Trabalho de Análise II

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

Análise II - Forma do Movimento Lento


Alunos: Francisco Alberto Dias Pinto; Izabele Maria Deodato Barreto.

Grande parte dos ciclos instrumentais da música clássica apresenta ao menos um


movimento com o tempo lento ou moderado. Geralmente os movimentos lentos aparecem
no interior do ciclo, destacando-se no segundo movimento pois este recorrentemente se
apresenta como um movimento lento.
A forma de composição do movimento lento usualmente apresenta um nível de
complexidade menor em comparação aos demais movimentos pois, devido ao baixo
andamento, os compassos são mais demorados e, consequentemente, formas mais
complexas tornariam o movimento demasiado extenso.
De um modo geral podemos subdividir as formas de composição do movimento
lento em quatro tipos dada a frequência de ocorrências: Grande Ternário; Temas e
variações; Sonata sem desenvolvimento; rondó em 5 partes. Como o rondó em 5 partes
apresenta particularidades específicas da forma rondó, se aproximando mais dessa forma,
focaremos neste trabalho em desenvolver os pormenores das três primeiras formas
citadas.

GRANDE TERNÁRIO
O grande ternário é um tipo de forma quase que exclusivo dos movimentos lentos.
Haydn foi o grande difusor desse tipo de movimento, sendo depois aplicado por outros
compositores.
Como o nome sugere, o grande ternário se divide em três temas: tema principal,
tema interior e retorno do tema principal. A nomenclatura desse tipo de movimento
remete claramente ao pequeno ternário e é possível compreender o grande ternário a partir
das definições aplicadas ao pequeno ternário, porém em maior escala. O esquema abaixo
ilustra tal semelhança:

Pequeno ternário:
Parte A ➔ Parte B ➔ Parte A´ (repetição da parte A com variações)
Grande Ternário:
Tema Principal ➔ Tema interior ➔ Retorno do tema principal (frequentemente
com variações)
Para explicar cada subdivisão do grande ternário utilizaremos como o objeto de
análise o segundo movimento da Sonata para Piano no. 52 em Eb maior de Joseph
Haydn (Hob XVI 52).
Tema principal
O tema principal, que abre o movimento é geralmente construído como um
pequeno ternário ou binário cíclico. Ele se apresenta na tonalidade principal e usualmente
uma tonalidade subordinada é confirmada em algum lugar no tema principal, geralmente
no final da sua seção A, mas as vezes na sua seção B. Além disso o tema principal termina
em uma cadência autêntica perfeita.
Na peça a ser analisada temos o tema principal ocorrendo dos compassos 1 ao 18:
Haydn Piano Sonata em Eb maior, Hob XVI 52, ii
Podemos observar a fórmula de pequeno ternário nessa apresentação. O tema é
construído como um período e terminando em uma meia cadência. Após os ritornelos e a
casa 2 ser executada entramos no meio contrastante que se desenvolve em torno da
tonalidade subordinada utilizando uma célula rítmica da ideia básica resolvendo nesse
grau que funciona como dominante para o retorno da ideia básica.
A ideia básica é repetida dessa vez com variações e ornamentos e, diferentemente
da primeira apresentação ela é concluída com uma cadência autêntica perfeita. Concluído
o tema principal vamos para o tema interior.

Tema interior
O tema interior funciona como um meio contrastante do tema principal, isso
porque ele decorre na modalidade oposta da tonalidade principal, ou seja, a modalidade
menor no caso do nosso exemplo (se a tonalidade principal for menor o tema interior
acontece na tonalidade maior).
Essa seção pode conter variadas estruturas formais, no entanto, é bastante comum
este tema, assim como o tema principal, se apresentar na forma de um pequeno ternário
ou binário cíclico.
Na obra de Haydn estudada, o tema interior está contido nos compassos 19 a 32:
Haydn Piano Sonata em Eb maior, Hob XVI 52, ii, comp: 19-32
Como visto na definição, o tema interior acontece na modadlidae oposta. Isso fica
bastante evidente na partirura com a mudança de aramadura de clave, passando de Mi
maior para Mi menor.
O tema se desenvolve como um pequeno ternário com variações, terminando essa
seção com o acorde dominante que prepara a tonalidade principal para a recptulação do
tema principal.

Retorno do tema principal


O tema principal é retomado na tonalidade principal e segue basicamente a mesma
estrutura apresentada anteriormente, no entanto com algumas mudanças ornamentais para
se criar uma variação. Uma coda ou codeta pode ser adcionada para encerrar o movimento
e frequentemente essas estruturas são adicionadas.
Retomando ao nosso objeto de estudo, o retono do tema principal acontece dos
compassos 33 a 50:
Haydn Piano Sonata em Eb maior, Hob XVI 52, ii, comp: 19-32

Pode-se observar a ideia básica e a estrutura do tema principal serem repetidas,


mas com nova densidade harmônica, ornamentos e embelezamentos. Do final do
compasso 50 ao 54 temos o que podemos classificar como uma codeta, uma forma
estrutural para um prolongamento do encerramento do movimento.
TEMAS E VARIAÇÕES
Temas e variações é um termo que pode significar três categorias distintas:
• Gênero instrumental: como um gênero, temas e variações está relacionado
a qualquer tipo de peça, seja uma peça única independente ou um
movimento de uma peça maior.
• Procedimento composicional: Praticamente todo movimento na música
clássica utiliza temas e variações, através de ornamentações e
embelezamentos, então variações sobre temas é algo amplamente utilizado
mesmo em um movimento que não se caracterize no gênero temas e
variações.
• Categoria formal: nesse contexto é o tipo formal menos complexo de um
movimento da música clássica, não apresentando muitos problemas de
análises. A fórmula é simples: um tema principal é apresentado e esse
mesmo tema é repetido com diferentes variações.

O tema principal é geralmente construído como um pequeno ternário ou binário


cíclico, sendo o segundo tendo mais predileção devido ao fato deste apresentar apenas
dois temas e, como temas e variações se trata de repetições do tema, acaba por gerar uma
alternância entre os temas A e B, diferente do pequeno ternário onde teríamos a repetição
ostensiva do tema A.
As variações sobre os temas podem aparecer de diversas formas, desde
ornamentações, mudanças nas formas estruturais, modificações harmônicas (comumente
de maior para menor e vice-versa), mudanças de andamento, extensões, interpolações etc.
Na variação final pode aparecer uma curta seção de encerramento para estender a
conclusão do movimento ou até aparecer um coda completa.
Vamos usar como exemplo dessa forma o primeiro movimento da Sonata para
piano No.11 in A maior K 331 de Wolfgang Amadeus Mozart.
Nesta peça podemos observar que o tema principal é construído como um pequeno
ternário mostrando que mesmo que temas e variações tenham predileção pela forma
binária cíclica o pequeno ternário ainda é bastante utilizado.
O movimento apresenta seis variações do tema principal onde pode-se notar
variações de densidade, ornamentações e embelezamentos.
Vale salientar a variação III que apresenta uma modificação harmônica. A
tonalidade do tema principal é Lá Maior, todavia na variação III temos uma modulação
para La menor, a modalidade oposta.
Destacam-se também as variações que apresentam mudanças no andamento. O
movimento se inicia com o andamento descrito como andante grazioso e assim
permanece até a variação IV. Na variação V o andamento passa a ser adagio, gerando um
desaceleramento que cria uma expectativa para a última variação. E em oposição a
variação V, a variação VI irrompe em allegro, um andamento mais rápido para concluir
o movimento em um encerramento mais animado.

SONATA SEM DESENVOLVIMENTO


A sonata sem desenvolvimento é uma forma de duas partes, visto que segue as
normas da formata sonata regular, essa dividida em três partes, com a exclusão de uma
dessas partes, no caso o desenvolvimento.
Portanto, a estrutura básica da Sonata sem desenvolvimento consiste em
exposição dos temas seguido de recapitulação. Vale ressaltar que nessa forma a exposição
não se repete, processo que ocorre em diversas sonatas regulares. Isso acontece porque a
repetição da exposição acarreta em um alto grau de expectativa para uma estrutura
contrastante, estrutura essa que seria o desenvolvimento. Outro motivo pela não repetição
da exposição é que a ausência do desenvolvimento encurta a distância dos materiais
temáticos, o que ocasionaria em muitas repetições seguidas podendo, assim, tornar a peça
pesarosa.
Nas sonatas regulares, a sessão final da recapitulação apresenta uma retransição
de encerramento que ajuda criar uma conexão com o desenvolvimento, assim como o
desenvolvimento também tem uma retransição para conduzir a recapitulação. Na forma
sonata sem desenvolvimento a seção final da exposição também pode ter uma retransição,
estrutura essa que pode muitas vezes ser extensa, todavia não pode ser chamada de
desenvolvimento (até porque nesse caso estaríamos lidando com a forma sonata regular).
Para fins de análise utilizaremos como objeto de estudo o segundo movimento da
Sonata para piano No. 1 de Ludwig van Beethoven (Op.2 No.1).
O movimento se encontra na tonalidade de Fá maior e a exposição apresenta o
tema principal na tonalidade principal que vai do compasso 1 ao 16 como visto abaixo:
Beethoven, Piano Sonata in F minor, Op. 2, No. 1, ii
Podemos observar que o tema é construído em duas partes. A primeira que vai do
compasso 1 ao 8 e é constituída em forma de período, terminando em uma CAP. A
segunda parte acontece entre os compassos 8 a 16 e é estruturada como uma sentença e
também é encerrada com uma CAP na tonalidade principal.

Após a apresentação desse primeiro tema o compositor escreve um momento de


transição que acontece do compasso 17 até o compasso 23:
Beethoven, Piano Sonata in F minor, Op. 2, No. 1, ii

Nesse trecho ocorre a transição do tema principal para o tema subordinado que
virá. Aqui já é perceptível novas estruturas composicionais e motivicas. Essa seção tem
um caráter de preparação para a tonalidade subordinada. Sendo a tonalidade principal Fá
maior, a tonalidade subordinada será Dó maior, portanto a transição harmonicamente
caminha para a dominante de Dó (Sol maior) para confirmar a tonalidade subordinada do
tema seguinte, dominante esta alcançada no compasso 21.
Terminada a transição seguimos para o tema subordinado que dura do compasso
24 ao compasso 32:
Beethoven, Piano Sonata in F minor, Op. 2, No. 1, ii
Esse segundo tema já aparece na tonalidade subordinada, ou seja, Dó maior. É
salutar perceber que na parte final desse tema referencia os compassos 2 e 3 do tema
principal.
No compasso 32 já ocorre a modulação para a tonalidade do tema principal, Fá
maior, lembrando que essa forma não apresenta o desenvolvimento da forma regular da
sonata. A modulação já prepara a recapitulação dos temas expostos.
A recapitulação ocorre a partir do compasso 32:
A partir desse ponto, o primeiro tema retorna com consideráveis variações. Aqui
podemos notar aumento na densidade harmônica, extensões, embelezamentos e
ornamentos. Há o acréscimo de baixos arpejados e escalas ornamentais tudo isso com
variações de dinâmica, no entanto, tudo segue conforme a harmonia apresentada
anteriormente.

RESUMO
A forma do movimento lento pode ser resumida da seguinte forma:
O movimento lento se apresenta em três formas: - Grande ternário
- Termas e variações
- Sonata sem Desenvolvimento
Grande Ternário
Tema principal ➔ Terma interior ➔ Retorno do t. principal
Pequeno ternário ou Aparece na modalidade Tema principal repetido
binário cíclico. oposta da tonalidade com variações. Pode ter
principal. coda ou codeta.

Temas e variações
Tema(s) principal(is) ➔ Var. I ➔ Var. II ➔ Var. III ➔ .......

Sonata sem desenvolvimento


Exposição Recapitulação Coda (opcional)
T.principal➔transiçao➔T.subordinado Retorno do tema Material novo para
principal. encerramento.

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