"Caminho Da Fé" Reflexões Sobre Lazer e Ambiência
"Caminho Da Fé" Reflexões Sobre Lazer e Ambiência
"Caminho Da Fé" Reflexões Sobre Lazer e Ambiência
2010v16n3p559
Artigo Original
Resumo: Este estudo, de natureza qualitativa, objetivou investigar atitudes capazes de fomentar
comportamentos pró-ambientais, durante uma caminhada. Escolheu-se o “Caminho da Fé”, com 425 km
entre Tambaú e Aparecida/SP, o qual atrai turistas, esportistas e fiéis. Após revisão bibliográfica sobre a
temática, foi feita uma pesquisa exploratória, com uma amostra aleatória, de sete adultos, de ambos os
sexos, utilizando um questionário misto e a Escala de Thompson e Barton de ecocentrismo e
antropocentrismo, aplicado nos locais de parada, por três vezes: no início, no meio e ao final do trajeto. A
análise qualitativa foi feita por meio da técnica de “Análise de Conteúdo Temático”, com os dados
apresentados percentualmente, para ilustrar. Concluiu-se que, embora os estímulos tenham cessado; sua
intensidade, quantidade e qualidade desencadearam processos de reflexão, que associados às variações
ambientais, físicas e sociais; a pré-disposição ao diálogo e a identificação simbólica, colaboraram para que
os participantes percebessem transições de valores e novas possibilidades de condução e sentidos para
suas vidas.
Palavras-chave: Lazer. Caminhada. Comportamento. Ambiente.
urbanos, que podem ser desde praças, a conservação dos recursos naturais”, presentes,
logradouros públicos, estradas a rodovias. tanto no trekking, quando no pedestrianismo, as
“caminhadas religiosas” evocam outros objetivos,
Os passeios pedestres situam-se no limiar
até mesmo, arquivos afetivos, nem um pouco
entre o desporto e o turismo, sendo que sua
relacionados com os descritos anteriormente.
prática, ao mesmo tempo em que tem um caráter
ativo, representado pelo caminho a percorrer, Para Beni (1997), os peregrinos são turistas
possui, também, um caráter passivo, no qual o potenciais, os quais, ao se deslocarem a centros
praticante desfruta da natureza que o rodeia religiosos motivados pela fé em distintas crenças,
(contemplando, descansando, sem pressa de utilizam-se de equipamentos e serviços com
chegar ao fim). Na maior parte dos casos, as estrutura de gastos semelhantes a outros turistas.
caminhadas não exigem grande aprendizagem O autor ressalta que a variável permanência está
nem técnicas especiais. Podem ser praticadas intimamente ligada ao tempo de duração das
por pessoas em todas as faixas etárias. Não cerimônias, ritos, celebrações religiosas e, até
requerem equipamento sofisticado, material mesmo, romarias, denominando-o como turismo
técnico, conhecimentos prévios de cartografia ou religioso.
orientação. No entanto, para determinados tipos
Richena (2005) e Nabo Filho (2005) admitem
de percursos, torna-se importante a presença de
que são necessários: preparo físico anterior,
um guia mais experiente e conhecedor do trajeto.
equipamentos e check-up geral, antes de uma
A distinção entre o pedestrianismo e outras peregrinação religiosa com duração de vários
atividades similares é que essa modalidade se dias, comparando as distâncias percorridas às
utiliza de marcas e códigos internacionalmente estabelecidas em ultramaratonas.
conhecidos e aceitos. Os percursos pedestres
No Brasil, o maior exemplo de peregrinação
podem ser de grande rota (GR), com extensão
está relacionado ao deslocamento realizado por
superior a 30 km e dois dias de jornada ou mais,
fiéis em direção ao santuário localizado na cidade
sinalizados a branco e vermelho e de pequena
de Aparecida (SP). Denominadas por Santos
rota (PR), com até um dia de jornada e não mais
(2005) como “Caminhadas à Aparecida”, elas
de 30 km, sinalizados a amarelo e vermelho. O
existem desde o século XVI, sendo esse roteiro o
pedestrianismo ganhou impulso na década de
mais difundido e antigo. Durante vários anos,
setenta, com as pesquisas do médico norte-
homens e mulheres, muitas vezes sem
americano Kenneth Cooper e a difusão do "Teste
preparação física adequada, sem equipamentos,
de Cooper", massificando-se amplamente
alimentação ou água de boa qualidade e, até
(WEBRUN, 2006).
mesmo, sem trilhas traçadas, percorreram
No Brasil, embora existam registros do distâncias acima de 45 km por dia, quer com
pedestrianismo desde 1910 (SANTOS, 2005), claridade ou com escuridão, para cumprir suas
sabe-se que aqui, ele é praticado desde datas promessas, fazer pedidos e agradecer por graças
bastante anteriores à assinalada. Para esse recebidas.
autor, as caminhadas religiosas são exemplos
Apesar de esses percursos serem realizados
bem peculiares de pedestrianismo no âmbito do
a pé desde o final do século XVI, as
lazer.
peregrinações a Aparecida/SP só foram
Também conhecidas como peregrinações, reconhecidas como “caminhadas” recentemente,
reúnem pessoas de todas as idades e classes sendo incluídas no Atlas do Esporte (SANTOS,
sociais que percorrendo antigos traçados, 2005). São apontados como motivos para essa
motivados por espírito cristão, misticismo, busca convalidação: a evolução do conceito de
interior, respostas rumo ao sagrado ou aventura “caminhada”, seu reconhecimento como uma
realizam romarias a lugares santos como forma atividade física, não só do âmbito esportivo
de devoção, algumas até milenares (FERREIRA, regular, mas, agora também, do contexto do
1986). lazer, aos processos de “turistificação” pelos
quais passam atualmente algumas trilhas
Apesar da afirmação de Tabanez et al (1997,
brasileiras e ao grande envolvimento das
p. 89) acerca das “oportunidades de reflexão
populações do entorno do santuário.
sobre valores, indispensáveis a mudanças
comportamentais que estejam em equilíbrio com
olhar dos autores representam um repertório de assemelham aos ecocentristas, por julgarem que
crenças relacionadas ao ambiente. o ambiente deve ser um contexto de
desenvolvimento espiritual humano, com valores
Este estudo optou por utilizar as
independentes de sua contribuição para se atingir
nomenclaturas e conceitos de atitude ambiental
metas humanas.
cunhados por Thompson e Barton (1994): “atitude
ecocêntrica” e “atitude antropocêntrica”. Ambas Thompson e Barton (1994) colocam na
são expressões positivas de atitudes a favor do mesma categoria os ecocentristas e os
ambiente, com o interesse de preservar os espiritualistas, porque ambos julgam o ambiente,
recursos, no entanto, a principal diferença entre também, como um contexto moral e de
elas é a razão que leva as pessoas a manter enriquecimento espiritual. Mas, todos esses
essas atitudes ambientalistas. “Os aspectos da atitude estão intrinsecamente ligados
antropocentristas” têm uma visão utilitarista, à forma de expressão e das intervenções geradas
defendem a preservação dos recursos naturais e em relação ao ambiente. Mas, de que maneira
da saúde do ecossistema, mas mantêm a atitude essas atitudes efetivamente representam
conservacionista e a suportam em função do elementos que podem assessorar o
conforto, do acúmulo de riqueza, da qualidade de comportamento pró-ambiental? Esta inquietação
vida e da sua saúde. mobilizou o desenvolvimento da pesquisa
exploratória descrita a seguir.
Já “os ecocentristas” vêem a natureza
importante por si só, independente da economia
Método
ou do estilo de vida. Estes possuem uma O estudo teve uma natureza qualitativa, por
dimensão espiritual e valores intrínsecos, que entender que este método se adequa ao estudo
refletem suas experiências na natureza e seus das variáveis envolvidas, tendo sido elaborado a
sentimentos sobre a composição harmônica dos partir da união entre pesquisa bibliográfica e
ecossistemas. Eles concordam com os pesquisa exploratória.
antropocentristas sobre a preservação ambiental
direcionada à saúde e à qualidade de vida, mas
Participantes
A pesquisa exploratória foi realizada no início
discordam nas razões para se manter as atitudes
do ano de 2006, com a amostra pesquisada in
pró-ambientais.
loco nos momentos das vivências na trilha.
Os ecocentristas não percebem o pró- Podendo-se, com isso, captar as atitudes
ambientalismo como um valor, mas como uma capazes de fomentar comportamentos pró-
dimensão que transcende habilidade, capacidade ambientais, durante uma caminhada.
de gerenciar os recursos naturais e seus próprios
Como acontece com as AFAN, pequenos
desejos psicológicos. Seus conceitos
grupos de praticantes, que não têm elos comuns
fundamentam-se na colaboração e na
de amizade, são formados na hora da prática.
manutenção das atitudes preservacionistas,
Essa possibilidade é ampliada por tratar-se,
mesmo que envolvam algum desconforto,
também, de uma espécie de ritual de passagem
inconveniência ou gastos que possam reduzir sua
ou de romaria, que desperta empatia e certa
qualidade de vida material (THOMPSON e
camaradagem, tanto nas pessoas da trilha, como
BARTON, 1994). Reforçam essa conceituação
das comunidades presentes no caminho. A
Pinheiro et al (2005, p.01), ao afirmarem que:
possibilidade de formar pequenos grupamentos é
“enquanto o primeiro valoriza a natureza por seu
grande, além de ser recomendada pelos
valor intrínseco, o segundo leva em conta os
administradores do “Caminho da Fé”, em seus
benefícios materiais e vantagens, proporcionados
folhetos, na internet, pelo Departamento de
pelo cuidado ambiental para os seres humanos”.
Turismo em Tambaú e nas pousadas.
A distinção entre antropocentrismo e
Esses grupamentos, formados nos pontos
ecocentrismo não é nova. Essas duas atitudes
onde se pode obter a credencial e o “mapinha” do
são análogas aos pontos de vista filosóficos
trajeto (Tambáu, Águas da Prata, Andradas e
discutidos em Stokols (1990). Para este autor, os
Ouro Fino) e outros, previamente constituídos por
instrumentalistas se assemelham aos
amigos e familiares, ou, ainda, as equipes
antropocentristas, já que o ambiente é uma forma
geradas por afinidades durante as conversas nas
de se atingir metas. Já os espiritualistas, se
paradas, compuseram os elementos da amostra,
Tabela 1. Afirmações sobre a preservação ambiental em resposta a: “A caminhada (pode ajudar, está
ajudando, ajudou) os participantes a pensarem na preservação ambiental”.
PERCEPÇÕES NA CAMINHADA QUANTO Á ANTES (%) DURANTE (%) DEPOIS (%)
Desmatamento 7,70 29,16 16,67
Beleza cênica 15,37 16,67 8,33
Degradação 15,37 12,50 12,50
Lixo 0 25 0
TEMAS AMBIENTAIS
Água 7,70 0 12,50
Saúde e ambiente 7,70 8,33 8,33
Consciência 0 0 12,50
Extração de areia 0 4,17 0
Dilema ecológico: tempo, produção e 15,37 4,17 12,50
QUESTÕES
cultura
AMBIENTAIS
Questão socioambiental 7,70 0 12,50
PERCEPÇÃO DE Alterações do meio ambiente 23,09 0 4,17
PROCESSOS
TOTAL 100 100 100
A beleza cênica colocada com o mesmo restauração e melhoria para a própria população,
percentual da degradação, ambas incluídas no esta também é uma condição básica para o fluxo
grande grupo dos temas ambientais, também turístico (PEARCE,1981; KRIPPENDORF,1989).
refletia o dilema dos participantes: “A trilha Tanto essa afirmação é verdadeira que, São
colabora para a percepção do grau de Bento do Sapucaí e Sapucaí Mirim, foram
degradação... Mesmo com tanto verde, a excluídas do trajeto do “Caminho da Fé”, ao final
degradação é perceptível”. Esse resultado é de 2006, em função da degradação ambiental.
também apontado por Loureiro (2000), o qual Não é só lixo que é gerado pelas AFAN. Várias
afirma que a noção de crise e de ameaça à de suas práticas, principalmente as que utilizam
sobrevivência, aliada ao distanciamento entre motores, no caso do “Caminho da Fé”, os
teoria social e questão ambiental, facilitou a veículos off-roads (4 x 4; motos e gaiolas),
passagem de um ambientalismo “romântico produzem alto impacto ecológico, como a
ingênuo”, que sacralizava a natureza, para a destruição da vegetação, agressão à fauna
consolidação de uma nova versão, mais silvestre, incêndios, lixo, erosão, colocando em
pragmática e utilitarista. risco ecossistemas frágeis.
Durante a caminhada, o desmatamento foi o A ausência de indicadores de capacidade de
principal aspecto das reflexões ambientais, carga que um atrativo turístico natural como uma
aparecendo em 29,16% das respostas; o lixo trilha pode suportar sem sofrer alterações deixou
ocupou o segundo lugar, em 25%; em 16,67%, os de ser uma preocupação somente para os
participantes destacaram a beleza cênica; em receptores, mas passou a ser uma outra
12,50% a degradação; em 8,33% a saúde e o condição para o fluxo de turistas, além do
ambiente e, em 4,17% cada, a extração de areia, cuidado da comunidade com seu próprio
juntamente com o dilema ecológico: tempo, município. No “Caminho da Fé”, existe uma
produção e natureza. Interessante ilustrar como pressão social por parte dos próprios
os participantes percebiam o desmatamento: “... caminhantes na preservação ambiental. Isso
muito verde... mas muitas áreas devastadas pode ser ilustrado por meio da seguinte citação
foram transformadas em pastos. Falta mata de um dos participantes: “A degradação da
ciliar... Tem corte irregular de madeira. Roça nas natureza é mal vista pelos moradores da região e
matas... Falta mata nos morros”. pelos peregrinos”.
As observações dos participantes têm sentido Corral-Verdugo e Pinheiro (1999) acrescentam
porque o intenso uso da terra, ocorrido após o que, independentemente do perfil do público,
século XIX principalmente pela monocultura algumas ações das variáveis situacionais podem
cafeeira, provocou, por um lado, o contínuo interferir no comportamento pró-ambiental. São
desmatamento e, por outro, o desenvolvimento citadas: a pressão social para cuidar do
econômico do Estado e do País, como afirmam ambiente, os arranjos planejados para que a
Wanderley et al (2007). conservação seja mais conveniente para os
O tema “Lixo” aparece sob três ângulos sujeitos e o efeito dos lembretes (prompts ou
diferenciados. Um deles é gerado pelo próprio “bilhetinhos”) no comportamento de cuidado dos
município que faz parte do caminho. O segundo, recursos naturais. Em relação ao caminho, os
de pouca expressividade, é ocasionado pelos peregrinos, não raro, guardavam seus
caminhantes que realizam a trilha e, em último guardanapos e plásticos de barra de cereal na
ângulo, o “lixo” de grande volume, com mochila; havia certo monitoramento silencioso
conseqüências bastante graves e que apenas é entre os participantes.
gerado nos locais de romaria, ou seja, no O deslocamento de massas turísticas provoca
município onde se inicia o percurso (Tambaú/SP) um impacto negativo no ambiente e entorno, em
e ao final (Aparecida/SP), proveniente do função da inadequação da capacidade de suporte
deslocamento de massas turísticas, denominadas do local receptivo. Em relação ao “Caminho da
aqui como trânsito de romeiros. Fé”, isso foi notado em dois momentos, durante a
O lixo gerado pelas cidades é o resultado das estada em Tambaú e na chegada a Aparecida.
diretrizes adotadas pela política pública, Em Tambaú, neste estudo tomado como marco
específica de cada comunidade. Entretanto, os inicial do percurso, tem-se a figura do Padre
municípios que fazem parte do trajeto, deveriam Donizette, cuja fama de milagres difundiu-se
tornar efetiva a expectativa de um atraindo romarias de pessoas à cidade,
desenvolvimento sustentável local por meio do procurando restabelecimento e esperança
turismo, pois da mesma forma que o recurso (AZEVEDO, 2003).
natural, o entorno e os serviços básicos de
abastecimento merecem manutenção,
Motriz, Rio Claro, v.16, n.3, p.559-570, jul./set. 2010 567
J. C. C. Moreira & G. M. Schwartz
No ano de 1955, o lixo dos romeiros era naturais, não só em momentos de prática de
queimado em frente à Igreja Matriz e a Prefeitura atividades na natureza, mas também, em todos
Municipal da época dispunha apenas de doze os seus contatos e experiências com o meio,
varredores de rua. Essa situação foi modificada e, agindo com ele e não contra ele, alerta Marinho
atualmente, as romarias em finais de semana (2001).
continuam acontecendo, mas houve uma
Ao final da caminhada o “desmatamento”
adequação da infra-estrutura da cidade para
permaneceu com percentual mais alto (16,67%).
recebê-las.
Posteriormente, apareceram todos empatados
Em Aparecida/SP, ponto final do “Caminho da com 12,50%: a “água”, a “preservação do
Fé”, durante o ano todo, a cidade recebe caminho”, a “conscientização dos peregrinos, o
romarias de até 1.500 pessoas, utilizando vários “dilema ecológico” e a “questão socioambiental”.
meios de transporte (ônibus fretados, cavalos, Depois vieram “beleza cênica”, “saúde e
motos), além do fluxo de sete milhões de veículos ambiente”, com 8,33% cada uma delas, e,
ao ano, provenientes de todas as regiões do encerrando, a “extração de areia” e o “dilema
Brasil, o que ocasiona um inchaço urbano ecológico”, com 4,17%.
(SANTUÁRIO, 2005).
Todos os outros itens já foram discutidos
Essa população flutuante convive com a anteriormente, por esse motivo será dada
população efetiva da cidade de aproximadamente atenção especial nesse momento à água potável,
35 mil habitantes em uma área de 121 km² a qual, durante o “Caminho da Fé”, se
(APARECIDA, 2005), sendo que, no dia 12 de transformou também em uma questão
outubro, durante a Festa de Nossa Senhora da socioambiental, a partir do momento em que
Aparecida, são reunidos mais de 100 mil fiéis no deveria ser um recurso disponível básico e de
Santuário (MARQUES SILVA, 2005). qualidade, em qualquer lugar, para todas as
Sendo assim, há a preocupação pública e pessoas.
privada em absorver, não só o comportamento de No caso do “Caminho da Fé”, a água tem a
consumo e gastos desse público, mas, também, o conotação de sobrevivência e está diretamente
impacto estrutural que essas demandas sazonais relacionada às questões ambientais urbanas. Os
exigem, no que tange à disponibilidade de comentários dos participantes sobre a água
instalações, hospedagens, saneamento e limpeza refletem essa preocupação. Um dos sujeitos
pública, tráfego (desde o fechamento de ruas que salientou a “...falta tratamento de água e esgoto”;
circundam as festas ao controle do trânsito de enquanto outro participante comentou: “ ...Você
carros, motos, ônibus de excursão e de linha, percebe que não é nada sem um simples copo
cavalos), ao oferecimento de equipamentos e d’água. NAAAADAHH!”, ou ainda na fala de um
serviços, tanto de saúde (ambulâncias e plantão terceiro participante: “...a gente começa a dar
de funcionários para o atendimento de eventuais valor as coisas mínimas, como um copo de
ocorrências), como turísticos (patrocinando, água”. As três declarações se referiam à
promovendo e divulgando os shows). Porém, dificuldade de água potável em alguns trechos do
ocorreram alterações ambientais importantes na caminho e no receio de beber a água das bicas,
cidade e em seu entorno, afetando as condições que poderiam estar contaminadas, considerando
de vida humana, dentre elas, contaminação de a virose de que alguns dos participantes foram
rios por esgoto doméstico, deslizamento de acometidos durante o trajeto por esse motivo.
encostas, doenças endêmicas, presença de
Acreditando ilustrar como a caminhada
vetores e esgoto a céu aberto (BRASIL, 2002).
colaborou com a reflexão sobre a preservação
Embora o desenvolvimento permitido pela ambiental, será relatada uma curiosidade
tecnologia potencialize grandes avanços e acontecida no final do percurso. Três sujeitos que
possibilite construir mecanismos que tornem mais percorreram o caminho em dias alternados
fáceis os deslocamentos e a vida da maioria das criticaram seriamente o mesmo lixão a céu aberto
pessoas, para a resolução da equação com um matadouro irregular próximo, na periferia
desenvolvimento e sustentabilidade, o ser de Sapucaí-Mirim/MG. Um desses sujeitos,
humano não pode ser eximido de sua penalizado pelas crianças recolhendo o lixo, fez o
responsabilidade, pois suas ações, mesmo que seguinte depoimento sobre o quê aprendeu com
aparentemente irrelevantes, são capazes de o “Caminho da Fé”: “...conhecer melhor as
causar danos consideráveis ao ambiente. necessidades das comunidades dependentes da
natureza”.
Portanto, fica evidente a relevância da
conscientização, para que se venha interferir em Colabora com as reflexões, o enunciado de
menor escala no meio, sem interromper os ciclos Loureiro (2000, p. 32):
TABANEZ, M. F. et al. Avaliação de trilhas Motriz. Revista de Educação Física. UNESP, Rio Claro,
interpretativas para a educação ambiental. In:
SP, Brasil - eISSN: 1980-6574 - está licenciada sob
PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F. Educação
Licença Creative Commons
ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Brasília:
CDU, 1997. p.89-102.