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, folha de rosto
resumo
sumário
●1
introdução
O QUE É OPRESSÃO?
RESUMO Trata-se de elaborar um conceito de opressão mediante
engajamento crítico com a filosofia de Paulo Freire e explorar quatro
aspectos da opressão: I) hierarquização social; II) injustiça epistêmica; III)
injustiça estética; IV) sujeição a um poder arbitrário.
Embora seja de uso corrente na filosofia política, é raro que o termo
“opressão” receba uma definição conceitual precisa pelos filósofos e
filósofas que o empregam (YOUNG, 1990, p. 40). Seguindo o exemplo de
pesquisadores contemporâneos que têm buscado suprir semelhante
lacuna, este capítulo propõe um conceito de opressão mediante
engajamento crítico com a filosofia política de Paulo Freire.1 Por conceito,
entenda-se qualquer descrição capaz de exprimir uma característica
comum a diferentes fenômenos. A descrição “móvel formado por uma
tábua horizontalmente assentada em um ou mais pés” oferece um
conceito para o termo “mesa” porque, para além da variedade de formas
e cores das diferentes mesas existentes, nos permite agrupá-las todas sob
um mesmo nome. O conceito de opressão que aqui se propõe destaca a
desumanização como traço definidor de todo prática opressora. Não
obstante suas mais variadas manifestações, os atos opressivos têm em
comum o fato de desumanizarem a pessoa contra a qual se voltam. Não é
à toa, portanto, que Freire (2017, p. 40) inicie a Pedagogia do oprimido
apontando a “desumanização” como problema central na atualidade. Um
mundo opressivo é um mundo onde as pessoas têm sua humanidade
roubada por meio da perda da liberdade. É nesse sentido que devemos ler
a afirmação de que a luta contra a opressão provoca “o surgimento do
homem novo – não mais opressor, não mais oprimido, mas homem
libertando-se” (Ibid., p. 60). Os homens e mulheres que lutam e superam a
opressão tornam-se pessoas novas porque, pela primeira vez, conseguem
ser plenamente humanos. A pergunta que se coloca, então, é a de saber o
que é ser humano. Freire responde a indagação, no capítulo um, ao
afirmar que a liberdade é “condição indispensável” para a formação de
todo ser humano (Ibid., p. 46). Estabeleçamos, pois, que a liberdade –
compreendida no sentido positivo em que Freire a concebe como prática
coletiva mediante a qual os indivíduos desenvolvem suas potencialidades
– é um dos traços distintivos do ser humano. Se assim fizermos, somos
levados a uma definição mais ampla para o termo “opressão”: a opressão
compreende todo ato que desumaniza as pessoas, na medida em que as
destitui de liberdade. Posto de maneira inversa, a liberdade requer
ausência de opressão. Para esclarecer em que consiste o conceito de
opressão, examinaremos alguns de seus aspectos que Freire abordou. São
eles: I) hierarquização social; II) injustiça epistêmica; III)injustiça estética;
IV) sujeição a um poder arbitrário. Optamos por restringir nossa análise a
estes quatro aspectos não apenas por conta da limitação
1. OPRESSÃO COMO HIERARQUIZAÇÃO SOCIAL A opressão pode se
dar sob vários eixos: raça, gênero, sexualidade, origem geográfica,
classe social, religião etc. Por mais distintos que sejam, comum a
todos os eixos de opressão é a hierarquização das pessoas. Toda
prática opressora fundamenta-se em uma hierarquia social que
postula “o mito da inferioridade ‘ontológica’ destes [i.e., dos
oprimidos] e o da superioridade daqueles [i.e., dos opressores]”
(FREIRE, 2017, p. 189). Para deixar o opressor confortável em seu
papel de dominador e docilizar os oprimidos com vistas a garantir
que eles não resistam à opressão, cria-se o mito de que há um
defeito inscrito no próprio ser dos oprimidos que justifica sua
dominação pelos “superiores” (os opressores), tidos como
detentores de qualidades que são ausentes nos “inferiores” (os
oprimidos). A hierarquização realça o caráter político das práticas
opressoras. A opressão é um conceito eminentemente político, no
sentido em que invoca e mobiliza identidades coletivas (“nós” vs.
“eles”) que se constituem em mútua oposição. Essa característica
da opressão reflete-se em nosso uso corrente do termo: quando um
homem agride outro porque este pisou em seu pé, não dizemos que
ele o oprimiu. Nesse caso, o mais comum é dizermos que o homem
agrediu ou violentou o outro, não que o oprimiu. Agressões de
caráter puramente idiossincrático, que não remetem a identidades
coletivas rivais, não constituem atos de opressão. Opressão é
sempre opressão entre grupos. Por conta de seu caráter
eminentemente político, a opressão comporta uma dimensão
simbólica que é ausente em agressões que não mobilizam
identidades coletivas rivais. Toda opressão impõe e reforça uma
certa imagem do sujeito oprimido que o inferioriza perante o
opressor, imagem esta que se reporta a modos coletivos de se
imaginar os diferentes grupos sociais existentes. O marido que
agride a esposa porque considera sua vontade de contrariá-lo uma
insolência para com sua posição de homem da casa é um exemplo
claro de agressão que se qualifica como opressão, pois mobiliza e
reforça um padrão de hierarquização social que inferioriza um
grupo de cidadãos ao mesmo tempo em que superioriza outro. A
hierarquização é um elemento central da opressão. Enquanto
processo de diferenciação social que classifica os cidadãos em
“inferiores” e “superiores”, a 84 hierarquização compreende: I) a
postulação de diferenças entre oprimido (inferior) e opressor
(superior); II) a valorização dessas diferenças em proveito do
opressor; III) a absolutização dessas diferenças como atributos
imutáveis que justificam a posição subalterna dos grupos oprimidos
perante os opressores
Impactos
Os que sofreram opressão não vão saber de onde vem o mal-estar que
sentem, quantas percepções, crenças – também sobre si e outros
– perderam com agressões físicas e emocionais oriundas de um sistema
opressivo.
Lares opressores
Hábitos opressores
Sociedade violenta
conclusão