency. Conferido. Um par de All-Star de
Trey. Conferido. Algumas dessas luvas sem dedos pretas que Dax gosta
de usar. Dax... eu balanço minha cabeça aos pensamentos claros de
Dax McCann e sua cara triste de cachorrinho depois que ele descobriu
que seu pai não era seu pai. Oh Deus. E a maneira como ele entrou em
colapso depois que a cadela anoréxica atirou em si mesma... maldição.

Eu agito minhas mãos para fora e tomo uma respiração


profunda. Não posso pensar sobre Dax agora. De jeito nenhum. Nuh uh.

Eu ajudo Ronnie a levantar o corpo de Cohen Rose em uma


posição mais animada e dou um passo para trás para olhar para
ele. Ele parece duro pra caralho, mas ei, o mesmo acontece com o meu
irmão no momento. Acho que isso vai passar.

— Isso é besteira, — Trey rosna de seu lugar na cama de


Ronnie. Nós apenas jogamos sua bunda aleijada sobre os cobertores e
puxamos Cohen na cadeira. Quer dizer, para sair daqui à vista de
todos, em plena luz do dia, você tem uma ideia melhor? De qualquer
forma, agora podemos usar o elevador de cadeira de rodas na parte de
trás da van alugada para transportar Cohen pra dentro. E se uma fã
aleatória aparecer para tirar uma foto da cena? Todo mundo vai
simplesmente assumir que estamos levando Trey para fora na cidade,
ou algo assim.

O que acontece depois não é a porra do meu problema... mas eu


meio que sinto que deveria ser.

— Você tem certeza que quer cuidar da... efetivar isso sozinho? —
eu pergunto, fumando um cigarro e deslizando um par de máscaras na
cara dura, e fria de Cohen. — Quero dizer, se tudo isso der merda, eu
sou o tipo de pessoa com o mínimo a perder. — eu encolho os ombros e
recuo, mantendo minha atenção na camisola preta e o logotipo branco
da Indecency em vez do rosto de Ronnie. Eu não estou tentando ser
chorona ou mórbida aqui, apenas querendo falar a verdade. Ronnie tem
filhos e uma segunda chance em um romance que você nunca viu. -
eu... eu sou apenas uma stripper com uma queda por alguém.

~ 25 ~
— Você sempre disse que eu era o mais inteligente do grupo,
certo? — pergunta ele, se movendo em torno da cadeira de rodas e me
puxando para um abraço de urso fraterno que aquece meu coração e
me faz sorrir. Às vezes eu quero gritar quando eu olho para este grupo
de idiotas que Trey jogou na minha porta. Outras vezes, é bom ter um
bando de irmãozinhos. — Me deixe cuidar disso, ok?

— Pare de ficar se abraçando e me diga o que diabos está


acontecendo! — Trey joga uma garrafa de água para nós e acaba
acertando Ronnie bem na parte de trás. Nós dois ignoramos, nos
separando e tomando respirações profundas.

— Nunca eliminamos um corpo antes, — murmuro, pegando um


brilho labial do bolso e passando na minha boca. Nunca é demais ter
uma boca bonita. Eu volto para o meu cigarro. — Não se esqueça de
trazer de volta o suéter e as luvas e tudo isso. Trey terá um ataque se
você deixá-los cair em qualquer lugar perto de Cohen.

— Eu quero uma maldita explicação. Estou cansado de vocês


todos sorrateiros e sussurrando merda. Eu quero saber o que está
acontecendo. Porque é que existe um cara morto na porra da minha
cadeira de rodas?

Ronnie e eu continuamos a ignorar Trey enquanto nós fumamos


nossos cigarros e damos o corpo outra olhada. Tão estúpido como isso
tudo parece, você tem que admitir, a minha ideia é brilhante. Se Cohen
cair ou aparecer um pouco, nós podemos apenas fingir que Trey está
tendo um mau dia ou algo assim. É perfeito. Infalível. Gênio.

— Isso é estúpido, — murmuro. — Estamos tão ferrados. Vamos,


Ronnie, fale logo. O que vai fazer com o corpo? — eu m viro para
enfrentar Ronnie, o cabelo loiro vibrando em torno de mim, a fumaça do
cigarro deixa um rastro da minha boca bonita.

Ronnie chega a dar arranhões na parte de trás de sua cabeça,


bagunçando seu cabelo escuro e mordendo o lábio inferior.

— Você sabe, eu realmente não tinha chegado tão longe ainda. —


há uma pausa e, em seguida, seu rosto se ilumina e ele estala os
dedos. — Eu entendi. — eu levanto as sobrancelhas.

— Ok?

— Você pode chamar Dax para mim? — eu sinto meus lábios se


contorcerem enquanto Trey continua sendo uma cadela ao fundo, seus

~ 26 ~
gritos desaparecendo em maldições abafadas. Graças a Deus. Não tenho
certeza quanto mais disso posso aguentar.

— Por que você precisa que eu chame Dax? — eu pergunto,


tentando não cerrar os dentes. Ronnie percebe de qualquer maneira e
sorri ironicamente. — Porque, você sabe, envolver alguém nessa merda
não soa como uma boa ideia.

— Eu não estou dizendo que você tem que falar com ele e contar
que há um cadáver na nossa van. Apenas... leve ele ao nosso encontro
no átrio ou alguma coisa assim, ok?

— Nos? É um nós agora? — Ronnie encolhe os ombros. Claro que


é. Eu deveria ter sabido melhor. Eu rolo meus olhos e bato os meus
pés. Sim, é essa sensação novamente. Só de pensar em Dax sinto
calafrios gelados correndo pela minha espinha e fazendo cócegas,
arrepios em meus braços. — Isso soa como uma ideia realmente
estúpida, — digo a Ronnie, endireitarando minha blusa rosa choque e
apontando o dedo para ele. — Realmente má ideia. Ridículo. — Ronnie
cruza os braços sobre o peito e dá uns tapinhas sobre a cabeça morta
de Cohen.

— Apenas faça isso.

— Porra. Sim.

Eu puxo o meu telefone celular e acesso o número de Dax


McCann.

~ 27 ~
De volta ao hotel com ninguém e nada, eu decido que ficar bêbado
é a minha melhor opção possível, especialmente considerando que
posso pedir serviço de quarto e conseguir exatamente o que eu
preciso. Uma série de cervejas, roupas que cheiram a naftalina que a
minha avó mantém em seus armários, e eu estou ligando para o meu
pai.

— Não realmente a porra do meu pai, — murmuro com o telefone


tocando e minha consciência me mandando desligar. Com tudo o que
está acontecendo em torno de mim, por que eu iria querer abrir essa
lata de vermes também? Quero dizer, obviamente essa treta toda com
America e Travis e tudo não começou vinte e três anos atrás. Esta
merda em particular é culpa minha.

— O que diabos você quer? — Arnold McCann pergunta quando


ele finalmente atende a ligação. — Eu não te disse que eu não quero
nada com você mais, rapaz? Você é surdo ou simplesmente idiota?

— Eu quero saber quem é a porra do meu pai — eu grito com ele,


esfrego o polegar entre as minhas sobrancelhas e inclino minha cabeça,
o álcool rodando. — Eu quero saber por que eu fiquei preso com um
idiota que transformou minha vida em um inferno e eu quero saber por
que diabos você jogou tanta raiva em uma criança. Uma criança. Eu
poderia usar preto e tocar bateria, ter tatuado meu braço, mas você é o
maldito monstro.

— Você tem bebido, filho?

— Eu não sou seu maldito filho. Você foi bem claro sobre isso.

Há um ronco de final da linha de Arnold, e posso imaginá-lo


balançando a cabeça para mim, decepcionado, como de costume. Não
que eu dou a mínima. Porque eu não dou. Eu seriamente não dou.

— Seu pai, — Arnold diz, e eu me encolho. Mil e quinhentas


milhas de distância do homem e eu ainda me sinto aterrorizado por

~ 28 ~
ele. — Foi um idiota bêbado, ele e sua mãe se conheceram em um
bar. Foi por uma noite e ele tinha ido de manhã, e tudo o que ele deixou
para se lembrar dele foi o seu rabo. Um lembrete constante da
infidelidade de sua mãe, um lembrete constante de que uma queda
ruim em um banheiro a matou. É isso que você queria ouvir? Você
gostou de saber que você era indesejado por todos? Sua mãe chorou por
todos os nove meses que ela esteve grávida de você. Se ela não achasse
que Deus estava olhando para ela, julgando-a por seus pecados, ela
teria abortado você e sido uma mulher melhor.

Sem pensar no que estou fazendo, eu me levanto e jogo o meu


telefone na parede. Rachando a tela, ele cai no chão enquanto eu
grito. Apenas grito e, em seguida, caio de joelhos no tapete do hotel.

Nada de empresário. Nada de música. Nada de mãe.

Nada de amigos. Nada de família. Nenhuma amante.

Nada.

— Merdaaaa. — eu passo minhas mãos pelo meu rosto e respiro


lentamente, minha cabeça nadando. Porra. Porra. Puta que pariu.

Eu estou lá sentado, tremendo e suando e deixando as palavras


de meu pai passarem pela minha cabeça, como sempre faço e meu
celular toca. É alguma canção programada para Sydney em meus
contatos.

Ela está me ligando.

Eu rastejo sobre a meu telefone rachado e o pego. Sydney não me


quer. Ninguém quer. Mas eu atendo de qualquer maneira.

— Olá? — eu tento o meu melhor parecer normal, mas eu tenho


certeza que eu estou enrolando minhas palavras.

— Eu, babe, — Sydney diz, agindo toda indiferente. Esta manhã,


o jeito que ela olhou para mim, eu tinha certeza que ela não queria ter
nada comigo. Não que eu possa culpá-la. Porra. Eu não quero ter nada
comigo também. — Você está ocupado agora?

— Eu estou sentado bêbado no chão do meu quarto de hotel, e eu


tenho a maldita certeza que eu estou a ponto de vomitar.

— Perfeito. Nós estaremos indo aí. Informe o hotel que estamos


chegando.

~ 29 ~
Sydney está usando fones de ouvido verde limão ao redor de seu
pescoço e mascando um chiclete com um barulho alto. Eu acho que eu
posso ouvir White Wedding por Billy Idol tocando em seu iPod.

Meu pau vira pedra em um instante, puxando os olhos de Sydney


diretamente até a protuberância em meu jeans. Me encosto no batente
da porta, sem falsa modéstia. Você acha que eu ainda me importo? Pode
olhar. Estou cansado de pedir desculpas para esta merda. Por que não
bancar um Turner Campbell e mostrar essa porra? Mostrar meu pau
para todo o corredor?

Só que eu não posso fazer isso, você sabe, porque eu não sou
Turner Campbell. Eu estou o fodido Dax. Apenas... Dax.

— Ei, — Sydney diz, deslizando debaixo do meu braço e entrando


no quarto com um aroma de fumaça doce atrás dela. Ela cheira a
incenso, como uma loja mágica que vende chá e ervas e essas
merdas. Fecho os olhos e a respiro, me preparado para bater a porta
atrás dela quando eu vejo Ronnie empurrando uma cadeira de rodas na
minha direção. Hã. Deve ser Trey, eu acho?

Eu tento não me sentir decepcionado. Eu não acabei de declarar


que eu não dou a mínima para Sydney Charell? Não era como se ela
estivesse lá para você quando você precisava dela mais que tudo, não é
Dax? Seja um idiota e expulse ela.

Eu me afasto para o lado, odiando que meu quarto é um desastre


maldito. Tem cheiro de suor, desespero e cerveja aqui. Jesus Cristo. Eu
chuto a porta e tomo uma respiração profunda, tentando não enrugar
meu nariz pelo cheiro insuportável de spray corporal que segue a
cadeira de rodas. Treyjan e Turner e todos aqueles outros idiotas como
eles, podem ser fodidos idiotas, mas eu nunca tinha sido envenenado
pelo mau cheiro rançoso deles antes. Maldição. Eu achava que essa
porcaria estava reservada para atletas e fãs.

— O que vocês estão fazendo aqui? — eu pergunto, caindo contra


a parede e colocando um cigarro entre os lábios. Eu tento olhar para

~ 30 ~
Ronnie, mas como de costume, eu não posso manter meus olhos longe
de Sydney. Bom Deus. Mesmo com um cobertor pesado de melancolia
amortecendo meu espírito, não posso deixar de olhar para ela. Ou
manter o meu pau de ficar dolorosamente duro. Para baixo, rapaz. Eu
puxo uma respiração profunda e enrugo meu nariz.

Sydney passa as mãos na frente do rosto, suas unhas


multicoloridas brilhando contra a boca cor-de-rosa quando ela olha
para mim com aqueles olhos doces dela e faz uma careta timidamente.

— Você está bem, Dax? — ela me pergunta, me dando uma


conversa que realmente não vai acabar como eu quero. Eu quero ver
seus olhos se iluminarem como a primeira vez que ela me viu, estando
repletos de luxúria, envoltos no desejo. Ao contrário, ela só parece...
triste. Porque eu estou triste. Só triste. Triste, triste, triste.

— Eu estou bem, — eu digo o que é uma mentira completa, e


Sydney sabe disso. Temos gastado muito tempo juntos para que ela
deixe passar as minhas merdas. Tudo que eu tinha era a música e os
meus amigos, e agora... agora eu nem tenho certeza se eu tenho um
desses mais. — E aí?

Ronnie e Sydney trocam um olhar longo e demorado, que me diz


que há algo acontecendo aqui que eu não vou gostar.

— Eu cheguei ao fundo do posso aqui, rapazes. Fala logo o que


é. Vocês não podem piorar ainda mais.

— Dax, — Sydney começa, mas Ronnie já está um passo à frente


dela, puxando o capuz de Trey com um toque de seus dedos e
deslizando suas máscaras para fora.

Só que não é Treyjan Charell.

Há um cadáver na porra no meu quarto de hotel.

— Oh merda. — eu passo a mão no meu rosto e tomo uma boa e


longa tragada do meu cigarro. — Esse é Cohen Rose?

~ 31 ~
— Pode ser, — Ronnie brinca com um encolher de ombros. Esse
cara, ele é um deus da bateria. Tanto quanto a bateria vai, não existe
nada melhor do que Ronnie McGuire. Este homem é uma lenda viva e
ele não tem nem trinta anos de idade. Mas, aparentemente, ele também
é um assassino. Ótimo. Simplesmente ótimo. Um modelo maravilhoso.

— Você o matou? — pergunto, não que esteja surpreso. Turner é


um babaca, mas Cohen Rose, cara... ele é um idiota presunçoso. Nada
pior do que isso. Não é legal, mas desesperado. Não é confiante, mas
inseguro. Um pesadelo total. Eu acho que eu falei com o cara um total
de três vezes na turnê. Uma vez para comprar droga dele. A segunda e
terceira vezes eu acho que ele estava me chamando de emo viado ou
alguma outra coisa idiota assim. Eu poderia ter batido nele com os
olhos fechados. Por que todo mundo age como se eu fosse um menino
magro com cabelo gorduroso e um altar satânico no meu porão? Eu
malho três vezes por semana. Não vejo Turner Campbell levantar pesos
comigo.

— Nem eu, — Ronnie diz com outro encolher de ombros. —


Embora eu estivesse a considerar fortemente. Não, nós o encontramos
morto na nossa banheira, esta manhã. Acho que Brayden Ryker o
deixou lá.

— Por que... — eu começo, mas, em seguida, faço uma pausa,


tomando uma respiração profunda que cheira a suor e spray
corporal. — Mais tarde. Você pode me dizer mais tarde. O que eu
realmente quero saber agora é por que diabos você trouxe um homem
morto em meu quarto de hotel?

— Ele estava hospedado aqui, não estava? Cohen Rose? — Sydney


pergunta, puxando a minha atenção de volta para ela. Isso não é uma
tarefa difícil, realmente. Ela é tão bonita. Eu a verifico da cabeça aos
pés, traçando sua figura curvilínea, meus olhos sobre seus jeans
skinny, seus saltos roxo, e em seguida, volto para seu cabelo louro
bonito e grandes brincos cor-de-rosa. Tatuagens me provocam das
ponta do dedo até o ombro, criaturas do mar coloridas nadando sobre
sua pele e sobre o peito. Ela é como uma estrela pop dos anos oitenta
ou algo assim, todas as cores fortes e perfeição.

— Para ser honesto, eu não tenho nenhuma ideia do


caralho. Talvez. Será? — eu passo a mão pelo meu cabelo, contente que
pelo menos eu tive a oportunidade de tomar banho esta manhã. —

~ 32 ~
Brayden Ryker nos reservou esse lugar pela próxima semana. Depois
disso... eu não sei o que acontece depois disso. — minha testa se
enruga enquanto eu tento recordar a noite do nosso último show. É um
grande borrão, cara. Me lembro de armas de fogo e uma criança e
sangue e... porra. — O que isso tem a ver com alguma coisa?

— Precisamos de um lugar para despejar o corpo, — diz Sydney,


toda tranquila. Eu levanto minhas sobrancelhas para ela, meu corpo
formigando enquanto eu fico lá, de pé e me movo em torno da mesa,
arrastando uma cadeira e me virando para sentar nela. Se Ronnie ou
Sydney percebem meu pau lutando contra minhas calças, eles são
educados o suficiente para fingir o contrário.

— Hum, — eu começo, minha cabeça girando e torcendo, as


palavras do meu pai ecoando na parte de trás do meu cérebro como
sempre fazem, um demônio que nunca pode se acalmar. É isso que você
queria ouvir? Você gosta de saber que você era indesejado por todos? Sua
mãe chorou por todos os nove meses que ela estava grávida de você. — O
que isso tem a ver comigo?

— Nós estávamos indo jogá-lo em uma lixeira ou algo assim, mas


a multidão é... bem, é malditamente enorme. — Sydney se move sobre a
minha lata de lixo e cospe o chiclete, puxando um cigarro. Pelo menos
ela tem a decência de abrir a janela. Não me preocupei em fazer isso
sempre que puxava um cigarro desde que entre nesse quarto. — Então,
precisávamos de outro plano e precisávamos de uma desculpa plausível
para vir para cá.

— E outro cúmplice para a acusação de crime de abuso de um


cadáver? — pergunto. Eu estou sendo um imbecil. Sei que sim. Mas
qual é? Eu mal conheço essas pessoas, certo? Estamos todos presos na
teia da mesma aranha. É isso aí. Sem ligação nenhuma.

— Eu sei o que você está sentindo agora, — Ronnie diz, sua voz
surpreendentemente suave. Eu volto meus olhos para ele e levanto as
sobrancelhas. Ele se senta ao meu lado, puxando a outra cadeira e
olhando para mim como se ele achasse que eu preciso de alguma
orientação ou algo assim. — Perdi minha alma gêmea e, então, três
anos mais tarde, eu perdi meu irmão. Eu sei o que você está passando,
e eu não estou dizendo que você não pode chorar, mas não cave outro
buraco, Dax.

— O que-

~ 33 ~
Ronnie estende a mão e aperta meu ombro. É estranho, esse cara
coberto de tatuagens de cobras e rosas, olhando para mim como se ele
desse a mínima sobre como me sinto. Eu olho para ele, preso nos olhos
castanhos que parecem ter sabedoria demais para um cara de trinta
anos. Eu sei tudo sobre Ronnie, sobre seu amor perdido, seus hábitos
de se drogar, sua horda de crianças. Mas algo mudou nele
recentemente. Quer dizer, eu posso ver que ele não está tão magro como
ele era, nem drogado, mas puta merda.

Parte de mim quer dar um tapa em sua mão e parte de mim


quer... ouvir.

Mas então eu me lembro que ele simplesmente trouxe um cadáver


no meu quarto de hotel.

— O que você quer que eu faça? — pergunto, olhando para


Sydney. No mínimo, eu devo a ela isso. Se ela não estivesse lá nos
primeiros dias após o incidente com Hayden e Tara, eu não tenho
certeza se eu iria estar sentado aqui agora. — Eu posso ter um
cemitério tatuado no meu braço, mas eu não sou exatamente um
especialista em morte. Na verdade, quanto mais eu vejo disso, mais eu
odeio.

— Você tem alguma ideia do que quarto Cohen poderia ter


ficado? Ou que andar? Quer dizer, os caras de Brayden estão em todos
os lugares, mas eles não parecem ter qualquer interesse em incomodar
meu pobre irmão aleijado. — Sydney sorri e pica o ombro de Cohen com
a unha. — Nós podemos descobrir se podemos, pelo menos, levá-lo em
algum lugar por perto, então não importa se eles encontrarem o
corpo. Eu tenho um sentimento de que Brayden Ryker não vai ligar
para a polícia também. Ele parece existir fora do sistema.

Sydney bate um dedo contra seus lábios e meu corpo vai a


merda. Eu posso imaginar esses lábios envolvendo meu pau, sua língua
rosa chiclete envolvendo-o.

Eu gemo e bato as cinzas do meu cigarro na bandeja atrás de


mim, me inclinando e pressionando a minha cabeça no meu
antebraço. O sexo é, literalmente, a última coisa que eu deveria estar
pensando agora. Então, por que quando eu vejo esta menina se torna a
primeira coisa em minha mente?

— Eu acho que ele estava neste piso para ser honesto com você,
— eu digo, levantando a cabeça e olhando entre os dois com olhos

~ 34 ~
cansados. — Mas eu tenho estado tão fora de mim ultimamente que
talvez eu esteja imaginando? Quem sabe?

— Bem, isso é um começo, — diz Sydney, colocando o cigarro de


volta em sua boca e puxando a capa de Cohen. Eu não posso olhar para
o homem, sua pele branca de cadáver ou o meio sorriso estranho no
rosto dele. Deus. Há um corpo morto sentado a três passos de mim e
aqui estou eu, fumando um cigarro e ostentando um pau duro. Fan-tás-
tico. — Mas se Brayden estava em seu quarto na noite passada, Ronnie,
ele sabe que Cohen está morto, se ele o colocou na banheira ou
não. Isso significa que ele está apenas esperando que a gente faça
alguma coisa sobre isso. O homem não é um completo idiota.

— Ele fez isso, — Ronnie diz, ainda olhando para mim como uma
espécie de sábio ou algo assim. O que ele acha? Que ele pode me salvar
ou algo assim? Eu vejo como ele se levanta e endireita sua camiseta
preta da Indecency. — Ninguém mais poderia ter chego em casa com a
nossa equipe de segurança. Não há nenhuma maneira do caralho.

— De qualquer maneira, nós não vamos conseguir o quarto de


Cohen, — Sydney continua, se movendo para a janela e sacudindo as
cortinas para fora do caminho. O sol da Califórnia entra, me cegando
por um momento, eu levanto um braço e aperto os olhos. Quando ela se
vira para olhar para mim, o corpo de Sydney fica banhado em ouro,
iluminando-a de trás como um anjo. Gostaria que fosse mais do que
apenas a luz solar atrás dela. Algo como, você sabe, eu.

Eu olho para longe e limpo minha garganta. Eu tenho uma


ideia. Talvez seja estúpida, mas tanto faz. Ronnie e Sydney vieram até
mim por uma razão, certo?

— Quem disse que precisamos deixá-lo em seu próprio


quarto? Esses idiotas deixaram um corpo morto no quarto do seu
empresário. Vamos deixar um no deles.

~ 35 ~
E eu costumava pensar que o clube de strip em Detroit cheirava
mal.

Hah.

Happy Bunny não chega perto desta merda do caralho. É verdade


o que dizem: corpos podres cheiram mal pra porra.

— Eu sinto que estou prestes a vomitar Chunky Monkey3, — eu


digo, apertando a mão sobre a minha boca. Se eu pudesse voltar no
tempo, eu teria evitado o pote de sorvete na geladeira e teria pego o
aipo. Ou água. Ou talvez nada.

Eu posso engolir o gosto ácido da bílis e cavo no bolso por uma


bala de goma, estourando na minha boca e tentando me concentrar no
gosto de menta entre meus dentes e não no cheiro pegajoso e doce de
morte no corredor estreito.

Está calmo aqui em cima, muito mais silencioso do que eu


pensava que estaria. Muito mais silencioso do
que costumava ser. Inferno, eu não estava nem mesmo do lado dos
‗barulhentos‘ da turnê e, ainda assim, havia sempre os assistentes,
empresários e músicos correndo ao redor como formigas. Agora…

— Parece uma cidade fantasma, — eu digo e, em seguida, sinto


um arrepio na espinha. Um que realmente não tem nada a ver com o
corpo duro de Dax caminhando pelo corredor ao meu lado. Eu deixo
meus olhos balançar sobre ele, para seu rosto barbeado, a boca
perfeita, e tenho outro arrepio. Isso não tem nada a ver com ele,

3 Sorvete.

~ 36 ~
certo? Eu suspiro e bufo um sopro de ar quente que balança minha
franja loira. Eu tenho o direito de fingir que a sua presença não está me
afetando, não é? Minha calcinha úmida pode argumentar o contrário,
mas de qualquer forma, nós dois estamos dolorosamente conscientes de
que temos maior empata foda do mundo em jogo agora: um aspirante a
rock star morto. Que gloriosamente perverso.

Eu mantenho meus olhos focados em Dax, em toda a cabeça do


cadáver com capuz, e encaro seu olhar cinza tempestuoso. Quando eu
olho para ele, eu recebo esta estranha descarga de energia elétrica
através da minha pele, como se eu estivesse do lado de fora antes de
uma tempestade, ao ouvir o distante uivo do vento, o chuvisco,
permitindo a mudança de pressão empurrando na minha carne
enquanto as nuvens rolam.

Um toque dele e a dor seria anestesiada, o mundo iria cair. Eu sei


que sim. Eu senti. E se eu pude conseguir tudo isso partir de uma
rapidinha em um clube, então o que aconteceria se nós levássemos
algum tempo para... explorar um ao outro?

Eu rolo meus olhos enquanto ele levanta as sobrancelhas, e


desvio o olhar.

Eu jurei me afastar dele esta manhã, não foi? Eu tenho uma


carreira para pensar, uma carreira e um cadáver.

— Este é o quarto? — eu pergunto, examinando a rotulação


branca na frente da porta de madeira.

— Eu acho que sim, — Dax diz, arranhando a parte de trás do


seu pescoço enquanto olho para ele de novo (é difícil manter meus olhos
longe de qualquer forma). Os espectros escuros de suas tatuagens
dançam através de sua pele com o movimento. — Mas como eu disse,
eu não tenho sido totalmente... presente nos últimos tempos. — algo
pisca sobre seu rosto, um corte, mas não uma cicatriz. Dor fresca. Meus
braços explodem em arrepios e eu tento afastar essa sensação. Algo
aconteceu com ele hoje, outra coisa. Posso apenas dizer.

Mas eu não deveria me importar.

Eu rosno sob a minha respiração e recebo um olhar estranho,


tanto de Dax como de Ronnie. Oops. Eu fiz isso em voz alta?

Eu sorrio e encolho os ombros, levantando a mão para bater na


madeira da porta de KK Vogt.

~ 37 ~
— Ela não está muito ruim, está? — Ronnie sussurra enquanto os
caras de Brayden nos observam a partir do final do corredor. Um
sorriso enrola meus lábios, eu não posso evitar.

— Sim, porque eu atirei nela, — eu sussurro de volta sob a minha


respiração. Eu não falei sobre o show, quase não pensei sobre isso. O
rescaldo forneceu forragem suficiente para o meu cérebro já cansado,
mas agora que estou lembrando... sim, sim, eu atirei na cadela. Bem na
perna.

Dax troca um olhar comigo e eu acho que, embora eu não tenha


certeza, o canto de seus lábios se levantam em um sorriso.

A porta abre, chamando minha atenção para longe, para um cara


que eu sei que é nada além de problemas e depois para a garota que eu
atirei na coxa. Eu realmente não quis atirar nela, mas ela tinha uma
arma e eu estava disparando um tiro de advertência e bem, inferno, eu
não sei nada sobre armas.

Eu endireito a blusa rosa choque que eu coloquei e isso me faz


sorrir.

— Olá, KK, — eu digo e, em seguida, minha palma vem para


cima, empurrando a porta antes da mulher em questão poder me parar.

— Eu tenho uma mensagem de Lola para você, — eu minto


quando a mulher tropeça para trás, um conjunto de muletas sob seus
braços e um olhar de terror em seu rosto. Seus olhos parecem que estão
prestes a descer por suas bochechas. Eu nem tenho certeza de que, se é
assim que ela parece geralmente ou apenas um subproduto de uma
péssima semana. Tanto quanto eu posso dizer, Brayden Ryker estava do
lado de America e KK estava do lado de Stephen. Então... ela é uma
prisioneira no hotel, sim? De qualquer maneira, espero que a minha
mentira sobre Lola mantenha os caras no final do corredor parados.

Com cada passo que dou, KK se move para trás até que ela está
soltando suas muletas e se sentando com força na borda da cama. Ela
está usando uma camisa do Ice and Glass e não muito mais. Quero
saber se ela está até mesmo ciente de que seu vocalista está morto.

Meu palpite é... provavelmente não.

— Desculpe, — eu digo, enfiando os dedos nos bolsos de trás em


meus jeans. — Eu posso ver que você está provavelmente tendo um dia

~ 38 ~
de merda, mas nós estamos aqui para colocar mais alguns cocôs no
pote.

— Bem dito, — comenta Ronnie, estacionando a cadeira de rodas


de Trey no centro do quarto e, em seguida, acendendo um cigarro.

— Você não deveria estar aqui, — KK começa, mas eu a corto


inclinando minha cabeça e dando outro sorriso. Porcaria. Eu não sei
por que eu estou sorrindo assim. A menos que... eu deixo o meu olhar
deslizar de volta para Dax. Ele está olhando para mim. Mais uma vez. E
tão triste como ele é, quão bêbado ou fodido ele é, ele ainda me
tem. Essa dura protuberância nas calças dele não parece estar indo
embora, mesmo com o empata foda aqui e tudo mais. Muito
impressionante. Eu quero um cara que poderia me foder em cima de
um caixão no funeral de um amigo e não piscar um olho. Me chame de
pervertida se quiser, mas eu celebro a vida em todas as suas belas
formas feias, baby.

— Nós temos um pequeno presente para você, — eu começo,


puxando o meu foco de Dax. É preciso uma quantidade dolorosa de
esforço, você sabe o que quero dizer? Quando eu olho para ele, eu vejo
mais do que apenas um baterista ou um cara coberto de tatuagens, um
cara com um piercing no pau... Dax McCann tem a força tranquila e a
fidelidade dentro dele que eu sempre quis em um cara.

Mas ele é o cara certo, lugar errado, hora errada?

Eu recuo e me distraio, deslizando o capuz do rosto pálido de


Cohen Rose, com cuidando para não deixar meus dedos tocarem a
carne fria e dura. Pense em algo nojento.

Dax se vira enquanto Ronnie observa a reação de KK. Talvez seja


cruel arrastar Cohen pra cá assim, talvez seja fodido pra caralho, mas o
que posso dizer? Quando a vida lhe dá limonadas, você esguicha o suco
no olho de alguém que merece.

KK deixou a mãe do bebê de Ronnie no quarto de hotel em


Milo; deixaremos Cohen no dela.

— Assinado, selado e entregue, — Dax diz com uma pequena


pitada de sotaque do Meio-Oeste. Suas palavras são frias, geladas pra
caralho. Talvez até mesmo... um pouco assustador? Um arrepio toma
conta de mim de novo e eu cruzo os braços em meus seios enquanto eu
olho para ele.

~ 39 ~
Jesus.

Eu tenho uma queda gigante por ele. Preciso dar o fora daqui
antes de agir sobre isso. Mais uma vez. Antes que esses sentimentos
estranhos que me superaram no clube de strip desabem e eu comece a
me preocupar com Dax e Naomi, comece a ficar com ciúmes, comece a
me importar demais.

Quando KK pisca uma vez, duas, três vezes e depois começa a


gritar, nos despedimos e deixamos a porta bater atrás de nós.

— Pelo menos eu sei que há alguém aqui que está tendo um dia
fodido como eu estou, — Dax diz enquanto ele puxa um saco plástico do
bolso de trás e esparrama o que é que está lá dentro. Parece com um
cigarro, provavelmente não é.

Droga. Eu quero salvá-lo de si mesmo tanto que dói.

Dax é solitário; Dax é triste; Dax precisa de mim. Eu gosto de ser


necessária.

E ele é tão bonito. Eu poderia morder esse cara dele.

Nenhuma das opções acima são boas razões para eu ficar por
aqui.

— Ei, — eu digo quando ele desbloqueia a porta e Ronnie para


atrás de mim, a cadeira de rodas de Trey carregado com o moletom de
Cohen descartado, luvas e sapatos. Agora só tenho que descobrir como
levar a cadeira vazia de volta ao nosso lugar sem ninguém notar. Eu
suspiro e olho para Dax, segurando a porta aberta e olhando para mim
como se ele não estivesse certo do que vem a seguir.

Enfio meu lábio inferior sob meus dentes e sinto o sabor de


limonada do brilho labial quando eu olho para ele de debaixo da minha
franja loira. Quando ele pisca para mim, eu vejo as palavras Born Wrong
nas suas pálpebras. A frase me faz lembrar o flash de dor que eu vi

~ 40 ~
atravessar seu rosto antes. Eu quero perguntar sobre isso, mas... — Eu
tenho que ir, — eu digo a ele ao invés.

Merda. Realmente parece que eu estou fugindo daqui. Porra.

— Sim, tudo bem, — Dax diz, sua voz com um sotaque


monótono. Seja o que for que ele está sentindo agora, ele está tentando
segurar, esconder de mim. Mas por quê? Eu sei que ele me quer. Pelo
menos, seu pau definitivamente quer. Ainda está duro como uma rocha.

Eu olho por cima do ombro, o cabelo loiro e liso, brincos


balançando com o movimento. Ronnie e eu trocamos um olhar e ele
sorri, piscando esses aparelhos no dente para mim.

— Eu vou dar à vocês dois um momento, — diz ele, se virando e


empurrando a cadeira de Trey pelo corredor em direção aos caras de
Brayden. Inferno, talvez ele possa desenterrar alguma sujeira enquanto
ele está ali? Eles não chamam Ronnie o Rei Fofoca por nada.

— Não se preocupe, — Dax diz, caindo contra a porta enquanto


eu me viro para olhar para ele novamente. Eu quero agarrá-lo pelo cós
da calça jeans, arrastar sua bunda emo para este quarto e ver quantas
posições podemos fazer antes de ambos desmaiarmos em coma por
causa dos orgasmos.

Sinto um sorriso quebrar meus lábios, assim como eu estou


pensando sobre todas as razões por que seria uma má ideia. Eu quero
me apaixonar. Eu reprimo o pensamento e me afasto. Não. Não é
importante agora. Eu tenho uma vida para fazer. Eu desisti do meu
trabalho para vir aqui e posar para Tattoo Terror e agora... eu só estou
ferrada e tatuada, baby.

— Conseguiu bolar quaisquer planos de assassinato? — pergunta


ele, quase como se ele estivesse relutante em me deixar. Ele estaciona o
cigarro entre os lábios e franze a testa para mim. — Você não tem que
me dizer se você não quiser, — acrescenta ele depois de um momento,
tentando se fazer sorrir.

— Bem, — eu começo, meu olhar indo lá em baixo


novamente. Cristo. Eu não posso manter minha buceta em minhas
calças quando eu estou perto desse cara. Eu poderia muito bem
começar a vender bilhetes para Niagara Falls e abrir as pernas para os
turistas. — Eu estava pensando em aparecer na revista e descobrir o
que diabos está acontecendo. Está tudo bem e tranquilo agora que

~ 41 ~
Turner tem uma mansão no nome dele, mas eu ainda estou morrendo
de medo.

A boca de Dax se abre um pouco com isso, mas é um pequeno


sorriso triste.

— Sinto muito que você tenha entrado nesta merda.

Eu já estou balançando minha cabeça, encostada no batente da


porta oposta a Dax. Estamos muito próximos um do outro agora. Não
demoraria muito para ele colocar as mãos nos meus quadris ou escovar
meu cabelo para trás, juntar nossas bocas, me arrastar para o quarto e
me jogar na cama...

— Não é culpa sua, — eu digo a ele, honestamente, cruzando os


tornozelos e olhando para meus saltos roxos por um momento. — Nada
disto é, você sabe disso, certo? Nem Naomi ou Blair ou Tara ou Hayden.

Quando Dax não responde, eu olho para cima e o encontro


olhando para a janela na parede traseira de seu quarto. Seus olhos
piscam com dor de novo quando a fumaça do seu cigarro sai pelas suas
narinas.

Maldição. Eu não posso evitar.

Eu agarro seu pulso, fechando os dedos sobre a munhequeira


roxa e preta, e o arrasto para o quarto, fechando a porta atrás de nós.

— O quê? — eu pergunto, mas tudo que Dax faz é levantar as


sobrancelhas para mim. Eu estreito meus olhos para ele. — Eu estive te
observando pelas últimas semanas, Dax. Algo está acontecendo. Algo
novo. O que é? Não é uma coisa America/Stephen, não é?

— Não, — diz ele, mas ele não se preocupa em elaborar, apagando


o cigarro em uma bandeja de prata e colocando-o de volta no saco de
plástico. De uma forma ou de outra, ele vai me dizer. E então quando eu
tenho certeza que ele não vai se machucar, eu vou. Eu tenho que por a
minha vido dos eixos. Preciso. Eu não sou um músico, e eu não vou
apenas viver dos restos do meu irmão. Eu tenho que fazer a minha
própria vida acontecer.

Mas eu também não posso simplesmente abandonar Dax.

— Eu não vou sair daqui até que você me diga, — eu declaro com
firmeza, colocando minhas mãos nos bolsos da frente. Eu consegui
clicar no meu iPod e começar outra lista de reprodução. Desta vez, é

~ 42 ~
tudo do Amatory Riot que vem bombando. A voz de Hayden tem uma
qualidade fantasmagórica que soa muito verdadeiro para a vida, e eu
tremo.

— Nós somos todos almas solitárias que procuram um ouvido


simpático, um coração partido que faz um par perfeito. Eu sou eu, mas eu
também sou você; não há nada de errado em ser dois... metade de um
todo... oh não.

Eu passo a música o mais rápido que posso, deixando


Blondie‘s Call Me tocar.

— Eu odeio essa música, — Dax diz, se recostando na pequena


mesa contra a parede e cruzando os braços musculosos sobre o peito
apertado. Sua camisa do Amatory Riot estende ao longo de seus
peitorais, revelando as duas pontas afiadas de seus mamilos. — Ela
começa com um grande preenchimento de tom, mas a bateria é grave
pra caralho.

— Não se atreva a dar um de baterista pra cima de mim, Sr.


McCann. — eu dou alguns passos para frente e espeto meu dedo em
seu peito. Oh Deus, isso é bom. Rocha pura. Uma imagem de Dax
tocando passa em minha mente, o suor voando por todo o lugar, seu
bíceps contraindo e relaxando enquanto ele bate na sua bateria sem
igual, viajando de meus ouvidos até os dedos dos pés.

Porra.

Ele baixa as mãos para os meus quadris e agarra


com força, arrancando um suspiro de meus lábios.

— Eu não vou sair daqui até que me diga o que está errado, — eu
sussurro, mas minha voz está rouca e gotejando sexo. Eu posso sentir a
forte pressão da ereção de Dax contra a minha barriga e minha
respiração engata dolorosamente.

— Meu pai... — Dax surrurra entre os dentes quando ele me


empurra para trás e nos guia para a borda da sua
cama. Merda. Porra. — Eu realmente não me sinto bem em falar sobre
isso agora. Está tudo bem se eu te foder e explicar mais tarde?

Um suspiro abafado escapa da minha garganta e minhas mãos


vão ao redor do pescoço de Dax quando ele nos empurra no colchão. O
nosso peso combinado faz a cama afundar, nos embalando enquanto
Dax se atrapalha com o meu jeans e eu pressiono uma série de

~ 43 ~
ofegantes beijos no seu rosto. Droga, droga, droga. Eu deveria
ir. Sério. Mas esta é, literalmente, a primeira vez que ele tentou me
beijar, me foder, desde a nossa primeira vez no clube de strip.

Aquela foi uma rapidinha, essa provavelmente vai ser uma


rapidinha... mas eu ainda quero.

E então mais. Eu quero mais. Mais. Mais.

Minha língua se enrola com a de Dax quando ele finalmente


desabotoa meu jeans e abaixa o zíper. Eu o solto com relutância
enquanto ele abaixa meu diz e faz uma pausa nos meus calcanhares,
deslizando o veludo roxo para fora de meus pés. Eu me sustento em
meus cotovelos e assisto avidamente enquanto ele rasga suas próprias
calças jeans e solta seu pau. É espesso e longo e está praticamente
pingando pré-sêmen a partir da ponta.

Dax olha para mim, meu corpo estirado na cama, minhas pernas
abertas, minha calcinha ainda no lugar. Eu estou usando uma calcinha
de zebra, então eu posso ver por que ele a deixou lá, mas eu prefiro que
ele arranque.

— Merda, — ele rosna depois de um momento, passando a mão


pelo cabelo, mas eu já sei o que quase literalmente o faz explodir.

— Procurando por um destes? — eu pergunto, tirando um


preservativo da Indecency de dentro do meu sutiã. Eu sou como uma
Girl Scout4, sempre preparada.

O olhar de alívio naquele belo rosto robusto é precioso.

Dax sobe de volta na cama, ajoelhado entre minhas pernas,


pegando o preservativo de meus dedos com as mãos enluvadas. Pelo
menos o troço deixar as pontas dos dedos nus para que eu possa sentir
o toque de sua pele nua contra a minha.

— O que estamos fazendo? — ele me pergunta depois de rolar a


camisinha nele e nossa posição está um pouco mais precária. Eu estou
literalmente segurando minha calcinha de lado e seu pau está
literalmente tocando minha buceta molhada e inchada. Eu quase
estrangulo sua bunda. — Você não me quer, — diz ele, o que só me
irrita.

4 Uma menina ou jovem que pertence a uma organização internacional para mulheres
jovens que as incentiva a participar de diferentes atividades.

~ 44 ~
— Quem disse que eu não quero? — eu estalo, mesmo que eu
quase desisti do homem esta manhã.

Porra.

— Isso ainda é uma péssima ideia, — Dax sussurra, mas é tarde


demais. Nossos lábios estão unidos, seus quadris estão empurrando, e
eu estou gemendo em sua boca enquanto seu pau me enche. Os
piercings do seu pau deslizam contra minhas entranhas daquele jeito
certo, essas bolas de metal duras e implacáveis dentro do látex como se
elas estivessem do lado de fora.

Dax se inclina sobre mim, torcendo nossas línguas. Ele tem gosto
de cerveja e cigarro, mas eu gosto. Eu gosto de coisas estranhas e sujas
e feias. Quem precisa de algo bonito e perfeito de qualquer
maneira? Ilusão. Fumaça e espelhos. Isso é o que tudo isso é. Isso aqui,
é prazer animalesco puro.

Eu tranco Dax entre as minhas coxas, apertando enquanto ele


bombeia para dentro de mim, enterrando suas emoções dentro do meu
calor. Nós ficamos quentes e pesados, nos movendo juntos em um ritmo
que parece imitar a música que eu ainda posso ouvir tocar no meu iPod
descartado e fones de ouvido.

Boom-boom crash. Boom-boom boom-boom.

Dax me golpeia no ritmo da batida, as nossas carnes se


encontrando em um frenesi emaranhado e suado, uma explosão
selvagem de emoções confusas e turbulentas. O suor escorre pelos seus
braços tatuados enquanto eu corro minhas unhas multicoloridas sobre
sua carne, raspando toda aquela escuridão com o meu brilho. Quando
eu vejo a cor em meus braços se misturando com ele, eu aperto mais
ainda e ele geme, me moendo no colchão quando a cabeceira da cama
bate na parede e outra música começa. São músicas da Indecency, algo
com o velho Travis no baixo. Soa ainda melhor com o barulho do
colchão, nossas respirações ofegantes, os suspiros que conseguem
deslizar seu caminho pelos meus lábios.

O corpo de Dax monta em cima de mim, movendo meu clitóris


contra sua pélvis enquanto ele empurra, seus olhos cinzentos abrem e
olham diretamente nos meus. Eu não posso evitar. Eu gosto dele. Eu
realmente gosto.

Minhas mãos vão para cima e deslizam ao longo dos lados de seu
rosto, em seu cabelo escuro, que está se transformando lentamente em

~ 45 ~
loiro nas raízes. Me deixo envolver nele enquanto eu trago o seu rosto
para o meu para outro beijo.

Quando nossas bocas se encontram novamente, meu corpo se


aquece com a realidade da situação.

Eu não quero deixar Dax. E eu quero me apaixonar.

Adicione essas duas coisas e você tem os ingredientes básicos


para a receita mais mortal do planeta.

Romance.

Estou tão fodida, não estou?

Fodidos salto altos cor-de-rosa - com jaqueta de pele do


leopardo. Isso é exatamente o tipo de besteira chique retro inútil que eu
gosto de usar, especialmente quando eu posso comprá-los com o meu
próprio dinheiro. Eu deslizo meu cartão de débito através do balcão e
mordisco o lábio inferior, degustando o gosto do brilho labial e um
pouco de sangue. É um hábito que eu tenho feito todo o maldito dia. Eu
consegui disputar minha saída sem levar um guarda-costas para esta
pequena excursão. Bem, ok, então realmente meio que escapei, mas
quem diabos se importa? Meu irmão mais novo? Foda-se Trey e sua
súbita superproteção.

Eu posso ou não ter deixado a sua bunda aleijada deitada na


cama de Ronnie e Lola quando eu saí. Talvez isso vá ensinar a pequena
cadela alguma humildade.

Eu olho ao redor da loja, as prateleiras de roupas usadas e os


poucos fregueses se que misturam. Não tem ninguém olhando em
minha direção, então eu acho que a barra tá limpa. Quem diabos vai me
reconhecer, afinal? Eu não sou um membro de qualquer banda, só
estou vagamente ligada a eles em primeiro lugar. Parte de mim quer
pegar algum do dinheiro de Trey e apenas ir o mais longe daqui que eu
posso, mas eu sei que não posso fazer isso. Eu não vou fazer isso, não
com os meus meninos, todos os irmãos que eu coletei com Trey ao

~ 46 ~
longo dos anos. Ronnie pode ser capaz de lidar com ele, mas Trey,
Turner e Jesse? Nah. Se eu pegasse um avião hoje e fosse embora, eles
estarão provavelmente todos mortos dentro de uma semana, ou ainda
pior - quebrados. Alguém tem que ficar por aqui e verificar se eles não
fodem tudo. É verdade, eles conseguiram se dar bem sem mim por um
longo tempo, mas, basta olhar para a bagunça que eles próprios se
meteram em primeiro lugar. Até mesmo Travis, que Deus tenha sua
alma, conseguiu estragar tanto que ele fez com que o governo ficasse de
olho.

E tudo isso ainda não é a verdadeira razão pela qual eu estou


aqui.

Fodido Dax McCann.

Meu corpo se arrepia e minha respiração trava. Merda.

Eu bufo e sacudo a cabeça, aliviada quando o caixa me entrega o


meu cartão de volta. Eu sei que há dinheiro lá, mas eu realmente não
estou certa de quanto. Quando eu fico ansiosa sobre algo, eu paro de
prestar atenção nisso. Ficar sem dinheiro? Pois bem, não olhe para a
conta. Essa história me deixa em apuros às vezes, mas eu gosto de viver
despreocupada, sabe? E mesmo agora, sabendo que Trey está rico o
suficiente para limpar a sua bunda aleijada com notas de cem, eu não
consigo me livrar dos pobres, não posso esquecer o parque de trailers. É
uma parte de mim e eu acho que sempre será. Não necessariamente
uma coisa ruim, na minha opinião.

Agora, se eu pudesse apenas parar de ignorar a outra grande


coisa que eu estou ansiosa. Se você pensou que é o cadáver que deixei
no quarto de hotel de KK, você pode estar errado. Isso começa com um
D, termina com um X, e tem tatuagens de zumbis em seu
braço. Sim. Isso. Eu ainda estou sobre o assunto disso.

— Tenha um bom dia, — diz a caixa quando eu passo meus dedos


através dos dedos dos meus sapatos de segunda mão e os deslizo para
fora do balcão. Dou a ela uma piscadela e coloco na boca um chiclete,
então eu estou na rua, de pé no sol e desejando que eu tivesse a porra
do meu conversível comigo. Milo diz que vai cuidar disso, mas quem
diabos sabe?

As pessoas se movem em torno de mim, sacos de compras


balançando, o foco em qualquer dose de drama diário que eles estejam

~ 47 ~
enfurnados, enquanto eu apenas desfruto do anonimato de tudo. Sem
multidões, sem guarda-costas, sem merdas.

Eu amo isso.

Mas eu também sinto falta de Dax.

— Merda, — eu estalo, jogando meus sapatos sobre um banco


quando algumas velhas estreitam os olhos para mim e fazem o sinal da
cruz sobre o peito. Eh, eu estou acostumada a isso. Eu pego um cigarro
da minha bolsa, acendendo e expirando uma nuvem de fumaça para se
juntar à fumaça pairando sobre a cidade. Eu odeio Los Angeles. —
Cidade dos anjos, minha bunda, — murmuro, me inclinando para trás
e jogando meus braços sobre o encosto do banco. Refrigeração em
Melrose Avenue durante todo o dia pode ser tudo de bom, mas eu não
posso sentar aqui e sonhar com um menino de olhos cinza e dedos frios
o suficiente para me relaxar até o osso. Balanço a cabeça e solto meu
cigarro no chão, esmagando-o com a ponta do meu salto roxo. Fodido
Dax. Se eu sou honesta comigo mesma, eu sei por que meu cérebro está
todo fodido, e não é apenas porque eu de alguma forma consegui perder
o meu contrato de modelo com Tattoo Terror.

Ou que eu fui fodida em um colchão sujo de hotel como uma


vadia.

Não.

Não é o sexo que está me assustando. É todo o resto.

Eu tenho uma queda. Uma grande. E é tão bom que chega a


doer. Eu poderia estar na cidade agora, mas minha mente ainda está
naquele quarto de hotel com Dax. Se eu não tivesse saltado da cama
depois do orgasmo e me retirado como uma velocista olímpica, eu
provavelmente ainda estaria deitada lá, abraçando o baterista do
Amatory Riot.

Ahhhhh. Eu realmente preciso de um namorado ou dois ou dez


para tirar essa merda de mim. Acorde, Naomi fodida Knox. Alguns
conselhos femininos seria bom demais agora.

Eu suspiro novamente e corro minhas mãos sobre o meu rosto,


enquanto o sol bate sem piedade em cima de mim e tenta cavar seus
dedos pouco desagradáveis de melanoma em minha carne. Eu poderia
ir para casa, fazer alguns coquetéis de frutas, me deitar à beira da
piscina e ser uma cadela com Lola. Ela é definitivamente material para

~ 48 ~
namorar. Mas eu me fiz uma promessa hoje, e eu não vou deixar um
minúsculo problema, como o verdadeiro amor ficar no meu caminho.

Hah.

— Foda-se isso. — eu me forço aos meus pés e puxo o meu


telefone da minha bolsa. Eu tenho o endereço para o estúdio ali mesmo,
salvo em meus contatos. Ninguém responde meus e-mails, meus
telefonemas, minhas mensagens. Foda-se isso. Eu vou pessoalmente.

Sydney Charell em pessoa é quase impossível dizer não.

Eu sorrio e chamo um táxi.

Nem todo mundo acredita em fantasmas e essas merdas como eu,


mas se eles vissem o rosto da mulher, eles mudariam de ideia muito
rápido. Ela está branca como um lençol - e isso é com um espetacular
bronzeado colorindo suas características. Acho que a minha presença é
suficiente para drenar o sangue dessa cirurgia plástica que ela fez
nessas bochechas perfeitas dela.

Eu levanto uma sobrancelha loira.

— Você é surda, mulher? — eu pergunto, passando minhas


unhas multicoloridas através da bancada de quartzo. — Sydney Charell,
pesquise. — eu aponto para o iPad abandonado ao seu lado da mesa e
tento não deixar a Sydney louca aparecer. Minhas emoções estão por
todo o maldito lugar agora, torcidos em sonhos de um homem tão
quebrado que tudo que eu quero fazer é dedicar o meu tempo livre para
concertá-lo. Dax McCann, seu idiota. Eu arrasto minhas unhas no
balcão e vejo como a mulher endireita seu paletó e respira fundo.

— Eu sei quem você é, — diz ela e, em seguida, permite que a


boca se estabeleça em uma perfeita pose profissional que me irrita pra
caralho. Eu posso cheirar a grosseria a mil milhas de distância, e eu
estou cerca de noventa e nove por cento certa que ela está prestes a
dizer algo que nós duas vamos pesar de manhã. — Você é aquela
stripper que nós dispensamos.

~ 49 ~
Eu franzo os lábios e dou um passo para trás. Eu poderia virar
uma Turner Fodida Campbell e bater na cadela, mas então eu
provavelmente seria presa. As pessoas não parecem saber como lidar
com suas merdas sem envolver os policiais. O que aconteceu com a
possibilidade de brigar para sua própria honra?

Eu olho em volta para as palmeiras em vasos, as cadeiras caras


de couro branco e o piso de concreto polido. Do lado de fora, está
fazendo um milhão de graus, empoeirado e quente e tão... tão Sul da
Califórnia. Aqui, na forma típica de Los Angeles, o ar condicionado no
máximo, deixando meus mamilos duros. A secretária percebe e enrola o
lábio, mas eu não me importo. Esta cadela não é nada para mim; eu
conheci mil e uma como ela. É realmente fácil olhar feio para outra
pessoa, porque você não entende, porque tudo que você sabe sobre a
sua vida é o que você já viu em fotos. Ser uma stripper é uma porcaria,
mas o mesmo acontece sobre sentar em um cubículo todo o maldito
dia. É um trabalho, apenas um trabalho, e isso não me define. Mesmo
assim, eu também não tenho vergonha disso.

— Sim, eu sou aquela stripper que você achou e depois


dispensou. Eu quero falar com... — faço uma pausa por um momento
tentando lembrar o nome do meu contato, a mulher que eu deveria
encontrar em contato alguns dias atrás para me preparar para as
fotos. — Mag Delano. Você pode ver se ela está, por favor?

— Mag não atende sem hora marcada, — diz a mulher, me


esnobando e fingindo que ela não cagou um tijolo quando entrei por
aquelas portas e me anunciei. — Se você tem hora, eu vou ficar feliz em
te levar até ela. Se não, eu sinto muito, mas você vai precisar verificar o
nosso site para mais informações sobre o processo de candidatura. — a
mulher suaviza a saia bege por baixo dela e se ajeita como se a
conversa estivesse terminada. Para mim, ainda nem começou.

— Na verdade, eu tinha hora, para ser honesta com você, o qual


era suposto ser hoje, aqui e agora. — tenho arrepios só de pensar nisso,
sobre o fato de que esta iria ser minha grande chance, o dia da minha
primeira sessão. Em algum lugar neste edifício enorme, eu estaria atrás
de uma câmera com o meu corpo em exposição como um bolo. Esta era
a oportunidade de mudar, virar minha vida para algo que eu nunca iria
me arrepender. — Me disseram que alguém iria entrar em contato
comigo sobre remarcar, mas ninguém parece querer falar comigo,
inclusive você. Não pense que eu perdi aquele olhar em seu rosto

~ 50 ~
quando eu entrei aqui. — aponto para a secretária. Eu tenho notado
que as pessoas realmente odeiam ser apontadas. É uma boa maneira de
chatear alguém sem fazer nada. — Agora, Mag Delano. Ela não é tão
grande assim que ela não pode me ver rapidinho.

— Senhorita Charell. — a voz atrás de mim envia um frio na


minha espinha, uma sensação de mau agouro que me faz cerrar os
dentes para não deixa-los bater. Que diabos esse idiota está fazendo
aqui? Eu viro lentamente e olho para Brayden Ryker com toda a
confusão e frustração que eu estou sentindo agora.

— Stalker? — pergunto com um breve elevar de ombros. Ver esse


cara aqui me dá calafrios. Ele não sabia, mas ele sabe agora. Depois de
tudo o que aconteceu no show, e a maneira como ele cobriu tudo, ele é
quase tão transparente e legível como um relatório da CIA. Eu não
confio nele. Considerando que ele é provavelmente uns trinta quilos
mais pesado do que eu, isso não é demais.

Brayden Ryker cruza os braços sobre o peito e sorri para mim,


todo iluminado e alegre. Jesus Cristo. Talvez ele encontrou o corpo? Eu
volto para a secretária, dando a ela o meu melhor sorriso de tubarão,
toda dentes e nada feliz.

— Por que você não anota meu número e pede a Mag pra me ligar
de volta quando ela tiver tempo? Parece que algo está pra vir. — a
cadela atrás do balcão com muito má vontade me dá um cartão de
visita e uma caneta, esperando com os lábios franzidos enquanto eu
anoto meu número e o lanço de volta para ela.

Quando eu volto a olhar para Brayden, ele se foi, do lado de fora


das portas de vidro na luz do sol amarela e do calor da cidade
opressiva.

— Você me seguiu ou algo assim? — pergunto quando eu paro ao


lado dele, acendendo um cigarro e me perguntando por que, por que,
por que eu tinha que me envolver em toda essa merda. Encaro o guarda
de segurança, desde suas botas até suas tatuagens florais. Para alguém
que está no negócio de proteger os outros, ele com certeza deixa muito a
desejar. — Você não está realmente na segurança, está? — eu pergunto
e Brayden dá de ombros, como se ele não tivesse a intenção de
responder a minha pergunta.

— Você gosta de música, senhorita Charell? — ele me pergunta


enquanto se encosta contra as janelas de vidro atrás de mim e espero

~ 51 ~
que eu esteja deixando impressões ou marcas ou algo que a secretária
terá de vir limpar. Conhecendo Los Angeles, porém, isso provavelmente
vai ser algum pobre coitado mal pago com muito trabalho e nenhum
respeito.

— Sim, eu gosto, — eu digo, inclinando a cabeça para o lado e


deixando meu cabelo loiro cair por cima do meu ombro. — A maior
parte música dos anos oitenta, pop de vez em quando. Eu acho que eu
gostaria mais de rock 'n' roll se meu irmão não estivesse envolvido. —
eu sorrio com força. — Por que você dá a mínima para isso?

— Eu não dou, mas eu percebi que seria bom jogar conversa fora
enquanto esperamos a van.

— Que porra de van? — pergunto como uma mini van branca faz
uma curva na esquina.

— Aquela, — Brayden diz, enrolando os dedos ao redor do meu


braço. — Entre. — a força do seu aperto me diz que não é uma sugestão
- é uma ordem.

— Você está chateado por ter deixado o corpo no quarto do hotel


de KK? — pergunto, logo que as portas estão fechadas contra o calor
sufocante. Não há porque fazer rodeios; Brayden já deve saber sobre o
corpo. Ele pode ser um guarda de segurança de merda, mas tenho a
sensação de que sua inadequação nessa área é por opção. O homem é
um animal perceptivo. — Porque você que começou e eu definitivamente
não estou pedindo desculpas.

Brayden me ignora, passando seus braços sobre o encosto do


assento e fechando os olhos por um longo momento. Eu mantenho
meus pés cruzados e finjo que eu não dou a mínima por ter sido meio
que sequestrada pelo Irlandês bruto e sexy.

— Qual é o seu negócio de qualquer maneira? Deixar um corpo


morto em uma banheira? Quer dizer, eu não sou nenhum santo, mas
esse é bem fodido.

~ 52 ~
— Isso foi inteligente, usar a cadeira de rodas e tudo. Você acha
que foi mais inteligente?

— Talvez, — eu digo, batendo os dedos contra a minha coxa e


desejando que eu estivesse em qualquer lugar, menos aqui. De
preferência nua na frente de uma câmera no estúdio Tattoo Terror. Em
vez disso, eu estou tecendo pelas ruas de Los Angeles na parte de trás
de uma van branca com placas de Oregon. Divertido. — Por quê? Você
está procurando contratar novos recrutas? Porque eu preciso de um
emprego e vamos apenas ser honestos, você é uma merda em fornecer
segurança.

Brayden ri, mas o som é amargo e quebrado, como se ele fosse


um homem que não tem mais nada a perder. Maravilhoso. E isso não o
faz parecer assustador.

— Sydney Magnolia Charell, como é que você gosta de sua vida?

— Essa não é uma pergunta estranha, — eu digo, cruzando os


braços sobre os meus seios enquanto o rádio passa a tocar uma canção
da Amatory Riot e a bateria de Dax vêm golpeando em mim. O som fica
sob a minha pele e me faz mexer em meu assento e o couro ranger sob
o meu jeans apertados. Minha buceta dolorida é um lembrete quase
constante do que fizemos esta tarde. — Não posso me queixar, eu
acho. Eu não estou agindo como louca, não estou trabalhando como
prostituta e atualmente estou no controle de todos os quatro
membros. Por quê?

— Porque você está marcada pelas famílias, — Brayden responde,


como se ele não desse a mínima de estar falando em línguas estranhar
e me assustando pra caralho. Eu não vou acabar enterrada, vou? —
Bem, uma família de qualquer maneira. Não tenho a menor ideia do que
se passa com o outro.

Me viro para Brayden e passo minhas mãos contra meus lábios.

— Olha, isso vai soar um pouco... mal-intencionado, mas você


pode falar inglês? Sei lá, de uma maneira que eu possa entender,
porque marcada pelas famílias realmente não significa nada para mim.

Brayden Ryker se inclina para perto, seus olhos verdes me


encarando. Se eu fosse uma pessoa mais fraca, eu desmoronaria sob
esse olhar. Mas porra, eu estive na merda desde que eu tinha dezesseis
anos e já vi muita coisa. Eu nem tenho certeza se há uma pessoa viva
hoje que poderia me quebrar com um olhar.

~ 53 ~
— Imagine que você tenha... dinheiro. Muitos. O suficiente para
que você possa ter o que quiser. Qualquer coisa.

Eu levanto uma sobrancelha e me aproximo, sacudindo meu


brinco rosa com os dedos. Era da minha mãe. Ela usava quando ela era
gostosa na década de oitenta. Eu meio que tenho uma queda por essa
década. Não posso evitar.

— Ok... isso é como você me pedir para imaginar um triângulo


com quatro lados, mas continue. Eu posso seguir uma linha de
pensamento como ninguém.

— Agora imagine que você tenha parado de apreciar até mesmo o


mais básico das coisas como luxo, conforto ou sexo. — eu levanto a
outra sobrancelha e abro meus lábios com um pop.

— Continue.

— Então, imagine que as únicas coisas que você dá a mínima,


essas coisas muito especiais são então levadas para longe de você por
alguém que você odeia.

— Você pode ir logo ao ponto? — eu pergunto, girando meu dedo


em um pequeno círculo. — Porque eu tenho uma sensação de que você
está prestes a lançar alguma merda em mim. — eu deveria ter ficado em
casa com os meninos - ou ficado no hotel, com Dax. Eu engulo em seco e
fecho os olhos por um breve segundo, abro-os de volta com um
movimento dos cílios.

— Então, o que você faz? — Brayden pergunta, inclinando a


cabeça para o lado enquanto nós paramos em um bloco e viramos para
o portão da mansão. Um círculo completo. Tudo sempre vem em um
círculo completo.

— Eu pego essas coisas de volta? — eu pergunto, não tendo


certeza se há uma resposta certa para esta pergunta.

— E se você não puder?

— Então eu acho que eu me contentaria com um prato fumegante


de uma boa vingança.

Brayden Ryker sorri para mim, se inclina e abre a porta da van.

— Exatamente. Então esqueça seu contrato, esqueça Mag Delano,


e esqueça um futuro se não podemos resolver essa merda. Se lutar
contra a maré, você vai perder. Confie em mim, eu tentei isso uma vez e

~ 54 ~
não funcionou muito bem para mim. Agora, saia e não saia de casa
novamente sem um maldito guarda-costas.

~ 55 ~
— Você já usou pesos nos tornozelos enquanto você pratica? —
Ronnie me pergunta, de pé na frente de sua bateria com um ligeiro meio
sorriso. Na cama atrás de nós, Treyjan Charell levanta o dedo do meio
quando ele me vê observando-o. Eu acho que o ouvi dizer algo sobre
foder sua irmã, mas que seja. Sydney é uma menina crescida. Tenho
certeza que ela pode cuidar de si mesma.

Pelo menos, eu espero que sim, uma vez que ela não está nem
aqui.

Eu seguro um suspiro enquanto eu enrolo meus dedos em


punhos. Depois de Sydney correr para cima de mim - literalmente - eu
me sentei lá por quase dez minutos e, então, pedi aos caras de Brayden
para me trazer aqui. Mas quando Ronnie me deixou entrar em seu
quarto, ela tinha ido embora. Aparentemente, isso foi uma surpresa
para todos e não apenas para mim.

Eu tento me concentrar em Ronnie McGuire. Quando o Rei da


bateria convida você para uma aula, você assisti, quer você goste ou
não, porra. É um milagre Turner Campbell não estar ao redor. Graças
aos deuses do caralho.

— Para ser honesto, nunca me ocorreu, — eu digo saltando


minhas pernas para cima e para baixo, testando o peso extra sobre os
meus tornozelos. Alguma parte distante de mim está emocionado que
eu estou tendo aula de um deus do rock, mas a parte mais presente,
mais cínica, está me lembrando que esse cara passou uma década
inteira ficando doidão e derivando ao longo da vida em envenenadas
nuvens doces. Como diabos ele é tão bom como ele é? Talvez ele só tenha
descido todo o inferno sobre a bateria? Eu não sei.

— Eu sempre pratico saltos para cima e saltos para baixo com os


pesos, — Ronnie continua com Lola Saints observando de uma cadeira
próxima, os olhos fixos em seu novo namorado, as mãos cruzadas sobre
o joelho. — Fique por um tempo assim e então atire os pesos de

~ 56 ~
lado. Vai se sentir como se estivesse em alta velocidade ou algo assim.
Seus malditos pés voam. Confie em mim, é incrível.

— Você sabe, é quase como se você levasse essa coisa de bateria a


sério, — Lola faz piada, jogando a Ronnie uma piscadela que ele retorna
com um olhar longo e persistente que me deixa desconfortável como o
inferno. Eles acabaram de se conhecer. E eles já têm esse olhar amoroso
que as pessoas matam para ter.

Eu suspiro e giro as baquetas nos meus dedos. Quando eu


concordei em vir aqui, eu meio que tive a impressão de que Sydney
acabaria por aparecer. Eu sei que é estúpido como o inferno, mas eu
estava esperando que ela viesse me ver tocar. Em vez disso, uma hora e
ela ainda não voltou. Eu não deveria ligar. Mas eu ligo sim. Maldição.

— O que diabos está acontecendo aqui? — Turner Campbell


pergunta, aparecendo na porta com as mãos dobradas nos bolsos da
frente. Eu abafo um gemido e tomo uma respiração profunda. Tanto
para malditos milagres. Nunca xingue os deuses. Eles devem me
odiar. Os olhos de Turner vão para mim, as sobrancelhas escuras
arqueando enquanto ele me olha com um sorriso irritante. Meus dedos
apertam em torno das baquetas até que eu consigo ouvir uma pequena
rachadura. Sim, eu o odeio tanto assim. — Tentando ensinar ao
pequeno baterista uma coisa ou duas? — ele pergunta a Ronnie,
entrando, usando uma camiseta branca que diz R-E-S-P-E-C-T-
ME5. Hilariante.

— Pergunta, — eu digo, baixando as baquetas e me levantando do


banquinho, cruzando os braços sobre o peito. — Por que eu sou
um pequeno baterista, mas Ronnie não é? Hã? Eu pensei que você disse
que bateristas eram tão comuns? — Turner revira os olhos como se eu
fosse o único idiota.

— Eu disse que bateristas bonitos era comuns. — Turner estala


os dedos, os olhos castanhos brilhando. Algo deve ter acontecido com
Naomi no hospital, algo de bom. — É evidente que Ronnie não é bonito,
— diz Turner, dando a seu amigo uma desaprovação mais uma vez. — E
ele é velho pra caralho, então ele não conta como um menino
também. Ele pode ser uma prostituta que ama ter meia dúzia de
crianças, mas ninguém nunca disse os deuses eram infalíveis,
certo? Nós cometemos erros aqui e ali.

5 É um símbolo anti bullying.

~ 57 ~
— Nós? — pergunto, não em tom divertido. Algumas pessoas
pensam que Turner é bonito ou charmoso ou qualquer outra coisa, mas
eu não. E não é só porque eu não sou gay ou bi ou o que quer que seja,
mas só porque ele é chato. Pra caralho. Deus, eu odeio ele.

— Sim. Nós. — Turner desliza um cigarro do bolso e acende


enquanto nós encaramos um ao outro. — Tem algum problema com
isso?

— Se acalmem, — Sydney diz, entrando no quarto atrás de


Turner e batendo com força na bunda dele. Percebo que ela está apenas
de brincadeira, mas caramba. Em um instante, eu vou de irritado para
enfurecido, como se eu estivesse a cerca de dois segundos de pegar
essas baquetas e empurrá-las goela de milhões de dólares de Turner
Campbell. Estúpido filho da puta.

Meus olhos capturam Sydney enquanto ela deita na cama e joga


um par de sapatos de salto alto rosa ao lado de seu irmão.

— Onde diabos você estava? E onde está a minha cadeira? Por


que diabos ninguém me escuta? — todos nós continuamos ignorando
Trey. Eu quase sinto pena do cara. Claramente ele é o elefante branco
na sala.

— Eu apenas tive uma conversa muito interessante com Brayden


Ryker, — Sydney diz, se sentando na beirada da cama, deslizando seus
saltos roxos para fora de seus pés enquanto eu assisto, completamente
e totalmente arrebatado por esta mulher. A maneira como ela se move,
o jeito que ela fala, é como se ela tivesse encarnado confiança. Se eu
estivesse em um lugar melhor, eu... eu não sei. Iria persegui-
la? Namorá-la? Meus pensamentos vão até a nossa rapidinha na parte
de trás que clube de strip.

Eu só quero que você seja minha. Eu nem ligo para o que você
gosta de comer ou onde você cresceu. É essa coisa primal comigo, e eu
não sou uma pessoa primal.

Eu seriamente disse essa merda? Meu mecanismo pateta de me


safar emerge e eu tenho que cerrar os dentes para reprimi-lo. Se eu
começar a citar o filme Jerry Maguire, eu nunca vou conseguir sair
deste quarto vivo.

Sydney, você me completa.

~ 58 ~
Eu tusso e afasto antes de pensar em quaisquer outros
pensamentos idiotas.

— Brayden Ryker? — eu pergunto e percebo que a minha voz está


muito próxima de um rosnado. Turner me lança um olhar estranho e
enfio os dedos atrás da cabeça.

— Sim, — diz Sydney. Eu olho para ela e a observo trocar seus


sapatos por sapatilhas de leopardo. Meu pau fica duro e minhas mãos
se fecham em punhos tão apertados que eu tiro sangue com minhas
unhas. — Eu ia dizer do que se tratava, mas eu não sei exatamente. Eu
acho que ele deu a entender que nós somos peões em um tabuleiro de
xadrez para pessoas ricas, mas isso é apenas a minha interpretação.

— Onde você falou com ele? — Ronnie pergunta, os olhos afiados


e focados em Sydney. Ele faz uma pausa por um momento para trocar
um olhar comigo antes de olhar para a irmã de seu amigo. — E ele, uh,
mencionou o nosso pequeno passeio? — código para despachar um
cadáver, huh?

— Eu tinha que sair daqui, — diz Sydney, trabalhando


freneticamente na fivela do seu sapato. — Eu precisava de um pouco de
ar. Ele me encontrou na Melrose Avenue. Não faço ideia de como ele me
encontrou lá. E sim, ele fez. Mencionou isso, quero dizer.

— Dax deve ser um namorado muito sufocante, huh? — Turner


pergunta, olhando para os tetos abobadados, como se ele já tivesse se
esquecido sobre o comentário de Brayden Ryker. — Esse emo sufocou
você mesmo?

— Turner, se você não calar a boca, eu vou chutar sua bunda


como eu fiz durante a entrevista.

Seus olhos castanhos me encaram e Turner baixa seus braços


para os lados, enrolando as mãos em punhos.

— Você chama isso de chutar minha bunda? Se bem me lembro,


eu tinha você de costas no chão.

— Só porque eu fui golpeado por uma porta durante o fodido


tornado. Estou me sentindo muito melhor agora. Quer tentar
novamente?

— Bom Deus, Jesus Cristo, — geme Sydney no mesmo momento


que Milo Terrabotti abre a porta do quarto com uma batida

~ 59 ~
hesitante. Seu rosto quando ele espia para dentro não é exatamente
agradável. Ele se parece com um cão chutado prestes a receber
carinho. Reconheço-o bem. Meu pai fez com que eu soubesse como me
esconder em um canto como um bom menino.

— Paulette Washington está lá embaixo, — Milo diz, sua voz uma


pergunta e seus olhos focados inteiramente em Turner. A roda
estridente precisa de graxa, certo? — E ela tem todo um grupo de
câmeras com ela.

Há um contrato em cima da mesa na minha frente, mas eu não


acho que eu possa ler. Estou muito ocupado sentado lá pensando sobre
o quanto eu gostaria de socar o rosto de Paulette.

— Não tenho certeza que parte do não você não parece entender,
— Ronnie diz, enquanto dá a Paulette um olhar duro. — É N A Ó tio. —
eu estudo o rosto de Paulette quando a voz de Sydney ecoa em torno de
dentro do meu crânio. Então Paulette é irmã de America. Eu não vejo a
semelhança, não fisicamente de qualquer maneira. Mas eu acho que ele
está lá nos movimentos praticados que ela faz, o brilho calculoso nos
olhos, a curva eficiente de seus lábios.

— Eu pensei que depois da nossa conversa na noite passada você


teria mudado de ideia? — Paulette diz, seu cabelo escuro pendurado em
ondas suaves em torno de seus ombros. Ela anda em um grande círculo
em torno de nós, como um predador observando sua presa.

— Você realmente ainda é o dona desta casa? — Ronnie pergunta,


mudando de assunto enquanto ele a segue com seu olhar e eu olho
para a impressão preta e branca no papel na minha frente. Sydney está
sentada ao meu lado, nossas coxas a escassas polegadas. Eu
propositadamente ajusto a minha perna, batendo contra a dela. Quando
eu olho para cima, eu a encontro olhando diretamente para mim.

— Que pergunta boba, — Paulette diz enquanto faz uma pausa na


frente da mesa e repousa a palma da mão na minha frente. Quando eu
consigo arrancar meu olhar para longe de Sydney, acho que ela está

~ 60 ~
olhando para mim também. — É tão bom finalmente conhecê-lo,
Dax. Eu sou uma grande fã.

— Claro que é, — eu digo, me inclinando para trás e empurrando


o contrato para longe. Há um monte de dígitos naquele pedaço de papel,
mais dinheiro impresso em Times New Roman do que fizemos em
direitos autorais no ano passado.

— Escute, eu posso falar francamente? Eu prefiro não dançar


sobre assuntos sensíveis. — Paulette bate suas unhas pintadas sobre a
mesa e, em seguida, se inclina para trás, mostrando uma fatia de
perfeição da saia e saltos nude. Bonita, mas não digna. Parecer assim
não é acidente. Cada detalhe de seus brincos até as três pulseiras de
ouro no seu pulso são planejados. Assim como America. Exatamente
como America.

Eu afasto as imagens de Naomi Knox levantando uma arma e


apontando para a nossa empresária. Eu não quero me lembrar
disso. Eu não posso. Aqueles poucos minutos no palco foram um
inferno completo e absoluto. Eu assisti Blair levar um tiro, vi respingos
de sangue em todo o piso de madeira debaixo dos meus pés e eu estava
impotente para parar o maldito caos.

Corro os dedos pelo meu cabelo e olho para Sydney


novamente. Ela não está olhando para mim mais, mas diretamente para
Paulette Washington.

— Então, eu matei Cohen Rose na noite passada. Sim, eu vou


admitir isso. É isso que está te incomodando?

Eu não sou o único levantando as sobrancelhas com surpresa.

— Você... fez o quê? — Jesse, o guitarrista da Indecency,


pergunta. O cara parece que está prestes a ter um ataque. O resto de
nós... já ouviu falar disso até cansar. Já nos acostumamos com
situações como esta. A primeira vez que um cara louco despeja a sua
mãe morta no seu hotel, você enlouquece. A próxima vez, quando uma
cadela louca em um terno admite ter matado o cara morto que estava
em seu quarto de hotel no início do dia, você não se importa tanto.

Eu me inclino para trás e fecho os olhos.

Talvez eu deva fazer uma nova tatuagem hoje? Por que não? Eu
estava tentando guardar um pouco de pele para mais tarde, mas

~ 61 ~
inferno, há uma boa chance de eu não ir tão longe, então pra que me
importar? Outro zumbi ou fantasma ou ceifador deve ir muito bem.

— Você fez Brayden Ryker o colocar na minha banheira, —


Ronnie diz, ignorando Jesse e Turner e Trey. Os três parecem que
acabaram de ser chutados nas bolas. Bom para eles. Pelo menos
alguém ainda tem espaço para choque.

— O que mais eu ia fazer com ele? — Paulette diz, arrastando


alguns papéis e sorrindo para nós, seu olhar indo todo o grupo como se
ela estivesse prestes a dar uma apresentação para uma sala cheia de
executivos de negócios. — Eu queria que vocês soubessem que eu estou
tomando o manto da minha irmã com toda a devida seriedade. Quer
dizer, a menos que vocês queiram a família Hammergren matem
vocês. Eu posso deixar que isso aconteça também. Cabe a vocês: reality
show ou morte. Parece uma escolha fácil para mim.

Eu olho as páginas, pego a caneta e assino o meu nome.

Se todo mundo está olhando para mim quando eu saio por aquela
porta, então que se foda.

Eu não vou morrer por causa de algum rancor estúpido. Se isso


significa que eu tenho que deixar que uma câmera siga meu rabo por aí,
então eu vou ter.

Posso garantir que não haverá muito pra ver.

— Dax, espera.

A voz de Sydney me envia arrepios na espinha, mas eu não quero


parar de andar até que eu bato na porta, parando assim quando eu
olho para a rua e a multidão que simplesmente não parece querer ir
embora. Em algum momento eles têm que se cansar de nós,
certo? Certo?

— Você assinou o contrato também? — eu pergunto quando olho


por cima do ombro para ela. Sydney está olhando de volta para mim, os

~ 62 ~
olhos três tons mais claros do que o céu, porra. Se não tivéssemos uma
audiência, eu ia virar e deslizar os dedos ao lado de seu rosto, pegar
sua cabeça em minhas mãos e beijá-la suavemente, saborear seu brilho
labial, deixar sua confiança fluir da sua boca até a minha.

Talvez seja uma coisa boa que haja algumas centenas de fãs
loucos do lado de fora do segundo portão?

— Você assinou, — diz Sydney e depois dá de ombros como se


isso fosse explicação suficiente. Será que o que eu faço importa pra
ela? Devo me importar? Deus, mas eu realmente me importo muito. —
Além disso, você me conhece, eu só faço coisas por fazer. De qualquer
forma, o meu contrato com Tattoo Terror está, sei lá, oficialmente
cortado. Queimado como uma batata frita.

Sydney suspira e se move para frente, enrolando os dedos em


torno das barras verdes do portão. Eu faço o mesmo, meus dedos
tocando o metal aquecido, o olhar passando pelas intrincadas folhas e
videiras e indo direto para os rostos da multidão. Atrás de nós, alguns
dos nossos guarda-costas se mexem nervosamente.

Este é o momento adequado para trazer a nossa


rapidinha? Provavelmente não. Talvez fosse apenas mais um golpe de
sorte? Se eu trouxer essa merda pra cá e levar um fora... meu ego não é
tão grande quanto o de Turner Campbell. Não tenho certeza se eu iria
sobreviver a isso.

— É um bom dinheiro, — Sydney continua, como se estivesse


tentando se convencer mais do que eu. Algo que Brayden disse
realmente a incomodou. Até mesmo eu posso ver isso e eu mal conheço
essa garota. Eu olho de soslaio para ela, mas, caramba, eu a quero. E
não é só porque ela é a mulher mais atraente que eu já vi na minha
vida -.embora isso não seja ruim. Há apenas... apenas algo sobre
Sydney que me faz querer segurar sua mão e soprar margarida ou algo
assim. — Eu não gostaria de receber esmolas, mas eu acho que se eu
tenho que aguentar esses idiotas de babá eu deveria pelo menos ser
paga por isso.

— Talvez isso seja uma coisa boa, — eu digo, deixando meus


pensamentos egoístas cair para fora da minha boca. Por que não? Qual
é o ponto? Eu já estou chateado com todo esse relacionamento que eu
poderia ter tido com Sydney, agindo como um idiota deprimido de
merda. Pode muito bem continuar a charada. — Você não vai posar nua
para milhões.

~ 63 ~
Sydney joga a cabeça para trás e ri, se virando e pressionando as
costas nas grades do portão.

— Eu não sei sobre milhões, mas pelo menos alguns milhares de


pervertidos teriam se divertido com minhas fotos. — Sydney masca seu
chiclete e me olha de cima abaixo por baixo desse perfeito cabelo
loiro. Meu pau já está duro, então eu não me incomodo de me
virar. Deixe a multidão, os paparazzi, a equipe de segurança ver. Eu não
tenho vergonha do que eu tenho e eu estou cansado de ser o cara
legal. Eles realmente terminam por último, não é? — Você está ciente de
que eu trabalhei como stripper durante treze anos, certo? Isso é tempo
pra caralho.

Minha vez de encolher os ombros e fingir que suas palavras não


me fazem querer ir a uma farra de assassinato em massa. Acho que nós
já temos o suficiente disso em nossas vidas.

— Eu odeio que este mundo esteja tão fodido que alguém tão
inteligente e interessante como você tenha que tirar a roupa para
sobreviver. — eu enrolo minhas mãos apertadas em torno das barras e
viro os olhos para frente, então eu não tenho que olhar para o rosto de
Sydney.

— Eu poderia ter pego o dinheiro do meu irmão, — diz ela, como


se ela estivesse tentando justificar as escolhas que ela tinha de
fazer. Ela não tem que fazer isso por mim. Não estou julgando, apenas
observando. Eu não posso suportar a ideia de que algumas garotas
pensam que são apenas carne para os homens cobiçarem ou
usarem. Me deixa doente. Os homens, quero dizer, não as mulheres. —
Não a princípio, claro, mas um par de anos e eu poderia ter saído. Acho
que eu sou muito orgulhosa.

— Não tem nada de errado com isso, — eu digo, minhas palavras


se afogando nos gritos de fora do portão. Me sinto como um tigre em um
zoológico, apenas esperando o dia em que eu vou sair. Só que... esse dia
nunca vem para o tigre, não é?

— Ei, imbecil! — é Turner. Claro que é. Eu solto o portão e olho


por cima do ombro para o encontrar vindo em minha direção em um
par de botas de combate pretas e calça jeans apertadas pra caralho,
Ronnie em seus calcanhares. — Que raio foi aquilo? Você nem
mesmo leu o contrato antes de assinar? Você tem alguma ideia do que
ele diz?

~ 64 ~
— Eu não me importo, — eu digo, e eu estou cem por cento sério
sobre isso. Minha vocalista acabou de acordar de um coma, meu melhor
amigo tem prováveis danos cerebrais, e eu tive o suficiente dessa
porcaria de mistério de assassinato. Se Paulette diz que
pode vencer essa guerra, bom para ela. Ganhe, acabe com isso, me
deixe sair dessa vivo. Com Sydney ao meu lado. Eu cerro os dentes
nesse último pensamento

— Sim, bem, talvez você deva, — Turner diz quando o barulho


atrás de mim fica ensurdecedor. Nós provavelmente não devemos fazer
uma cena na frente desse monte de gente, mas que diabos? Quem se
importa? Há dois portões entre nós e eles. — Olha isso. Olhe. Olhe para
isso. — eu giro e pego os papeis da sua mão, olhando para o local onde
ele aponta o dedo.

— O quê? — eu estalo, tentando ler. Tudo parece bastante normal


para mim. Até eu ver o parágrafo que começa a falar sobre a localização,
localização, localização. É um endereço em Beverly Hills. Este endereço
em Beverly Hills.

— Bem-vindo à casa do caralho, colega de quarto, — Turner fala,


jogando o resto dos papeis para mim. Eles vibram no chão e descansam
no sol quente da Califórnia.— Idiota estúpido. Tem sorte de Ronnie já
ter falado sobre câmeras nos banheiros. Leia antes de assinar da
próxima vez, seu emo estúpido.

Ele se vira e se afasta enquanto eu olho para Sydney e pego o seu


olhar, o canto de sua boca se contraindo em diversão.

Eu estaria chateado... se eu não achasse que ela estava prestes a


sorrir para mim.

Eu quase sorri de volta.

Acho que eu vou morar com Turner Campbell. Alguém atire em


mim, por favor.

~ 65 ~
Não vejo Dax por dois dias, e ele não falou com ninguém. Eu finjo
que eu não dou a mínima, mas eu continuo verificando meu telefone e
franzo a testa quando uma única mensagem de texto é de uma amiga
stripper em Detroit. Vi você na notícia! Ela diz. Como está o seu irmão? E
depois há a pergunta inevitável sobre dinheiro e se talvez eu possa
emprestar um pouco até o próximo dia de pagamento, porque o carro
quebrou e o namorado dela é um idiota e tudo isso. Eu respondo
dizendo a ela que vou enviar mil dólares - do dinheiro de Trey, é
claro. Até que eu consiga o adiantamento para este show estúpido, eu
estou quebrada. Quebrada e vivendo em uma casa com três piscinas.

Quando eu desço as escadas, encontro o homem em questão de


pé na porta da frente com suas malas, um sorriso divide meu rosto ao
meio - especialmente quando eu pego trechos do monólogo murmurado
de Turner.

— Maldito emo parasita filho da puta. — ele está resmungando e


fumando um cigarro no hall de entrada, mas ele não parece
particularmente chateado. Apesar do que ele diz, eu acho que ele gosta
de Dax.

— Sr. Campbell, você já pensou em fumar lá fora? — Milo


pergunta, franzindo o nariz para as nuvens preguiçosas de fumaça
cinza que torcem e brilham ao redor das brilhantes superfícies pretas
do piano. Ronnie veio sorrateiramente até aqui à noite e tocou músicas
calmas que enviaram arrepios na minha espinha só de pensar. Não
tenho certeza se alguém sabe sobre isso, mas sem dúvida Campbell iria
gozar sobre o piano como que se tivesse ouvido seu amigo dedilhando
aquelas teclas de marfim.

Turner revira os olhos e se move para a porta, carrancudo, o


cigarro nos lábios quando ele olha para os outros meninos do Amatory
Riot, Kash e Wren.

— Isso vai ser uma verdadeira diversão, — eu digo com uma


piscadela quando a atenção de Dax se volta para mim. Eu não posso ver
seus olhos através de seus óculos escuros, mas eu estou vestida para

~ 66 ~
agradar hoje. Inferno, eu estou vestida para agradar todos os
dias. Precisamos ter uma conversa, eu e Dax. Eu cruzo meus braços
sobre minha blusa amarela. As palavras douradas e metálicas Não, eles
não são reais destacam meus melhorias pessoais e muito caros. —
Como uma festa do pijama ou algo assim. Podemos jogar alguns sacos
de dormir na sala de estar e contar histórias de fantasmas?

— Vá se foder Sydney, — Turner diz, porque, bem, ele é apenas


um babaca assim. Eu observo os dedos de Dax se enrolando em torno
das correias de suas bolsas, seus dentes rangendo enquanto ele lança
um olhar sobre o ombro para o melhor amigo do meu irmão. — Eu não
estou dizendo que sou totalmente contra ser imortalizado na TV, mas
por que precisamos desses filhos da puta aqui com a gente? Este é o
meu lar. Devo começar a decidir quem convidar, não alguma cadela
burra em um terninho. Além disso, eu não sei o quão saudável é eu
estar alimentando o vício de Sydney por um pau emo. Aposto que essa
merda é crônica ou algo assim.

— Eu não estou exatamente feliz sobre isso também, — Dax diz,


tirando seus óculos e me dando outro olhar, que arde e queima com um
único olhar arrebatador e inclino meus lábios em um sorriso. Você
deveria se distanciar desse cara, minha lógica diz, mas eu a ignoro e
avanço para o hall de entrada, olhando para os olhos cinzentos de
Dax. Aquela pequena rapidinha no hotel foi um erro grave, como
alguém tentando parar de fumar escondendo algumas tragadas. Eu
tenho que a nicotina no meu sangue agora, baby.

— Talvez nós podemos finalmente ir comprar um anel? —


resmunga Turner, ignorando completamente Dax e dizendo cada coisa
maldita que vem à sua cabeça a cada segundo que passa na cabeça
dele. — Eu preciso comprar pra Naomi um antes que ela fique
totalmente consciente e tudo mais. Ela é muito perspicaz. Se eu
esperar, ela vai saber.

— Tem certeza de que você está realmente noivo? — Ronnie


pergunta, parando ao lado de Kash e Wren e o olhando com um olhar
distintamente paterno, Lola ao seu lado. — Quero dizer, você chegou a
perguntar?

— Eu fiz mais do que oferecer a ela acesso irrestrito, — Turner


responde e eu rolo meus olhos.

— Você vai se acostumar com a brincadeira, — eu prometo


quando Dax olha para mim. Eu não digo a ele que eu tentei vê-lo,

~ 67 ~
visitando Blair e Naomi no hospital ontem. Alguma enfermeira cadela
chamada Dina me disse que eu tinha acabado de perder ele. É muito
embaraçoso admitir que eu até tentei. — Eventualmente ele vai
desaparecer em um zumbido.

Eu aponto meus dedos para os meninos, meu corpo fica apertado


quando Dax continua olhando para mim, apenas olhando para minha
cara como se ele estivesse tentando memorizar cada detalhe. Eu nunca
tive um cara me olhando assim antes, como se a forma do meu sorriso
importasse.

Eu mordo meu lábio inferior com força e inclino a cabeça para o


lado. Dax quase parece envergonhado. Não consigo descobrir por quê.

— Eu estive tentando ficar longe do seu caminho, — diz ele, de


repente, seus lábios mal se movendo com as palavras. — Você foi
tomando conta de mim. Eu não sei por que, mas você foi. E eu devo a
você por isso. Mas eu não quero ser um fardo mais. Desde que nós
estamos... meio que vivendo juntos agora, eu achei que deveria
falar. Por alguns limites ou algo assim?

— Vocês dois vão se beijar ou o quê? — Turner ri, sacudindo um


pouco de cinzas do cigarro em Dax enquanto passa e Dax range os
dentes, mas ele não tira o olhar do meu.

— Você quer sair daqui? Ir para um piquenique ou algo


assim? Você pode jogar suas coisas no meu quarto agora.

— Escute isso, Trey! O emo Boy quer curtir com a sua irmã. — eu
olho por cima do ombro com um suspiro bem a tempo de pegar meu
irmão lançando a Dax um olhar torto.

— Meu Deus, por favor, — sussurra Dax e então nós dois


pausamos e nos viramos ao som de botas no chão de mármore atrás de
nós. É Brayden Ryker com um grande sorriso estampado no rosto,
Paulette Washington a seu lado.

— Senhoras e senhores, eu pedi a Brayden Ryker para continuar


como chefe de segurança para ambas as bandas e ele gentilmente
aceitou a posição.

— Fantástico. O cara que deixa a minha namorada e meu melhor


amigo levar um tiro vai estar nos protegendo novamente. Eu me sinto
muito mais seguro agora. — Turner bate a palma da mão em seu peito
enquanto ele se afasta e entra na sala de estar. — Oh, e obrigado por

~ 68 ~
trazer um bando de estranhos em minha casa. Quem diabos é esse,
afinal?

— Meu nome é Kash, — o loiro diz com um pequeno suspiro. —


Nós tocamos em vários shows juntos enquanto Naomi não estava
presente.

— Que coisa boa, mano. Vou tentar lembrar seu nome, mas eu
tenho certeza que você vai ser baleado e morto no próximo show, então
eu nem sequer vou me incomodar.

— Podemos, por favor, ir agora? — Dax pergunta e eu assinto. —


Mais um minuto dessa merda e eu vou ser o único com uma arma na
minha mão.

— Claro. Deixe só eu embalar um almoço e vamos dar o fora


daqui. — meus olhos brilham quando eu olho para Dax novamente,
meus dedos encontrando o caminho para o seu peito, sentindo a dureza
dos seus músculos sob a camisa. — Eu tenho o lugar em mente.

Um par de forty ounces6, um punhado de preservativos, e pizza de


três dias e eu tenho um piquenique para um rei. Meio que me lembra
das tardes preguiçosas do ensino médio gasto matando aula e fumando
cigarros no cemitério que ficava ao lado do nosso parque de trailers. Ah,
que dias bons. Gostaria de poder dizer que eu senti falta disso, mas...
sayonara baby.

— Acha que vamos realmente ser capazes de sair daqui? — Dax


pergunta quando eu apago as luzes e aumento o volume da TV tão alto
quanto ele pode ir. Está passando pornô, uma foda imunda que eu
debitei no cartão de débito do Trey. Ele me deve uma de qualquer
maneira.

Eu olho de volta para Dax, brilhando com as cores piscando da


TV. Seus olhos estão na tela e os punhos estão enrolados em seus
lados. Oh sim. Está ficando quente aqui em cima. Eu olho para longe

6
É uma cerveja maltada.

~ 69 ~
com um sorriso e vou para as portas de correr que conduzem à minha
varanda.

— Se há uma coisa que aprendi na vida, é que se as pessoas


pensam que você gosta de foder, eles geralmente deixam as coisas pra
lá. Sempre que eu estava sem dinheiro para o aluguel e o cobrador
vinha, eu colocava um vídeo bukkake7 e descia a escada de incêndio.

— Bukkake? — Dax pergunta e eu quase engasgo com uma


risada. Para uma estrela do rock, ele é tão inocente que é bonito. Me
viro e vejo Dax levantar nossa bolsa por cima do ombro. Não posso
deixar de provocá-lo, então eu deslizo os dedos até sua mandíbula,
sobre a pequena barba por fazer e aproveito o momento enquanto ele
treme sob o meu toque.

— Você sabe, quando uma dúzia de caras se masturbam e gozam


sobre uma única garota?

— As pessoas gostam disso? — Dax pergunta quando eu inclino


minha cabeça e ponho minha língua para fora. Atrás de mim, a mulher
na TV grita de prazer falso. — As pessoas fazem isso?

— Algumas pessoas, — eu digo, dando um passo para trás e


avanço para as portas de correr.

— Como é? — Dax pergunta, eu pisco para ele e balanço a perna


por cima das grades do pátio.

— Você não quer saber, — eu brinco enquanto pulo e fico


suspensa por um momento sobre a banheira de
hidromassagem. Quando eu solto, há um segundo de leveza e então eu
estou pousando no topo macio e me esticando para pegar a bolsa
quando Dax a atira para mim. Ele segue atrás de mim e aterra com um
grunhido, correndo os dedos pelos cabelos.

— Por favor, me diga que a resposta para a minha pergunta é um


não.

— O quê? Você não gosta da ideia de um bando de caras batendo


punheta em mim?

— Não particularmente, — Dax diz enquanto ele me segue até a


parede e me dá um impulso para cima. Eu arrastei uma cadeira do
pátio para cá antes, mas isso é muito mais agradável, deixar Dax me

7 Ela vai explicar o que é.

~ 70 ~
levantar como se eu não pesasse nada. Porra, ele é forte. É essa força
fácil e tranquilo que você não nota de primeira e não todo troncudo
como alguns dos guarda-costas de Brayden.

— Ciumento? — pergunto quando Dax puxa minha cadeira e usa


isso para agarrar a parte superior da parede, se arrastando como se
fosse nada. — Porque se você está...

— Eu não estou com ciúmes, — diz ele enquanto examina a rua


escura, a pequena multidão dedicada que sai durante a noite, velas
acesas em memória das pessoas que morreram na viagem. Eu não me
deixo pensar sobre eles, jogando a bolsa para a faixa de grama que
margeia a calçada e desço com Dax do meu lado. — Não é da minha
conta de qualquer maneira.

— Oh, por favor, — eu digo, lançando um olhar por cima do


ombro para me certificar de que nenhum dos loucos nos viu. A última
coisa que quero fazer esta noite é lutar contra algumas fãs psicóticas.
Dax sabendo ou não, ele tem muitas. — Você está dizendo uma coisa,
mas você está pensando outra. Me diga o que está em sua mente. Esta é
a primeira vez em mais de uma semana que você está sóbrio. Eu quero
manter isso real. — eu sorrio para ele, mas Dax já está franzindo a
testa.

— Eu sou tão óbvio? — Dax pergunta, me seguindo pela rua, seus


olhos cobertos com sombra à medida que elas passam através das
manchas de escuridão entre os postes. — O quanto eu estou fodido, eu
quero dizer?

Encolho os ombros. Eu não quero falar sobre nada disso. Hoje à


noite, esta é a nossa noite. Talvez a única que vamos ter por um
tempo. Com a forma como as coisas estão indo, é difícil saber o que vai
acontecer amanhã. Se até mesmo vai haver um amanhã.

— Ok, então eu estou pensando que eu quero que seja da minha


conta, — Dax diz enquanto eu sigo um conjunto de instruções que eu
abarrotei em meu crânio antes de sairmos. Eu sou bom nesse tipo de
coisa, como um GPS humano ou algo assim. Este é o melhor caminho
para sair de Beverly Hills, o caminho que estamos menos propensos a
ficarmos presos. Então, vamos pegar um táxi para o nosso destino
final. — Eu estou pensando que eu realmente não gosto da ideia de
uma dúzia de caras batendo punheta encima de você.

~ 71 ~
— Ah. — eu coloco minha mão no meu peito e faço beicinho. —
Essa é a coisa mais doce que alguém já me disse, Sr. McCann. Não
pare. Continue a me cortejar. — a boca triste de Dax se transforma em
um pequeno sorriso.

— Isso é um não, então?

— Isso seria um não, eu nunca fiz isso antes.

— Graças a Deus, — ele sussurra e eu sorrio de volta para ele. —


Não há amantes secretos estrelas do rock, abortos ou fanatismos por
ex-namorados?

Eu bato meu dedo contra meus lábios por um momento.

— Não, não e não, — eu digo e, em seguida, faço uma pausa. — A


menos, claro, que você conte como um amante rock star secreto?

— Talvez, — Dax diz, ainda sorrindo. Eu me sinto tão à vontade


com ele, como se nós nos conhecemos desde sempre. Eu continuo
tentando me dizer que ele é apenas uma energia, que eu deveria me
distanciar da melhor forma possível, mas... eu gosto muito dele. Muito,
muito, muito, muito. — Só se não contar que nós só fodemos duas
vezes e na primeira vez eu estava meio bêbado durante a coisa toda...

— Ainda conta, — eu digo, um arrepio percorrendo minha


espinha quando eu me lembro dele batendo em mim por trás,
confessando que não era na Naomi que ele estava pensando naquele
momento. Ele a superou? Eu olho na direção dele e tento pensar como
trazer essa merda. — De qualquer forma, eu fui a única que iniciou a
coisa toda. Você parecia tão... triste. Toda essa porcaria com o seu pai,
você sabe. — eu propositadamente evito o assunto de Hayden e
Tara. Esse momento assombra meus sonhos. Tenho certeza de que a
última coisa que Dax quer é que eu traga essa merda.

— Falei com ele no outro dia, — ele finalmente confessa e sem


pensar no que estou fazendo, eu enrolo meus dedos nos seus. Dax
congela por um momento e, em seguida, aperta sua mão em torno da
minha, as pontas dos dedos quentes, o tecido da malha preta de suas
luvas sem dedos confortável contra a palma da minha mão. — Ele
disse... alguma merda que eu nem tenho certeza se eu acredito. Talvez
eu não deveria me importar? É que... eu passei a minha vida inteira
pensando que, se minha mãe tivesse vivido, ela, pelo menos, teria me
amado. Com base no que Arnold disse, talvez isso não seja verdade.

~ 72 ~
— Foda-se esse cara, — eu digo, batendo meu ombro em Dax. É
uma noite bem quente, então nós dois estamos de mangas arregaçadas,
os nossos braços tatuados nus. Eu mordo meu lábio inferior com os
arrepios que surgem ao longo da minha pele. Eu também posso ou não
começar a regar o gramado lá embaixo, se é que você me entende. —
Aquele homem é doente de uma maneira que nenhum médico pode
curar. Ele tem um coração preto e quebrado e ele não fica feliz a menos
que ele esteja descontando encima de outra pessoa. Fique feliz que ele
não é seu pai, biológico ou de outra forma. Este é um novo começo para
você, Dax McCann.

— Você também, — diz ele, olhando para mim com esses olhos
sonhadores. Eu os chamo de cinza, mas eu acho que talvez eles sejam
realmente azuis? Eu não sei, mas quando eu olho para eles, eu tenho
dificuldade, muita dificuldade de olhar para longe. — Este poderia ser o
seu novo começo também.

— Eu acho que sim. — eu solto a mão de Dax e deslizo os dedos


para os bolsos dos meus shorts de couro pretos. — Acha que há um
futuro para mim na TV? — Dax olha para mim, mas seu rosto está
triste novamente. Entendi. Seu melhor amigo está no hospital, seu pai
não é realmente seu pai, sua namorada da escola e sua vocalista estão
mortas. Ele tem muito que lamentar. Uma tonelada. Mas tudo que eu
realmente quero é vê-lo sorrir.

Woo.

Não essa linha de atividades para a TV. Que nojo.

— Eu acho que você poderia fazer qualquer coisa que você queria,
— Dax diz quando as casas começam a ficar menores, as ruas um
pouco menos limpas, as luzes da rua um pouco menos frequentes. —
Isso é muito clichê pra dizer?

— Você não tem que se desculpar por ser o cara legal, Dax
McCann, — eu digo, puxando o meu telefone e tocando no aplicativo
que vai me deixar chamar um táxi. Uma vez que eu faço, eu olho para
ele. O que eu disse sobre me livrar dele mesmo? Não sei como isso vai
ser possível já que vamos viver juntos. Hmm. Eu me estico e esfrego um
polegar sobre o lábio inferior de Dax, aproveitando o arrepio que passa
através dele com meu toque. — É porque você é o cara legal que eu
gosto de você. Agora, eu espero que você tenha trago dinheiro suficiente

~ 73 ~
para pagar esse táxi porque eu estou quebrada como uma loja de
moeda de dez centavos no dia do pagamento.

Nosso passeio cheira como o inferno, quase tão ruim quanto o


corpo que deixamos no quarto de KK. E o taxista? Bem, puta merda, ele
tem um daqueles espelhos. Você sabe do que eu estou falando
senhoras, os motoristas de táxi que verificam seus peitos em seu
retrovisor? Eu adorei quando Dax se sentou no assento atrás do homem
e fez com que seu pescoço gordo virasse para frente. Essa foi a diversão
do passeio.

Dax paga ao cara o valor exato - sem gorjeta - e me espera sair do


carro. Uma vez que o idiota acelera com um estrondo dos pneus, ele
finalmente lança um olhar ao redor e percebe onde estamos. Vou te dar
uma dica: não é Beverly Hills.

— Merda, — Dax murmura quando ele olha em torno das ruas


sujas, olha para cima e examina os postes quebrados acima de nossas
cabeças. — Nós nem sequer precisamos nos preocupar com atiradores
aqui fora. Eu acho que traficantes e cafetões vão fazer muito bem.

— Oh, pare com isso, — eu provoco, lançando uma piscadela por


cima do meu ombro para ele. Estarmos sozinhos juntos assim, no
mundo real, está me deixando um pouco tonta. Deus, eu realmente
gosto desse cara, não é? — Seu sotaque está engrossando. Agora, se
certifique que não existem quaisquer policiais ao redor e me dê um
impulso. — eu pisco para Dax e corro minha língua sobre o lábio
inferior. Ele não perde o movimento, seus olhos escurecendo em
resposta enquanto ele sobe e me agarra por trás, tomando conta dos
meus quadris.

Eu reprimo um gemido quando ele me levanta e eu agarro a


parede. Este é muito mais baixo do que aquele em torno da
mansão. Nem aquela quantidade de fãs irá nos impedir de entrar nesse
cemitério, huh?

~ 74 ~
— Você fez isso de propósito, — murmuro quando Dax se iça para
sentar ao meu lado, abrangendo a parede de tijolo e cimento que
circunda o cemitério. Eu coloco um pedaço de cabelo loiro atrás da
minha orelha quando trocamos um olhar longo e persistente. Eu sinto
os pelos nas costas dos meus braços se eriçarem por causa do fluxo
elétrico pulsando entre nossos corpos.

— Talvez, — Dax admite em voz baixa, puxando seu olhar para


longe de mim com um esforço visível e olhando para o que está do outro
lado de toda essa argamassa. — Um cemitério? — ele pergunta e eu me
sinto sorrindo, estendendo a mão para apertar meus dedos contra suas
tatuagens.

— Não me diga que você está com medo, Dax Boy. Vamos. Vamos
acordar os mortos. — eu deslizo sobre a borda e planto com pés macios
na grama. É verde como o inferno, quase neon ao luar. Isso é dez vezes
mais horripilante para mim do que as lápides de cimento que pontilham
a paisagem. Grama verde em um deserto. É de se admirar que eu me
mudei de LA quando tive a chance? Não que Detroit fosse incrível
também. Eu nem sei como eu acabei lá. Eu acho que eu nunca me senti
em casa; eu acho que eu tenho procurado por isso todo esse tempo.

Dax pula ao meu lado, parecendo sexy caralho em suas botas,


cinto e calça jeans escuras. Eu nem tenho cem por cento de certeza se
ele está ciente de quão gostoso ele é. O que o faz mais gostoso. Além
disso, ele é como o oposto completo de Trey e Turner. Isso é exatamente
o que eu preciso agora.

— Eu descobri que seríamos deixados sozinhos se viéssemos para


cá. — eu me ajoelho ao lado de uma lápide, correndo os dedos contra as
datas. 1955-1984. Vinte e nove anos de idade. O mesmo que eu. Isso
não é ameaçador, no mínimo.

Eu me levanto com um arrepio e olho sobre Dax, suas íris


cinzentas destacadas pelos fechos de prata do luar. Seus olhos estão
maquiados, a tatuagem Born Wrong nas costas de suas pálpebras
cobertas de preto.

— Cadáveres tendem a assustar as pessoas, — Dax diz, correndo


as pontas dos dedos na parte de cima de uma lápide curva. — Eu
duvido que vá haver quaisquer fãs aqui fora. — ele faz uma pausa e
concentra sua atenção na inscrição, inclinando a cabeça para o lado
enquanto ele o estuda. — Espero que possamos evitar guarda-costas,
assistentes de palcos e produtores de TV também.

~ 75 ~
— Eles vão sobreviver ao apocalipse, você sabe, os produtores de
TV. Eles e Turner Campbell.

Dax rio, tocando a mão na lápide antes de me afastar e encontrar


um agradável local acolhedor na base de um mausoléu. É tão alto
quanto ele é, o dobro e está trancado. O nome da família
diz Carter. Ótimo. Enquanto isso não comece com um H. Eu já tive o
suficiente de Harding e Hammergren.

— Rosa brilhante, coberto com estampas de caveiras amarelas. As


toalhas de piquenique certeza já percorreram um longo caminho, — Dax
diz enquanto abre a minha bolsa e espalha o tecido no chão. — O que
aconteceu com xadrez? — eu enrugo meu nariz e balanço a cabeça,
varrendo as minhas mãos para cima e sobre o meu cabelo.

— Você esperava nada menos do que o estilo de mim? Quero


dizer, qual é. Tenho arrumado isso por dias. — eu dou a Dax outra
piscadela e caio ao lado dele enquanto ele tira um par de garrafas de
vidro.

— Vodka e... mais vodka. Interessante escolha. Se eu não


soubesse melhor, eu diria que você me trouxe aqui para me embebedar.

— Dax McCann, — eu digo com um suspiro falso, colocando meus


dedos na tatuagem de um polvo laranja que se estende por cima do
meu ombro e no meu peito. — Você pensa tão mal de mim. — meus
olhos brilham quando eu aceno meu queixo para a bolsa. — Continue
cavando e talvez você vai ter uma ideia melhor das minhas arrumações.

— Cerveja, — Dax diz, cavando as forty ounces e as colocando na


grama. — Isso é... pizza amanhecida?

— Não está mofado! — eu bufo quando chego mais perto e


arranco um pedaço de sua mão. — Só tem três dias. Está perfeitamente
bem. — eu desembrulho a fatia de pepperoni e encontro o que parece
ser bolor. Hã. Acho que acabei nem vendo. Antes, Trey e eu teríamos
sorte de podermos comer uma pizza com bolor velha e leite azedo no
café da manhã. Durante esse tempo em nossas vidas, comer qualquer
coisa era melhor do que passar fome.

Eu coloco a pizza de lado de qualquer maneira quando Dax pega


com um punhado de preservativos na mão e levanta uma sobrancelha.

— Puta merda, — diz ele com um suspiro quando ele permite que
os pequenos quadrados caiam de volta ao fundo da bolsa. — Falando de

~ 76 ~
reputação, você deve pensar muito bem de mim, se você acha que posso
usar tudo isso. — Dax faz uma pausa e, então seu rosto fica realmente
sério por um segundo. — Sydney...

— O que você vai dizer: — eu digo a ele, olhando de soslaio para o


perfil de Dax. — não faça isso.

— Por que não? — Dax se vira para mim, suas feições se torcendo
em agonia por uma fração de segundo antes dele limpar. — Eu... eu te
devo.

Minhas sobrancelhas sobem.

— Me deve? — eu me viro para olhar diretamente para ele, os


lábios se separaram com frustração, uma ligeira dobra da pele ao redor
de seu nariz que mostra que ele está chateado. Comigo, consigo mesmo,
com seu pai, quem diabos sabe. — Você acha que eu fiz tudo isso por
alguém que eu acho que me deve? Então você realmente não me
conhece assim tão bem, não é?

— Não, eu não conheço, — Dax diz com um suspiro, passando a


mão enluvada sobre o rosto. Sempre com essas luvas sem dedos
dele. Eu não sei por que, mas eu gosto delas. — Eu não sei nada sobre
você, Sydney. Nada que não seja o fato de que eu quero te conhecer. —
Dax pausa novamente. — Ou que você é o tipo de garota que se
preocupa com um cara que ela mal conhece, se envolve em um monte
de merda para ajudar seu irmão caçula.

— Você me deixa encabulada, Sr. McCann, — eu digo, meu


coração vibrando estranhamente no meu peito. Eu me sinto como uma
adolescente que nunca fui, mordendo o lábio com uma paixão e um leve
rubor em todo o rosto. Eu quero me apaixonar. Jesus Cristo, eu devo
estar ficando louca. — Uma stripper e um cara de coração de ouro.

Dax bufa.

— É mais verdadeiro do que você imagina, — diz ele e dou de


ombros, olhando do outro lado do terreno, para as luzes brilhantes da
cidade. — Então você vai me deixar dizer o que eu quero dizer?

— Dizer o quê? — eu pergunto, esperando não levar um tiro ou


ser assaltada ou... pior. Cemitério, no meio da noite, Leste de
LA. Eh. Talvez não seja melhor ideia do mundo, mas Beverly Hills é
tão... não é como qualquer outra coisa que eu já estive antes. Muito
polido. Muito perfeito. Eu precisava dar o fora de lá por um segundo

~ 77 ~
para pensar. Não é que eu não sou grata por esse status - ninguém
realmente prefere comer pizza velha e leite azedo do que viver em uma
mansão com um viciado em crack - é só que eu não tenho certeza se
estou pronta para mais.

Talvez não... nisso.

Eu respiro fundo e encontro o olhar de Dax.

— Obrigado, — diz ele, e eu sinto um arrepio gelado passar pela


minha espinha quando seus dedos deslizam pela toalha e encontram
minha mão, enrolando em torno das tatuagens azuis e verdes que
varrem sobre meus dedos. — Você... eu não sei por que, mas você fez
tudo... — Dax passa sua outra mão sobre o rosto. — Nada tem sido bem
por um longo tempo, só... suportável. Sydney, você fez coisas
suportáveis para mim.

— Por fazer sexo com você? — eu brinco, levantando minhas


sobrancelhas para Dax. Sei que ele está falando sério; eu posso ver isso
na cara dele. Mas eu não estou acostumada a isso. E eu não estou
acostumada a agradecer. Eu puxo minha mão e me inclino sobre o colo
de Dax, pegando um maço de cigarros do bolso do lado da bolsa. Não
perco o fato de que ele está duro como uma rocha sob os jeans escuros
dele.

Eu me sento com um isqueiro e acendo.

— Obrigado, — Dax diz novamente, mas eu finjo que não ouvi,


fumando meu cigarro em longas tragadas lentas, soprando nuvens de
fumaça cinza no ar da noite. — Por estar lá.

Bem, porcaria.

A sensação de calor se instala na minha barriga quando eu cruzo


e descruzo as pernas. Droga. Eu não sei como lidar com isso. Eu não
estou equipada para este tipo de um passeio. Eu sabia que me envolver
com esse cara era uma má ideia. Má, má, má, má, má.

— Eu sou o seu estepe8? — eu pergunto, voltando a olhar para


Dax, feliz por estarmos aqui sozinhos, sem câmeras ou assassinos ou
Campbells. — Para Naomi Knox, quero dizer. Eu sou uma menina
estepe? Tudo bem se eu sou, eu só-

8Não consegui achar uma palavra boa para isso, mas é quando você não tem opção e
aceita qualquer coisa só pra não ficar sozinho. Kkkkkkkkkkkk

~ 78 ~
Não esperava que você me beijasse assim.

A mão de Dax está na minha nuca, os dedos frios contra minha


carne aquecida. Sua boca é como uma tempestade de neve, varrendo e
me consumindo com um movimento da língua, uma raspagem dos
dentes. Dax pressiona sua resposta contra os meus lábios, com gosto de
neve e gelo e cigarros. O beijo é firme, duro que faz um longo gemido
escapar da minha garganta, como uma oração feita por algum deus
esquecido.

Quando Dax recua, há este momento onde eu não consigo


respirar, onde eu não consigo me lembrar de como respirar.

— Não, — ele diz e, em seguida, ele se levanta, levando a garrafa


de vodka com ele. Eu assisto sua garganta se mexer quando ele bebe a
bebida e, em seguida, olha para mim, o rosto sombrio e escuro. —
Sydney, você é boa demais para ser apenas uma garota substituta. —
Ele faz uma pausa e, em seguida, olha para a cidade, as centelhas
amarelas, vermelhas e brancas que compõem centenas,
milhares, milhões de momentos. A maioria deles são insignificantes,
mesmo que pareçam importantes na época.

Isto, aqui, na escuridão de um cemitério de Los Angeles,


é importante.

Eu quero me apaixonar.

Sorte minha. Parece que eu posso realizar esse desejo, afinal.

~ 79 ~
Garota substituta.

Merda. Eu estou fazendo um trabalho ainda pior do que eu


pensava se isso é tudo que Sydney pensa que ela é. Substituta? O que
eu tenho para substituir de qualquer maneira? Naomi Knox e eu, nós
nunca fomos nada. Sydney e eu... bem, nós temos ido um pouco mais
longe do que Naomi e eu já fomos, mas nós não somos nada.

— O que, hum, — eu começo e depois faço uma pausa quando o


vento aumenta e balança os ramos de uma árvore próxima. Eu olho
para ela, observando torcer os galhos, orando a quaisquer deuses acima
ou abaixo que não haja nenhum adolescente lá com um smartphone e
uma conta no Instagram com mil seguidores. Ou um assassino. Ou um
estuprador. Qualquer um desses iria ser ruim pra caralho. — O que
estamos fazendo aqui? — pergunto a Sydney, virando a garrafa de
vodka na minha mão. O sabor vazio do álcool se agarra a minha boca e
me faz estremecer.

— Beber... eu acho que não comer. — Sydney faz uma pausa, a


boca torcendo para o lado. A expressão fica muito mais perfeita por seu
batom rosa. Quando eu penso sobre aqueles lábios envolvidos em torno
de meu pau, meu traseiro nu pressionado na superfície fria de uma
lápide... vamos apenas dizer que nenhum dos dois ajuda o meu pau
ficar menos duro. — Espero que...

— Quero dizer, você e eu. O que estamos fazendo? Sei que isto soa
estúpido e talvez até mesmo falar sobre isso me faz ser a pequena
cadela que Turner e Trey me acusam de ser, mas eu não dou a mínima.
— eu me ajoelho e coloco a garrafa de vodka na grama, tirando meu
capuz e jogando-o de lado. Por baixo, eu tenho uma camiseta preta com
o logotipo da Amatory Riot sobre ele. Eu gostaria de poder dizer que eu
coloquei ela por acidente, mas mesmo com toda a porcaria que está
acontecendo com Blair, Naomi e Paulette que-ela-se -foda, eu ainda não
consigo parar de pensar em Sydney Charell.

~ 80 ~
Então está bem. Eu uso essa camisa estúpida para mostrar os
músculos do meu braço. Me processe.

— Você quer... um anel de compromisso ou algo assim? — Sydney


diz, mas eu posso ver a forma como sua respiração engata e seus olhos
vão dos meu bíceps para o meu peito e para o meu rosto. Sua sombra é
brilhante, salpicada com glitter, quase tão azul quanto seus olhos. Ela é
uma tela com cor, mesmo na escuridão do cemitério.

— Eu quero isso. Há muita incerteza na minha vida agora. Eu


preciso de algo real. Talvez seja para sempre, talvez não. Mas, — eu
corro minha língua sobre o meu lábio inferior e vejo Sydney seguir o
movimento com seus olhos. — Mas por agora…

Ela olha para longe, sua franja caindo em seu rosto. Eu sei que
ela é mais velha do que eu, mas agora, Sydney parece jovem,
vulnerável. Eu quero envolvê-la e abraçá-la apertado, puxá-la contra
mim e respirar contra seu cabelo. Não faz qualquer sentido. Minha
inegável atração instantânea por ela não faz qualquer sentido. Mas está
lá. E não vai embora. E porra, eu a quero tanto.

— Por agora você vai se contentar com meu eu antigo?

— Sua atitude corajosa e descolada não vai funcionar em mim, —


eu digo a ela, me recostando na grama e descansando a cabeça contra
um obelisco. Meus olhos se fecham contra um céu vazio de
estrelas. Não se pode vê-las através da poluição atmosférica. O que me
faz querer entrar em um avião e voar para outro lugar. Em qualquer
outro lugar. Mas não posso deixar Blair ou Naomi ou inferno, até
mesmo Kash e Wren. Aqui estou eu, tentando bancar algum tipo de
papel paternal estranho que eu não sou bom. Porra. — Então... o que
fazer? Tentar? Essa coisa de namoro? — eu abro meus olhos para olhar
para Sydney. Espero que ela não diga não, a este ponto eu já estou meio
que desesperado. Não apenas por alguém. Mas por ela. Por isso. Eu
posso sentir a força que irradia dela em ondas, e isso me faz sentir
como se eu pudesse fazer isso, como se eu pudesse passar por isso. Ao
mesmo tempo, posso dizer que ela precisa de alguém também. Eu não
tenho certeza se Sydney Charell alguma vez realmente teve alguém.

Sydney pega a garrafa de vodka e toma um gole que faz meus


dentes doerem. Puta merda. Acho que não sou o único que pode
segurar minha bebida aqui.

~ 81 ~
— Desculpa. Eu ouço a palavra com D e eu fico um pouco besta.
— ela levanta a mão para cima e oscila para trás e para frente para dar
ênfase, olhando para mim de debaixo de sua franja. Vestida com
aqueles minúsculos shorts, botas, o moletom da Indecency pendurado
em um ombro. Cristo. Eu mal posso olhar para ela agora. — Eu nunca
tive sorte com essa coisa toda de namoro.

— Isso é porque você nunca me namorou, — eu digo, me


levantando e voltando para a toalha, jogando a garrafa de vodka na
grama e me inclinando sobre Sydney. Ela dá outro gole e um pequeno
sorriso, os cabelos dourados caindo por trás de sua cabeça como um
raio de sol.

— É assim mesmo? Você vai mudar meu mundo, Sr. McCann?

— Eu vou arrasar, — eu digo, embora internamente, acho que eu


me encolho um pouco. Pelo menos eu não estou parecendo um pateta e
fazendo referências de South Park ou algo assim. Esses caras online
fazem piadas ou imitações muito melhores, imitando a voz e tudo. Ugh.

Eu me inclino para baixo e pressiono os meus lábios na garganta


de Sydney, provando-a, cheirando-a. Aspiro, deixando o perfume floral e
coisas selvagens encherem meus pulmões. Talvez essa seja uma das
razões pelas quais eu gosto tanto de Sydney? Ela é meu completo
oposto. Em todos os lugares que eu sou escuro, ela é a luz. Eu sou a
terra; e ela as flores. O céu; as estrelas. A lua; o sol.

— Deus, isso é bom, — ela sussurra, ligando os braços em volta


do meu pescoço, relaxando em meu toque. — Parece que eu não transei
faz séculos. — ela faz uma pausa. Eu faço uma pausa. — Bem, eu quero
dizer, exceto no hotel...

— E antes disso? — me atrevo, embora eu me sinta estúpido por


perguntar, como um cara idiota e possessivo que tem de mijar em tudo
para marcá-la como sua. Ótimo. Eu finalmente encontrei uma menina
que eu gosto e viro um homem das cavernas e essas merdas. Eu tento
realmente não pensar sobre as palavras que eu disse no clube de
strip. Meu Deus. Eu me faço uma promessa, não importa qual sua
resposta vá ser. Nessa fração de segundo, eu prometo a mim mesmo
que eu não vou ficar puto.

Só que essa é a maior mentira que eu disse a mim mesmo em um


longo tempo.

~ 82 ~
— O que você acha? Quanto é que você se importa? — Sydney
pergunta, abrindo as pernas e as envolvendo em torno de mim. Estamos
apertados, pélvis contra pelve, minha boca a polegadas dela.

— Muito. Demais talvez. — eu gemo e tento rolar, mas Sydney


vem comigo e acabamos com ela em cima, eu na parte de
baixo. Olhando para cima, para esse corpo, esse rosto, eu realmente
não posso reclamar.

Sydney se senta, propositadamente moendo o calor quente de seu


corpo contra a protuberância dolorosa no meu jeans. Ela rola seus
quadris, a forma como ela morde o lábio de lado assim. Tenho cerca de
dez segundos antes de gozar em minhas malditas calças.

— Eu acho que suas palavras foram algo no sentido de eu vou te


foder tanto que você não vai lembrar de estar com qualquer outro cara. É
só eu e você, babe.

— Eu nunca disse babe, — eu rosno, agarrando seus quadris e


soltando um suspiro áspero. — Eu não digo babe.

— Não tem problema, — diz Sydney, se inclinando e respirando


quente contra o meu lábio inferior, me paralisando no lugar. Eu estou
hipnotizado, assim como eu estava naquele primeiro momento em que a
vi, quando ela roubou o fôlego dos meus pulmões e enviou todo o
sangue da minha cabeça para meu pau. Tonto. Fraco. Eu me estico
para tocar seu rosto, mas Sydney recua, se levantando e estalando um
chiclete entre os lábios. — pequenas inconsistências.

Eu rolo para o meu lado e a vejo se agachar e ler outra


lápide. Elas estão por todos os lados, estas pedras cinzentas, os olhos
vazios dos mortos. Eu deveria me sentir ligado a este lugar, mas eu não
sinto. Eu acho que eu sou muito parecido com isso, com a terra escura
e tranquila do cemitério. Preciso de alguém que está na minha frente,
um redemoinho brilhante de cor e vida.

Como Sydney.

— Ok, sim. Eu acho que eu disse basicamente isso. — faço uma


pausa, lambendo meu lábio inferior. — Não era uma mentira. É
verdade. Quando eu olho para você, eu sinto coisas que eu nunca senti
antes.

~ 83 ~
Sydney bufa, mas mais como se ela estivesse constrangida e
menos como ela se ela estivesse tentando tirar sarro de mim.

— Então... toda essa coisa de namoro... você realmente quer


então? — ela pergunta timidamente, como se a pergunta fosse mais
para si do que para mim.

Minha boca se contorce um pouco quando eu sento e esfrego


minhas mãos sobre o meu rosto. Eu estou me sentindo depressivo,
muito. Eu não fumei nada além de tabaco desde que eu assinei a porra
do contrato. Mal bebi. Eu sinto como se tivessem nuvens na frente de
meus olhos se dissolvendo, flutuando para longe. Claro, a cena que eu
estou olhando não é bonita, uma rua apocalíptica vestida com sangue e
sujeira, mas pelo menos agora eu sei com o que estou lidando.

Hayden está morta. Tara está morta. America está morta.

Eu inspiro profundamente.

Mas eu não estou. Por alguma razão, eu ainda estou aqui.

Eu me levanto e vou até Sydney, minhas botas batendo


silenciosamente contra a terra debaixo dos meus pés. Ao longe, eu
posso ouvir o grito das sirenes, o ruído do tráfego, mas aqui, tudo
desaparece, sugado pelos mortos e ossos e cinzas.

— Eu realmente quero isso, — digo a Sydney quando ela se vira e


olha para mim, seus olhos azuis procurando o meu rosto por um longo
momento. Algo cintila lá, um flash de medo que faz o meu peito apertar
e o ar sair dos meus pulmões. Eu estou esperando ansiosamente por
uma resposta, seguindo o caminho que ela me leva pelo jardim de pedra
e estátuas, anjos chorando com rostos inclinados para um céu
tranquilo. — Me diga que você quer isso também. Quero dizer, nós
vamos viver basicamente juntos agora, certo?

— Sobre isso... — Sydney diz, se virando e se empoleirando no


topo de uma lápide. Seus brincos amarelos balançam sedutoramente,
este toque de neon em um mundo de outra forma incolor. Enfio meus
dedos em meus bolsos e me aproximo. Se esta é uma rejeição... bem,
foda-se. É melhor não ser. — Acho que se nós vamos foder em uma
base regular, poderíamos muito bem dividir um quarto.

Sydney olha para cima com um sorriso.

~ 84 ~
— O que você diz, pequeno baterista? Você quer dividir um quarto
comigo? Isso vai fazer Trey e Turner enlouquecerem, isso é certo. Até
posso ver suas reações, valeria a pena.

— Só estar com você valeria a pena, — eu digo a ela e depois me


aproximo mais, puxando minhas mãos dos meus bolsos e descansando
meus dedos sobre os joelhos nus de Sydney, abrindo-os e soltando um
suspiro afiado daqueles grandes lábios rosados. — Então isso é um sim
para namorar? Eu preciso ouvir você dizer isso.

— Isso é um sim, — Sydney diz quando eu abro o botão do seu


short, enrolo meus dedos ao redor da sua cintura e desço para seus
quadris. — Você é realmente tão baixo para fazer isso em um cemitério?
— pergunta ela, a voz entrecortada e rouca com necessidade. —
Algumas pessoas podem chamar isso de sacrilégio, um bilhete de ida
para o inferno e tudo mais.

— Foi ideia sua, — eu digo, arrastando os shorts sobre as botas


de Sydney, soltando para a grama debaixo dos nossos pés. Sem
calcinha. Querido Deus, me ajude. — Então eu acho que você vai ser o
único a pagar o pato. — eu dou um pequeno passo para trás,
empurrando os joelhos de Sydney ainda mais. Ela os abre sem nenhum
indício de constrangimento ou vergonha em seu olhar e eu dou uma
longa olhada, parando por um tempo em sua buceta nua. Bem, sua
buceta quase nua. — É um coração? — pergunto com as sobrancelhas
levantadas. — É um... piercing? Como eu perdi isso antes?

Sydney passa a mão para baixo de sua barriga e traça o maldito


coração rosa de cabelo acima de seu clitóris.

— Eu sou uma stripper, lembra? Todo mundo tem que ter algum
artifício. Esse é o meu. E qual é, as duas últimas vezes que transamos,
você não estava exatamente olhando. — ela sorri e é um olhar sexy que
corta seu rosto. — Senti todos os seus pequenos segredos, embora. —
Sydney brinca com o piercing através do seu clitóris.

Ela tem um piercing na buceta; meu pau tem um piercing.

Talvez nós somos uma combinação feita no céu?

— Merda, Sydney, você vai acabar comigo. — eu puxo uma


respiração dura, meu pau apertado e grosso contra o interior do meu
jeans. Tenho certeza de que já molhei minhas calças, pré-sémen em

~ 85 ~
todo lugar. Eu não posso evitar. Quando eu olho para esta menina, eu
estou além de pronto. Desesperado. Selvagem.

Me ajoelho e deslizo os dedos ao longo da pele suave e nua de


suas coxas, meus joelhos afundando na terra. Abaixo de nós, há um
caixão enterrado há dois metros. Aqui, há uma menina com peixes
tatuados em seus tornozelos, um clitóris perfurado e... um coração rosa
acima de sua buceta.

— Você é como um doce sujo ou alguma merda assim, — eu


sussurro, sem palavras, deixando cair a minha boca no calor quente de
Sydney, deslizando minha língua ao longo de sua abertura e
degustando o sabor selvagem que está todo sobre sua pele. Ela tem um
gosto delicioso.

Sydney enterra seus dedos no meu cabelo, apertando forte,


deixando a cabeça cair para trás, a luz do luar iluminando sua garganta
e desenhando linhas de prata em sua pele pálida. Eu beijo meu
caminho até o coração, deslizo a minha língua em torno dele e, em
seguida, em volta do seu piercing. Eu não posso manter meus dentes
longe dele, mordiscando o metal quente e puxando-o suavemente,
fazendo Sydney suspirar e empurrar seus quadris em direção ao meu
rosto.

Primeira vez, clube de strip. Segunda vez, hotel. Terceira vez,


cemitério. Isso vai entrar para os livros de memória.

Minha boca beija através da pele de Sydney, deixando arrepios ao


longo. Eu não deveria estar aqui, fazendo isso. Pelo menos isso é o que
meu cérebro me diz. Eu deveria estar miserável, enrolado na cabeceira
de Blair ou escondido em um quarto escuro em algum lugar. Mas eu
não quero estar. Este é o único lugar no mundo que eu posso me
imaginar agora.

Eu deslizo minha língua no piercing de Sydney, deixando-a


deslizar contra o clitóris inchado. Eu a quero tanto agora que isso está
me matando. Eu poderia quebrar esse pequeno beijo sujo e levantar,
enchê-la com o meu pau e batê-la contra esta lápide até que ambos
gozássemos. Mas eu quero ir devagar, arrastar essa sensação agradável,
provar cada polegada do seu corpo.

Eu duvido que vamos ter outro momento privado como este


quando estivermos em casa.

~ 86 ~
Minhas mãos deslizam sob as coxas de Sydney e faço o caminho
para a bunda dela, até que eu estou pegando seu rosto nos dedos
apertados, deslizando minha língua no espaço quente e úmido entre
suas pernas. Eu mergulho fundo, comendo-a até que os suspiros vindos
de sua garganta são menos roucos do que de uma estrela pornô e mais
desesperados, frenéticos.

Eu não aguento mais.

Eu desço e desabotoo minhas próprias calças, puxando meu pau


em minha mão. Meus dedos deslizam em meu eixo enquanto eu me
bombeio duramente, trazendo um orgasmo até a superfície. E depois
paro. Se você para quando está no limite só deixa as coisas mais
intensas. E eu quero isso. Eu quero estar com Sydney agora, ter uma
menina e me sentir confiante de que ela é minha. E eu nunca quis
ninguém assim antes. Nem uma única vez. Nem mesmo Naomi.

— Dax, — Sydney ronrona quando eu levanto e deixo que ela me


leve em suas mãos, seus dedos tocando os três piercings que perfuram
o lado de baixo do meu eixo. Frenum piercing9 eles chamam, mas quem
diabos se importa? Não eu, nem aqui e nem agora, com as mãos de
Sydney em cima de mim. Eu puxo uma respiração dura. — Você é um
pouco impertinente, não é?

— O que me entregou? — eu pergunto, as palavras deslizando


para fora em um rosnado áspero quando Sydney desliza o polegar em
cima do meu eixo, bem em cima das três barras. É difícil descrever a
sensação, como ser fodido três vezes no pau. Não faz qualquer sentido,
eu sei, mas há uma razão pela qual eu sou o baterista e não o cantor,
ok? Eu não tenho que ser um poeta. — Foram os piercings ou o sexo no
cemitério?

— Talvez um pouco de ambos, — diz Sydney, deslizando para fora


da lápide e ajoelhado no chão na minha frente. A bunda a mostra e
chupando um pau em um cemitério. Caramba. Há algo seriamente
errado com a gente, não é? Mas não estamos prejudicando ninguém,
certo? Quer dizer, a maiorias dessas sepulturas são da virada do século,
ou algo assim. A pessoa por trás da cabeça de Sydney diz Doutor
Shoemaker 1850-1895. Duvido que existem quaisquer parentes de luto

9
Tive que colocar isso pra vocês entenderem. Sorry! Ele tem três disso.

~ 87 ~
que vão ficar ofendidos por, uh, nosso encontro aqui com o Sr.
Shoemaker. — Você quer que eu esqueça os homens com quem
estive? Me deixe te ajudar a esquecer das meninas.

Sydney desliza os lábios rosa brilhante dela ao redor da cabeça do


meu pau, seu cabelo loiro caindo para frente e provocando minha pele
nua enquanto ela me engole profundamente, todo o caminho até os
meus piercings. Eu posso sentir bater no fundo da sua garganta
enquanto eu gemo e deixo minha cabeça cair para trás. Deveria olhar
para ela enquanto ela está fazendo isso... mas eu não vou aguentar
muito tempo.

Quando Sydney move a cabeça para trás e a umidade no meu


eixo formiga com a corrente de ar quente da noite, eu abaixo o meu
olhar e pego ela olhando para mim de debaixo dos seus cílios escuros,
enrolados e pretos artisticamente aplicados. Seus cílios reais são
pálidos e loiros. Tão fodido como eu estive nas últimas semanas, eu me
lembro disso. Lembro de ter visto seu rosto nu e livre de maquiagem, a
queda dourada de cabelos emaranhados em desordem.

Merda.

Eu estou me apaixonando por essa menina duro e rápido.

— Relaxe, — Sydney sussurra, deslizando a mão pela minha coxa,


suas unhas brilhando na escuridão. — Você está muito tenso, Dax
McCann. Você pensa demais, se preocupa muito. — ela sorri, seus
brincos amarelos balançando enquanto ela inclina a cabeça para o lado
e mordisca seu caminho pelo meu pau, mordendo a pele com dentes
suaves até que ela encontra a primeira das três barras. Antes que eu
possa aspirar outra respiração, ela está puxando delicadamente sobre o
metal, girando a língua em torno das bolas de prata.

Fogo segue pela língua de Sydney, queimando uma trilha


escaldante até o metal e, em seguida, de volta para cima quando ela
rastreia seus lábios até a cabeça do meu pau, o manchando de batom e,
em seguida, limpando do meu eixo com a língua.

Eu a deixo me levar, me arrastar até a beira do orgasmo e depois


parar de novo, meu peito apertado e meu corpo tremendo com a
necessidade. Eu quero gozar, mas tenho que estar dentro dela. Eu
preciso.

— Já acabou? — Sydney pergunta quando eu lhe dou uma mão e


a puxo contra meu peito. Nossas bocas se encontram e eu sinto o gosto

~ 88 ~
salgado em seus lábios, uma mistura da minha essência e a sua,
emaranhadas entre nossas línguas.

— Nem perto.

Eu levanto Sydney pelo braço e a coloco em cima da sepultura do


pobre médico.

Os braços dela vão ao redor do meu pescoço enquanto ela sorri e


pega um preservativo do meu bolso de trás. Eu nem me lembro de ter o
colocado lá.

— Eu coloco para você, — ela sussurra, trazendo-o para seus


lábios enquanto ela olha para mim com aquele olhar azul que faz meu
corpo doer. Se eu pudesse fumar, cheirar ou beber Sydney Charell, eu
provavelmente o faria. É meio que fodido, mas eu não posso evitar. Eu a
quero em cima de mim, ao mesmo tempo eu quero estar nela.

Sydney rasga o pacote de prata com os dentes brancos e


brilhantes e, em seguida, o desenrola em meu pau com uma lentidão
cuidadosa que faz meu coração disparar e minhas mãos cerrarem em
seus quadris. Na distância, eu ouço sirenes ligadas, gritos ecoando que
rasgam em toda a calma do cemitério.

Eu deveria estar preocupado com o que vai acontecer amanhã, na


próxima semana, no próximo mês. Eu deveria estar pensando em um
milhão de outras coisas além de Sydney Charell, mas quando eu olho
nos olhos dela, sinto seus seios cheios e maduros pressionando em meu
peito, minha mente fica completamente e totalmente em branco.

Sem que outra palavra se passe entre nós, eu movo meu pau para
a buceta de Sydney e empurro para dentro. Ela está tão molhada que
eu deslizo para dentro, até as bolas. Há um suspiro e seus músculos
endurecem antes dela relaxar um pouco e me permitir me mover, os
dedos ainda enfiados no meu pescoço.

Eu não posso deixar de notar as suas tatuagens contra a


escuridão das minhas, mesmo com seu corpo em torno de mim, quente
e apertado e acolhedor. Sydney me atrai com uma respiração, colocando
a mão na parte de trás da minha cabeça e trazendo os nossos lábios
juntos novamente.

Minhas próprias mãos enrolaram firmemente em torno de sua


carne macia e a puxo para mim, raspando sua bunda nua contra a
superfície de cimento da lápide.

~ 89 ~
O movimento faz Sydney suspirar contra a minha boca, sua
respiração quente vibra contra os meus lábios enquanto eu entro dentro
dela, movendo uma das minhas mãos entre nós para brincar com seu
clitóris. Os gemidos que saem de seus lábios são roucos e ásperos,
ralam contra a minha pele, fazendo com que sons a partir de minha
própria boca saem, enquanto nossos corpos batem juntos novamente e
novamente, transformando Sydney em líquido em meus braços quando
ela joga a cabeça para trás, o cabelo loiro caindo sobre os ombros.

Quando ela goza, ela me envolve apertado, me apertando dentro


de seu corpo enquanto ondas de prazer cintilam através de sua pele
como um show de fogos de artifício. A explosão em seu corpo
desencadeia no meu, me fazendo gozar duro e rápido.

O orgasmo me atinge como um trem de carga, apenas uma


rápida, violenta explosão brilhante e depois há um momento de clareza
na minha cabeça enquanto eu mantenho uma respiração ofegante,
Sydney tremendo em meus braços.

Esta garota... certeza que eu estou me apaixonando por ela.

Ainda não sei se isso é bom ou ruim.

~ 90 ~
Quando o sol se levanta e entra no quarto, me apunhalando
impiedosamente através das pálpebras, eu gemo e coloco um braço no
meu rosto. Não ajuda muito. Ainda há muito sol do deserto passando
pela parede de janelas. Não é exatamente a melhor maneira de começar
uma manhã de ressaca.

— Fodida Beverly Hills, — eu resmungo quando eu rolo e


cegamente procuro o criado-mudo para aquela coisa remota, aquela que
controla as persianas automáticas na janela. Seria demais apenas
puxá-las, certo? Esses filhos da puta estão realmente dentro dos painéis
de vidro, de modo que não pode ser manchada com a sujeira das mãos
humanas ou o terror chamado poeira. Eu resmungo e amaldiçoo
quando uma garrafa meio cheia de vodca rola na mesa e bate no chão
com um crack, assustando a meu companheiro de cama.

Companheiro de cama?

Merda.

Eu me viro de repente e acabo batendo minha cabeça contra Dax.

— Porra, — ele amaldiçoa quando nós dois recuamos e


esfregamos onde eu acertei. — Desculpe. — Dax pisca para mim, pelo
menos, tão perturbado pela quantidade enorme de sol como eu. Ei, eu
estou bem com o tempo quente, mas eu não quero olhar para ele até
que eu tenha tido um punhado de ibuprofeno e um prato de bacon.

Há esse momento estranho de silêncio enquanto nós dois


olhamos um para o outro. Caramba. Eu não inteiramente lembro como
chegamos em casa na noite passada, mas eu me lembro da nossa
conversa no cemitério. Me lembro de foder e eu me lembro de dizer sim.

Para o namoro.

Uh oh.

Eu engulo em seco e me sento, colocando um pouco de cabelo


atrás da minha orelha. Dax faz o mesmo. Ele ainda parece precioso, seu

~ 91 ~
delineador manchado em torno de seu rosto e seu cabelo escuro
despenteado, mostrando essas raízes loiras. Mas Jesus Cristo. Jurei,
jurei, jurei a mim mesma que eu não iria me envolver com ninguém -
especialmente não um baterista sombrio com um coração
quebrado. Observando-o ferido, quebra meu coração. É muita
responsabilidade.

E, no entanto... aqui está ele, sentado no meu quarto, baby.

— Como nós voltamos aqui ontem à noite? — pergunto, esticando


os braços acima da minha cabeça e percebo que ainda estou vestida
com as roupas de ontem. Há manchas de grama nos meus joelhos nus e
terra em meus shorts pretos, mas que seja. Eu acordei vestindo pior -
muito, muito pior. Eu não vejo quaisquer manchas de esperma, o que é
sempre um bom sinal.

— Honestamente, — Dax começa quando ele se inclina contra a


cabeceira da cama, deixando os cobertores caírem em torno de seus
quadris e revelando o peito nu para mim quando eu não estou assim
pronta para vê-lo. É muito cedo para peitorais apertados e tatuagens
escuras, mamilos duros e tanquinhos que parecem dar pra lavar
minhas roupas sobre eles. Porra. — Eu não tenho ideia do caralho. Eu
não me lembro de nada... — sua voz diminui e nós trocamos um olhar
de cumplicidade.

— Oh, por favor, — eu digo com um sorriso que faz minha cabeça
latejar de dor. Pílulas de dor, eu preciso de pílulas para dor. — Você
pode dizer isso. Nós transamos no túmulo de alguém. E daí? Eu não
sou religiosa? Você é? Acho que não. — eu chuto minhas pernas para
fora da cama e levanto antes que ele possa reunir uma resposta. — Oh
sim. — eu planto minhas mãos em meus quadris e olho para as minhas
botas. Ainda estou usando elas também. Impressionante. — Sobre a
nossa conversa ontem à noite...

— Foi fodido, — Dax diz, enfiando as mãos atrás da cabeça e


olhando a parede. Seu rosto está tão sério, porém, como se ele não
soubesse quão estúpido isso foi. — Desculpe, eu não deveria ter tentado
pressioná-la para um relacionamento assim. Foi besteira. Não se
preocupe com isso.

Deixo uma mão no meu quadril e aponto a outra para ele.

— Escuta aqui, você, — eu começo, me movendo para o final da


cama para os olhos cinzentos olhando diretamente para mim. Ele pisca

~ 92 ~
algumas vezes e, em seguida, se inclina para frente, os músculos de sua
pele tencionando de uma forma que é... bem, criminal. Eu quase ventilo
meu rosto, mas, então, o ar condicionado maldito está explodindo no
quarto, me fazendo tremer. Por que viver no calor e, então, passar o dia
todo se escondendo dele? Eu nunca vou entender esse sol da Califórnia
e eu cresci aqui. Vai saber. Adivinha o quê então? Nossa casa antiga
não tinha nenhum ar condicionado, ok? Nós nem sequer tínhamos
um ventilador. — Eu não estou jogando jogos aqui, está bem? Eu já
disse a mim mesma para não ficar confusa em tudo isso. — eu giro
minha unha laranja em um círculo preguiçoso quando os lábios de Dax
se contorcem. — E eu já posso dizer que você é problema, amor. Eu
podia ver isso vindo a uma milha de distância, mas você sabe o
quê? Você está aqui, e eu meio que gosto de você, certo? Além disso,
você tem um longo e agradável pau, uma bunda sexy e um ódio por
Turner Campbell que eu posso apreciar. Se você quiser namorar, vamos
namorar. Que se dano. Por que não?

— Uau, eu não sabia que você era tão apaixonada por ele, — Dax
responde, sua voz baixa e sombria. Eu não posso dizer se ele está
chateado ou... não, ele está se divertindo. O canto esquerdo da sua boca
levanta em um pequeno sorriso. — Sim, sim, por que não? — Dax
levanta os braços em sinal de rendição. — É uma razão tão boa quanto
qualquer outra, certo? Eu cheiro muito pó e eu não questiono isso. Eu
assino um contrato depois de uma produtora de TV louca me dizer que
ela vai me matar e eu não questiono isso. Então, por que isso? — Dax
faz uma pausa e seu sorriso pisca como uma lâmpada quebrada. — Por
que isso. — mais uma afirmação do que uma pergunta.

Eu tomo uma respiração profunda, mas pela primeira vez na


minha vida, eu meio que não sei o que dizer. Dax ainda está
quebrado. E isso é bom. Ele tem razões para estar chateado. Me lembro
dele dizendo algo vago sobre seu pai na noite passada. Vou ter que
cavar até que eu tenha a história completa. Se isso me matar, eu vou
desenterrar os segredos pra eles. Há pelo menos uma coisa que Turner
está certo: segredos são fodidos.

Ainda bem que eu não tenho nenhum. Nada para explorar. Nada
para brincar.

Vamos ver o que os Hammergrens vão achar disso.

~ 93 ~
Brayden fodido Ryker está olhando para mim.

Que maneira de estragar uma manhã bastante decente. Bem, e um


pouco de vômito. Mas só um pouco e Dax não viu, então as coisas ainda
estão bem, tanto quanto eu estou preocupada. Mesmo assim, nada de
vodka esta noite. Ou nunca. Nunca é bom.

— Sr. Ryker, — eu digo, cruzando os braços em meus seios e


encarando o brutamontes ruivo do outro lado do corredor. Ele está
vestindo uma camiseta rosa pálida que só o faz parecer mais assustador
do que o habitual. Ou talvez seja apenas as armas no coldre ao seu
lado, eu não tenho certeza. — Posso ajudar com alguma coisa?

— Se divertiu no cemitério na noite passada, senhorita Charell?


— ele pergunta casualmente. Sua voz tranquila também tem um ligeiro
toque de ameaça impregnada nele. Vamos apenas dizer que eu não sou
a maior fã do cara. Arrepios passam sobre a minha pele, eu toco minha
bota contra o chão e dou a Brayden Ryker um olhar que diz que eu não
vou jogar jogos de hoje.

— Então, você não é tão ruim em seu trabalho como você nos
levou a acreditar? — pergunto, ele encolhe os ombros e se ergue,
parando ao lado de uma mesa lateral decorativa e ajustando o vaso azul
e branco que está ali. Eu o observo por um momento enquanto ele
recua e fala calmamente para um fone de ouvido. Eu olho para o rosto
dele, de volta para o vaso, e, em seguida, para ele novamente.

Porra.

— Espere, espere, não me diga - há uma câmera aí dentro? —


pergunto, mas Brayden Ryker me ignora e continua a brincar com
o vaso certamente muito caro. — Ou não me responda. Isso é bom
também. — dou um passo para trás e olho para o espaço acima da
minha porta. Há uma nova câmera aqui também, e ela não está tão bem
escondida. Eu posso ver claramente, olhando para mim com um olho
bulboso. Puta merda. Esta merda está acontecendo mesmo, não é?

Onde é que eu fui me meter?

~ 94 ~
— Eu espero que você tenha dado alguma atenção à nossa
conversa na van, senhorita Charell, — diz ele quando eu olho por cima
do ombro, verificando se a porta do banheiro ainda está
fechada. Sim. Dax pediu licença para tomar um banho e não saiu
ainda. Eu pensei sobre me juntar a ele, mas eu pensei que ele também
merecia a chance de, eventualmente, fazer certas coisas sem mim. Novo
relacionamento, novas fronteiras. Nós vamos descobrir isso.

— É um pouco difícil pensar em algo que não entendo muito bem,


Bray. Posso te chamar de Bray? — eu não o espero responder. Não
importa. — Se você realmente quer minha ajuda, e eu não consigo
entender por que você quer ou precisa disso, então você vai ter de
elaborar. Basicamente, você me disse que pessoas ricas estão tentando
me matar porque elas estão entediadas ou chateadas ou algo
parecido. Eu sou uma garota de um parque de trailer, Bray. Eu preciso
da versão completa.

Brayden me dá um olhar que não é bom. Na verdade, ele parece


francamente puto.

— Você está tentando tirar sarro de mim? — ele rosna, mas eu


não tenho ideia do que isso significa, então eu só fico lá. Uh, esse
sotaque americano da costa oeste é tudo o que está no meu
dicionário. Desculpa. — Você está brincando, porra? — ele grita quando
eu não respondo. — Porque eu não gosto quando as pessoas me fazem
de bobo. — Brayden acerta o vaso que rola para fora da mesa, caindo
no chão por suas botas.

— Calma, cara, — eu digo, levantando as palmas das mãos e


dando mais um passo pra trás. Eu prefiro ficar na minha, mas ei, eu sei
quando recuar um pouco. O cara tem pistolas e tudo que eu tenho é
uma ressaca enorme e uma buceta dolorida. Estou totalmente legal com
a segunda metade da frase, mas eu realmente não quero entrar em uma
briga com alguém que é feito de músculos. — Eu só quero honestidade,
ok? Por que você despejou o corpo de Cohen na banheira de Ronnie?

— Porque Paulette me mantou, — ele rosna, fazendo uma pausa a


algumas polegadas de mim e corre uma enorme mão sobre o rosto. — E
se você for inteligente, também vai fazer o que ela diz. A última vez que
me recusei a Harding ou a Washington, eles mataram a minha filha. —
o choque que cintila sobre o meu rosto é impossível de esconder. —
Sim, isso mesmo. Minha filhinha. — a voz de Brayden quebra e ele
suspira. — Agora eu tenho que proteger a irmã dela. Se isso significa

~ 95 ~
seguir ordens, então eu vou segui-las. — ele faz uma pausa e varre o
corredor com um olho praticado, o verde de sua íris escurecendo
perigosamente. — Mas isso não significa que eu tenho que fazer um
bom trabalho para ela.

Algo que Ronnie me disse gira ao redor da minha cabeça como


um sino da igreja.

Às vezes é melhor fingir não saber e deixar as cartas caírem de


qualquer jeito.

Isso é o que Brayden disse a Lola e Ronnie na noite em que todos


nós fomos para o clube.

Bingo, cadela.

— Então você propositadamente é ruim na segurança? Para


proteger as pessoas? — eu pergunto, tentando decifrar isso. Deus sabe
se eu não fizer isso, ninguém vai. Dax e Ronnie são as pessoas mais
inteligentes aqui e eles têm pênis. Não dá pra contar com eles para
merda nenhuma.

— Quando me convém, sim, eu sou. — Brayden dá um passo


atrás de mim, sua respiração áspera e irregular. Eu nunca vi nada além
de profissionalismo frio em suas feições robustas antes. Estranho
demais? Eu mordisco o lábio inferior e olho para os pisos de mármore
frio. Eu sei que eles são caros, mas eu odeio. Só um pouco.

Cavando nos bolsos dos meus shorts, eu consigo encontrar um


cigarro e quando eu levanto uma sobrancelha para Brayden, ele fornece
o isqueiro.

— A família Harding quase desapareceu, — ele me diz em voz


baixa, abrindo um baú inteiro de segredos que eu não podia adivinhar
antes. — Mas Paulette é uma Washington agora. E os Washingtons não
gostam dos Hammergrens mais do que os Hardings.

— Qual é o fim do jogo aqui, Brayden? —pergunto, verificando


novamente por uma fresta na porta do banheiro. Nada. Meu pulso se
agita quando eu penso sobre Dax saindo, seu cabelo molhado e
despenteado. Oh, você está no coração - e na minha buceta. Não tenho
certeza do que está pulsando mais. Talvez toda essa coisa de namoro
seja divertido? Hah. Ha ha ha. Se sobrevivermos a tudo isso. Se. —
Quem é que queremos ganhar, e como é que vamos fazer isso acontecer,

~ 96 ~
Bray? Tudo isso, — eu aceno minha mão em torno do corredor, —
precisa ir.

— Confie em mim, — diz ele com um sorriso branco


brilhante. Que dentes grandes você tem, eu penso com um pequeno
estremecimento quando eu trago meu cigarro e dobro os dedos de
minha mão esquerda no bolso da frente. — Você
definitivamente não quer que os Hammergrens tenham sucesso. Neste
ponto, você acabou chateado eles regiamente. Eles querem que todos
vocês sejam mortos. Paulette... ela quer ambas as bandas de sucesso
porque é isso que sua irmã queria. Dinheiro, fama, infâmia. Ah, e
Tyler. Não se esqueça sobre Tyler, America e o filho de Stephen.

— Filho de Travis, — corrijo e Brayden dá de ombros.

— Apenas faça o que eu digo e as coisas vão ficar bem. Se você me


irritar, você pode acabar morta.

Uma carranca se forma na minha boca, mas eu decido não


mencionar quantas pessoas já estão. Ou quantas pessoas chegaram
perto.

— Pelo menos eu não estou na banda, — eu brinco com um


ligeiro encolher de ombros e uma piscadela. — Se todo mundo for
morto, posso apenas pegar o dinheiro do meu irmão e fugir. — é uma
piada, não uma muito boa, mas Brayden se vira para olhar para mim
com um profundo olhar severo.

— Oh, não, — diz ele, suas palavras graves, muito graves para
uma manhã ensolarada de domingo. — Quando você entrou nisso, você
colocou o seu nome na lista. Assim que eles tiverem a oportunidade,
eles vão colocar uma bala em você também.

Não tenho certeza como descrever a expressão facial de Dax. A


pele ao redor de seu nariz está enrugada e seus olhos estão arregalados
pra caralho, mas sua boca está torcida em uma semelhança
perturbadora de um sorriso. Eu acho. Pode ser uma careta.

~ 97 ~
— Por que você tem manchas de grama nos joelhos? — Trey
pergunta, sentado confortavelmente em sua cadeira de rodas. Eu
ignoro, dobrando minhas mãos atrás da minha cabeça enquanto eu
espero por... algo do grupo coletivo de imbecis e idiotas na minha
frente.

— Essa é a merda mais idiota que já ouvi, — vomita Turner,


porque bem, eu apenas optei por ver tudo o que ele diz como merda
pulverizada da sua linda boquinha. — Você quer me dizer que tudo isso
é apenas a versão rica do Coliseu ou algo assim? Apenas um bando de
idiotas fantasiados assistindo pessoas morrerem por diversão? —
Analogia interessante, mas não tenho certeza se Campbell sequer sabe
onde ou o que o Coliseu é, mas tudo bem. — Eu pensei que isto era sobre
Travis e America, e seu maldito filho.

— Foi, — eu começo, mas Turner já está sacudindo as mãos para


mim, o braço carregado com as pulseiras multi coloridas Sra. Turner
Campbell.

— Essa é a merda mais estúpida que já ouvi. Foda-se essa cadela


ruiva. Eu sou rico agora e você não me vê pagando aos sem-tetos para
atirarem uns nos outros.

— Apesar de que seria meio que legal, — Trey ri e eu lhe dou um


tapa na parte de trás da cabeça. Dax quase sorri por causa disso, mas
isso desaparece e volta para aquele olhar arregalado e estranho. Talvez
eu não devesse ter dito a eles sobre a coisa toda?

— Não seja um idiota fodido, Trey, — eu digo, rolando os olhos de


forma dramática. — Turner.

— Ei, vá se foder, Sydney, — Turner responde, enviando uma


onda visível do ódio pela espinha de Dax. Aqueles lindos olhos cinzentos
se estreitam e sua boca torce para o lado de raiva.

— Por que diabos você acha que não há problema em falar com
ela assim? — ele rosna, se levantando no rosto de Turner. Tenho certeza
de que eles estão perto de entrar em uma briga. — Se não fosse por sua
banda e o erro estúpido do seu amigo, ela não estaria envolvida em
qualquer desta porcaria. Ela não estaria arriscando a vida dela para
ajudar vocês.

— Você acha que pode falar sobre Travis assim, sua puta
emo? Você não sabe nada sobre merda nenhuma. Eu vou chutar sua
bunda tão duro você não vai conseguir ver direito.

~ 98 ~
— Pode vim, — Dax rosna de volta, apenas uma fração de
segundo antes que eu pare entre eles, de costas para Turner e minhas
mãos contra o peito de Dax. O contato entre nós inflama em um
instante, fazendo meu corpo gelar, congelando as palavras na minha
boca enquanto eu olho para o rosto dele. Dax engole visivelmente
quando ele envolve suas mãos em torno das minhas.

— Oh meu Deus, — Turner geme, eu olho sobre meu ombro e o


encontro passando a mão pelo rosto. — Vocês dois podem parar com
isso? Temos negócios para lidar.

— Você tem certeza que não quer ir encontrar alguns moradores


de rua primeiro? — eu digo, tomando uma respiração profunda e
cuidadosamente extraindo minhas mãos dos dedos de Dax. Trocamos
outro olhar, que diz muito sobre como este novo ‗relacionamento‘ nosso
vai ser: vai ser uma festa de foda.

Eu endireito meus seios e finjo que não tenho um problema sério


de umidade acontecendo lá embaixo.

— O Hammergrens e os Washingtons, — Ronnie começa, sentado


na cama ao lado de Lola. Ele parece pensativo, como se ele estivesse
analisado a informação enquanto o resto de estávamos fazendo
brincadeiras. — É o tipo de pessoas com recursos, dificilmente podemos
sequer imaginar. Você acha que nós temos dinheiro agora, mas é
literalmente apenas uma gota no oceano quando você está falando de
pessoas como estas. Basta pensar nos Waltons.

— O quê? — Turner pergunta, cruzando os braços tatuados sobre


o peito. — Não são aquelas pessoas da Little House on the Prairie ou algo
assim?

— Esses são os Wilders. Os Waltons são os ricos e egoístas que


possuem a Walmart, — eu digo e Turner sorri.

— Sim, você sabe tudo sobre isso, não é? Conseguiu esses super
perito no supermercado deles?

— Isso é sério pra caralho, — Dax rosna, eu me viro e lanço a


Turner um olhar sério. — Mais um comentário como esse, e eu vou
acabar com você. — o olhar no rosto do meu novo namorado me diz que
ele está falando sério.

— Faça todas as piadas que você quer às minhas custas, mas


Naomi não está programada para voltar para casa nos próximos

~ 99 ~
dias? Como seria engraçado se essa bala que Brayden estava falando
fosse para ela? Você e Knox tem a certeza de ter feito um trabalho
admirável conseguindo toda a atenção do jeito de vocês. Se alguém
deveria estar preocupado com esta merda, esse alguém deveria
ser você.

A boca de Turner se torce quando ele inclina a cabeça como se


não estivesse nem aí. Bom ator, mas suas mãos estão tremendo
enquanto ele acende um cigarro e o coloca nos lábios.

— Mesmo se o que você está dizendo - o que essa cadela está


dizendo - for verdade, então o quê? O que você quer que eu faça sobre
isso?

— Parece que há mais do que apenas dois lados aqui, — eu digo,


tentando manter a calma e o soco de ansiedade na minha barriga. Se eu
começar a falar merda, o resto destes idiotas estarão seriamente
ferrados. — Eu não confio em Brayden Ryker, mas quando se trata de
motivação, ele parece ter apontando na direção certa. Eu digo que por
agora vamos ficar com ele e ver o que acontece.

— E se você estiver errada sobre isso? — Turner pergunta ao


redor de seu cigarro. Eu olho para Dax, mas não parece que ele tem
respostas também. E eu pensei que ser uma viciada em crack era
difícil. Eu pelo menos eu não estava sempre ciente dos meus problemas
naquela época. Neste momento, minha mente está cristalina. Eu seguro
o olhar cinza de Dax por um momento antes de olhar para o meu irmão,
para Turner, para Lola sentada na cama ao lado de Ronnie. Sua forma
pequena está envolta em uma camiseta solta, apenas comprida o
suficiente para esconder a calcinha - ou a falta dela - que ela poderia
estar usando. A expressão sarcástica em seu rosto me diz que ela não
está surpreendida por nada disso.

Eu não tenho uma resposta para ela, para Turner, para qualquer
um deles. Meu sentidos de stripper se estendem até certo ponto. Então
eu encolho os ombros e as costas, meus saltos de leopardo cor de rosa
batem alto no chão de mármore frio. Dax segue e a porta do quarto
suavemente fecha atrás de nós.

~ 100 ~
— Tem certeza que não quer voltar lá e contar ao meu irmão que
estamos namorando? — pergunto com uma sobrancelha levantada
fazendo uma pausa no topo das escadas e olhando para Dax. — Pode
ser uma maneira divertida de terminar essa manhã de merda, você não
acha?

Dax me dá um sorriso apertado que não chega nem perto de


esconder o medo em seus olhos. Acho que a maioria desse olhar é para
mim, mas eu não preciso disso. Não tenho medo dos Washingtons ou
dos Harding ou dos Hammergrens; eu não tenho medo de nada. O pulso
batendo na minha garganta discorda sobre isso, mas ele pode ir se
foder. Bravata sempre funcionou para mim no passado. O que torna
essa situação diferente?

— Se fizermos isso, tenho a sensação de que ele vai abrir a boca


grande e, então, talvez a gente não vai precisar dos Washingtons ou dos
Hammergrens para matar o seu irmão, porque eu vou estar terminando
o trabalho para eles.

— Não fale assim tão cedo de manhã, — eu digo, virando o rosto


para Dax, meus saltos precariamente perto do limite da escada. Eu me
sinto como Meryl Streep em Death Becomes Her, alguns preciosos
segundos de desmoronar nestes degraus e quebrar meu pescoço. — Isso
me anima. Sem se preocupar com Trey? Soa como um sonho se
tornando realidade. — eu sorrio quando Dax envolve seus braços em
volta da minha cintura e me puxa para longe da borda, apoiando as
mãos timidamente em meus quadris como se ele estivesse tentando
testar essas novas águas do nosso relacionamento. Eu vou estar lá com
ele, lutando para nadar. Eu não sou exatamente um especialista em
relacionamentos. Sexo, eu sei como fazer. Todo o resto... eh, há uma
curva de aprendizado.

— Eu achei que tinha permissão para namorar você? — ele


pergunta com uma torção de seus lábios. Agora, na luz dourada
passando pelas claraboias acima de nós, eu posso ver as tatuagens nas
costas das suas pálpebras com perfeita clareza. Born Wrong.

— Bem, há uma clara diferença entre prática e teoria. Tem certeza


de que não quer fazer uma manhã de merda mesmo? Aposto que Turner
está lá também.

~ 101 ~
— Só me prometa que você não vai ficar puta quando eu bater no
seu irmão. Sei que ele está incapacitado e tudo mais, mas ele é muito
idiota.

Faço uma pausa por um momento, batendo o dedo contra meus


lábios e, em seguida, dou de ombros.

— Devo admitir, já pensei sobre isso uma ou duas vezes. — eu


deslizo meus braços em volta do pescoço de Dax, sentindo os músculos
fortes das costas e ombros. Nossas bocas se encontram e eu tremo pela
frieza de seus lábios contra os meus. Beijar Dax é como pular de cabeça
em um penhasco no gelo azul de um lago no inverno. Ele pára o coração
e, em seguida, inicia novamente em um frenético ritmo batendo.

Eu quase gostaria que isso me matasse.

Eu voltaria com um suspiro antes de sorrir para ele. Parece que


algo importante aconteceu ontem à noite, mas eu sei que para todos
além de Dax e eu, é apenas mais um dia. Você não acabou de se
declarar para o cara? Minha mente me pergunta novamente, mas não
estou mais ouvindo. Eu a Sydney louca, e eu faço coisas apenas por
fazer. Oh, e caras emos. Eu amo demais, aparentemente. Vai saber.

— Vamos tomar café da manhã? — eu pergunto, mantendo o


ambiente leve do jeito que tem que ser. Eu não vou viver a minha vida
me esgueirando por aí, envolta em trevas, não para Paulette
Washington, nem para ninguém. Falando de Paulette...

Faço uma pausa e olho por cima do meu ombro enquanto eu pego
um trecho da conversa no andar de baixo.

— Você ouve o que eu ouço? — pergunto quando a pele ao redor


do nariz de Dax se enruga. Poderia ser um âncora de notícias da CNN...
ou pior ainda, um da Fox. Mais do que provável, porém, que a voz
preciosa e polida pertence ao próprio Diabo. — Puta que pariu, — eu
gemo sob a minha respiração, voltando para a escada.

— Meus pensamentos exatamente, — Dax comenta quando ele


me segue pelos degraus de pedra. Fazemos uma pausa na entrada para
a sala de estar para encontrar Paulette Washington sentada com Milo
Terrabotti em torno da mesa de café, copos de papel brancos em suas
mãos.

— Senhorita Shuh-Rell, — Paulette diz quando ela olha por cima


do ombro, na verdade pronunciando meu último nome

~ 102 ~
corretamente. Quase ninguém consegue. — Sr. McCann. Como vocês
estão indo esta manhã?

— Estávamos indo muito bem... — eu pego um cigarro e passo o


meu polegar sobre a roda de metal do meu isqueiro. — ...até que você
apareceu. — eu dou uma tragada, olhando para Paulette, com um
sorriso cáustico no meu rosto. Ela é notavelmente parecido com a sua
irmã, America. Talvez não na aparência, mas na atitude certamente. Se
eu precisar, eu vou acabar com esta cadela da mesma forma que fiz
com a outra. — O que você quer? Estas filmagens não deveria começar
na quarta-feira? Ou você veio aqui para cavar um pouco mais de
drama?

Paulette se levanta do sofá e ajeita sua saia, sorrindo para mim


como se ela realmente gostasse de mim. Isso vindo da mulher que
matou Cohen Rose e o despejou em uma banheira. Eu tremo um pouco
quando eu penso sobre isso.

— Você sabe por que eu ainda estou viva, Sydney?

— Você pode continuar me chamando de senhorita Charell, — eu


digo, cruzando os braços sob os meus seios. — E eu posso dar um
palpite e dizer que é porque você continua a comer, respirar e foder?

— A família Hammergren, com Stephen à sua frente, matou quase


todos que eu amava. Pode ser difícil para você entender, considerando o
seu baixo nível socioeconômico, mas há uma elite neste belo mundo feio
nosso, uma nobreza. Minha família era parte disso, — continua ela, se
movendo para mim. Eu estou parada com Dax ao meu lado. Ele está
franzindo a testa, o canto do lábio torcido com desgosto. Aprecio a
emoção, mas eu não dou a mínima. Baixo nível socioeconômico? Isso
deveria ser um insulto? Foda-se essa vaca. — Mas não foi o suficiente,
não para meus pais ou para o meu irmão. — Paulette faz uma pausa ao
meu lado e continua a sorrir. Ela se parece com um anúncio de revista,
toda brilhante e perfeita. Uma foto.

— Seu ponto é? — pergunto enquanto ela faz uma pausa e


balança a cabeça suavemente, esses cachos escuros dela brilhando e
cintilando na luz do sol vindo a partir do quintal. Abro a boca para
adicionar um pouco mais de combustível ao fogo quando eu avisto
Brayden de pé perto das portas traseiras deslizantes, os braços
cruzados sobre o peito enorme. O olhar que ele me envia diz
tudo. Banque a legal.

~ 103 ~
Bem, merda. Essa é uma lição que eu perdi no jardim de
infância. Talvez porque eu nunca fui para um... mas eu sei muito sobre
autopreservação. Algo no meu peito, além dos meus implantes estão me
dizendo para manter minha boca fechada no momento.

Sorrie e aguente, baby. Eu olho para Paulette diretamente no


rosto e levanto uma única sobrancelha.

— Meu ponto é que minha família está morta, então o que te faz
tão especial? Você é uma stripper de Los Angeles, uma andarilha, uma
ninguém. A única pessoa viva nesta terra que pode te ajudar agora
sou... eu. — Paulette varre o cabelo para trás e sorri para mim. — Para
mim, isto é um jogo. Para você, é vida ou morte. Então, por que não
jogar para me ajudar a ganhar?

~ 104 ~
É difícil relaxar com ameaças e intrigas penduradas no ar como
fruto podre infestado de larvas. É como se toda esta mansão - esta faixa
lindamente ostentada de luxo - cheirasse exageradamente doce, como
um pêssego inchado. Eu sei que está tudo na minha fodida cabeça, mas
não posso afastar a sensação. Ela se agarra a minha pele como o suor
que eu não estou ostentando graças ao ar condicionado.

— Este lugar é ridículo, — eu digo a Sydney quando nós estamos


sem jeito na cozinha, os nossos olhares atraídos para as câmeras que
pontilham o teto. Há mais por aqui, eu tenho certeza, mas eu prefiro
não ir à procura delas; eu prefiro não saber.

Eu corro a minha mão sobre a bancada de pedra e balanço a


cabeça. Eu me sinto como um idiota reclamando sobre tudo isso, mas
vamos lá, quanto é que uma pessoa realmente precisa para ser
feliz? Um lugar deste tamanho é muito para as duas bandas juntas. Eu
me sinto como um idiota apenas por dormir aqui.

— Ele não podia simplesmente comprar uma casa no subúrbio?


— pergunto quando Sydney se vira e inclina seus cotovelos contra a
parte superior da bancada de café da manhã. Seus seios estão em
exibição quando ela fica assim, inchados no vestido branco que ela
colocou sobre seu traje de banho. Estamos namorando oficialmente a
sei lá, seis horas e eu já estou começando a pirar.

Como diabos eu trouxe tudo isso ontem à noite? Nós saímos para
conversar e acabamos um casal? Eu realmente sou um emo puta às
vezes.

— Bem, você sabe, — Sydney começa, ela olha ao redor do palácio


reluzente de aço inoxidável, pedra e armários personalizados, —
Turner é um imbecil da pior espécie. Eu não acho que ele sabe disso.

— Não sei? — o idiota em questão pergunta enquanto passeia na


cozinha com uma expressão satisfeita que está apenas implorando para
ser arrancado do seu rostinho bonito. — Eu vivia em um trailer fodido

~ 105 ~
com meios-pais que jogava isso na minha cara. Eu mereço esse merda.
— Turner aponta o chão e, em seguida, levanta o queixo com um
sorriso, lançando um olhar na minha direção que apenas me implora a
discutir com ele. Em vez disso, eu cruzo meus braços sobre o peito e
espero seja lá o que for que ele quer dizer. Claramente, ele veio aqui
com um propósito em mente.

— Me deixe adivinhar, eu perdi alguma coisa importante? Será


que a falha de San Andreas finalmente explodiu? Estamos à espera de
um tsunami? — Sydney pergunta, se levantando reta e plantando as
mãos nos quadris, os brincos de pena de pavão que ela colocou
flutuando na brisa artificial do ar condicionado. Maldição, ela é linda,
eu penso enquanto eu olho suas generosas curvas, os altos picos de
suas maçãs do rosto, seus reluzentes olhos azuis.

Turner não responde imediatamente, deixando seus lábios se


enrolarem em um sorriso enorme quando ele cava um maço de cigarros
e acende, as pulseiras de borracha em seus braços rangendo com o
movimento. Ele tem uma boa dúzia amontoadas em seu antebraço. Eu
acho que um deles ainda diz Sra. McCann. De onde diabos veio isso?

— Pela primeira vez, nós temos algumas boas notícias. Adivinha


quem está pronta para voltar para casa? — um arrepio dispara na
minha espinha e os meus dedos se enrolam em punhos ao meu lado. Se
Turner parece assim, como se ele tivesse acabado de gozar em suas
calças jeans, só há uma resposta que pode seguir a essa pergunta.

— Naomi? — eu pergunto, rezando para que eu não esteja


errado. Eu não consigo pensar em ninguém mais que eu ficaria feliz em
ver parando naquela garagem. Além disso, quanto mais cedo ela voltar,
melhor. Kash, Wren, eu, nós precisamos dela. Ela é a cola que está
segurando essa banda, a única pessoa que vai ser capaz de descobrir
como continuar sem Hayden, sem America, talvez até mesmo sem Blair.

Dor pisca através de mim, mas eu mordo minha língua e engulo


sangue. Não. Não. Não vou pensar nisso agora. Blair está no hospital
com os melhores médicos, com sua família, com o melhor que o
dinheiro pode comprar. Se eles não podem salvá-la, ninguém pode. Eu
só tenho que continuar improvisando uma esperança e uma oração. E
Sydney. Agora eu tenho Sydney.

— Mesmo em um céu escuro, há estrelas, certo? — Sydney


acrescenta enquanto observa Turner ir até um painel na parede. —
Você está indo para o hospital?

~ 106 ~
Turner sorri e coloca pra tocar uma música que eu não
reconheço, mas inferno, eu não tenho estado perto deles. Poderia ser o
hit número um agora e eu não saberia. Além de soar como hip-hop ou
rap ou algo assim, e eu simplesmente não ouço essa porcaria. É só rock
'n' roll para mim.

— Esperando Brayden trazer a van, filhos da puta, — Turner diz


quando a música amplifica no refrão e eu percebo que reconheço. É Flo
Rida ‗My House‘.

Eu sinto meus lábios virarem em uma careta quando Turner


estala os dedos e fuma o cigarro, dançando ao ritmo e fazendo gestos
ridículos com as mãos que eu tenho certeza que ele pensa ser legal. Em
vez de rolar seus olhos, Sydney se junta a ele, se movendo com a batida
enquanto Turner canta sobre sua maldita casa e me dá boas vindas,
dançando como um idiota com a minha nova namorada ao seu lado.

É tão... normal e estranho e nada como as coisas de que eu já


participei há muito, muito tempo.

Jesus, eu odeio essa música, eu penso enquanto eu pego meu


próprio cigarro e deixo Sydney me puxar para uma dança ridícula que
de alguma forma acaba chamando a atenção de Lola e Ronnie quando
nos encontram lá. Estamos todos nos movendo em torno da cozinha
como se estivéssemos em um clube de merda, algo que eu tenho certeza
que as câmeras vão pegar e passar adiante.

Ah bem. Foda-se. Apenas foda-se.

Minhas mãos deslizam ao redor da cintura de Sydney, o tecido


suave de seu vestido dá uma sensação deliciosa contra meus
dedos. Chamo-a para perto, trazendo seus seios contra o meu peito
enquanto Turner começa a cantar em voz alta com o coro. Seus
vocais gritam Flo Rida enquanto ele canta sobre a música alta
demais. Neste ponto, eu não me importo mais. Os olhos de Sydney
estão focados nos meus, os braços ao redor do meu pescoço enquanto
nós nos movemos para a batida pulsante e o baixo no aparelho de
som. O som dispara por toda a casa do caralho. Acho que é um luxo
que posso aguentar.

— Eu te disse, — sussurra Sydney quando a música muda e eu


reconheço o som da minha própria detonação rufar dos alto-falantes,
como um spray de tiros. Porra, eu sou bom. — Não é tão ruim. Nós
vamos vencer esta merda.

~ 107 ~
Por um segundo, meus braços apertam ao redor dela, seu corpo
quente deslizando contra o meu, eu quase acredito nisso.

Quase.

Então, vinte minutos depois de Turner sair pela porta, eu estou


relaxado o suficiente para devorar uma pizza recém-entregue, sentado
ao lado de Sydney, nossas coxas se tocando sempre tão ligeiramente
por baixo do balcão. Eu quero falar com ela sobre... tudo. Qualquer
coisa. Alguma coisa. Em vez disso ficamos sentados em um silêncio,
observando Ronnie e Lola conversando sobre algo que eu não estou
certo cem por cento se eu entendo. Está tudo bem, bem mesmo,
sentado aqui assim, mas eu já estou ansioso para ficar sozinho - e não
apenas para foder, embora eu não iria dizer não a isso também.

— Eu não confio nela, — Lola murmura baixinho, uma fatia de


pizza em suas mãos pequenas. — Eu não mijaria em Paulette
Washington nem se ela estivesse em chamas.

— Concordo, — Ronnie diz enquanto se inclina contra o balcão e


vê a sua nova namorada dar uma mordida. — E eu não confio em
Brayden Ryker também, mas que escolha temos neste momento?

— Você é o único que é tão esperto como um rato estúpido10, —


resmunga Lola. — Você vai resolver isso.

— O que diabos é um rato estúpido? — Sydney pergunta com


uma risada, olhando para mim. Um sorriso peculiar aparece sobre os
meus lábios enquanto eu olho para ela, uma sensação de paz tomando
conta de mim por uma fração de segundo. Naomi está vindo para
casa; eu tenho um lugar para viver; eu tenho uma namorada. Agora, se
Blair acordasse, as coisas poderiam realmente ficar boas.

O som de tênis no chão de mármore no corredor faz com que


todos pausamos. As câmeras podem ou não já ter gravado a conversa,

10Aqui ele usa a expressão bunny, que pelo que pesquisei pode significar banheiro e
estúpido, idiota.

~ 108 ~
mas eu vou ser amaldiçoado se eles acham que vão nos pegar fofocando
em pessoa.

Eu sinto meu sorriso desaparecer quando uma mulher


seriamente alegre com uma prancheta aparece, nos observando na
cozinha como ovelhas. Eu acho que essa garota é a secretária de
Paulette ou algo assim. Nas poucas horas desde que descemos, eu vi a
mulher fazer tudo, menos limpar a bunda perfeita e siliconada de
Paulette com a língua - embora eu não esteja duvidando que ela faz que
isso por trás de portas fechadas também.

— Bom dia a todos! — ela exclama de maneira muito


entusiasmada para mim. — O que vocês estão fazendo hoje?

— Eu não vou dignificar essa fodida pergunta com uma resposta,


— eu estalo para impedir sua excitação. Seu rabo de cavalo loiro oscila
precariamente enquanto chicoteia o seu olhar entre nós quatro e, em
seguida, levanta uma pequena pilha de papéis em suas mãos bem
cuidadas.

— Nós temos alguns prazos muito apertados agora, — diz ela, que
apenas soa como um monte de besteira para mim.

— Prazos? — Sydney pergunta, refletindo as minhas perguntas. —


Como existem prazos para um reality show? Não temos apenas, sei lá,
que fazer as coisas enquanto você assiste? E isso não deveria começar
na quarta-feira? — a Rabo de Cavalo ri como se ela achasse que é uma
piada e balança os papéis para nós.

— Eu mandei uma mensagem sobre todas as programações de


ontem à noite, mas ninguém respondeu, então eu estou supondo que
vocês não receberam isso. Ainda bem que temos velhas cópias em
papel.

— Deus nos livre de voltar para os dias de velas de sebo e papel


vegetal, — eu digo, rolando os olhos. Sydney ri, mas a Rabo de Cavalo
não parece entender a piada, passando os horários para mim. Eu
entrego aos outros e, em seguida, olho para as páginas. Há data de
hoje... com o meu nome no topo.

Eu verifico o relógio, verifico o papel, verifico novamente o relógio.

Porra.

~ 109 ~
— Entrevista para Celebrity Guest Promocional? — Sydney
pergunta para mim. — Que porra é uma entrevista promocional? E
quem é o convidado da celebridade?

O sorriso infalível da Rabo de Cavalo faz meu queixo se contorcer.

Ótimo. E eu estava tendo uma maldita boa manhã também. Não


há nada que eu odeie mais do que entrevistas do caralho.

Me deixe reformular isso: não há muito que eu odeio mais do que


entrevistas do caralho.

Surpreendentemente, Paulette Washington consegue dragar uma


dessas raridades para mim.

Duas palavras horríveis. Quatro sílabas horrendas.

Miley Culbrath.

É como se cada segundo miserável desta experiência tenha sido


projetado especificamente para me torturar até a morte.

Eu enrolo minhas mãos em punhos pelos meus lados, meus


dedos se enrolando na apertada malha de minhas luvas sem dedos. Há
um conjunto de baterias na sala de estar, mas eu tenho a sorte de
experimentar a sensação de vazio de andar aqui e sentar com
absolutamente nenhuma chance de tocar. A bateria é terrível, alguma
porcaria que eu não gostaria de bater de qualquer maneira. Este é o
tipo de porcaria que você encontra se escondendo atrás de estrelas pop,
apenas uma bateria simples de quatro peças colocada lá para algum
pobre idiota que é pago para queimar os tímpanos de qualquer infeliz de
ter de ouvir um loop constante de batidas com notas básicas.

— Eu não vou aparecer na TV com isso, — eu digo examinando o


conjunto e olho para Paulette Washington, ainda sorrindo com aquele
sorriso assustador dela. No início, eu pensei que ela me lembrava de
America, mas cada segundo que eu olho para o rosto dela, eu percebo
que ela não é nada parecida com ela. America era polida na perfeição,
mas era apenas um invólucro da mulher emocionalmente instável por

~ 110 ~
baixo. Paulette é a embalagem. Não tenho certeza de que há alguma
coisa a esconder debaixo de toda aquela perfeição. Do que eles chamam
essa merda? Sociopata? Psicopata?

O primeiro dia de filmagens para o nosso show hediondo e eu já


estou lamentando meu impulso de assinar esse contrato. Estava
realmente fazendo um grande negócio? Não parece isso agora.

— Não é como se eu estivesse pedindo a você para tocar, —


Paulette diz quando eu olho para Miley Culbrath, a anfitriã desse show
estúpido. A menina parece do mesmo jeito que me lembro dela: cabelo
loiro curto, um rosto como o de um chimpanzé, olhos azuis que eu
aposto tudo o que tenho que são falsos como o inferno. Lentes de
contatos do caralho. Eu deveria ter usado os negros que eu tenho na
minha bolsa, os que me fazem parecer um demônio
de Supernatural. Teria feito essa coisa toda engolível.

— Eu não vou ser visto com uma Tinker Toy. Eu quero a minha
bateria, — eu digo, cruzando meus braços sobre o peito e desejando
como o inferno um empresário no momento. A gravadora enviou um
cara para lidar com essas merdas enquanto esperamos uma
substituição, mas tenho a sensação de que ele está no bolso de
Paulette. Só mais um peão nesta guerra estranha.

Eu suspiro, mas Paulette mal pisca. Em vez disso, ela estala os


dedos para um assistente, enquanto Miley Culbrath olha para mim e eu
espero por mais uma entrevista que vai dar merda11 mais rápido do que
um bando de gansos em uma tempestade.

Isso deve ser divertido.

Eu olho em volta para Sydney, mas ela desapareceu no tempo que


levei para me trocar e me preparar para a entrevista. Eu tento não me
preocupar com isso. Quem diabos poderia entrar aqui com Brayden e
sua tripulação, a equipe de TV, as pessoas de Miley. É a porra de um
jardim zoológico, e eu sou um dos animais em exposição.

Eu vejo o próprio Sr. Ryker no canto, com os braços cruzados


sobre o peito. Por que ele fez o que fez com o corpo de Cohen ainda uma
espécie de mistério para mim. Entendo que Paulette mandou ele fazer
isso, mas por que, porra? Para nos assustar? Nos lembrar de que nós
temos zero controle sobre nossas próprias vidas? É como um jogo de

11 Aqui eles falam go South que em tradução literal é ―ir para o sul, ir para baixo‖ e
fica sem sentido na nossa língua.

~ 111 ~
xadrez, mas em vez de pedaços de madeira ou plástico, nós temos... um
corpo que já estava começando a cheirar mal.

Como diabos eu acabei no meio dessa bagunça?

Eu respiro fundo e espero enquanto o conjunto de bateria de


merda é arrastado e minha bateria é colocada em seu lugar. Não é tão
bonita quanto a outra, não está coberta com cristal Swarovski ou o que
diabos era aquilo, mas é meu. A partir dos arranhões no acabamento, a
fita sobre o assento, é meu.

Tipo Sydney.

Um arrepio percorre meu corpo e eu tento realmente não... bem,


ficar duro.

Não funciona.

Até o momento que minha bateria está no lugar e alguém com um


pincel de maquiagem está tentando atacar minha testa, eu estou
ostentando uma ereção massiva que me precede ao palco improvisado
para mais uma entrevista. Desta vez, é um vídeo promocional para o
site. Perfeito.

— Vestido toda de preto hoje, — Miley diz, como se ela estivesse


tentando conversar comigo. Em toda a realidade, seus olhos são
próximos demais um do outro e há uma lacuna entre os dentes da
frente. Ela é uma daquelas meninas magras que a indústria da moda
ama hoje em dia, porque elas são interessantes. E por interessante,
quero dizer apenas de rosto. Por trás desses olhos grandes e esse
sorriso plástico, ainda há uma idiota insípida, rasa, esperando para
abrir a boca. — Cujo funeral é?

— Faça a sua escolha, — eu digo, inclinando para trás e cruzando


os braços sobre o peito. — Eu tenho um quadro inteiro de amigos
mortos, conhecidos, inimigos, até mesmo parentes para escolher.

Miley olha de volta para mim com literalmente nenhuma emoção


em seu rosto. Ameaça Quádrupla, minha bunda. Esta menina pode ser
capaz de cantar, dançar, modelar, mas não há nada lá. Nada, cara.

Eu olho para as escadas procurando Sydney novamente, mas ela


ainda está longe de ser vista.

Porra.

~ 112 ~
Metade de um dia em nosso novo relacionamento e eu estou
ficando possessivo. Cristo. Eu não quero acabar agindo como Turner
Campbell.

Eu corro a mão pelo meu cabelo e tento me concentrar em passar


por esta entrevista sem me fazer de idiota. Até agora, estou bastante
certo de que ‗falhei‘ em todas as outras.

Eu percebo que estou franzindo a testa e coloco uma expressão


mais neutra, meu olhar corre de volta para Brayden Ryker.

Ele se foi.

Meu corpo fica tenso, minhas mãos enrolando em punhos quando


Miley pigarreia cerca de uma dúzia de vezes e força minha atenção de
volta em sua direção. Eu imagino que isso seja algo que ela está
acostumada a fazer, chamar a atenção assim. Eu já a odeio.

Eu concentro minha atenção de volta para as câmeras, em Rain


Colbert, a cadela produtora que está aparentemente ligada a Miley no
quadril. Que pesadelo. Odeio Hollywood quase tanto quanto eu odeio a
menina sentada na minha frente. Ela observa Rain por um momento e,
em seguida, fica um sorriso na câmera.

— Ei vocês, esta é Miley Culbrath fazendo um check-in do sneak


peek especial do mais novo reality show, um programa de televisão real
e tão bom que você vai querer deixar de fazer suas sobrancelhas apenas
para vê-lo. — Miley desliza seus polegares sobre as sobrancelhas loiras
arqueadas e joga um sorriso para mim. Da minha parte, eu apenas
tento não vomitar. — Estamos em contagem regressiva, começando com
Dax McCann, o baterista da banda que todo mundo está falando:
Amatory Riot. Então, marquem seus calendários e se preparem para a
estreia do reality show... — Miley faz uma pausa para fazer um gesto de
rock com os dedos e colocando para fora sua língua (ela parece ridícula,
por sinal). — Preparem-se para Hard Rock Roots!

Minha respiração trava no meu peito enquanto eu olho de lado


para fora da janela e acontece de eu ver Sydney na borda do muro que
circunda a propriedade. O que está acontecendo? Quando diabos
ela fugiu daqui? Eu sento de frente e vejo como ela cai no chão do outro
lado, passando as mãos no tecido empoeirado do vestido branco que ela
está usando. Quando ela dá uma olhada na minha direção, nossos
olhos se encontram e eu sei, só sei que algo estranho está acontecendo.

~ 113 ~
— Então, Dax, não é nenhum segredo que você e sua banda tem
passado por um inferno e voltado. Você pode me dizer um pouco mais
sobre isso? — Miley se inclina para frente, o cabelo loiro tampando suas
orelhas enquanto ela olha para mim se ela desse a mínima. Eu mal
posso olhar para ela antes do meu olhar ser atraído de volta para
Sydney. Sem perder o ritmo, ela abre a porta deslizante de vidro e para
diretamente na frente da câmera.

Há um momento de completo silêncio enquanto ela olha para


mim, ofegante, o rosto suado do calor seco que eu posso sentir varrendo
das portas de correr abertas.

— Dax, — diz ela, só essa palavra.

É mais do que suficiente para me assustar pra caralho.

Eu me levanto em um instante, meus dedos enrolados em torno


de seus braços. Sydney é geralmente tão... Sydney. Dizer que ela não
mostra emoção é uma mentira, porque ela é expressiva pra caralho,
mas isso é diferente. Eu nunca a vi tão aberta, tão vulnerável, tão...
excitada?

Aqueles lábios curvos lindos dela enrolam em um sorriso, com


batom vermelho brilhante que brilha como uma pintura molhada. Eu
quero vê-lo manchar toda a cabeça do meu pau enquanto ela me chupa,
e então eu quero beijar o resto do seu rosto. Por um segundo, eu quase
me esqueço das câmeras. Eu não acho que é o caso de Sydney. Certeza
que ela está plenamente consciente de sua existência; ela simplesmente
não dá à mínima.

— Eu tenho mais uma chance, — diz ela, se inclinando para trás


e olhando para o meu rosto. — Eu recebi outra oferta.

— Com licença, nós estamos no meio de uma entrevista aqui, —


Miley diz, a voz tão cheia de veneno como uma víbora.

— Cale a boca, eu estou falando, — diz Sydney antes de agarrar


minha mão. Seus dedos estão quentes e suados onde eles escovam
contra a minha carne, não fazendo absolutamente nada para ajudar a
minha ereção. Acho que tenho um problema sério aqui. Do tipo de ligar
para o médico e o mandar olhar meu pau. Não é normal ter um pau
duro por horas a fio.

— Que diabos você disse para mim, sua puta? — Miley diz, se
levantando de seu assento como um daqueles macacos com raiva que

~ 114 ~
você vê no zoológico. Eu olho sobre Paulette Washington e seu sorriso
de Beverly Hills perfeito se espalhando. Sim. Exposto. Estamos todos
expostos, porra.

— Talvez devêssemos levar isso em outro lugar? — pergunto,


enrolando meus dedos em torno da mão de Sydney e esperando como o
inferno que essa situação não saia de controle. A expressão em seu
rosto é difícil de ler, mas reconheço a mesma cintilação violeta de raiva
que cruzava seus olhos azuis antes dela chamar America como uma
cadela burguesa. Merda. E tudo isso está acontecendo na frente das
câmeras. De propósito, tenho certeza. Estou feliz por Sydney, mas um
contrato de modelo do nada? De maneira nenhuma isso é uma
casualidade simples.

— Você não vale o meu tempo, — murmura Sydney, e há este


momento claro de onde eu a comparo com Naomi Knox. Se alguma
celebridade com cara de chimpanzé tivesse chamado Knox de cadela,
golpes teriam sido trocados com certeza. Sydney, ela é mais esperta do
que isso. Ela sabe quando e onde derramar sua energia e Miley
Culbrath apenas não vale a pena.

— Senhorita Charell, — Rabo de Cavalo chama atrás de nós, mas


já estamos em movimento, fugindo através do arco da sala de estar
decorada com nada além de uma mesa, um par de estantes
escassamente decoradas e o que tem de ser um tapete persa
assustadoramente caro. Como Turner e seus amigos acabaram
comprando uma casa de propriedade da irmã de America? Isso não é por
acaso. Não mesmo.

— Desculpe por sua entrevista, — diz Sydney. Ela não soa com
pena.

Porra. Eu realmente gosto dessa garota.

— Você conseguiu uma oferta? — eu pergunto, relutantemente,


soltando a mão de Sydney para que ela possa trancar a porta atrás de
nós. Há uma parede inteira de vidro aberta para o quintal, mas eu acho
que realmente não importa, desde que Paulette e a equipe não pode nos
ouvir. Eu me abaixo, solto o meu microfone e passo pelas portas de
vidro deslizantes, jogando-o no pátio antes de fechá-las novamente. —
Do nada?

— Eu não sou uma idiota, — Sydney diz, acenando com a mão


como se ela não estivesse ofendida com a minha declaração, mas como

~ 115 ~
ela já estivesse plenamente consciente das implicações. — Eu recebi um
telefonema depois que você foi lá para cima, então eu fui lá fora fumar
um cigarro e conversar. — ela respira fundo e suaviza as mãos sobre
seu cabelo loiro.— Tin Dolls Magazine, — ela suspira e meu coração
salta sessenta batidas.

Tin Dolls é cem vezes, mil vezes maior do que Tattoo Terror. Eles
vendem mais cópias físicas de Sports Illustrated - e isso nem sequer
começa a descrever quantas pessoas visitam seu site.

Minha nova namorada nua na frente de milhões de


pessoas. Eu fico aqui como um idiota, querendo manter todos os
direitos das mulheres e da liberdade sexual e modéstia, mas
porra. Estou com ciúme pra caralho.

— Isso é incrível, — eu digo, e isso sai... não muito bem. Começo


a pensar nas citações de Billy Crystal em When Harry Met Sally, e tento
sufocar o meu nervoso.

— Um pouco incrível demais, — diz Sydney, tirando algum suor


da testa enquanto ela fica lá com o quadril arqueado e seu biquíni
listrado claramente visível sob o tecido fino do vestido. — Então eu disse
sim, quero participar. E então eu escalei a parede e tive um pequeno
ataque de pânico. Brayden me seguiu lá e me disse o que eu já
percebi. Os Washingtons, eles possuem o Tin Dolls, — Sydney diz
enquanto passa a mão por seu cabelo e solta um rosnado de sua
garganta. — Quero dizer, é claro que eles são donos, certo? — ela me dá
um olhar que diz que ela não está surpresa, apenas chateada. — Ah, e
LMTV. E Rockersbloodpills.com. E a Rollin' Strong.

— Fantástico, — eu digo, minha garganta seca como a porra do


deserto do lado de fora dessas janelas. Quero dizer, você ouve das elites
globais, as famílias com valores líquidos na casa dos bilhões,
monopólios clandestinos e coisas empresariais, mas... realmente estar
envolvido em um? É louco pra porra.

Eu fecho meus olhos por um segundo e tomo uma respiração


profunda, só para sentir as mãos de Sydney na fivela do meu cinto.

— Oh Deus... — eu começo, mas Sydney não faz o que eu desejo


que ela esteja fazendo. Em vez disso ela está mordendo o lábio inferior e
olhando para mim com uma cara que poderia lançar - e afundar - mil
navios. Ela sempre banca a tranquila, mas agora, esse olhar em seu
rosto está falando muito.

~ 116 ~
— Eu recuso a oferta de princípio? — ela me pergunta, deslizando
as mãos para cima e debaixo da camisa, as unhas raspando em meu
abdome. Se eu já não estivesse duro... bem, imagine. Meus músculos
apertam quando ela toca, indo direto até os meus mamilos. Num
impulso, eu alcanço e prendo minhas mãos sobre seus pulsos,
prendendo seus braços sob minha camisa.

Uma sobrancelha loira desliza para cima e um sorriso malicioso


atravessa os lábios vermelhos e brilhantes.

— Você percebe que eu estava no meio de uma entrevista? — eu


digo, quase sem fôlego. Jesus, mas eu estou caidinho por essa garota.

— Pelo menos eu não te beijei na frente deles, — diz Sydney,


tentando puxar as mãos para fora da minha camisa. — Eu estava
apenas tentando ser sua namorada. Eu vim para você primeiro, você
sabe. Podemos estar namorando faz pouco tempo, mas é bom começar
direito. — meu coração se enche com as palavras dela - e não é a única
parte do corpo que responde favoravelmente à sua presença, seu
toque. — Então, me diga, o que você acha? Posso aceitar a oferta,
mesmo que seja banhado em sangue? Ou posso mandá-los ir foder?

— Você tem que posar nua? — eu pergunto, sentindo meu lábio


rachar no canto. Resumidamente, eu afasto os olhos do rosto de Sydney
para olhar para o quintal. Não vejo ninguém, apenas o azul da piscina e
o balanço suave das palmeiras. — Porque mesmo que eu realmente
odeie admitir isso, eu estou com ciúmes pra porra.

— Então lá vem o homem das cavernas em você, — Sydney


ronrona quando eu trago meu olhar de volta para o dela, observando
seu cabelo branco-loiro, a maquiagem azul marinho em torno de seus
olhos, o mar de tatuagens coloridas em seu peito e ombros. Sydney
Charell é uma obra de arte, um museu que vale a pena visitar, e eu não
sei como me sinto sobre multidões entrando para a minha exposição.

Porra.

Eu seriamente acabei de pensar isso? Talvez todos os homens


sejam porcos. Eu pensei que era mais evoluído do que Turner, mas eu
estou tendo um momento muito difícil de não pensar com o meu pau
agora.

— Já vendemos nossa alma ao diabo, — eu digo, fazendo


referência ao contrato para o nosso novo reality show. Hard Rock Roots,
hein? Título atraente. — Então por que diabos não? Se vamos ficar por

~ 117 ~
aí sendo ameaçados e levando tiros, podemos muito bem fazer valer a
pena. — eu engulo em seco. Eu ainda não estou confortável com o fato
de que Sydney tenha sido apanhada em toda essa merda. Não é justo e
alguma parte distante de mim está com medo de que seja por causa de
mim. Se Sydney e eu não estivéssemos sido tão atraídos um pelo outro,
se ela não estivesse lá para ver Tara morrer, passando tanto tempo
tentando me impedir de puxar o gatilho, ela estaria segura?

— Então... você está dizendo que sim? — ela pergunta


casualmente, e eu percebo que Sydney não está apenas tentando ser
agradável no momento. Ela realmente se preocupa com o que eu
penso. — Quero dizer, obviamente eu ia de qualquer maneira, mas se
você está dizendo que eu deveria, então eu posso sentir um pouco
menos culpada por todo o assunto.

— Seus dedos estão massageando meus mamilos, — eu digo a ela


com a devida seriedade. — Você acha que eu sou capaz de dizer
qualquer coisa menos do que sim neste momento?

Sydney sorri para mim quando solta seus braços. Em vez de se


afastar de mim, ela move suas mãos até a barra da minha camisa e me
ajuda a puxá-la para cima, deslizando-a por meus braços antes de jogar
o tecido preto no chão.

Eu deveria estar preocupado com a entrevista, sobre Paulette


Washington ou Brayden Ryker ou mesmo Miley e sua empresária, Rain
Colbert, mas tudo que eu dou a mínima agora é Sydney.

Seus lábios úmidos e vermelhos encontram o meu mamilo


esquerdo, a sua língua quente queimando seu caminho até meu peito
enquanto ela alterna entre beijar e lamber minha pele aquecida. O ar-
condicionado pode estar ligado, mas eu estou queimando agora.

Minha mão direita sobre, as tatuagens escuras na minha pele um


forte contraste com as cores brilhantes das tatuagens de Sydney, a cor
pálida do seu cabelo quando eu deslizo os dedos por seu pescoço e
enrolo em meu punho. Um suspiro incontrolável escapa dos meus
lábios, fazendo os meus músculos do estômago apertar
involuntariamente, dominado pela emoção da boca de Sydney. Quando
ela faz isso até a minha cintura e começa a trabalhar seu caminho
através de meus abdomens inferiores, eu perco o controle e a deixo de
joelhos.

Em menos de cinco segundos, ela abre o meu cinto, e em seguida


abre a minha calça jeans e coloca meu pau inchado em sua

~ 118 ~
mão. Quando Sydney coloca sua mão direita no meu quadril e desliza
meu pau entre os lábios vermelhos brilhantes, quase gozo
imediatamente. Olhando para ela assim, suas curvas ridiculamente
óbvias sob o fino tecido do seu vestido, eu não posso mais pensar
direito

— Deus, sim, — eu gemo, colocando pressão na parte de trás da


cabeça de Sydney, vendo o quão longe ela pode me levar em sua
garganta. Minhas bolas apertam quando ela desliza para trás, o lábio
inferior esbarrando em meus piercings, eletrificando o meu corpo
através do eixo do meu pau até que meu coração corre e meu cérebro
deixa de funcionar. Sou mal sou humano quando eu gozo duro dentro
de sua boca, a sinto engolir a minha semente enquanto ela ainda tem o
meu pau em sua garganta.

Quando Sydney recua, eu me ajoelho na frente dela, mantendo


meu aperto na parte de trás de sua cabeça. Quando nos beijamos, eu
sinto meu gosto em seus lábios e isso me excita ainda mais. Seus
gemidos enchem minha boca enquanto eu deslizo minha mão esquerda
até o lado dela e massageio seu peito através do tecido do vestido.

— Você vai me amar direito, Dax McCann? —Sydney sussurra


quando eu recuo com um pequeno sorriso e olho para ela. Você acha
que com tanta coisa acontecendo ao meu redor, eu estaria distraído,
nervoso, chateado, mas eu simplesmente não consigo. Passei as últimas
semanas lastimando e agindo como um idiota, mas agora que eu me dei
permissão para tentar essa coisa com Sydney, parar de lutar contra
mim mesmo, sinto como se um peso tivesse sido tirado dos meus
ombros.

— Por que você não relaxa e descobre? — eu digo, os dedos de


minha mão direita deslizam ao lado de Sydney e sob o vestido. A pele
suave e cremosa no interior da sua coxa é suave e sensível. Com uma
confiança que eu não tinha certeza de que eu tinha em mim, eu
empurro o maiô de Sydney de lado e encontro sua perfeita buceta já
molhada.

Ela é tão apertada, aperta em torno de meus dedos quando eu


movimento em um ritmo sensual, constante, como se eu estivesse
tocando a minha bateria com uma batida de blues lento, atingindo
aquele ponto perfeito. Pode não parecer erótico para algumas pessoas,
mas eu sou um baterista. Eu vivo e respiro em batidas.

~ 119 ~
Me inclinando para perto, eu deixo minha respiração bater contra
os lábios de Sydney até que ela se inclina para mim, os lábios se
separando, uma tulipa vermelha confusa, tudo manchado e sujo por ter
tido meu pau em sua boca. Quando começamos a nos beijar de novo,
eu uso o peso do meu corpo para empurrá-la de volta para o chão até
que seu cabelo loiro se espalha atrás de sua cabeça. Estou pairando
acima dela, minha mão tatuada entre as coxas, a outra em seu quadril.

Nossas línguas dançam ao ritmo que eu defino, assim como a


multidão em um show. Eu sou sempre o parceiro silencioso, preparando
o palco para os jogadores como Hayden, Naomi e Turner. Eles não
sabem que estou no controle, que eu estou dizendo ao público quando
bater palmas, quando saltar, quando começar um mosh. Mas agora, eu
estou nesse assento de fundo para uma chance no centro das
atenções. Eu estou no comando, e eu adoro.

Eu movo minha mão esquerda para os pulsos de Sydney, os


levando acima de sua cabeça, chupando seu lábio inferior, perseguindo
as batidas frenéticas de seu pulso com os dentes, beliscando e
mordendo meu caminho pelo seu pescoço, forçando seu coração a
abrandar para o ritmo que eu defino. Que eu quero. Ela me quer
também, e isso é emocionante. Esta é uma menina que sempre tomou
conta de tudo, fez o seu próprio caminho, fez suas próprias
escolhas. Eu sou o oposto, sempre sendo jogado, arrastado junto para o
passeio, levado em submissão.

Eu acho que nós dois precisamos de uma mudança de ritmo; isso


está nos libertando.

E erótico pra cacete.

Eu fodo Sydney com a minha mão, até que meus dedos estão
molhados com sua excitação, e então eu me afasto quando ela chega
perto do clímax. Eu sei quando isso está vindo, posso sentir essa merda
na batida pulsante de seus músculos. É como uma canção, e eu não
estou completamente pronto para que isso acabe.

— Dax, — ela geme com aquela voz rouca dela, os quadris


arqueando enquanto ela protesta a perda da minha mão. Tudo bem -
porque eu estou a ponto de substituí-lo por algo maior e melhor. Meus
lábios se levantam em um sorriso quando eu acerto seu piercing com o
polegar, provocando até que eu posso vê-la ficando rosa. — Eu tenho
sido praticamente celibatária desde que te conheci; você me deve, baby.

~ 120 ~
Eu rio e empurro seus pulsos com mais força contra o chão
quando ela se esforça, beijando meu caminho até sua orelha e
provocando os piercing que seguem seu lóbulo até à cartilagem.

— E eu vou entregar, — eu prometo quando eu arranco seu


biquíni pelas pernas e os arrasto de seu pé esquerdo até que eles estão
ligados apenas na perna direita. Quando eu empurro sua coxa esquerda
para cima e me posiciono na sua umidade, eu percebo que eu não estou
usando um preservativo. Nem tenho um comigo.

Merda

Difícil. Eu odeio decisões difíceis.

Eu encontro o olhar líquido de Sydney e percebo que ela está


esperando que eu faça uma escolha; ela já fez a dela.

Que se foda.

Com um impulso poderoso, eu a penetro com força, batendo


nossos quadris, Sydney arqueia as costas e grita. Tenho certeza -
certeza – que um idiota na equipe de produção pode nos ouvir lá fora,
mas eu não me importo. Agora, nada mais importa.

Eu meto em Sydney com profundas e longas estocadas, e eu juro


que eu posso sentir a cabeça do meu pau batendo contra o colo do
útero. Ela se contorce com cada movimento, mordendo o lábio inferior,
deixando os cílios vibrarem em suas bochechas enquanto eu molho
meu pau em seu calor morno. É tão bom, muito melhor do que usar um
preservativo. Eu nem me lembro a última vez que fiz isso assim. No
colegial? Jesus, acho que sim.

— Com força, Dax, — Sydney sussurra, olhos ainda fechados, a


sombra azul cintilando pela luz dourada do sol vazando pelas
janelas. — Mais rápido. — mas eu posso sentir a batida de seu corpo
contra o meu eixo, a vibração dos músculos que me diz que eu estou
fazendo exatamente o que eu preciso fazer. Eu continuo no mesmo
ritmo, o suor escorrendo pelo meu rosto, da ponta do meu nariz até que
ele atinge o peito de Sydney, deslizando por esse polvo laranja dela.

Quando ela começa a gozar, rolando como ondas do oceano, os


quadris empurrando contra mim, eu deixo meus abdomens fazerem o
trabalho, os músculos apertando quando eu forço meu pau em sua
buceta. No momento em que um grito sai de sua garganta, arrastando
seu orgasmo, eu mal posso me mover, preso no lugar por seu corpo.

~ 121 ~
É demais, olhar para ela assim, ver como ela se contorce com
prazer. Eu não paro, porém, não me deixo abrandar. As mulheres
podem gozar e gozar e gozar. Então eu continuo tocando minha música,
continuo tocando Sydney.

Eu a fodo no chão, até que o tapete estúpido esteja molhado com


de nós dois e ela está gozando de novo, até eu estou gozando forte e
rápido, enchendo-a de mim.

Assim que acaba, saindo e deitando no chão ao lado dela,


ofegante, eu ouço passos se movendo do lado de fora da porta. Sydney
começa a rir, virando e colocando a cabeça no meu peito nu,
pressionando um beijo suado na minha pele. Eu começo a rir também,
até que nós dois estamos rindo como malditas crianças. Eu sei que eu
tenho que voltar pra lá, fazer essa merda, mas tudo que eu quero é
continuar, fazer tudo novamente. Eu não deveria estar preocupado com
isso - vinte e quatro horas mais tarde, eu ia conseguir o que eu queria.

Vinte e quatro depois, estaríamos todos vendo isso na TV


nacional.

~ 122 ~
Há uma câmera quase literalmente na minha cara agora. Minhas
pernas estão cruzadas, as mãos descansando levemente no meu
joelho. Eu acho que pareço casual. Pelo menos, eu espero que eu
pareça. Deus. Não é de admirar que Dax se assustou durante a sua
última entrevista e soltou meu nome para a câmera. Então, tudo bem,
essa é sua segunda entrevista. Fiz questão de estragar a última para
ele.

Cadela, huh.

Deixo meus olhos deslizarem sobre Miley Culbrath, sentada


consideravelmente em uma cadeira com as pessoas zumbindo em torno
dela como se ela fosse a rainha abelha. Puta estúpida. Eu poderia gritar
em seu rosto fodido em um segundo. Sério. Se eu encostasse nessa puta
ela estaria no chão.

Em vez de começar uma briga com uma quase celebridade, eu


sorrio para Paulette Washington, mas não estou cem por cento certa de
que isso se pode chamar de um sorriso amigável. Algo mudou desde
que eu saí desse escritório com a porra de Dax escorregando pelas
minhas coxas e um rubor feliz cobrindo meu rosto. O pessoal estava
estranho; Miley estava furiosa; Paulette estava em êxtase.

Eu me mexi sem jeito na minha cadeira e tentei avistar Dax. Ele


está de pé na borda do confessionário improvisado ao lado de Brayden
Ryker, os braços cruzados sobre o peito, os olhos apertados. Mas há um
leve sorriso pairando em torno de seus lábios que não estava lá antes. E
eu posso agradecer pessoalmente a minha buceta por isso... miau12. Se
ele fosse a única pessoa lá agora, eu ficaria feliz pra cacete. A coisa é,
eu tenho um público que inclui meu irmão idiota e seus amigos. Eca.

— Você está pronta? — Paulette me pergunta quando Miley se


levanta e me dá um olhar que diz que eu sou essencialmente merda de

12 Pussy pode ter o significado de gato e buceta. Ela fez a brincadeira com os
significados.

~ 123 ~
cão na parte inferior do sapato dela - seu sapato nojento de couro
branco. O sapato tem um bico apontado que faz Miley parecer uma
bruxa, uma bruxa que também tem cinco anos e está indo para o
Domingo de Páscoa. As fivelas e os laços e as... não, Deus, não.

— Christian Dior? — pergunto quando as sobrancelhas de Miley


sobem e ela olha para mim com surpresa. Droga. Eu poderia ser uma
stripper, mas eu sou uma stripper que conhece roupas. — Você não deve
usar algo só porque está na moda. Essas coisas são horrorosas e eles
fazem seus enormes pés parecerem ainda maiores.

— Sua idiota, eu vou destruir você, — Miley se vira, dando um


passo ameaçador em minha direção, enquanto sua empresária, Rain,
uma cadela arrogante que me lembro vagamente desse show que Dax e
os rapazes fizeram, desce os degraus e tenta acalmar a situação. Talvez
ela devesse apenas me curvar e lamber o cu de Miley? Aposto que ela
depila a bunda.

Eu ergo minhas mãos em um gesto apaziguador.

— Eu não estou tentando iniciar briga nenhuma, — eu digo com


meu olhar mais inocente. — Apenas de mulher para mulher, você está
horrível. Eu só estou tentando ajudar.

— Eu não vou trabalhar com ela, — Miley diz, acenando com o


dedo com raiva. — Quero dizer, quem é essa vadia de qualquer
maneira? Eu ganhei um Grammy no ano passado pelo amor de Deus.

— Bem, não há como refutar isso, — acrescento, me recostando


na cadeira com um sorriso. Eu escuto alguns cochichos atrás de
mim. Acho que é a equipe de produção. Hmm. Eu sinto minha boca
levantar em um sorriso perverso quando eu olho para a roupa atroz de
Miley de cima para baixo. É um macacão sem mangas com a parte de
baixo larga e um cinto estranho, trançado. Credo. Depois que Dax e eu
fodemos, e eu fui lembrada pela Rabo de Cavalo que a minha entrevista
era sobre o calendário para hoje, eu me troquei. Agora eu sei que eu
pareço gostosa em um par de jeans apertados e um top preto e
branco com uma caveira e ossos cruzados encima do meu peito direito.
Como uma pirata, baby. Eu estou muito melhor do que Miley, e eu que
devo ter o que, dez anos mais que ela.

— Eu juro por Deus, eu vou acabar com você, — Miley diz, e tudo
o que faço é rir. Quando eu olho para Dax, ele está segurando uma
risada. Ótimo. Se ele acha isso divertido, então vale a pena. O pobre

~ 124 ~
rapaz precisa rir. E eu acabo transando mais. Eu rio e enrolo os dedos
ao redor dos braços na minha cadeira. Meu corpo ainda está
formigando, ainda falando comigo, me dizendo que eu sou uma
idiota. Sem camisinha, né? Essa foi uma ótima ideia. Tanto faz. Eu
tenho vinte e oito anos. Eu tenho idade pra criar um bebê.

— Estamos fazendo uma entrevista aqui ou não? — Rain diz,


pisando entre Miley e eu, seu olhar focado em Paulette em seu terno
vermelho e branco horroroso.

Paulette Washington, bem, seu rosto nunca muda, nem mesmo


quando faz uma careta. Ela simplesmente continua sorrindo e sorrindo
e sorrindo. Seus dentes são assim tão brancos que cegam. Me pergunto
se eu deveria estar preocupada com isso?

— Absolutamente, — diz ela, agitando a mão. — Miley, querida,


por favor, tome um assento. — surpreendentemente, a cadela escuta e
cai na cadeira à minha frente com um suspiro. Se eu não soubesse de
nada... eu diria que ela tinha medo de Paulette? Isso não pode ser bom.

— Certeza que você disse nada de entrevistas, — Ronnie


murmura de fora das câmeras em algum lugar. Eu não posso ver a sua
bunda, porque há muitas luzes. E eu estou acostumada a luzes. Quer
dizer, eu dancei nua em um foco de luz durante anos, mas isto...
ugh. Vão ser longos três meses, com certeza.

— Certeza que você não leu os contratos muito bem antes de


assinar, — Paulette diz, ainda sorrindo, com o rosto todo congelado e
perfeito e cheio de Botox. — Ele diz confessionários limitados e nada
sobre entrevistas promocionais. — ela endireita seu cabelo e, em
seguida, vira um sorriso para Dax. — Entrevistas semanais me parece
razoável. Eu tenho certeza que você entende. — um bater de palmas. —
Agora, vamos logo. Nós estamos atrasados. — eu dou a Dax outro olhar
e vejo a culpa estampada em seu rosto. Não é realmente culpa dele
embora. Se ele não tivesse sido o primeiro a assinar esse contrato,
alguém teria assinado. Esta cadela está encima de nós por dias. Nós
nunca deveríamos ter tocado naquele cadáver poser de merda. Pode
voltar a nos assombrar mais tarde. Acho que vou lidar com isso quando
acontecer. Se. Se acontecer.

Pigarreio e me ajusto na cadeira, fazendo uma pausa para chegar


no meu top e me certificar de meus peitos estão em plena exibição. Eu
não paguei todo esse dinheiro para esconder as malditas

~ 125 ~
coisas. Paulette só... sorri. Deus, eu quero estrangular essa cadela
burguesa. E talvez Turner e Trey, também, mas apenas de vez em
quando. Eles sempre parecem merecer um bom estrangulamento.

Olho para Trey antes de voltar para a câmera. Turner deve estar
voltando do hospital com Naomi ou então eu teria encarado ele também.

— E na minha contagem, — Rain diz, dando um passo para trás


quando Miley clica em um interruptor e se transforma se torna uma
estrela pop adolescente. Seus dentes são brancos pra cacete também. —
Um, dois, e...

— Bem vindos de volta ao LMTV. Comigo, eu tenho Sydney


Charell. Se você não sabe quem é, não se preocupe, você vai saber. —
Miley dá uma piscadela que é decididamente cruel e, em seguida,
sacode os cabelos curtos, como se ela estivesse em um comercial da
Herbal Essences. — Sydney é a irmã do guitarrista da Indecency, Trey
Charell. E sim, — diz ela com um aceno enfático. — Ele é o único que
levou um tiro de um rifle sniper! Uau! — minha boca se contrai
dolorosamente e eu tenho que olhar para Dax apenas para
continuar. Maldição, ele é bonito como o inferno. — E eu ouvi dizer que
ela também é a próxima capa da Tin Dolls Magazine. Mas - e isto é
ainda mais interessante - além de posar para as principais publicações
e ajudando com os negócios da família rock 'n' roll, a Senhorita Charell
também tem outro segredo que ela gostaria de compartilhar com a
gente hoje.

Duplo. Porra.

Eu recebi o telefonema da Tin Dolls, o que, uma hora atrás? E


Miley já sabe sobre isso. Isso não é assustador. E por falar em
segredos...

Miley se vira para mim, seu sorriso um estilo semelhante ao do


Grinch no Natal. Eu realmente, realmente quero dar um soco nela.

— Como você descreveria o seu relacionamento com Dax


McCann? — ela pergunta, suave como seda, se inclinando como uma
apresentadora.

Ela me pegou.

Declarar a minha relação com Dax na frente... bem, na frente de


todos e mais. Ronnie, Lola, Trey, Milo, Paulette. Dax. Ah, e um mar

~ 126 ~
inteiro de membros da tripulação, sem rosto, sem nome. Divertido pra
caralho.

De alguma forma... eu não estou surpresa?

Eu deveria ter ficado em Detroit.

Pigarreio, ponho um pouco de cabelo loiro por cima do ombro e


jogo o meu melhor sorriso de stripper, o que não significa nada e
esconde tudo. Embora não haja nenhuma maneira de esconder isso.

— Dax e eu somos, sei lá, totalmente um casal agora, — eu digo,


batendo meus cílios e observando como Miley - e Paulette - sorriem...
exatamente onde elas deveriam estar. Droga. Como posso importunar
estas cadelas ?

— Espere, o quê? — isto vem de Trey. Eu o ignoro quando a Rabo


de Cavalo o manda ficar quieto como uma criança travessa.

— Menos falso, mais real, — Paulette salienta por trás da câmera,


olhando para mim de sua cadeira de diretor azul marinho, vestida de
branco e vermelho, seu cabelo moreno caindo em seus ombros. Eu olho
de volta, perguntando se a minha figura escandalosa a incomoda. Meu
top não esconde nada, descobre tudo, e meu jeans se agarra ao meu
corpo como uma película de plástico. Eu tenho pulseiras coloridas em
um braço e fabulosos sapatos com estampa de leopardo cor de rosa que
comprei.

Tenho certeza que todo mundo aqui odeia a minha roupa, e eu


também tenho certeza que eu não dou a mínima.

— Mais real, — murmuro e depois meus lábios se enrolam em


uma expressão real de alegria. Eu me inclino para frente, levando meu
rosto em minhas mãos e olho Miley diretamente nos olhos. — Dax e eu
bebemos vodka e fodemos em um cemitério na noite passada. Uma vez
que ambos temos piercings genitais, estou quase cem por cento certa de
que somos companheiros de alma.

Eu me inclino para trás, esperando algum tipo de reação de


Paulette. Eu consigo uma de Ronnie e Trey, com certeza. Posso ouvi-los
murmurando no fundo, mas da nossa apresentadora de TV fabulosa e
produtora psica, não consigo nada além de... sorrisos.

— Perfeito, — Paulette sussurra como Miley começa a tagarelar


para mim, agindo toda chocada e surpresa com as minhas palavras.

~ 127 ~
Mas Paulette... ela soa absolutamente emocionada quando essas três
sílabas caem de seus lábios pintados.

Puta que pariu. Esta cadela é aterrorizante.

Pode ter que trocar minhas calcinhas.

— Eu posso estar confinado a esta cadeira, mas ainda posso


chutar o seu traseiro, — Trey rosna para Dax, não dando a mínima
para as câmeras em todos os lugares. Eu posso não ser capaz de ver a
maioria delas - escondidas no um quadro de uma foto, no canto no teto
- mas só de saber que elas estão lá está me deixando enjoada.

Acendo um cigarro e fujo em direção às portas do pátio para


soprar fumaça na brisa escassa.

— Até parece, — diz Turner, todo satisfeito e feliz como um gato


ladrão. É certo que é um pouco difícil olhar para ele agora. Quando ele
entrou pela primeira vez por essas portas depois de sua visita ao
hospital, sua arrogância estava fora dos gráficos. E eu achava que ele
era difícil de olhar antes dele se apaixonar. Bruto. Com Naomi Knox lá
em cima no seu quarto, ele é gordo como uma ameixa e duas vezes mais
suculento. — Você não poderia chutar qualquer rabo antes de se
colocar nessa cadeira, aleijado. — Turner nem sequer olha para o meu
irmão, enquanto ele o insulta, e decide soprar fumaça no rosto de
Dax. Para seu crédito, o meu novo namorado nem sequer reage, apenas
encara Turner com um olhar de aço.

Minha pele se arrepia quando ele vira aqueles olhos cinzentos


para mim. Eu acho que um leve sorriso está começando a aparecer no
canto dos lábios dele novamente. Ou isso ou ele está prestes a fazer
cara feia para o par de idiotas que estão ao nosso lado. Não tenho
certeza. Eu estou dividida sobre isso.

— Vá se foder, Turner. Venha aqui e eu vou lhe mostrar o quão


duro eu ainda posso bater, seu filho da puta. — eu suspiro e toco meus
dedos contra a minha testa quando Trey bate suas rodas na perna de

~ 128 ~
Turner e eles entram uma pequena briga. Ah, isso não é fofo? Eles são
iguaizinhos. Igualmente imbecis.

— Cara, eu entendo que você está puto sobre o emo fodendo sua
irmã, mas não desconte essa merda em mim. — Turner leva o cigarro
aos lábios com uma risada. Turner Campbell todo apaixonado e
carinhoso é assustador como o inferno. Se Naomi não estivesse no
andar de cima e dopada em uma dose de morfina, eu buscaria sua
bunda e a faria colocar seu homem no lugar. Ela seriamente precisa
verificar esse cara. Aposto que ela iria ser verificada também,
considerando a forma como ela amaldiçoou a suas enfermeiras
enquanto estavam arrumando ela. Eu mal conheço aquela garota e eu
já a amo.

— Pensei que estávamos de boa? — Dax pergunta, pegando o seu


próprio cigarro e olhando em direção a água azul da piscina. Queria
saber se ele vê como eu, como um sonho induzido por drogas, um
sonho desconhecido e nebuloso que é o céu ou o inferno. Não dá pra
decidir qual. — Você disse que eu era ‗de ouro‘? — Dax faz as aspas
com os dedos, deixando seu cigarro cair de seus lábios. — Eu
toco bem, certo?

— Sim, que seja, — Turner diz, mas posso dizer que ele está
apenas agitando o drama para se divertir. Enquanto alguns de nós
podem estar preocupados com o futuro, eu não estou totalmente certa
de que ele está. Ah, o poder ofuscante do amor. Eu tenho este desejo
maternal estranho de me aproximar e escovar o cabelo da testa dele,
mas eu não faço. Ele provavelmente bateria na minha mão de qualquer
maneira.

— Por favor, me diga que você realmente não fodeu em um


cemitério? — Trey diz com um suspiro, se recostando na cadeira. Seu
cabelo castanho está duro com gel do jeito que ele gosta. É um alívio vê-
lo vestido de jeans e uma camiseta da banda, munhequeiras em seus
pulsos, a cara torcida em uma ligeira carranca. Eu poderia zoar o
pequeno bastardo, mas se eu tivesse perdido ele... inferno, eu não sei o
que eu faria. Ele é meu irmão caçula, e ele é tudo o que tenho.

Olho para Dax.

Bem... Eu quero me apaixonar. Pigarreio e empurro esse


pensamento para o fundo da minha mente. Como se pensar sobre isso

~ 129 ~
fizesse com que isso acontecesse. A vida faz o que quer e não da a
mínima se você gosta do rumo que está tomando.

— Eu era uma stripper, lembra? Vocês estão agindo como se eu


fosse uma virgem que precisa de ajuda para proteger as chaves de seu
cinto de castidade. Cai fora e me deixe em paz.

— Tanto faz. Só não se case antes de Naomi e eu. Eu quero me


casar primeiro. — Turner apaga seu cigarro e, em seguida, passa
rapidamente pelas portas abertas e pelo piso branco imaculado. Ele se
afasta enquanto eu rolo meus olhos, pegando a expressão tensa de Dax
e seus lábios franzidos.

— Não se preocupe, ele é como herpes. O primeiro ano é o pior. —


eu tento sorrir, mas não sai direito. Porcaria. Dax olha para mim com
uma expressão um pouco preocupada e eu percebo que talvez não fosse
a melhor analogia no mundo para se usar em um novo... namorado.

Que nojo.

Eu odeio essa palavra.

Eu faço uma bola de chiclete cereja entre meus lábios e morto


com força. Não seria ruim procurar alguma palavra francesa
extravagante para namorado. Inferno, se eles podem fazer com que um
trio soa bem melhor, ménage à trois, então certamente eles podem
enfrentar esta coisa também?

Novo. Desajeitado. Um oásis todos os dias em um mar de


merda. Isso é o que Dax e eu vamos ser.

Normal.

Eu tento realmente não olhar para a câmera que provavelmente


está dando zoom em meus seios. Bem, eles são muito bons, mas é um
pouco assustador considerar que tudo que eu digo e faço nesta sala
pode ser encontrado em um vídeo no canal de YouTube de algum geek.

Eu cruzo meus braços sobre o peito e tento não gritar a


estranheza súbita na sala.

Entre Dax e eu, há esta coisa pegajosa, como se eu tirasse esse


chiclete da minha boca e aproximasse entre nós, deixasse grudar no

~ 130 ~
cabelo um do outro13. Estamos conectados, e queremos nos tocar, mas
cada vez que fazemos, a merda só fica mais torcida. Como aquela foda
sem camisinha no escritório. Hummm. Um arrepio percorre minha
espinha enquanto eu viro o meu olhar para ele.

— Você quer sair daqui? — pergunto e ele me dá um olhar


de duh.

— Se eu pudesse pegar um avião e voar para a Nigéria agora, eu


faria. No que diabos eu estava pensando quando eu assinei o
contrato? Devo estar louco.

— Ei, eu estaria lá com você, se eu pudesse ter certeza que


ninguém estaria esperando para cortar o meu clitóris no aeroporto. —
eu mastigo meu chiclete algumas vezes e sorrio através da piada
inapropriada. Sério, não é legal. Eu não me importo se é parte da
cultura de alguém ou não – parem de cortar essas coisas, por favor. —
Em vez disso eu estava pensando se poderíamos montar essa bateria
que eu roubei da casa do seu pai? Talvez você possa tocar algo para
mim?

Dax tem uma reação física às minhas palavras. Não é preciso ser
um cientista para descobrir o porquê. O cara foi ferrado pelo homem
que - apesar da falta de doação de esperma - foi o único pai que ele já
tinha conhecido. Trazer a bateria era um mísero alívio. Isso
dói; entendi. Mas eu também tenho que parar de puxar o saco do
cara. Ele tem que fazer isso sozinho ou ele vai ficar tão sensível que ele
vai desmoronar.

Eu não vou deixar isso acontecer.

Eu gosto do cara pra caramba.

— Sim, claro, — diz Dax e depois há esta pausa estranha antes de


eu virar e começar a andar para a escada na frente dele. Eu tento andar
casualmente e tudo mais, mas eu acho que acaba andando do meu jeito
‗stripper‘, o que eu costumava usar quando eu estava na pista em

13É estranho, mas a autora escreve umas coisas bem loucas mesmo. As vezes parece
que fumou orégano.

~ 131 ~
menos de um fio dental e booby tassels14. Ter uma rotina ajuda com os
nervos e isso é meio que tudo o que tenho.

No meio da escada, eu tenho essa sensação de frio na espinha e


estreito os olhos. A sensação de estar sendo observada se transforma do
zumbido elétrico das câmeras para o frio olhar de olhos reais. Muito
pior, eu acho. Eu chego ao final da escada e encontro Brayden Ryker
esperando por mim.

Pelo menos ele não está com um rock-star-morto neste


momento. Eu realmente preferia não ver aquele - ou qualquer outro -
corpo morto novamente. Ele cheirava a peido de cão.

— Não há cadáveres desta vez, pelo jeito, — eu brinco, seriamente


tentando e não entendendo o jogo. Eu não entendo. Sério. Sei que as
pessoas ricas compram dez mil martinis de dólares e fazem seus
banheiros com ouro, mas sei lá, dinheiro é uma doença? Porque eu vi
pessoas com danos cerebrais fazendo escolhas mais inteligentes.

Eu mastigo meu chiclete algumas vezes e olho para os olhos


verdes de Brayden. Eles são tão suaves e bonitos e este homem é tão
teimoso que eu não ficaria surpresa se ele tivesse fodido com seus
próprios genes no útero e fez com que seus olhos mudassem para uma
cor suave. Claramente, seus braços cheios de tatuagens florais estão lá
para servir o mesmo propósito.

Mas eu não sou idiota. Nem por um segundo.

— Você não sentiu falta dele, então? — ele pergunta com uma voz
suave, seu cabelo vermelho brilhando contra o corredor
perturbadoramente estéril. Eu tento não me preocupar muito com
isso. Dê aos meus meninos algumas semanas aqui e eles certamente
vão estragar as mesas laterais cuidadosamente decoradas e paredes
beges imaculadas com cartazes de rock aleatórios, cinzeiros, e talvez -
se tivermos sorte - agulhas descartadas e outros apetrechos de
drogas. — Depois de todos os problemas que você se enfiou para livrar
dele, onde você queria que ele estivesse?

14
Esse negócio aqui.

~ 132 ~
— Que diabos você quer? — Dax pergunta, cortando a brincadeira
espirituosa antes mesmo de começar. — Eu sou farta dessa merda por
aqui. Se há algo que você quer, então diga logo e vamos cortar o papo
furado.

— As fotos para o Tin Dolls, — Brayden diz, fazendo o cabelo em


meus braços se arrepiarem. Porra. Eu nunca estive tão animada sobre
algo... e tão apavorada ao mesmo tempo. Mesmo sem perceber que eu
estou fazendo isso, eu enrolo os dedos através dos de Dax. É como
colocar um bálsamo fresco na minha pele, uma loção penetrante que
afunda diretamente em minha corrente sanguínea, inundando o meu
núcleo. — As coisas estão progredindo mais rapidamente do que eu
gostaria. Paulette avançou nesse projeto todo, o que significa que algo
está vindo. Eu não sei o que, mas eu vou fazer isso. Agora você tem
pouco tempo até a sessão de fotos. Esteja lá, faça as coisas
funcionarem, e pare de encontrar problemas.

Eu aponto o dedo para o teto quando Dax enrola suas mãos em


punhos, apertando a minha tanto que é quase doloroso. Quando eu
olho para o seu rosto, eu vejo mais raiva e fúria lá do que Brayden
poderia ser responsável. Merda. Estamos juntos a sei lá, um dia, e eu já
estou falhando como uma namorada. Há outra coisa lá, algo que
devemos falar - além da conspiração de vingança.

Eu guardo isso para mais tarde e me viro para Brayden.

— Há câmeras no teto, não é?

— Sim, mas elas não estão gravando no momento.

— E por que isso? — eu pergunto, cruzando os braços sobre o


peito.

— Porque, — Brayden começa, e há algo em sua voz que me diz


que eu deveria estar prestando atenção. — Paulette pode ser a
produtora, mas eu sou o anfitrião. Eu só queria que você se lembrasse
disso.

~ 133 ~
Eu monto minha bateria no quarto de Sydney - o meu quarto,
também, eu acho - e tento não deixar que os sentimentos em meu peito
me oprimam. Eu pensei que se mais pessoas soubessem sobre Tara,
que a dor e fracasso que eu sentia quando pensava nela iria embora.

Não foi.

Porra, com a coisa toda de Hayden, realmente tudo ficou muito


pior. Agora, em vez de me lembrar de seu sorriso doce e o toque suave
de sua boca na minha, eu vejo o jeito que ela olhou quando ela engoliu
aquele punhado de pílulas, vejo sangue.

Respingos de tinta vermelha em meus pesadelos e agora que eu


estou saindo das drogas, eles mancham minha luz do dia
também. Quando eu vejo a luz do sol, vejo a forma como ele brilhou na
escuridão de seu cabelo e a mancha de sangue que rodeava sua cabeça
como um halo. Quando ouço pássaros gorjeiam, vejo Hayden colocando
a arma na cabeça e soprando seus miolos. Tudo isso, porém, vai
embora quando estou com Sydney.

Eu me levanto e enfio os dedos pelo meu cabelo, olhando para


ela. Ela está encima da colcha em uma expansão gloriosa. Apenas a
visão dela é suficiente para transformar o meu pau em diamante e
empurrar a dor para longe - por um segundo de qualquer maneira. Mas
então eu olho para a minha bateria e tudo isso vem correndo como um
tsunami. Eu a deixei me convencer a trazer esta coisa estúpida até aqui
para quê?

Ainda me lembro do dia em que Tara me surpreendeu com essa


bateria, a maneira como ela arrancou o lençol branco com um olhar de
realização e orgulho em seu rosto delicado. Ela pensou que ela
realmente tinha feito algo importante naquele dia, fez a diferença no
mundo. E ela fez, realmente. Não foi o suficiente para qualquer um de
nós no momento, mas foi um dos poucos pontos brilhantes em um
mundo de outra maneira vazio para nós dois.

~ 134 ~
— Me diga sobre isso, — diz Sydney e a cama range um pouco,
enviando um frio na minha espinha.

— É um Tama SuperStar de sete peças de bordo e prendedores


individuais. Era usado quando Tara comprou. Talvez seja vintage agora.
— eu dou de ombros como se eu não desse a mínima. Mas eu dou
sim. Mas eu ligo muito para muitas coisas. Talvez eu precise de outra
‗sessão‘ como as que tivemos no escritório? Algo para limpar a minha
cabeça. — Eu adicionei alguns itens extras, como esses pratos
personalizados. Muito foda, sim?

— Não é disso que estou falando, — diz ela, mas eu não me


importo. Eu me desloco até o banco e sento duro, deslizando um par de
baquetas da minha bota direita. Eu não olho para cima. Não posso
olhar para o rosto de Sydney agora ou tudo vai chegar até aqui. Inferno,
eu poderia até chorar e como diabos isso iria ajudar a minha
personalidade de emo boy?

— Não está tão ruim assim, e se bem me lembro, consigo tirar


algo decente dela. — eu suspiro e esfrego o polegar ao longo da laca azul
riscada. Toda a bateria está coberta de adesivos - um conceito
adolescente original, tenho certeza - e está surrada pra caramba, mas
eu ainda posso tirar algumas notas delas.

Eu giro minhas baquetas em minhas mãos e tomo uma


respiração profunda.

— Você não tem que falar de música comigo, Dax, — diz ela, a voz
soando mais suave, de um jeito quase assustador. Tipo, eu poderia
realmente contar com Sydney se eu precisasse. Eu olho para sua boca
vermelha, suas unhas brilhantemente coloridas ondulando na colcha e
eu quero falar. E falar. E conversar.

Mas a realidade é que ainda não nos conhecemos tão bem


e ainda há um homem irlandês louco nos ameaçando com um monte de
declarações vagas. Tenho certeza de que é alguma merda tática para
assustar, talvez Brayden realmente quer nos ajudar, mas ele tenha que
fazer isso.

Tenha medo. Tenha muito medo.

Foda-se ele.

Eu giro minhas baquetas de novo e volto minha atenção para


longe de Sydney, em direção a algum som distante que só eu posso

~ 135 ~
ouvir. Agora que estamos fora da turnê e eu tenho algum tempo em
minhas mãos (teoricamente, uma vez que quem diabos sabe se eu vou
levar um tiro por um atirador amanhã), eu vou escrever uma
canção. Ou talvez duas. Naomi está no quarto de Turner, dormindo e
sem saber, e essa fama só vai nos levar tão longe por um certo
tempo. Parte de mim sabe que não importa como algo permanente
pareça, seja bom ou ruim, vai, eventualmente, ir embora. Isso é um
conforto, saber que nada dura para sempre.

Então, talvez eu deva escrever o próximo álbum? Essa fodida


banda me deve uma ou duas músicas, pelo menos.

Eu começo com um rock comum, nada extravagante. Apenas


algumas batidas no meu tambor e nos pratos, qualquer coisa para
mudar a minha mente e esquecer toda essa porcaria. Se eu quiser
passar por esse pesadelo vivo e intacto, eu tenho que lembrar
exatamente por que é que eu estou fazendo tudo isso, por que estou
aqui.

A música.

E talvez a menina, minha mente inconsciente brinca. Filho da


puta.

Eu olho para os olhos azuis de Sydney, deixando seu olhar descer


quando as minhas mãos começam a vagar e não tenho ideia do que
diabos é que eu estou tocando mais. Algumas manobras mais tarde e
eu percebo que estou no meio de alguma batida, minhas mãos
alternando entre os pratos e o tarol.

Eu me distrai contando as notas.

1e&a2e&a3e&a4e&a

Um ee e uh dois ee e uh três ee e um quatro ee e uh...

Sydney ainda está olhando para mim enquanto eu toco, pequenas


gotas de suor escorrendo pela minha testa quando eu olho de volta para
ela e tento descobrir tudo isso. A coisa boa sobre tentar pensar
enquanto eu toco é que eu não posso ficar distraído por minha própria
cabeça. A música, o movimento, a contração dos meus músculos, me
distrai o suficiente para que os pensamentos que realmente vêm através
do meu cérebro sejam destilados, quase puros.

Pessoas ricas estão tentando me matar.

~ 136 ~
Ok, pelo menos eu sei disso.

Nada disso faz sentido.

Mas desde quando ter dinheiro ajudou alguém a fazer qualquer


sentido, porra?

Eu estou apaixonado pela garota.

Isso é loucura.

Eu vejo como Sydney joga seu cabelo para trás e se levanta,


passando a língua ao longo de seu lábio inferior quando ela levanta as
mãos para os laços do top preto que ela está usando e lentamente -
lentamente pra cacete - puxa o nó. Eu lambo meus lábios também, a
observo, tocando para ela, me preparando para um striptease que eu
sinto que eu estava esperando desde o momento em que a conheci...

E então a maldita porta se abre e eu largo as minhas baquetas no


chão.

É Turner Campbell.

Filho da puta.

— Me dê uma razão para que eu não te mate agora? — eu rosno e


o homem olha para mim como se ele não tivesse ideia de que língua
estou falando, muito menos que eu acabei de ameaçar sua vida.

— Naomi acordou, — diz ele, e eu posso ver o bater de cílios e o


pulso batendo de seu coração na garganta. — E ela quer te ver. Agora.

Levanto do meu banco e pego a expressão lenta de Sydney. Ela


parece decepcionada.

Assim como o meu pau.

Agora eu tenho que ir cumprimentar a minha amiga com uma


furiosa ereção.

O que há de novo, certo?

~ 137 ~
— Me tirem daqui, — Naomi grita, se agarrando ao meu braço
para a vida. Ela parece melhor do que eu depois da coisa toda do
tornado, mas eu posso ver que até mesmo essa pequena quantidade de
esforço está trazendo gotas de suor se em sua testa. — Agora.

— Você está falando igual uma louca, baby, — diz Turner, de


cócoras no lado oposto da cama e apoiando o queixo no edredom. Seu
rosto é tão... macio. É estranho. Alguma parte profunda e escura de
mim gosta de ver esse lado dele, me faz querer sorrir e tripudiar, mas
isso não é quem eu sou. Porra, eu sei que se nossas situações fossem
revertidas, Turner faria piadas a torto e a direito às minhas custas. Em
vez disso, eu seguro minha língua e levo meu braço para longe de
Naomi, cruzando sobre o meu peito enquanto eu tento me fazer sorrir.

— É bom ver que você está acordada, — eu digo a ela,


honestamente, arriscando um olhar em Sydney. — E brincando. —
Naomi se esforça para se sentar, a respiração vinda em rajadas duras,
ásperas que fazem meus pulmões doerem apenas de ouvir.

— Não é uma brincadeira, — diz ela, completamente sem ar, o


cabelo loiro preso aos lábios rachados, enquanto ela passa rapidamente
um olhar sobre Turner. — Eu não vou viver com ele, e
eu definitivamente não vou me casar com ele, e quem diabos deixou ele
mandar no meu advogado?

— Você disse que se você sobrevivesse ao show, — Turner


começa, mas faz uma pausa em uma batida na porta. Todos
congelamos quando Sydney abre e recua para deixar Ronnie entrar. A
expressão em seu rosto é azeda. Talvez ele tenha esbarrado em
Brayden, também?

— Ele ainda está lá fora, não é? — eu pergunto e Ronnie balança


a cabeça.

— Não, ela está lá fora agora, — ele corrige. Não há necessidade


de esclarecimento. Nós dois entendemos.

Acendo um cigarro e olho para Sydney novamente; ela não parece


muito feliz.

— Quem ainda está lá? — Naomi pergunta, escovando os dedos


trêmulos pelo cabelo enquanto Turner se levanta e puxa um cigarro. Ele
acende e passa para ela. Que fofo, compartilhando o câncer de pulmão
com sua namorada.

~ 138 ~
Naomi pega o cigarro com dedos trêmulos e luta para colocá-lo
entre os lábios, lábios que costumavam me fazer babar quando eles se
separavam assim. Agora... eu deixo meu olhar voltar para Sydney com
seu batom vermelho. Naomi tem essa coisa de garota roqueira áspera
acontecendo que costumava me deixar louco, mas eu acho que eu gosto
mais desse monte de cor em Sydney.

Eu corro uma mão sobre meu rosto.

— Nada que seja importante, — Ronnie diz quando Turner


levanta uma sobrancelha para ele. — De qualquer forma, é bom vê-la
bem novamente.

— Sim, bem, — ela começa, mas sua voz some e ela olha para
longe, a respiração pesada e dura. Quando ela fala, suas palavras são
ríspidas, ainda mais quebradas do que antes. O som é menos algo
emocional e mais uma coisa física. Eu me mexo desconfortavelmente e
guardo minhas mãos nos bolsos traseiros.

Essa voz, essa é a chave para o nosso futuro como uma banda. Se
ele estiver permanentemente quebrada... eu não me deixo terminar esse
pensamento.

— Me tirem daqui. — Naomi faz uma pausa, dando uma tragada


em seu cigarro e, em seguida, olhando para cima... para cima... para
cima. Jesus Cristo, os limites máximos aqui são altos. — Onde quer
que aqui seja.

— Eu te comprei uma mansão, — Turner diz, se levantando e


ajustando suas bolas, apenas para nos lembrar que ele não é realmente
um cara legal, apenas uma ferramenta com alguns contornos
suaves. Idiota. — Um palácio. É como o Taj Mahal, baby. Construído
para a minha própria princesa.

— Você comprou uma mansão? — Naomi pergunta, sua voz duas


vezes mais cheia de ceticismo e desgosto como eu
esperava. Fantástico. — Você é estúpido? Quanto é que este lugar
custou? — um lampejo de irritação salta no rosto de Turner antes que
ele afaste e abra a boca para responder.

Ronnie entra em cena e interrompe antes de Turner enviar Naomi


seriamente em um ataque. Ela acabou de acordar de um coma. A última
coisa que ela precisa é de um choque sobre o preço. Sério, seria um
choque do caralho.

~ 139 ~
— Nós estamos apenas felizes que você está acordada, — Ronnie
diz novamente, sorrindo quando ele arrisca um olhar para a porta do
quarto fechado. — Assistir Turner lamentar por aí estava começando a
ser demais para o resto de nós. Imagine uma vitrola quebrada.

— Vá se foder, filho da puta. Eu vi você lamentando como uma


criança de dez anos ou algo assim. — Turner acende outro cigarro e
começa a fumá-lo, usando seus dedos tatuados quando seu olhar se
desvia em mim, Sydney, depois de volta para Ronnie. — Você pode lidar
com isso um par de semanas, imbecil. O que você deve se preocupar, —
Turner continua quando ele acena seu queixo para mim e o olhar de
Naomi vem em minha direção novamente. Nós travamos os olhos, meus
olhos cinza olhando para os laranja-acastanhado dela. Eu
provavelmente deveria contar a ela sobre Blair, mas eu mal posso
pensar sobre a minha amiga sem querer vomitar. — é que este emo
cadela assinou para todos nós um contrato de um reality-show.

Há uma longa, longa pausa antes de Naomi piscar lentamente


para mim. Uma vez. Duas vezes. Três vezes.

— Cai fora da minha vista, — ela diz, e eu faço.

~ 140 ~
— Você vai me amar, Dax McCann?

Hã. Um vídeo com mais de cem mil visualizações e minha voz não
tem sequer a gramática correta. Ótimo.

— Por que você não relaxa e descobre? — responde a voz de Dax


quando a câmera dá um zoom através do vidro, escondida em algum
lugar na varanda onde não podíamos vê-la no momento. É uma visão de
merda, trêmula de nós fodendo, mas é muito, muito óbvio o que
estamos fazendo.

Outra fita de sexo assolando o nosso pequeno grupo de hard rock


- só que desta vez, sabemos exatamente quem postou. Na parte inferior
do vídeo, há um anúncio para a estreia de Hard Rock Roots, o nosso
novo reality show. Que excitante.

— Não tão bom quanto o nosso vídeo, — murmura Turner quando


Naomi olha para o laptop equilibrado precariamente em seus joelhos,
sua expressão facial em algum lugar entre a incredulidade violenta e
diversão maníaca. — Mas melhor do que Jesse. Ugh, Rook Geary. Eu
ainda não consigo superar essa merda. Isso é desagradável pra caralho.

— Juro por Deus, eu vou matar você, — Jesse rosna, passando a


mão sobre seu cabelo e balançando a cabeça. — Você é um porco.

— Como... — Dax ainda está de pé em choque total, seu rosto


uma máscara branca, os lábios lindos separados em surpresa. Eu não
diria que a noite passada correu bem - principalmente porque nós não
fodemos - mas Dax e eu fomos realmente capazes de deitar na cama e
assistir a um filme juntos. Foi tão... abençoadamente normal. Mas
acordar para isso? Sério? Não é de admirar que Paulette estava sorrindo
muito ontem.

— Como você pode ser tão estúpido? — Naomi grita, dando ao


meu novo namorado um olhar sombrio pra porra. Eu não quero dizer
que ela não está feliz com Turner (bem, ela definitivamente não está
satisfeita neste exato momento, mas isso é uma coisa totalmente

~ 141 ~
diferente), porque posso sentir um pouco de inveja lá. Quando ela olha
para mim, seus olhos se estreitam e sua boca se contrai. Eu acho que
ela parcialmente me culpa por essa coisa de reality show. Entendi. Quer
dizer, eu sou uma mulher e, portanto, a mais esperta por aí. Eu deveria
ter mantido meus meninos em ordem.

— Como você pôde? — Dax atira de volta, ficando na defensiva. —


Pelo menos eu não fiquei cheirando a bunda dela.

— Whooooaaaa, — Trey assobia, gostando do drama. Deus, ele é


uma pirralho fodido às vezes. — Essa foi boa.

Naomi fecha a tampa do computador e vira sua atenção para Dax,


franzindo o cenho com força suficiente para quebrar seu rosto. Ela pode
ter saído do coma, mas essa garota parece que poderia cortar uma
cadela ao meio. Turner e eu trocamos esse olhar estranho onde ambos
reconhecem a estupidez de nossos respectivos namorados. É
reconfortante e familiar de alguma forma.

— Se eu estivesse filmando um programa de reality-show com a


irmã de America e usando um maldito microfone, pode apostar que eu
teria bastante cuidado para não FODER na frente de uma parede de
janelas! — ela grita, sua voz quebrando um pouco pela falta de
utilização. Mas porra, aquelas vocais de estrela do rock estão lá, fortes
como sempre, apenas esperando para sair.

— Sim, claro, mas em um salão de baile em um hotel é


perfeitamente aceitável, porra!

Naomi lança o laptop em Dax, atingindo-o bem no braço antes de


o computador cair no chão e explodir em um spray de peças. Ela afasta
algumas mechas do cabelo loiro de seu rosto enquanto ela fuma,
ofegando com o esforço de estar tão irritada. Ela realmente deveria estar
dormindo, mas depois houve... isto. Tudo. Isso.

— Eu não assinei nada, — ela geme, colocando seu rosto em sua


mão tremendo. — Eu não assinei porra nenhuma, então como? Como
eu sou uma parte disso?

— Eu assinei por você, — Turner diz, o que só deixa os ombros de


Naomi mais apertados e sua respiração duas vezes mais frenética. —
Como seu advogado. — ele parece magoado, ferido, mas cara, é melhor
Turner superar isso e rápido. Eu vi em primeira mão como sua mágoa

~ 142 ~
se transforma em raiva, e raiva não é a maneira de lidar com uma
mulher como Naomi Isabelle Knox.

— E quem te deixou, hein? Porque eu certamente não deixei.

— Brayden Ryker, — Ronnie diz, cruzando os braços sobre o peito


enquanto Lola boceja e se ajeita, meio adormecida na cadeira atrás
dele. Acho que ela pode estar calma, já que ela é uma das poucas
pessoas neste quarto que não teve uma fita de sexo na
internet. Cadela. Talvez um daqueles frequentadores do clube viu ela e
Ronnie indo para lá no outro dia? Se tornaria viral. — Tinha que ser.

— Bem, foda-se ele, então, — Naomi cospe, se sentando reta, os


olhos laranja-acastanhados me encarando. Eu adoro ela, mas eu acho
que ela me odeia um pouco. Eu nunca tive sorte em fazer amizade. —
Foda-se aquele filho da puta teimoso.

— Eu o odeio, também, — Ronnie concorda, dando um passo


mais perto e coloca a mão no braço de Turner. Eu não sei o que ele vê
na posição do homem, mas o efeito calmante é instantâneo, amor
fraternal no seu melhor. — Mas, honestamente, eu realmente acredito
que ele quer nos ajudar. Por que, eu não sei, mas o que eu sei é que
você matou a irmã de Paulette.

Um estranho silêncio filtra sobre o quarto quando Naomi rasga


seu olhar de mim e se concentra em Ronnie. Esta é a primeira vez que
eu realmente senti o peso desse show cair sobre nós, a primeira vez que
abordaram a questão como um grupo completo. Que. Merda.

— Para Turner ser capaz de te trazer aqui, você teria que entrar
para isso e ele ofereceria algum tipo de proteção. — Ronnie respira
fundo, olhando por cima para verificar Lola. À menção daquele show
dos infernos, todo seu comportamento mudou. Ela deve estar pensando
em sua irmã agora, pobre criança. — Não que eu ache que você está
segura, Naomi. Se Paulette está disposta a fazer tudo isso, — ele aponta
para o teto, como se para indicar o show, a mansão, tudo. — Para se
vingar, então ela não vai parar por aí. Uma vez que terminar com tudo
isso, eu tenho medo por você. Você não vai se safar disso ilesa.

Naomi engole em seco e fecha os olhos, mas ela não diz


nada. Ninguém diz, nem mesmo Turner.

Quando Dax vira para olhar para mim, seu rosto é medo e
frustração.

~ 143 ~
Um vídeo de nós fodendo é agora uma promoção de primeira
página para o novo show. A pior parte é que não é a pior coisa que
aconteceu ou vai acontecer conosco.

Pode haver uma bala lá fora, com meu nome nela, mas há mais
marcadas com Naomi Knox.

Assistir a mãe de Blair Ashton solução em sua cabeceira é difícil,


mas ainda é muito melhor do que estar em casa. Além disso, me dá a
oportunidade de assistir Dax mais calmo, com o rosto quebrado em um
milhão de pequenos pedaços que eu sei que só ele pode juntar. Eu vou
ajudá-lo, Deus, eu realmente quero, mas isso vai levar toda a força que
ele tem dentro dele para corrigir essas rachaduras para sempre. Ontem,
durante a nossa foda já infame, eu vi a sua força, o seu
poder. Eu senti isso - e eu não estou falando apenas sobre o ritmo de
seus quadris.

Porra.

Eu abaixo e espeto meu braço – duro. Eu bato meus pés para


fazer a sensação ir embora, mas não seria realmente apropriado no
momento. Até mesmo meus pensamentos parecem blasfêmicos nesta
caixa branca estéril na qual estamos parados. Essa não é Blair. Quero
dizer, não que eu realmente conhecesse a menina, mas ela estava
sempre usando grandes laços e bolinhas, cintas-ligas e cílios falsos
feitos de penas. Todo esse branco simplesmente não se encaixa.

— Eu a quero de volta, Dax, — a mulher diz, virando e enterrando


seu rosto no ombro de Dax. Ele a segura lá com um braço forte,
tatuado, os olhos fechados quando ele suga uma respiração
profunda. Eu não sei o que fazer, então eu fico ali, mais uma vez
sentindo um buraco completo, como uma estranha em uma sala cheia.

A irmã de Blair me encara do outro lado da sala, uma adolescente


com uma blusa cropped e uma música de Taylor Swift explodindo para
fora de seus fones de ouvido e enchendo a sala com algumas letras pop
que parecem duas vezes mais inadequadas do que meus pensamentos

~ 144 ~
lúgubres. Eu tento entender de onde isso está vindo; sua irmã está em
coma afinal de contas. Eu sorrio suavemente, tentando parecer
reconfortante, mas não funciona. A menina se vira para olhar para o
seu telefone.

Olho para Dax enquanto termina de abraçar a mãe de Blair,


soltando-a com um pequeno suspiro que me diz o quão cansado ele
realmente está. Se essa coisa toda com Paulette e a porcaria de reality-
show não tivesse acontecido, ele ainda estaria vivo? Eu estava agindo
como uma covarde, com muito medo de ir atrás dele, de assumir um
risco com um garoto com palavras tatuadas no rosto. E ele... ele estava
muito quebrado para vir para mim. Esse contrato estúpido, essa
cláusula estúpida sobre a mansão, nos juntou, nos fez enfrentar a
atração que estávamos sentindo. Agora, em vez de se enfiar nas
drogas... Dax está me pressionando contra o piso de madeira do
escritório.

Por que diabos eu era tão contra tudo isso?

— Eu vou cuidar bem dela enquanto você se for, — ele promete


quando a mãe e a irmã de Blair se preparam para sair e fazer uma
pausa em seu quarto de hotel. Elas ficaram lá um dia inteiro. Não é
bom. — Leve o tempo que for necessário. Vou esperar aqui até você
voltar.

Dax mantém uma expressão agradável, mas neutra no rosto,


enquanto elas reúnem suas coisas, beija Blair na testa e diz
adeus. Uma vez que se foram, meu novo namorado estatela em uma das
cadeiras horrorosas puxadas até a cabeceira de sua melhor amiga e
inclina a cabeça para trás.

— Merdaaaa, — ele sussurra, deslizando as mãos sobre o rosto


enquanto eu me aproximo e sento na borda do apoio de braços. — Eu
não aguento mais esta merda. É... Blair e eu temos sido amigos desde
sempre. Desde sempre. Eu não posso... eu não sei como passar por isso
sem ela.

Eu envolvo meus braços em volta do pescoço de Dax, deslizando


em seu colo e desejando que eu soubesse mais, mais sobre Blair, sobre
a infância de Dax, tudo. Eu não quero me sentir como uma estranha
mais. Não com meu irmão e sua banda, com Dax e seus amigos, com
a vida. Eu sempre fui sozinha, sempre fui a mulher sem rumo. Tão
estúpido como isso tudo é, eu finalmente encontrei uma comunidade,
um lugar onde eu pertenço, e eu preciso aprender tudo.

~ 145 ~
— Me conte uma história sobre Blair, — digo, inclinando a cabeça
contra ele. Curiosamente, esta posição é mais difícil para eu lidar do
que o sexo em um cemitério. Portanto, muito mais íntimo. Eu estou
tentando tocar a alma de Dax aqui, não apenas seu corpo. Sem querer,
olho para a tatuagem de peixe anjo em meu tornozelo. Aqueles peixes
são companheiros para a vida. Eu não sei se Dax e eu vamos durar
tempo, mas... sentindo-o sólido e quente contra mim assim, lutando
contra a dor e o desgosto com tudo o que ele tem passado, eu nos
quero. — Sobre você e Blair. Você a conhece desde o ensino
fundamental, certo?

— Sim, — Dax diz, sua voz baixa, os braços vindo ao redor da


minha cintura. Um arrepio toma conta do meu corpo, uma chama
queima ao mesmo tempo que acalma, como pular em um lago gelado
durante o incêndio de um verão quente. — Desde a segunda série. Ela
sempre me convidou para suas festas de aniversário, embora meu pai
nunca me deixasse ir. — a voz de Dax trava estranhamente, a
respiração engatando. Eu posso sentir seu corpo tenso por aquela
palavra. Pai. Não é uma sílaba agradável para o baterista do Amatory
Riot. — Blair, porém, me dava doces da festa na escola. Uma vez ela me
deu uma fatia de bolo. — Dax ri e quando eu olho para cima, eu posso
vê-lo imaginando um saco plástico cheio de bolo. — Houve gelo em tudo.

Seu olhar aguça quando ele olha para o espaço, a cama de Blair e
as máquinas que trabalham para mantê-la viva.

— Meu pai descobriu isso debaixo da minha cama duas semanas


mais tarde e me fez comer tudo. Estava coberto de formigas e cheirava a
bunda. — Dax suspirou, um gemido escapando de seus lábios enquanto
ele inclina a testa para mim. — Eu o odeio tanto. Queria que aquele
tornado rasgasse do céu e o atingisse cem vezes. Inferno, eu gostaria
de matá-lo.

— O que aconteceu? — eu pergunto, sentindo essa raiva e dor


que Dax sentiu durante o nosso tempo longe. — Você pode me dizer,
você sabe. Isso é onde eu estava tentando chegar na noite
passada. Estou aqui para ajudar.

— Eu já coloquei muito sobre você, — Dax diz, balançando a


cabeça. — Muito. Você não deveria ter que aturar isso. Não é o seu
problema.

~ 146 ~
Me viro para encará-lo mais plenamente, abrangendo os joelhos
de uma forma altamente sugestiva. Deveria ser sexual, mas não é. Bem,
ok, talvez um pouco, mas que diabos, eu estou tentando ser respeitosa
com Blair, mas eu não estou morta.

— Você está certo. Não é meu problema, mas quando concordei


em sair com você, você se tornou da minha conta. Então eu me importo,
Dax. Eu realmente me importo. Por favor. Tire isso do seu peito.

Em vez de olhar para mim, Dax planta o queixo na mão, o


cotovelo apoiado no braço da cadeira enquanto ele fecha os olhos. Suas
pálpebras estão cobertas com sombra escura, obscurecendo sua
tatuagem Born Wrong. Eu tenho uma vontade enorme de me aproximar
e esfregar isso, expor sua carne com meu polegar.

— Meu pai... — uma pausa. — Arnold me disse que minha mãe o


traiu em um banheiro de bar. — Dax suga uma respiração dura. — A
coisa é, isso realmente não importa para mim. Na verdade, nada disso
importa. A única coisa que realmente importa é que talvez eu nunca
vou saber. Há dois lados da moeda, mas minha mãe... ela não tem como
falar mais. — outra pausa enquanto eu chupo uma respiração e tento
descobrir a melhor forma de lidar com isso. Dax não tem uma mãe; nem
eu. A vida é muito fodida às vezes, não é? Quero consolá-lo, mas eu não
tenho certeza se eu sei como. — De qualquer forma, — continua ele,
abrindo os olhos e acenando com a mão com desdém. — Arnold disse
que ela não me queria, que ela passou toda a sua gravidez na
miséria. Minha vida toda, a única coisa que me fez passar por essa
merda era pensar que se ela tivesse vivido, as coisas teriam sido
diferentes. Ela teria me amado. Arnold teria me amado.

Dax suspira e inclina a cabeça contra a cadeira quando eu


começo a escovar seu cabelo escuro da testa. Eu gostaria de ver como
ele se parece com seu loiro natural, mas se ele quer tingir seu cabelo de
novo, sem problema para mim. Eu sou toda sobre deixar as pessoas
fazerem o que quiser - desde que não prejudique ninguém no
processo. Fodidos. Hardings. Fodidos Hammergrens. Fodidos
Washingtons. Ah, e já que estou mandando todo mundo se foder,
Fodidos Bushes e Fodidos Clintons e Fodidos Trumps. Foda-se todo
mundo.

— Eu gostaria de ter algumas palavras de sabedoria para você, —


eu digo e Dax deixa escapar uma pequena risada nervosa. Minhas
unhas arrastam para os lados de seu rosto, raspando a ligeira barba no

~ 147 ~
rosto. — Mas nada que eu diga vai realmente importar, porque eu
também não sei. A única pessoa que pode tornar as coisas melhores é
você, Dax. Você tem que estar bem sobre não saber. Inferno, você tem
que estar bem com a ideia de que talvez Arnold esteja dizendo a
verdade, e você tem que estar bem com o fato de que não
importa. Arnold odeia você, talvez, e sua mãe, talvez ela poderia ter
odiado você também. Todos nós temos merda entupindo nosso passado,
mas também temos acesso a um êmbolo incrível pra caralho
chamado futuro. — Dax ri novamente e abre uma pálpebra para me dar
uma olhada.

— Isso é profundo, Sydney Charell. Um passado cheio de merda e


um êmbolo? Eu me sinto muito melhor agora. — mas pelo menos ele
está sorrindo quando ele diz isso. Eu pego seu rosto suavemente e
amorosamente.

— Eu não sou um poeta, — digo, me inclinando para pressionar


um beijo nos lábios perfeitos de Dax. — E eu não sou uma escritora ou
uma cantora ou até mesmo Naomi Knox, mas eu passei por muita
merda e fazer piada da verdade é o que eu faço. Você vai ficar bem, Dax,
se você apenas se deixar ficar bem.

Seu olhar vagueia por cima do meu ombro para sua amiga em
coma, mas eu o forço de volta para mim, me inclinando e dizendo
minhas palavras contra seus lábios.

— Você pode apoiar Blair e sua família. Você pode se sentar ao


lado da cama, e você pode escovar o cabelo dela, mas você não pode se
culpar por isso. Não vai ajudá-la, e isso não vai te ajudar. Se você
deixar, você vai ficar bem. Eu não posso dizer isso com palavras
bonitas, mas posso citar algumas merdas. — eu sorrio e evoco minha
melhor voz (se eu tentar realmente, eu posso cantar menos como
abutres morrendo e mais como uma adolescente no meio da
puberdade). — Rostos sem rostos e vozes estéreis não podem me puxar
para fora porque eu estou muito no fundo, e meu amor está me
matando. Se eu não virar a chave do meu passado, então eu nunca vou
conseguir sair vivo.

Meu esforço para citar as palavras de Naomi Knox - ou mesmo a


voz de Hayden - é patética na melhor das hipóteses, mas faz Dax dar
um sorriso, e quando olho para Blair Ashton, eu acho que há um
sorriso fantasma pairando sob a pele também. Mesmo que eu tenha
imaginado essa parte, vale a pena. Totalmente vale a pena.

~ 148 ~
Mesmo quando a minha música acaba na TV também.

— Eu estou chateada pra caralho, — eu digo com um sorriso


apertado, meus dedos se fecham em torno dos braços da minha
cadeira. Paulette Washington olha de volta para mim, nada de humano
em qualquer lugar nesse rosto perfeito. Se ela acabasse por ser um
androide, uma perfeita Barbie de Beverly Hills robô, então eu não ficaria
surpresa. Eh, talvez seja mais correto dizer que ela é como um
personagem de Monster High, da pior espécie, pela qual o resto das
bonecas estão cagando de medo. Ela viria com uma faca apunhalar as
pessoas na parte de trás e um tubo de pasta de dente de clareamento
dos dentes para manter esses dentes a nível de cegar os olhos. Whorror
McBitch seria o título na caixa.

— Lembre-se de reformular cada pergunta como parte de sua


resposta. Os telespectadores vão ouvir as suas palavras, não as minhas,
— diz ela enquanto se ajusta em sua cadeira e continua a sorrir para
mim. E eu pensei que sua irmã fosse um pesadelo. Hã.

Eu fecho meus olhos por um momento e chupo uma respiração


profunda.

— Eu estava chateada pra caralho ao saber das câmeras no


quarto de hospital de Blair, — eu corrijo, levantando as mãos e
colocando-as em torno da minha boca como um megafone. — Não há
nada mais privado? — eu grito com a equipe montada e elenco. Rabo de
Cavalo, especialmente, não parece incomodada com a notícia. Ela está
feliz que tudo está correndo dentro do cronograma. Cena de sexo,
checado. Cena emocional no hospital, checado. Agora tudo o que
precisamos é de alguma violência e nosso portfolio do Hard Rock Roots
estará completo - e tudo dentro de uma semana. Que excitante. —
Como você pode pedir a família dela para assinar sobre seus direitos
assim? Especialmente quando há uma chance de que
ela nunca acorde? Que tipo de monstro é você?

— Isso foi um pouco clínico também, — Paulette diz, batendo a


varinha contra o lábio inferior enquanto varre a tela de seu iPad por um

~ 149 ~
momento. — Experimente algo como ‘quando eu ouvi que havia câmeras
no quarto de hotel de Blair, eu estava chateada pra porra’. Parece mais
natural dessa forma. Ah, e por favor, não se refira a mim quando eu
estou sentada aqui. Seria mais apropriado falar sobre o show como uma
entidade não-presente. Por exemplo, ‘como eles poderiam pedir a família
de Blair para assinar sobre seus direitos assim? Que tipo de monstros
são eles?‘

Eu fecho meus olhos por um momento para recuperar o fôlego e


ouço a cadela do meu irmão se aproximando da porta para a nossa sala
de entrevistas improvisada. É algum escritório não utilizado/sala de
estar no primeiro andar, do lado oposto onde Dax e eu fodemos. Mesmo
com todas estas pessoas, parece que não há nenhum espaço sobrando
nesta casa. Por falar de espaço…

— Como diabos Turner acabou comprando uma casa que acabou


por ser sua? Hmm? Você pode explicar para mim?

Paulette suspira e acena sua mão para a equipe de câmera.

— Corta! — ela grita, parecendo exasperada. Deus me livre


estragar seu pequeno universo perfeito. Paulette coloca seu iPad para
baixo em sua saia e se inclina para mim, seus brincos de pérolas
balançando com o movimento. Sua maquiagem não é tão simples hoje,
é do tipo que me assusta. Em vez de lábios nus, ela está ostentando
algo que se parece muito com Velvet Antigo da MAC. Se eu não estivesse
usando Candy Yum-Yum agora, eu poderia ser me sentido
intimidada. Talvez. — Me ouça, senhorita Charell, nada acontece por
acaso nesta cidade. — seus lábios se enrolam em um sorriso duro, que
me faz lembrar do sorriso do cadáver de Cohen. Ugh. Nojento. — Os
Washingtons estão envolvidos em imóveis de luxo e desenvolvimento
imobiliário. Não importava que casa o idiota pegou. Fosse o que fosse,
de alguma forma, pertenceria a mim.

— Então, ele realmente não construiu isso? — pergunto quando


eu levanto uma sobrancelha loira. — Seu marido? — estou em busca de
informações, mas Paulette não parece perceber. Ela prontamente
admitiu ter matado Cohen Rose, então por que não isso? Eu dou uma
olhada rápida ao redor, mas não vejo Brayden em qualquer lugar nas
proximidades. Ótimo. Tenho a sensação de que ele poderia não
exatamente concordar com isso. Eu acho que suas palavras foram: Não
procure problema. Mas o meu nome do meio é problema.

~ 150 ~
— Oh, sim. Tudo personalizado, não poupou nenhuma despesa.
— Paulette se inclina para trás, cruzando as pernas na altura dos
tornozelos, acariciando sua cadeira dobrável como se fosse um trono de
ouro. Ela acha que é dona do mundo. E diabos, o que eu sei? Talvez ela
seja mesmo? Mas eu ainda gostaria de algumas respostas aqui, e ela
parece disposta a me dar. — O fato de que esta era a casa que Turner
escolheu? Destino. Isso foi sorte.

Paulette bate a ponta das unhas contra o braço da cadeira e


continua a olhar para mim, seus olhos castanhos como duas piscinas.
Fria. Desumana. Tóxica. Sua roupa de hoje é mais uma sombra da
cadela poder, calças pretas e uma blusa vermelha com babados ao
redor da garganta, como espuma de sangue.

— E o hospital? Você pegou o vídeo e postou on-line dentro de


uma hora? Como? Por quê?

— Vulnerabilidade, senhorita Charell. Todo mundo tem isso; todo


mundo quer fingir que não têm. Quando eu te adicionei neste show, eu
pensei que você fosse algum brinquedo descartável de sexo para Dax
brincar. — eu sinto meus lábios apertarem, mas já ouvi pior. Muito
pior. Eu gostaria de dar um tapa na cadela? Claro. Mas isso não me
levaria muito longe, não é? — Mas você está provando ser muito
interessante, o complemento perfeito para o Hard Rock Roots.

— Que diabos você está pensando? — pergunto quando seus


olhos brilham. Sério, eles brilham, como uma estrela do caralho ou algo
assim. Essa merda não acontece por acidente.

— Minha vez de fazer uma pergunta, — Paulette começa,


sentando e cruzando os braços sobre o peito. — Como você se sentiu
quando a família Hammergren acabou com seu contrato com Tattoo
Terror, algo que você legitimamente e justamente ganhou sozinha? — eu
poderia ser surpreendida pela declaração de Paulette - mas eu não
estou. Eu percebi isso quando Brayden Ryker me pegou do estúdio em
uma van. Se os Hammergrens possuem - ou possuíam, se você levar em
conta a façanha que America fez - Spin Fast Music Group então por que
não Tattoo Terror? Por que diabos não? — E qual é a sensação de saber
que o seu novo contrato com Tin Dolls é simplesmente um subproduto
de toda esta situação horrível? Que os nossos fotógrafos nunca, nem em
um milhão de anos teria se incomodado ou se importado em te
fotografar em seu próprio mérito?

~ 151 ~
Eu sinto minha mandíbula apertar, mas eu também posso ver
que as câmeras ainda estão rolando no fundo. Ela poderia ter
conseguido mais do que ela queria de mim, mas ela não vai conseguir
tudo.

— Recebo para mostrar meus seios. O que há para reclamar? —


eu digo com um sorriso, recuando em minha cadeira. No fundo, eu ouço
o ranger da cadeira de rodas do meu irmão, invadindo meu espaço com
um sorriso irritante como a porra no rosto.

— Sim, eu tenho uma reclamação. Ninguém quer ver essa merda,


— Trey diz em sua melhor voz de Turner Campbell.

— Esta é uma entrevista. Dê o fora daqui, — eu estalo quando ele


sorri para mim e, em seguida, coloca as mãos sobre os braços de sua
cadeira de rodas. Com um grunhido e uma maldição, meu irmão mais
novo se iça e se levanta.

~ 152 ~
— Bem, você viu isso? — Turner pergunta enquanto Trey está
trêmulo atrás de sua cadeira de rodas, os dedos enrolados em torno do
guidão de apoio. — O Idiota Aleijado se levanta. É um maldito
milagre. Não é necessário, sei lá, meses de terapia para fazer essa
merda?

Trey encara seu amigo idiota antes de fazer um som na garganta e


franzira testa.

— Sim, cara, é verdade. Quanto tempo você acha que tem sido
desde que eu levei aquele fodido tiro? Você tem alguma noção de
tempo? — e então ele murmura algo baixinho. Eu acho que
é estúpido, mas quem diabos se importa?

Eu cruzo meus braços sobre o peito enquanto Sydney bagunça o


cabelo de seu irmão, um sorriso enorme no rosto. Treyjan Charell pode
ser um saco nojento de merda, mas ela o ama e eu respeito isso. É
quase o suficiente para me fazer esquecer de Blair e o hospital e... ok,
não é quase. Fodam-se os Ashtons. Lucrar com a desgraça de sua filha
doente é doente pra caralho. Eu corro uma mão sobre meu rosto
enquanto Turner levanta uma guitarra da bolsa em seus pés e dedilha.

— Eu consegui a sua Blackjack de volta, mano, — diz ele, se


referindo à guitarra. É uma Schecter com um crânio prateado e ossos
cruzados embutido no braço da guitarra. Eu definitivamente prefiro a
Wolfgang de Naomi, mas acho que a Blackjack se adapta ao estilo de
Trey. Com vinte e quatro trastes, o pescoço é rápido e furioso de tocar -
ou assim eu acho. Ao contrário de Turner ou Ronnie ou Naomi, eu não
tenho um segundo talento musical. Para mim, é bateria, bateria e mais
bateria. — Quando você vai ser capaz de colocar o seu rabo mutilado de
volta ao trabalho e tocar?

— Vá para o inferno, Turner, — Trey diz, mas ele tropeça até a


frente de sua cadeira e se senta, liberando as mãos para tomar posse da
guitarra. Do canto do meu olho, eu assisto Naomi observá-lo. Seus

~ 153 ~
olhos são escuros e seus dedos estão se contraindo nos lençóis como se
ela estivesse a dois segundos de arrastar a bunda para fora da cama e
roubar a guitarra dele, fazendo-a ranger como um coro de demônios
irritados.

— Um passo de cada vez, — diz Sydney, me dando um


olhar. Nosso tempo sozinho juntos é praticamente nulo. Há sempre algo
para fazer, alguém que tenta rastejar em nosso quarto. Não que eu
possa culpá-los; os quartos e banheiros são os únicos lugares que estão
fora dos limites para as câmeras. Nós saímos, uma equipe nos
segue. Nós ficamos, e as câmeras escondidas ao redor da casa
acompanham cada movimento nosso. Até mesmo o hospital não é
seguro como Sydney e eu descobrimos por acidente.

Porra.

— Isso é bom o suficiente por agora. Eu acho que mesmo neste


estado Trey é capaz de ir atrás de você na sessão de fotos e causar
estragos, — Ronnie brinca com um pequeno sorriso, observando como
Sydney continua a mexer com o cabelo de Trey. Ela olha para ele, uma
visão de merda em uma blusa folgada e shorts, saltos altos coral, mas
duas vezes mais brilhantes. É difícil não olhar para ela, ser sugado para
esse turbilhão de cor e brilho. Ela é como o sol, e para mim, eu me sinto
como a lua, algo escuro o suficiente para refletir sua luz.

— Com certeza. Eu não sei como me sinto sobre a minha irmã


posar nua, porra.

— Eu tenho feito strip por dez anos, — Sydney diz com um


encolher de ombros. O tecido branco folgado da sua blusa desliza pelo
braço dela, revelando uma alça de sutiã rosa brilhante, coberta de
rendas. Aposto que você pode adivinhar o que acontece comigo
então. Bingo. — Vocês precisam relaxar e descontrair. Eu acho que
posso me controlar neste momento.

— Treze anos, — corrige Trey. Dou a ele um olhar estreito para


pará-lo, mas tudo o que ele faz é me encarar de sua cadeira de rodas. —
Você sempre diz dez, mas tem sido treze anos.

— Você sabe o que, — diz ela enquanto se inclina e coloca uma


mecha de cabelo atrás da orelha. — Por que você não cala a boca, seu
pequeno espertinho. — Sydney se levanta e me dá outro olhar do outro
lado do quarto, um que diz vamos dar o fora daqui. Estas reuniões de
grupo são ótimas e tudo, uma maneira de ficarmos longe, manter o

~ 154 ~
controle de todas as besteiras que está acontecendo ao nosso redor,
mas eu preciso de uma maldita pausa de vez em quando.

— Pergunta, — Naomi diz, a voz muito mais normal, menos


quebrada do que era no primeiro dia em que ela chegou aqui. Graças a
Deus. Eu preciso de alguma coisa normal em minha vida, e mesmo que
Blair não acorde... merda. É difícil ir até lá, mas se não acontecer, então
eu preciso da música de volta. Eu preciso de Kash e Wren e Naomi e
Amatory Riot, e eu preciso tentar fazer as coisas funcionarem
novamente, descobrir onde eu pertenço.

— Qualquer coisa que você queira, boneca, — Turner diz,


enganchando as mãos atrás da cabeça, o rosto desta mistura
repugnantemente de sentimentos que eu acho difícil de olhar. Acho que
não sou o único emo cadela hoje, huh? Eu tenho um forte desejo de zoar
com ele, mas eu não acho que vai ser algo muito bom agora.

— Me chame de boneca de novo, e você estará nadando em águas


perigosas, mais do que você já está - se isso é até mesmo possível, —
acrescenta ela em voz baixa, empurrando seu cabelo loiro para
trás. Naomi está usando essa blusa preta solta, a palidez de seus
braços em um contraste estranho contra o ombro nu de Sydney. Elas
estão tão perto agora, seria difícil não compará-las. Eu acho que eu
gosto de Sydney muito mais - mesmo que ela cantando deixa muito a
desejar.

Meus lábios se contorcem com um pequeno sorriso, um que


desliza para fora da minha cara quando eu encontro Naomi olhando
para mim.

— O quê? — eu pergunto, tentando não gritar com ela. As coisas


têm sido tensas desde que ela jogou o laptop em mim. Mas
sério? Hipócrita demais? Está tudo bem para ela e Turner ter uma fita
de sexo, mas não de mim e Sydney? Que seja.

— Brayden sugeriu... algo sobre Tyler, certo?

— Sim, — Ronnie responde, apesar de Naomi ainda estar olhando


para mim. Seu olhar oscila até ele, um cigarro pendurado de sua boca,
o cabelo escuro perfeito, limpo e liso, absolutamente nada como o velho
Ronnie, o que começou o nosso tour pesadelo. — Ele disse que se nós o
ouvirmos, jogarmos junto com essa merda, que talvez... poderíamos
conseguir o filho de Travis de volta. Soa como uma fodida fantasia para
mim, mas o que diabos eu sei?

~ 155 ~
— E quanto a Cassie? — Naomi diz, começando a tossir. Turner
está em lá uma fração de segundos com um copo de água. Eu vejo como
a nossa vocalista se afasta de seu aperto com uma carranca e bebe a
água. Meu sangue fica completamente frio e minha respiração engata
forte o suficiente para me fazer estremecer.

Cassie. A filha de Hayden. A filha de Hayden e de Eric. A que


Stephen adotou, que de alguma forma, não por culpa própria, dirigiu
pelos Estados Unidos para encontrar a nossa banda e nos arrastou
para essa porcaria.

Meu coração começa a bater freneticamente e meus olhos se


fecham. De repente estou tendo dificuldade em ficar de pé e estendo a
mão para me encostar na parede. Hayden. Foda-se. Eu sei que todo
mundo o odiava e tudo, às vezes eu também, mas eu ainda sinto falta
dela. Merda, eu sinto. Ela era minha amiga - uma péssima amiga, as
vezes - mas ainda minha amiga.

— Ele não mencionou ela? — Ronnie diz com um ponto de


interrogação, como se ele não tivesse certeza sobre essa resposta.

— Hmm. — isso é tudo que Naomi diz, mas quando eu olho para
cima, nossos olhos se encontram e eu sei que nós dois estamos
pensando em Amatory Riot, sobre America, sobre Hayden, sobre
Blair. Um lampejo de memória me atinge como um caminhão, um início
de manhã quando estávamos sentados em torno da mesa em nosso
ônibus, uma das refeições caseiras de America na nossa frente.

— Eu preciso de uma pausa dessa merda, — eu digo quando eu


me viro e saio daquele quarto como se eu estivesse em chamas. Eu sei
que há câmeras monitorando meus movimentos pelo corredor,
descendo as escadas, mas eu não paro até que eu estou fora, olhando
para as águas azuis frias da piscina.

As coisas mudaram muito, pra caralho. Eu nem sei como lidar


com tudo isso.

— Dax. — é Sydney, aparecendo atrás de mim com sua blusa e


short, sua franja escondendo o elevar questionador de suas
sobrancelhas quando ela olha para mim, luz solar fluindo através do
halo dourado de seu cabelo. — Você está bem?

— Não exatamente, — eu digo, mas eu não sei como explicar o


que é que eu estou sentindo. — Eu só... eu não pensei sobre Cassie
desde o show. — eu dobro meus dedos em meus bolsos frontais e olho

~ 156 ~
para as botas pretas em meus pés. — Sou eu que sou muito
egoísta? Tudo que Hayden realmente queria era manter sua filha
segura. — uma pequena explosão de riso escapa da minha garganta
quando eu olho para o céu. — É por isso que ela fez o que fez, sabe? A
razão por trás disso tudo. Mas... agora que eu sei a história completa,
tudo do início ao fim, eu realmente não acho que Stephen faria mal a
Cassie. Quero dizer, ele está cuidando dela desde que era um
bebê. Então... Hayden morrer por nada? Isso é tudo por nada? — eu
olho para a piscina e levanto minhas mãos, impotente.

Eu te amei, Dax. Eu te amei, e mesmo que seja tarde demais, e eu


tentei.

— Não é por nada, — Sydney diz, se aproximando de mim,


descendo para tomar uma das minhas mãos nas dela. Por um momento
longo de silêncio, nós dois ficamos parados e olhando para a água na
piscina, as sombras das palmeiras contra a plataforma de
concreto. Alguns momentos depois, um som assombrosamente belo
ecoa das portas abertas e nos rodeia. Depois de trocar um olhar,
Sydney eu viramos a cabeça para dentro, em direção ao foyer e o bater
das teclas de piano.

— Puta merda, — diz ela enquanto vemos Lola Saints movendo os


dedos sobre a superfície branca e preta com os olhos fechados, a
respiração lenta e desconfortável, mas ela toca perfeitamente. Eu não
sei qual a música que ela está tocando, mas faz pulsar meu coração
com cada nota, como se a música inteira fosse um último adeus. Eu me
pergunto se é para sua irmã? — E eu pensei que era Ronnie que eu
estava ouvindo todas essas noites, — sussurra Sydney, completamente
apavorada, seu olhar focado na figura melancólica ao piano.

Há um momento inteiro onde nós nos perdermos na música, onde


eu me lembro como é se perder na música. Essa coisa de tocar apenas
por tocar, para curar a alma com o som. Minha mão esquerda aperta
em punho ao meu lado. Caramba, eu realmente sinto falta
disso. Realmente, realmente sinto falta.

— Dax, — Sydney diz, chamando minha atenção para cima e para


a entrada para a sala de estar. Paulette Washington está ali com a
cabeça inclinada para um lado, como um pássaro, como
um falcão observando um pássaro cantando. É assustador pra
caralho. O sorriso que se estende por todo o rosto dela enquanto ela
assiste Lola tocar me assusta pra caralho.

~ 157 ~
Ela está bolando alguma, com certeza. Agora, o que diabos é isso
e alguém vai morrer?

Minhas mãos estão cobertas de algodão doce rosa, um


subproduto do corante que eu estou colocando sobre o cabelo da minha
nova namorada. Eu provavelmente deveria usar luvas, mas que
diabos? Não é a minha sessão de fotos, não é?

— Eu não posso acreditar que eu estou fazendo isso, — murmuro,


um cigarro apagado pendurado do lado da minha boca.

— Por que não? — Sydney me olha, uma bebida em uma mão, um


cigarro na outra. — Eu tingi seu cabelo, não foi? Bom, mais preto para
cobrir tudo essa cor loira bonita que você está tentando esconder de
mim. — um sorriso me faz enrolar meu lábio em torno do cigarro
enquanto eu mexo no cabelo grosso de Sydney com o corante,
mudando-a para um novo visual que ela está decidida a usar em sua
estreia nacional. Eu gostava dela loira; eu vou gostar dela com o cabelo
rosa pálido, mas ela acha que assim é mais perceptível. Loiras são
esquecíveis, eu acho que é o que ela disse.

— Não é com a cor do cabelo que eu tenho problema, — eu digo,


enquanto passo tinta extra em seu cabelo. — Eu costumava tingir o
cabelo de Blair para ela quando estávamos na escola. O que eu quis
dizer é que eu não posso acreditar que estou ajudando você a se
preparar para mostrar suas coisas para o mundo. Eu deveria estar, sei
lá, te amarrando e te escondendo na minha caverna ou algo assim?

— Se você quiser experimentar, vá, Tarzan, mas eu sou mais forte


do que pareço. — Sydney se levanta e se vira para examinar seu cabelo
enlameado no espelho antes de jogar uma piscadela em minha
direção. — De qualquer forma, você acha que isso vai ficar bem, certo?

— Acho que seria uma boa aparência, não importa o que você faz
com o seu cabelo, — eu digo, apreciando o movimento de seus lábios
enquanto eles se enrolam em um sorriso para mim. Eu poderia acordar
todos os dias com esse sorriso, eu digo, minha mente já

~ 158 ~
desesperadamente tentando acessar referências obscuras de cinema
para esguichar e me fazer parecer um idiota. — Mas eu também acho
que você ficaria melhor com roupas, — acrescento e Sydney se vira para
olhar para mim e coloca as mãos nos quadris.

— Oh, sério? — ela começa, se aproximando e passando um


polegar em sua alça de sutiã exposta. — Eu pareço melhor com
roupas? Então eu acho que não preciso tirar isso?

— EI, — eu digo, me aproximando e olhando para ela, minhas


mãos tingidas de rosa deslizando para cima e manchando sua blusa
com mais cor antes de eu fazer o meu caminho até a sua bunda. —
Agora você está levando minhas palavras para fora de contexto. —
Sydney sorri para mim enquanto eu a puxo para perto, me curvando
para beijar aqueles doces lábios. Ela está sempre usando algo sobre eles
- batom, gloss - então eles sempre têm gosto de algo fresco, frutado.
Puta que pariu, isso é bom. O sabor de hoje está entre cítrico e pétalas
de rosa. Eu estou curtindo isso com certeza.

Até que alguém bate na nossa maldita porta.

— Merda, — eu estalo quando eu recuo e abro, totalmente


preparado para falar alguma merda. Nós estamos em um novo
relacionamento, e nós oficialmente fizemos sexo como um casal tipo o
quê, duas vezes? Isso está realmente ficando velho. Mas a minha raiva
morre exatamente onde ela começou, sentando-se pesada e dura em
meus lábios enquanto eu me pego olhando para Naomi Knox. —
Caramba, — eu digo, porque mesmo sabendo que ela tem de sair da
cama para ir ao banheiro ou se sentar na varanda, eu não tenho
realmente visto ela andando pela casa.

— Posso entrar? — ela pergunta, enfiando os braços sobre o peito


e se olhando no olho bulboso da câmera acima da nossa porta.

— Um, é claro, — eu digo, dando um passo para trás e deixando-a


passar, a primeira coisa que ela faz é notar as marcas rosa nos peitos
de Sydney - e na bunda dela. Uma sobrancelha loira levanta enquanto
ela observa a minha nova namorada girar o dedo no corante no alto da
cabeça e o deslizar através de suas próprias sobrancelhas.

~ 159 ~
— Antes de dizer qualquer coisa, — Sydney diz a ela, batendo em
seus lábios enquanto ela se verifica no espelho. — Agora o tapete
realmente irá combinar com as cortinas15.

— Eu não quero saber o que isso significa, não é? — Naomi


pergunta, um leve sorriso sobre os lábios.

— Ela tem um clitóris perfurado e tem um corte extravagante lá


embaixo — eu digo, só pra chocar, acendendo o cigarro e observando
como a minha vocalista entra em nosso quarto com uma cara que é
metade curiosidade, metade nojo. Eu acho que a outra metade é para
Turner, não para nós, então eu não deixo isso me incomodar. E de
qualquer maneira, exceto algumas roupas espalhadas - principalmente
as coisas coloridas de Sydney como sutiãs, calcinhas fio dentais - o
lugar está exatamente do jeito que estava quando Sydney se mudou pra
cá. Deus, eu amo calças justas, eu penso enquanto chuto um par preto
longe dos pés de Naomi.

— Dax, menino travesso, — Sydney diz, pegando um baseado


antes de desabotoar a calça e mostrar aquele coração rosa de cabelo
para Naomi. — Contando todos os meus segredos, — diz ela quando
Naomi se abaixa e dá a ela um olhar profundo. Tipo, sério?

— Vocês vão começar a comparar os peitos agora? — pergunto


quando Naomi cruza os braços sobre o peito.

— Podemos, — Sydney diz enquanto ela ajeita seus shorts jeans


com um sorriso. — Crianças tem que comparar essas coisas,
sabe? Menina para menina e tudo isso. Por quê? Faz você se sentir
desconfortável? — pergunta ela com uma piscadela de flerte na minha
direção.

— Eu seriamente nunca vi nada assim na minha vida, — Naomi


admite com um encolher de ombros. Ela ainda está bem magra, um
pouco desgastada, mas melhor. Muito, muito melhor. Eu a estudo com
um olho afiado, tentando recordar o turbilhão mal-intencionado de sua
presença deslizando para dentro e fora do ônibus, se curvando em um
beliche com seus fones firmemente no lugar, escrevendo canções na
mesa. Se eu estava preocupado com seu trauma na cabeça, eu não
precisava. Ela não parece pior depois do tiro na nossa empresária. Além
disso, ela está usando uma camiseta solta que diz Vá se foder, então eu

15Ela quis dizer a cor do cabelo com as sombracelhas. Ou com outra coisa!
Kkkkkkkkkk!!

~ 160 ~
acho que ela está provavelmente bem. — Isso é loucura, — Naomi diz,
pegando o baseado dos dedos de Sydney e dando uma longa tragada.

— O que a traz até este pequeno bosque? — Sydney pergunta a


ela enquanto ela se senta na beira da cama e põe pra tocar alguma
música para mascarar nossa conversa. É uma prática que nós
realmente começamos recentemente. Após a fita de sexo e a coisa no
hospital, é quase uma necessidade manter as coisas privadas. Suas
escolhas musicais são tão coloridas como suas tatuagens, então não
estou surpreso quando ela coloca ‗Victorious‘ de Panic! At The Disco. Na
verdade, esse é o tipo de música lenta quando se trata de Sydney
Charell. Ontem, ela ouviu alguma banda de metal incondicional da
França sem parar. Um dia antes, foi uma canção pop japonesa que
estava tocando. Não é meu estilo musical, mas fornece uma mudança
de ritmo da Indecency e Amatory Riot.

— Eu, uh, — Naomi começa, esticando os braços acima da cabeça


com uma careta. Ela coloca uma mão ao peito, bem sobre o local onde a
bala entrou em seu corpo. — Eu estava realmente querendo saber se
você ficaria bem se eu fosse a sua sessão de fotos.

Sydney levanta as duas manchas cor de rosa que compõem suas


sobrancelhas e estende a mão para o baseado. Depois que ela dá uma
tragada, ela oferece para mim e eu aceito, despejando meu cigarro em
uma bandeja perto da TV.

— Uh, claro, — Sydney diz, se inclinando para trás e cruzando os


tornozelos tatuados. — A Deusa Extraordinária do Rock, Domadora de
Turner Fodido Campbell, como você pode até mesmo pedir? Como eu
poderia dizer não? — Sydney me dá uma olhada rápida, apenas um
movimento daqueles belos olhos azuis que diz muito. Toma essa. Ela
não está com ciúmes de Naomi mais, isso é certo.

Um calor enche o meu corpo... e meu... aw, porra, você já sabe o


que vou dizer, não é? Se alguém fosse escrever um livro sobre mim,
seria cheio de descrições de ereções e pau latejando que poderia cortar
granito. Cristo. Ninguém quer ouvir sobre essa merda.

— Obrigada, — Naomi diz, se sentando ao lado de Sydney em um


par de calças de pijama preto e meias combinando. — Eu só preciso sair
dessa fodida casa. — ela levanta e corre as mãos pelo seu rosto. — Esta
enorme monstruosidade maldita de uma casa.

— É um pesadelo, — Sydney concorda com simpatia.

~ 161 ~
— Repugnante, — Naomi acrescenta quando ela deixa cair as
mãos no colo e sorri torto.

— Atroz, — Sydney diz com uma risada, batendo o ombro contra


Naomi. — Garota, você se enfiou em uma pilha de problemas com esse
rapaz. Que diabos você vai fazer com ele?

— Eu acho que eu vou me casar com ele? — Naomi diz como uma
pergunta, seu rosto amassado com auto aversão. — Ou matá-lo. Eu não
sei exatamente qual. Tô metade-metade.

— Eu voto para o último, — eu digo, dando uma tragada e


passando de volta o baseado, observando como seus olhos olham para a
bateria Tama SuperStar atrás de mim. Algo acontece nesse momento,
alguns lampejos de paixão e raiva que eu reconheço tão bem. Nós
vamos ter um álbum foda, não vamos? A mão direita de Naomi aperta, e
eu sei que ela vai passar a noite escrevendo músicas.

— Sim, bem, eu estou considerando isso fortemente. Eu entro em


coma e ele compra uma mansão - da irmã de America. Quero dizer,
como diabos isso aconteceu? Coisas assim não acontecem na vida real.

— É uma vida dura para nós, eu acho, — Sydney brinca quando a


canção muda para algo mais sombrio. Eu acho que é ‗Dirty Pretty‘ por
In This Moment. Eu escuto a letra por um momento. Sim. Claro que é. A
vocalista me lembra muito de Naomi - a atitude, aparência e voz. Isso
me faz sentir falta do palco de repente e com uma ferocidade que eu não
sabia que eu tinha. Estar em turnê não é fácil. Na verdade, é uma
porcaria. Faz inimigos dos amigos e amigos de inimigos. Drogas demais,
muito sexo, muita bebida. Mas... eu sinto que é onde eu estou mais
vivo.

— Acho que sim, — Naomi diz com outro suspiro, se levantando e


fazendo uma careta novamente por causa do movimento. Ela enfia a
mão contra o peito e sorri com força para nós. — Eu só espero que
acabe logo. Estou pronta para voltar a sexo, drogas e rock 'n' roll e todo
o drama que vem com isso. Eu definitivamente estou nem aí para essa
coisa de mistério de assassinato.

— Concordo, — eu digo quando ela se dirige para a porta e eu me


aproximo para abrir para ela.

— Se eu não estiver acordada quando você se recuperar, me


sacuda, — diz ela e, em seguida, dá adeus antes de desaparecer pelo

~ 162 ~
corredor. Eu escuto a voz de Turner, logo que a porta do quarto se abre,
mas eu não poderia me importar menos sobre o que ele está dizendo,
então eu bato a nossa própria porta com um suspiro.

— Eu posso ver porque você estava apaixonado por ela, — Sydney


diz quando eu viro e lhe dou um olhar. — Não, sério, eu entendo. Eu
estou apaixonada por ela e eu sou hétero tanto quanto o dia é longo, —
ela declara, com uma mão sobre o peito na declaração firme.

— Pare com isso, — eu digo, me virando e colocando minhas


costas para a porta, virando o bloqueio no lugar. Da próxima vez que
alguém bater, eu não vou atender. Um sorriso irônico torce meus
lábios. — Você a odeia. Apenas admita isso.

— Nem um pouco, — diz Sydney, seus longos cílios se enrolam


contra a testa nua dela. Com seu cabelo coberto de tintura, penteado
para trás de seu rosto, eu posso vê-la muito melhor. Eu quase desejo
que ela tivesse cortado tudo isso para que eu pudesse me afogar nas
profundezas azuis dos seus olhos. Porra. Eu deslizo a mão pelo meu
rosto. — Eu prometi a mim mesma quando eu encontrasse um lugar
para me estabelecer, eu ia fazer amigas. Então, aqui estou eu, ficando
amiga da... ex-paixão do meu namorado?

— Se você pudesse chamar disso, — eu começo hesitante, a visão


na minha primeira vez com Sydney aparecendo. Eu não fui exatamente
um cavalheiro. E eu não estava exatamente sóbrio também. Estou
surpreso que ela foi capaz de não ligar para a minha idiotice.

Você precisa de uma limpeza de Naomi. Eu pareço um pouco com


ela, não é?

Eu tremo com a memória - principalmente por causa da minha


própria resposta idiota.

Um pouco, talvez. Vocês duas são loiras, eu acho.

Uau. Macia. Suave. Pra. Cacete.

E então eu começo a pensar em toda a merda que disse a Naomi e


as coisas ficam ainda mais estranhas dentro da minha cabeça. Eu vim
porque eu não queria que fosse tarde demais para dizer que eu te
amo. Ugh. Apenas... eca. Ugh. O que há de errado comigo? Eu não
tenho nenhum filtro na boca?

~ 163 ~
— Um centavo por seus pensamentos, — Sydney diz, se
levantando e deslizando sua camisa por cima da cabeça. Ela bate no
chão em uma pilha rosa e branca, deixando sua cintura curvilínea em
exibição. — Você não está pensando sobre Naomi novamente, não
é? Porque se você ainda tem uma queda por ela, então eu poderia dar
um tapa na cadela e isso iria me fazer perder o status de amiga.

— Eu só estou pensando sobre o quão idiota que eu sou, — eu


digo com um encolher de ombros. Então, novamente... talvez haja um
ponto em tudo isso? Ou talvez... Sydney está prestes a tirar o
sutiã. Merda. Eu tento reunir os meus pensamentos antes de seus
mamilos estarem expostos e todo o pensamento lógico sai pela
janela. Levei quatro anos para dizer a Naomi como eu me sentia. Eu a
perdi, ou talvez eu nunca a tenha tido em primeiro lugar. Hayden está
morta; Tara está morta; Blair está morta, porra.

Porcaria.

Vou fazer isso de novo, não vou?

— Sydney, — eu começo e o olhar em seu rosto é impagável. Ela


parece quase... com medo. Por quê? Por minha causa? O que eu vou
dizer? Ela se importa e isso me faz importar pra caralho, e eu só quero
abraçá-la agora.

— Sim? — ela pergunta, parando com o sutiã cruzado sobre o


peito, esperando que eu diga o que é que eu vou dizer. Agora ou nunca,
certo?

Eu tomo uma respiração profunda, olho diretamente em seu rosto


e digo isso.

— Sydney, eu acho... não, não é isso. — outra respiração, um


passo em frente, minhas mãos quentes sobre seus ombros quando eu
inclino e respiro contra seus lábios. — Eu te amo.

Pronto. É isso aí. Falei.

Eu realmente sou um emo cadela - e eu nunca estive assim tão


orgulhoso disso.

~ 164 ~
Hayden Lee olha para mim de uma cópia antiga do Tin
Dolls Magazine, as costas curvadas, a bunda para cima, a mão em seu
quadril. Ela é o epítome de uma deusa rock star nesta foto, os mamilos
mal cobertos pela alça preta da mochila que ela tem em seu ombro. Ele
está coberto de alfinetes e patchs, as cores dispostas a imitar a calcinha
arco-íris sobre seus quadris estreitos. Além das meias até o joelho
combinando e saltos alto prata, isso é tudo o que ela está usando.

Ouvi que estarei usando até menos.

— Como você sabe com certeza? — pergunto a Naomi Knox,


levantando a cabeça para olhar para ela, sentada à minha frente dentro
de uma fodida limusine. Sim. Isso novo. Limusine. A última vez que eu
entrei em um desses, eu estava transando com meu encontro na noite
do baile. Nojento. Eu corro o meu dedo pela superfície brilhante da
página, e tento não me sentir doente. Esta revista, a versão física de
qualquer maneira, agora está vendendo por mais de dez mil no
eBay. Nenhuma promoção ou anúncio é tão poderoso quanto a
morte. Me pergunto se Hayden Lee está apreciando sua infâmia
póstuma?

— Hayden fez uma birra sobre seus pequenos seios, — Naomi diz,
suas palavras mal-intencionadas, mas sua voz macia, tingida com uma
mistura de pesar e tristeza. Ela dá uma tragada em seu cigarro e
suspira. — Mas eles não iriam deixá-la usar um top, então eles
comprometeram calcinhas e sapato.

Outro suspiro.

— Lembro disso, — Dax diz, a voz baixa, quando ele olha para a
foto. Seus olhos são mais azuis do que cinza agora, como o céu logo
após uma boa chuva. Um céu que disse ‘eu te amo’ na noite passada. Eu
enrolo meus dedos contra a minha perna e tento não enlouquecer - no
bom sentido, claro. — E Hayden estava dando tanto chilique que
America teve que intervir e fazer a paz. — Dax franze os lábios e joga
seu olhar para cima, dirigindo um olhar obviamente agressivo na

~ 165 ~
direção de Turner, como se ele estivesse o desafiando dizer algo
rude. Turner nota e levanta uma sobrancelha escura.

— Calma, cara, meus lábios estão selados, — ele murmura, o


queixo estacionado em sua mão enquanto olha fixamente para fora das
janelas coloridas na cidade. — Eu só estou aqui para manter a minha
mulher segura.

— Se você me chamar de sua mulher mais uma vez, eu juro por


Cristo, — Naomi começa, as mãos tremendo enquanto ela enrola os
punhos contra os joelhos. Ela parece um pouco instável hoje, mas se
ela está usando shorts e uma blusa que mostra o umbigo, ela deve estar
se sentindo um pouco melhor, certo? Confiante, no mínimo. Inferno,
quando eu estava andando pelos corredores ontem, ouvi o barulho de
uma guitarra vindo do quarto de Naomi. Eu posso ou não ter
aproveitado a porta destrancada para espiar lá dentro e pegá-la
dedilhando seu instrumento. A cadela tem coragem, e eu estou além de
animada por ela ter pedido para vir comigo hoje. Nova amiga, eba. Ah, e
possível cunhada no futuro se Turner não estragar tudo.

— Oh, vamos lá, Knox. Você foi me dando gelo desde o dia em que
você chegou em casa.

— Aquilo palácio não é a minha casa, — Naomi rosna, os olhos


laranja-marrons piscando quando ela vira um olhar em seu próprio
namorado. — Eu não pedi isso. Eu não pedi para me mudar pra lá. Eu
não pedi para estar em um reality show na TV. — ela respira fundo e
sacode as mãos, se virando para olhar para mim como se ela tivesse
quase vergonha de si mesma. — Desculpa. Eu não quero continuar
sendo uma vadia. Este é o seu dia, o seu momento.

— A coisa é, — eu digo, brincando com a ponta do meu vestido


preto. — Eu ainda não consigo descobrir porque este é o meu
momento. Quero dizer, por que me colocar na capa de Tin Dolls? Porque
não você? Ou Lola? Eu não sou um membro de qualquer banda, e eu
não posso cantar nada.

— Eu ouvi, — Naomi ri, sua voz é esta mistura quente e sexy. Tão
frio, tão fabuloso, tão feminino. Eu quero ser Naomi Knox quando eu
crescer. — De qualquer forma, — ela acena a mão com desdém, as
pulseiras de prata tinindo. — Não se venda por pouco. Primeiro de tudo,
você é linda, e esses peitos...

~ 166 ~
— Ugh, não, — Turner interrompe, se virando e me dando um
olhar que diz que eu sou o vômito de gato na parte inferior do seu
sapato. Eu mostro a minha língua para ele. — Se você estiver nessa
coisa de menina com menina, você vai ter que escolher outra
pessoa. Esta cadela é muito desagradável pra caralho.

— A única pessoa neste carro que é desagradável, — diz Dax, se


inclinando para a frente. — É você - depois que eu bater até acabar com
esse seu rosto. Eu não me importo se você cresceu com Sydney, isso
não lhe dá o direito de insultá-la o tempo todo, porra. Você já
considerou que ela poderia ser uma pessoa real com sentimentos reais?

— Sentimentos? — Turner ri, recebendo uma cotovelada no


intestino de Naomi. Eu sorrio torto e me inclino sobre Dax, e ele me dá
um beijo na bochecha. Estou acostumada com os meninos falando mal
de mim, mas é bom ter alguém se levantando por mim de vez em
quando, alguém para assumir o comando na ocasião.

— Obrigada por defender minha honra, vaqueiro, — eu digo com


um sotaque falso, me sentando no banco duro e explodo meu chiclete
como eu fiz com Hayden outra vez. A rainha de rocha está morta e aqui
estou eu, com a audácia de pensar que eu poderia tomar o lugar dela
na capa desta revista. Eu ainda não consigo descobrir por que está me
sendo dada a oportunidade, mas que diabos? Há muitas pessoas
famosas por suas associações. Quero dizer, o que diabos Kim
Kardashian faz de qualquer maneira? Ou Paris Hilton? Ou Victoria
Beckham? Tipo, elas ficaram famosas apenas por ser famosas, então
por que não eu? Por que diabos eu não?

— Eles provavelmente só te colocam na capa para que possam te


tornar famosa, — Turner começa, com um sorriso grande para mim, um
cigarro pendurado no canto da boca, — e depois te matar.

As fotos para Tin Dolls está ocorrendo em seu armazém no West


Hills, uma estrutura maciça decadente e cheio de ferrugem que
costumava ser considerado uma maldita bagunça, mas que agora está

~ 167 ~
sendo adorada por sua pegada industrial chique. No interior, o antigo
edifício é decorado com piso de concreto polido, arte moderna com
mobiliário, e uma parede inteira dedicada à primeira capa da Tin
Dolls Magazine. Ela se estende do chão ao teto maciço, subindo como
um mural, o rosto da estrela pop cadela, Cameron Koons, enfeitando a
página com o cabelo muito loiro, o sorriso falso de Hollywood.

Eu deslizo a mão pelo meu cabelo algodão doce rosa e chupo uma
respiração profunda. Eu não estou nervosa; Sydney Charell não fica
nervosa.

— Eu estou pirando, foda-se, — eu sussurro para Dax enquanto


nós nos movemos para dentro do prédio e vemos os caras de Brayden
dando uma olhada no lugar e cobrindo todas as saídas. Meus olhos
imediatamente vão para cima, até o teto, procurando a possibilidade de
um franco-atirador ou algo assim. Quer dizer, eu sei que não sou
exatamente o alvo número um para a família Hammergren ou Harding,
mas Naomi e Turner estão aqui. Eu meio que tenho a sensação que um
ou outro deles vai levar um tiro antes do fim da semana.

— Respire fundo, — Dax sussurra, inclinando e respirando contra


minha orelha. — Você é bonita, a garota mais bonita que já tiveram
nessa fodida capa.

— Olha, olha isso. A editor-chefe está aqui e ela não tem nenhum
indício do que fazer comigo. — eu aponto para uma mulher em um
terno azul-marinho que está falando em voz baixa para a sua
secretária. — Eu não tenho um agente ou um empresário, então ela não
tem ninguém para conversar.

— Gerencie a si mesma, — Dax diz quando ele me vira com as


mãos sobre meus ombros. Puta merda, mas ele é bonito. E ele me
ama. Porcaria. Devo dizer de volta. Mas mais tarde, depois desta sessão
acabar. Eu mordo meu lábio inferior sob meus dentes enquanto esfrego
os polegares em pequenos círculos na minha pele nua. — Você é boa
nisso, você sabe, lidar com as pessoas, fazer as coisas acontecer. — Dax
sorri suavemente. — Eu ouvi de Trey e dos próprios lábios de Turner
que eles não teriam sobrevivido até a idade adulta sem você.

— Merda, — eu gemo quando Dax se inclina e pressiona um beijo


contra a minha boca. Sua pele é fria, um bálsamo para o meu corpo
aquecido. Mesmo sem perceber que eu estou fazendo isso, minhas mãos
vão para cima e agarram a frente de sua camiseta branca da Amatory
Riot. — Este vai ser um longo dia, não é?

~ 168 ~
— Talvez, mas no final, eu vou estar esperando por você, — ele
sussurra, me beijando novamente e, em seguida, dá um passo para trás
quando a editora-chefe vem, os saltos altos clicando contra o chão de
concreto. Eu me faço sorrir para ela, pois nós duas sabemos por que ela
está aqui. Não é sempre que a editora-chefe iria aparecer para uma
sessão, mas esta sessão toda cheira a influência de Paulette, então eu
decido sorrir e suportá-la e agir confiante como o inferno. Talvez essa
garota tenha tanto medo da cadela como temos? Se assim for, então eu
tenho um maldito dia pela frente.

— Senhorita... — um olhar para o iPad para checar meu


sobrenome. — Cher-el? — pergunta ela com uma pitada de sotaque
mexicano, o cabelo escuro varrido em um coque no alto da cabeça, seu
batom vermelho como sangue. Sinistro? Eu tento não ligar muito para
isso. — Estou dizendo isso certo?

— É pronunciado Shuh-Rell, — eu digo, estendendo minha mão,


tentando o meu melhor não soar como uma cadela. — Não me pergunte
a origem, não tenho ideia. — eu me faço sorrir e, surpreendentemente,
a mulher realmente retorna, apertando minha mão com vigor.

— Araceli Solis, — diz ela enquanto reconhece Dax com outro


sorriso e um aperto de mão. — Sr. McCann. E eu vejo que você trouxe
alguns amigos?

— Se você não tem lido a notícia nos últimos tempos, esta é


Naomi Knox e Turner Campbell, — eu digo, apontando para trás, para
os deuses do rock em pé atrás de mim. Estou surpresa de Naomi até
mesmo olhar para cima e ficar ali pé ali como um ícone com
atitude. Que cadela. Tenho que me lembrar de canalizar um pouco
dessa atitude de estrela em minha sessão hoje. Se eu puder mostrar até
um pingo do que ela tem, então eu vou arrasar.

— Muito bom conhecer todos, — Araceli diz quando ela acena


para seu assistente, um cara baixinho com o rosto cheio de piercings e
uma atrevida caminhada gay. Ei, talvez eu esteja sendo preconceituosa
aqui, mas você não vê frequentemente caras héteros andando assim. —
Este é o meu assistente, Vlad. Ele vai levá-la para fazer o cabelo e
maquiagem para que possamos começar. Se você precisar de uma
garrafa de água, — Araceli começa quando Vlad entrega a ela um frasco
fresco gelado de Fiji e ela passa para mim, — ou qualquer outra coisa,
deixe um de nós saber.

~ 169 ~
Com outro sorriso e uma piscadela, ela se afasta e eu percebo que
ela está realmente vestindo um par de sapatos Iron Fist com seu
terno. Eles são cobertos de esqueletos de sereias sorrindo. Lá em cima,
os alto-falantes começam a romper com uma das canções mais
sombrias do Amatory Riot, uma que eu nunca pensei que Hayden era
capaz de fazer direito... só que, esta é uma gravação ao vivo do último
show. A voz de Naomi escorre para a parte de trás do meu pescoço,
enviando um arrepio pela minha espinha quando a bateria de Dax
esmurrara as paredes do armazém.

— Cara, tem um cara cheirando coca no banheiro, — Turner diz


com uma fungada e um sorriso, seu rosto idiota arrogante torcido em
algo perverso. — Talvez essa coisa de sessão de fotos não vai ser tão
ruim como eu achava?

— Sim, bem, ninguém te pediu para vir, — Dax diz quando nós
viráramos e eu acho Naomi com os olhos fechados, ouvindo a música
com os punhos cerrados ao lado do corpo. Dax observa os lábios dela
em sincronia com a letra de sua própria música por um momento e, em
seguida, se vira para mim, trazendo a minha atenção para Vlad
esperando pacientemente.

— Olha para longe se você não pode respirar, se você não pode
responder a esta convocação. Desvie o olhar se a verdade dói tanto que
você não pode ver. Se você não se levantar contra os fortes, você só vai
ser um dos mais fracos.

— Pronta? — Vlad me pergunta um fone de ouvido empoleirado


no topo de seu cabelo escuro, os braços cruzados sobre uma camiseta
que diz Tin Dolls em rosa. Ele estende as mãos bem cuidadas para que
eu tome.

— Para ajudar, — Dax sussurra, pressionando uma pequena


garrafa na minha mão. É Fireball Whiskey. Ótimo. — Boa sorte e te vejo
do outro lado. — eu mando pra ele um beijo com as unhas cor de rosa
recém pintadas e, em seguida, estendo a mão para pegar a mão de
Vlad. Quando eu sair, eu vou ser uma estrela do caralho, baby.

~ 170 ~
Vlad me leva através de um labirinto de divisórias de tecido, todo
de branco, como um quintal cheio de roupa fresca pendurada para
secar. Só que eu tenho muita foda de certeza que esta roupa é de seda
handwoven ou alguma merda.

Eu sorrio e corro minhas unhas cor-de-rosa junto a uma das


‗paredes‘ quando nós caminhamos para o estúdio de cabelo e
maquiagem. Tecnicamente, ainda estamos no mesmo armazém com as
vigas de aço e ferrugem e o charme industrial, mas este é um mundo
totalmente diferente aqui. Ao longe, eu acho que posso ouvir a voz de
Dax acima do baixo da música, mas talvez seja apenas uma
ilusão? Esta coisa que eu tenho com ele, cara, é ruim - mas de uma
forma que é tão bom.

Eu forço meus dedos pelo meu cabelo e me faço prestar


atenção. Haverá tempo para cobiçar o meu novo namorado doce mais
tarde. Neste momento, há... tudo isso.

Há uma fileira de espelhos à minha direita, encima há grandes


lâmpadas redondas, como um velho closet. Toda a aparência me lembra
de um verão raro quando meu pai fingiu que ia sair das drogas, e ele
me levou para o estúdio de balé local para falar com o professor. Eu
acho que eu nunca vi as luzes mais brilhantes ou mais bonitas do que
aquelas. Claro, essa merda toda acabou por ser uma grande
mentira. Meu pai se drogou novamente antes de eu ter feito minha
primeira aula, mas isso é diferente. Desta vez, essa é minha sessão. E é
a minha vida. E eu vou fazer isso.

Eu puxo uma respiração profunda tentando levar tudo para


dentro, batendo meus pés um pouco para me livrar da sensação de
ansiedade que está tomando conta do meu corpo. Felizmente, mesmo
que haja muita gente aqui, ninguém parece notar. Eles estão muito
ocupados, movendo roupas e maquiagem daqui para lá ou falando um
com o outro. O som de cabides sendo empurrados através de prateleiras
é quase ensurdecedor, mascarando a conversa dos funcionários, então
eu não tenho ideia do que eles estão dizendo. Eu tenho que piscar
várias vezes só para forçar tudo a fazer sentido. As luzes são brilhantes,
ricocheteando o mar de cosméticos que revestem as mesas brancas em
minha direita e revelando uma fortaleza quase literal de roupas, roupas
e mais roupas do meu lado esquerdo.

Pena que eu não terei que usar nada disso.

~ 171 ~
— Não quero me perder aí, — eu brinco quando Vlad puxa uma
cadeira barroca dourada e me apresenta de pessoa para
pessoa. Basicamente, eu não me lembro de uma fodida sílaba dos seus
nomes. Coisas como Mezz e Apple e Mystery. Você sabe, esses nomes
fictícios Hollywoodianos que todo mundo vai odiar daqui dez anos.

Sento por um tempo e olho para mim mesma no espelho,


enquanto as pessoas brincam com meus cabelos cor de rosa pálido e
decidindo como é meu estilo. Meu estilo é louco pra cacete, eu penso
quando me encontro com meus próprios olhos e a voz de Dax aparece
na minha cabeça.

Sydney, eu acho... não, não é isso. Eu te amo.

Eu chupo uma respiração dura e enrolo os dedos ao redor dos


braços da cadeira. Ninguém parece se importar que eu esteja tendo um
pequeno ataque de pânico aqui, então eu fecho meus olhos por um
momento e respiro. Sentada aqui, neste lugar, com tudo isso...
essas coisas acontecendo ao meu redor, me faz pensar. Sobre
Dax. Sobre seus sentimentos. Sobre os meus sentimentos.

O primeiro segundo em que o vi, eu sabia. Quero dizer, era uma


espécie de ânsia animal de conhecimento, como cara, eu realmente
quero acasalar com esse cara. Mas agora? Ele é sensível o suficiente
para contar, mas não é fraco. E ele é diferente de qualquer um que eu já
conheci. Ele tem esse lado pateta que ele tenta esconder, mas que sai
de qualquer maneira.

Ah, e ele tem um pau grande. E barriga tanquinho. E realmente


tatuagens impressionantes. E o pau perfurado. Ei, eu não estou
tentando ser superficial aqui ou qualquer coisa, mas este material conta
também, você sabe. Se não for assim, eu estaria definitivamente na fila
para me casar com uma garota.

Eu suspiro e passo minhas mãos pelo meu rosto antes de um dos


maquiadores aparecer e dizer algo sobre meus lábios que eu tenho
certeza que eu nunca deveria ser repetido na companhia de pessoas
educadas.

Eu estou apaixonada por Dax.

Eu abro meus olhos novamente e sinto uma onda de calor vindo


em cima de mim. Se ele voltasse aqui e agora, eu agarraria ele pela mão,
o empurraria para dentro da floresta de roupas de grife e o devastaria

~ 172 ~
até que ele não pudesse se juntar mais. Como as coisas estão, eu tenho
que passar pela sessão de fotos primeiro.

— Vão, vão, vão, — uma das mulheres - pelo menos eu acho que
ela é uma mulher - me diz, apontando para uma ‗zona de vestir‘ na
parte de trás que é constituída fundamentalmente por uma cortina
pendurada entre duas das paredes divisórias. — Tire suas roupas, —
ela diz e, em seguida, ela se foi, me deixando para arrastar o meu
vestido apertado pra cacete sobre meus quadris enquanto eu examino a
peça que foi colocada perto de mim. Vestidos, sapatos, um monte de
calcinhas diferentes... huh. Encolho os ombros e chego até um,
provando cerca de uma dúzia itens antes de decidir.

Acho que Naomi estava certa. Eu praticamente vou estar vestindo


nada.

No final, eu acabo com um par de botas de salto alto, uma


calcinha, um manto, e alguns adesivos - que eu não estou sequer
autorizada a colocar em mim. A mulher duvidosa acaba voltando
com cola de pele que ela esfrega generosamente pelos meus mamilos
antes de cobrir com duas estrelas negras.

Da próxima vez que eu me olho no


espelho, eu mesmo estou excitada.

Eu sinto meus lábios recém-avermelhados enrolarem em um


sorriso.

Espere até Dax dar uma olhada nisso.

E melhor ainda, espere até que ele escute eu dizer que eu o amo.

~ 173 ~
Sydney é uma deusa de todas as maneiras que importa.

Quando ela emerge do mar de espelhos e paredes divisórias de


tecido que compõem a área de vestir, ela está vestindo nada além de um
roupão de banho magenta e um par de saltos pretos com asas de
morcego de couro nos tornozelos, posicionado logo baixo da suficiente
para mostrar o preto e as tatuagens peixe anjo amarelo acima deles.

Ela não ficou por lá mais de uma hora, mas quando ela aparece,
meu coração começa imediatamente a correr e as palmas das minhas
mãos ficam escorregadias com o suor. No fundo, outra canção do
Amatory Riot está tocando (não ouvi no rádio em um tempo, mas eu
acho que estamos muito famosos agora), então eu consigo vê-la pisando
ao ritmo da minha bateria. Sydney sabendo ou não, ela permite que as
notas guiam seus pés, sorrindo maliciosamente para mim enquanto ela
se aproxima.

— Porra, — murmuro sob a minha respiração, sentindo meu


corpo responder a sua presença como uma droga. Na noite passada, eu
estava um pouco preocupado de ter estragado as coisas. Depois que eu
disse a ela que eu a amava, ela me deu um abraço. Sim, um abraço. Um
que durou um período de tempo quase desconfortavelmente
longo. Depois disso, ela desapareceu para o chuveiro para lavar sua
tintura de cabelo e, em seguida, agiu como se tudo estivesse normal. É
verdade, tivemos uma foda gostosa que durou até a noite, mas isso não
significa que ela gostou do que eu disse. — Eu sou um maldito idiota.

Eu olho completamente extasiado quando Sydney arrasta os


olhos para longe de mim e permite que Vlad e aquela editora-chefe a
apresente ao fotógrafo. Quero que olhe para mim, que deixe seus olhos
azuis passearem sobre o meu corpo, mas ela permanece focada na
conversa acontecendo ao lado da câmera. Quando eu tomo alguns
passos mais perto, eu posso ouvir, pelo menos, um pouco disso.

— Você pode tirar o roupão quando se sentir confortável, — diz a


fotógrafa de Sydney, se sentando atrás de sua mesa de telas de

~ 174 ~
computador, câmeras e assistentes. A cena toda é muito mais bonita do
que eu esperava, exceto pelo fato de que a mulher tem a porra de um
moicano roxo. Porra.

Tattoo Terror.

Acho que estamos exatamente onde precisamos estar


agora. Talvez essa coisa toda seja uma bênção disfarçada?

Olhando para trás, para mim, Sydney desliza o roupão de seus


ombros lentamente, revelando ambos os braços tatuados, o peito, a
barriga e... bem, todo o resto. Vejo tartarugas, peixes coloridos, esse
polvo laranja infame, e um baleia assassina toda encharcada em ondas
azuis, descendo pelos braços, através dos topos de seus peitos. Há um
brilho de cor ao longo de um quadril e uma cintilação em sua
panturrilha esquerda, como Sydney sorri para mim com nada além de
adesivos em seus mamilos e nada mais que uma calcinha.

Jesus fodido Cristo.

— Você vai acampar ou algo assim? — Turner ri do meu lado, os


braços tatuados dobrados sobre seu peito enquanto ele franze o nariz
para sua pseudo-irmã. — Porque você está com uma barraca armada
enorme. Porra, cara, quanto o seu pau mede? Porque sério, até eu
poderia acampar lá.

— Maior que o seu, — eu digo a ele com confiança e ele bufa.

— Turner, cale a boca, — Naomi diz enquanto observa Sydney


com um olhar cuidadoso, olhando aqueles olhos azuis doces, o corte
acentuado de sua franja rosa enquanto elas caem sobre as
sobrancelhas. Eu tenho que desviar o olhar por um momento e limpar o
suor do meu rosto.

Porra.

Eu quase considero ir para o banheiro cheirar, mas as instruções


da fotógrafa chamam a minha atenção para a área de fotos. Não há
nada, além de um pano de fundo branco e um conjunto de suportes ao
lado, mas ninguém parece se importar. Quando você tem alguém tão
bonita como Sydney Charell para fotografar, nada mais importa. — Se
eu não estivesse atraído por homens, eu me casaria com ela, — Naomi
diz enquanto acende um cigarro e o passa para mim. Eu me aproximo
para pegar e nossos dedos escovam, fazendo com que nossos olhos se
encontrem e fiquem lá.

~ 175 ~
Segundos se passam, mas não há nada entre nós como havia
antes - nada de constrangimento, nada de frustração, nada de
raiva. Nós encaramos um ao outro com cuidado por um momento e, em
seguida, um pequeno sorriso surge dos lábios de Naomi.

— Amigos ainda? — ela pergunta. — Mesmo que eu tenha jogado


um laptop em sua bunda?

— Mesmo que eu confessei o meu amor por você em um momento


inadequado?

— Eu acho que nós podemos deixar isso pra trás, — diz ela
quando eu levo o cigarro e puxo a nicotina em meus pulmões. —
Especialmente desde que o último show foi incrível. — Naomi acena
com o queixo para os alto-falantes enquanto a fotógrafa e seus
assistentes falam com Sydney na posição.

E quando eu digo posição...

— Porra, eu vou gozar em minhas calças, — eu resmungo,


deixando meus cílios vibrarem e abrirem de volta para encontrar as
mãos de Sydney pressionadas contra o pano de fundo, seu belo rosto
com aquele queixo afiado olhando por cima do ombro tatuado. Sua
bunda é perfeita. Redonda e suave e perfeita. Eu vou comê-la de forma
dura e rápida para a câmera e eu não me importo com quem esteja
olhando. A única coisa que me impede é o fato de que este é o seu
sonho, sua chance. Se ela quer modelar, quem sou eu para impedi-
la? Mesmo se eu tiver que viver com bolas azuis permanentes... e a
enorme inveja de Turner não está ajudando.

— Se Naomi estivesse posando assim para uma revista, eu estaria


perdendo as estribeiras. Eu pessoalmente não acho Sydney atraente,
mas você pode imaginar quantos homens vão se masturbar por isso?

Eu ignoro e dou um passo para frente, minhas botas raspando


contra o piso de concreto.

Me encontro atraído para a borda dos holofotes, aquele lugar onde


o branco brilhante das luzes encontra a escuridão sombreada do
armazém.

Sydney gira quando a nossa música se desvanece e começa a


tocar Escape the Fate, ‗Live for Today‘, enrolando os dedos em seu
cabelo rosa, pousando com uma mão em um quadril. Com cada flash
da câmera, ela se move ligeiramente, enfiando os dedos sob o queixo,

~ 176 ~
curvando os lábios em um sorriso, aceitando uma guitarra azul de um
dos assistentes. Eu observo quando a porra da minha boca fica
escancarada e meus dedos tocam o meu bolso. É uma forma sorrateira
para provocar meu pau sem que ninguém perceba. E se perceberem,
bem, foda-se eles então. Eu mal posso acariciá-lo a partir desta posição,
mas não importa. Estou tão hipersensível agora, uma pena poderia me
fazer gozar.

Sydney desliza a correia da guitarra por cima do ombro, usando o


próprio instrumento para proteger a calcinha preta que ela está
usando. Depois de mais algumas poses com isso, a fotógrafa grita algo
que eu mal posso ouvir sobre a música e isso faz com que seus
assistentes arrastem uma bateria no set. Meus dedos coçam para tocá-
la, mesmo quando eles estão brincando com meu pau... mas ao mesmo
tempo, eu sei que eu prefiro tocar...

Sydney.

Seu novo cabelo rosa, o brilho prateado e sombra preta em suas


pálpebras, esse pop brilhante de cor em sua boca, tudo isso se junta
com a riqueza de suas tatuagens, a cor cremosa e pálida de sua pele,
até que eu me sinto como se fosse desmaiar. Depois de mais algumas
poses, eu realmente sinto que estou prestes a gozar, então eu puxo
minha mão do meu bolso e enrolo os dedos em punhos. Se eu tiver que
andar por aqui com uma mancha molhada na minha calça jeans, as
câmeras estúpidas vão ver e eu nunca vou desvencilhar disso.

Eu olho por cima do ombro na nossa pequena equipe de filmagem


pessoal. Está se tornando um hábito para mim fingir que não estão
lá. Inferno, com Sydney posando e tudo isso, eu
realmente tinha esquecido sobre eles. Mas eles nunca se esquecem de
nós. Eu os poupo cerca de um segundo de atenção antes de ter de
voltar atrás e ver Sydney novamente. Eles querem me filmar me
masturbando sobre o conjunto de uma grande foto da capa de
revista? Danem-se eles. Que tenham isso. Tudo o que importa agora
é ela.

Estou de cabeça para baixo, eu penso, inconscientemente


molhando os lábios com a língua. Sydney está olhando diretamente
para mim agora, imitando o movimento por acidente ou de propósito, eu
não tenho certeza. Nossos olhos se encaram enquanto ela continua a
posar, se posicionando de maneira que me faze lembrar o pouco tempo
que nós realmente chegamos a passar a sós. Eu seriamente quero

~ 177 ~
pesquisar no Google alguma merda sobre Kama Sutra e testá-lo com
esta menina.

Eu estou tão distraído com o seu corpo, a maneira como ela se


move, que eu quase não noto quando as poses param e a fotógrafa
acena para mim.

— O que foi? — pergunto, fazendo uma pausa ao lado da mulher


enquanto examino seu moicano. É uma impressionante peça de arte
apoiada na cabeça dela daquele jeito. Claro, ela nem chega perto de
Sydney, mas ninguém chega. Não mais. Eu respiro fundo e finjo que eu
não sou um psicopata obcecado com uma paixão enorme e um pau
duro maior ainda. — Existe algo que eu possa ajudar?

— Na verdade, sim, — diz ela, a voz este com um sotaque que eu


não consigo descobrir de onde é. Leste da Europa, talvez? — Eu quero
que você chegue lá, um pouco. Não tenha medo de ser sexy, gostosão,
— diz ela, batendo a mão no meu peito com uma piscadela e um sorriso
malicioso.

— Eu? — eu pergunto, mas Vlad já está lá com um pincel de


maquiagem na mão, passando nas minhas bochechas e testa uma
camada de pó, ajeitando a minha camisa enquanto eu o afasto com um
grunhido e dou a fotógrafa uma olhada. — Eu não vou até lá. Isso é
coisa de Sydney.

— Você é a coisa de Sydney. Ela está de olho em você, não é? Você


não vê isso? Leve sua bunda até lá e não me desaponte. — ela bate as
palmas, as pulseiras douradas nos seus braços estalando com o
movimento quando Vlad se aproxima e consegue passar uma escova
pelo meu cabelo. — Vai, vai, vai.

Olho para Sydney e encontro um sorriso no rosto dela,


completamente confiante em seu corpo e sua aparência, nem um pouco
incomodada pelos dois adesivos de estrela preta cobrindo seus
mamilos. Ela me faz um gesto com um dedo e antes de eu perceber, eu
estou caminhando pelo tapete branco imaculado que cobre o chão. Eu
não paro até que minhas mãos estão nos quadris dela.

Esse único toque é suficiente para inflamar. Eu me sinto como


uma banana de dinamite que está prestes a explodir.

— Você me quer aqui? — eu pergunto, minhas palavras tão baixo


e minha respiração quente e pesada. Estou praticamente ofegante. —
Porque eu não quero estragar isso para você. — eu não quero que hoje

~ 178 ~
seja algo sobre a banda ou o drama ou a música; isso é a hora dela
brilhar. Em vez de me responder, Sydney envolve seus braços em volta
do meu pescoço e me beija com força e profundamente, sua língua
deslizando em minha boca com um gemido. O som na verdade vem
da minha garganta, e antes de eu perceber, eu estou beijando-a
também, empurrando-a para trás até que ela bate na parede branca.

Minha boca se move dos lábios de Sydney para sua mandíbula,


sua garganta, sua clavícula. Eu não consigo ter o suficiente dela,
mesmo sabendo que nós estamos sendo observados, fotografados,
filmados.

— Isso te incomoda? — ela pergunta baixinho enquanto nossas


mãos vagueiam e as coisas ficam realmente atrevidas muito rápido. —
Que eles estão assistindo?

— Honestamente? Não, eu quero que eles vejam, — eu sussurro,


levantando-a e enfiando os dedos pelos seus cabelos, beijando sua boca
com uma intensidade lenta e constante, puxando um longo gemido de
sua garganta que nem mesmo o pulsar forte da música pode
esconder. — Eu quero que eles nos filmem, — eu continuo enquanto eu
movo minha boca para sua orelha e mordisco os pequenos pingentes de
diamantes lá. — Porque eu quero que todos eles saibam que você é
minha agora.

Minhas mãos se movem de volta para baixo do corpo de Sydney,


no suor do calor de sua pele até que eu volto para seus quadris. Com
um grunhido, eu a levanto e suas pernas vêm em torno da minha
barriga, me apertando quando eu beijo seu pescoço, deslizando minha
língua ao longo da extensão lisa de sua carne aquecida. Quando ela
começa a puxar a minha camisa, eu paro e passo pela minha cabeça,
jogando-a longe antes de eu voltar para a minha tarefa, moendo minha
ereção no tecido que nos separam. Apenas uma camada de jeans e
algodão, e eu poderia estar dentro dela. Mesmo em frente de todas essas
pessoas, eu não me importo.

Sydney raspa as unhas em minhas costas enquanto eu beijo sua


garganta, inclinando e afundando seus dentes em meu ombro com força
suficiente para tirar um pouco de sangue. Quando ela faz isso, ela olha
diretamente para a câmera com seus olhos muito azuis e nossa
fotógrafa amaldiçoa com excitação.

~ 179 ~
Minhas costas nua e tatuada, as pernas com os saltos de Sydney
em volta da minha cintura, seus dentes na minha carne, os olhos na
câmara. Nós temos a nossa oportunidade... e nossa capa.

Eu sigo Sydney até o camarim e abro seu roupão, levantando seu


corpo para cima e batendo-a em uma das mesas que revestem a
parede. Ou o pessoal da equipe dê o fora ou que eles assistem. Eu não
poderia me importar menos a esse ponto.

— Você é tão viciante, — eu digo, continuando a beijar o pescoço


de Sydney, seu queixo, peito, os peitos dela. Minhas mãos amassam a
carne macia, o Ceifador no meu bíceps sorrindo enquanto meus
músculos contraem com cada movimento. Eu chupo os adesivos de
estrela negra em minha boca, mordendo os pontos duros do seu mamilo
que eu posso sentir escondidos lá embaixo.

— Oh, Deus, — Sydney geme, os lábios grossos se abrem com


prazer quando eu faço o meu caminho para sua barriga, em frente à
tatuagem de um recife de corais em seu quadril, lambendo e mordendo
a exibição suculenta de carne que está pronta para mim. Pequenas
gotas de suor aparecem em toda a pele de Sydney enquanto eu trabalho
o meu caminho até a frente de sua calcinha, beijando e mordiscando o
calor úmido que está fora do meu alcance. Eu não fico lá por muito
tempo, porém, apenas o suficiente para obter esse sabor doce na minha
boca, e então eu estou em pé e tirando meu pau de minhas calças.

Eu olho Sydney diretamente no rosto, empurrando a calcinha de


lado e impulsando para dentro até as bolas, batendo sua bunda em
cima da mesa e enviando de tubos de batom e garrafas de spray de
cabelo no chão de concreto. As paredes aqui são nada além de painéis
de tecido que podem ser abertos e ajustados para a privacidade, então
eu tenho certeza que todo o armazém pode ouvir os meus grunhidos, os
gemidos de Sydney.

Eu beijo sua boca, saboreando a doçura de canela do Fireball


Whiskey. Como se pudesse ler meus pensamentos, Sydney chega por
trás de sua bunda e agarra a garrafa que eu dei a ela mais cedo. Está

~ 180 ~
meio vazio. Não que ela realmente precisasse de álcool para ter
confiança, essa bravata - mas é com certeza ajuda.

Eu a fodo com força contra a mesa enquanto ela dá goles na


bebida e, em seguida, levanta a garrafa aos meus lábios. Eu não quero
parar meus movimentos para tomar uma bebida, então whisky escorre
em toda parte, em todo os seios de Sydney, no meu peito nu.

Ela geme e inclina a cabeça para trás enquanto eu lambo o


líquido, continuando a bombear dentro dela com uma fúria animalesca
que eu não consigo controlar. Duro, mais duro, mais duro. Minhas
bolas se apertam e gozo sai do meu pau com uma agitação violenta
enquanto eu suspiro e seguro Sydney apertado, as costas pressionadas
contra o espelho. As lâmpadas expostas acima de sua cabeça pintam
tudo em uma luz dura, branca, enquanto meu orgasmo se afasta e eu
começo a ver as coisas... um pouco mais claramente.

Quando eu levanto minha cabeça, eu posso ouvir a conversa


animada de fofocas em torno de nós, como um bando de
maritacas. Twitter. Merda. Um gif disso provavelmente vai acabar
circulando no Twitter ou vai estar afixado no Snapchat de alguém ou...
pior - Tumblr.

Eu recuo e Sydney sorri para mim, bebendo outro gole de


uísque. Eu observo, completamente hipnotizado enquanto sua garganta
trabalha.

— Vamos dar o fora daqui? — ela pergunta quando eu olho para


trás, meu pau já subindo para atender a ocasião.

— Sim, por favor, — eu digo, quando eu saio de seu calor e ajudo


ela a se levantar.

Bem, se Tin Dolls precisavam de fotos para ir para a capa, com


certeza eles tem uma agora.

— Puta merda! — Turner solta enquanto subimos na limusine


com algum pequeno senso de vergonha. Jesus Cristo. Eu sou um

~ 181 ~
maldito animal. O que há de errado comigo? Olho para Sydney e
encontro sua língua deslizando ao longo de seu lábio inferior enquanto
ela solta seu cabelo rosa algodão doce.

Deixa pra lá. Esqueça. Não há nada de errado comigo. Sydney


Charell é apenas viciante.

— Vocês praticamente foderam no set e, então, cara,


podíamos ouvir tudo o que estava acontecendo lá. Você é mais um
velocista do que um corredor de maratona, não é?

— Turner, cale a boca, — diz Sydney, cruzando as pernas e


empurrando o vestido curto e preto que ela está usando. Eu mal posso
chamar isso de vestido. — Se você não gostou disso, coloque alguns
fones de ouvido e desvie o olhar. — Sydney se inclina para frente e
captura o meu rosto com brilhantes unhas cor de rosa, deslizando sua
língua entre meus lábios para um beijo longo e persistente que tem
gosto de canela e uísque.

— Na verdade, foi muito sexy, — admite ele, chamando minha


atenção sobre Naomi Knox. Os braços dela estão cruzados sobre o peito,
mas ela não parece feliz agora. Mais como incomodada. Com tesão e
incomodada, talvez? Será que Sydney e eu... a excitamos? Nah. Isso é
estúpido demais para sequer pensar. — Sério. Isso foi incrível. — ele se
estica e me dá um tapa no joelho como se fôssemos amigos ou algo
assim. — Vamos sair para comemorar, nos embebedar, porra. A vida é
uma porcaria, mas vai melhorar, certo? Temos aquele babaca ruivo do
nosso lado, Naomi acordou, Trey pode andar, nós estamos fazendo
muita grana neste reality show estúpido. — Turner levanta uma
sobrancelha em questão. — Então, o que você me diz?

— Você quer festejar? — eu pergunto, ainda suando, ainda


ofegante, ainda... ostentando uma ereção. Eu sei, eu sei, você
está chocado. — Mas Naomi... — eu começo, mas ela já está sacudindo
a cabeça, varrendo seu cabelo loiro para trás em um rabo de cavalo.

— Eu estou bem, na verdade, — diz ela, tocando a mão ao


peito. — Quero dizer que dói, às vezes, mas não mais do que um
músculo distendido. Eu preciso respirar. Eu preciso extravasar, então
se vocês quiserem, vamos fazer isso.

Turner bate as mãos, enfiando a mão no bolso de trás e jogando


um pouco de coca no chão entre nós.

~ 182 ~
— Comprei isso com o cara do banheiro, — diz ele com orgulho,
deslizando seus dedos por seu cabelo escuro. E então ele sorri para
mim. Na verdade sorri. — Vocês dois estão dentro, certo?

Sydney e eu trocamos um olhar e ela dá de ombros.

— Honestamente, pode ser bom sair por um tempo.

— Você sabe que eles vão filmar a coisa toda, — eu digo, muito
consciente das câmeras dentro da nossa limusine alugada - sem
mencionar os guarda-costas no banco da frente. Eles vão nos seguir,
também. Não há nenhuma dúvida sobre isso.

— Então? — Turner diz, ele está ficando irritado só de pensar


nisso. — Olhem isso. — ele aproxima a mão tatuada e bate contra a
janela matizada que nos separa do motorista. — Ei idiota, eu acho que
vou vomitar. Destrave esses bloqueios para crianças, venha aqui e me
deixe sair.

— Há uma lata de lixo no armário à esquerda de Naomi. Use isso,


— Brayden Ryker diz do assento do passageiro, os olhos totalmente
focados no telefone em sua mão. Turner apenas faz uma carranca e
passa sua língua ao longo de seu lábio inferior, girando seu piercing no
lábio enquanto ele balança a cabeça e, em seguida, se mexe, se virando
e enfiando a cabeça no banco da frente.

— Abra a porra da porta ou eu vou vomitar todo sobre seu


maldito colo.

Um lampejo de irritação cruza o rosto de Brayden.

— Eu juro por Cristo, — ela começa, seu sotaque duas vezes mais
forte que de costume. — Você vai acabar se matando, seu idiota. —
ainda assim, as portas traseiras desbloqueiam e no próximo semáforo,
Turner abre e pega a mão de Naomi. Ela me lança um olhar rápido,
encolhe os ombros e segue atrás dele, deslizando um par de óculos em
seu rosto quando ela vai. — Oh, inferno, — Brayden diz quando Sydney
me dá um olhar divertido e estende uma mão, pegando o saquinho de
coca do chão com a outra. Eu levo seus dedos nos meus, puxando-a
pela porta antes que alguém possa nos parar.

Em um instante, estamos de volta no mundo real, de pé em uma


calçada no meio da West Hills. Não há nenhuma multidão aqui,
nenhum paparazzi, apenas... pessoas. Pessoas normais. Oh, graças a

~ 183 ~
Deus. Não nenhum mega-bilionário idiota aqui. Eles vão matar o
mundo, você sabe, aqueles filhos da puta. A nova realeza do mundo.

Fecho os olhos e respiro a normalidade por um momento. É bom


pra caralho.

— Vamos dar o fora daqui antes que os fãs apareçam, — Turner


diz, olhando por cima do ombro para nós. Eu sigo seus olhos apertados
para Brayden Ryker e os outros dois homens saindo de um sedan azul-
verde que está andando devagar nas proximidades. Os nossos guarda-
costas da noite. E então, na hora certa, há uma equipe de câmera
deslizando para fora de uma van branca dois carros atrás.

Este vai ser uma festa de merda, eu penso quando Turner e


Naomi começam a avançar e Sydney e eu seguimos. Quando eu olho
para trás mais uma vez, o sinal ficou verde e a limo desaparece no
tráfego.

Ah, bem.

Acho que vou fazer isso.

Espero que eu não termine a noite lamentando isso.

— Eu estou farto e cansado do Slick, — Turner diz quando Noimi


afasta o braço dele sobre seus ombros e o empurra para longe. —
Vamos ir para algum bar merda e cheirar coca no banheiro.

— Você tem um jeito com as palavras, — Sydney diz


quando eu deslizo um braço sobre os ombros e ela o deixa ficar, se
aconchega até. Deus, ela cheira tão bem, eu penso quando eu inclino
minha cabeça para baixo e respiro o perfume de seus
cabelos. Selvagem. Floral. Isso é como ela cheira, tem gosto
de, sempre. — Eu ainda posso sentir seu pau dentro de mim, — ela
sussurra, se inclinando correr a língua quente ao longo de minha
orelha.

Puta. Que. Pariu.

~ 184 ~
— Bar de merda está bom para mim, — Naomi diz lentamente,
lançando um olhar selvagem por cima do ombro. Mesmo com os óculos,
eu posso dizer que ela está chateada por ter sido seguida pela equipe de
câmera. Os nossos guarda-costas - Brayden Ryker incluído - estão
longe de ser vistos. Isso está tudo bem pra mim, contanto que ele
realmente tente nos manter seguros neste momento. — Mas nós não
vamos chegar muito longe com esses babacas atrás de nós. Você tem
outro plano engenhoso, Turner?

— Calma, Knox, eu tenho tudo sob controle. — Turner desliza


sobre um par de óculos que só o fazem parecer mais suspeito e não
menos. Com as nossas tatuagens, nosso estilo e um monte de gente nos
seguindo, jamais vamos passar despercebidos. Nós não exatamente nos
misturamos, sabe? As tatuagens de ceifeiradores no meu braço, o
coração sangrando no peito de Naomi, o piercing estúpido no lábio de
Turner... eh. Seremos identificados.

— E aí? — ela pergunta, deslizando seu celular do bolso e


lançando em uma lixeira próxima. Hmm. A noite de nosso Show em
Memória de Hayden Lee, Turner e Naomi
desapareceram. Completamente. Deram sumiço nos caras de Brayden e
tudo mais. Espero que eles se lembrem de como eles fizeram essa
merda.

— Estou trabalhando nisso, — ele rosna para ela, seus olhares se


encontrando através das respectivas lentes cinza e amarelas em seus
óculos. — Você sabe que eu vou cuidar muito bem de você, babe.

— Olha, — eu sussurro de volta para Sydney quando ela revira os


olhos e troca outro olhar longo e persistente comigo. — Eu não digo
babe. Somente idiotas dizem babe.

— Concordo, — Naomi diz, se virando e caminhando para trás por


um momento para me dar um high five. A vejo encolher um pouco com
o movimento, mas ela se gira, fingindo não estar incomodada. Que
coisa. — Não me chame de babe. Ou Knox.

— Estamos de volta a esta merda de novo? — Turner pergunta,


incrédulo, pegando o ritmo. Eu não tenho nenhuma ideia de como
Sydney pode andando nesses salto altos de quinze centímetros que ela
está usando, mas eu sou um cara, então o que eu sei? — Pensei que
tínhamos passado por tudo isso?

~ 185 ~
— Depois da porcaria que você arrumou, você vai me chamar
de Naomi até eu decidir te perdoar.

— Ah, porra, — diz Turner, parando de repente no meio-fio e


abrindo a porta para um sedan preto. — Entre, — diz ele rapidamente,
balançando o queixo para o veículo. Eu odeio pensar que o idiota
acabou de pegar o carro de alguma pessoa aleatória, então eu acho que
ele deve ter um plano. De qualquer maneira, eu entro, puxando Sydney
atrás de mim então ela está quase no meu colo. Turner toma o banco da
frente e Naomi se senta no nosso lado. — Vá, rápido, — Turner diz ao
cara, baixando a sua janela e jogando o celular fora. Sydney e eu
trocamos outro olhar e depois nos revezamos em quebrar nossos
cartões SIM antes de fazermos o mesmo com nossos celulares. Nós
todos soltamos nossos microfones e enviamos para o mesmo lugar. Que
diabos? Temos dinheiro suficiente agora para conseguir novos celulares,
e o show pode conseguir mais microfones, então por que diabos não?

— Hum, quem diabos é esse? — eu pergunto, apontando para o


motorista.

— Uber, — Turner diz, empurrando um chiclete na boca e se


virando para olhar para nós por cima do ombro. Ele sorri enorme antes
de voltar e baixar a janela da frente. — Tente nos seguir agora, filhos da
puta! — ele grita para a equipe de filmagem. — Cadelas.

— Eu tenho que admitir, — eu digo, dando ao idiota algum


respeito relutante. — Essa foi uma ideia inteligente, mas tenho quase
certeza de que Brayden vai nos encontrar de qualquer maneira.

— Que diabos sabe? Melhor do que aqueles idiotas no show.

— Agora só temos de rezar para nós não morrermos enquanto


estamos fora de casa, — eu digo - e eu estou meio brincando sobre isso.

~ 186 ~
Minha pele está elétrica com a emoção de ser má, de fazer algo tão
errado. Foder Dax nos bastidores de Tin Dolls, fugir de nossa equipe de
segurança e das nossas obrigações, cheirar cocaína em um banheiro
público.

— Puta merda, — eu digo respirando fundo e tentando não me


assustar. Já tem muito tempo desde a última vez que usei alguma droga
forte assim. Mas eu não me encaixo na coisa toda de uma vez viciado,
sempre viciado. Vício é controle. Eu tenho controle sobre mim mesma
agora - não que eu jamais vou quebrar novamente, mas essa coca
é pura como o inferno. — Está tudo correndo para a minha cabeça.

Eu levanto minhas brilhantes unhas cor de rosa até minha testa e


levanto a cabeça para olhar no espelho. Meus olhos estão cercados,
sombreados com preto e prata. Os cílios enrolados, minhas
sobrancelhas arqueadas e perfeitas, uma linda barra cor-de-rosa que
combina com o meu cabelo algodão doce. Eu me sinto quente agora.
Poderosa. Animada. Sei que são as drogas, mas... olho para Dax e o
encontro encostado ao balcão, os cotovelos apoiados, os olhos escuros
focados em mim e só em mim.

Me encontro correndo a língua sobre o meu lábio inferior,


passando minhas unhas até meus braços tatuados e observando como
ele segue o movimento.

— Vocês dois nunca fazem uma pausa? — Turner pergunta


quando ele pega a nota de vinte na minha mão e puxa uma linha,
correndo os dedos tatuados em sua garganta com um suspiro. — Quero
dizer, Jesus Cristo, vocês estão tentando ter um bebê ou algo assim?

— Hah. — minha voz bufa e eu balanço minha cabeça, meus


brincos voam. — Não, não, não. — só não usamos preservativo duas
vezes. Ái. — E não agimos metido a ricos e poderosos e virginais, — eu
digo, apontando um dedo no peito musculoso de Turner e o
empurrando um passo. — Você e Naomi e não estão exatamente

~ 187 ~
pisando águas claras. Há rumores de que vocês foderam no
palco durante esse apagão em... onde vocês estavam? San Antonio?

— Austin, — Naomi corrige enquanto caminha até o balcão e


corre a nota ao longo de uma linha de pó branco. — E é verdade. Nós
fizemos.

— Puta merda, Mi, — Dax diz enquanto ele balança a cabeça e se


ergue, se movendo para mim e apoiando a cintura no balcão. Eu não
tenho nenhuma ideia de onde estamos, mas este lugar é escuro e não
está lotado, e há alguma banda de merda no palco e sei lá, cinco fãs
fazendo mosh lá fora. Lugar perfeito para ficarmos bêbados e nos
esconder por um tempo. — Puta. Que. Pariu.

— Eu tinha acabado de escapar de um fodido trailer depois de ser


drogada por... porra, eu nem me lembro quanto tempo. — Naomi passa
a mão pelo rosto, o olhar feroz como o inferno quando ela empurra seus
óculos em seu cabelo loiro. Seus olhos piscam com uma raiva que eu
mal posso entender. Fuckapalooza16. Isso me lembra de não irritar esta
cadela. — Eu não estava pensando claramente.

— Claro o suficiente para me fazer comprar uma pílula abortiva


daquele idiota, — murmura Turner, e eu tremo e coloco uma mão na
minha cara. Eu tenho que firmar os pés um pouco para tirar a sensação
ruim da minha pele.

— Sério que você acabou de dizer essa porra? — Dax pergunta,


dando a Turner um olhar como se ele fosse louco.

— É uma pílula do dia seguinte, idiota. Há uma grande diferença.


— Naomi responde, me dando um olhar, de mulher para mulher, que
diz por que estamos com seres humanos com pênis? Os seres humanos
com vaginas são muito, muito, muito, muito mais inteligentes - e strap-
ons17 foram claramente inventado por uma razão. — Mas obrigada por
me lembrar de que você tirou a minha virgindade e me deixou sozinha e
grávida uma vez. Eu gosto desse tapa duplo - ignorância e imbecilidade.

16 Um período de tempo em que duas ou mais pessoas se envolvem em relações


sexuais muitas vezes.

17

~ 188 ~
— Eu sou pró-escolha18, ok? Eu não sou ignorante. Eu respeito as
mulheres. — Turner bate a mão contra o peito, dando um passo para
frente e passando a língua perfurada sobre seus piercings no lábio. — E
eu respeito você. Eu só estava tentando dizer, você sabe, se
você quer um bebê, então eu estou disposto a tentar e tentar e tentar e
tentar.

— Você escolheu Turner a Dax? — eu faço uma piada, cruzando


os braços em um X e apontando os dedos para o peito de cada um. —
Sério? — Dax sorri para mim, mas Naomi apenas balança a cabeça.

— Estou completamente fodida.

— Ei, bem, eu aposto entre você, eu e Lola, que uma de nós vai
acabar grávida. Eu só sei disso. Você quer apostar sobre quem vai ser a
primeira?

Naomi geme e se afasta de Turner, colocando as costas contra os


azulejos pretos e deslizando para o chão.

— Não diga isso, porra, — ela murmura enquanto pega um


cigarro e o coloca entre os lábios. Ela começa a acender e então percebe
o detector de fumaça acima de nossas cabeças.

— Aqui, — eu digo, usando o assento do vaso sanitário para


subir. Eu me equilibro precariamente em meus saltos e relaxo quando
eu sento as mãos fortes de Dax circulando meus quadris. — Obrigada,
amor, — eu digo com uma piscadela enquanto eu afrouxo a tampa de
plástico branco e jogo as baterias na pia. Ei, não julgue, eu vou colocar
novamente quando terminarmos, ok?

— Obrigada, Sydney, — Naomi diz, observando como Dax me


puxa para fora do assento do vaso sanitário e eu deslizo meus braços
em volta do seu pescoço. Ele me segura ali por um momento, os bíceps
fortes envoltos em torno de mim. Por uma fração de segundo, tenho que
olhá-lo diretamente no rosto e é mágico. Ugh. Eu odeio ser desafiada
verticalmente, às vezes. — E desculpe por ser uma cadela com você
antes.

— Quando? — eu pergunto quando Dax me permite deslizar para


baixo - todo o caminho até o seu corpo gloriosamente muscular. O meu
se aquece em resposta e eu me vejo afofando meu cabelo apenas para

18Os pró-escolha, são as pessoas ou os movimentos sociais que defendem a liberdade


individual das mulheres ao poder optar entre ter ou não um filho.

~ 189 ~
manter as mãos longe de seu pau. Woo. Este menino vai ser a minha
morte. Eu bato a minha mão em Naomi. — Não se preocupe. Eu nem
me lembro de nenhuma dessa merda.

— Bem, eu sim, e eu sinto muito. Você parece uma garota legal, e


Turner parece gostar de você-

— Uh, não, não realmente, — ele zomba. Dax rosna para ele, mas
Naomi apenas finge que ele não falou. Eu acho que as coisas estão
melhores assim.

— Ele gosta e confia em você, então... — Naomi dá uma tragada


em seu cigarro e encolhe os ombros. — Tão estúpido como ele pode ser,
ele parece ter um talento especial para escolher amigos. — Naomi olha
para Turner e depois para Dax. — Então, eu tenho certeza que ele vai
estar em breve sendo mais respeito a ambos. Não há nenhuma razão
para brigas internas quando estamos em guerra. — Naomi rosna essa
última palavra como se ela estivesse no palco, apagando o cigarro na
parede cheia de grafitti e se levanta, todo roqueira-chique. Nenhum
sinal de sua lesão ou trauma que ela conseguiu no show aparece
completamente. Muito legal. — Vocês estão prontos para ficarem
bêbados?

— Pode ser algo frutado, com um guarda-chuva e um canudo? —


eu pergunto, batendo meus cílios e estendendo a mão para correr o
meu polegar ao longo da mais recente tatuagem de Naomi, que se
estende por linhas e notas que eu não entendo nem um pouco.

— Absolutamente sim, — diz ela com outro grunhido, nos


conduzindo para fora do banheiro com um aceno de seu queixo. Eu
acho que essa é a última lembrança clara que tenho naquela noite.

Minha bebida tem um canudo neon nele, então eu sei que estou
em boas mãos. Eu agito o líquido azul brilhante e sugo até engolir o
líquido tão doce que faz minha cabeça girar. Cocaína e bebida e um
assento calmo em um bar onde ninguém nos reconhece - ou melhor, os

~ 190 ~
meus três companheiros. Eu não vou começar a me achar até que a
capa saia. E então... quem diabos sabe?

Olho para Dax, deixando meus olhos nele, as cores de suas


tatuagens rodando junto da minha visão. Ambos os braços musculosos
estão cobertos de tatuagem, senão um ponto em branco na parte
traseira de seu bíceps esquerdo. Dois braços cheios de coisas mortas
que, por qualquer motivo, funciona, o que me deixam excitada como
nada mais. Quem sabia que esqueletos, fantasmas e zumbis poderiam
ser excitantes?

Quando Dax me vê olhando para ele, ele bebe todo seu copo e se
vira em seu assento, afastando meus joelhos para que ele possa inclinar
para frente e me olhar no rosto.

— Você está me encarando? — ele sussurra, sua voz baixa e


sombria, trazendo lembranças de seu corpo no interior do meu, me
forçando naquele balcão de maquiagem como ninguém. Minha pele se
arrepia e meu sangue começa a bombear até as minhas partes
femininas.

— E se eu estiver? O que você vai fazer sobre isso? — eu


pergunto, minha voz começando a soar devagar, claramente bêbada
como o inferno. Eu corro meus dedos ao longo da tattoo de Ceifador no
antebraço de Dax, ao longo dos zumbis podres, os demônios uivando e
fantasmas gritando. Faço uma pausa quando chego ao seu braço, o
local onde o algodão branco de sua camisa corta um zumbi com sangue
escorrendo pelo seu rosto pela metade. — Você vai me levar para o
banheiro e me dar uma palhinha do seu show esta tarde?

Dax rosna para mim de novo - Deus me perdoe, mas eu amo essa
merda - e então se inclina para frente, capturando minha boca em um
beijo quente e suado, suas mãos deslizando pelas minhas coxas, os
dedos fazendo o seu caminho sob a borda do meu vestido.

— Ei, — Turner diz, me tocando na parte de trás da cabeça. Nós


paramos por um momento e eu lanço um olhar falso sobre meu
ombro. Estou bêbada demais para estar realmente irritada neste
momento além do ei? Nunca é demais deixar claro se Campbell sabe o
seu lugar. — Guardem essa merda para a limo, — ele ri, bebendo uma
dose quando Naomi deixa seu cabelo loiro sair de seu rabo de
cavalo. Ela enrola o cabelo com os dedos e agarra uma garrafa no
balcão.

~ 191 ~
— Uma dose disso, — ela diz para a barwoman, uma mulher com
a cabeça raspada que olha para os peitos de Naomi. Ela não me olhou
nenhuma vez, a cadela. — Para cada um de nós. — a mulher logo
começa, ignorando seus outros clientes em favor de flertar com a minha
nova amiga. Estou quase com inveja. — Quem é o próximo? — Naomi
pergunta, apontando o queixo para o palco que está vazio na frente do
edifício. — Por favor, me diga que é algo decente.

— Sem mais shows hoje à noite, — a mulher diz com um encolher


de ombros, a tatuagem de lápide em seu ombro um pouco parecido com
os que Dax tem. Ele tem um cemitério inteiro disso, uma imagem que
eu encontro o meu polegar esfregando, acariciando com saudade. —
Muito em breve eles vão ajeitar a máquina de karaokê e as coisas vão
ficar ainda piores.

Naomi joga a cabeça para trás e ri, deslizando um olhar sobre


Turner e obtendo uma sobrancelha levantada em resposta.

— Você não está pensando seriamente em fazer karaokê? —


pergunto, soltando os braços de Dax, relutantemente, girando no meu
lugar, de modo que ele tem de me agarrar pela cintura. Eu não posso
tirar as mãos das minhas coxas agora. Não. Não vai acontecer, não se
eu quiser manter a sanidade. — Você não acha que suas vozes podem
revelar suas identidades secretas? — pergunto quando a barwoman
finalmente se afasta.

— Vamos fazer esta merda, — Naomi diz, tomando a dose em uma


fração de segundo, gesticulando sobre os copos na nossa frente. —
Bebam e se preparem. Nós estamos indo para o palco.

— Você está brincando comigo? — Dax ri atrás de mim, sua


respiração contra a minha orelha, me fazendo tremer. — Eu não vou
cantar esta noite. Você pode me embebedar, você pode me deixar
doidão, mas você não vai me fazer fazer papel de bobo no palco.

— Porra, sim eu vou, — Naomi diz, acenando para a mulher para


trazer mais doses - e uma folha de inscrição. — Eu sou a maldita chefe
da banda, — diz ela, tomando outra dose e, em seguida, apontando
para o peito. — Eu levei um tiro. Então, sim, se eu disser que
cantaremos, cantaremos caramba.

— Nada de Katy Perry, porém, — Turner diz, franzindo o nariz. —


Eu prefiro comer o meu próprio vômito do que cantar uma música da
Katy Perry.

~ 192 ~
— Eu vou fazer isso, — eu digo, me inclinando sobre Turner e
arrancando a folha de inscrição de Naomi antes que ela acidentalmente
assine seu nome verdadeiro. — Eu vou escolher a música.

— Ei, ei, — Turner diz, levantando as mãos como se estivesse em


um tiroteio do velho oeste. — Por que você gosta dessa merda de
qualquer maneira? Você é louca ou algo assim?

— Eu nasci com o rock no meu sangue, — eu digo, rabiscando


alguns nomes falsos. Eu chamo Turner de Jack Off Dickhole. Me
pergunto se a barwoman vai acreditar nisso? — Mas isso foi lentamente
e irrevogavelmente sendo levado de mim pelos cinco idiotas que
enchiam o trailer com suas merdas barulhentas.

— Sim, bem, esse barulho vale o que, milhões de dólares. —


Turner se levanta e tropeça um pouco antes de passar os dedos pelo
cabelo escuro e se mover para jogar o braço em volta dos ombros de
Dax. — Seu irmão e seu namorado fazem uma das melhores músicas
que este maldito país - não, este mundo - já viu, e você quer cantar
canções pop de cem anos atrás?

— Por que você continua a me tocar? — Dax pergunta, parecendo


exasperado, mas agradavelmente tonto. Ainda bem, porque eu estou
começando a ter dificuldade para lembrar de como pronunciar meu
sobrenome. Eu pisco algumas vezes para limpar a minha cabeça e
depois tomo outra dose.

— Porque nós somos Manos agora, — diz Turner, uma cerveja em


uma mão quando ele dá um tapa no peito de Dax. — E eu não odeio
você, tanto quanto eu odiava antes.

— Pare de tocar, — Dax diz, pegando o braço de Turner de seu


ombro e soltando. — Eu aprecio o sentimento, mas talvez seja melhor
você manter suas mãos para si mesmo? — Turner apenas ri e examina
as mesas principalmente vazias atrás de nós. Está ficando mais escuro
do lado de fora, então algumas pessoas ainda estão chegando, mas não
é assim tão tarde ainda.

— Aqui está uma dose especial para você, por conta da casa. Eu
chamo essa de pink pussy, — a barwoman diz, dando a Naomi outra
bebida - e uma piscadela de flerte.

— Uau, Turner, parece que você tem concorrência, — eu digo,


esticando meus braços sobre minha cabeça e sentindo um pouco de

~ 193 ~
energia elétrica em minha espinha que diz que eu estou fodida. — Você
quer duelar pela mão da sua senhora ou algo assim?

— Eu nem sequer dou a mínima, — diz ele, se virando para mim e


andando para trás até que ele chega ao velho jukebox perto dos
banheiros. — Porque eu conheço uma alma gêmea quando vejo
uma. Knox e eu somos isso. — ele torce os dedos e, em seguida, abaixa
a mão, trocando a música. Quando ‗Every Little Thing She Does is
Magic por The Police começa, eu estou chocada. — Para que você entre
na dança, — diz ele, quando ele se vira para trás e, em seguida, estende
a mão para Naomi.

— Eu vou me arrepender disso mais tarde, não é? — diz ela, mas


ela se levanta com um sorriso e coloca as mãos na dele, deixando-o
levá-la para a mistura de mesas vazias para dançar. Quando viro para
dar a Dax um olhar, ele já está sorrindo. Seus olhos escuros me olham
da cabeça aos pés antes dele girar meu banco, de modo que estamos
encarando um ao outro.

— Você é a melhor coisa que já me aconteceu, — diz ele, e eu


levanto uma sobrancelha.

— Por favor, você está bêbado. E drogado.

— E daí? — ele diz e depois me desliza para fora do banco, me


arrastando para a nossa festa de dança não oficial. — Isso não significa
que o que estou dizendo não é verdade, — ele sussurra em meu ouvido
quando eu giro em um círculo e viro para descansar contra seu
peito. Na parte de trás da minha mente, eu sei quão temporário tudo
isso é, quão terrível a nossa situação realmente é. Mas agora? Eu não
dou a mínima.

Dax gira em torno de mim novamente e, em seguida, me


mergulha para baixo, como ele fez naquela noite no hotel quando ele me
beijou como um príncipe à moda antiga. Ele não me beija desta vez,
mas o efeito que o seu toque tem no meu corpo é, bem, como mágica19.

Quando ele me puxa de volta para ele, eu fico na ponta dos pés e
o beijo duro e rápido, sentindo essa cintilação em minha barriga que
diz borboletas. Frase cliché, totalmente. De que outra forma você
poderia descrever essa sensação? Há essa vibração, essa cócegas, essa
torção nauseante, o coração correndo, o fôlego perdido, o estômago
torcendo que lhe diz que você está fazendo algo certo por uma vez.

19 Ela faz referência à música.

~ 194 ~
Eu quero me apaixonar.

Dax disse que me ama, mas eu nunca disse que volta.

Eu mordo meu lábio inferior porque nós giramos em círculo e


esbarramos em Turner e Naomi. Estamos todos muito bêbados para nos
preocupar neste ponto, então por que eu deveria dar a mínima para
isso?

— Eu te amo, Dax, — eu digo e é a mais estranha coisa


desconfortável que eu já disse na minha vida. Eu sinto meu rosto corar
e isso é estranho como o inferno também. Eu não coro. Sydney Charell
não cora. Eu realmente sou a Sydney Louca perto desse cara, não sou?

— Eu também te amo, Dax, — Turner diz enquanto gira, tornando


sua voz a coisa mais insinuante e irritante que eu já ouvi na minha
vida. Eu bato com força no seu peito enquanto ele se afasta, mas é
difícil me concentrar em qualquer coisa além do olhar no rosto de
Dax. Ele olha para mim, os respingos de sangue tatuado em seu braço
esquerdo me segurando firmemente, a tatuagem de esqueleto perto de
seu cotovelo rindo histericamente com as minhas palavras.

— Deus, me deixa tão feliz ouvir você dizer isso, — ele sussurra,
soltando minha cintura e capturando meu rosto em suas mãos. Quando
ele se inclina e me beija, o mundo gira e o tempo avança, pára, começa
novamente. Dax desliza sua língua contra a minha, me prova devagar,
como se isso fosse algo que temos feito desde sempre. Quando ele
recua, nós olhamos um para o outro por um longo, longo momento e,
em seguida, começamos a dançar, balançando devagar e sensualmente
em algum bar decadente com o chão cheio de chiclete e um glory hole20
no banheiro.

Ambos levamos vários minutos para perceber que a música


acabou.

Amor realmente é melhor droga do mundo, não é? Esse


sentimento... é como nada mais.

20
Troquem a pizza por um pênis. Kkkkk

~ 195 ~
Quando nós quatro saímos para fumar um cigarro, Brayden
Ryker está esperando por nós, encostado na parede de tijolos do edifício
com seus braços musculosos cruzados sobre o peito e uma carranca
profunda gravada em seu rosto.

— Você realmente é proficiente em seu trabalho quando você


escolhe ser, né? — eu digo acendendo um cigarro e vejo meu reflexo na
janela exterior do bar. A janela cereja faz minha pele virar uma cor
laranja-rosa suave, refletindo de volta todos esses estranhos
sentimentos pegajosos que estão rodando dentro de mim. Deus, eu
preciso mandar mensagens a alguns das minhas amigas strippers e
deixá-las me fazer descer deste pedestal. Algo que parece tão bom, tão
certo, não pode acabar bem, pode?

— Malditos idiotas, — Brayden diz, os olhos fechados contra a


noite, o mar de pessoas fluindo pela calçada em ambos os lados de
nós. Está movimentado pra cacete aqui e a noite está agradável, o ar
tem cheiro de laranjais, praias e... poluição. Sim, qual é, LA costumava
ser bonita, mas agora? Não muito. Ainda assim, eu gosto da vibe, a
multidão perto de nós. — Vocês parecem querer morrer.

— Talvez se você explicasse as coisas um pouco melhor, seríamos


capazes de agir mais corretamente, — Dax diz com um sorriso de
escárnio, acendendo um cigarro enquanto ele encara o rosto fechado de
Brayden. — Você contou a Sydney esta história triste sobre uma filha,
mas nunca se deu ao trabalho de lhe dizer por que você foi alvejado por
esses psicopatas em primeiro lugar.

Eu dou uma agradável e longa tragada e vejo como o homem abre


seus olhos verdes pálidos e olha para frente, do outro lado da rua e
para o espaço. Ele definitivamente tem muito na cabeça agora. Está
tudo bem pra mim. Neste momento, está ficando difícil andar direito,
então eu não tenho muito espaço para falar. Quantas doses eu
tomei? Eu acho que eu tentei contar os pequenos copos que foram se
amontoando em nossa mesa. A barwoman realmente quer entrar em
calças de Naomi, então ela continua mandando. Dose após dose.

~ 196 ~
— Se dissesse vocês não iriam acreditar em mim, — Brayden diz
enquanto ele balança a cabeça e nos observa sem a menor quantidade
de desprezo. Quem quer que seja, da onde quer que ele é, esta não é a
sua cena, e ele não parece gostar da gente mais do que gostamos dele.

— Experimente, — eu digo, soprando fumaça de prata em sua


direção.

— Foda-se esse cara, — diz Turner, parando na frente de Brayden


e olhando-o de cima abaixo, como se ele não estivesse
impressionado. — Não desperdice o seu tempo, Sydney. Ele é apenas
outro cara cheios de músculos sendo pago. — Brayden se aproxima
como se ele fosse bater em Turner, mas em vez disso apenas enrola os
dedos nos bolsos e oferece um novo telefone.

— Me liguem quando vocês terminarem aqui. Enquanto isso, vou


fazer de tudo para que vocês não sejam mortos.

— Você fez um grande trabalho, no show, não é? — Naomi


pergunta, sua voz suave, baixa e perigosa. — Você deixou a irmã de
Lola morrer. — uma pausa, uma nuvem de fumaça sai de seus lábios
de deusa da estrela do rock. — Não, você a matou.

— Ela ia porra atirar em você, — Brayden grita, levantando os


braços como se ele já tivesse tido o suficiente. — Pelo amor de Deus, o
que você quer que eu faça? Era você ou ela, e eu sabia de que lado você
estava, senhorita Knox. Você tinha acabado de me provar o que eu
precisava saber.

— Você está em problemas por proteger a mulher que matou a


irmã de Paulette? — eu pergunto, tentando agrupar as peças do
quebra-cabeça. Não é fácil, no estado em que estou, mas eu tento ver
todas as formas de consciência como se eu tivesse algo a oferecer. Com
minhas inibições quase nulas, talvez eu possa pensar em alguma coisa
agora que eu não teria antes? — Quero dizer, eu entendo que você não
está no lado da família, mas se não está, pelo menos, deveria fingir que
você está ajudando Paulette? Como manter Naomi viva ajuda nessa
tarefa?

Brayden suspira e passa a mão pelo rosto. Ele parece


cansado. Realmente, realmente muito cansado.

— Aqui está o que eu sei, — Naomi diz, largando o cigarro no


chão e esmagando-o com suas fabulosas botas pretas. — America me

~ 197 ~
disse que aquele dinheiro não pode comprar você. Entendo que é uma
referência cruel para a sua filha ou algo assim, uma ameaça. Mas ela
também disse que ela tinha que pleitear seu caso com você e esperar
que você tivesse piedade dela. Que porra é que isso significa?

— Ela me pegou emprestado da irmã dela, — Brayden diz com


sua mandíbula apertada, como se fôssemos todos idiotas que acabaram
de perder o ônibus. — Ela teve que convencer Paulette que ela precisava
de mim e da minha equipe mais do os Washingtons. Não pense demais
nas coisas que ela disse. Ela não valia nada.

— Então porque Naomi ainda está viva? — eu pergunto, me


inclinando para o peito de Dax, desfrutando da sensação de seu braço
correndo em volta da minha cintura. — Se Paulette é o topo da
pirâmide, então você já não deveria ter acabado com ela?

— Quase fiz, — Brayden diz, se afastando do rosto carrancudo de


Turner e acendendo um cigarro. — Fizemos ela ficar em coma induzido
quimicamente, não é?

— Seu filho da puta! — Turner gritou, se lançando em


Brayden. Mas Dax age em uma fração de segundo, a perda de seu calor
fazendo meu corpo se sentir de repente gelado quando ele agarra Turner
pelos ombros e o empurra para a parede do bar. — É por isso que os
médicos fingiram que não sabiam de nada. Seu idiota. No segundo que
eu tiver uma chance, eu vou rasgar suas bolas e fazer você comer.

— Coloque sua raiva em outros lugares, Sr. Campbell. Seria


muito pior se você me tivesse como um amigo. Eu trabalho para
terceiros, poderosos terceiros que podem fazer isso tudo ir embora - os
Washingtons, os Hammergrens, os Harding – e a ameaça que eles
representam. Só continue dançar conforme a música e me deixe lidar
com isso.

~ 198 ~
— Esse idiota filho da puta bastardo, — Turner diz, seus dentes
apertando o cigarro, quatro linhas de coca como montes de neve encima
do balcão de aço inoxidável na frente dele. — Eu sabia que algo
suspeito estava acontecendo naquele hospital, — ele sussurra quando
cospe seu cigarro na pia e utiliza um nota de vinte para cheirar as duas
linhas rapidamente, deixando cair a cabeça para trás com um suspiro.

— Você está bem, Mi? — pergunto para Naomi porque, por mais
chateado que Turner possa estar sobre as revelações de Brayden, ela foi
a que mais sofreu. Pus a mão no ombro de Naomi, mas ela já está
sacudindo a cabeça para mim.

— Eu estou bem, — ela me diz quando Sydney puxa um tubo de


batom e um lápis de olhos de seu vestido. Eu levanto uma sobrancelha,
mas eu não pergunto. Seus seios não são apenas fenomenais - eles são
enormes. Ela tem muito espaço para guardar coisas lá. — Sério. Eu não
quero falar sobre isso. Eu não quero nem pensar nisso. — Naomi força
um sorriso e verifica a hora no novo telefone celular. — Está quase na
hora do nosso show de karaokê, e eu não vou perder essa merda.

— Batom, — diz Sydney, se inclinando em seu vestido bandage


preto, o tecido é apertado e pegajoso, enfatizando exatamente onde eu
desejo que minhas mãos estivessem agora. Ela traça os lábios de Naomi
com a cor vermelho brilhante de seu batom, batom que está atualmente
em cima de mim todo. Meu pescoço, minhas bochechas, meus
lábios. Eu deslizo a mão sobre minha boca e volta vermelha.

— Parecendo a Branca de Neve, — Turner diz, me sacudindo da


ereção - sim, eu tenho outra. Tanto faz. Eu estreito meus olhos para o
idiota quando ele passa a nota de cem em sua mão. Sim. Passamos de
cheirar com uma nota de vinte... para uma de cem. Acho que somos
estrelas do rock de verdade agora. — A menos que você esteja mais
preocupado com o seu anão, — acrescenta ele com um bufo.

— Você acha que isso te faz inteligente? — eu pergunto quando


eu vou até o balcão. Uma respiração rápida, um flash de cor no meu

~ 199 ~
cérebro, e estou a meio caminho de ser um super-herói. Merda. O cara
no banheiro do Tin Dolls, ele vendeu coisa boa. — Eu vi suas fotos no
Instagram. Eu acho que o meu pau é maior que o seu.

— Você quer tirar e comparar? — pergunta ele, já a meio caminho


de abrir seus jeans.

— Meninos, meninos, meninos, — Sydney diz, deslizando entre


nós enquanto os alto-falantes suspensos crepitam e uma canção vem
golpeando para fora... com a voz de Hayden. Ugh. De novo não. —
Mantenham isso nas calças até depois de sairmos do bar, ok? — ela
coloca a mão em ambos os nossos peitos quando paramos, olhamos
para cima, e ouvimos letras assombrosas de Naomi entrando no
banheiro.

— Esqueça. Esqueça-me para sempre. Eu te destruí muitas vezes.

— E isso não é nada estranho, — Sydney diz, me dando um olhar


preocupado enquanto pego sua mão na minha. Naomi e Blair gritam,
rasgando através do meu crânio e me fazendo cerrar os
dentes. Blair. Merda.

— Sangrando, quebrada, enterrada. Rasgada e tremendo, leve-me


em seus braços, mas sei que essa vai ser a última vez. A última. A
última. A última vez, PORRA!

— Deus, — Naomi geme, se levantando e franzindo os lábios


vermelho cereja no espelho sujo. — Eu sinto que tenho um fantasma
me seguindo por aí. Eles nunca vão parar de por para tocar isso
agora. Quero dizer, é o que eu sempre pensei que eu queria... mas o
preço? Muito alto.

— Alto pra caralho, — eu concordo, pegando a bola oito com a


coca do bolso de trás de Turner e colocando no balcão.

— Whoa, tá ficando um pouco pegajoso, hein? — pergunta ele,


mas ele não me impede enquanto eu alinho algumas linhas e cheiro
como... bem, como crack21. Um crack muito bom, muito caro. Não posso
dizer que estou decepcionado quando a música muda para alguma
porcaria estúpida de hip-hop.

— Foda-se. Esta. Merda, — Naomi canta junto com as letras, se


inclinando e beijando o espelho sujo com a boca. Quando ela estende

21 Pelo jeito crack também se cheira. Não sabia! Haha!

~ 200 ~
uma mão, Sydney parece saber exatamente o que é que ela quer e passa
o seu batom. — Eu estou aqui para comemorar, — ela sussurra quando
ela começa a dançar com a música, assinando seu nome no nosso
reflexo no espelho. Quando ela se vira e oferece sua mão, eu olho para
Sydney, mas ela já está sorrindo para mim. Ela sabe. Naomi não tem
chance comigo - a única mulher que eu poderia ter mil ereções em um
único dia é ela. Romântico, certo?

Eu deixo Naomi pegar minha mão, seu corpo se mexendo no


ritmo, dançando no espaço confinado enquanto Sydney e Turner
cheiram no balcão, passando uma cerveja que nós roubamos do bar no
nosso caminho para dentro.

Cigarros são acesos, os parceiros são trocados. Eu acho que até


mesmo acabei de dançar com... Turner Fodido Campbell.

Quão nojento é isso?

— Ok, ok, ok, — Sydney diz no microfone, claramente bêbada. Eu


aperto a bunda dela de um jeito que acho que ninguém vê, mas...
provavelmente não de acordo com os risos a partir das mesas
abaixo. Estou muito fodido para realmente me importar. — Nós somos...
nós nos chamamos Hard Rock Roots, — Sydney continua com uma
risada enquanto Naomi paira em cima dela no microfone. — Esse é o
nome do nossos grupo e nós estamos aqui para o rock!

Turner e as meninas torcem, levantando as cervejas quando a


sala irrompe em aplausos. Nós devemos ter escolhido o lugar certo aqui,
porque não só é a noite de karaokê, é a noite de karaokê dos anos
oitenta. A multidão é mais velha e se alguém está nos reconhecendo,
eles estão sendo educados e nos deixando em paz.

— Nós vamos cantar Sweet Dreams, — Sydney continua quando


Naomi se aproxima.

— Are Made of This, — acrescenta ela, fazendo parênteses com


sua mão livre. — Sweet Dreams (Are Made of This).

~ 201 ~
— Sim, dos Eurythmics, — Sydney continua quando trocamos
outro olhar e ela corre a língua sobre o lábio inferior. Esse batom que
ela está usando... tem cheiro de Floral da Califórnia22. Eu nem sei como
descrever isso. É floral, é fresco, me lembra da praia e da costa. Eu já
posso sentir o gosto na minha boca.

Quando Naomi desliza seu braço em torno de Sydney, ela se


inclina e elas acabam praticamente se beijando ao microfone. Eu quero
dizer que me incomoda, mas...

— Uau, isso é meio sexy, — Turner diz do meu lado, se inclinando


para dar uma olhada melhor. — Droga. Quando você olha para Sydney
sem essa coisa de quase-irmã, ela não é ruim.

— Sério? — eu sussurro enquanto a multidão começa a gritar e


nossa música escolhida filtra através dos alto-falantes. — Você acabou
de dizer isso no microfone. — movo meu olhar e encontro Sydney e
Naomi rindo histericamente, ainda pairando uma sobre a outra.

Então Naomi começa a bater os pés naquelas botas pretas e você


pode apostar que ela agarra que o microfone e começa a cantar a letra
junto com a infame Annie Lennox. Sydney não a deixa sozinha com a
multidão, cantando sobre viajar o mundo e os sete mares em uma voz
que é tão ruim que chega a ser bonita

Eu pego o microfone, me lançando sobre as meninas com Turner


no reboque.

Na frase seguinte, ele está envolvendo sua mão ao redor da minha


e nós dois estamos cantando como idiotas. Só que esse é realmente um
som bom, e eu sou ruim.

A multidão realmente começa a se aproximar, Naomi agita seu


cabelo loiro e o ritmo eletrônico da música assume. Eu acho que eu vejo
algumas pessoas filmando com seus telefones, mas eu sinto que estou
em pé no convés de um navio, tudo inclinando ao meu redor e
eu realmente não me importo.

— SWEET DREAMS! — Naomi grita em sua voz de roqueira


demoníaca, fazendo Turner rir enquanto ele desliza entre as meninas e
coloca um braço em torno de ambas suas cinturas. Eu não quero ser

22 É essa flor:

~ 202 ~
deixado de fora, então eu me forço até lá, todas as nossas bocas perto
do mesmo microfone. Estou suado como o inferno e pressionado e
apertado ao corpo cheio de curvas de Sydney, minha mão esquerda
deslizando encima das ondas azuis e verdes de suas tatuagens.

— ARE MADE OF THIS!! — Turner acrescenta em seu próprio


rugido único. Nesse ponto, Sydney e eu começamos a gritar as letras,
gritando em vozes não tão belas que se misturam com as dos nossos
amigos, cantando acima da máquina de karaokê e alto-falantes.

Depois disso... acho que damos o fora do bar, porque a última


lembrança que tenho lá é de Turner ligando para Brayden Ryker e
mandando-o deixar o fodido carro pronto.

~ 203 ~
A atmosfera na limusine está crepitando.

Todos nós quatro estamos suando, e drogados e bêbados. É tão


bom, eu penso quando inclino e lambo o lábio inferior de Dax, sinto sua
mão deslizar para cima do meu lado, os dedos amassando minha
carne. Quando eu olho para cima, vejo Turner puxando Naomi em seu
colo. No rádio, a mesma canção do dia das fotos ‗Live for Today‘ por
Escape the Fate começa a tocar. Só que desta vez, é um remix.

Eu sinto o meu pulso saltar com a música, o coração batendo


contra minhas costelas quando deslizo no colo de Dax, sentindo sua
ereção através do tecido da calça jeans. Eu coloco minhas mãos em
ambos os lados de seu rosto e o beijo duro e rápido. Nossas línguas se
enrolam em um mar de suor e saliva enquanto eu moo o meu corpo
contra o dele, os seios apertados em seu peito. Atrás de mim, eu posso
ouvir Naomi gemendo, uma sensação de alívio em sua voz, como se ela
achasse que este dia nunca chegaria, como se ela fosse morrer naquele
hospital. Quando eu me afasto de Dax e olho para os dois, eu vejo que
eles já estão um passo à nossa frente. Turner está puxando sua camisa
e em vez de começar a zoar como eu normalmente faria, eu meio que
estou... excitada. A música é alta, e as drogas estão batendo, e meu
corpo está pressionado contra Dax. Turner tem um bom corpo e Naomi
tem um bom corpo, e vê-los moer um sobre o outro assim é... sexy.

— Eu estou tão excitada agora, — digo a Dax quando eu me viro


para ele e vejo a mesma expressão em seu rosto. Eu empurro meu peito
mais duro no seu, beijando o lado de seu rosto, seu pescoço, e depois
descendo para ajudá-lo a tirar a camisa. Quando eu a lanço para o
chão, eu vejo Naomi se mover bem próximo a ela. Quando ela faz uma
pausa e olha para mim, trocamos um longo olhar que me torce
seriamente por dentro. Eu disse que eu era hétero? Eu quis dizer, sei lá,
noventa e cinco por cento ou algo assim. Esta garota é gostosa demais.

Eu me afasto de Dax por um momento, dando a ele um olhar


demorado que ele retorna, seus olhos escuros, não tão azuis mais. Eles

~ 204 ~
são cinza como um céu na tempestade, como um tornado pronto para
descer e rasgar tudo.

Com a música bombeando em meu sangue, eu me arrasto no


chão da limusine quando Naomi se vira e desce, levando meu queixo
com os dedos compridos. Quando ela puxa a minha boca na dela, eu
deixo ela tomar o controle, deixando essa deusa do rock me levar. Sua
língua empurra entre meus lábios, fazendo minha espinha ondular com
emoção. Quero dizer, não é como se eu nunca tivesse beijado uma
garota antes. Eu ficava bêbada, saia com meus amigos. Quem nunca fez
isso? Mas isso é muito melhor.

Naomi e eu nos beijamos pelo que parece ser para sempre, e


quando eu recuo, vejo que Turner já tem seu pau na mão. Naomi segue
o meu olhar e levanta as sobrancelhas, dando de ombros e
voltando. Suas mãos deslizam sobre meus quadris e me puxam para
perto. Nosso beijo se aprofunda e eu não posso evitar gemer em sua
boca, encorajando-a com o som para ir um pouco mais longe. Ela
amassa meus seios através do vestido quando o carro desliza pelas ruas
de Los Angeles com o teto solar aberto e o ameno ar da Califórnia
preenchendo o espaço apertado.

Quando Naomi recua o suficiente para eu respirar, ela está


sorrindo.

— Porra, eu estou seriamente destruída agora, — diz ela, mas isso


não a impede de correr sua língua ao longo do meu lábio inferior. Eu
deslizo minha mão até sua cintura nua, sentindo o suor e as ataduras
do seu machucado. Ela parece não dar a mínima, recuando somente
quando Turner coloca a mão em seu braço, incentivando-a a dar
atenção ao seu pau.

Eu olho por cima do ombro, em seguida, varro um pouco de


cabelo rosa para doce longe de meus lábios úmidos quando eu olho Dax
diretamente no rosto. Ele está ofegante, sua mão escorregando em seus
abs até a borda da sua calça jeans. Eu vejo como ele lentamente -
lentamente - desabotoa. Quando eu rastejo de volta para ele, eu enfio a
mão no bolso e tiro seus óculos, empurrando-os em seu rosto antes de
eu me sentar de joelhos e começar a descascar o melhor que posso no
espaço apertado.

A música que está tocando é praticamente perfeita, mas eu não


tenho um monte de espaço para trabalhar, então eu tenho certeza de
que meus movimentos são grandes e óbvios. Meu vestido bandage preto

~ 205 ~
desliza para baixo dos meus ombros primeiro, em seguida, sobre meus
braços, meus seios, se enrolando em volta da minha cintura enquanto
eu estico uma perna e depois a outra. Eu sinto que estou no palco
agora, fazendo um show para o carro inteiro. Eu não me incomodo de
olhar por cima do ombro; sei que eles estão observando.

Quando o vestido passa pelas minhas pernas, me deixando em


nada além de um sutiã e calcinha, eu me sento de novo, deslizando
uma alça no meu ombro e depois a outra. Eu tento fazer devagar, mas
com o pulso da música e o pulsar do álcool no meu sangue, eu não
tenho ideia de quanto tempo eu estou sentada lá.

Quando Dax solta seu pau, meus lábios abrem com um pop e
minha respiração fica mais pesada, mais profunda, mais rouca. Eu toco
meus seios, correndo meus dedos pelo meu cabelo, e então eu
arremesso o sutiã para fora e bato no peito dele com a peça frágil de
tecido rendado. Como de costume, eu deixo a minha calcinha para o
último, rastejando de volta para Dax e ficando de joelhos, antes de eu
começar a empurrá-las para baixo, passando-as meus quadris e pelas
minhas pernas. Elas agarram em um dos meus sapatos, mas eu não me
importo. Eu as deixo lá quando espalho minhas pernas e sento no colo
de Dax, deixando apenas espaço suficiente para ele brincar com ele
mesmo.

Quando nos beijamos, eu sei que tenho o gosto de Naomi na


minha boca, mas eu não sinto ciúmes. Ele a superou, eu sei disso, e
com sua declaração de amor, senti algo em suas palavras. Mas também
sei que, talvez, ele esteja apenas um pouco curioso. Tudo bem. Ele
pode saboreá-la em minha boca.

Eu olho por cima do meu ombro novamente e encontro Naomi


observando, esperando, seu corpo nu perfeito contra os assentos de
couro escuros da limusine. As tatuagens de Turner estão brilhando,
molhadas de suor, como ele puxa os quadris dela em suas mãos e me
dá um sorriso sensual, pressionando um beijo no pescoço de
Naomi. Ela engasga e, em seguida, ainda olhando diretamente para nós,
se senta sobre o pau de Turner.

Eu espero mais um momento antes de voltar para Dax, olhá-


lo diretamente no rosto, e fazer o mesmo. O calor quente e grosso dele
entre as minhas pernas me faz jogar a cabeça para trás em êxtase, me
dando uma vista de Naomi montando Turner. Eu os observo por alguns

~ 206 ~
segundos, apreciando a cor das mãos tatuadas dele rastejando pelas
costas dela, pegando seu traseiro e segurando firme.

Quando Dax pressiona uma mordida suave pena minha clavícula,


eu inclino para frente e olho para ele, revirando os quadris com a
música enquanto eu o monto. Minhas mãos estão espalhadas naquela
barriga perfeita, arrastando até o peito e ao longo de seus peitorais,
encontrando suas tatuagens. Suas mãos vão até a minha bunda e
apertam bem forte, me incentivando a me mover mais rápido e mais
rápido. Na parte de trás da minha mente, eu percebo que ninguém neste
carro está usando um preservativo, mas que se foda, certo? Sexo,
drogas e rock 'n' roll está no menu hoje à noite.

Eu me inclino e beijo Dax novamente, traçando as arestas de sua


língua, seus dentes. Quando eu sinto mãos nas minhas costas,
deslizando pela minha espinha, eu não paro. Os lábios de Naomi estão
em um ombro, Turner no outro. Puta merda. Eu me sinto como uma
deusa naquele momento, alguma antiga divindade feminina do excesso
e sexo.

Eu deixo eles me tocarem, recuando por um momento e


observando como os olhos de Dax ficam me encarando. Pode haver
duas outras pessoas ao nosso redor, mas a única pessoa que ele está
olhando agora sou eu. Mas por apenas uma fração de segundo, porque
vemos Naomi se inclinar para cima e pressionar um beijo contra sua
boca. É o suficiente para me deixar com ciúmes, para deixar Turner
com ciúme, mas esse tipo de emoção é sexy pra caralho no
momento. Gosto da maneira como a emoção viaja através de mim,
enrola meus dedos sobre os ombros de Dax e incentiva o meu corpo a
empurrar com mais força, atraí-lo mais fundo.

Quando Turner puxa Naomi para o banco ao lado de nós e eles


começam a foder de novo, eu jogo a cabeça para trás e deixo que o
prazer correr sobre a minha pele como borboletas. Dax goza antes de
mim, seus músculos tensos quando o orgasmo sai de seu corpo,
forçando-o a me puxar para seu peito enquanto suas mãos apertam a
minha bunda.

Eu não paro de me mover, os piercings em seu pau batendo em


todos os lugares certos, enquanto eu esfrego meu clitóris contra sua
pélvis. Quando o meu próprio clímax vem, é duro, quase tão duro como
a bala que esmaga através do assento à minha direita.

~ 207 ~
Porque, é claro, nenhuma noite de festa seria completa sem
alguém tentando atirar em nós.

— SE ABAIXEM! — a voz de Brayden Ryker ecoa nos confins


apertados da limo quando nós quatro caímos no chão, o zumbido do
teto solar se fechando o único som que podemos ouvir além da minha
respiração ofegante.

— Porra, — Dax rosna, me aconchegando bem perto de seu


corpo. Com nós quatro na maior parte nus, cobertos de suor e saliva e...
você sabe, outras coisas, me sinto dez vezes mais vulnerável do que o
habitual. — Isto é sangue? — Dax levanta a mão para cima e abre os
dedos, pânico queima naquelas íris cinza quando ele se abaixa e esfrega
o polegar sobre meu braço.

— Pare com isso, — eu assobio, empurrando-o para trás e


olhando para a ferida. A bala apenas mal passou raspando, deixando
para trás uma longa faixa vermelha que queima. Puta. Que. Pariu. Eu
acabei de escapar por pouco com a minha vida. Minha vida. — Eu estou
bem, — eu digo, quando Dax me espreme, pressionando um beijo ao
meu cabelo, respirando um milhão de maldições contra a minha pele.

Um segundo tiro quebra o vidro do teto solar, chovendo cacos na


nossa pele nua.

— Filho da puta! — Naomi grita, se sentando e rastejando para a


janela que nos separa de Brayden. — Nós estamos no meio da maldita
cidade! Quem diabos está atirando em nós?! — ela agarra sua camisa
do chão e empurra pela cabeça enquanto Turner se ajusta, colocando
seu pau praticamente no meu rosto. Certamente não está duro mais.

Eu bato na bunda dele.

— Mova esse fodido pau da minha cara, — eu digo e me esforço


para sentar. Dax me mantém pressionada para baixo, nos levando para
longe do vidro quebrado e para o bar de um lado da limusine. Quando
ele se senta, ele me puxa junto com ele.

~ 208 ~
— Deitem-se e se abaixem o máximo possível, — Brayden olha
para Naomi, fazendo uma carranca quando ela ouve suas instruções.

— Vamos lá, baby, — Turner diz, puxando-a para mim e Dax, se


aconchegando perto. Minha pele arde como um milhão de cortes,
sangue deslizando pelo meu braço em linhas quentes. As drogas, o
álcool, sim... eles estão desaparecendo rapidamente. Eu pisco algumas
vezes, limpando minha visão.

— Duvido que era alguma gangue aleatória, — murmura Naomi,


passando as mãos pelo seu rosto enquanto ela olha para mim. —
Merda, você está bem?

— Sim, — eu digo quando Turner puxa meu braço em seu colo e


olha para a ferida.

— Jesus Cristo, — ele murmura enquanto eu puxo meu braço e


inclino para Dax. — Que maldito pesadelo. Não conseguimos uma
pausa? Apenas uma?

— Eu nunca tinha sido baleada no meio do sexo, — eu brinco,


mas ninguém ri. Tudo bem. Não esperava que eles rissem, apenas
tentando aliviar o clima. Eu fico olhando para o carpete cinza, os
fragmentos de vidro preto espalhados pelo chão aos meus pés. Olhando
para cima, vejo que o teto solar ainda está quase inteiramente intacto,
quebrado com certeza, mas não em tantas partes como eu teria
esperado. Vidro a prova de balas? Deve ser.

— Só fiquem no chão e não fodam, — Brayden grita enquanto ele


fala com alguém com seu fone de ouvido sofisticado e dá instruções ao
motorista. Eu levanto meu pescoço um pouco e posso ver que a janela
do lado do motorista do carro também está quebrada, mas ainda inteira
como o nosso teto solar. Uau. Apenas uau. — Nós estamos indo de volta
para casa agora, — diz ele, olhando por cima do ombro e dando aos
quatro idiotas nus (eu incluída) uma olhada. — Talvez da próxima vez
vocês vão pensar duas vezes antes de sair? — pergunta ele, mas
ninguém lhe responde.

Dax faz uma carranca; Turner bufa; Naomi amaldiçoa em voz


baixa.

Eu olho para o teto solar quebrado, fingindo que eu posso ver as


estrelas acima - e contá-las.

~ 209 ~
Na hora que chegamos em Beverly Hills, estamos todos vestidos
questionavelmente e instáveis em nossos pés, abrindo a porta da
limusine para encontrar Ronnie andando através do pátio com raiva. As
luzes brancas piscando nas árvores e palmeiras não fazem nada
para que isso pareça menos assustador.

— Que porra você estava pensando? — pergunta ele, parando bem


na minha cara, agarrando eu e Turner por nossos braços. — Vocês não
podem simplesmente desaparecer assim. Se vocês querem ser
irresponsáveis, pelo menos me deem a decência e o respeito de uma
visita de cortesia.

— Whoa, ok pai, — diz Turner, se inclinando para longe de seu


amigo, mas não se preocupa em puxar seu braço. Eu acho que, no
fundo, ele sabe que Ronnie poderia chutar sua bunda em uma briga. —
Não sabia que tínhamos um fodido toque de recolher.

Abro a boca para responder quando eu percebo que ele está


apenas chateado sobre nós termos fugido, que ele não sabe sobre o
mais novo tiroteio. Uh-oh. O segundo que seus olhos castanhos veem o
sangue no meu braço e as janelas quebradas no carro, eu o vejo somar
dois mais dois.

— Ei, — Dax diz, descansando a mão sobre Ronnie com um olhar


de advertência. — Eu acho que está tudo certo, ok?

Ronnie solta Turner e eu como se tivesse sido queimado, dando


um passo para trás e se virando. Seus dedos correm através de seu
cabelo escuro enquanto ele dá várias respirações profundas. Ele perdeu
Travis e sobreviveu, Asuka e sobreviveu. Eu realmente não quero fazê-lo
passar por essa porcaria de novo morrendo. Nuh uh. Não,
obrigada. Esses garotos estúpidos - incluindo o meu lindo e sombrio
Dax McCann - são a única família que me resta. Eu enrolo meus dedos
nos seus, olhando para cima para encontrar seus olhos cinza
perfurando os meus. Eu não posso ler sua expressão, mas tudo
bem. Essa noite está ficando... estranho. Realmente, realmente
estranha.

~ 210 ~
— O que- — Ronnie começa quando ele gira para olhar para nós,
mas Turner já está se afastando.

— Mais tarde, — ele diz, enquanto olha para Naomi. Ela está
olhando para longe, em direção à parede que reveste o limite da
propriedade, por cima dele. De onde estamos parados, temos uma boa
vista do bairro. Luzes brancas brilham como estrelas, desaparecendo
nas estrias vermelhas e alaranjadas de carros na cidade. — Vamos falar
sobre isso mais tarde.

— Você... — Ronnie começa e, em seguida, faz uma pausa,


levantando as mãos em sinal de rendição. — Deixa pra lá. Vá descansar
um pouco, você provavelmente precisa disso. — ele olha nossas
aparências despenteadas com uma sobrancelha levantada e um vibrar
dos lábios dele que diz que ele suspeita de que vai ouvir uma história
interessante mais tarde.

Eu cruzo meus braços em meus seios e vejo Naomi puxar o olhar


do horizonte, dando a mim e a Dax um olhar longo e demorado. Eu não
tenho certeza se é sobre o sexo ou o tiro ou o que, mas eu devolvo,
fazendo o meu melhor para sorrir quando eu estendo a mão e dou ao
seu ombro um aperto.

— Você está bem? — pergunto, mas ela só levanta uma


sobrancelha loira para mim e endireita sua blusa torta, a tatuagem Real
Ugly na sua barriga lisa suada pelo calor da noite aparecendo.

— Você é a única que levou um tiro neste momento, — diz ela


com um pequeno sorriso, observando Brayden Ryker aparecer, nos
dando um olhar que poderia matar, balançando a cabeça em
desapontamento. Eu observo suas costas enquanto ele vai até o portão
e fala com o cara lá, ambos girando e examinando a multidão do lado de
fora. — Eu acho que um banho quente e algo para comer vai nos fazer
bem, — acrescenta ela com um suspiro, passando os dedos pelo cabelo.

— Sim, então vamos ir, — diz Turner, descendo para pegar a mão
dela e dando a Dax e a mim um olhar quando ele passa. Nós
observamos eles saírem, e depois olhamos para Ronnie.

— Alguém atirou na gente através do teto solar, — eu digo,


fazendo uma arma falsa com meus dedos, tremendo como eu me lembro
da bala atingindo o assento de couro à esquerda de Dax. Todas essas
piadas sobre atiradores que temos feito ultimamente não parecem mais
tão engraçadas. — Eu levei um no braço, mais ou menos. — eu encolho
os ombros e deixo meu amigo olhar sobre a ferida por um momento,

~ 211 ~
seus olhos se estreitando antes dele recuar e acender um cigarro. —
Eles dispararam um par mais tiros, mas acho que Brayden está
realmente tentando fazer o seu trabalho agora. A limusine tinha vidro à
prova de balas.

— Jesus, e eu pensei que as coisas estavam loucas aqui, —


Ronnie diz com um pequeno sorriso, olhando para cima e olhando as
nossas expressões chocadas. — Quando ouvimos que vocês tinham
despistado a segurança, — ele começa e depois balança a cabeça
novamente. — Depois do show, eu só... por favor, não faça isso de novo.

Eu sinto calor atingir meu rosto e troco um olhar com Dax. Ele
parece um pouco envergonhado também. Mas mesmo que o dia
terminou com literalmente um estrondo, o resto não foi ruim. De modo
nenhum. Eu aperto a mão de Dax um pouco mais apertado.

— Eu não posso acreditar no que acabou de acontecer, — Dax


diz, levantando a camisa amarrotada com a outra mão e enxugando o
suor e batom manchando seu rosto. Há um vidro em seu cabelo que
brilha às luzes colocadas nas árvores, fazendo-o parecer um fodido anjo
por um minuto. — Quero dizer, não que isso não aconteceu antes, mas
eu acho que as pessoas tentando matar você nunca te faz ficar menos
chocado.

— Sydney! — Trey grita da porta da frente, tropeçando ao descer


os degraus sem sua cadeira de rodas. Ele tem uma única muleta
debaixo do braço, mas ele parece muito capaz. Eu solto a mão de Dax e
vou encontrá-lo antes que ele caia de cara no chão e quebre o nariz,
deixando que ele me abrace apertado com o braço livre. Ele cheira a
Doritos e cigarros, mas principalmente como casa, família. Caramba,
essa bala realmente me assustou pra caralho, não é? Aqui estou eu
ficando toda sentimental. Eu me respiro fundo para me acalmar. — O
que aconteceu lá fora?

Eu olho por cima do ombro para Dax, mas eu não sei exatamente
o que dizer, então eu faço piada. Piada é sempre bom, certo?

— Turner, Naomi, Dax, e eu fizemos uma orgia na parte de trás


da limusine, — eu digo, me inclinando para dar a Treyjan um beijo na
bochecha. — E então nós fomos alvejados. — eu sorrio brilhantemente,
acenando para Dax se juntar a mim e subindo os degraus para a casa.

O que precisamos agora é de um copo de vinho, um bom filme, e


minha cabeça apoiada no peito de Dax.

~ 212 ~
Eu não vou deixar me admitir que eu tenho medo. Nem um
pouco.

A Sydney Louca não tem medo de nada.

Faço uma pausa na entrada para encontrar Paulette Washington


olhando para mim com um sorriso no rosto.

Ok, eu não tenho medo da maioria das coisas. Mas essa


garota? Não tenho certeza sobre ela.

~ 213 ~
— Eu não posso acreditar que quase fodemos Naomi e... Turner,
— eu digo, encostado no batente da porta do banheiro observando
Sydney escovar os dentes. É uma coisa tão normal, todos os dias isso
começa a se apagar em mim. E, quando eu faço isso, eu sinto que estou
começando a conhecer Sydney através das pequenas coisas, a maneira
como ela coloca um temporizador para três minutos e escova
religiosamente até que acaba ou na forma como faz bochechos por dois
segundos antes de cuspir na pia.

— Quase significa o quê? — Sydney pergunta, inclinando e


enxaguando a boca com a água fria da pia, lançando seu cabelo rosa
pálido para trás enquanto ela se levanta e me dá uma olhada. —
Significa... que você não tem ideia de como as coisas teriam ido se não
tivéssemos sido baleados?

— Eu... — eu começo, mas eu realmente não estou certo de como


responder a essa pergunta. Sydney sorri maliciosamente e se aproxima,
deslizando as mãos ao longo da parte de trás do meu pescoço,
queimando uma trilha ao longo da minha pele com a ponta dos
dedos. Quando ela olha para mim, eu esqueço tudo sobre a noite
passada. Eu nem ligo para o que aconteceu. Tudo o que importa é
Sydney Charell.

Eu me inclino e capturo sua boca em um beijo, um que faz suas


mãos se moverem, vagando pelos meus braços, traçando ao longo do
cós da minha calça de pijama. Em um segundo, eu a tenho em cima do
balcão, as pernas em volta da minha cintura, meu pau deslizando para
minha mão.

Eu empurro sem preâmbulos, inclinando e beijando ao longo de


sua clavícula, apreciando a forma como ela deixa a cabeça cair para
trás. A sensação quente e úmida de seu corpo em torno do meu é tão
bom que eu ignoro uma batida na nossa porta.

— Que se fodam, — eu sussurro, capturando seu rosto em


minhas mãos, a beijo novamente, me movendo lentamente e

~ 214 ~
propositadamente até que seus gemidos são uma música, até que ela
está tremendo nos meus braços e eu estou enchendo-a de uma forma
que eu nunca tinha feito com outra mulher.

Alguém continua batendo.

— Que diabos? — eu estalo quando Sydney e eu separamos e ela


endireita a camisa de dormir grande que ela está usando, vai até a
porta e abre. Sua bunda aparece debaixo da blusa quando ela se inclina
para frente. Eu mantenho meus olhos sobre ela e me recuso a olhar
para a minha camiseta branca com sangue de ontem. Não há nenhum
sentido em pensar sobre o que poderia ter acontecido a Sydney, comigo,
com Naomi ou Turner. Quantos de nós realmente vão sobreviver a isso?

Eu enrolo minhas mãos em punhos ao meu lado e forço os


pensamentos mais sombrios para fora da minha mente.

— Sim? — Sydney pergunta quando eu paro por trás dela e uso o


espaço na porta para olhar para Brayden Ryker. — Posso ajudar com
alguma coisa? — o homem nos dá um longo olhar persistente que diz
que talvez ele lamenta nos envolver em seus planos, como se talvez ele
devesse ter apenas nos deixado morrer. Esse olhar me dá arrepios.

— Paulette precisa de todo mundo lá embaixo, no jardim da


frente. Agora. Vão, rápido.

Sydney escancara a porta enquanto ele se afasta sem uma


explicação, as botas batendo nos pisos e azulejos.

— Ei! — ela grita enquanto Lola aparece a partir do quarto do


outro lado do corredor, um cigarro pendurado para fora da boca e um
vestido laranja caído sobre os ombros. Tem um gato cor de rosa,
sorrindo na frente dele, e é seriamente uma das coisas mais estranhas
que eu já vi na minha vida. — Você não vai nos dizer do que se trata,
imbecil?

— Alguma coisa ruim como de costume, — Lola diz com um rolar


de olhos. — Não é possível imaginar que seja algo de bom. — ela nos
observa em nossos pijamas amarrotados e sorri. — Certamente não é
tão bom quanto o que estava acontecendo naquela limo de vocês na
noite passada.

— Ah, é? — Sydney pergunta, se lançando para frente e puxando


a blusa para cima e rindo da expressão de choque no rosto de Lola. —
Você não queria estar lá?

~ 215 ~
— Isso é um maldito coração? — ela pergunta, o cigarro cai de
seus lábios entreabertos para o chão. Lola se afasta com seu distorcido
salto alto rosa quando Sydney agarra meu pulso e me arrasta de volta
para o quarto. — Oi! — Lola grita enquanto a porta bate e Sydney me
empurra contra ela.

Minhas mãos desceram para descansar em seus quadris


enquanto nossos olhos se encontram e eu inclino para um beijo.

— Você quer continuar com o coito-interrompido por Brayden


Ryker derrubando a porta? — ela pergunta com um sorriso diabólico, se
afastando e se curvando o suficiente para que tudo esteja em
exibição. Eu tenho que cerrar os dentes para não agarrá-la ela
novamente.

— Devemos nos vestir? — pergunto enquanto Sydney coloca um


par de calcinhas limpas e um sutiã. Ela ainda cheira as axilas. Isso é
normal? As mulheres fazem isso? — Porque, para ser honesto, eu não
me importo se as câmeras me filmem sem camisa e todo
desgrenhado. Danem-se eles. Se eles querem me filmar me lastimando
em pijamas sujos, que assim seja. Eu não vou me arrumar para aquela
cadela - especialmente depois da noite que tivemos.

— Eu não sobre você, — Sydney diz enquanto se levanta e fecha


as pernas, cruzando os braços sob seus seios cheios. — Mas
eu tenho que tomar um banho rápido e me lavar, se você sabe o que
quero dizer. — ela me dá um grande sorriso. — Você sabe, o sêmem e
tudo.

— Obrigado, — eu digo, com uma pequena risada. — Porque eu


não consegui entender a vaga referência antes.

Com uma piscadela, Sydney se afasta em direção ao banheiro e,


em seguida, faz uma pausa, tocando a crosta sangrenta em seu braço.

— Com a minha ferida e tudo, eu poderia precisar de alguma


ajuda no banho.

Ela se vira e se dirige para o chuveiro... e eu a sigo.

Eu assumo que Paulette quer que todos desçam até lá para falar
merda sobre as nossas travessuras na noite passada, falar sobre o
tiroteio ou o que quer que seja. Eu duvido que eu teria sido capaz de
fazer o que fiz nesse banheiro com Sydney se eu soubesse o quão pior
tudo iria ficar.

~ 216 ~
Tipo muito, muito pior.

Nós estivemos em pé no jardim da frente esperando por Turner


Campbell por sei lá, vinte malditos minutos.

— Eu estou tendo um caso muito ruim de déjà vu, — digo a


Sydney e seus lábios ondulam em um pequeno sorriso. Ela ainda está
vestindo a camiseta suja, sem sapatos, e ela parece não dar a mínima
que há uma equipe de filmagem a dois metros dela, dando zoom em
meu rosto enquanto eu falo. Tanto faz. Deixe-os olhar.

Eu faço uma carranca e ajusto a manga do meu moletom. Eu


decidi não usar uma camisa aqui em baixo. Talvez eu lamente quando
eu vir esse episódio? Quem sabe?

— Quem diabos esse cara pensa que é? — Kash diz, ao lado de


Wren, fumando um cigarro. — É melhor ele não estar em um de suas
infames viagens de Denny. — uma pausa enquanto eu suspiro e rezo
para que não seja verdade. Qualquer coisa que vir da parte de Turner só
vai ficar mais estranho por causa do que aconteceu na limusine na
noite passada. Ugh. O que diabos eu estava pensando? Deve ser
insanidade temporária devido à cocaína e overdose de álcool. Única
explicação.

— Deus, eu estou com uma ressaca de merda, — eu digo,


correndo minha mão pelo meu rosto e tentando não deixar que os raios
dourados e quentes do sol me irritem. Depois de uma noite de festa, a
última coisa que alguém quer ver é uma esfera gigante brilhando em
seu rosto.

— É verdade? — Wren pergunta, suas roupas duas vezes mais


largas e amarrotadas que as minhas. O que ele sabe da noite passada?

— O que é verdade? — pergunto, olhando para ele, os piercings


pretos entre as sobrancelhas. Ele está me dando uma expressão que diz
que eu deveria saber exatamente o que é que ele está falando. Vejo o

~ 217 ~
guitarrista da Indecency, Jesse, se aproximando para escutar. Isso não
pode ser bom.

— Você fodeu Turner Campbell na noite passada? — Kash


pergunta à beira de uma risadinha, fazendo Sydney começar a rir. Eu
gemo novamente e coloco minha cabeça em minha mão.

— Nós levamos um tiro na noite passada. Nós quase morremos e


você quer saber sobre algo tão estúpido como isso? — Kash levanta
ambas as sobrancelhas loiras e solta uma gargalhada que me faz querer
estrangulá-lo. — Claro que eu não transei com Turner, — eu estalo,
cruzando os braços sobre o peito nu e dando a eles um olhar mortal.

— Fomos interrompidos, — Sydney faz piada, acotovelando aquele


garoto, Josh, com o braço quando ele tenta fingir que não estava
escutando. — Quem sabe o que poderia ter acontecido.

— Estou feliz que você esteja bem, — diz ele sem jeito, tentando
se encaixar em algum lugar neste grupo desorganizado de idiotas. Eu
me sinto mal pela criança, realmente, eu sinto, mas ele não tem dezoito
anos ou algo assim? Turner continua dizendo que ele tem doze, então
eu não tenho ideia.

— Obrigada, fofo, — Sydney diz, estendendo a mão para apertar


suas bochechas com as unhas cor de rosa. Eu sorrio um pouco, a
expressão transformando rapidamente em uma carranca quando Naomi
Knox aparece na porta da frente, óculos sobre os olhos e as mesmas
roupas da noite passada drapeada em seu corpo.

— Onde está seu namorado? — eu pergunto a ela e ela se


encolhe, um cigarro na boca, uma carranca no rosto.

— Por favor, não chame ele assim, — diz ela, parando ao meu
lado e tomando uma respiração profunda. — Ele é... você sabe... ele é -
— e então ela simplesmente pára de falar e continua a fumar,
observando o grupo de pessoas que está ao nosso redor. Jesse, Treyjan,
Ronnie, Lola, Josh, Kash, Wren, Milo Terrabotti, Brayden Ryker. A
quadrilha está toda aqui. Exceto Blair Ashton. Eu fecho meus olhos e
chupo uma respiração dura. Eu estava pensando em ir ao hospital mais
tarde hoje, mas minha cabeça está girando e minha ressaca é digna de
toda uma garrafa de ibuprofeno, um prato de ovos fritos, e uma pilha de
panquecas.

E outra rodada com Sydney.

~ 218 ~
Olho para ela e descubro que ela já está olhando para mim,
inclinada no meu braço, meu toque, como uma flor se voltando para o
sol. Eu nunca imaginei que eu poderia ser isso para alguém, nunca. É...
eu ainda estou me acostumando com isso, mas depois de ontem à
noite? As coisas poderiam ter sido muito diferentes. Em vez de um
susto, eu poderia ter estado escolhendo um caixão com Trey.

— TURNER! — Trey grita, se virando e olhando para o lado da


mansão onde ele é capaz de ver o seu amigo através de uma janela. —
Está quente pra caralho aqui! Se apresse!

— Eu estou, está bem? — Turner diz, esfregando os olhos e


aparecendo na porta. — Jesus. Você não tem que gritar assim,
porra. Eu estou com uma ressaca do caralho, e tudo que eu quero é
dormir. Que diabos é tudo isso, afinal?

— Se você estivesse aqui trinta minutos atrás, você já saberia, —


Paulette diz, seus cabelos castanhos soltos, seu terno passado, o sorriso
largo. Ela se parece com um político. Nojento... mas não tão nojento
quanto Turner quando ele se inclina nos arbustos e
vomita. Fantástico. Paulette... ela nunca deixa de sorrir.

— Seu noivo é tão fofo, — Sydney diz quando Naomi gemi e coloca
a cabeça na mão. No alto, o sol castiga enquanto Paulette pega seu
celular e faz uma chamada rápida. Eu observo enquanto ela está
discando que Milo, empresário da Indecency, está se remexendo. Ele
parece um cara que sabe que ele está prestes a ser fodido. Por que, eu
não tenho certeza. Mas eu tenho medo de descobrir.

— Eu tenho uma surpresa que eu acho que vocês vão gostar, —


Paulette diz enquanto ela para na calçada de tijolos, emoldurada por
plantas tropicais caras e azuis. — Eu estive trabalhando nos detalhes
ao longo das últimas semanas, tentando acertar tudo. — ela estende a
mão para apontar para Trey. — Mas com o progresso de Trey
impressionante na fisioterapia, — uma pausa, — e minha descoberta do
talento incrível de Lola no piano, eu acho que nós podemos fazer este
trabalho.

— Fazer que trabalho? — Sydney pergunta lentamente, dando um


passo para frente, vários centímetros mais baixa que Paulette, mas dez
vezes mais resistente na aparência - mesmo em pijamas sujos. Eu
sorrio. Um pouco. — Que porra você está falando?

~ 219 ~
Paulette não responde, apenas sorri e se afasta, voltando a olhar
para a porta que leva para a propriedade, para Brayden Ryker enquanto
ele abre...

Há um desfile de ônibus para além de um monte de gente e


escoltas policiais. Preto e prata, preto e vermelho, brilhando no sol
escaldante da Califórnia, eles andam suavemente pela calçada e fazem
uma pausa na nossa frente, se elevando acima com vidros escuros e
pintura impecável. Não há riscos, nem danos do furacão, apenas...
isso. Relíquias. Nosso passado recente emoldurado consideravelmente
em metal, borracha e vidro.

Eu sinto o sangue fugir do meu rosto.

— Nós estamos indo em turnê, — Paulette diz, sua voz fazendo


meus braços se arrepiarem enquanto eu olho para os ônibus e deixo as
memórias de Hayden, do furacão, de Blair sendo disparadas através de
mim. As câmeras se movimentam sobre nossos rostos chocados e
silenciosos, pegando tudo para mostrar ao mundo, dando zoom nas
sobrancelhas erguidas de Sydney e a perfeição rosa de seus lábios
separados.

A última vez que saímos em turnê, pessoas se


machucaram. Pessoas morreram.

Abro a boca para protestar, mas Paulette me para com uma mão
levantada, acenando para o pessoal do programa de TV até que as
câmeras descem e eles param de filmar por um momento, obedecendo a
sua senhora ‗toda poderosa‘.

Eu quase vomito; Turner decide deixar tudo sair nos arbustos


novamente.

— Uma última turnê, — Paulette continua, como se ela estivesse


tentando nos convencer. Eu não sei por que. Da última vez, ela só
ameaçou nossas vidas e isso pareceu funcionar bem, não é? Suas
palavras soam no meu crânio, ricocheteando através da substância
gosmenta que meu cérebro se tornou. Já derreteu, cara.

Uma última turnê.

Isso não é pouco ameaçador.

— Só mais uma turnê e vamos terminar por aqui, eu


prometo. Sem tiroteios, sem intrigas, só... música. Toquem para mim, e
eu vou deixa-los ir. Quer dizer, ou, como vocês testemunharam na noite

~ 220 ~
passada, vocês podem continuar a viver suas vidas até que... não. O
que aconteceu antes sempre pode acontecer novamente.

Meu olhos encaram o rosto de Paulette, à perfeição fria dele, como


uma pintura que nunca foi feita para deixar o estúdio do
artista. É muito perfeito, um estudo em forma e cor, mas não há
nenhuma emoção lá. Nenhum coração.

— O que você está insinuando? — pergunto, odiando a forma


como a minha voz quebra e meus olhos voltam para Brayden Ryker. Ele
está de pé ao lado do último ônibus, parcialmente envolto em sombras,
uma carranca em seu rosto que não tem nada a ver com a turnê e tudo
a ver com a noite passada. — Na noite passada, o tiroteio... — eu paro,
porque não importa, não realmente. Ou os Hammergrens mandaram
alguém atirar em nós ou... os Washingtons.

— Uma última turnê, — Paulette repete, — e chega. Está tudo


acabado.

— De alguma forma, — Sydney diz quando Naomi anda até o


ônibus e coloca sua testa contra ele. — Eu não acredito em você.

— Que outra escolha vocês têm? — Paulette pergunta enquanto


ela sorri com orgulho nos nossos rostos chocados, a forma como as
mãos de Ronnie apertam em punhos ao seu lado, a maneira que eu
olho feio para ela e cerro os dentes. — Hard Rock Roots, — sussurra
Paulette, se virando e correndo os dedos sobre a superfície brilhante de
um farol. — Chamamos assim depois do show. Vai ser sucesso como
vocês nunca viram. — as palavras são agradáveis, mas eu não imagino
que elas sejam realmente para nós. Eu sinto que ela está falando com o
fantasma de America ou algo assim, e é assustador pra caralho.

— Nós estamos indo em turnê de novo? — Turner pergunta, como


se ele não tivesse ouvido uma única palavra da conversa. — Agora?

Tudo faz sentido, o sorriso que Paulette deu a Lola quando ela a
viu tocando piano. Ela vai substituir Blair com Lola. Ela está deixando
Blair aqui para morrer.

— Quero vomitar, — eu digo. Sydney se abaixa e pega a minha


mão na dela, trocando um olhar comigo que realmente me faz desejar
me afogar naqueles olhos doces líquidos dela. Gostaria de engolir um
galão inteiro deles e deixá-los me arrastarem para longe disso. Blair

~ 221 ~
pagou o preço, mas quantos mais têm que pagar? Eu gosto de Lola e
tudo, mas ela não é Blair.

Não está certo; não é justo; está tudo bem fodido.

Mas Paulette está certa... a noite passada foi um aviso. Que


escolha temos?

Eu respiro fundo e puxo o corpo de Sydney para perto, o calor


dela, o aroma floral que empregando em seu cabelo, as únicas coisas
que têm alguma chance de empurrar o frio em meu coração para trás.

No meio do metal reluzente e o choque e o cheiro de vômito, todos


nós nos preparamos para o confronto final.

~ 222 ~

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