3 - Éfeso - Perda Do Primeiro Amor
3 - Éfeso - Perda Do Primeiro Amor
3 - Éfeso - Perda Do Primeiro Amor
Mesmo passado tanto tempo em que o livro do apocalipse fora escrito, a mensagem de
Jesus as 7 igrejas da Ásia menor continua viva, elas ainda falam em nossos dias, as
admoestações do Senhor a sua Igreja que estavam espalhadas por estas cidades, ainda
permanecem atuais dada as devidas proporções.
Problemas como a falta de amor, a religiosidade em detrimento a verdadeira espiritualidade,
o sincretismo, a falta de vigilância, são situações recorrentes em nossas comunidades atuais.
Nesse texto vamos refletir um pouco sobre a primeira correspondência de Jesus direcionada
às 7 igrejas, os sete primeiros versículos de Apocalipse 2, que é basicamente a carta a igreja de
Éfeso, vamos tentar entender o que significa “abandonar o primeiro amor” e outras questões
importantes.
CONTEXTO HISTÓRICO
Éfeso era a cidade mais importante da Ásia, e nela estava à igreja mais importante da
província e também a cidade continha o principal porto de toda Ásia Menor.
Éfeso era um centro cultural e religioso, nesta cidade estava localizado o templo da deusa
Diana, ou a “Diana dos efésios”, cultuada pelos gregos como “Ártemis” e Diana pelos romanos.
Inclusive o templo dedicado a esta divindade era tido como uma das maravilhas do mundo antigo.
O templo de Diana era 3 vezes maior que o panteão de Atenas.
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Segundo Ladd, “Éfeso era o centro de todas as práticas supersticiosas e era conhecida no mundo
todo por suas artes mágicas”. É digno de nota que a estátua de Diana foi esculpida de um
meteorito que caiu do céu. Eles achavam que estas pedras tinham poderes mágicos, algumas
pessoas colecionavam estes artefatos dizendo que eles tinham poderes sobrenaturais.
Possivelmente a Igreja foi fundada por Priscila e Áqüila, dois cristãos de destaque, juntamente com
Paulo eles tinham vindo de Corínto conforme (At 18.18) estes permanecerem ali depois de Paulo
viajar a Antioquia.
Depois de algum tempo Paulo voltou a cidade de Éfeso e então está se tornou um centro
evangelístico para as demais províncias da Ásia. Inclusive esta era uma estratégia missionaria de
Paulo, pregar nas grandes cidades pois os camponeses e moradores de vilarejos distantes vinham
até a cidades grandes para negociar e comprar, e não o contrário, por isso pregar nestas cidades,
era a forma mais eficaz de disseminar o Evangelho, pois tudo ali desembocava, tudo ali era
tratado, logo estes moradores de regiões distantes pequenos vilarejos, voltavam para suas
cidades, levando a mensagem do Evangelho em suas bagagens.
É interessante notar que a carta ela está sendo direcionada ao responsável pela Igreja (anjo), pode
ser um ancião, pastor, bispo ou ainda um presbítero. João diz que estas são as palavras daquele
que tem as 7 estrelas nas mãos, conforme Apocalipse 1.20 na visão de João as sete estrelas são
sete anjos das sete igrejas. Ou seja, ele segura firmemente em sua mão direita os responsáveis
pelas igrejas, ele tem o controle. Ele anda entre os sete candelabros de ouro, conforme Ap 1.20 os
candelabros são as igrejas, ou seja, Jesus anda no meio dela, supervisiona, sabe o que está
acontecendo, tudo está nu e patente aos seus olhos.
Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar
homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles
eram impostores.
Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido.
Conheço as tuas obras, ou eu sei o que vocês tem feito, esta frase que é corriqueira em todas as
outras cartas denota ou deixa claro a onisciência de Deus, ou seja, independente daquilo que eles
estavam fazendo, ou desempenhando, seja bom ou ruim, Jesus sabia exatamente o que eles
estavam fazendo, e por conta que ele sabia, ele pode admoestar com excelência o seu rebanho,
assim como naquela época o Senhor sabe exatamente o que fazemos, não adianta fugir ou se
esconder, ou mentir, ou ainda tentar omitir, ele nos conhece.
Nos versículos 2 e 3 é importante notar as ênfases nas palavras: trabalho árduo, perseverança,
perseverado, suportado sofrimentos, não tem desfalecido. Existe um princípio hermenêutico que
diz que na antiguidade quando um autor queria deixar clara uma ideia ou um conceito ele se
utilizava do método das repetições, portanto o que fica claro referente aos cristãos de Éfeso é o
fato que eles estavam suportando a perseguição ao Evangelho, sem retroceder, talvez muitos
morrendo por amor a causa, por zelo ao cristianismo.
Outro fator importante é o zelo doutrinário, ortodoxo, ou seja eles permaneciam fiéis as tradição
apostólica, eles tinham ojeriza a heresia e de tudo aquilo que se distanciava dos ensinamentos
primevos de Jesus e dos apóstolos.
Então até o verso três são dois fatores positivos que merecem destaque dos crentes de Éfeso, que
são, perseverança e doutrina, zelo e Teologia, a igreja de Jesus precisa em sua peregrinação estes
dois fatores, perseverança para permanecer até o fim e doutrina, como uma bússola para lhe guiar.
Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.
Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se
arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar.
O primeiro amor aqui é sempre pregado como aquele início da fé, geralmente os pregadores
remetem este tal “primeiro amor” ao período onde você era um tanto quanto neófito (novo na fé)
onde você jejuava mais, orava mais, evangelizava mais, fazia mais. Ou seja, tinha mais obras,
porém aqui é interessante notar que os cristãos de Éfeso, tinham muitas obras, eles estavam
suportando perseguição, eles estavam suportando as mais diversas aflições por conta de sua
crença, então subentende-se que, eles jejuavam, oravam, pregavam, iriam até o martírio se preciso
fosse por conta daquilo que acreditavam. Então quando Jesus está dizendo você abandonou seu
primeiro amor, Jesus está falando do motivo-ação, ou seja qual é a motivação de vocês para
suportarem tudo isso? Antes ou anteriormente o motivo-ação era o amor, mas agora eles deixaram
este primeiro amor.
Voltando um pouquinho Jesus é aquele que conhecia as obras deles, eles eram zelosos,
perseverantes, mas Jesus sabia exatamente aquilo que os motivava a serem tudo isso, não era
mais o amor e sim apenas a religiosidade (lembra que eles estavam emergidos em um contexto
extremamente pagão e supersticioso, pois bem).
Paulo diz em sua carta aos Coríntios, que podemos fazer várias coisas, até mesmo coisas
extraordinárias (vide 1Coríntos 13), até mesmo entregar o corpo a ser queimado como um mártir,
mas se não tiver amor isso de nada vale.
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O cristianismo sem amor é uma mera religião qualquer, com seu ritos, dogmas, templos, e apelos.
O que nos faz diferentes diante ao panteão religioso aí fora, é o amor, ele deve ser nossa
motivação, para sermos zelosos, perseverantes e doutrinariamente corretos.
É triste constatar que vivemos em dias onde vários cristãos vivem exatamente esta realidade, são
zelosos pela doutrina, brigam se for necessário, são perseverantes pela sua crença, porém o que
os motiva é a religiosidade, estes são os fariseus pós-modernos, que vão ao culto, que jejuam, que
oram que dão os dízimos e ofertas, mas o que os motiva não é o amor a Jesus e ao Reino de Deus
mas sim a religiosidade vazia. Um dos grandes perigos de uma mentalidade religiosa é a Doutrina,
lei, dogma acima da Vida, acima das pessoas, acima do próximo, acima do ser humano, é
exatamente isso que Jesus vai combater em sua época pois os fariseus colocavam tudo abaixo da
lei, colocavam as pessoas abaixo da lei, e Jesus caminhou na direção oposta ele colocou a vida
acima de tudo, as pessoas em detrimento a mecanismos frios de performance religiosa, Jesus não
aboliu Lei ele apenas a cumpriu e consequentemente a interpretou da maneira correta, dando ao
amor a ênfase devida.
O caminho da religiosidade
Religiosidade é o ato de seguir ou praticar uma determinada religião, na perspectiva das Ciências
da Religião o cristianismo é uma religião como tantas outras, pois nele existe, culto, oferta,
adoração a uma divindade, mas na perspectiva bíblico-teológica o cristianismo é muito mais que
uma mera religião, cristianismo é uma forma de viver embasada no amor.
Importante é distinguir religiosidade de espiritualidade ou devoção, na religiosidade eu faço para
“ser”, eu faço para “ter”, eu faço para “obter”, através de cultos, rituais, na espiritualidade “eu faço
por que sou”, “eu faço por que tenho”.
A religiosidade é algo que está atacando muitas igrejas, muitos irmãos, muitas pessoas sem se
perceber perderam o amor genuíno, a espiritualidade sincera, e estão vivendo apenas uma vida
religiosa, de “cumprimento de ritos”, de um ativismo exacerbado, onde ir à igreja desfrutar de
comunhão é uma mera obrigação para preencher a agenda religiosa.
Muitos em nossos dias se acostumaram em ser cristão, hoje em dia parece que virou moda, é até
status dizermos que somos “evangélicos”, mas estou convencido que muitas pessoas em nosso
meio não estão de fato convertidos ao Evangelho, mas sim adaptados a um sistema religioso que
eles próprios chamam de cristianismo.
O caminho de Jesus
Jesus propõe uma saída, uma alternativa, para o recomeço, que seria o arrependimento, voltar
onde o erro começou, o arrependimento na bíblia está intrinsicamente ligado a conversão, é a
metanóia ou seja, a transformação ou a expansão da mente, é quando compreendo que o meu
caminho está errado e faço uma conversão ao caminho pré-estabelecido por Deus para minha
vida. Arrependimento é entender que eu estou errado e Deus está certo e agir diante desta
realidade. O que marca o arrependimento genuíno não é o choro, e sim a mudança de postura e de
conduta, por isso Deus não se deixa levar por performance humana, por teatro (hipocrisia, marca
dos fariseus diga-se de passagem), por lagrimas de crocodilo, mas em contra partida a bíblia diz
que Deus não rejeita um coração contrito e quebrantado (conforme Salmos 51), Deus tem sempre
um novo começo mas é necessário uma postura autêntica e verdadeira de seus filhos.
Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio.
Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer
da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Mais uma vez a igreja se mostrando zelosa, surge no meio deles uma doutrina estranha, ou a
prática dos nicolaítas, ninguém sabe com exatidão o que seria isso, mas alguns autores supõe que
Nicolau foi um homem da igreja primitiva (possivelmente um dos 7 diáconos) que tinha uma mulher
muito bonita, e ela era extremamente cobiçada pelos homens, Nicolau teve a “brilhante” ideia de
compartilhar sua mulher com seus amigos, portanto as práticas dos nicolaítas era a perversão
sexual, esta prática era defendida pelo gnosticismo, que enfatizava que o corpo era mal mas o
espírito era bom, portanto não importava o que eu fizesse com meu corpo o que importava mesmo
era meu coração ou a meu espírito, esta corrente foi duramente combatida pelas primeiras
gerações de cristãos.
Outra vez Jesus destaca que Éfeso era uma igreja extremamente abalizada na doutrina, uma igreja
teologicamente sadia, porém, destituída agora de amor.
Promessa
Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
A queda fez com que o homem fosse banido do paraíso é por conseguinte banido também de ter
acesso a árvore da vida, logo a recompensa para todo aquele que ouvir-obedecer a Deus, é a
eternidade junto com Ele, é a vida Eterna, é estar em um local totalmente seguro, onde não haverá
mais, dor, tristeza, nem pranto, nem lágrimas, nem doença alguma, pois o Senhor será nossa fonte
de vida Eterna.
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Conclusão
Querido leitor, chegamos ao fim do estudo dessa carta que Jesus direciona a cidade de Éfeso,
espero que aquilo que aprendemos aqui possa reverberar de maneira positiva em sua vida, pois
não basta sermos doutrinariamente corretos ou zelosos pela nossa crença se o que nos motiva é a
religiosidade e não o amor, se o que nos motiva é a aparência, ou a exteriorização, que possamos
ser amantes da doutrina bíblica (devemos), mas também amantes genuínos de Jesus e do Reino
de Deus.
Pois a doutrina e o zelo sem a caridade não passa de práticas religiosas, o que nos distingue é
sem dúvida o amor exercitado.